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Por uma estética da cura analítica1

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Academic year: 2021

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Alain B adiou2

Tradução: A nalucia Teixeira Ribeiro

R E S U M O :

O autor estabelece um paralelo entre certas operações poéticas e o destino de um a análise, a partir do conceito de transposição, na obra de M allarm é. T rata-se da passagem de um estado de im p o tên cia a urna experiência do real e, portanto, a uma experiência do im possível. Essa passagem da im potência ao im possível constitui, na língua, uma vitória sobre o desaparecim ento, já que o poema, criação afirm ativa, im plica a anulação do sujeito da im potência. A análise tam bém criaria algo de eterno, com o o poema, perm itindo então essa hipótese de que um a análise bem sucedida seria uma obra de arte inteiram ente subjetiva.

R E S U M E N :

El autor establece un paralelo entre ciertas operaciones poéticas y el destino de un análisis, a partir del concepto de transposición, en la obra de M allarm é. Se trata del pasaje de un estado de im potencia a una experiencia del real y, por lo tanto, a una experiencia de lo im posible. Este pasaje de la im potencia a lo im posible constituye, en la lengua, una victoria sobre el desaparecim iento, ya que el poema, creación afirmativa, im plica la anulación del sujeto de la im potencia. El análisis tam bién crearía algo de eterno, com o el poem a, perm itiendo entonces esta hipótesis de que un análisis bien sucedido sería una obra de arte enteram ente subjetiva.

E u g o sta ria de m o stra r que certas o p erações p o éticas são fo rm a lm e n te idênticas a o perações da cura analítica e que, po r conseguinte, pode-se falar de um a estética d a análise. M eu m odelo será a p oética de M allarm é e o conceito central d e s sa p o é tic a é o c o n c e ito de ‘tra n s p o s iç ã o ’. E u g o sta ria de m o stra r q u e a transposição de M allarm é é form alm ente sem elhante ao destino de u m a análise: é este o objetivo de m inha dem onstração, esperando que seja um a dem onstração.

L acan d efine a análise de m odo m uito preciso: a análise deve elev ar a im potência ao im possível, a cura analítica é a passagem de um estado de im potência a um a experiên cia do real e, portanto, a um a ex periência do im possível. O que me interessa é essa passagem da im potência ao im possível. Eu gostaria de m ostrar que a transposição p o ética é tam bém u m a p assagem da im po tên cia ao im possível, um a passagem , na língua. E gostaria de m ostrar que a transposição poética faz a passagem

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238 A psicanálise e os discursos

de um a im po tên cia da língua a um a experiência do im possível, na língua. Vocês sabem que L acan diz tam bém que a passagem da im potência ao im possível é urna fo rm alização . Eu p rete n d o m o strar que a transposição p o ética ta m b ém é urna form alização.

M allarm é falou m uito da im potência do poeta e o ponto de partida é a constatação de u m a im potência, o que ele cham a m uitas vezes de ‘d esastre’, outras de ‘nad a’, ou aínda de ‘suicidio’, e que tem nele um a série de sím bolos fundam entais, dentre os quais os dois m ais im portantes são o túm ulo e o naufrágio. E po r vezes, tam bém , o pór-do-sol, interpretado com o a m orte do sol.

Portanto, de inicio, tem os um a im potência - um desastre, um m al-estar - e é isso que o p o em a deve superar, através de operações particu lares. A p rim e ira constatação de M allarm é que nos interessa é que a causa da im potência é um a perda, ou um desaparecim ento. N o fundo, M allarm é nos diz que a im potência de um sujeito é sem pre o desaparecim ento de um objeto e a lógica do trabalho poético é a lógica desse desaparecim ento. P ara transform ar a im potência, acim a de tudo, não se deve dar consolação. Pode-se cham ar de rom ântica a poesia da consolação e talvez se possa cham ar de rom ântica a psicologia da consolação. C om o vocês sabem, a psicanálise não consola ninguém . E o p oem a de M allarm é tam bém não consola da im potência, ele vai ocupar-se do desaparecim ento do objeto. U m d esaparecim ento que ele vai exam inar, inicialm ente, no elem ento da língua. E, dentro da língua, vai tentar organizar um a vitória sobre o desaparecim ento. N o fundo, a idéia de M allarm é é que todo pensam ento é um a vitória sobre a m orte e que o p oem a não é um consolo, m as a chance de um a vitória.

E u pensó que o m esm o acontece com a análise. A análise não é nem um a consolação, nem propriam ente um a ‘cura’, no sentido banal de recuperação da saúde: pode-se d izer que ela é um a vitória sobre o desaparecim ento. E, com M allarm é, vam os v er o que p o d e ser um a vitória.

E ssa v itória não é necessária, ela é, ao m esm o tem po, um a aposta e um trabalho. C om o diz M allarm é, ela é un coup de dés - “ um lance de d ad o s” . C om o na análise, existe aí um elem ento de acaso. M allarm é diz que todo pensam ento jo g a dados e que a vitória sobre o desaparecim ento exige esse acaso. P or conseguinte, não estam os aí num pensam ento dialético, no sentido de H egel, não tem os um a necessidade da negação do desaparecim ento, ou um a necessidade da negação da negação. Tem os a p ossibilidade de um a vitória, m as um a p ossibilidade que integra o acaso e a contingência. Insisto no fato de que, para M allarm é, a po esia não é um a redenção ou um a salvação. E a análise tam bém não é um a redenção.

G ostaria de m encionar, de passagem , o livro de Leo B ersani que se cham a

The culture o f redem ption3, porque esse livro acusaria a psicanálise, em parte, de

ser um a operação de redenção. Ora, estou convencido de que nem a poesia de M allarm é, nem a cura analítica são operações de redenção. E por que não são operações de redenção? P orque o desaparecim ento é absoluto. Tanto para M allarm é, com o para a análise, não h averá o retorno daquilo que desapareceu, não haverá a redenção da perda. H averá um a operação diferente, que construirá um a vitória sobre a perda, m as não o retorno daquilo que está perdido. E é p o r isso que não é nem um a consolação, nem um a redenção.

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A final, o p roblem a para M allarm é é m uito claro. E m prim eiro lugar, todo p e n s a m e n to é um a v itó ria so b re o d e sa p a re c im e n to e, em se g u n d o lugar, o desaparecim ento é, no entanto, absoluto. C om o conseguir um a v itória sobre um desaparecim ento absoluto? P ara M allarm é, é esse o problem a do poem a e é tam bém , creio eu, o p ro b lem a form al da análise: o problem a de fazer surgir o im possível no lugar onde havia a im potencia. E a solução desse problem a que M allarm é cham a de ‘tran sp o siçã o ’, e é esse conceito que eu gostaria de esclarecer a seguir.

P ara entendê-lo bem , é preciso notar três coisas: contra a im potência, para conseguir um a vitória, o pensam ento exige um encontro fortuito ou um acaso. Se não fosse assim , vocês teriam aí um a dialética, vocês teriam u m a transform ação do d esaparecim ento em afirm ação. M as se vocês não tiverem isso, se não tiverem redenção, será preciso que algo aconteça, que haja um evento, um encontro fortuito, um acaso. P ortanto, e este é o prim eiro ponto, há um a função da contingência.

E m segundo lugar, um encontro fortuito, um evento, um acaso tam bém é algo que desaparece, não é algo que seja instalado ou necessário. A ssim , vocês vão tratar o desaparecim ento através de um outro desaparecim ento. E vão reconhecer aí alg o de se m e lh a n te à p o siç ã o do an a lista, que d ev e d e s a p a re c e r onde algo desapareceu. Há, no poem a de M allarm é, a organização de um desaparecim ento, na língua, para con seg u ir a vitória sobre o desaparecim ento inicial. C om o vocês vêem , não é a afirm ação que trata o desaparecim ento, é antes u m a espécie de d esaparecim ento segundo. E o poem a é o lugar desse d esaparecim ento segundo, na língua, com o tam bém a análise é o teatro de um desaparecim ento segundo. N esse sentido, é verdade que o analista é o poeta da análise, no sentido de ser ele o o rganizador desse desaparecim ento.

T erceira observação: o resultado, contudo, é um a criação afirm ativa. O resultado não é um desaparecim ento. Vocês tratam a perda do objeto através do desaparecim ento segundo, na análise, m as algo se afirm a no final. Se nada se afirmar, não h av erá vitória, o que significa que a im potência superou o real.

F inalm ente, tem os assim a passagem do desaparecim ento à afirm ação, por interm édio do desaparecim ento segundo. É exatam ente essa operação que M allarm é c h a m a de ‘tr a n s p o s iç ã o ’. A tra n sp o s iç ã o , co m o o p e ra ç ã o p o é tic a , p a rte da im potência, cuja causa é um desaparecim ento ou um a perda, organiza no poem a um d e s a p a re c im e n to se g u n d o (p o d e r-se -ia d iz e r q u ase um d e s a p a re c im e n to m im ético) e produz, finalm ente, u m a afirm ação, que é u m a afirm ação real e a afirm ação de um ponto de im possível. E nessa profundidade que há um a sem elhança entre o p o em a de M allarm é e a cura analítica.

G ostaria de fazer cinco observações sobre a transposição:

1. O resultado final da transposição, aquilo que é criado pela transposição e que M a lla rm é ch a m a de notion pure. A ‘noção p u ra ’ vem no lugar onde algo desapareceu. M allarm é diz: la notion d ’un objet qui fa it défaut - “a noção de um objeto que falta” . N o fundo, a noção pura de M allarm é é o real daquilo que foi perdido. N ão é o objeto, pois o objeto falta, m as é o real do objeto perdido. E M allarm é vai d istinguir o real da perda daquilo que é perdido na perda. E sta é a prim e ira observação sobre a transposição, é o objetivo da transposição: ela é, verdadeiram ente, a ex periência do real.

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240 A psicanálise e os discursos

2. E ssa operação não tem nenhum a possibilidade natural. E la não pode ser um a operação natural ou espontânea. M allarm é escreve: la nature a lieu, on n 'y

ajoutera p a s - "a n atureza se dá, não se acrescentará nada a ela” . N ão se pode criar

o que quer que seja, de m odo natural. É preciso um a situação artificial. Só se pode obter um a v itória sobre a perda dentro de condições artificiais. C om preendem os assim por que a situação da cura analítica é, efetivam ente, um a situação artificial, tão artificial quanto um poem a. E isso não é um a falha, m as u m a necessidade.

C reio que podem os cham ar de psicologia a idéia de que há u m a reparação natural da perda. E creio que podem os cham ar de psicanálise a idéia de que toda vitória sobre a p erd a supõe a construção de um a situação artificial. E é tam bém por isso que há um a estética da cura analítica, com o há um a estética do soneto, porque conseguir um a v itória sobre a perda exige a criação de um a form a. E sta é a m inha segunda observação.

3. A transposição é um a lógica. Essa situação é artificial, m as ela é trabalhada por um a lógica. M allarm é diz: les m otifs qui com posent une logique - “os m otivos que com põem um a lógica” . E nesse sentido, com o Lacan, ele reconhece que a transposição é um a form alização. Portanto, a situação é não-natural e, no sentido forte, é u m a situação form al.

4. E ssa lógica elim ina qualquer idéia do ‘indizível’. Tam bém aí, creio que se po ssa cham ar de ‘terap ia' a idéia de que o torm ento do sujeito seja ‘in d iz ív e l’ e de que seria preciso encontrar esse ‘im possível de ser d ito ’. A idéia de M allarm é é que o poem a ‘p o d e ’ dizer o que tem a dizer. E aquilo que o p oem a não pode dizer não é ‘indizível’, mas sim o real do dizer. E um erro, para M allarm é, cham ar de ‘indizível’ aquilo que é o real do dizer. E sta é, no fundo, um a idéia obscurantista. H á um real do dizer, não há ‘indizível’. Eu cito M allarm é: Là-bas, où que ce soit, nier l'indicible

qui m ent - “Lá, onde quer que seja, negar o indizível que m ente” . O indizível é,

portanto, m entira. E a verdade é o real do dizer, que a lógica do poem a pode produzir. A qui tam bém , gostaria de mencionar, rapidam ente, um a afirm ação de Leo B ersani, num com entário que ele faz sobre a passagem sobre C irce, no U lisses de Joyce, sem pre no livro The culture o f redem ption. Leo B ersani afirm a aí que “a linguagem não pode representar o desejo” . Ora, essa tese supõe que haja indizível e ela é contrária tanto a M allarm é quanto a L acan, porque a lógica da análise, com o a do p o em a constitui a possibilidade da experiência do encontro do real do dizer.

Pode-se dizer tam bém que M allarm é pensa que a transposição é um a vitória sobre a perda, sem que seja necessário ir buscar o indizível e que L acan p ensa que, do real, pode h av e r m aterna. N os dois casos, a operação lógica pode elevar a im potência ao im possível.

5. Para M allarm é, a transposição, que é um a lógica artificial, elim ina qualquer subjetividade. E ste ponto é m uito im pressionante e parece encerrar m eu paralelo entre o poem a e a análise. P ara M allarm é, a operação poética é, afinal, um a operação anônim a. E le escreve: l ’œ uvre p u re im plique la disparition du p o ète - “a obra pura im plica o desaparecim ento do poeta” . M as sabem os tam bém que há desaparecim ento do sujeito na experiência do real. Ou, m ais precisam ente, há um d esvanecim ento de seu ser. M allarm é tinha a m esm a idéia. O que desaparece, no final do poem a, é o sujeito da im potência, e o sujeito da im potência não é o sujeito do real. E m últim a

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análise, o que M allarm é propõe é a seguinte idéia: o p oem a faz advir um sujeito que, naturalm ente, não é o eu im aginário do poeta, não é o Sr. M allarm é, não é o sujeito da im potência, m as é o q ue poderíam os cham ar de ‘sujeito p u ro ’ do poem a, isto é, o sujeito tal com o o poem a o faz advir.

São estas as cinco observações que eu queria fazer sobre a transposição. E vocês podem ver que elas term inam com a idéia de que a análise, se ela se assem elhar ao poem a, é p o rq u e h ouve advento de sujeito. D ito de outra form a, a idéia p oética de M allarm é é que a vitória sobre a perda é criação subjetiva e, certam ente, anulação do antigo sujeito, anulação do sujeito da im potência. S erá possível estender essa idéia à cura analítica? D iscutirem os isso um p ouco m ais tarde, m as fiquem os com a idéia de que a construção poética, em todo caso, é assunção do sujeito.

R e sta -n o s p e rg u n ta r com o o p o e m a trab a lh a. O q u e to rn a p o ssív e l a transposição? O que torna possível a transposição é que todo desaparecim ento deixa um rastro, um vestígio e, nesse sentido, M allarm é propõe exatam ente um a teoria p oética do sintom a. H á sem pre um vestígio. O desaparecim ento é absoluto, não há retorno do objeto, o m orto vai continuar no túm ulo, o navio naufragado continuará no fundo do mar, o sol que se pôs não renascerá no meio da noite, portanto, não haverá retorno da perda. M as haverá sem pre um vestígio desse desaparecim ento, e é preciso encontrá-lo. M allarm é fala d epresque dispurition vibm toire - “quase desaparecim ento vibratório” , a respeito da linguagem . O trabalho poético é um trabalho sobre o ‘quase” e a vitória sobre a perda é, de início, unicam ente a partir dos vestígios.

M as com o? Pois bem , o desaparecim ento será reencenado a partir desses vestígios. E nos tom arem os senhores desse desaparecim ento fazendo desaparecer os vestígios do desaparecim ento. E sse procedim ento é absolutam ente extraordinário. E le pode ser analisado em cada poem a de M allarm é. Vocês terão um esquem a do poem a: no início a perda, em seguida a busca do vestígio, depois a organização poética do d esaparecim ento do vestígio e em seguida o aparecim ento da noção pura. A noção pura, que é o real, só aparece se vocês souberem fazer desaparecer o vestígio. E, no fundo, vocês não têm nada além do vestígio, com o não têm nada além do sintom a, na situação artificial que é a de vocês. E, finalm ente, pode-se dizer que a transposição d e fin e u m a p o e s ia do v e s tíg io c ria n d o , no p e n s a m e n to , um e q u iv a le n te do desaparecim ento. Tanto que o objeto não volta, m as o desaparecim ento do objeto sim , esse volta, sob a form a do desaparecim ento dos vestígios.

Vocês po d em ver que essa lógica de M allarm é é aparentada à lógica da análise, num p onto essencial: não se trata de m odo algum de u m a ‘in te rp re taç ão ’, trata-se de u m a reorganização form al, no âm bito da qual algo se repete: o próprio desaparecim ento. Se realm ente é o desaparecim ento que se repete, vocês não terão o objeto, m as terão o seu real, na p rova da repetição de seu desaparecim ento. Q uais são as hipóteses em que se fu ndam enta esse trabalho? P enso que há duas h ipóteses a serem exam inadas:

P rim eira hipótese, todo d esaparecim ento deixa um vestígio, é o que eu cham aria de otim ism o do p oem a e talvez tam bém de otim ism o da cura analítica. O que aconteceria, se form ulássem os a hipótese de um desaparecim ento absolutam ente sem vestígio, u m desaparecim ento absoluto? P ara que h aja um desaparecim ento absoluto, é preciso haver desaparecim ento do objeto, m as tam bém desaparecim ento

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do desaparecim ento, o que quer dizer exatam ente que não há vestígio. H averia ai desaparecim ento do próprio desaparecim ento. M allarm é sustenta que isso nunca acontece, há sem pre algo com o urna b orda do desaparecim ento e pode-se trabalhar sobre essa borda. E sta é a p rim eira hipótese.

A segunda hipótese é que, se e n c o n tra m o s a boa form a, poderem os criar o pensam ento do desaparecim ento e, eu insisto, sem ter necessidade do reto m o do objeto. E nesse caso, vocês terão u m a repetição criadora. E sta é u m a hipótese fundam ental da psicanálise: há um a capacidade criadora da pró p ria repetição, se essa repetição estiver num quadro form al ou lógico conveniente. E vocês vêem que não pode ser u m a repetição ‘n atu ra l’. E stam os certos de que um a repetição natural não tem nenhum p oder criador, é a repetição form al, artificial que tem poder criador.

Sob essas duas hipóteses, em prim eiro lugar, todo desaparecim ento deixa um vestígio e, em segundo lugar, existe um quadro form al para um a repetição criadora, existe a possibilidade de um a vitória sobre a perda, ou seja, de um a vitória sobre a im potência, adm itindo-se que toda im potência é conseqüência de um a perda. E um a vitória sobre a im potência é um a experiência do real. P ode-se então dizer que algo é criado com o um sujeito sobrenatural, eu digo sobre-natural ju stam en te no sentido de que a situação é artificial e form al, o que quer dizer um sujeito que atravessou a perda e que não é sim plesm ente a presa, a vítim a dessa perda. Isso pode ser cham ado de um ‘sujeito de p en sam e n to '. E nesse caso, diríam os que o p oem a e a análise criam um sujeito de pensam ento, se tiverem êxito. P orque o poem a pode fracassar, o próprio M allarm é reconheceu isso. E talvez a análise tam bém possa fracassar, são vocês que poderão dizer isso.

M as se há um sujeito de pensam ento, se há um a vitória sobre a perda, então é preciso com preender que há algo ali que não está m ais no tem po, não no tem po natural. P recisaríam os então chegar a essa idéia extraordinária de que a análise cria algo de eterno. Isso sem pre foi dito do poem a, o poem a sem pre teve a am bição de criar algo na língua que fosse eterno, algo na língua natural, que fosse sobrenatural. E ssa é, evidentem ente, a am bição do poeta. Será possível estender essa am bição à cura analítica? S erá possível dizer que a análise toca, no sujeito, em algo de eterno, em algo que é sua eterna contingência? Se assim for, seria com o no poem a, seria realm ente um a estética da criação. U m a análise absolutam ente b em sucedida seria absolutam ente um a obra de arte, um a obra de arte inteiram ente subjetiva. E com isso vou deixá-los, na esperança de que vocês sejam todos grandes artistas. O brigado.

N O TA S E R E F E R E N C IA S B IB L IO G R Á FIC A S:

1. C onferência p ronunciada no dia 29/11/2002, durante o C oloquio sobre “O desejo do an a lista” , o rganizado pela E scola L etra F reudiana, no R io de Janeiro. 2. F ilósofo, pro fesso r na E cole N orm ale Supérieure e no C ollège In tern a tio n a l de

P h ilo so p h ie , de Paris.

3. B E R S A N I, L eo. T he cu ltu re o f reclem ption. C a m b rid g e, M ass.: H a rv a rd U niv ersity P ress, 1990.

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ISSN 1516-5221

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