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Constituições brasileiras

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Academic year: 2021

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Constituições brasileiras

Introdução

Você já questionou como se chegou à atual configuração do Estado brasileiro? E como surgiram as previsões dos direitos fundamentais em nível de proteção constitucional? Para responder a esses questionamentos, neste tópico será estudada a evolução das Constituições brasileiras, iniciando-se pela Constituição de 1824 e finalizando com a Constituição de 1988, já que, para se alcançar o que se tem hoje, o Brasil passou por sete Constituições.

Ao final desta aula, você será capaz de:

• reconhecer semelhanças e diferenças entre as Constituições brasileiras, comparando-as com a Constituição Federal de 1988, atualmente em vigor.

Constituição de 1824

Foi a primeira Constituição brasileira sistematizada, a qual nasceu durante o Império, pois no período anterior, em que se vivia a Colônia, não havia Constituição escrita no Brasil porque as relações sociais baseavam-se na colônia de exploração e nas regras ditadas pela monarquia.

Dessa forma, essa primeira Constituição nasceu pós-Independência, no período Imperial e, nos dizeres de Bulos (2014, p. 491), “foi a receita institucional encontrada pelo Imperador para perpetuar-se no trono”. Caracteriza-se, pois, uma constituição outorgada, em vez de promulgada ou democrática, como é a atual.

FIQUE ATENTO

Na obra “A História das Constituições”, Villa (2011) menciona expressamente a inexistência de Constituição durante o período colonial. Contudo, partindo da idéia de que o termo “Constituição” se refere à construção de normas que alicerçam o Estado, pode-se dizer que o país, ainda assim, tinha regras que o estruturavam, embora não fossem sistematizadas em forma escrita. Logo, com o devido respeito, ousamos em discordar de Villa, afirmando que no período colonial a Constituição era não escrita.

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Figura 1 - D. Pedro I

Fonte: Boris15 / Shutterstock

Seu conteúdo sofreu as influências do contexto histórico, sobretudo das ideias de Benjamim Constant e de Clermont, além das Revoluções Americana (1776) e Francesa (1789). Consagra-se a forma de Estado Unitário, em que “existe apenas um centro de poder político responsável pela produção de normas jurídicas a serem observadas indistintamente por todo o território” (NOVELINO, 2016, p. 522) e, no art. 2º, a Monarquia Hereditária como forma de governo. Ao contrário, atualmente, na Constituição de 1988, temos a Federação e a República.

Destacava-se o Poder Moderador, ao lado da tradicional divisão dos Poderes em Legislativo, Executivo e Judicial (art. 10). Neste ínterim, no art. 98, temos:

Constituição de 1824. Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organização Política, e é delegado privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, para que incessantemente vele sobre a manutenção da Independência, equilíbrio, e harmonia dos mais Poderes Políticos.

O art. 5º dessa Constituição prevê a religião católica como a oficial do Império, assegurando as outras religiões apenas o culto doméstico, sem exteriorização por meio de templos. Atualmente, não mais existe religião oficial, sendo o Brasil um país laico.

O direito de voto, ao contrário dos dias de hoje, era reservado apenas a uma camada da população, conforme critérios socioeconômicos. Fala-se em “Constituição da Mandioca” por causa do chamado “sufrágio censitário”, em que só podia votar quem fosse eleitor de província (renda 200 mil-réis), deputado (renda de 400 mil-réis) e

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em que só podia votar quem fosse eleitor de província (renda 200 mil-réis), deputado (renda de 400 mil-réis) e senador (renda de 800 mil-réis) (BULOS, 2014).

Constituição de 1891

É a primeira Constituição Republicana e transformou o Brasil em Federação. Extinguiu o Poder Moderador, permanecendo a divisão tripartite de Montesquieu em Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Adotou o Presidencialismo, inspiração norte-americana, ao contrário do regime monárquico antecedente (MENDES; BRANCO, 2016).

No Poder Judiciário, foi criada a Justiça Federal, ao lado da Justiça Estadual, e o Supremo Tribunal Federal foi situado no ápice deste Poder.

Figura 2 - Poder Judiciário

Fonte: Jakub Stepien / Shutterstock

Foi promulgada e rígida. Por influência do Positivismo, não mais previu religião oficial, como na época do Império. O Estado passou para a neutralidade, separando-se da Igreja (art. 72, § 3º).

Quanto aos direitos políticos, o ambiente favorecia a falta de lisura e o coronelismo e a maioria da população era

SAIBA MAIS

Positivismo: Rodrigues (2017) explica: “A autoria do termo positivismo é geralmente atribuída ao filósofo Augusto Comte (1798-1857) e é comumente entendida como a linha de pensamento que entende que o conhecimento científico sistemático é baseado em observações empíricas, na observação de fenômenos concretos, passíveis de serem apreendidos pelos sentidos do homem [...]”

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Quanto aos direitos políticos, o ambiente favorecia a falta de lisura e o coronelismo e a maioria da população era excluída do direito ao voto.

Salienta-se, ainda, a previsão expressa do habeas corpus no art. 72, § 22, ampliando-se a liberdade privada.

Constituição de 1934

Foi promulgada em meio a movimentos por melhores condições sociais. Surgiu durante a Era Vargas, sofreu influências da Constituição Alemã de Weimar de 1919, destacando os direitos sociais. Manteve a República Federativa e a inexistência de religião oficial. Contudo, admitiu o casamento religioso com efeitos civis e o ensino religioso facultativo nas escolas públicas.

Na esfera política, pela primeira vez constitucionalizou o voto feminino e o voto secreto. Manteve as garantias fundamentais e criou expressamente o mandado de segurança e a ação popular.

Figura 3 - Relação de desigualdade

Fonte: Adrian Niederhaeuser / Shutterstock

Nota-se que, apesar desse avanço na previsão do voto para mulheres, a relação de desigualdade socioeconômica

EXEMPLO

O destaque para essa exclusão é exemplificado, principalmente com as mulheres e com os analfabetos (VILLA, 2011).

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Nota-se que, apesar desse avanço na previsão do voto para mulheres, a relação de desigualdade socioeconômica e de gênero ainda perdurava e reflete até nos dias de hoje.

Constituição de 1937

É conhecida como “Polaca” porque “Getulio Vargas, embalado na posição universal de descrença da democracia, inspirou-se na Carta ditatorial da Polônia, de 1935” (BULOS, 2014, p. 494). Foi outorgada e nasceu em meio a Ditadura do Estado Novo, sob a influência Comunista.

Embora tenha mantido a forma de Governo Republicana e a Forma de Estado Federado, na prática, a realidade era diferente, pois a autonomia dos Estados foi restringida.

Foram mantidas a organização tripartite dos poderes e a ausência de religião oficial. Todavia, não houve a previsão de mandado de segurança, nem de ação popular, o que deu suporte à censura da imprensa, bem como a greve foi proibida.

A limitação aos direitos fundamentais ficou evidente com a possibilidade de se decretar o “estado de guerra” e de se aplicar a pena de morte nos casos de crime político e nas hipóteses de homicídio cometido por motivo fútil e com extremos de perversidade (LENZA, 2015).

Neste período, o caráter nacionalista ficava evidente na legislação, o que refletia na expansão da economia e nas leis que previam a segurança nacional.

Embora tenha sido nesta época o pano de fundo do surgimento da Consolidação das Leis do Trabalho, neste aspecto, “[...] a Constituição não desempenhou papel algum, substituída pelo mando personalista, intuitivo, autoritário” (BARROSO, 2009, p. 24), já que as previsões das normas trabalhistas na Constituição não tiveram efetividade na prática em meio ao contexto da Ditadura do Estado Novo.

A mudança desse panorama ditatorial adveio com a Segunda Guerra Mundial, o que transformou essa Carta com ideais fascistas em letra morta, preparando o caminho para uma nova Constituição.

Constituição de 1946

Com o repúdio à ditadura instalada desde 1930 e a deposição de Vargas pelas Forças Armadas, a Assembleia Nacional Constituinte foi instalada e “o texto inspirou-se nas ideias liberais da Constituição de 1891 e nas ideias sociais da de 1934” (LENZA, 2015, p. 205). O art. 141, § 3º, vedou as penas de morte, de banimento, de confisco e a de caráter perpétuo, o que foi reproduzido pela atual Constituição. Os partidos políticos foram constitucionalizados e o mandado de segurança e a ação popular foram restabelecidos. Os direitos sociais foram destacados, sendo reconhecido o direito de greve no art. 158. Com o art. 4º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a capital do Brasil passa do Rio de Janeiro ao Planalto Central, sendo o então Distrito Federal transformado no Estado de Guanabara. O presidente Quadros renuncia o poder em 1961, o que deu margem ao Golpe de 1964 e à consequente volta ao regime ditatorial.

Constituições de 1967 e de 1969

Foi outorgada e se assemelha à Constituição Polaca, pois as autonomias dos Estados e dos Municípios também foram restringidas, enquanto que o Presidente da República ganhou amplos poderes. Igualmente, o Federalismo inexistia na realidade, pois, na prática, a configuração mais se aproximava de um Estado Unitário, diante da

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inexistia na realidade, pois, na prática, a configuração mais se aproximava de um Estado Unitário, diante da centralização e da concentração no Poder Executivo (BASTOS, 2000). Neste contexto, destaca-se o Ato Institucional nº 5 (AI 5), que é lembrado pelo seu conteúdo de limitação aos direitos fundamentais. Quanto a esta Constituição de 1967, cabe salientar a Emenda Constitucional nº 01/1969, que constitucionalizou os Atos Institucionais do período da Ditadura Militar.

A força dessa Emenda foi tamanha que os autores que a colocam como se fosse uma nova “Constituição” defendem que existiu também uma nova ordem de configuração do Estado.

Constituição de 1988

Por fim, chega-se à atual Constituição, a “Constituição Cidadã”, por se destacar nas previsões quanto aos direitos e às garantias fundamentais.

FIQUE ATENTO

Observa-se que alguns autores colocam a Emenda Constituição nº 01/1969 como se fosse uma nova “Constituição” porque, embora com o título de “Emenda Constitucional”, houve a edição de novo texto da Constituição Federal de 24 de janeiro de 1967. Observe o conteúdo em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc01-69.

>

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SAIBA MAIS

O site do Senado Federal disponibiliza rico material sobre a Constituição de 1988, como os jornais da época, galeria de imagens, infográficos, vídeos, sessão de homenagem à Constituição, comentários dos senadores e histórico da Carta de 1988. Acesse o link: http://www.senado. gov.br/noticias/especiais/constituicao25anos/

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Figura 4 - Contexto político da Constituição de 1988

Fonte: M-SUR / Shutterstock

Sua promulgação marcou a redemocratização do país e o fim da Ditadura Militar. Suas especificidades serão detalhadas nos próximos tópicos.

Fechamento

Agora que você já conhece a história das Constituições Brasileiras, poderá compreender melhor os conteúdos que serão estudados nos próximos temas e unidades.

Nesta aula, você teve a oportunidade de:

• entender as principais características das Constituições Brasileiras;

• compreender a importância da história das Constituições para a atual configuração democrática do Estado Brasileiro.

Referências

BARROSO, L. R. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009.

_______. O Direito Constitucional e a Efetividade de suas normas: limites e possibilidades da Constituição Brasileira. 8. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2009.

BASTOS, C. R. Curso de Direito Constitucional. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. BULOS, U. L. Curso de Direito Constitucional. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. LENZA, P. Direito Constitucional Esquematizado. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

MENDES, G. F.; BRANCO, P. G. G. Curso de Direito Constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. (Série IDP) NOVELINO, M. Direito Constitucional. 5. ed. São Paulo: Método, 2011.

RODRIGUES, Lucas de Oliveira. "Positivismo"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br

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NOVELINO, M. Direito Constitucional. 5. ed. São Paulo: Método, 2011.

RODRIGUES, Lucas de Oliveira. "Positivismo"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br >. Acesso em: 27/12/2017.

/sociologia/positivismo.htm

Referências

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