ORDEM DOS ADVOGADOS CNEF / CNA
Comissão Nacional de Estágio e Formação / Comissão Nacional de Avaliação
PROVA ESCRITA NACIONAL DO EXAME
FINAL DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO
Questões de Deontologia Profissional
(6 valores)
e de
Prática Processual Civil
(7 valores)
I
DEONTOLOGIA PROFISSIONAL
TODAS AS RESPOSTAS DEVEM SER ADEQUADAMENTE
FUNDAMENTADAS, COM INDICAÇÃO dos PRECEITOS APLICÁVEIS do ESTATUTO da ORDEM dos ADVOGADOS (Lei nº 15/2005, de 26 de Janeiro).
EPAMINONDAS (E), Advogado com escritório na Comarca de Tábua, foi
abordado por FORMIDÁSTICO (F), Administrador da Sociedade de
Investimentos “Engana o Próximo” S.A. (SIEP), para que patrocinasse quatro
Clientes desta empresa, promitentes adquirentes de imóveis situados num empreendimento de luxo destinado à exploração turística, ainda em construção. O empreendimento havia sido iniciado por GENEDIA (G), que, por não dispor de capital para a pintura e arranjos exteriores, vendeu os imóveis à SIEP, cedendo-lhe, outrossim, a sua posição de promitente vendedora nos vários contratos promessa de compra e venda, que tinham por objecto os prédios em construção.
A cessão de posição contratual foi autorizada pelos quatro promitentes compradores, clientes da SIEP, existindo documentos escritos donde consta a assunção pela sociedade de todas as obrigações decorrentes dos respectivos contratos promessa.
Os Clientes da SIEP que FORMIDÁSTICO gostaria de ver patrocinados pelo Dr. EPAMINONDAS, pretendiam ver-se ressarcidos de uma considerável perda de área de construção, imposta pela Câmara Municipal competente, em estrita aplicação do PDM, após tomar conhecimento que o terreno a edificar tinha menor área do que o declarado em projecto.
EPAMINONDAS alcoolizava-se diariamente, dissertando, então, em
bares, tabernas, cafés e botequins sobre a ingratidão do mundo e o abandono da clientela, narrando, amiúde, os pormenores de casos bem sucedidos, em que patrocinou aqueles que o “desconsideraram”.
FORMIDÁSTICO, interessado em proteger a SIEP, e convicto da
debilidade económica em que se encontrava o EPAMINONDAS — bem evidente nas dezenas de cheques sem provisão por ele emitidos — transmitiu ao causídico, que só lhe entregava os casos porque, sendo amigos de longa data, sabia que ele nunca intentaria uma acção contra a SIEP, devendo antes fazê-lo apenas e só contra GENEDIA, que considerava responsável pelo sucedido.
Na reunião com o Dr. EPAMINONDAS, FORMIDÁSTICO impôs-lhe que todos os contactos se efectuassem consigo, pretextando que os Clientes da
SIEP não queriam ser incomodados com minudências jurídicas.
O Dr. EPMINONDAS aceitou as condições comunicadas por
FORMIDÁSTICO, muito agradecendo ter-se lembrado de si naquele momento
difícil da sua vida.
Findos os dossiês, no Natal de 2005, na ânsia de lhe serem confiados outros casos de Clientes da SIEP, EPAMINONDAS efectuou uma transferência bancária, a favor de HIPOCRATES (H), filho de FORMIDÁSTICO, Advogado – Estagiário, em Lisboa, com quem jamais privara, brindando-o com 30% dos honorários por si cobrados.
O Dr. HIPOCRATES agradeceu, sensibilizado, a generosidade do Colega.
PERGUNTAS:
1- Tendo presente os preceitos deontológicos constantes do Estatuto da
Ordem dos Advogados, poderia o Dr. EPAMINONDAS aceitar o patrocínio dos Clientes da SIEP, nas condições propostas por FORMIDÁSTICO ?
2- O Ministério Público no Tribunal de Tábua remeteu à Ordem dos
Advogados várias certidões de participações criminais apresentadas contra o Dr. EPAMINONDAS por se indiciar o cometimento do crime de falsificação de documento. Por seu turno, o Ministério Público da Comarca de OLIVEIRA do HOSPITAL remeteu ao Conselho Distrital de Coimbra da Ordem dos Advogados cinco certidões de outras tantas participações pelo crime de injúria e difamação, alegadamente cometidas em estado de embriaguez.
Tais factos da vida privada do Dr. EPAMINONDAS, praticados fora do exercício da profissão, poderiam merecer reacção por parte de algum dos órgãos da Ordem dos Advogados ?
(1,25 valores)
3- Suponha que um dos ex-Clientes do Dr. EPAMINONDAS visado pelo
discurso sobre a ingratidão do mundo e o abandono da clientela, actualmente seu Constituinte, lhe solicitava que actuasse contra aquele Colega? Pronuncie-se sobre a viabilidade de o fazer pela via disciplinar, pormenorizando a sua actuação.
(1,25 valores)
4- As condutas do Dr. EPAMINONDAS e do Dr. HIPOCRATES, no que
se refere aos honorários cobrados pelo primeiro, merecem algum reparo deontológico?
(1,25 valores)
PRÁTICA PROCESSUAL CIVIL
GRUPO I
Amélia da Costa Dias e Bento Dias contraíram casamento civil, sem
convenção antenupcial, em 15.08.1990. Desde essa data sempre residiram na Rua da Felicidade, nº 12, em Braga. Dessa união não existem filhos.
Em 13.03.2001, sem que nada o fizesse prever, Bento abandonou o lar e não mais regressou, nem voltou a ver Amélia.
Nenhum deles pretende restabelecer a vida em comum, sendo que Bento não pretende continuar casado, mas Amélia afirma perante amigos e familiares que aquele será sempre seu marido.
Amélia continua a viver na mesma casa, enquanto Bento reside com o irmão na Rua dos Aflitos, nº7, na Maia.
Tendo em conta os factos apresentados, elabore a petição inicial da acção que satisfaça as pretensões de Bento. (3 valores)
GRUPO II
António Luz e Bento Dias são A. e R., respectivamente, no Proc. nº
2448/05.0TBSXL, que corre os seus termos no 1º Juízo do Tribunal Judicial da Comarca do Seixal.
O mandatário de António Luz foi, em 16.09.2006, notificado do Despacho que designa o dia 02.12.2006, às 9H30 para audiência de discussão e julgamento.
1. Explique como deve proceder o mandatário quando for notificado desse Despacho. (1 valor)
2. António Luz pretende agora (hoje) indicar uma nova testemunha: Elvira de Jesus.
Redija o respectivo requerimento. (1,5 valores)
3. No decorrer da audiência de discussão e julgamento, António Luz pretende juntar um documento para prova do art. 1º da Base Instrutória, documento esse que só agora foi emitido pelos respectivos serviços. Elabore o requerimento que o mandatário do A. deve ditar com esse objectivo. (1,5 valores)