RevBrasAnestesiol.2016;66(3):333---334
REVISTA
BRASILEIRA
DE
ANESTESIOLOGIA
PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologiawww.sba.com.br
CARTA
AO
EDITOR
Patient
Blood
Management
:
por
onde
comec
¸ar?
Patient
Blood
Management
:
where
to
start?
CaroEditor,
A maior parte dos anestesiologistas reconhece os malefí-cios da terapia transfusional e tenta evitar a exposic¸ão aosanguealogênico,emboraalgunsdecididamentenãose interessem pelo assunto e fac¸am transfusão sem critério fisiológico ou mesmo laboratorial. No entanto, provavel-mente, não há anestesista que nunca tenha transfundido umabolsadeconcentradodehemáciase/ouplasmafresco congeladoeissotornaotematransfusãosanguíneabastante relevanteegeralmentecontroverso.
O sangue é o órgão mais transfundido nomundo, com cercade14 milhõesdeunidadesdeconcentradosde hemá-cias(CH)transfundidasacadaano,oquerepresentacusto aproximado de US$ 3 bilhões (média de US$ 225 por CH).1Terem seuhospitalumprogramaquecombataessa
‘‘necessidade’’detransfusãopodemelhoraroprognóstico dopaciente,minimizarosriscosereduziroscustos.Nesse contexto, foi criado o termo Patient Blood Management
(PBM), que consiste na aplicac¸ão, baseada em evidências médicase conceitos cirúrgicos,de umaabordagem multi-profissionalemultidisciplinarqueéhospitalindependente e centrado no paciente para o diagnóstico e tratamento precocedaanemia,aplicac¸ãode técnicasdeconservac¸ão sanguínea,hemostasiacirúrgicacriteriosaeusoracionaldos produtossanguíneos, com vistasa melhorar, sobretudo,o prognósticodopaciente. AOrganizac¸ão MundialdeSaúde recomendandodesde2010aaplicac¸ãodoPBMcomo estraté-giaparareduc¸ãodonúmerodeCHtransfundidasnomundo.2
Eporquecomec¸arausarumprogramaassim?Aresposta vemcomdados.Pacientesnãotransfundidospermanecem emmédia25%menostempodentrodohospitalemrelac¸ão aostransfundidos.3Estudosmostramqueaimplantac¸ãode
umprograma deestratégia transfusionalem cirurgia car-díaca reduz em 47% a taxa de óbito e em 50% os custos hospitalarespós-cirúrgicos.4Masopontoconsideradomais
importantee noqualprovavelmente todosos anestesiolo-gistaspodematuardemaneirasimplesebastanteeficazé omanejodaanemiapré-operatória.Émuitofácil diagnos-ticar umpacienteanêmico numaconsulta pré-anestésica.
Etratá-lotambém(paraisso,valeleressesdoisbons arti-gos sobrecomo conduzirumpaciente anêmicodurante a visitapré-anestésica).5,6Dentrodeprazobastanterazoável
de15-20 diaspodemos tirar opaciente dacondic¸ão anê-micaetrazê-loparaacirurgiadentrodelimitesaceitáveis. Eisso faz toda a diferenc¸a, pois a anemiapré-operatória estádiretamenterelacionadaàtransfusãodeeritrócitosno intraoperatório, que é causa de maior morbidade e mor-talidade pós-operatória.7-9 O diagnóstico e o tratamento
apropriadosdaanemianoperíodopré-operatórioreduzema incidênciadetransfusãoem62%.10Muitosdenós,
anestesi-ologistas,acreditamosqueaanemianãoétãofrequenteou éinofensiva,massegundodadosdaOrganizac¸ãoMundialde Saúdeexistemmaisdedoisbilhõesdepessoasanêmicasno mundo.11Emmédia15%-40%dospacientesapresentam
ane-mianomomentodacirurgiaesegundoosconceitosdoPBMa anemiaécontraindicac¸ãoaoprocedimentocirúrgicoeletivo ecomprevisãodemoderadaagrandeperdasanguínea.12
Assim,aquificaumaproposta e umdesafio: diagnosti-caretrataraanemianopré-operatório.‘‘Apenas’’ issojá é o primeiro e um grande passo para diminuir a transfu-sãosanguínea,oquebeneficiarásobremaneiraopacientee melhoraráaqualidadedenossaanestesia.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
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334 CARTAAOEDITOR
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LianaMariaTorresdeAraujoAzia,b,∗e LuisVicenteGarciaa
aDepartamentodeBiomecânica,MedicinaeReabilitac¸ão
doAparelhoLocomotor,HospitaldasClínicasdaFaculdade
deMedicinadeRibeirãoPreto,UniversidadedeSãoPaulo
(FMRP-USP),RibeirãoPreto,SP,Brasil
bHospitalUniversitárioProfessorEdgardSantos(UFBA),
Salvador,BA,Brasil
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:liana.araujo@ufba.br(L.M.T.A.Azi).