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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS THALES RODRIGO BATISTA SALES

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

THALES RODRIGO BATISTA SALES

ENTRAVES AO DESENVOLVIMENTO EM TRÊS DOS MUNICÍPIOS MAIS CARENTES DO ESTADO DO CEARÁ

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ENTRAVES AO DESENVOLVIMENTO EM TRÊS DOS MUNICÍPIOS MAIS CARENTES DO ESTADO DO CEARÁ

Monografia submetida à Coordenação do Curso de Graduação em Ciências Econômicas, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Prof. Dr. José de Jesus Sousa Lemos.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca da Faculdade de Economia, Administração, Atuária, Contabilidade e Secretariado Executivo

S162e Sales, Thales Rodrigo Batista.

Entraves ao desenvolvimento em três dos municípios mais carentes do estado do Ceará / Thales Rodrigo Batista Sales. – 2013.

66 f. : il. color.; enc.

Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Economia, Administração, Atuária, Contabilidade e Secretariado Executivo, Curso de Bacharelado em Ciências Econômicas, Fortaleza, 2013.

Orientação: Profº. Dr. José de Jesus Sousa Lemos

1. Desenvolvimento econômico 2. Economia – Brasil - Ceará 3. Pobreza 4. Desigualdade econômica I. Título.

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ENTRAVES AO DESENVOLVIMENTO EM TRÊS DOS MUNICÍPIOS MAIS CARENTES DO ESTADO DO CEARÁ

Monografia submetida à Coordenação do Curso de Graduação em Ciências Econômicas, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Ciências Econômicas.

Aprovada em:___/___/_____.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________ Prof. Dr. José de Jesus Sousa Lemos (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

__________________________________ Prof. Dr. Fernando José Pires de Sousa

Universidade Federal do Ceará (UFC)

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A todos os entrevistados entre outras pessoas nas cidades pesquisadas, que contribuíram com parte de seu tempo e compartilharam comigo parte de suas vidas. Apesar de tê-los dito pessoalmente, registro aqui minha profunda gratidão a todos, pois nunca esquecerei esta experiência, que me engrandeceu como homem e como pesquisador.

Ao sempre atento e prestativo, Prof. Dr. José de Jesus Sousa Lemos, não só pelo profissionalismo e paciência na orientação deste trabalho, mas também pelo compartilhamento de ideias e ensinamentos que expandiram minha maneira de ver parte dos problemas da sociedade. Deixo aqui o meu muito obrigado e minha profunda admiração.

A toda a minha família, em especial aos meus pais, José Bonfim e Regina Rosa, e a minha namorada, Mabelle Luna, por todo o apoio, referência e suporte, sem os quais jamais teria sido possível concluir mais este objetivo em minha vida.

Aos meus colegas de faculdade que percorreram comigo este desafio da graduação, em especial ao também amigo, Francisco Leonardo, pelas constantes trocas de ideias, sugestões e interesse em ajudar na realização deste trabalho.

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Neste trabalho objetiva-se entender os reais motivos pelos quais três das cidades mais carentes do estado do Ceará – Choró, Ibaretama e Itatira, localizadas no Sertão Central cearense – se encontram atualmente neste estágio. Para atingir este objetivo utilizou-se dados secundários e pesquisa de campo com a população idosa que tenha vivido boa parte da vida nas cidades estudadas. Buscou-se, por meio dessa metodologia, regressar no tempo em aproximadamente cinquenta (50) anos para entender o dinamismo dos fatos que estão por trás das inúmeras estatísticas que revelam a pobreza nessas localidades, tendo como base a história de vida dos entrevistados. Diante dos resultados encontrados, elencaram-se quatro fatores para maior discussão e análise: desigualdade de renda e ativos; estoque de capital humano da população; corrupção e adversidades climáticas. Os três primeiros elementos são fatores que contribuíram diretamente para a atual situação dos municípios, e o último é apenas uma característica do clima da região, que, apesar de já ter causado grande sofrimento àquela parte da população nordestina, acaba apenas por revelar, de maneira mais profunda, as mazelas da região; portanto não pode ser caracterizado como fator explicativo do atual estágio de subdesenvolvimento dessas cidades.

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The main objective of this Monograph is to understand the reasons why three of the poorest cities in Ceará State, Brazil – Choró, Ibaretama and Itatira – are currently experiencing high levels of poverty. In order to achieve its objective we performed analyzes based on secondary data and survey including selected elderly people (over sixty five years old) who lived much of their life in the cities investigated. It was sought through this methodology back in time by approximately 50 (fifty) years and, in a dynamic way, understand the factors behind the statistics which show the poverty in these locations. The search was based on the life history of the respondents including: inequality of income and assets, human capital stock of the population, corruption and climatic adversities. The first two elements are factors that contributed directly to the current situation of the cities. The climate conditions is historically a problem in semi arid zone, but its well know solutions for living in such conditions. In those counties, as well in Northeast of Brazil it seems that the corruption is the chronically cause, but unfortunately it is difficult to mesure.

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1. INTRODUÇÃO ... 9

2. RFERENCIAL TEÓRICO ... 11

2.1 Crescimento e desenvolvimento econômico ... 11

2.2 Desenvolvimento Humano ... 13

2.3 Desenvolvimento Sustentável ... 14

2.4 Breve discussão sobre o conceito de pobreza ... 17

2.5 História e características da desigualdade no Brasil e no Ceará ... 19

2.6 Desigualdades e o Crescimento econômico ... 21

2.7 Capital Humano ... 25

2.7.1 Educação... 27

2.7.2 Outros aspectos do capital humano ... 27

2.8 Breve resumo sobre o conceito de corrupção e sua relação com o desenvolvimento ... 29

2.9 A corrupção e o problema da mensuração ... 31

2.10 Breve histórico do problema e dos conceitos de combate a seca e convivência com o semiárido ... 33

3. MATERIAS E MÉTODOS... 36

3.1 Dados ... 36

3.2 Critério para escolha das cidades ... 37

3.3 O Índice de Gini ... 39

4. RESULTADOS ... 42

4.1 Características fisiográficas e históricas das cidades estudadas ... 43

4.1.1 Características do Município de Choró ... 43

4.1.2 Características do Município de Ibaretama ... 44

4.1.3 Características do Município de Itatira ... 44

4.2 As Desigualdades nas cidades pesquisadas ... 45

(9)

humano ... 52

4.4 A Corrupção nos municípios estudados ... 54

4.4.1 Resultados das entrevistas de campo com respeito à corrupção ... 55

4.5 A Vulnerabilidade Climática das cidades estudadas ... 56

4.5.1 Índice Municipal de Alerta (IMA) ... 57

4.5.2 Resultados das entrevistas de campo com respeito à vulnerabilidade climática das cidades estudadas ... 59

4.5.2.1 O fim do ciclo do algodão ... 59

4.5.2.2 A seca de 1958 ... 60

5. CONCLUSÕES ... 62

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1 INTRODUÇÃO

A problemática do subdesenvolvimento observado tanto no interior do Ceará quanto em grande parte do Nordeste não é recente e tem despendido esforços de inúmeros pesquisadores e estudiosos de múltiplas áreas em diferentes gerações da produção acadêmica nacional e internacional.

A região Nordeste do Brasil esteve sempre ligada aos piores indicadores econômicos e sociais nacionais, e as desigualdades entre essa região e o Sul e o Sudeste do País são históricas. As disparidades, entretanto, não são apenas inter-regionais; dentro do Nordeste subdesenvolvido existem grandes cidades em que uma parte da população aufere níveis de renda equiparáveis aos de países de alta renda; entretanto existe também um número muito maior de pessoas vivendo em condições de indigência ou extrema indigência. Essa pobreza, que ainda afeta grande parte da população cearense, tem na verdade um endereço mais específico: o interior do estado, que se caracteriza pelo grande número de pequenas cidades estagnadas onde se abriga o maior contingente de pobres e excluídos do Ceará.

A promoção de desenvolvimento nessas localidades geraria melhorias não só para elas, mas também para os grandes centros urbanos, já que parte da população rural e urbana do interior, privada de suas necessidades básicas, migra tanto para a capital e outras cidades da região metropolitana, como para outras regiões do Brasil, com o intuito de encontrar melhores condições de vida. Esse efeito gera nos grandes centros urbanos um excesso de população desempregada, com baixa qualificação e despreparada para a realidade do atual sistema econômico, o que leva grande parte dessa população excluída a sobreviver em favelas – submoradias – sem ser alcançadas pelos precários serviços ofertados nas áreas urbanas das cidades de médio e grande porte. Os jovens – longe das escolas e ociosos – se tornam presas fáceis para enveredarem no caminho, em geral sem volta, das drogas lícitas ou não, e as meninas tendem para o caminho da prostituição. Promover o desenvolvimento nos municípios mais pobres do Estado e no interior como um todo resulta na diminuição desse processo.

(11)

base no Índice de Exclusão Social elaborado por Lemos (2012). Foram escolhidos três municípios – Choró, Ibaretama e Itatira – entre os dez que apresentavam os piores indicadores segundo a metodologia do citado autor.

O objetivo da pesquisa de campo foi focalizar o estudo nas pessoas e, com seus relatos, compreender os dados que revelam o subdesenvolvimento em cada cidade. Além disso, buscou-se obter uma percepção dinâmica de como evoluíram tais fatores sob a óptica da população, já que a história de vida dos entrevistados se confunde com a história recente do município.

Dessa forma, o objetivo principal do presente estudo é buscar entender quais foram os principais motivos que levaram as cidades estudadas a estarem atualmente experimentando baixíssimos padrões de desenvolvimento e altos níveis de pobreza e exclusão social, como destaca o trabalho de Lemos (2012).

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

De modo a tornar mais claro o restante do trabalho e embasar os resultados encontrados nesta pesquisa, serão discutidos nesta Seção alguns conceitos e definições relacionados com os temas e problemas abordados aqui. Os conceitos apresentados serão o de desenvolvimento e crescimento econômico, desenvolvimento humano, desenvolvimento sustentável e pobreza.

Além disso, serão discutidas algumas teorias que sustentam e dão embasamento aos resultados encontrados e apresentados mais adiante na seção dedicada aos resultados. Serão abordados os conceitos em que se ancoram os elevados padrões de desigualdades no desenvolvimento econômico; da importância do capital humano; dos níveis de corrupção e da vulnerabilidade climática da região Nordeste e do Ceará.

2.1Crescimento e Desenvolvimento Econômico

Não são necessários muitos arcabouços teóricos ou extensa bibliografia para definir o conceito de crescimento econômico. Este é, na verdade, bastante simples de ser definido e mensurado. Crescimento econômico refere-se basicamente a um incremento no nível de produção ou renda em termos agregados ou médios de uma economia. Ele pode ser medido por indicadores de quantidade, como o PIB ou o PIB per capita de um País, Estado ou Município. Elevação das exportações, crescimento do setor industrial ou elevação da produção agrícola também são exemplos de indicadores quantitativos que traduzem, de maneira muito simples e clara, o conceito de crescimento econômico. Pode-se acrescentar ainda que esta ideia de crescimento econômico tem origem teórica no trabalho de Adam Smith que, por muito tempo, inspirou uma linha de pensamento que considerava crescimento econômico um sinônimo ou equivalente do conceito de desenvolvimento econômico, cuja definição é muito mais complexa, como será visto a seguir.

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No geral, pode-se dizer que, diferentemente de crescimento econômico que pode ser mensurado apenas com indicadores quantitativos, o conceito de desenvolvimento econômico é muito mais complexo e, para seu entendimento, é necessário que se considere uma gama de aspectos quantitativos e qualitativos, os quais nunca poderão ser totalmente traduzidos com rigor por meio de índices, por mais completos e complexos que sejam. O crescimento econômico, na verdade, está inserido no conceito de desenvolvimento, pois o crescimento é necessário ao desenvolvimento, mas não suficiente. Segundo Vasconcellos e Garcia (1998):

O desenvolvimento, em qualquer concepção, deve resultar do crescimento econômico acompanhado de melhoria na qualidade de vida, ou seja, deve incluir “as alterações da composição do produto e a alocação de recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições de saúde, alimentação, educação e moradia) (VASCONCELLOS e GARCIA, 1998, p. 205)

Outro importante conceito que interessa introduzir neste momento diz respeito à visão shumpeteriana. Segundo Schumpeter (1997),

Entenderemos como desenvolvimento, apenas as mudanças da vida econômica que não lhe foram impostas de fora, mas que surjam de dentro, por sua própria iniciativa. Se concluir que não há tais mudanças emergindo na própria esfera econômica, e que o fenômeno que chamamos de desenvolvimento econômico é na prática baseado no fato de que os dados mudam e que a economia se adapta continuamente a eles, então diríamos que não há nenhum desenvolvimento econômico. Pretenderíamos com isso dizer que o desenvolvimento econômico não é um fenômeno a ser explicado economicamente, mas que a economia, em si mesma, seu desenvolvimento, é arrastado pelas mudanças do mundo à sua volta, e que as causas e, portanto, a explicação do desenvolvimento devem ser procuradas fora do grupo de fatos que são descritos pela teoria econômica (SCHUMPETER, 1997. p. 74).

Pode-se dizer que essa ideia shumpeteriana está bem alinhada com o pensamento a respeito de desenvolvimento endógeno, que – de um ponto de vista regional segundo Amaral Filho (2001) –pode ser entendido como:

(...) um processo de crescimento econômico implicando em uma contínua ampliação da capacidade de agregação de valor sobre a produção bem como da capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do excedente econômico gerado na economia local e/ou a atração de excedentes provenientes de outras regiões. Este processo tem como resultado a ampliação do emprego, do produto e da renda do local ou da região. (AMARAL FILHO, 2001, p.2)

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apresentar esse conceito, que o aborda de um ponto de vista regional, pois é esse o tipo de desenvolvimento – como descrito acima – que se deseja observar nas cidades estudadas e em muitas outras do interior cearense. Um desenvolvimento que seja promovido e liderado pela população através de um processo de transformação e melhorias em suas capacidades. Esta abordagem humana do desenvolvimento será mais trabalhada na continuidade da presente seção.

É importante observar ainda que boa parte das melhorias alcançadas por essas populações mais recentemente se deu por conta de programas assistencialistas. Tais políticas desempenham importante papel na amenização dos efeitos mais agudos da pobreza no curto prazo – contudo não se caracterizam como promotoras de desenvolvimento.

2.2Desenvolvimento Humano

Mais recentemente, a partir dos anos 1990, a Organização das Nações Unidas (ONU) introduziu um novo aspecto para se adicionar à concepção de desenvolvimento que se tinha até então. Surgiu nessa época o conceito de desenvolvimento humano, uma orientação conceitual que procura dar maior atenção e centralidade ao ser humano, de forma que o proposito do desenvolvimento seja o bem-estar e felicidade da população, e não simplesmente a acumulação de riquezas.

Contudo, essa preocupação com o alargamento das capacidades e liberdades das pessoas, tendo-as como maiores riquezas de uma nação, começou a ser modelada e assimilada bem antes, em 1948, com a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Tal documento trouxe à tona a ideia de que todas as pessoas têm direitos aos “arranjos sociais que as protegem dos piores abusos e privações – e que assegurem a liberdade de uma vida digna”. Conceito bastante relacionado com a ideia de desenvolvimento humano, o qual é um processo que melhora as capacidades humanas e alarga as escolhas e oportunidades.

Segundo o HDR (Human Development Report) de 2000, os direitos humanos têm muito a contribuir com o desenvolvimento humano, como elucida o trecho a seguir.

Os direitos humanos podem acrescentar valor à agenda do desenvolvimento. Chamam a atenção para a responsabilidade de respeitar, proteger e cumprir os direitos humanos de todas as pessoas. A tradição dos direitos humanos traz os instrumentos legais e as instituições — leis, sistema judicial e processo de litígio — enquanto meios que asseguram as liberdades e o desenvolvimento humano.

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transferir a prioridade para os mais pobres e excluídos, especialmente para privações devidas à discriminação. Também canaliza a atenção para a necessidade de informação e de voz política para todas as pessoas, como uma questão de desenvolvimento — e para os direitos civis e políticos, como partes integrantes do processo de desenvolvimento. (Síntese do RDH 2000, ONU, p.3)

Completando o raciocínio, o documento estabelece também como o desenvolvimento humano auxilia no alcance dos diretos humano. Percebe-se então que tais conceitos estão estreitamente relacionados.

O desenvolvimento humano, por seu lado, traz uma perspectiva dinâmica de longo prazo ao cumprimento dos direitos. Canaliza a atenção para o contexto socioeconômico em que os direitos podem ser realizados — ou ameaçados. Os conceitos e instrumentos do desenvolvimento humano proporcionam uma avaliação sistemática dos constrangimentos econômicos e institucionais postos à realização dos direitos — assim como dos recursos e políticas disponíveis para os superar. O desenvolvimento humano contribui, assim, para construir uma estratégia de longo prazo para a realização dos direitos.

Em resumo, o desenvolvimento humano é essencial para a realização dos direitos humanos e os direitos humanos são essenciais para o desenvolvimento humano pleno. (Síntese do RDH 2000, ONU, p.3)

Esta é, portanto, uma importante recomendação a se ter em mente para guiar iniciativas de promoção do desenvolvimento.

2.3Desenvolvimento Sustentável

Segundo Sachs (2008), desde os anos 1970, a atenção dada à problemática ambiental levou a uma ampla “reconceitualização” na ideia que se tem sobre desenvolvimento. Segundo esse autor, a definição de desenvolvimento sustentável surgiu recentemente a partir do conceito de ecodesenvolvimento definido por Sachs (1986) a partir de uma análise das relações existentes entre meio social e meio ambiente da seguinte maneira:

Em resumo, o ecodesenvolvimento é um estilo de desenvolvimento que, em cada ecorregião, insiste nas soluções específicas de seus problemas particulares, levando em conta os dados ecológicos da mesma forma que os culturais, as necessidades imediatas como também aquela a longo prazo. Opera, portanto, com critérios de progresso relativizados a cada caso, ai desempenhando papel importante a adaptação ao meio postulada pelos antropólogos. Sem negar a importância dos intercâmbios – retornaremos ainda a este item -, o ecodesenvolvimento tenta reagir à moda predominante das soluções pretensamente universalistas e das fórmulas generalizadas. Em vez de atribuir um espaço excessivo à ajuda externa, da um voto de confiança à capacidade das sociedades humanas de identificar os seus problemas e de lhes dar soluções originais, ainda que se inspirando em experiências alheia. (SACHS, 1986, p18)

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recursos naturais, apesar de este ser um elemento de fundamental importância – entre outros – para o desenvolvimento sustentável e sustentado.

Pode-se perceber aqui uma estreita relação com o conceito de desenvolvimento endógeno apresentado na seção anterior. Pode-se até dizer que o conceito de desenvolvimento endógeno está inserido no de desenvolvimento sustentável ou ecodesenvolvimento, tendo em vista que, se as populações de cada localidade não forem os agentes principais e transformadores desse processo, se corre o risco de que tal fenômeno não seja perpetuado e continuado para as futuras gerações, pois desenvolvimento gerado por estímulos externos ou transferências de recursos pode extinguir-se diante interesses políticos ou mudanças de planos ou estratégias.

De modo a ilustrar melhor o que se quer transmitir, é relevante destacar com mais detalhes uma das características do ecodesenvolvimento que ressalta bem a importância da abordagem no desenvolvimento humano.

Por ser o homem o recurso mais precioso, o ecodesenvolvimento deverá, antes de tudo, contribuir para sua realização. Emprego, segurança, qualidade das relações humanas, respeito à diversidade das culturas, ou, se se prefere, implementação de um ecossistema social considerado satisfatório são partes integrantes do conceito. Estabelece-se uma simetria entre a contribuição potencial da ecologia e a da antropologia social ao planejamento. (SACHS, 1986, p16)

É interessante ainda atentar para outro ponto bastante relevante quando se trata de localidades com alto nível de pobreza, que é o suprimento das necessidades básicas da população, pois não faz sentido, por exemplo, questionar o abate excessivo de árvores em uma região ou a caça de animais ameaçados de extinção se as pessoas que lá vivem não têm alternativa para sobrevivência. Ou seja, é crucial prover condições básicas de dignidade e bem-estar como passo inicial para promover práticas relacionadas ao ecodesenvolvimento em regiões subdesenvolvidas.

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Em 1987, três anos depois da criação da Comissão sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento pela ONU, chefiada pela Primeira-Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, foi apresentado o relatório final desses estudos, intitulado de “Our Common

Future”, também conhecido como “Relatório de Brundtland”. Tal documento foi elaborado

após três anos de audiências com líderes do governo e discussões com o público geral e trouxe a ideia central de que desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades.

O documento trouxe em seu desenvolvimento algumas medidas para serem adotadas pelos países de modo a promoverem um desenvolvimento sustentável. Ei-los: i) limitação do crescimento populacional; ii) garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo; iii) preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; iv) diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis; v) aumento da produção industrial nos países não industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas; vi) controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades menores; vii) atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia)

Segundo Lemos (2012), compatibilizar as ideias contidas no Relatório de Brundtland com as regras do sistema capitalista da maneira como este se apresenta atualmente é bastante complicado, pois são interesses que caminham em direções opostas. Desse modo, harmonizar o desenvolvimento econômico com equidade e respeito aos recursos naturais se apresenta como um grande desafio.

Dessa maneira, segundo ainda as sugestões do Relatório de Brundtland, as entidades internacionais adotariam esta nova concepção de desenvolvimento, que tentava compatibilizar eficiência econômica com justiça social e com prudência ecológica. Tornar compatíveis estas concepções se mostra de difícil praticidade, à medida que eficiência econômica significa maximização de lucro e acumulação de capital. E justiça social e prudência ecológica caminham em direções opostas a estes objetivos. Para haver justiça social, deve-se avaliar se há compatibilidade com os objetivos dos empresários, que é a obtenção de retornos aos seus investimentos. A prudência ecológica, por sua vez, é incompatível com o imediatismo desses objetivos de maximização de retornos e de acumulação. Assim, parece-nos ser esta uma tentativa bastante difícil de acontecer dentro dos preceitos da economia em que o mercado está soberano e acima de quaisquer lógicas ou interesses mais gerais das populações como um todo, sobretudo daquelas mais carentes. (LEMOS, 2012, p.49)

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2.4Breve discussão sobre o conceito de Pobreza

Existe na literatura acadêmica um vasto acervo e grande número de pesquisadores empenhados em estudar o fenômeno da pobreza. Muitas são as definições e tal problema social pode ser entendido a partir de diferentes aspectos.

Segundo uma abordagem mais reducionista, esse fenômeno poderia ser entendido simplesmente como uma insuficiência de renda para satisfazer necessidades mínimas de sobrevivência. Visto dessa forma, considera-se apenas o fator monetário e o poder de compra ou carência material de uma família ou individuo. Dentro desse contexto, pode-se utilizar a ideia de linha de pobreza para se identificarem os indivíduos considerados pobres. Assim, considera-se um determinado nível mínimo de rendimento pessoal e familiar e fica estabelecido que qualquer indivíduo ou família, cuja renda esteja abaixo desse patamar, será considerado pobre.

A linha de pobreza pode ser estimada de acordo com a ideia de pobreza absoluta. Desse modo, ela ancora-se em um padrão de renda mínimo que traduz, geralmente, a possibilidade de acesso a determinado padrão nutricional. Sob essa abordagem, tem-se a vantagem de se poderem comparar diferentes períodos de tempo, o que permite acompanhar a evolução da pobreza, apesar de haver dificuldades em calibrá-la mediante economias com intensa taxa de crescimento. (VINHAIS e SOUZA, 2006, p.5)

Segundo o Banco Mundial, um indivíduo é considerado pobre se auferir uma renda diária per capita inferior a um dólar. Esta concepção, apesar de possibilitar a comparação entre países, é bastante criticada pelo seu caráter simplório como determina a pobreza e por existirem diversos fatores de diferenciação entre os países que determinam grandes discrepâncias com respeito ao custo de vida.

Existe ainda outra forma de especificar uma linha de pobreza, considerando-se, agora, o conceito de pobreza relativa. Sob essa abordagem, um indivíduo é considerado pobre se seu rendimento está abaixo de determinada percentagem da renda média auferida pela população. Tem-se assim a formação de um grupo de pessoas consideradas pobres em relação ao rendimento médio total da população. Essa forma de mensurar e analisar a pobreza é importante porque leva em consideração os aspectos distributivos da renda. Contudo, tem-se a desvantagem da impossibilidade de comparação dos níveis de pobreza ao longo dos anos, pois a linha é alterada a cada vez que ocorre uma alteração na distribuição de renda da população.

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unidimensional do fenômeno. Segundo Sen (2000), a pobreza deve ser entendida como “uma privação de capacidades básicas, e não apenas como baixa renda” (SEN, 2000, p.35). Por

“capacidade”, o autor considera a aptidão ou a competência que as pessoas têm de “levar o

tipo de vida que elas valorizam”.

Visto dessa forma, o conceito de pobreza é bem mais amplo que a simples análise baseada na privação do acúmulo de bens e poder de compra, apesar de esse ser um aspecto muito importante para sua explicação, como salienta o autor.

A perspectiva da pobreza como privação de capacidades não envolve nenhuma negação da ideia sensata de que a renda baixa é claramente uma das causas principais da pobreza, pois a falta de renda pode ser uma razão primordial da privação de capacidades de uma pessoa.

Uma renda inadequada é, com efeito, uma forte condição predisponente de uma vida pobre. (SEN, 2000, p.109)

Como já se pode perceber, para o autor, a renda não é o único instrumento de geração de capacidades. Sua abordagem caracteriza-se, na verdade, por ser uma análise multidimensional do problema, elencando diversas maneiras de como a privação de capacidades elementares pode refletir na vida das pessoas: morte prematura, analfabetismo, morbidez persistente, subnutrição, entre outras deficiências.

Ainda segundo o autor, as capacidades promovem a possibilidade de as pessoas assumirem a “posição de agentes”, utilizando o termo “agente” no sentido de “alguém que age e ocasiona mudança e cujas realizações podem ser julgadas de acordo com seus próprios valores e objetivos, independente de as avaliarmos ou não também segundo algum critério externo.” (SEN, 2000, p.33). Neste ponto, Sen ressalta a importância do desenvolvimento humano em sua abordagem, incumbindo às pessoas o papel de reais transformadores de suas realidades.

A bibliografia apresentada e discutida até este ponto trouxe esclarecimentos e conceitos importantes a respeito de temas gerais necessários para o prosseguimento e desenvolvimento do trabalho.

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2.5História e características da desigualdade no Brasil e no Ceará

As desigualdades de renda e de oportunidades tem sido, há muito tempo, alguns dos problemas mais sérios e persistentes enfrentados no país. A Constituição de 1988 evidenciou essa preocupação e trouxe à tona a necessidade de combater esse fenômeno que, atrelado a ele, traz muitas outras mazelas, como a pobreza e a violência – não fosse ele ético e moralmente inaceitável por si só. No Título I da Carta Magna de 1988, que trata dos princípios fundamentais, está estabelecida a seguinte redação: “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...) III - erradicar a pobreza e a

marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (BRASIL, 1998, p. 13).

Em plena década de 1980, depois de experiências como o Plano de Metas, a Ditadura Militar e o primeiro e segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), as desigualdades cresciam bastante, e o governo de então mostrou preocupação em reparar um dano causado por uma sequência de estratégias que concentraram os investimentos do País nas regiões Sul e Sudeste para alcançar o objetivo de provocar o crescimento industrial no Brasil – ou em parte dele. Isso contribuiu bastante para incrementar as já extremas diferenças regionais em termos de renda e infraestrutura.

É importante destacar que, além de as desigualdades serem grandes entre as regiões brasileiras, esse fenômeno também se apresenta dentro dos estados e dos municípios. Segundo dados do IBGE, compilados em documento publicado pelo IPECE, o Sudeste tem uma contribuição de 55,4% no PIB nacional; 44% é a contribuição apenas de São Paulo e Rio de Janeiros. No Nordeste – região que participa com apenas 13,5% do PIB nacional – Bahia e Pernambuco (Estados com maior participação no PIB brasileiro da região) têm somados aproximadamente 6,6% desta participação; os outros sete estados correspondem juntos com 6,9%. Destaque para Alagoas e Sergipe, que participam com apenas 0,65% e 0,63%, respectivamente.

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Com respeito às suas especificidades, a desigualdade no Brasil tem características bastante peculiares, que não se encontram em outros países no mundo. Segundo destacam Diniz e Arraes (2005, p. 6), a primeira característica marcante é o fato de que, apesar dos altos níveis de desigualdades, o Brasil não é um País pobre; mas, sim, um país com muitos pobres. É mais que sabido que o País tem plena capacidade de gerar riqueza. O PIB nacional é um dos maiores entre os países em desenvolvimento, e a renda per capita nacional é comparável à de países de renda mediana, mas esta renda é tão mal distribuída – tanto entre as regiões como entre cidades do mesmo estado – que se formou ao longo dos anos uma grande quantidade de pobres.

Ainda segundo os autores citados acima, a segunda característica destacada acerca da desigualdade no Brasil é sua persistência ao longo do tempo. Durante as décadas de 1980 e 1990, pode-se observar uma elevação nos níveis de desigualdade de renda. Mais recentemente pode-se observar uma diminuição desse fenômeno, mas o nível atualmente é quase o mesmo de aproximadamente trinta anos atrás. No Gráfico 1, pode-se observar essa tendência.

Gráfico 1: Evolução das Desigualdades de Renda, captada pelo Índice de Gini, no Brasil, Nordeste e Ceará no período de 1981 a 2009.

Fonte: Ipeadata

O PIB per capita das cidades estudadas nesta pesquisa se encontram bem abaixo da média cearense. Na cidade de Choró, a renda anual média auferida pela população é 41% da média do Estado; em Itatira, essa relação é de 46% e de 41% em Ibaretama. Isso na verdade se repete em outras 178 cidades do Estado. Apenas as cidades de Aquiraz, Fortaleza, Horizonte, Maracanaú, São Gonçalo do Amarante e Sobral auferem renda per capita média

0,5 0,52 0,54 0,56 0,58 0,6 0,62 0,64 0,66 0,68

Ceará

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superior à do Estado. Esta realidade é ainda mais preocupante, pois se sabe que, além de a renda percapita média ser baixa, ela também é extremamente mal distribuída. No Gráfico 2, mostra-se a evolução do PIB percapita do Ceará e das três cidades estudadas.

Gráfico 2: Evolução da renda per capita média, em valores correntes, para o Ceará e cidades estudadas no período de 1999 a 2009.

Fonte: IBGE e IPECE

2.6Desigualdades e o Crescimento econômico

É essencial neste momento destacar a relação entre desigualdade e crescimento econômico. No presente estudo, dar-se-á maior destaque especificamente à abordagem que trata do efeito que uma desigualdade inicial na propriedade de terras terá sobre o crescimento subsequente de uma região, contudo será feito primeiramente uma análise mais ampla do tema.

A preocupação dos economistas para desvendar a relação que existe entre esses dois fenômenos não é recente. Em 1955, Kuznets escreveu seu trabalho que tratava da relação de U invertido que existe entre crescimento e desigualdade. Segundo ele, no início do processo, quando as pessoas migram do campo para a cidade, as desigualdades crescem e em um momento posterior, quando se alcança alta produtividade na indústria urbana, a renda média da população tende a crescer. Albert Hirschman, em 1961, também desenvolveu teoria na qual afirma que o crescimento econômico é desequilibrado e tende a ser concentrador de renda no início.

R$1.000,00 R$2.000,00 R$3.000,00 R$4.000,00 R$5.000,00 R$6.000,00 R$7.000,00 R$8.000,00 R$9.000,00

(23)

Só a partir dos anos 1980, começou-se a pensar nos impactos que a distribuição de renda tem sobre o crescimento econômico. Foram vários os autores que escreveram sobre o tema, e a relação negativa que a desigualdade tem sobre o crescimento aparece com demasiada regularidade nos resultados obtidos. Contudo, são relevantes também os resultados que encontraram relação inversa. Segundo Barro (1999, p.15), podem-se dividir as teorias que explicam essa relação em quatro grupos de modelos; são eles: o modelo de taxa de poupança, o modelo de imperfeições no mercado de crédito, o modelo de economia política e o modelo de agitação social.

O modelo de imperfeições no mercado de crédito e o modelo de agitação social revelam uma relação negativa entre desigualdade de renda e crescimento econômico. O primeiro diz que a assimetria de informações no mercado de crédito leva à perda de projetos rentáveis que não são apoiados financeiramente devido à falta de garantias por parte da população excluída. Dessa forma, apenas os projetos de empresários com alto nível de riqueza seriam financiados pelo mercado de crédito. Essa falha no mercado gera uma perda de investimentos da classe da população mais pobre (a mais necessitada), restringindo então a potencial capacidade empresarial da população. Outro detalhe a se mencionar é que a restrição ao crédito pode influenciar negativamente a possibilidade de a população investir em capital humano e qualificação, outro aspecto que tende a diminuir o potencial crescimento econômico.

O modelo da agitação social defende que alto nível de desigualdade na distribuição de renda gera instabilidade sociopolítica e motiva os mais excluídos a se engajarem em atividades não produtivas e onerosas para a sociedade, como crimes, drogas e contrabando. Além de aumentarem os gastos do governo com ações contra a violência, essas pessoas engajadas em atividades ilícitas estariam usando sua força de trabalho de maneira improdutiva, diminuindo assim o potencial crescimento econômico. A insegurança com respeito aos direitos da propriedade privada também pode gerar efeitos negativos sobre o investimento, outro fator que prejudicaria o crescimento econômico.

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crescimento. É importante destacar que essa premissa pressupõe que a economia em questão é fechada e tem unicamente a poupança interna como fonte de investimentos.

O modelo de economia política usa a teoria do eleitor majoritário. Neste modelo, em uma economia bastante desigual, o eleitor mediano – desprovido de renda – tenderia a apoiar nas urnas as propostas que tenham a aspiração de redistribuição de renda. Essa redistribuição geraria efeitos negativos no processo de acumulação de capital, e isso causaria menores possibilidades de crescimento econômico.

Utilizando dados dos municípios brasileiros, Zilberman (2004) analisa a relação entre desigualdade e crescimento no Brasil. Seu trabalho tem o trunfo de utilizar uma amostra relativamente grande, podendo então controlar a robustez dos resultados. Outro ponto positivo em seu trabalho é a padronização dos dados, já que são todos coletados utilizando os mesmo métodos. Segundo o autor, os resultados encontrados foram bastante robustos, pois “o efeito da desigualdade inicial no crescimento posterior manteve-se significativo e negativo nas

diversas especificações testadas” (ZILBERMAN, 2004, p.50).

Castro e Júnior (2006) também testam como essa relação acontece no Brasil, utilizando dados dos Estados brasileiros no período de 1986 a 2001. Contudo, eles usam uma metodologia desenvolvida por Banerjee e Duflo (2003), a qual desafia todos os outros autores anteriores desta linha de pesquisa ao considerar que a relação existente entre desigualdade inicial e crescimento subsequente é, na verdade, não linear. Segundo os autores, “variações na desigualdade são provavelmente correlacionadas com uma variedade de fatores não

observáveis que são associados com o crescimento” (CASTRO e JÚNIOR, 2006, p.38).

Os resultados encontrados por Castro e Júnior (2006) corroboram com os encontrados por Banerjee e Duflo (2003). Segundo os autores, assumindo a não linearidade das variáveis, qualquer variação na desigualdade (para pior ou para melhor) provoca diminuição no crescimento subsequente. Considerando ainda a linearidade, a relação é negativa na maioria dos testes realizados. De qualquer forma, o crescimento posterior é prejudicado.

Tanto com a realização de testes impondo uma estrutura linear para os dados quanto para as estimações não-lineares, verifica-se que uma maior desigualdade de renda prejudica o crescimento econômico em um país como o Brasil. Com a realização dos testes não-lineares pode-se constatar, também, que variações na desigualdade de renda estão associadas com um menor crescimento. (CASTRO e JÚNIOR, 2006, p.58)

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encontrados nos vários estudos a respeito são conflitantes, talvez por diferenças de amostra, métodos e modelos utilizados. Contudo, pode-se dizer que uma unanimidade de resultados aparece quando é feita a troca da variável desigualdade de renda por desigualdade de terras.

Deininger e Squire (1998) revelam um importante resultado dessa relação. Utilizando uma nova base de dados mais confiáveis de índice de Gini para diferentes países e dados do censo mundial de agricultura, eles mostram que a distribuição inicial de ativos (terras) apresenta resultados muito mais robustos que a renda para explicar o crescimento subsequente. Eles encontram uma relação negativa e significante entre desigualdade inicial de renda e crescimento subsequente. No entanto, o coeficiente perde a significância quando adicionam variáveis dummies regionais. Já quando os autores substituem a variável de renda por terras, o coeficiente se mantém significativo estatisticamente, mesmo adicionando variáveis dummies regionais. Isso sugere que, diferente da distribuição de terras, a distribuição de renda perde a importância na explicação do crescimento subsequente quando adicionados outros fatores regionais.

Segundo os autores citados, o uso de um indicador de distribuição de terras é bastante indicado por vários motivos. Primeiro, porque em economias agrárias a posse da terra é fator preponderante para explicar a capacidade produtiva e de investimento das pessoas. A capacidade de investimento se torna bastante prejudicada devido à restrição à posse da terra. Se possuíssem a terra, poderiam usá-la como garantia para operações de crédito, que poderiam financiar capital humano ou físico.

Outro ponto a se observar é que os dados de distribuição de terras são menos suscetíveis aos erros, e mais facilmente verificados. Além disso, amostras que tratam de distribuição de terras estão disponíveis em um maior número de países por um período de tempo bem maior que os dados sobre renda.

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Gráfico 3. Relação entre lucratividade da terra e o tamanho do estabelecimento – centro-leste cearense

Fonte: Barros, Mendonça, Deliberalli e Lopes (2000, p.667)

Gráfico 4. Relação entre lucratividade da terra e o tamanho do estabelecimento – sul cearense

Fonte: Barros, Mendonça, Deliberalli e Lopes (2000, p.667)

2.7Capital Humano

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distribuídos, o incremento do capital humano é o fator provedor da possibilidade de quebra dos ciclos de pobreza observados em regiões, como o Nordeste.

É relevante neste momento definir o conceito de capital humano, de modo que fique clara a continuidade desta parte do trabalho. Para tanto, não se podem deixar de citar os trabalhos seminais de Becker (1964) e Schultz (1962). Estes autores formaram a base para a teoria do capital humano, sugerindo que o trabalho, quando qualificado, é a mais importante fonte de aumentos na produtividade na economia. Após eles, vários outros autores tentaram desvendar a relação do capital humano com vários outros aspectos da economia, como crescimento econômico, desigualdades e pobreza.

Becker (1994), na introdução do segundo capítulo, na terceira edição de seu livro,

A Theoretical and Empirical Analysis with Special Reference to Education”, define do que

se trata o capital humano em sua teoria.

Schooling, a computer training course, expenditures on medical care, and lectures on the virtues of punctuality and honesty are capital too in the sense that they improve health, raise earnings, or add to a person's appreciation of literature over much of his or her lifetime. Consequently, it is fully in keeping with the capital concept as traditionally denned to say that expenditures on education, training, medical care, etc., are investments in capital. However, these produce human, not physical or financial, capital because you cannot separate a person from his or her knowledge, skills, health, or values the way it is possible to move financial and physical assets while the owner stays put. (BECKER, 1994, p.15)

Segundo Becker (1994), o capital humano engloba não apenas a ideia de educação ou treinamento, mas também cuidados com a saúde, hábitos e cultura. Tais aspectos se encaixam no conceito tradicional de capital, pois todos incrementam a produtividade do trabalhador de alguma maneira – e consequentemente sua renda, segundo a teoria neoclássica. Ainda segundo o autor, o capital humano não está intrinsicamente ligado ao fator monetário. Nada na teoria do capital humano implica que incentivos monetários são mais importantes que os culturais ou os não monetários. (BECKER, 1994, p.21).

Seguindo a ideia desse autor e assumindo a importância deste elemento no crescimento econômico, Mankiw, Romer e Weil (1992) propõem a inclusão de uma variável que represente capital humano no modelo de Solow e concluem que, adicionada esta variável, a performance do modelo aumenta consideravelmente.

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que uma variação de 10% na taxa de crescimento do capital humano faz a taxa de crescimento da renda variar em aproximadamente 7,8%, enquanto para o capital físico o retorno é de 1,35%. Tais estimativas são robustas em todas as especificações do modelo. (Oliveira, 2006, p.19)

2.7.1 Educação

Dentre os elementos que compõem o conceito de capital humano, a educação é, provavelmente, o mais importante. Isso se dá porque além de desenvolver e qualificar o ser humano, aumentando sua produtividade, ainda o capacita para o alcance de várias outras necessidades, direitos e liberdades, pois amplia seu discernimento. Essa característica transformadora faz da educação um dos temas mais comentados na agenda de pesquisa dos autores que se propõem estudar o processo de desenvolvimento econômico.

Não há duvidas com respeito à ordem de causalidade quando se fala da relação entre educação e desenvolvimento. Já é amplamente conhecido por todos os efeitos positivos que um melhor nível educacional da população tem sobre o desenvolvimento econômico de qualquer cidade, Estado ou País. Investimento em educação é uma conhecida e importante ferramenta para promoção de melhorias sociais. Países, que em momentos anteriores priorizaram este elemento em seus planos de desenvolvimento, hoje colhem os frutos. Coreia do Sul e Japão ilustram bem essa tendência.

O investimento em educação é sempre importante em qualquer país, estado ou cidade que deseje promover melhores padrões de desenvolvimento econômico, seja ele pobre, desigual, em desenvolvimento ou desenvolvido. É claro que outras áreas devem ser também consideradas. Contudo, o investimento em educação é aquele que traz maiores efeitos de economia de escala e externalidades positivas.

2.7.2 Outros aspectos do Capital Humano

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É interessante destacar o círculo virtuoso que existe entre educação e saúde. Uma população mais saudável tem melhores condições de se dedicar aos estudos, assim como uma sociedade mais esclarecida tende a praticar hábitos mais saudáveis. Investimentos nessas duas áreas são importantes ferramentas no desafio da promoção de desenvolvimento em regiões carentes.

Aspectos que estão fortemente ligados à saúde da população devem ser analisados com atenção neste momento. Cuidados com saneamento básico, além de melhorarem o bem-estar da população, também previnem prováveis gastos em saúde no tratamento de doenças relacionadas à falta de esgotamento sanitário adequado, utilização de água imprópria para o consumo e falta de coleta sistemática de lixo. Segundo o Relatório de desenvolvimento Humano de 2006, uma estimação feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que a cada 1 (um) dólar investido em saneamento e higiene, nos países de baixo rendimento, observa-se um retorno de 8 (oito) dólares, em média.

Um estudo realizado em 2010 pela Instituição Trata Brasil em parceria com a Fundação Getúlio Vargas releva várias informações que ajudam a compreender a importância dessa problemática:

1. Verificou-se que em apenas um ano foram despendidos pelas empresas R$ 547 milhões em remunerações referentes a horas não-trabalhadas de funcionários que tiveram que se ausentar de seus compromissos em razão de infecções gastrintestinais. (sic)

2. A probabilidade de uma pessoa com acesso à rede de esgoto se afastar das atividades por qualquer motivo é 6,5% menor que a de uma pessoa que não tem acesso à rede. O acesso universal teria um impacto de redução de gastos de R$ 309 milhões nos afastamentos de trabalhadores.

3. Se for dado acesso à coleta de esgoto a um trabalhador sem esse serviço, espera-se que a melhora geral de sua qualidade de vida ocasione uma produtividade 13,3% superior, possibilitando o crescimento de sua renda em igual proporção.

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5. A universalização do acesso à rede de esgoto pode trazer uma valorização média de até 18% no valor dos imóveis – esse seria o ganho de uma família que morava em imóvel em uma região que não tinha acesso à rede e que passou a ser beneficiada com os serviços.

6. Em 2009, dos 462 mil pacientes internados por infecções gastrintestinais, 2.101 morreram no hospital. Se houvesse acesso universal ao saneamento, haveria uma redução de 25% no número de internações e 65% na mortalidade – ou seja, 1.277 vidas seriam salvas. (TRATA BRASIL, 2010, p.4)

2.8Breve resumo sobre o conceito de corrupção e sua relação com o desenvolvimento

Segundo Silva (1996), a palavra corrupção tem origem no latim corruptione e denota decomposição, putrefação, depravação, desmoralização, sedução e suborno. Podem-se identificar práticas corruptas em vários sentidos e em diversas situações, tanto no setor público como no privado, entre políticos ou sociedade civil comum. Quando praticada no setor privado, o mercado tende a punir o agente, mas, quando praticado no setor público, toda a sociedade acaba sofrendo as consequências.

Neste trabalho será destacada apenas a corrupção no que diz respeito a sua ocorrência do setor público. A definição do Banco Mundial que diz ser a corrupção “o abuso do poder público para benefício privado”, apesar de simples, é bastante completa e elucidativa no que se quer abordar. Podem-se destacar neste ponto os casos em que verbas federais enviadas às prefeituras acabam sendo desviadas por administradores locais para benefício unicamente privado.

Existem também os casos em que a corrupção se dá entre dois agentes: um corruptor e outro corrompido. Nesta abordagem através do monopólio de algum serviço público ou por influência, um agente exige propina para execução de determinado serviço ou para concessão de determinada vantagem ou interesse. Estas práticas e comportamentos dentro da máquina do governo provocam prejuízo à sociedade, pois trazem desincentivos ao investimento e, muitas vezes, transformam a prestação de serviços públicos essenciais ao desenvolvimento num jogo de interesses quase nunca favoráveis ao bem-estar geral. A definição elaborada por Silva (1996) sobre corrupção na esfera pública detalha o que se quer abordar. Segundo ele:

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do fundo público, para a realização de fins estritamente privados. Tal relação envolve a troca de favores entre os grupos de agentes e geralmente a remuneração dos corruptos com o uso da propina e de quaisquer tipos de incentivos, condicionados estes pelas regras do jogo e, portanto, pelo sistema de incentivos que delas emergem. (SILVA, 1999)

Seja desviando recursos seja prejudicando os investimentos e serviços públicos, a prática corrupta provoca perdas à sociedade. Isso agrava ainda mais o problema da escassez de recursos que norteia a maioria das decisões tomadas em economia. Analisando o problema sobre essa óptica, a corrupção pode ser considerada também como uma oportunidade de alguns agentes contornarem este problema da escassez em benefício próprio. Essa, entretanto, não é uma solução ótima, pois traz prejuízos à condição de outros agentes envolvidos: os cidadãos-eleitores.

Com respeito a suas implicações no cenário econômico, não se precisa de muitas justificativas para deduzir que práticas corruptas trazem resultados negativos para o bem-estar geral da população. Reforçando o que já foi comentado aqui e acrescentando outros pontos, pode-se ainda mencionar o que destaca Carraro, Fochezatto e Hillbrecht (2006). Segundo os autores, existem diversas razões pelas quais a corrupção e a economia estão relacionadas. Em primeiro lugar, ao aumentar os gastos e reduzir as receitas públicas, a corrupção pode contribuir para formação de déficits fiscais, o que pode gerar consequências inflacionárias. O segundo ponto destacado é que a existência de corrupção em uma economia pode afugentar investimentos privados, pois tal fator, além de aumentar o custo do investimento, provoca receio quanto ao seu sucesso e retorno, o que culmina por afetar negativamente o crescimento econômico.

Segundo Gupta, Davoodi e Alonso-Terme (1998), a corrupção pode ainda afetar o nível de desigualdade social e pobreza de uma economia. Utilizando dados de diversos países em estágios diferentes de desenvolvimento e fazendo uso de vários índices de corrupção, os autores demonstram que altos níveis de práticas corruptas aumentam as desigualdades de renda assim como a pobreza por meio de vários canais, como:

(32)

ii) redução da progressividade do sistema tributário – a corrupção pode levar à evasão fiscal, fraudes no sistema tributário e isenções que favoreçam os mais influentes e ricos culminando em uma redução da progressividade do sistema tributário e consequente aumento das desigualdades.

iii) redução do alcance e efetividade dos programas sociais – um governo corrupto pode utilizar-se de má fé para beneficiar quem não se enquadra nos planos das políticas de alívio de pobreza e assim diminuir o impacto dos programas de amparo social.

iv) desincentivo à formação de capital humano e redução do acesso à educação – ainda segundo os autores, a evasão fiscal ocorrida devido às práticas corruptas reduz as receitas da administração, reduzindo também o aporte para investimentos em diversas áreas, inclusive educação. O destaque feito pelos autores para este fator ocorre devido à sua importância na formação do capital humano, fator preponderante no crescimento e diminuição da pobreza. Além disso, eles colocam que investimentos em educação são menos priorizados em governos corruptos, pois gastos em educação são menos suscetíveis às práticas de desvio de verbas – citam que construção de hospitais, por exemplo, são de mais fácil proveito para tal atividade – contudo, investimentos em educação não são isentos destas práticas1.

2.9A Corrupção e o problema da mensuração

Apesar do grande engajamento de inúmeros pesquisadores interessados em estudar o fenômeno da corrupção, a literatura ainda possui poucos índices para mensurar o nível de corrupção em determinado País, Estado ou Município. Além disso, a maioria dos índices que estão à disposição considera apenas o caráter subjetivo do problema, pois são baseados na percepção de corrupção pela população. Indicadores desta natureza devem ser analisados com extremo cuidado, pois são muito propensos a revelarem uma realidade oposta ao que realmente se experimenta de corrupção em determinado lugar. Segundo destaca Lopes (2011), apesar de haver alto nível de correlação entre índices de percepção e indicadores objetivos de corrupção, alguns fatores podem levar a grandes vieses na percepção deste

1 Em 2002 foi manchete em vários jornais do Ceará o escândalo da merenda escolar que ocorreu no Município

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fenômeno. Baixo nível educacional da população, assim como pouca participação social na comunidade e no processo político podem alienar os cidadãos, passando-lhes uma falsa percepção sobre o problema.

A ONG Transparência Internacional divulga anualmente um relatório em que apresenta o Corruption Perceptions Index (CPI) um indicador subjetivo de corrupção que capta a percepção da população de inúmeros países no mundo. Deve-se destacar que, apesar de ser baseado em dados subjetivos, este indicador – entre outros da mesma natureza – fornece informações de vários países, aumentando a amostra e dando mais robustez aos resultados encontrados.

São poucos os autores que propõem uma metodologia de cálculo utilizando de dados objetivos para aferir corrupção. Entre esses, pode-se citar o trabalho de Lopes (2011). O autor utiliza dados dos relatórios provenientes das auditorias realizadas pela Controladoria Geral da União (CGU) nos municípios. Essas auditorias são oriundas do Programa de Fiscalização a partir de sorteios públicos (criada através da Portaria nº247 de 20 de Junho de 2003) que tem como objetivo fiscalizar os recursos públicos federais aplicados ou repassados aos órgãos de administração dos Estados e Municípios, entre outras entidades habilitadas para tal. (LOPES, 2011, p.28)

Utilizando as informações dos relatórios dessas auditorias, o autor propõe então uma metodologia para o cálculo de dois indicadores objetivos para mensuração de corrupção: um monetário e outro numérico. No indicador numérico, ele relaciona o número de casos de corrupção e o número total de investigações; já no monetário, são relacionados os montantes envolvidos em casos de corrupção e o montante total investigado.

(34)

O autor continua a análise dos resultados propondo um modelo econométrico cuja variável dependente é o indicador de corrupção, e as variáveis explicativas são características estruturais dos municípios e dos prefeitos de cada localidade. Os resultados comprovam aquilo que já se esperava: resumidamente pode-se dizer que, quanto melhores forem o nível educacional da população, a infraestrutura dos serviços municipais e o acesso à informação, menores serão os níveis de corrupção. De maneira oposta, quanto maior for a desigualdade de renda, maior será a prática de atos corruptos. (LOPES, 2011, p.41)

Pôde-se constatar então que a população que mais necessita de intervenções governamentais para lhe prover serviços essenciais é a mais afetada por essa doença social. Os resultados apresentados não fornecem a certeza sobre ordem de casualidade das relações, entretanto, assumindo que a corrupção distorce a alocação dos recursos, a luta contra esse fenômeno pode contribuir para que as medidas adotadas pelo governo sejam mais efetivas na luta contra a pobreza.

2.10 Breve histórico do problema e dos conceitos de convivência com o semiárido

Segundo Bar (2006), o interior do Ceará é caracterizado por uma alta concentração de pessoas vivendo da agricultura e por uma baixa produtividade nesse setor, revelando uma alta taxa de desemprego disfarçado no setor agrícola na maioria do interior cearense.

Esse histórico de baixa produtividade na agricultura de subsistência e consequente pobreza dos agricultores que sobrevivem dessa maneira provém dos primórdios da colonização na região. Segundo Andrade (1999), a primeira atividade para colonização do sertão foi a pecuária extensiva, principal fonte do poder dos fazendeiros. Paralelo à criação de gado, tem-se a agricultura de subsistência, principal atividade da população mais excluída que trabalhava sujeita às condições de exploração impostas pelos fazendeiros. Tem-se então a origem do minifúndio improdutivo. Somado às dificuldades climáticas, observa-se neste ponto a provável razão da rusticidade e atraso da atividade agrícola sertaneja.

De acordo com o relatório do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), intitulado de “Uma política de desenvolvimento econômico para o

Nordeste” de 1959, pode-se dividir a realidade da produção do semiárido de então em uma

(35)

atividade do fazendeiro, cuja renda proveniente era quase que completamente apropriada por este.

Interessava ao fazendeiro possuir terras aptas à produção de grãos para subsistência de seus trabalhadores, pois era esse fator que definia a quantidade mão de obra que ele poderia reter e, consequentemente, isso determinava o nível de produção de gado e de algodão de sua fazenda.

Em períodos de secas, é fácil deduzir quem sofria as consequências mais severas. Diante de qualquer período mais extenso de estiagem, os agricultores, debilitados de qualquer técnica ou ferramentas para contornar a situação, chegavam a perder grande parte de sua produção, quando não a perdiam por completo. Os fazendeiros também sentiam os efeitos; tinham de escolher entre vender seus rebanhos por preços reduzidos ou sacrificar suas plantações de algodão (resistentes às estiagens) para alimentar o gado.

A partir do século XVIII, as secas passaram a ser consideradas um problema nacional. A grande mortandade de pessoas na seca de 1877 chamou a atenção do Brasil e, utilizando do artificio de grande miséria e flagelo das populações mais afetadas, formou-se na região o que ficou conhecido como “indústria da seca”, em que os grandes fazendeiros utilizavam de força política e da desgraça alheia para satisfazer interesses próprios.

Por muito tempo, houve no Nordeste políticas governamentais de combate aos efeitos das secas, com as seguintes características, segundo Silva (2003):

a) o caráter emergencial, fragmentado e descontínuo dos programas desenvolvidos em momentos de calamidade pública; b) as ações emergenciais que alimentam a “indústria da seca”; e, c) a solução hidráulica, com a construção de obras hídricas, quase sempre favorecendo empreiteiras e a grande propriedade rural. (SILVA, 2003,)

Ainda segundo Silva (2003), as políticas de combate aos efeitos das secas não resolveram o problema da região, pois, além de favorecerem ao coronelismo, essas políticas também foram guiadas com base num conceito de desenvolvimento reducionista cuja única forma de promoção é o progresso tecnológico associado ao controle dos recursos naturais como única forma de alcançar os objetivos de crescimento econômico e acumulação de bens.

(36)

Ao apresentar esses fatos de modo crítico, o autor não defende a acomodação diante das dificuldades enfrentadas na região. Ele na verdade defende outra abordagem do problema, com políticas baseadas na ideia de convivência com o semiárido, um conceito que trata do assunto de uma maneira mais sustentável e ecológica, considerando melhor as especificidades de cada região. Este novo conceito surgiu por volta dos anos de 1980 e ganhou força em 1990 com um grande envolvimento da sociedade a partir da criação da Associação do Semiárido – ASA, uma rede que engloba atualmente mil organizações da sociedade civil.

(37)

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Nesta Seção serão apresentadas as fontes das informações utilizadas na pesquisa, bem como a forma como foram tratadas para que se conseguisse atingir aos objetivos propostos no estudo.

3.1Fontes dos Dados

Para realização deste trabalho, foram utilizados dados primários e secundários. Estes foram obtidos por meio de fontes de renomada credibilidade, como IBGE, IPEA, IPECE, além de livros, artigos e outros trabalhos acadêmicos.

Os dados primários foram coletados por meio de questionários semiestruturados contendo perguntas-chave de caráter subjetivo. A amostra foi selecionada de forma intencional, escolhendo pessoas preferencialmente de idade avançada e com história de vida estreitamente ligada à cidade, sendo selecionadas em torno de 10 (dez) pessoas em cada município. Com isso, foi possível obter uma retrospectiva histórica acerca dos aspectos sociais, políticos e econômicos vividos, narrados por sujeitos que efetivamente participaram ou os vivenciaram ao menos nos últimos cinquenta anos. A base metodológica para realização da pesquisa de campo foi, na verdade, inspirada no trabalho de Fernandes (2005). Em sua dissertação, a autora utilizou essa metodologia de maneira pioneira para resgatar a dinâmica da degradação dos recursos naturais do município de Vitória do Mearim, no estado do Maranhão.

(38)

3.2Critério para escolha das cidades estudadas

Para escolha das cidades a serem estudadas, foi utilizado o Índice de Exclusão Social (IES) elaborado por Lemos (2012). Diferente de índices, como o IDH2, que medem o desenvolvimento, o IES afere a falta de desenvolvimento a partir da mensuração das privações que a população de determinado local sofre com respeito a elementos básicos essenciais a uma vida digna e à promoção do desenvolvimento, como o acesso à água, saneamento básico, coleta sistemática de lixo, educação e renda.

Em sua primeira versão, o índice era formado por cinco indicadores que traziam a percentagem da população: i) maior de 10 anos analfabeta (PRIVEDUC) ii) que sobrevive em domicílios cuja renda total varia de zero a dois salários mínimos (PRIVREND) iii) que sobrevive em domicílios sem acesso ao serviço de água encanada (PRIVAGUA) iv) sobrevivendo em domicílios sem acesso a saneamento minimamente adequado (PRIVSANE) v) que sobrevive em domicílios privados do serviço de coleta sistemática de lixo, direta ou indiretamente (PRIVLIXO).

Na edição mais recente de seu livro, Lemos (2012) condensou o IES em apenas três indicadores de modo a torná-lo mais simples. Dessa forma o índice passou a ser formado agora pelo Passivo em Educação, Passivo em Renda e Passivo Ambiental. Os dois primeiros referem-se respectivamente ao PRIVEDUC e ao PRIVREND, da versão anterior, com uma ressalva para o Passivo em Educação, que agora considera a população analfabeta maior de 15 anos. O Passivo Ambiental é constituído por uma média ponderada dos antigos indicadores PRIVAGUA, PRIVSANE e PRIVLIXO.

É importante destacar que “todas as ponderações, tanto na definição do indicador Passivo Ambiental como na aferição do IES, foram obtidas por método de analise fatorial, com decomposição em componentes principais” (LEMOS, 2012, p12). Este é talvez o maior diferencial do IES com relação a outros índices. Os pesos atribuídos aos indicadores são

2 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), elaborado por Mahbud Ul Haq e Amartya Sen, surgiu

Imagem

Gráfico 1: Evolução das Desigualdades de Renda, captada pelo Índice de Gini, no Brasil,  Nordeste e Ceará no período de 1981 a 2009
Gráfico 2: Evolução da renda  per capita média, em valores correntes, para o Ceará e cidades  estudadas no período de 1999 a 2009
Gráfico 4. Relação entre lucratividade da terra e o tamanho do estabelecimento  –  sul cearense
Figura 2. Exemplo de aproximação da área de concentração de uma curva de Lorenz com  base na área de trapézios
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