Lexicografia: U m a Introdução
ao Estudo de D icionários
*
hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
C D U :8 0 1 ,3 2
Jondira B atista de A ssunção
*
*
XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
s
E s t u d o d o s d i c i o n á r i o s c o m o o b j e t o s
m a n u fa t u r a d o s
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ec o m o d i s c u r s o p e d a g ó g i c o . T i p o fo g i a s e g u n d o o s o b j e t i v o sd e c a d a t i p o eq u a n t o à n a t u r e z a , d e n s i d a d e ea l c a n c e d o l é x i c o . E s t r u t u r a d o a r t i g o d e d i c i o n á r i o . P r o b l e m a s r e l a t i v o s
ad e fi n i ç õ e s : fa z e r c o r r e s p o n d e r a u m a u n i d a d e l e x i c a l ' ' ' n ' ' s i g n o s , no i n t e r i o r
d e " n " d i s c u r s o s . C o m p a r d ç ã o e n t r e
d i c i o n á r i o eT h e s a u r u s . D o p o n t o d e v i s t a d a l n fo r m á t i c a , o t h e s a u r u s t e m o b j e t i v o s p r ó p r i o s , d i fe r e n t e s d o s t h e s a u r i d e U n g u a
, - q u e d i fe r e m d o s d i c i o n á r i o s , a p e n a s
q u a n t o áa b r a n g ê n c i a d o l é x i c o ; M a s o t h e s a u r u s d e R o g e t (1852), a p e s a r d e s e r d i c i o n á r i o d e I i n g u a , a p r e s e n t a c e r t a s
p e c u l i a r i d a d e s : a s l e x i a s s ã o a r r a n j a d a s
p o r c a t e g o r i a s e oo b j e t i v o é m o s t r a r o r e l a c i o n a m e n t o e n t r e i d é i a / p a l a v r a ; em
l n fo r m á t i c a , o t h e s a u r u s éu m i n s t r u m e n t o dec o n t r o l e t e r m i n o l ó g i c o , c u j a fi n a l i d a d e ép r e c i s a r a s s u n t o / d e s c r i t o r . C o n c l u i : ' q u e e s t u d o s t e ó r i c o s s o b r e a c o n s t r u ç ã o em a n u t e n ç ã o d o s t h e s a u r i s ó p o d e m s e r d e s e n v o l v i d o s s e b a s e a d o s ' n a t e o r i a
s e m â n t i c a , o u s e j a , n a s r e l a ç õ e s e n t r e
o s p l a n o s d e " c o n t e ú d o ee x p r e s s ã o " . '.
7
1 -
D lC IO N A R IO S : N A T U R E Z A , F U N Ç Ã O , D E F IN IÇ O E Sdicionário
éum "objeto
manufa-turado" que responde às exigências
de informação e de comunicação de uma
so-ciedade.
É 'um instrumento de
educaçãopermanente.
Éponto de referência entre
a língua e a ciência,
entrea
língua e a
'cultura.
Éuma obra de segunda mão:
um texto sobre outros textos. É
um
livro
de
consulta,
onde
as informações
sãoapresentadas segundo a nomenclatura das
unidades lexicais.
Odicionário de Robert
dá a seguinte difíníção de dicionário:
1"Elenco de palavras de uma língua,
arranja-das em ordem alfabética ou segundo uma
classificação que permita encontrá-Ias
fa-cílmente ."
Podemos
afirmar,
então,
que
os
dicionários podem e devem ser analisados
como uma "praxis",
como um material
de consumo imprescindível
àsociedade
e com todas as ímplícações comerciais
Trabalho de pós-graduação apresentado à Profa. Dra. Maria Aparecida Barbosa, da disciplina Lexicografia Estrutural, da FFLCH/USP, no 29 semestre de 1978. Mestre em Ciência da Informação pelo lBBD. Pós-Graduanda em Lingüística na FFLCH/USP, Profa. de 'Oassificação da
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R .b ra s .B ib lio te c o n .D o c . 1 2 (1 /2 ): 3 9 -5 0 , ja n /ju n .1 9 7 9
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
dos outros produtos manufaturados: custo, concorrência, especulação sócio-cultural.
Mas os dicionários podem ser vistos também como um texto, como uma obra literária, 'Ou mais precisamente, como um discurso pedagógico e didático. A redação do dicionário se define como uma arte (OU uma técnica?).
O
lexicó-grafo deve seguir regras formais específi-cas do discurso pedagógico que fazem do dicionário um enunciado lexicográfico.O
lexicógrafo toma como objeto do seudiscurso "o que se diz da
XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
l í n g u a ou da' c u l t u r a " , segundo ele pretenda responder questões sobre a utilização de "palavras e frases aceitáveis", ou sobre "coisas" denotadas (ciência e técnica) às quais se referem o léxico. Deste ponto de vista, Duboís! diz que o lexicógrafo é um lingüista. Ele deve se referir explícita ou implicitamente a uma teoria lingüís-tica de onde procede sua análise. Ele é também um antropólogo que define uma certa cultura, uma civilização; pode ser um jurista, um geólogo, um médico etc., segundo a área do conhecimento que 'é levado a definir.
Há certa contradição entre a atitude pedagógica e normativa do discruso didá-tico e a atitude científica e polêmica de um dicionário. A definição de palavras ou expressões implica necessariamente
I '
numa posição teórica ou ideológica. A introdução de uma dialética ideológica
Ou
cultural é feita consciente ou incons-cientemente pela seleção ou elaboração dos exemplos e pela conceituação de determinadas lexias: estruturalismo, mar-xismo, psicanálise, etc. Mas são sobretudo os exemplos que engajam ética ou esteti-camente o lexicógrafo. Os exemplos formam um conjunto de "asserções" sobre o mundo que implicam na ideologia da comunidade com a qual o lexicógrafo se identifica. O lexicógrafo é o interme-diário entre a Sociedade e os leitores. Seus enunciados têm força de lei. l! agarantia da Norma que representa a comu. nidade ideal. Portanto, o dicionário pode ser considerado como uma i n s t i t u i ç ã o s o c i a l cuja função é definir a norma lin-güística. E tais regulamentos comportam sanções. O dicionário autoriza palavras, construções, sentidos integrando-os ao uso da éomunidade. Contrariamente ele condena ou despreza rejeitando certos usos. A sanção mais decisiva é a rejeição. Uma lexia só é considerada como perten-cente a norma, quando aparece nos
dicio-nários. A rejeição é feita também através de ~otações ou rubricas específicas junto às lexias: "neologismo", "dialeto","arcaísmo" ;'farniliar" ...
E preciso notar também que alguns dicionários ditos de uso, rejeitam certos julgamentos normatívos: a norma de
gru-pos ou de ideologias que gru-poss3J1l ser
consi-geradas como as de uma comunidade tradicional e ultrapassada. Mas de um modo geral, os dicionários tem caráter coletivo e não temporal. Ele se identifica com a língua nacional e com a comuni-dade ideal. O ensinamento dado não comporta tolerância. A resposta dada a uma consulta não comporta ambigüidades. Aí aparece o caráter moral dos dícíonã-rios. Trata-se de uma diferença: importante entre o discurso científico e o discurso pedagógico. O discurso científico apre-senta uma tese, tenta falsear aquela à qual ele contesta, e oferece base para uma possível verificação; No discursO pedagógico nem a língua, nem a cultura registrada são objetos de uma tese. Olexicógrafo desaparece ,no anonimato, con' fundindo-se com a comunidade que ele representa.
2 -
JIHGFEDCBA
O B J E T IV O S E T IP O L O G IAOs dicionários visam sobretudo pre-encher a uma lacuna «e conhecimenN que existe entre seus u tilizadores (usuárioS,
J a n d ira B a tis ta d e A s s u n ç ã o - U m a In tro d u ç ã o ... D ic io n á rio s 41
leitores) e a comunidade que representam, quer seja de um ponto de vista lingüístico, cultural ou científico. Eles facilitam assim
a comunicação lingüística ou científica contribuindo para nivelar a competência dos falantes. Dentro desta abordagem, podemos analisar os objetivos dos dicio-nários sob quatro aspectos:
I. Valorizar o comportamento ver-bal, desenvolvendo ou aperfeiçoando os meios de expressão pela análise semântica, sintática, morfológica ou fonética da língua:d i c i o n á r i o s m o n o l t n g ü e s .
11.
Traduzir de modo satisfatório mensagens, sentido, permitindo ultrapassar. as barreiras encontradas num enunciado em língua estrangeira: d i c i o n á r i o s b i l i n -g ü e s .111.
Decodificar corretamente normas sociais 'Ou científicas de diferentes uni-versos de discursos. Ampliar a competên-cia lingüística com relação à compreensão do léxico de grupos diversos daquele a que o leitor pertence ou dos campos de experiência que domina: d i c i o n á r i o s t e c -n i c o sou d e a s s u n t o s .IV. Aumentar ou desenvolver o saber sobre o mundo, através de infor-mações mais completas sobre os dados da experiência em qualquer área do conhe-cimento: d i c i o n á r i o s e n c i c l o p é d i c o s .
Podemos defrnir uma tipologia dos dicionários por meio de uma abordagem diferente, usando critérios para a classi-ficação dos mesmos, dos quais selecío-namos os seguintes:
a) Quanto ao domínio, o alcance do léxico:
todo o léxico: dicionários gerais parte do léxico: dicionários espe-cializados (técnicos ou de as-sunto)
b) Quanto à natureza das informa-ções oferecidas sobre o léxico:
palavra da língua; defíníções semânticas e sintáticas: dicioná-rios de língua
coisa significada pelo léxico; dados ideológicos ou culturais -dicionários de "coisas", dicio-nário enciclopédicos.
c) Natureza da língua: língua origi-nal, derivada (cible) ou correlata:
Dic. monolíngües ou unilfngües Dic. bilíngües
-ou
plurilíngües(po-liglotas)
d) Densidade da nomenclatura em relação ao léxico:
Dic. extensivo - totalidade do lé-xico (thesauri)
Dic. intensivos - totalidade de informações sobre uma lexía ou expressão sintagmáticas.
e) Modelo genérico: Alain Rey criou um modelo teórico, gerativo, conce-bido para descrever toda a atividade
le-xicográfica, a partir dos traços funda-mentais e estáveis, aplicáveis a qualquer tipo de dicionário. O modelo não foi baseado na história ou numa visão de conjunto dos dicionários observados, con-forme vem sendo feito até o momento. A análise é tão geral quanto possível e o foco principal são os dados geradores, chegando-se a um número reduzido de elementos considerados essenciais e cons-tantes a todos os tipos já identificados. 3Todos os lexicógrafos reconhecem' que os dicionários são quase sempre heterogêneos em relação a estas classi-ficações. Há uma continuidade do dicio-nário de língua no dicionário enciclopé-dico e do dicionário técnico no de língua padrão, o que dá origem a diferentes formas intermediárias. Usando a combi-nação das duas características principais, -' maís . ou menos lingüísticos ou, mais ou menos enciclopédicos (de coisas) - te-remos:
/ + enciclopédico/ / - lingüísticof díc. técnicos, de assunto
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R .b ra s .B ib lio te c o n .D o c . 1 2 (1 /2 ): 3 9 -5 0 . ja n /ju n .1 9 7 9
i!:
••
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ti.~ S
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••
2 . U n id a d e sG'
d e L é x ic o
tra ta m e n to I I
4 . N o m e n c la tu ra o rd e n a d a .
1 . D a d o s (d is c u rs o )
7 . E n u n c ia d o s e x e m p lo s
I - enciclopédico! ! + lingüísticol dic. de
língua
3 -' O A R T IG O D O D IC IO N A R IO (A E N T R A D A , O
E N U N C IA D O )
A seqüência de palavras, a nomemcla-tura constitui a arquitetura do dicio-nário. A análise da nomenclatura e do enunciado lexicográfico levanta dois tipos de problemas:
_ os que dizem respeito às regras de composição e apresentação gráfica
do artigo;
._ os que se referem à linguagem técnica, ou metalinguagem lexicográfica com a qual se redige ou reescreve as ín-formações.
Os enunciados se organizam em artigos, sendo estes uma seqüência or-denada de frases que comportam um ou vários tipos de infonnações. De um
5 . In f9 s e m i-fu n c io n a is 6 . I n f9 n ã o -s e m â n tic a s
modo geral, um artigo apresenta ou
se
constitui dos seguintes elementos: AXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
p a l a v r a , a unidade lexical, o "ende-reço" -e.
a entrada ou tema do qual as outras Informações vão sero predicado;
A p r o n u n c i a - transcrita em código próprio, de caráter internacional, aparecendo quase sempre entre pa· rentese,
A c a t e g o r i a g r a m a t i c a l - que dá os tra· ços sintáticos fuhdamentais, ist( é, a pertinência da palavra, quel seja de um morfema-raiz ou un
termo derivado, a uma parte d(
discurso, determinada segundo I
análise gramatical tradicional: subi tantivo, verbo, pronome, adjeti~1 etc. Em seguida as sub_classes masculino, feminino, transitivo dirt to, qualificativo etc.
A e t m o l o g i a - a origem da palavra, oi os elementos constitutivos, ou c procedimentos sintáticos que a or
J a n d ira B a tis ta d e A s s u n ç ã o - U m a In tro d u ç ã o ... D ic io n á rio s
ginaram. Em alguns casos o dicio-nário fomece a data de apareci-mento do termo,
A d e fi n i ç ã o - constitui-se de frases, que procura dar um sinônimo ou uma acepção da palavra. Cada frase é enumerada ou separada por um sinal convencional
. O s e x e m p l o s - que oferecem ocorrên-cia da palavra em frases ou sin-tagmas.
I d i o t i s m o s e e c p r e s s õ e s e s t e r e o t i p a d a s - Informações específicas, termos únicos de sub-entrada; provérbios, máximas etc.
O s e n t i d o fu n c i o n a l - São também sub--entradas; significação particular do termo num discurso científico deter-minado. Ou informações ideológi-cas sobre o objeto denotado pela entrada.
Cada tipo de dicionário dará ênfase maior ou menor em algumas destas infor-mações, donde os dicionários or-tográficos, etmológicos, de gíria, fonéticos etc.
43
Existe uma redundância nas infor-mações dadas, numa relação entre as frases que compõem o artigo e a entra-da:
X é definido por Y que é definido por Z, mas Z só é definído por X A D e fi n i ç ã o - Alain Rey 3 tenta definir a defínição primeiramente pela etmologia da palavra: d e fi n i t o - d e fi -n i r e - fi n i r e - "de + fínír ou de + ter-minar". Em Lógica a definição tem por objeto detenninar. a extensão de um conceito; seria simplesmente "o con-junto de termos conhecidos cuja combi-nação determina o conceito". Para os gramãticos, filósofos de Port-Royal, a definição é um remédio para a confu-são que nasce do nosso pensamento e nos discursos pela confusão das .pala-vras.
A. Rey fala ainda da malignidade lexical - a palavra culpável é uma cons-tante de Bacon a Locke.
Para se evitar as ambigüidades, é preciso pelo menos lembrar-se das dife-renças clássicas entre deflnição de pa-lavras e definição de coisas, .entre defi-nições explicativas, delimitando ium con-ceito e definições construtivas, criando o conceito; entre definições acidentais que permitem somente o reconhecimento do definido e definições essenciais.
. À Lingüística interessam sobretudo as definições de palavras, explicativas e acidentais. Como Ciência Social, a Lin-güística não pode agir, por enquanto, senão para reencontrar seu objeto, não de o criar.
D e fi n i ç ã o L e x i c o g r á fi c a : A defini-ção pela língua natural é sempre uma definição de "palavras": seja de um signo por outros signos pertencentes ao mes-mo sistema e organizados segundo as leis deste sistema; seja de um "sígnífica-do" analisado em traços diferenciais e construtivos (semas) organizados em estruturas (sememas) pelas normas do
i!:
Q'
o
~
S
c
..,
Ol
Nos enunciados, as frases são redi-gidas num código particular, numa lin-guagem artificial. A metalinguagem le-xicográfica é explícita e convencional.
Um substantivo só é definido por' um síntagma nominal;
Um verbo só é apresentado no seu infrnitivo;
. Um adjetivo só é definido pelo Slntagma: "se diz do que é ..."
Todas as frases têm como sujeito a "Entrada", o endereço, e, como sin-tagma verbal, a informação. Exemplo:
o termo X é Y na língua falada o termo X é Z na língua de origem o que pode ser parafraseado;
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R .b ra s .B ib lio te c o n .D o c . 1 2 (1 /2 ): 3 9 -5 0 , ja n /ju n .1 9 7 9discurso; seja, enfim,
de um
conceito
cuja descrição em língua natural é
encar-regada de determinar a natureza e o uso
do signo (termo) que o exprima. A
de-finição de coisas seria então uma
"pra-xis". Servir-se de um elemento distinto
de uma
classe referencial, modificã-lo,
agir sobre ele, isto é, ter mesmo de
dis-tinguir um elemento de uma classe de
todos
os outros
elementos
da mesma
classe. Assim o programa de definições
se reduz
pela
prática
lexicográflca, a
fazer corresponder a uma unidade
lexi-cal, supostamente
desconhecida ou mal
conhecida,
umapluralidade de unidades
pertencentes ao mesmo sistema
lingüís-tico, e organizadas segundo as estruturas
sintáticas deste sistema, a fun de
provo-car no leitor ou no ouvinte a
elabora-ção
conceitual
adequada.
Trata-se
de
invocar pela definição (colocada
como
intérprete entre o signo e o significado)
um conceito analisado, que deverá
cor-responder
ao mesmo significado e
re-meter à mesma classe referencial.
Para
Alain
Rey,ao
lexicógrafo
escrupuloso
o grande problema da
de-fínição
nos
dicionários
se resume
no
seguinte:
1.
Énas várias estruturas
ideo-lógicas e psicoideo-lógicas que signo e
concei-to são engajados. E o redaconcei-tor terá que
substituir
a defíníção de
XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
nsignos
no
interior de
11discursos, muito mais
ca-valheírescamente (diz ele)! por uma fór~
mula única.
2. O signo muito raramente
aparece em' uma função única, ou seja,
é
quase impossível considerar qualquer
signo num grau máximo de
índetermí-nação. Daí as discussões a respeito de:
, 'I
definições
práticas,
arbitrárias;
possibilidade de cada estrutura
sintagmática corresponder
exata-mente
a um
semema distinto,
uma
vez
que
o
signo possui
várias possibilidades de função,
no discurso;
a análise semântica dos
dícioná-rios
ser
uma
distribuição
do
material
descrito,
de fatos lin.
güistícos
em fragmentos de uma
metalinguagem;
a unidade gráfica ser ínsufícíente
para
identificar
a unidade
lé-xica, por exemplo: o apóstrofo
(n'alma,
d'água, c'est, n'est); o
verbo na forma interrogativa (não
é? que há?; ou vã-t-il"); o traço
de união (pé-de-moleque;
arriêre--grandparent);
as palavras
poli-morfas (Fou, fol; cou, col;beau,
Bel,
etc.;
barganha,
berganha;
perguntar, preguntar; digo, dizes;
fui, somos, é).
Discussões sobre problemas lexicais
similares,
de
"soluções
impossíveis"...
podem
e devem ser estudados
atenta-mente.
A fragmentação
de conceitos, de
conjuntos conceituais interdependentes, ou
de classes conceituais é também
fragmen-tada
pela ordenação
alfabética
das
le-xias.
Oarranjo alfabético é considerado
por A. Rey como uma
outraabsurdidade
que não conduz a nada, a não ser a uma
seqüência já conhecida.
Na escolha dos dados ou dos ele·
mentos que serão usados na defmição,
o
lexicógrafo
deve ser mais íntuttíw
que cíenttfico, selecíoríar os traços que
aparecem no plano da experiência psi·
co-lingüística de preferência àqueles que
pertencem a um plano sistemático e/
O Ucientífico.
Por
exemplo,
na
defmição
da lexia "gato",
as relações mais
coneretas e intuitivas seriam: "rato",
"a!li·
mal
doméstico",
"miado" ,
"bigodes",
"olhos cintilantes"
-
e no plano siste'
mático,
que é um "mamífero",
perten'
cente
àfamília dos "felinos" ou,
"qUeé
delgado e que tem as patas semelhs"
tes às do Leão, Leopardos", etc.
J a n d ira B a tis ta d e A s s u n ç ã o - U m a In tro d u ç ã o ... D I,c io n á rio s 45
4 -
JIHGFEDCBA
D IC IO N A R IO E T H E S A U R U So
dicionário já
foi
visto
como
produto
manufatu~ado
e
como
texto
pedagógico,c~n:o dl~curso. Veremos agora
a relação Dícíonãrio-Thesausus, através
da conceituação
de
"thesaurus",
seja
do ponto
de vista lingüístico, seja do
ponto de vista da Informãtica,
Quando se fala em
t h e s a u r u s(te-souro), pensa-se logo
em
"preciosida-des", em
riquezas, em
quantidade
e,
por analogia, em exaustividade. O
the-saurus de língua visa, realmente,
âto-talidade do léxico.
Éo "depositário",
a "arca"
das riquezas lexicais de um
sistema, arrolando
todas
as
palavras,
unidades lexicais e sintagmas, sejam eles
do presente ou do passado. A
preocupa-ção principal é, portanto,
com a
exaus-tividade, com a totalidade. Ex.:
T r é s o rd e I a L a n g u e F r a n ç a i s e .
Contudo,
em
1852,um lexicógrafo inglês, Peter
M.Roget fez um
dicionário
de língua
a
que chamou
de
T h e s a u r u s a f E n g l i s hW o r d s a n d P h r a s e s ,
onde as lexias são
apresentadas não
em ordem alfabética,
Como nos dicionários usuais, mas
agru-padas em categorias lógicas e mostrando
um relacionamento entre elas. Não
hou-ve a preocupação com a exaustividade,
COma totalidade lexical. A riqueza
lin-güística aqui se reflete numa
ínterdepen-déncia semântica, no relacionamento
con-ceitual, ou seja, na relação "idéia-pala'
v
ra .
" Aquestão básica a que o dicionário
pre~ende responder
é:
qual
a
palavra
maiSprecisa, mais adequada para
expres-sar determinada idéia? ou: existe na
lín-gua inglesa uma lexia mais precisa para
~xpressar esta idéia? Assim, tanto a
es-drutura quanto
a função
do thesaurus
de Roget
recebeu
tratamento
diverso
d
as.
os
t h e s a u r ide língua até então
conheci-Do ponto de vista da Infonnática,
POde-se igualmente definir o thesaurus
.•••...
segundo a sua estrutura, ou segundo a
sua função. Segundo a sua função, um
thesaurus é um instrumento
de
contro-le
tenninológico,
utilizado
para
tradu-zir a linguagem natural
dos
documen-tos
para
uma
"linguagem
sistêmica",
reduzida, a ser usada pelos indexadores e
usuários no armazenamento e na
recupe-ração da informação. Quanto
âsua
es-trutura,
o thesaurus é um Vocabulário
controlado,
mas
dinâmico
de
termos,
que
possuem
entre
si' relações
hierár-quicas (gênero-espécie) e semânticas, e
que abrange de maneira exaustiva uma
área específica do Conhecimento.
5Como
subproduto
estruturado
da
língua natural, ele reúne a terminología
necessária
para
descrever
o
conteúdo
dos
documentos,
com
maior precisão,
evitando as ambigüidades e
inconsistên-cias
da
linguagem
natural.
Conforme
a
natureza
do
controle
tenninológico,
vêm [ sendo elaborados, àtualmente, dois
tipos principais de thesauri:
a) thesauri que realizam o controle
da
terminologia
por
meio
de
termos
preferidos, isto é, que admitem que
ape-nas um único dentre os termos que
de-signam um conceito seja empregada para
a indexação e
recuperaçãodo
conceito--assunto;
b)
thesauti cujas normas admitem,
para a indexação e recuperação de
assun-tos, todos os termos representativos de
um conceito, mas que fazem
correspon-der a todos esses termos uma
representa-ção
inequívoca do conceito
I(por exemplo:
um código numérico, um símbolo, uma
notação).
Neste tipo de thesaurus
tor-na-se mais fácil o cancelamento de
si-nônimos e a alteração de relações
con-ceituais anteriores, no caso de um tenno
mudar de sentido.
Relação
entre lexias efoll
descri-tores. Uma das funções primordiais de
um thesaurus
é apresentar
as relações
46
hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
R .b ra s .B ib lio te c o n .D o c . 1 2 (1 /2 )": 3 9 · 5 0 . ja n /ju n .1 9 7 9zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
das relações entre as lexias ou descri-tores usados para
designã-los.
A rede de relações entre um descritor e outros proporciona assim uma espécie de defi-nição, ao situã-lo num espaço semântico.Três tipos de relação devem mere-cer a atenção de quem esteja interes-sado na estruturação do thesaurus. São elas:
relações hierárquicas (gênero/es-pécie);
relações de equivalência (ou si-'nonímia);
- relações associativas (de afínída-de).
Em qualquer um destes casos <> relacionamento é recíproco, isto é, quan-do um descritor se acha em relação com outro, a indicação é feita em ambos os descritores.
Relações de equivalência. Quando certos descritores são considerados equi-valentes, similares ou de significado qua-se idêntico, eles devem ser reunidos em categorias de equivalência, de tal modo que os termos equivalentes correspon-dam a um único e mesmo conceito. Na recuperação (busca da informação), to-dos os documentos cujos assuntos es-tejam associados com a categoria de equivalência, serão recuperados, mesmo que apenas um só termo seja utilizado como descritor. Deve-se observar a dis-tinção entre:
XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
- o s s i n ô n i m o s - termos que tem o mesmo ou quase o mesmo sentido em determinada área de conhecimento; Ex. alteração, Modificação.
- o s q u a s e - s i n ô n i m o s - isto é, termos cujos significados podem diferir num vocabulário especializado, mas que são considerados como sinônimos para fins de recuperação da ínformação.] Ex. Genética, Hereditariedade; Fluidez, Vis-cosidade.
Na apresentação da relação de equivalência são usadas as seguintes
con-venções:
UP u s a d o p a r a (ex: Alteração Dp Modificação) ;
USE U s a r (ex. Modificação US~ Alteração).
A seguir um lay-out das
recome-,
dações
feitas acima (em ordem alfabé.tica):
.ALTERAÇÃO
UP MODIFICAÇÃO
FLUIDEZ
UP VISCOSIDADE
GENÉTICA
UP HEREDITARIEDADI
HEREDITARIEDADE USE GENÉTICA
MODIFICAÇÃO
USE ALTERAÇÃO
VISCOSIDADE USE FLUIDEZ
Isto quer dizer que, ao índexa ou ao buscar (recuperar) uma informaçãt sobre "hereditariedade" , deve-se usar ( termo Genética, é sob este termo qU I
os documentos serão encontrados. C
mesmo acontecendo com os outros doê exemplos.
Os termos preferidos foram: Alte ração e Fluidez.
. Relações hierárquicas. As relaçõC
hierárquicas exprimem as relações d
subordinação, mais conhecidas cient~ camente como relações de gênero/espl cie. Em geral são analisadas sob qua~ aspectos:
1. do geral para o específico 2. do específico para o geral 3. do todo para a parte 4. da parte para o todo
Convencionalmente, as relações lJil
J a n d ira B a tis ta d e A s s u n ç ã o - U m a In tro d u ç ã o ... D ic io n á rio s 47
rárquicas são ap!esentadas, no t h e s a u r u s , da seguinte maneira:
TG - Termo genérico TE ,- Termo específico
TEP -- Termo específico partitivo
TR - Termo relacionado
Exemplos:
RÉPTEIS
TE LAGARTOS OFlbIOS TARTARUGAS LAGARTOS
TG RÉPTEIS OFÍDIOS
UP SERPENTES' TG RÉPTEIS TARTARUGAS
TG RÉPTEIS TR CROCODILOS PLANTAS
TEPCAULE FOLHA FLOR FRUTO SEMENTE CAULE
. TGPLANTAS TRTRONCO FOLHA
TGPLANTAS FLOR
TGPLANTAS TEPPÉTALAS
Relações associativas (relação de afinidade) - Emprega-se comumente a relação associativa para explicitar os Outros tipos de relação entre conceitos que são intimamente relacionados no discurso científico e tecnológico. Con-tudo, como existe uma grande variedade de relações asso ciativas , estas devem ~r estabelecidas somente quando se tIver a certeza de que serão necessárias ~ recuperação da informação, para
me-or atender ao usuário.
As relações associativas, em geral, são empregadas para indicar:
- a u t o n o m i a ;'conceitos opostos, mas estudados freqüentemente juntos. Ex.: Permeabilidade e impermeabilidade
- c o o r d e n a ç ã o : conceitos deriva-dos de um tronco comum.
Ex.:
Animais e Plantas; Educação e Ensino; Marxismo e Capitalismo; .- r e l a ç ã o g e n é t i c a : conceitos de-rivados ou originários uns dos outros. Ex.: Pais e Filhos.
- r e l a ç ã o d e c a u s a e e fe i t o ; Ex.: Ensino e aprendizagem.
- s i m i l a r i d a d e fí s i c a . - material, ins-trumental ou processual. Ex.: Xilogra-vura e Madeira; Catalogação e Catálogos; Indexação e Thesaurus.
No Thesaurus este tipo de relação aparece como Termo Relacionado - TR, ou como Termo Correlato - TC:
APRENDIZAGEM TR ENSINO EDUCAÇÃO CAPITALISMO
TR COMUNISMO MARXISMO SOCIALISMO COMUNISMO
TR CAPITALISMO MARXISMO SOCIALISMO EDUCAÇÃO
TR APRENDIZAGEM EDUCAÇÃO ENSINO
TR APRENDIZAGEM EDUCAÇÃO IMPERMÉABlLIDADE
TR PERMEABILIDADE MARXISMO
TR CAPITALISMO COMUNISMOI SOCIALISMO I PERMEABILIDADE
i
48
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
R.bras.Bibliotecon.Doc. 12 (1/2): 39-50, jan/jun.1979SOCIALISMO
JIHGFEDCBA
T R
CAPITALISMO
COMUNISMO
MARXISMO
Como se pode notar, reciproca. mente, junto a cada termo relacionado, aparecem, em rem1ssiva inversa, os ter-mos que lhe forem associados.
C O N C L U S Ã O
Dicionário e Thesaurus são obje-tos manufaturados que servem de ins-trumento de consulta e de trabalho para diferentes tipos de usuários (escritores, leitores, bibliotecários, professores,
pes-quisadores, estudantes, etc.) no uso ade-quado do léxico, da terminologia.
O primeiro visa ao discurso oral ou escrito; o segundo, ao annazenamento e à recuperação da infonnação registra-da em documentos.
O thesaurus, como instrumento de controle tenninológico (Informâtica), ba-seou-se num thesaurus de língua, o de
Roget, cuja finalidade é a de ajustar precisar "idéia e palavra", valorizand~ o comportamento verbal da língua in-glesa, através da apresentação das
rela,
ções entre as diferentes lexias; o que corresponde, por outro lado, a ajustar, precisar "assunto e descrito r" , visando à maior precisão no processamento e na recuperação da infonnação.Ambos devem \ ser analisados do ponto de vista da Comunicação entre Autor-Leitor, Fonte-Receptor, a fim de
que se possa obter um constante preces-so de retro-alimentação e atualização (manutençêo).l
N:enhuma tentativa parece ter sido feita no sentido de desenvolver uma teoria sobre a construção e a manuten-ção de
XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
t h e s a u r u s . Sabe-se, porém, que essa teoria, se desenvolvida, deveria le-var em conta a conceituação de "assunto","conteúdo" (significado) e "tennos-cha· ve". Em outras palavras, seria na teoria lingüística, mais precisamente, na teoria semântica (expressão e conteúdo). que se poderia encontrar uma base teórica para desenvolver estudos igualmente teó-ricos sobre ost h e s a u r i .
Jandira Batista de Assunção - Uma Introdução ... DIcionários 49
R E F E R e N C IA S B IB L lO G R A F IC A S
1 _ DUBOIS, Jean. Dictionnaire et discours didactique. L a n g u a g e s , 5 (9): 34-47, sept. 1970.
2-
DUBOIS, JeanhgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
&DUBOIS, Jean Claude. I n t r o d u c t i o n à I a l e x i c o g r a p h i e : l e d i c-t i o n n a i r e . Paris, Larousse, 1971. Capo 1, 2,3,4,5,11 e 12.
REY, Alain. L e l e x i q u e : i m a g e s e t m o d e l e s ; d u d i c t i o n n a i r e à I a l e x i c o l o g i e . Pa-ris, A. Colin, 1977. Capo 1-4.
3-4 - SOERGEL, Dabgobert. I n d e x i n g l a n g u a g e s a n d t h e s a u r i : c o n s t r u c t i o n a n d m a i n -t e n a n c e . Los Angeles, Melville, J. Wüley, 1974. Capo D.
5 - UNESCO. Diretrizes para elaboração e desenvolvimento de thesaurus monolingues destinados à recuperação de informações. Trad. Antônio Agenor Briquet de Lemos. Brasília, Departamento de Biblioteconomia da UnB, 1973. (Documen-to SC/WS/SOO)
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