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NÚCLEO PARADIGMA DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Curso de Especialização em Psicologia Clínica Analítico-Comportamental

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NÚCLEO PARADIGMA DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Curso de Especialização em

Psicologia Clínica Analítico-Comportamental

A RELAÇÃO ENTRE COMPORTAMENTO RESPONDENTE E FISIOLOGIA NA OBRA DE B. F. SKINNER

JAN LUIZ LEONARDI

São Paulo

2008

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NÚCLEO PARADIGMA DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Curso de Especialização em

Psicologia Clínica Analítico-Comportamental

A RELAÇÃO ENTRE COMPORTAMENTO RESPONDENTE E FISIOLOGIA NA OBRA DE B. F. SKINNER

JAN LUIZ LEONARDI

Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do título de ESPECIALISTA em Psicologia Clínica Analítico-Comportamental, sob orientação da Profa. Ms. Yara Claro Nico.

São Paulo

2008

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Dedico este trabalho a meu pai, primoroso modelo de ser humano.

Espero um dia ser metade da pessoa que ele sempre foi.

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AGRADECIMENTOS

À Yara, pela orientação precisa, motivadora e carinhosa. Sinto-me honrado em ter sido orientado por uma psicóloga tão brilhante.

Ao Roberto Banaco, que, sem saber, é o principal responsável pela minha paixão pela Psicologia Clínica.

Aos professores e colegas do Núcleo Paradigma, com quem tanto aprendi.

À Emmanuel Zagury Tourinho, João Cláudio Todorov, Kester Carrara, Luiz Guilherme Gomes Cardim Guerra, José Antônio Damásio Abib, Julio Cesar Coelho de Rose, Marcelo Frota Benvenuti, Márcio Borges Moreira, Marcus Bentes de Carvalho Neto, Maria Teresa de Araujo Silva, Nilza Micheletto, Olavo de Faria Galvão, Sergio Vasconcelos de Luna e Tereza Maria de Azevedo Pires Sério pelo auxílio na seleção dos textos de Skinner utilizados neste trabalho e pelos relevantes comentários.

À André Amaral Bravin, Felipe Corchs, Gustavo Rohenkohl, Paola Bisaccioni e Plínio das Neves Fávaro pelo auxílio na obtenção de parte dos textos.

Aos amigos Denigés Maurel Regis Neto, João Mariano Cenacchi Pereira e Fernando Albregard Cassas pelas oportunidades profissionais que me concederam ao longo da minha graduação. Aprendi muito com vocês.

À Anice Rassi, pelo “laboratório de vida”.

Aos grandes amigos Guilherme Conti Marcello, Laura Muniz Rocha, Mariana Filippini Cacciacarro e Victor Hugo Aguiar Facciolla, por terem acompanhado de perto o processo de elaboração deste trabalho e por estarem sempre ao meu lado. Como bem disse Shakespeare, o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. Bons amigos são a família que nos permitiram escolher...

À Miuxa, pela reconfortante companhia durante incontáveis horas de estudo.

À Giuliana Romano, pelo amor, carinho, amizade, apoio e compreensão. Obrigado por compartilhar sua vida comigo.

Aos meus pais, pela dedicação, esforço e compreensão. Obrigado por terem tornado tudo possível.

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“Far and away the best prize that life offers is the chance to work

hard at work worth doing.” – Theodore Roosevelt

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RESUMO

Leonardi, J. L. (2008). A relação entre comportamento respondente e fisiologia na obra de B. F. Skinner. Monografia de especialização (43 pp.). Curso de Especialização em Psicologia Clínica Analítico-Comportamental, Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento, São Paulo, SP, Brasil.

Orientadora: Prof. Ms. Yara Claro Nico.

Ao longo de sua obra, B. F. Skinner distingue dois processos comportamentais: o comportamento respondente e o comportamento operante. Segundo o autor, o comportamento respondente se refere à economia interna do organismo, responsável por sua adaptação ao ambiente. Neste sentido, o interesse de Skinner pelo comportamento respondente é restrito, na medida em que diz respeito apenas a algumas instâncias comportamentais de cunho fisiológico. Este trabalho teve como objetivo identificar na obra de B. F. Skinner a maneira pela qual o comportamento respondente é teorizado e estabelecer se é possível compreender todo fenômeno fisiológico como um comportamento respondente, ou seja, determinar se todo fenômeno fisiológico pode ser descrito como uma relação estímulo-resposta ou se existe algum critério que permita demarcar uma fronteira entre o comportamento respondente e a fisiologia. Foram selecionados e analisados 22 textos de Skinner de 1938 a 1990 nos quais foram identificadas considerações teórico-conceituais acerca do comportamento respondente.

Os resultados obtidos na presente pesquisa permitem concluir que fisiologia e comportamento respondente possuem identidade ontológica na obra de B. F. Skinner, o que coloca em dúvida se a fronteira entre Análise do Comportamento e Neurociência deve se manter válida.

Palavras-chave: comportamento respondente, reflexo, fisiologia, behaviorismo, neurociência.

(7)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 1

MÉTODO ... 15

RESULTADOS E DISCUSSÃO... 18

CONCLUSÃO ... 35

REFERÊNCIAS ... 38

ANEXO I ... 44

ANEXO II ... 46

(8)

O Behaviorismo Radical é uma filosofia da ciência preocupada com o objeto de estudo e os métodos da Psicologia e a Análise do Comportamento é uma prática científica, experimental e aplicada, que, orientada pelas concepções filosóficas do Behaviorismo Radical, tem como objetivo investigar os processos básicos que permitem explicar, prever, controlar e interpretar o comportamento humano (Skinner, 1969; Carvalho Neto, 2002).

O Behaviorismo Radical caracteriza-se como uma objeção à concepção internalista da ciência psicológica tradicional, que recorre a condições internas do próprio indivíduo na explicação de seu comportamento, sejam essas condições imputadas à mente, psique, cérebro, volições, pensamentos, estruturas cognitivas ou, ainda, ao funcionamento do Sistema Nervoso Central (Skinner, 1953/1965; Tourinho, 2001)1.

B. F. Skinner, o fundador de tal filosofia, afirma que a postulação de variáveis internas hipotéticas na explicação do comportamento é, na verdade, uma

“ficção explicativa” (Skinner, 1953/1965). Em poucas palavras, a crítica do Behaviorismo Radical ao internalismo é um questionamento da crença na autodeterminação do comportamento e o conseqüente distanciamento do controle ambiental a que ele está submetido (Tourinho, 2001).

Embasado nessa crítica, Skinner propõe um modelo causal voltado para os eventos que são externos ao indivíduo. Segundo o autor, a determinação de todos os processos comportamentais, inclusive dos comportamentos encobertos (como pensamentos e sentimentos), está nas relações com o ambiente que está fora do organismo, o que caracteriza o Behaviorismo Radical como uma abordagem

“externalista” (Tourinho, 1999). Skinner (1953/1965), ao discutir as explicações existentes para as causas do comportamento, afirma que

a prática de buscar dentro do organismo uma explicação para o comportamento tende a obscurecer as variáveis que estão disponíveis de forma imediata para uma análise científica. Estas variáveis se encontram fora do organismo, em seu ambiente imediato e em sua história ambiental (p. 31).2

1 Quando as citações possuírem duas datas, a primeira representa o ano da edição original e a segunda o ano da edição consultada.

2 Tradução livre. No original: The practice of looking inside the organism for an explanation of behavior has tended to obscure the variables which are immediately available for a scientific analysis. These variables lie outside the organism, in its immediate environment and in its environmental history.

(9)

Neste sentido, Skinner (1981/1987) designa o modelo de causalidade do seu sistema psicológico de modo causal de seleção por conseqüências, elaborado a partir da teoria da evolução por seleção natural de Charles Darwin. Segundo Darwin, a formação e a transformação das diferentes espécies envolvem dois processos básicos: a produção de variação aleatória dentro de populações e a seleção ambiental de algumas dessas variações (Andery, Micheletto & Sério, 2007; Catania, 1999).

Skinner (1981/1987) adota o modelo selecionista darwiniano e amplia os princípios de variação e seleção para explicar outro objeto: o comportamento. Segundo o autor, os repertórios comportamentais adquiridos na vida de cada indivíduo e as diferentes práticas culturais existentes também são determinados por processos de variação e seleção. Desta forma, na perspectiva behaviorista radical, o comportamento humano é determinado por três níveis de variação e seleção – a filogênese, a ontogênese3 e a cultura.

O primeiro nível de variação e seleção diz respeito às propriedades filogenéticas das espécies, como o conjunto de características anatomofisiológicas do organismo, os padrões fixos de ação, a sensibilidade a estímulos ambientais, a susceptibilidade a diferentes processos de aprendizagem, mecanismos motivacionais, entre outros. O segundo nível de seleção por conseqüências é o processo pelo qual cada indivíduo adquire um repertório comportamental específico através do qual ele se torna singular, ou seja, o nível ontogenético se refere à parte significativa da aprendizagem pela qual o organismo é modificado e seu repertório comportamental é construído. O terceiro nível de variação e seleção é responsável pela evolução e manutenção dos ambientes socioculturais, nos quais um indivíduo aprende com as práticas do grupo. É importante observar que os três níveis de variação e seleção interagem continuamente entre si e que, portanto, só é possível compreender realmente o comportamento humano se considerarmos a ação conjunta da história da espécie, do indivíduo e da cultura (Andery, 1997/2001; Andery, Micheletto & Sério, 2007; Micheletto, 1997/2001). O modelo causal de seleção por conseqüências supera qualquer explicação mentalista, mecanicista e finalista do comportamento, na medida em que “(...) o ambiente opera como um selecionador e não como um indicador da direção a ser seguida por uma espécie, um indivíduo, ou uma cultura” (Andery, 1997/2001, p. 183). Nas palavras de Skinner (1981/1987),

3 O termo “ontogênese” é empregado por Skinner num sentido distinto de seu sentido original. Em biologia, ontogênese se refere ao desenvolvimento de qualquer organismo desde sua concepção até a idade adulta (Houaiss, 2001). No Behaviorismo Radical, ontogênese descreve a história de condicionamento de um determinado organismo ao longo de toda a sua vida.

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(...) o comportamento humano é o produto conjunto de a) contingências de sobrevivência responsáveis pela seleção natural e b) contingências de reforçamento responsáveis pelos repertórios adquiridos por seus membros, incluindo c) contingências especiais mantidas por um ambiente cultural evoluído (p. 51).4

No Behaviorismo Radical, “comportamento” é definido como a relação entre um organismo e seu ambiente (em nível molar) ou como a relação entre respostas e estímulos (em nível molecular). É importante observar que estímulos e respostas não são instâncias comportamentais independentes, pois, embora seja possível identificar o que é estímulo e o que é resposta em uma relação comportamental, eles dependem um do outro para serem definidos, isto é, não há estímulo sem resposta e nem resposta sem estímulo. O escopo de análise do Behaviorismo Radical inclui toda e qualquer interação do organismo com o ambiente; assim, os termos “resposta” e “estímulo” não sofrem qualquer tipo de restrição metodológica (Tourinho, 1999; Sério, Micheletto & Andery, 2007).

A partir desse fundamento, o termo conceitual “ambiente” se refere ao contexto no qual o responder ocorre e à situação que passa a existir após esse responder, isto é, se refere aos estímulos que antecedem a resposta e aos estímulos subseqüentes a ela. Nesta perspectiva, “estímulo” é todo e qualquer evento que exerça algum controle sobre o responder. Os estímulos podem ser físicos – os objetos do mundo comumente estudados pelas ciências naturais, e sociais – eventos ambientais produzidos pelos seres humanos, isto é, os produtos da cultura. O ambiente compreende, ainda, estímulos públicos – eventos ambientais acessíveis a dois ou mais observadores independentes, e estímulos privados – eventos ambientais que são diretamente acessíveis apenas pelo organismo afetado por eles (Sério, Micheletto & Andery, 2007; Andery & Sério, 2001).

Por sua vez, o termo “resposta” diz respeito às atividades do organismo, sendo que estas envolvem respostas abertas – ações que podem ser verificadas por dois ou mais observadores, e respostas encobertas – ações nas quais apenas o próprio indivíduo tem acesso. As respostas envolvem atividades simples e complexas (Sério, Micheletto & Andery, 2007; Andery & Sério, 2001).

Embasado na definição de comportamento como relação entre organismo e ambiente, Skinner (1938/1991; 1953/1965) distingue dois processos comportamentais, a saber, o comportamento respondente e o comportamento operante. A seguir, será

4 Tradução livre. No original: Human behavior is the joint product of (i) contingencies of survival responsible for natural selection and (ii) contingencies of reinforcement responsible for the repertoires of individuals, including (iii) the special contingencies maintained by an evolved social environment.

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apresentada brevemente a definição de comportamento operante e, mais demoradamente, a de comportamento respondente, devido ao escopo deste trabalho.

O comportamento operante é uma relação na qual uma resposta de um organismo produz mudanças no ambiente que, por sua vez, retroagem e modificam o organismo, alterando a probabilidade de uma resposta semelhante ser emitida no futuro.

O comportamento operante envolve pelo menos duas relações características: a relação entre a resposta e suas conseqüências e a relação entre a resposta e os estímulos que a antecedem e que estavam presentes na ocasião em que a resposta foi reforçada (Skinner, 1953/1965; Sério, Andery, Gioia & Micheletto, 2004).

O comportamento respondente é uma relação fidedigna na qual um determinado estímulo produz seguramente/confiavelmente uma resposta específica em um organismo fisicamente sadio, ou seja, a resposta é determinada apenas pelo evento ambiental antecedente. O respondente, ou reflexo, não designa o estímulo e nem a resposta, mas sim a relação entre ambos (assim, a observação de uma salivação na ausência de estímulos eliciadores não poderia ser caracterizada como um reflexo). O reflexo é classificado como um tipo de comportamento por ser uma forma de interação entre um organismo e seu ambiente (Catania, 1999; Benvenuti, Gioia, Micheletto, Andery & Sério, 2007).

Quando um estímulo é a causa fundamental de uma resposta, como no comportamento respondente, diz-se que o estímulo elicia a resposta ou que a resposta é eliciada pelo estímulo, e que o estímulo é um estímulo eliciador e que a resposta é uma resposta eliciada. O verbo eliciar é utilizado para explicitar que o estímulo força a resposta e que o organismo apenas responde a estímulos de seu meio (Catania, 1999;

Benvenuti et al., 2007). Segundo Skinner (1953/1965):

Certa parte do comportamento é, pois, eliciada por estímulos, e nossa previsão desse comportamento é especialmente precisa. Quando incidimos um raio de luz no olho de um sujeito normal, a pupila se contrai. Quando ele sorve suco de limão, há secreção de saliva. Quando elevamos a temperatura do quarto a certo ponto, os pequenos vasos sanguíneos de sua pele se dilatam e o sangue vem à superfície da pele, “enrubescendo-a”. (...) Como estes exemplos sugerem, muitas respostas reflexas são executadas pelos músculos lisos (por exemplo, os músculos das paredes dos vasos sanguíneos) e pelas glândulas. Estas estruturas relacionam-se particularmente com a economia interna do organismo (p. 49).5

5 Tradução livre. No original: A certain part of behavior, then, is elicited by stimuli, and our prediction of that behavior is especially precise. When we flash a light in the eye of a normal subject, the pupil contracts. When he sips lemon juice, saliva is secreted. When we raise the temperature of the room to a

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Uma relação respondente deve ser caracterizada pela probabilidade condicional de ocorrência da resposta. Uma resposta é reflexa quando tem probabilidade próxima de 100% na presença do estímulo e probabilidade próxima de zero na ausência do estímulo (Catania, 1999).

As relações respondentes possuem determinadas características, a saber, limiar (do estímulo), magnitude (da resposta), duração (da resposta) e latência (da relação) (Catania, 1999; Benvenuti et al., 2007). Limiar é a intensidade mínima de estímulo necessária para que a resposta seja eliciada e a magnitude se refere à amplitude da resposta. No reflexo patelar, por exemplo, a força com que a martelada é dada é a intensidade do estímulo e o tamanho da distensão da perna é a magnitude da resposta (se a martelada não for aplicada com uma força que atinja o limiar, a resposta de distensão não ocorrerá). Em qualquer comportamento respondente, quanto maior for a intensidade do estímulo, maior será a magnitude da resposta. A duração da resposta é o tempo que a resposta eliciada perdura e a latência é o intervalo de tempo decorrido entre a apresentação do estímulo e a ocorrência da resposta. Quanto maior for a intensidade do estímulo, maior será a duração da resposta e menor será a latência da relação respondente, e vice-versa. Utilizando novamente o reflexo patelar como exemplo, a duração da resposta é o tempo que a distensão da perna perdura, enquanto que a latência é o tempo decorrido entre a martelada e o movimento da perna (Catania, 1999).

A força do respondente é medida pela latência da relação e pela magnitude e duração da resposta. Um reflexo é forte quando o responder tem uma latência curta, a magnitude da resposta é grande e sua duração é longa. Inversamente, um reflexo é fraco quando, diante de um estímulo de grande intensidade, a latência da resposta é longa, a magnitude da resposta é pequena e a sua duração é curta (Catania, 1999).

Os comportamentos respondentes referem-se à economia interna do organismo. Eles tratam da adaptação do funcionamento do organismo, enquanto ser biológico, a mudanças no ambiente (Skinner, 1953/1965; Todorov, 2004). Dito de outra forma, os comportamentos respondentes são adaptações ao ambiente que dizem respeito a eventos fisiológicos, tais como: resposta de “salivação” eliciada pelo estímulo

“alimento na boca”; resposta de “sobressalto” eliciada pelo estímulo “barulho estridente”; resposta de “piscar” eliciada pelo estímulo “cisco no olho”; resposta de

certain point, the small blood vessels in his skin enlarge, blood is brought nearer to the skin, and he “turns red”. (...) As these examples suggest, many reflex responses are executed by the “smooth muscles” (for example, the muscles in the walls of the blood vessels) and the glands. These structures are particularly concerned with the internal economy of the organism.

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“suar” eliciada pelo estímulo “calor”; resposta de “lacrimejar” eliciada pelo estímulo

“cebola sob os olhos”, etc. (Moreira & Medeiros, 2007; Catania, 1999).

Os exemplos supracitados dizem respeito a relações estímulo-resposta que fazem parte do repertório do organismo a despeito de sua experiência pessoal e, por isso, são designados de “comportamentos respondentes incondicionais”. Os comportamentos respondentes incondicionais (ou reflexos incondicionais) têm origem na história filogenética, pois uma resposta incondicional ser eliciada por um estímulo incondicional é uma característica que foi selecionada por contingências relevantes para a sobrevivência da espécie, ao longo de sua história evolutiva. Isto quer dizer que o repertório de comportamentos respondentes de cada organismo é limitado e que não é possível desenvolver novos reflexos ao longo da história de vida do indivíduo, uma vez que esse repertório é resultado de milhões de anos de evolução. Neste sentido, Pierce &

Epling (2004) apontam que “todos os organismos nascem com um conjunto inato de reflexos, mas muitos deles são particulares a uma espécie” (p. 54)6. Por convenção, o estímulo incondicional é designado por US (do inglês, unconditional stimulus) e a resposta incondicional por UR (do inglês, unconditional response) (Benvenuti et al., 2007; Catania, 1999).

Os comportamentos respondentes selecionados na história evolutiva podem ocorrer em novas situações a depender da história individual do organismo, em um processo chamado de “condicionamento respondente”, “condicionamento clássico” ou

“condicionamento pavloviano”, em homenagem às descobertas do fisiólogo russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) (Benvenuti et al., 2007; Catania, 1999). Keller e Schoenfeld (1950/1974) descrevem a descoberta (acidental) do condicionamento respondente:

[Pavlov] descobriu que certos ácidos diluídos ou comida postos na boca de um cachorro faminto eram acompanhados logo de um fluxo de saliva produzida pelas glândulas apropriadas. Este é o reflexo salivar, que há muito se sabe existir em vários animais, inclusive no homem. Mas isto não é tudo. Pavlov observou, como outros antes dele, que o animal também salivava quando a comida ainda não lhe tinha chegado à boca: a comida vista ou a comida cheirada eliciava a mesma resposta. Além disso, o cachorro salivava quando do simples aparecimento do homem que habitualmente lhe trazia a comida. Para Pavlov, estas observações levantavam importantes problemas experimentais. Como acontecia que à simples vista da pessoa que o alimentava fosse bastante para provocar a secreção salivar?

6 Tradução livre. No original: All organisms are born with a built-in set of reflexes, but many are particular to a species.

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Certamente não se tratava de uma relação inata ou hereditária entre estímulo e resposta (...). Pelo contrário, parecia óbvio que o efeito desta estimulação pré- alimentar só pudesse ser entendido em termos da experiência individual do organismo. De algum modo, um estímulo antes ineficaz para a resposta salivar devia ter adquirido uma significação nova para o animal; devia ter chegado a constituir um sinal da aproximação da comida. Parecia também preparar o animal para a comida ao iniciar o processo digestivo (p. 31, itálicos no original).

De posse dessas observações, Pavlov desenvolveu um método experimental para estudar a construção de novas relações estímulo-resposta, nas quais novos eventos ambientais, anteriormente neutros, passam a eliciar respostas reflexas. Inicialmente, ele apresentava um US, pó de carne, que elicia uma UR, salivação e, depois, apresentava sistematicamente um som que precedia o US. Após sucessivas associações entre o som e o pó de carne, o som adquiriu a propriedade de estímulo e passou a eliciar a resposta de salivação. Esse processo comportamental, no qual pareamentos7 contingentes entre um evento neutro e um estímulo incondicional fazem com que esse evento se torne um estímulo eliciador, é designado de “condicionamento respondente” (Benvenuti et al., 2007; Moreria & Medeiros, 2007).

Nesse contexto, o termo “condicionamento” indica que a função eliciadora adquirida pelo novo estímulo depende de relações contingentes e sistemáticas entre um estímulo incondicional e um estímulo que, no início, não elicia a resposta, ou, em poucas palavras, significa que a nova relação estímulo-resposta é condicional a uma relação entre dois estímulos. Por convenção, o estímulo condicional é designado por CS (do inglês, conditional stimulus) e a resposta condicional de CR (do inglês, conditional response) (Benvenuti et al., 2007; Catania, 1999).

O estímulo condicional prepara o organismo para receber o estímulo incondicional, logo, as respostas condicional e incondicional podem ser, em alguns casos, distintas. No experimento de Pavlov, a resposta incondicional era aparentemente idêntica à resposta condicional, embora existam diferenças entre elas, a saber, a magnitude e a composição química da saliva (Benvenuti et al., 2007).

7 Embora os termos “associação” e “pareamento” sejam muito empregados na literatura, seu uso é inadequado para explicar o processo de condicionamento respondente, por duas razões. A primeira é que esses termos parecem indicar uma ação por parte do organismo e a segunda é que eles restringem a relação entre os estímulos à proximidade temporal ou espacial, pois a mera associação entre um estímulo incondicional e um evento ambiental neutro não é condição suficiente para que ocorra o condicionamento; para isso, é necessário que exista uma relação sistemática e contingente entre os estímulos.

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A sensibilidade ao condicionamento respondente foi selecionada na história evolutiva das espécies, na medida em que

o processo de condicionamento também tem valor de sobrevivência. Como o ambiente muda de geração para geração, mais o ambiente externo do que o ambiente interno, respostas reflexas apropriadas não podem se desenvolver sempre como mecanismos herdados. (...) Onde o comportamento herdado é insuficiente, a mutabilidade herdada do processo de condicionamento exerce seu papel. (Skinner, 1953/1965, p.55).8

É fundamental observar que os processos comportamentais designados sob o rótulo de “comportamentos respondentes” abarcam uma parcela mínima do repertório comportamental da maioria dos organismos, especialmente do ser humano. Nas palavras de Skinner (1953/1965):

(...) É verdade ainda que, se reunirmos todos os comportamentos que caem na categoria de simples reflexo, teremos apenas uma fração muito pequena do comportamento total do organismo. (...) A maior parte do comportamento do organismo intacto não está sob este tipo primitivo de controle de estímulo. O ambiente afeta o organismo de muitas formas que não são convenientemente classificadas como “estímulos”, e até mesmo no campo da estimulação apenas uma pequena parte das forças que agem sobre o organismo eliciam respostas da maneira invariável da ação reflexa. Ignorar completamente o princípio do reflexo, entretanto, seria igualmente despropositado (p. 49-50).9

Isto quer dizer que o comportamento respondente é apenas uma relação dentre as relações possíveis entre estímulos e respostas (Skinner, 1953/1965; Catania, 1999). Por conseguinte, o interesse de Skinner pelo comportamento respondente é restrito, na medida em que diz respeito apenas a algumas instâncias comportamentais de

8 Tradução livre. No original: The process of conditioning also has survival value. Since the environment changes from generation to generation, particularly the external rather than the internal environment, appropriate reflex responses cannot always develop as inherited mechanisms. (...) Where inherited behavior leaves off, the inherited modifiability of the process of conditioning takes over.

9 Tradução livre. No original: (...) It is still true that if we were to assemble all the behavior which falls into the pattern of the simple reflex, we should have only a very small fraction of the total behavior of the organism. (...) The greater part of the behavior of the intact organism is not under this primitive sort of stimulus control. The environment affects the organism in many ways which are not conveniently classed as “stimuli”, and even in the field of stimulation only a small part of the forces acting upon the organism elicit responses in the invariable manner of reflex action. To ignore the principle of the reflex entirely, however, would be equally unwarranted.

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cunho fisiológico. Com base nisso, cabe, aqui, explicitar a posição de Skinner acerca do papel que a fisiologia exerce na explicação do comportamento.

Inicialmente, é importante observar que Skinner e seus seguidores nunca supuseram que os processos comportamentais independem de processos fisiológicos, pois tal posicionamento envolveria um dualismo corpo-comportamento análogo ao dualismo mente-corpo, tão criticado pelo Behaviorismo Radical (Reese, 1996a).

Portanto,

(...) o analista do comportamento reconhece o substrato fisiológico do comportamento, mas sustenta que este substrato não precisa ser contemplado em sua explicação, pois é uma parte do organismo, cujas respostas podem ser explicadas a partir das relações com o ambiente externo (Tourinho, 1999, p. 111).

Skinner defende que a Análise do Comportamento é uma disciplina independente da neurofisiologia, mas aponta que a relação entre essas duas ciências é de complementaridade. Neste sentido, o autor assevera que as eventuais descobertas da neurofisiologia não invalidariam a proposta e a pertinência de uma ciência que tem por objeto o comportamento em si mesmo, isto é, uma ciência que se ocupa das relações entre respostas e estímulos (Skinner, 1938/1991; Skinner, 1953/1965; Tourinho, 1999).

Em seu primeiro livro, Skinner (1938/1991) afirma que

a própria noção de “correlato neurológico” implica (...) que há dois objetos de estudo independentes (comportamento e sistema nervoso) que devem possuir suas próprias técnicas e métodos e produzir seus respectivos dados. Nenhuma quantidade de informação sobre o segundo irá “explicar” o primeiro ou ordená-lo sem um tratamento analítico direto por parte de uma ciência do comportamento (p. 423).10

Em um texto publicado cinqüenta anos após o lançamento desse livro, Skinner (1989) se refere a este como uma “declaração de independência” em relação à fisiologia e define o Behaviorismo Radical como “a filosofia de uma ciência que trata do comportamento como objeto de estudo em si mesmo, à parte de explicações internas,

10 Tradução livre. No original: The very notion of a “neurological correlate” implies (…) that there are two independent subject matters (behavior and the nervous system) which must have their own techniques and methods and yield their own respective data. No amount of information about the second will “explain” the first or bring order into it without the direct analytical treatment represented by a science of behavior.

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mentais ou fisiológicas” (p. 122, itálicos no original)11. Skinner (1953/1965) afirma que a neurofisiologia não se explica sem se referir às interações do organismo com o ambiente que lhe é externo. Assim, quando concebe a possibilidade da fisiologia identificar as condições neurais imediatamente antecedentes a instâncias comportamentais, ele defende que

será descoberto, então, que estes eventos, por sua vez, são antecedidos por outros eventos neurológicos e estes por outros. Esta série nos levará de volta para os eventos fora do sistema nervoso e, finalmente, fora do organismo (Skinner, 1953/1965, p. 28).12

As declarações de Skinner evidenciam que a Análise do Comportamento e a neurofisiologia são disciplinas que possuem domínios diferenciados na investigação do comportamento. Reese (1996b) defende que as explicações fisiológicas não podem substituir as explicações comportamentais, mas apenas suplementar o conhecimento sobre o comportamento, na medida em que elas lidam com os fenômenos que ocorrem dentro do organismo enquanto ele se comporta. Neste sentido, Skinner (1938/1991, 1974/1976, 1987b/1989) afirma que o conteúdo neurofisiológico não pode ser ignorado no estudo do comportamento, mas pode ser deixado de lado nos programas de pesquisa da Análise do Comportamento, uma vez que esta ciência e a fisiologia se ocupam de um

“pedaço” diferente do fenômeno comportamental13 (Carvalho Neto, 1999).

Em suma, as variáveis biológicas (como os processos neurofisiológicos) são levadas em conta na filosofia do Behaviorismo Radical (vide o modelo de causalidade skinneriano), mas não participam da investigação empírica na ciência orientada por essa filosofia, a Análise do Comportamento (Carvalho Neto & Tourinho, 1999).

Nota-se, portanto, que os processos fisiológicos são, na ciência skinneriana, dispensáveis como parte da explicação, uma vez que as causas do comportamento devem ser buscadas no ambiente que é externo ao organismo que se comporta.

11 Tradução livre. No original: The philosophy of a science of behavior treated as a subject matter in its own right apart from internal explanations, mental or physiological.

12 Tradução livre. No original: These events in turn will be found to be preceded by other neurological events, and these in turn by others. This series will lead us back to events outside the nervous system and, eventually, outside the organism.

13 Esse posicionamento não é válido para as áreas que se ocupam da relação entre processos comportamentais e processos fisiológicos, como a psicofarmacologia e a psicofisiologia (Carvalho Neto, 1999; Reese, 1996a), na medida em que, nestes casos, os eventos fisiológicos não são entendidos como mecanismos causais, mas como respostas e estímulos privados, isto é, os eventos biológicos não são tratados como mediadores ou modulares do comportamento, mas são compreendidos como instâncias comportamentais que participam das relações funcionais em determinadas contingências (Barnes-Holmes, 2003).

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Entretanto, a relação respondente, considerada por Skinner como constituinte de seu sistema psicológico, é um tipo de relação comportamental constituída por eventos fisiológicos. Em suas palavras, “reflexos, condicionados ou não, referem-se principalmente à fisiologia interna do organismo” (Skinner, 1953/1965, p. 59)14.

Tendo em vista que o comportamento respondente é uma relação organismo-ambiente representativa de apenas uma pequena parcela do repertório comportamental possível de um indivíduo, perguntar-se-ia a relevância de um trabalho como este. O Behaviorismo Radical e a Análise do Comportamento estão embasados no pressuposto de que existem duas relações comportamentais distintas: o comportamento operante e o comportamento respondente15. Contudo, embora esses processos comportamentais sejam facilmente discerníveis no âmbito teórico, isso não é verdade na análise de qualquer situação concreta, seja ela experimental ou aplicada, na medida em que contingências operantes e respondentes atuam concomitantemente (Schwartz &

Robbins, 1995; Allan, 1998). Neste sentido, é essencial compreender como essas diferentes contingências interagem para produzir uma explicação satisfatória de qualquer comportamento. Dentre as relações comportamentais que envolvem interações operante-respondente, destacaremos uma classe de comportamentos complexos fundamental para o trabalho do psicólogo clínico: as emoções.

Inicialmente, é importante apontar a diferença entre sentimentos e emoções.

Os sentimentos são comportamentos respondentes (incondicionados ou condicionados) subprodutos das contingências de reforçamento, ou seja, são alterações nas condições corporais eliciadas por estímulos na interação do organismo com o ambiente, como mudanças no ritmo cardíaco, na pressão sanguínea e na freqüência respiratória. Desta forma, há uma correlação direta entre os diversos sentimentos e as diferentes contingências em vigor; logo, mudanças nestas contingências alteram aquilo que o indivíduo sente16. Com isto, podemos perceber que os sentimentos são fundamentais em uma intervenção psicológica embasada na Análise do Comportamento, uma vez que fornecem informações preciosas sobre as contingências às quais o indivíduo está

14 Tradução livre. No original: Reflexes, conditioned or otherwise, are mainly concerned with the internal physiology of the organism.

15 Para uma teorização diferente acerca dessa distinção, ver Donahoe & Palmer, 1994; Donahoe, Burgos

& Palmer, 1993; Donahoe, Palmer & Burgos, 1997.

16 A palavra “sentimento” é aqui empregada como tradução da palavra inglesa “feeling”, que, no sentido utilizado por Skinner, seria melhor traduzida por “reação” ou “sensação”. Em português, os termos

“sentimento” e “emoção” se confundem.

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submetido. Skinner (1987a/1989) declara que “como as pessoas se sentem é frequentemente tão importante quanto o que elas fazem” (p. 3)17.

As emoções são predisposições que alteram a probabilidade do indivíduo se comportar de determinada maneira em uma dada situação devido a conseqüências específicas em comum. Elas modificam o organismo como um todo e envolvem uma grande mudança de todo o seu repertório comportamental. Dizemos que alguém tem uma emoção quando está propenso a agir de uma determinada forma, contudo, essa disposição não pode ser entendida como a causa do comportamento, pois descreve apenas uma probabilidade. Nas palavras de Skinner (1953/1965):

Definimos uma emoção (...) como um estado particular de força ou fraqueza de uma ou mais respostas induzidas por qualquer uma dentre uma classe de operações (p.

166). (...) O homem “raivoso” mostra uma probabilidade aumentada de lutar, insultar ou de algum modo infligir danos e uma probabilidade diminuída de auxiliar, favorecer, confortar ou amar (p. 162).18

As relações respondentes fazem parte das emoções, mas não se reduzem a elas; por conseguinte, a identificação das alterações corporais pode ser importante para a caracterização das emoções (Skinner, 1953/1965; Darwich, 2005). Skinner (1953/1965) explica que

as respostas reflexas que acompanham muitos desses estados de força não devem ser completamente desprezadas. Elas podem não nos ajudar a refinar nossas distinções, mas adicionam detalhes característicos ao quadro final do efeito de uma dada circunstância emocional (p. 166).19

Em conclusão, é a relação entre o organismo e seu ambiente que produz os sentimentos e as emoções. Neste sentido, Skinner (1989) explica que “nós não choramos porque estamos tristes ou sentimos tristeza porque choramos, nós choramos e sentimos tristeza porque aconteceu alguma coisa” (p. 74, itálicos no original)20.

17 Tradução livre. No original: How people feel is often as important as what they do.

18 Tradução livre. No original: We define an emotion (...) as a particular state of strength or weakness in one or more responses induced by any one of a class of operations. (...) The “angry” man shows an increased probability of striking, insulting, or otherwise inflicting injury and a lowered probability of aiding, favoring, comforting, or making love.

19 Tradução livre. No original: The reflex responses which accompany many of these states of strength are not to be completely disregarded. They may not help us to refine our distinctions, but they add characteristic details to the final picture of the effect of a given emotional circumstance.

20 Tradução livre. No original: We do not cry because we are sad or feel sad because we cry, we cry and feel sad because something has happened.

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Skinner (1953/1965) designa essa mudança completa do organismo, na qual as condições corporais são modificadas e todo o repertório comportamental operante tem sua probabilidade alterada, de “emoção total”. Um caso ilustrativo de uma “emoção total” é o modelo da supressão condicionada.

Em um trabalho clássico, Estes & Skinner (1941) demonstraram os efeitos da supressão condicionada, um modelo experimental representativo da ansiedade.

Inicialmente, respostas de pressão a barra de ratos privados de alimento eram reforçadas com pelotas de comida em esquema de intervalo variável (VI) 4 minutos21. Quando a taxa de respostas estava estabilizada, um tom era apresentado por um período de 3 minutos e, no momento em que este terminava, um choque inescapável era apresentado ao sujeito através do assoalho da caixa experimental. Após a sucessiva repetição do pareamento do tom com o choque, a taxa de respostas de pressão a barra durante o período de apresentação do tom diminuiu em cerca de 70% em comparação com a taxa de respostas no mesmo período antes da associação som-choque. Note que a relação entre o tom e o choque pode ser descrita como um procedimento de condicionamento respondente: o tom é o CS que contingente e sistematicamente acompanha o US choque. O modelo da supressão condicionada é um exemplo prototípico da influência do comportamento respondente no comportamento operante e evidencia a importância de compreendermos como as contingências respondentes afetam as operantes, especialmente na prática da psicologia clínica (Blackman, 1977; Schwartz & Robbins, 1995).

Com base na definição de comportamento respondente e na postura epistemológica de que a Análise do Comportamento deve prescindir de explicações fisiológicas, por um lado, e a relevância do paradigma respondente e da fisiologia para a compreensão do comportamento humano, por outro, a questão que a presente pesquisa coloca é: todo fenômeno fisiológico pode ser caracterizado como um comportamento respondente? Por exemplo, Catania (1999) explica que as reações do sistema imunológico “podem ser consideradas como instâncias de comportamento eliciado” (p.

71) e que “a liberação de insulina pelo pâncreas é uma UR [resposta incondicional]

produzida pelo US [estímulo incondicional] açúcar no intestino” (p. 213). Esses

21 Esse esquema de reforçamento especifica que o estímulo reforçador será liberado após a emissão da primeira resposta que ocorrer após um intervalo temporal que varia a cada reforçamento (Catania, 1999).

O esquema de reforçamento de intervalo variável costuma ser empregado nos experimentos de supressão condicionada porque mantém uma taxa de respostas constante que permite o experimentador observar e medir facilmente os efeitos da sobreposição de contingências respondentes nas contingências operantes.

Além disso, nesse esquema os efeitos supressivos do CS não afetam consideravelmente a freqüência de reforçadores obtidos (Blackman, 1977).

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exemplos demonstram a extensão do uso do paradigma do comportamento respondente na Análise do Comportamento para explicar fenômenos fisiológicos.

Em vista disso, este trabalho tem como objetivo determinar se é possível demarcar alguma fronteira entre o comportamento respondente e os processos fisiológicos. Em outras palavras, a questão que esta pesquisa coloca é: é possível descrever todo fenômeno fisiológico como uma relação na qual um estímulo elicia uma resposta e, portanto, ser classificado como um comportamento respondente ou existe algum critério que impossibilite tal descrição?

A resposta para essa pergunta tem importantes implicações teóricas e aplicadas. No âmbito teórico, considerar todo fenômeno fisiológico como um fenômeno comportamental (uma relação respondente) nos levaria a afirmar que a fisiologia deve ser objeto de estudo da Análise do Comportamento. No âmbito aplicado, em especial na prática clínica, um melhor entendimento do comportamento respondente e seu papel no comportamento operante é fundamental para apontar as intervenções que o terapeuta deve realizar em inúmeras situações.

Em suma, esta pesquisa tem como objetivo identificar na obra de B. F.

Skinner a maneira pela qual o comportamento respondente é teorizado e, com base nisso, determinar se é possível caracterizar todo fenômeno fisiológico como um comportamento respondente.

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MÉTODO

Material

Foi utilizado um laptop Hewlett-Packard modelo Pavilion dv2610us com sistema operacional Windows Vista Home Premium e acesso à internet e um scanner Hewlett-Packard modelo PSC750. O software Microsoft Word versão 2007 foi utilizado para organização e análise dos dados.

Procedimento

Fase 1: seleção dos textos

A seleção dos textos analisados ocorreu através de diversas fontes.

A primeira fonte consistiu nos trabalhos de Catania & Harnad (1988), Carrara (1992), Epstein (1995) e Andery, Sério & Micheletto (2004), que organizam e apresentam de forma cronológica toda a obra de Skinner. De posse dessa lista, foi possível selecionar parte dos artigos e livros do autor que tratam do comportamento respondente. A seleção envolveu as seguintes estratégias: a) inclusão por leitura prévia:

textos de Skinner estudados anteriormente para outros fins que continham informações acerca do comportamento respondente foram incluídos; b) inclusão por leitura de título e resumo: textos cujos títulos e resumos sugeriam um tratamento sobre o comportamento respondente foram incluídos. Quando a leitura do título e/ou do resumo deixou dúvidas quanto à possibilidade de tal tratamento, o texto foi incluído na seleção.

A segunda fonte utilizada para a seleção dos textos foram índices que listam os termos empregados por Skinner em alguns de seus livros e suas respectivas localizações. Foram utilizados Epstein & Olson (1983, 1984, 1985), Epstein & Rogers (2000) e Knapp (1974, 1975). Os índices dos próprios livros de Skinner, quando existentes, também foram consultados.

A terceira fonte para a seleção dos textos foi uma consulta (pessoal ou via e- mail) com especialistas em Behaviorismo Radical. Estes foram questionados sobre quais artigos e livros de Skinner seriam relevantes para esta pesquisa22. Todos os textos indicados foram incluídos na seleção.

22 Agradeço ao Prof. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho, ao Prof. Dr. João Cláudio Todorov, ao Prof. Dr.

Kester Carrara, ao Prof. Dr. Luiz Guilherme Gomes Cardim Guerra, ao Prof. Dr. José Antônio Damásio Abib, ao Prof. Dr. Julio Cesar Coelho de Rose, ao Prof. Dr. Marcelo Frota Benvenuti, ao Prof. Ms.

Márcio Borges Moreira, ao Prof. Dr. Marcus Bentes de Carvalho Neto, à Profa. Dra. Maria Teresa de Araujo Silva, à Profa. Dra. Nilza Micheletto, ao Prof. Dr. Olavo de Faria Galvão, ao Prof. Dr. Sergio Vasconcelos de Luna e à Profa. Dra. Tereza Maria de Azevedo Pires Sério pelo auxílio na seleção dos textos de Skinner pertinentes ao tema aqui investigado e pelos relevantes comentários.

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Além disso, a leitura da tese de doutorado de Sério (1990), que analisa a transição do conceito de reflexo para o conceito de operante na obra de Skinner, deu origem à seguinte atitude metodológica: todos os artigos publicados pelo autor de 1931 a 1937 foram excluídos pelo fato de neles não haver uma diferenciação clara entre o comportamento operante e o respondente. Para abranger essa parte de sua produção, foi incluído na seleção o livro The Behavior of Organisms (Skinner, 1938/1991), pois neste Skinner reapresenta os resultados experimentais e considerações teóricas do período 1931-1937.

Fase 2: leitura dos textos e seleção dos trechos a serem analisados

O procedimento realizado na Fase 1 possibilitou identificar 22 textos nos quais Skinner discorre sobre o comportamento respondente. A lista dos textos selecionados é apresentada no Anexo I.

Eles foram lidos obedecendo à seqüência cronológica de suas publicações.

A leitura teve como objetivo identificar e destacar os trechos que fazem referência ao comportamento respondente e, ao mesmo tempo, acompanhar o percurso histórico das formulações de Skinner acerca dessa temática, embora tenha sido notado, posteriormente, que não há diferenças teóricas relevantes ao longo de sua obra.

Os trechos selecionados para análise foram digitados ou escaneados quando presentes em material impresso ou copiados diretamente para um arquivo do Microsoft Word quando presentes em material digital.

Fase 3: organização dos dados

Categorias de análise foram construídas a partir da releitura dos trechos selecionados. São elas:

a) Definição positiva do comportamento respondente: esta categoria abarca os trechos em que Skinner define o comportamento respondente;

b) Definição negativa do comportamento respondente: esta categoria envolve as seleções em que Skinner discute definições e propriedades atribuídas ao comportamento respondente às quais ele nega como constituintes de sua proposta;

c) Paralelo direto entre o comportamento respondente e a fisiologia: esta categoria contém os excertos em que o autor vincula o comportamento respondente à fisiologia do organismo;

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d) Estruturas corporais responsáveis pelo respondente: esta categoria encerra os trechos em que Skinner atribui o comportamento respondente à determinadas estruturas corporais, tais como músculos lisos e glândulas;

e) Limites da relação respondente na explicação do comportamento: esta categoria engloba os trechos em que autor afirma que o comportamento respondente se refere a uma pequena parte do repertório comportamental dos organismos, cujo paradigma não deve ser estendido para a explicação do comportamento em geral;

f) Leis do comportamento respondente: esta categoria compreende as seleções em que Skinner explica as leis a que o comportamento respondente está sujeito;

g) Processo de condicionamento respondente: esta categoria abarca as considerações que Skinner tece acerca do condicionamento respondente;

h) Exemplos de comportamento e condicionamento respondente: esta categoria inclui todos os exemplos que o autor provê de comportamento e condicionamento respondente, como a resposta de salivação na presença de suco de limão.

Os trechos selecionados e categorizados conforme os critérios acima são apresentados no Anexo II.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta pesquisa teve como objetivo identificar na obra de B. F. Skinner a maneira pela qual o comportamento respondente é teorizado e determinar se é possível compreender todo fenômeno fisiológico como um comportamento respondente. Em outras palavras, este trabalho teve como problema de pesquisa determinar se os eventos fisiológicos podem ser descritos como relações estímulo-resposta ou se existe algum critério que possibilite demarcar uma fronteira entre o comportamento respondente e a fisiologia.

Os resultados e discussão serão apresentados de acordo com as categorias de análise apresentadas na seção de método, com exceção para a categoria “exemplos de comportamento e condicionamento respondente”. Os exemplos que Skinner provê foram interpostos ao longo da análise com o intento de elucidar a forma pela qual o autor concebe o comportamento respondente e, assim, explicitar sua relação com a fisiologia.

Definição positiva do comportamento respondente

Skinner (1938/1991, 1953/1965, 1957/1972, 1971/2002) define o comportamento respondente como uma relação fidedigna na qual um estímulo específico produz seguramente uma resposta específica, ou seja, como uma relação comportamental em que a resposta é determinada apenas por um evento ambiental antecedente. Nas palavras do autor:

O ambiente entra na descrição do comportamento quando pode ser demonstrado que uma parte do comportamento pode ser induzida à vontade (ou de acordo com certas leis) por uma modificação em parte das forças que afetam o organismo. Tal parte, ou modificação de uma parte, do ambiente é tradicionalmente chamada de estímulo e a parte correlacionada do comportamento de resposta. Nenhum dos dois termos pode ser definido em suas propriedades essenciais sem o outro. Para a relação observada entre eles eu usarei o termo reflexo (Skinner, 1938/1991, p. 9, itálicos no original).23

23 Tradução livre. No original: The environment enters into a description of behavior when it can be shown that a given part of behavior may be induced at will (or according to certain laws) by a modification in part of the forces affecting the organism. Such a part, or modification of a part, of the environment is traditionally called a stimulus and the correlated part of the behavior a response. Neither term may be defined as to its essential properties without the other. For the observed relation between them I shall use the term reflex.

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A definição de comportamento respondente como uma relação em que um estímulo elicia uma resposta poderia ser aplicada na descrição de eventos fisiológicos?

A literatura da ciência da Fisiologia utiliza os termos “estímulo” e “resposta” na explicação de inúmeros processos fisiológicos, o que pode ser observado nos principais livros-texto de fisiologia humana, como em Tortora & Grabowski (2004/2006) e Guyton & Hall (2006). Neste sentido, a fisiologia de um organismo poderia ser descrita através de relações estímulo-resposta, sejam as instâncias comportamentais públicas ou privadas, abertas ou encobertas. Isto quer dizer que é possível conceber quatro relações respondentes, sendo que todas elas possuem correlatos no funcionamento fisiológico.

São elas: a) estímulo público elicia resposta aberta; b) estímulo público elicia resposta encoberta; c) estímulo privado elicia resposta aberta; d) estímulo privado elicia resposta encoberta.

Uma propriedade básica dos organismos, a homeostase, é um exemplo de como a fisiologia poderia ser descrita através de relações respondentes. A homeostase é uma propriedade dos organismos de regulação do ambiente interno de modo a manter os órgãos e sistemas em condição relativamente estável, mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico controlados por mecanismos de regulação inter-relacionados (Tortora & Grabowski, 2004/2006; Guyton, 1984/1988). Tortora & Grabowski (2004/2006) explicam que

a homeostase é mantida por meio de muitos sistemas de retroalimentação. Um sistema de retroalimentação ou alça de retroalimentação é um ciclo de eventos, no qual o status de uma condição corporal é continuamente monitorizado, avaliado, alterado, remonitorizado, reavaliado, e assim por diante. Cada condição monitorizada, como a temperatura corporal, a pressão sanguínea ou o nível sanguíneo de glicose, é denominada condição controlada. Qualquer ruptura que provoque uma mudança em uma condição controlada é chamada de estímulo.

Alguns estímulos provêm do ambiente externo (fora do corpo), tais como o calor intenso ou a falta de oxigênio. Outros se originam no ambiente interno (dentro do corpo), como, por exemplo, um nível sanguíneo de glicose que seja muito baixo. (...) Na maioria dos casos, a ruptura da homeostase é leve e temporária, e as respostas das células do corpo restauram rapidamente o equilíbrio no ambiente interno (p. 7, negritos e itálicos no original).

Posto de forma simplificada, a regulação homeostática é uma constante e complexa rede de relações entre estímulos e respostas, em que determinadas alterações corporais têm função de estímulos na eliciação de respostas alteradoras da condição

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controlada. Na regulação química, por exemplo, uma forte concentração de açúcar no sangue é uma alteração corporal que produz a liberação de insulina pelo pâncreas; na terminologia do comportamento respondente, o açúcar no sangue é um estímulo que elicia a resposta de liberação de insulina. Em poucas palavras, a relação “açúcar no sangue–liberação de insulina” pode ser compreendida como um comportamento respondente.

Com base no que foi apresentado acima, o paradigma do comportamento respondente, conforme definido por Skinner (1938/1991, 1953/1965, 1957/1972, 1971/2002), poderia ser utilizado na descrição de processos fisiológicos. Embora isso seja uma interpretação, é importante observar que o próprio Skinner refere algumas funções orgânicas como comportamentos respondentes:

Um tipo de liberdade é alcançado pelas formas relativamente simples de comportamento chamadas reflexos. Uma pessoa espirra e liberta suas passagens respiratórias de substâncias irritantes. Ele vomita e liberta seu estômago de alimento indigesto ou venenoso (Skinner, 1971/2002, p. 26). 24

Este trecho demonstra que Skinner trata explicitamente de eventos fisiológicos como comportamentos respondentes. Uma substância irritante é um estímulo que elicia a resposta de espirrar (fenômeno do sistema respiratório) e alimento nocivo é um estímulo que elicia a resposta de vomitar (fenômeno do sistema digestório).

Desta forma, uma questão que se coloca é: se Skinner emprega o paradigma de comportamento respondente para descrever atividades vitais dos sistemas respiratório e digestório, existe algum critério que impossibilite a descrição de todo e qualquer evento fisiológico como um comportamento respondente? A definição de comportamento respondente como relação estímulo-resposta não provê nenhum.

Definição negativa do comportamento respondente

Skinner (1938/1991, 1953/1965) explica que a observação de relações estímulo-resposta originou ao longo da história tentativas de definir o comportamento respondente como uma ação inata, inconsciente e involuntária. Segundo o autor, a atribuição dessas propriedades ao comportamento respondente extrapola os dados empíricos e são irrelevantes para a sua compreensão. Em suas palavras:

24 Tradução livre. No original: A kind of freedom is achieved by the relatively simple forms of behavior called reflexes. A person sneezes and frees his respiratory passages from irritating substances. He vomits and frees his stomach from indigestible or poisonous food.

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No início da história do reflexo, um esforço foi feito para distinguir os reflexos do resto do comportamento do organismo. Uma diferença freqüentemente apontada era a de que o reflexo era inato, mas o princípio do condicionamento tornou essa distinção desimportante. Afirmou-se também que os reflexos eram diferentes por serem inconscientes. Isso não queria dizer que o indivíduo não pudesse descrever seu próprio comportamento reflexo, mas que o comportamento ocorria quer ele pudesse ou não. (...) Esta também não é mais uma diferença considerada válida;

comportamentos que claramente não são reflexos podem ocorrer sob essas circunstâncias. Uma terceira distinção clássica sustentava que os reflexos não eram apenas inatos e inconscientes, mas “involuntários”. Eles não dependiam da

“vontade”. A evidência não era tanto a de que os reflexos não dependiam da vontade, mas sim a de que não se podia impedi-los pela vontade. Certa parte do comportamento do organismo não pode, por assim dizer, ser evitada (Skinner, 1953/1965, p. 111, itálicos no original).25

Os argumentos de Skinner apresentados na citação acima serão analisados tendo em vista a hipótese de que eventos fisiológicos e comportamentos respondentes possam ser os mesmos processos.

Inicialmente, Skinner critica a definição de comportamento respondente como uma característica inata, uma vez que os reflexos podem passar a ser eliciados na presença de outros estímulos a depender de uma história de aprendizagem. O mesmo raciocínio se aplica para os fenômenos fisiológicos. Por um lado, as características anatomofisiológicas do organismo fundam-se no primeiro nível de seleção por conseqüências, isto é, são filogenéticas e inatas (Skinner, 1981/1987). Por outro lado, o funcionamento fisiológico do organismo está em constante transformação na interação do indivíduo com o ambiente (Tortora & Grabowski, 2004/2006) e é também passível de condicionamento. Por exemplo, a cocaína tem função de estímulo incondicional (US) na eliciação de respostas incondicionais (URs), seus efeitos no organismo. Entre esses efeitos encontram-se respostas compensatórias, pois, diante do distúrbio fisiológico produzido pela droga, o organismo reage com processos regulatórios, opostos aos iniciais, que visam restabelecer o equilíbrio fisiológico anterior. Embora a droga atue

25 Tradução livre. No original: In the early history of the reflex, an effort was made to distinguish between reflexes and the rest of the behavior of the organism. One difference frequently urged was that a reflex was innate, but the principle of conditioning made such a distinction trivial. It was also said that reflexes were different because they were unconscious. This did not mean that the individual could not report upon his own reflex behavior, but that the behavior made its appearance whether he could do so or not.

(…) This too is no longer considered a valid difference; behavior which is clearly not reflex may occur under such circumstances. A third classical distinction held that reflexes were not only innate and unconscious, but “involuntary”. They were not “willed”. The evidence was not so much that they could not be willed as that they could not be willed against. A certain part of the behavior of the organism cannot, so to speak, be helped.

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como um estímulo incondicional, o ambiente, ao preceder sistematicamente a presença da substância no organismo, exerce função de estímulo condicional (CS) e passa a eliciar os processos regulatórios eliciados pela ação da droga (Benvenuti, 2007; Poling, Byrne & Morgan, 2000), o que foi demonstrado em diversos trabalhos experimentais (por exemplo, Siegel, 1975; Lê, Poulos & Cappel, 1979; Siegel, Hinson, Krank &

McCully, 1982).

Posteriormente, Skinner explica que o comportamento respondente pode ser inconsciente, no sentido de que pode ocorrer independentemente do indivíduo ser ou não capaz de descrevê-lo, mas defende que essa propriedade é insuficiente para defini- lo, pois comportamentos que não são reflexos também podem ocorrer sem que o indivíduo tenha consciência deles. Esse argumento também é válido para os fenômenos fisiológicos, na medida em que estes ocorrem ininterruptamente a despeito da possibilidade de sua descrição por parte do indivíduo. Alguns eventos fisiológicos parecem ser impossíveis de serem percebidos, como a cascata de respostas imunológicas eliciada pela presença de um agente patogênico, enquanto outros parecem ser facilmente descritos, como a abrupta aceleração do batimento cardíaco eliciada por um estímulo ansiógeno.

Por fim, Skinner aponta que os comportamentos respondentes são inevitáveis. Semelhantemente, os fenômenos fisiológicos independem de qualquer atividade voluntária, seja para serem emitidos, seja para serem evitados. Em um organismo vivo, processos como metabolismo, responsividade e diferenciação celular ocorrem a despeito de qualquer “vontade” do indivíduo (Tortora & Grabowski, 2004/2006).

Em suma, todas as considerações que Skinner tece acerca dos problemas em caracterizar o comportamento respondente como inato, inconsciente e involuntário se mantêm válidas quando fisiologia e comportamento respondente são tratados como o mesmo processo.

Paralelo direto entre o comportamento respondente e a fisiologia

Em diversos momentos de sua obra, Skinner (1938/1991, 1953/1965, 1957/1972, 1974/1976) estabelece um paralelo direto entre o comportamento respondente e a fisiologia. Segundo o autor,

Referências

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