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TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

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Academic year: 2021

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Registro: 2020.0000592083

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1000046-62.2019.8.26.0565, da Comarca de São Caetano do Sul, em que são apelantes PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL e MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, são apelados FERNANDO SCARMELOTTI, RENATA POLETTI DE SOUSA, RANGO PROPAGANDA LTDA ME e PAULO NUNES PINHEIRO.

ACORDAM, em 9ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento aos recursos do Ministério Público e do litisconsorte ativo Município de São Caetano do Sul, v. u. Sustentaram oralmente Dr. Braz Martins Neto e Dr. Luiz Roberto Sabbato. Fez uso da palavra a D. Procuradora de Justiça Maria Fátima Vaquero Ramalho Leyser", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores CARLOS EDUARDO PACHI (Presidente sem voto), DÉCIO NOTARANGELI E OSWALDO LUIZ PALU.

São Paulo, 30 de julho de 2020.

REBOUÇAS DE CARVALHO RELATOR

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Apelação Cível nº 1000046-62.2019.8.26.0565

Apelantes: Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul e Ministério Público do Estado de São Paulo

Apelados: Fernando Scarmelotti, Renata Poletti de Sousa, Rango Propaganda Ltda Me e Paulo Nunes Pinheiro

Comarca: São Caetano do Sul Voto nº 28175

AÇÃO CIVIL PÚBLICA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Contrato Administrativo nº 32/2016 Licitação na modalidade concorrência destinada à prestação de serviços de publicidade - Empresa vencedora beneficiada por manobra devidamente comprovada nos autos, pois não exercia era apta a exercer os serviços de publicidade Caráter competitivo da licitação frustrado - Provas Conclusivas que dão conta da ocorrência do prejuízo ao erário e que já foi objeto de apreciação e condenação na Ação Popular em que se buscou a anulação do contrato e ressarcimento dos danos-Aplicação da Teoria da Cegueira Deliberada - Ato de improbidade administrativa devidamente comprovado, ante a constatada conivência praticada pelos corréus Infringência do art. 10, VIII e XII, ambos da Lei nº 8.249/92 Procedência da ação ora decretada, com aplicação das penalidades administrativas nos termos do art. 12, II e par. Único, da Lei nº 8.429/92 Recurso do Ministério Público e da Municipalidade providos.

Trata-se de ação civil pública por ato de improbidade administrativa, com pedido de liminar de indisponibilidade dos bens em face de Paulo Nunes Pinheiro, Fernando Scarmelotti, Renata Poletti de Souza e a empresa Rango Propaganda Ltda. EPP, objetivando a condenação dos réus nas sanções previstas no art. 12, incisos II e III, da Lei 8.429/92, por ilicitude em procedimento

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licitatório.

O Município de São Caetano do Sul requereu sua habilitação no feito, na qualidade de litisconsórcio ativo (fls. 583/624).

Indeferida a liminar postulada para a decretação da indisponibilidade dos bens dos réus (fl. 569), desafiando a interposição de Agravos de Instrumento nºs. 2052270-06.2019.8.26.0000 (improvido), 2057818-12.2019.8.26.0000 (provido em parte), 2075442-74.2019.8.26.0000 (fls. 5484/5493 negado provimento ao recurso) e 2165838-97.2019.8.26.0000 (improvido)

Pela decisão de fls. 1187/1191, recebida a inicial, exceto quanto ao pedido de ressarcimento dos danos, pois já reconhecido por acórdão proferido na Ação Popular nº 1004268-78.2016.8.26.0565.

A r. sentença de fls. 5577/5593, cujo relatório adoto, julgou improcedente a ação, sem a condenação nos ônus sucumbenciais. Determinada a remessa necessária.

Inconformados, apelam os vencidos.

O Ministério Público individualiza as condutas lesivas à administração pública, sustentando que: a empresa Rango vencedora do certame licitatório não estava apta a participar da concorrência pública; Fernando Scarmelloti, era Secretário Municipal de Comunicação Social, solicitou a abertura da licitação e assinou o contrato de prestação de serviços; Renata Poletti de Souza, única sócia da empresa Rango, alterou o objeto social dias antes da publicação do edital da concorrência pública e não comprovou a capacitação técnica, caracterizando fraude à lei; por fim, Paulo Nunes

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Pinheiro, era o Prefeito Municipal e autorizou a licitação e assinou o contrato, de forma que todos devem ser condenados por atentarem aos princípios que regem a administração pública. Pugna pela reforma da r. sentença (fls. 5671/5688).

Por sua vez, o Município de São Caetano do Sul, a fls. 5737/5740, postula, igualmente, a condenação dos réus pela prática de ato de improbidade administrativa.

Recursos processados e contrariados (fls. 5747/5759 e 5815/5826).

Houve oposição ao julgamento virtual (fls. 5830 e 5832).

A d. Procuradoria Geral de Justiça ofertou seu parecer, opinando pelo provimento dos recursos (fls. 5895/5908).

É o relatório.

Infere-se dos autos a presente ação foi proposta após o julgamento dos recursos de apelação interpostos nos autos da Ação Popular nº 1004268-78.2016.8.26.0565, envolvendo os mesmos fatos desta demanda, qual seja o Contrato Administrativo nº 32/2016, do Município de São Caetano do Sul para a prestação de serviços de publicidade.

Na mencionada ação foi declarado nulo o Contrato Administrativo nº 32/2016, decorrente do certame licitatório (Concorrência Pública nº 06/2015), com a condenação dos réus ao ressarcimento ao erário público no valor correspondente a todos os pagamentos feitos pelo Município de São Caetano do Sul à corré Rango Propaganda Ltda.

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Com efeito, na presente ação busca-se a responsabilização dos réus por ato de improbidade administrativa, o que comporta acolhida.

Saliente-se que o MM. Juiz excluiu o pleito de ressarcimento de danos ao erário em decorrência da condenação na Ação Popular nº 1004268-78.2016.8.26.0565, sendo assim cabe à apreciação das sanções previstas no art. 12, II, III da Lei nº 8.429/92.

Com efeito, como examinado no v. acórdão proferido na ação popular, a empresa Rango Ltda. foi adquirida por Renata Polleti de Souza, como sócia unipessoal, efetivou a modificação de objeto social da empresa, passando a constar: “exploração do ramo de agência de publicidade em geral”, precisamente ao previsto no Edital C.P. nº 06/2015; transferindo sua sede para o Município de São Caetano do Sul, justamente onde tramitava o processo licitatório, no qual se sagrou vencedora.

No mais, quanto à capacitação técnica da empresa Rango, pode-se constatar do exame do Certificado de Qualificação Técnica, essencial à habilitação no processo licitatório, foi outorgado à empresa Rango Propaganda Ltda.-EPP apenas em 06 de janeiro de 2016, ou seja, um dia depois da realização da Segunda Sessão da Concorrência Pública, em nítido descumprimento do item 10.6.3, do edital licitatório, e da própria regra disposta no art. 30, II, da Lei nº 8.666/93, no caso a “aptidão para desempenho de atividade pertinente e compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da licitação, e indicação das instalações e do aparelhamento do pessoal técnico adequados e disponíveis para a realização do objeto da licitação”.

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de que a empresa vencedora do certame não atendeu ao item 10.6.4 do edital (Concorrência nº 06/2015), que impõe aos concorrentes do certame a comprovação da QUALIFICAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA, mais especificamente quanto ao item 10.6.4.1.2 que impõe a comprovação de “patrimônio líquido mínimo igual ou superior a R$ 378.675,00 (trezentos e setenta e oito mil reais, seiscentos e setenta e cinco reais), como também a QUALIFICAÇÃO TÉCNICA, que está no item 10.6.3 do edital.

Com efeito, a Rango é empresa de pequeno porte, inexplicavelmente firma contrato administrativo no valor anual de R$ 12.655.500,00 (doze milhões, seiscentos e cinquenta e cinco mil e quinhentos reais), sendo que seu capital social é de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) (fl.67), não era apta a cumprir com as obrigações do certame.

Até mesmo não passou desapercebida a suplementação do orçamento relativo ao ano de 2016 da Secretaria de Comunicação Social, inicialmente de R$ 6.768.000,00 (fl.548) a fim de custear o contrato no valor exorbitante de $ 12.655.500,00 (doze milhões, seiscentos e cinquenta e cinco mil e quinhentos reais).

Aliás, tal questão já foi enfrentada por esta Relatoria, quando do julgamento da Ação Popular nº 1004268-78.2016.8.26.0565, j. 25.07.18, em que se discutiu a anulação da desta contratação e do ressarcimento ao erário, quando individualizou a conduta traçada pela empresa e sua sócia:

“Quanto ao mérito da controvérsia, o que se está a considerar é que a empresa vencedora do certame licitatório (Concorrência nº 06/2015) (fls. 84/176), Rango Propaganda Ltda. ME, e por conseguinte, seus sócios responsáveis, deverão responder

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pelas irregularidades e vícios que ocasionaram lesão ao patrimônio público.

De fato, ainda que “acanhada empresa familiar, constituída por dois sócios, o genitor, Aloísio Ribeiro da Cruz, e sua filha, então menor, Luisa de Alvarenga Ribeiro, era sediada nesta Capital, no Bairro da Vila Mariana, cujo capital era de apenas R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) e tinha por objeto social a “prestação

de serviços em mídia alternativa, veículos de comunicação e sons e imagens, em mídia externa e web design, desenvolvimento de software e aplicativos para computadores, no estabelecimento da sociedade” (fls. 469/474). Assim permaneceu como microempresa até o início de novembro de 2015, após o que, mais precisamente em 25 de novembro de 2015, ou seja, dias após a publicação do Edital C.P. nº 06/2015, Processo nº 100.271/2015, que se deu em 27 de outubro de 2015 (fl. 84/132), e na proximidade da primeira sessão da Concorrência Pública, realizada em 16 de dezembro de 2015, a empresa contratada, Rango Propaganda Ltda. EPP, consolidou, perante a Junta Comercial do Estado de São Paulo, a Alteração de seu Contrato Social (fls. 380/386), com a retirada dos sócios originais e sua aquisição por Renata Polleti de Souza, como sócia unipessoal (Cláusula V-fl. 381), deixando, pois, de ser uma empresa familiar para transformar-se em empresa de pequeno porte, com a modificação de seu objeto social, que passou a constar como “exploração do ramo de agência de

publicidade em geral”, precisamente aquele previsto no Edital C.P.

nº 06/2015; com a transferência de sua sede para o Município de São Caetano do Sul, justamente onde se deu a tramitação do processo licitatório, no qual a recorrente se sagrou vencedora (Cláusula VIII-fl.

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381)” (fls. 4628/4635).

No mais, quanto à capacitação técnica da empresa vencedora do certame, pode-se constatar do exame do documento de fl. 468 que o Certificado de Qualificação Técnica, essencial à habilitação no processo licitatório, foi outorgado à empresa Rango Propaganda Ltda.-EPP apenas em 06 de janeiro de 2016, ou seja, um dia depois da realização da Segunda Sessão da Concorrência Pública (fl. 28), em nítido descumprimento do item 10.6.3, do edital licitatório (fls. 115/117), e da própria regra disposta no art. 30, II, da Lei nº 8.666/93, no caso a “aptidão para desempenho

de atividade pertinente e compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da licitação, e indicação das instalações e do aparelhamento do pessoal técnico adequados e disponíveis para a realização do objeto da licitação”1.

Assim, os fundamentos fáticos que embasaram o decidido na Ação Popular servem de alicerce para se responsabilizar todos os requeridos aqui na presente ação civil pública.

Restou asseverado na Ação Popular quanto à participação ativa de todos requeridos:

“Assim, não há que se reconhecer a ilegitimidade dos réus elencados no polo passivo da ação, quando comprovado que participaram ativamente tanto do Certame licitatório como da assinatura do contrato administrativo objeto deste ação, não sendo possível nem mesmo a exclusão de algum agente público que tenha

1 Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a:

II - comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da licitação, e indicação das instalações e do aparelhamento e do pessoal técnico adequados e disponíveis para a realização do objeto da licitação, bem como da qualificação de cada um dos membros da equipe técnica que se responsabilizará pelos trabalhos;

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participado da licitação e do contrato administrativo em debate, pois gestores públicos devem fiscalizar e preservar com responsabilidade dos gastos públicos, respondendo por esses atos de gestão, primordialmente quando há interesse público consubstanciado em vultosos contratos administrativos, que devem reverter em melhorias aos munícipes”.

As condutas da empresa Rango e sua sócia Renata já restaram analisadas amplamente.

Quanto ao requerido Fernando Scarmelloti, este era Secretário Municipal de Comunicação Social, e solicitou a abertura de procedimento de licitação para contratação de empresa pelo Município de São Caetano do Sul para prestação de serviços de publicidade, apresentou justificativas impulsionando o processo administrativo nº 100275/2015 até a final assinatura do contrato de prestação de serviços (fls. 384/407), efetivada pelo requerido Paulo Nunes Pinheiro, Prefeito Municipal na época dos fatos e também responsável pela.

Ora, como é perceptível, competia ao gestor público, o Prefeito Municipal e referido Secretário Municipal, ter ciência inequívoca de que nenhuma concorrência e disputa pelo melhor preço existiu, ao contrário, a fraude decorreu do direcionamento do contrato a empresa vencedora, já que apurado ser o capital social da empresa que havia aparentemente também ofertado alguma proposta para disputa era “incompatível com o valor da licitação”, o que corrobora também com o fato de que o objeto social da empresa também ser incompatível e posteriormente “adaptado”, em nítida fraude perpetrada, ne medida em que

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dispenderam valor exorbitante para a contratação de empresa que não era apta a exercer o objeto do edital.

Configurou-se, assim, o ato de improbidade administrativo em discussão, com ofensa ao art. 10, VIII e XII, da Lei nº 8.429/922.

Guardadas as devidas proporções, é evidente, em tempo de exposição pública e notória pelo julgamento televisionado ao vivo da Ação Penal 470 pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, em que de forma corajosa e destemida o Poder Judiciário não se encolheu, frente aos muitos interesses envolvidos, na condenação de criminosos que estavam a praticar infrações penais (corrupção passiva, ativa, lavagem de dinheiro) e, nesta ocasião, uma determinada teoria foi suscitada pelo sempre profundo e completo Ministro Celso de Mello, e que poderá ser agora aventada neste caso concreto, qual seja TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA ou DA IGNORÂNCIA DELIBERADA, também conhecida como DOUTRINA DA CEGUEIRA INTENCIONAL, TEORIA DAS INSTRUÇÕES DE AVESTRUZ ou DOUTRINA DO ATO DE IGNORÂNCIA CONSCIENTE, criada pela Suprema Corte Norte Americana (willful blindness doctrine), cuja síntese diz respeito à tentativa de se afirmar ignorância deliberada e fingida acerca da situação de ilicitude, com vistas a objetar uma determinada vantagem.

2 Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão,

dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens

ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente; XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;

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INFORMATIVO Nº 677 TÍTULO AP 470/MG - 52 PROCESSO AP-470 ARTIGO

O Min. Celso de Mello, por sua vez, acentuou que o processo penal só poderia ser concebido como instrumento de salvaguarda da liberdade do réu. Enfatizou, assim, que a exigência de comprovação dos elementos que dariam suporte à acusação penal recairia por inteiro sobre o órgão ministerial. Apontou que os membros do poder, quando atuassem em transgressão às exigências éticas que deveriam pautar e condicionar a atividade política, ofenderiam o princípio da moralidade, que traduziria valor constitucional de observância necessária na esfera institucional de qualquer dos Poderes da República. A seu turno, não acolheu a pretensão punitiva do Estado, no que se refere ao inciso VII do art. 1º da Lei 9.613/98. Repeliu a aplicação da Convenção de Palermo quanto ao estabelecimento de diretrizes conceituais sobre criminalidade organizada. Reputou prevalecer sempre, em matéria penal, o postulado da reserva constitucional absoluta de lei em sentido formal. Pronunciou não ser possível invocar-se, para efeito de incriminação, norma consubstanciada em pactos ou em convenções internacionais, ainda que formalmente incorporados ao plano do direito positivo interno. No tocante ao crime de lavagem de dinheiro, observou possível sua configuração mediante dolo eventual, notadamente no que

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pertine ao caput do art. 1º da referida norma, e cujo reconhecimento apoiar-se-ia no denominado critério da teoria da cegueira deliberada ou da ignorância deliberada, em que o agente fingiria não perceber determinada situação de ilicitude para, a partir daí, alcançar a vantagem prometida. Mencionou jurisprudência no sentido de que o crime de lavagem de dinheiro consumar-se-ia com a prática de quaisquer das condutas típicas descritas ao longo do art. 1º,caput, da lei de regência, sendo pois, desnecessário que o agente procedesse à conversão dos ativos ilícitos em lícitos. Bastaria mera ocultação, simulação do dinheiro oriundo do crime anterior sem a necessidade de se recorrer aos requintes de sofisticada engenharia financeira. AP 470/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 27, 29 e 30.8.2012. (AP-470)

Íntegra do Informativo 677 INFORMATIVO Nº 684 TÍTULO AP 470/MG - 142 PROCESSO AP-470 ARTIGO

Ato contínuo, o decano da Corte, Min. Celso de Mello admitiu a possibilidade de configuração do crime de lavagem de valores

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mediante dolo eventual, com apoio na teoria da cegueira deliberada, em que o agente fingiria não perceber determinada situação de ilicitude para, a partir daí, alcançar a vantagem pretendida. Realçou que essa doutrina não se aplicaria em relação a Anderson Adauto, João Magno e Paulo Rocha, cujas condutas julgou impregnadas de dolo direto, porque buscaram conferir aparência lícita a dinheiro de origem ilícita. Versou que ao se utilizarem do mecanismo viabilizado pelo Banco Rural e pela SMP&B a dificultar ou impossibilitar o rastreamento contábil do dinheiro ilícito , os réus pretenderiam ocultar o rastro de suas participações, sabidamente frutos de crimes contra a Administração Pública e o sistema financeiro nacional. Obtemperou que a legislação pátria consideraria ocultação, dissimulação ou integração etapas que, isoladamente, configurariam crime de lavagem. O Presidente, por vez, quanto aos réus absolvidos vislumbrou não terem eles sido beneficiários nem agentes de ações centrais, tampouco partícipes de qualquer empreitada que significasse reforço às ações delituosas ou pleno conhecimento de crimes antecedentes. No que tange aos demais réus, reputou que saberiam da engenharia financeira desse aparato publicitário-financeiro. Concluiu que o contexto factual o levaria a acatar a denúncia nesta parte. AP 470/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 15, 17 e 18.10.2012. (AP-470) Íntegra do Informativo 684

Em outras palavras, é o propósito de fingir desconhecer que não houve direcionamento de licitação e irregularidades na entrega do bem contratado, com prejuízo aos cofres públicos, objetivo este que se encontrava dissuadido no submundo do rigor formal que aparentava o certame e a contratação.

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Veja o que dito por ANDRÉ RICARDO NETO NASCIMENTO em sua monografia:

Para a teoria da cegueira deliberada o dolo aceito é o eventual. Como o agente procura evitar o conhecimento da origem ilícita dos valores que estão envolvidos na transação comercial, estaria ele incorrendo no dolo eventual, onde prevê o resultado lesivo de sua conduta, mas não se importa com este resultado. Não existe a possibilidade de se aplicar a teoria da cegueira deliberada nos delitos ditos culposos, pois a teoria tem como escopo o dolo eventual, onde o agente finge não enxergar a origem ilícita dos bens, direitos e valores com a intenção de levar vantagem. Tanto o é que, para ser supostamente aplicada a referida teoria aos delitos de lavagem de dinheiro “exige-se a prova de que o agente tenha conhecimento da elevada probabilidade de que os valores eram objeto de crime e que isso lhe seja indiferente. (“Teoria Da Cegueira Deliberada: Reflexos de sua aplicação à Lei de Lavagem de Capitais (Lei 9.613/98)”. Disponível em:

<http://repositorio.uniceub.br/bitstream/123456789/ 800/1/20570516.pdf>. Acessado em: 28 nov. 2012.

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Por outro lado, é, em relação ao ilícito administrativo praticado neste caso concreto, perfeitamente adequada a sua incidência, na medida em que os corréus frustraram de forma efetiva a licitude do processo licitatório, pois sabedores que de a vencedora não era apta a exercer os serviços de publicidade, concorrendo para o enriquecimento ilícito da empresa e com objetivo único de gerar prejuízo aos cofres públicos, cujo ressarcimento ao erário aqui não caberá pois já decidido e condenados na Ação Popular.

Já julgou esta Eg. Câmara neste sentido:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA Licitação (Pregão Presencial) Empresa vencedora beneficiada por manobra devidamente comprovada nos autos, com fraude evidente das propostas ofertadas Direcionamento indevido do certame Provas Conclusivas que dão conta da ocorrência do prejuízo ao erário Aplicação da Teoria da Cegueira Deliberada - Ato de improbidade administrativa devidamente comprovado, ante a constatada cavilosidade praticada pelos corréus Não condenação do Pregoeiro do certame, pois não comprovada sua participação no ato ímprobo - Infringência do art. 10, VIII, da Lei nº 8.249/92 Honorários advocatícios não arbitrados nestes casos, conforme previsão do art. 18, da Lei nº 7.347/85 - Procedência parcial da ação mantida, com adequação das penalidades administrativas aos termos do art. 12, II e par. Único, da Lei nº

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8.429/92 Cerceamento de defesa não constatado, uma vez que o Inquérito Civil é instrumento disponível ao Ministério Público (art. 129, III, da CF) e possui caráter inquisitivo, sendo possível a mitigação do contraditório e ampla defesa - Apelações do Ministério Público autor e da Municipalidade de Ferraz de Vasconcelos assistente litisconsorcial não providas, e apelações dos corréus providas em parte, apenas para adequação das penalidades administrativas

cominadas. (APELAÇÃO CÍVEL

1001620-83.2016.8.26.0191, minha relatoria, j 08.11.2018)

“NULIDADE DA SENTENÇA - Cerceamento de defesa - Inocorrência - O Juiz é o destinatário da prova, cabendo a ele decidir ser pertinente ou não a dilação probatória - Julgamento antecipado que se mostrou adequado frente à suficiente prova documental -Desnecessidade de perícia. LEGITIMIDADE ATIVA - A Carta Magna, no artigo 129, inciso III, conferiu ao Ministério Público a função de promover a ação civil pública para proteção do patrimônio público, ratificada pela Súmula nº 329, do C. STJ. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - Ação Civil Pública - Simulação e direcionamento de licitação - Ofensa à moralidade administrativa e prejuízo ao erário Municipal comprovados -Condenação do Prefeito,

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membros da Comissão de Licitação, empresa favorecida e sócios envolvidos no esquema - Medida de rigor Inteligência dos artigos 10, VIII, e 11 caput da Lei 8.429/92- Dosimetria da pena realizada com estrita observância do princípio da razoabilidade/proporcionalidade - Indisponibilidade de bens - Medida acautelatória em que ausente o caráter expropriatório - R. sentença mantida. Recursos improvidos (APELAÇÃO CÍVEL nº 0002004-79.2011.8.26.0695, Des. Carlos Eduardo Pachi, j. 17.02.16).

Cumpre, então, decretar a procedência da ação civil pública por ato de improbidade administrativa prevista no art. 10, incisos VIII e XII, da Lei nº 8429/92, fixando-se as penalidades administrativas cominadas no art. 12, II, da Lei nº 8.429/92 nos seguintes patamares em relação a todos eles:

1. Proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios pelo prazo de 5 (cinco) anos para e empresa e sua representante legal.

2. Suspensão dos direitos políticos pelo prazo de 5 (cinco) anos, exceto para a empresa;

3. Perda da função pública para os que eventualmente ocupam cargos ou mandato

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eletivo.

Ante o exposto, dá-se provimento aos recursos do Ministério Público e do litisconsorte ativo Município de São Caetano do Sul.

REBOUÇAS DE CARVALHO RELATOR

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