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Processo 0650610

Data do documento 15 de maio de 2006

Relator Abílio Costa

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTO | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Responsabilidade civil > Culpa in contrahendo > Boa-fé > Responsabilidade contratual > Indemnização

SUMÁRIO

I - A parte que tendo acordado as cláusulas de contrato trespasse de um estabelecimento comercial rompe, sem motivo justificado o acordo, incorre em responsabilidade civil pré-contatual, já que violou as regras da boa-fé (lealdade) e a confiança que incutiu na outra parte quanto à celebração do negócio.

II - Quando há ruptura das negociações, em termos de responsabilização do contraente que não consuma o contrato, está-se no domínio da responsabilidade contratual e não da responsabilidade extracontratual.

TEXTO INTEGRAL

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

B………. intentou, em 21-6-01, no Tribunal Judicial de Vila Real, acção declarativa sob a forma de processo sumário, contra C………. .

Pede a condenação do R. no pagamento da quantia de Esc. 1.909.200$00, bem como no que se liquidar em execução de sentença, e ainda em juros de mora, a contar da citação.

Alega que o R. prometeu trespassar-lhe, e a um seu amigo, o estabelecimento comercial de que é proprietário, denominado “D……….”, sito em Vila Real.

Para tanto, acordaram no pagamento da quantia de Esc. 5.000.000$00 pelo trespasse, a efectuar em 01/06/2001, data a partir da qual passariam a explorar o estabelecimento.

Então deixou o seu emprego para se dedicar a esta nova actividade, para tratar da constituição da sociedade que iria explorar o estabelecimento e da concessão de um crédito bancário para este efeito.

Sucede que, em 30/05/2001, o R. declarou ao A. e ao seu amigo que já não estava interessado em celebrar este negócio, nem pelo preço acordado, nem por qualquer outro.

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Pede, pois, o A. a condenação do R. no pagamento da quantia equivalente aos salários que deixou de auferir, no valor de Esc. 372.400$00, bem como nas despesas que suportou para a constituição da sociedade que iria explorar o referido estabelecimento comercial, no montante de Esc. 36.800$00 e ainda a quantia de Esc. 1.500.000$00 a título de danos morais sofridos em virtude do incumprimento contratual por parte do R.

Na contestação o R. impugna aquela versão dos factos.

Elaborado o despacho saneador e efectuado o julgamento, foi proferida sentença tendo o R. sido condenado no pagamento da quantia de 4.187,94 euros, acrescida de juros de mora a contar da citação.

Inconformado, o R. interpôs recurso.

Conclui assim:

-o tribunal “a quo” limita-se a alegar os art.s 227º e 487º do C.Civil;

-a sentença deve constituir um todo que, lógica e coerentemente, conduza ao conhecimento do raciocínio feito pelo julgador para chegar às conclusões a que chegou, visando permitir o exame do processo lógico ou racional subjacente na formação da convicção do juiz e permitir, assim, averiguar se foi ou não violada qualquer norma;

-foi violado, assim, o disposto no art.668º, nº2, al. b), do CPC;

-a responsabilidade civil pressupõe culpa e, no caso de situação extracontratual, como será o caso em apreço, o lesado tem o ónus da prova da factualidade que demonstre culpa do lesante;

-o tribunal “a quo” dá como provado que o apelante se desvinculou de um suposto acordo que tinha com o apelado, mas não dá como provada qualquer matéria de onde se possa extrair que aquele actuou de forma livre com o objectivo de lesar o apelado;

-desde o início que apelante e apelado sabiam que a concretização do negócio dependia da vontade de um terceiro, neste caso o senhorio, o apelado sempre esteve ao corrente desse facto bem sabendo que o apelante tinha de obter prévio consentimento deste para o negócio;

-age com negligência grosseira aquele que actua esquecendo as precauções exigidas pela mais elementar prudência, omitindo as cautelas mais elementares;

-a expressão “negligência grosseira” corresponde à figura de “culpa temerária”, ou “esquecimento de deveres”, e só se verifica quando o agente se demite dos mais elementares cuidados nas negociações levadas a cabo por temeridade, leviandade ou total ausência de atenção ou cuidado em termos de, através dela, criar alto perigo de o negócio não vir a ser celebrado;

-não é enquadrável nesse conceito a simples negociação de um trespasse de um café, sabendo de antemão ambas as partes que a conclusão do negócio dependia do consentimento de um terceiro, neste caso, o senhorio;

-não existindo negligência grosseira, não estão preenchidos os pressupostos duma possível responsabilização do apelante por quaisquer danos que pudessem resultar da não conclusão do negócio;

-mal andou o tribunal “a quo” que, aceitando que o negócio dependia da autorização do senhorio, e que o mesmo não se realizou devido à alteração de posição por parte deste, não tomou em consideração estes dados para a fundamentação fáctica da sentença;

-nenhum facto ficou provado que demonstre que a ruptura nas negociações se deveu a culpa do apelante,

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ainda que a título de negligência grosseira;

-padece a acção de falta de causa de pedir pois, não tendo o apelado alegado factos que consubstanciem qualquer atitude culposa ou negligente por parte do apelante, não está provada a culpa cuja prova cabe ao apelado;

-foi cometido erro na indagação dos factos e erro na apreciação da matéria de facto dada como provada, pelo que foi violado o disposto nos art.s 264º, 511º, 515º, 661º e 664º do CPC;

-além disso houve erro na interpretação dos factos dados como provados e contradição entre estes e a decisão final, em violação do disposto no art.659º, nº2, e 668º, nº1, do CPC;

-a condenação do apelante no pagamento da quantia de 2.500,00 euros não está fundamentada, sendo desproporcionada tendo em conta os factos provados;

-são devidos juros de mora sobre o montante da indemnização por danos não patrimoniais, mas calculados a partir da data da sentença;

-foi violado o disposto nos art.s 483º, 496º e 566º, todos do C.Civil.

Não houve contra-alegações.

*

*

Colhidos os vistos, cumpre decidir.

*

*

Factos provados:

- O R. é dono e legítimo proprietário do estabelecimento comercial, constituído por café, designado

“D……….”, sito na Rua ………., Bloco ., ent. .., loja ., em Vila Real.

- Tendo por fim a venda de bebidas, pastéis, lanches e café, que gere em nome e por conta própria.

- Nessa qualidade prometeu ceder ao aqui A. e a um seu amigo, a sua posição de arrendatário e a exploração do supra identificado estabelecimento comercial, incluindo todas as instalações, mercadorias, utensílios e alguns contratos comerciais.

Tudo começou no início de Abril de 2001, sendo o ora A. cliente do estabelecimento comercial “D……….”, o proprietário do mesmo, aqui R., propôs-lhe o trespasse do mesmo.

- De imediato o A. falou com o seu amigo E………., no sentido de ficarem os dois a explorar o estabelecimento comercial, o que este aceitou.

- Como ambos trabalhavam, tanto o A. como o seu amigo, aquele em Chaves, com contrato sem termo, inúmeras vezes foram contactados pelo R., quer por via telefónica, quer pessoalmente no seu posto de trabalho, no sentido de chegarem um acordo relativamente ao negócio do trespasse do café “D……….”.

- No dia 18/04/2001, o A. e o seu amigo E………., foram acordar definitivamente o negócio com o ora R., fazendo-se deslocar ao local de trabalho deste último.

- Depois de propostas e contrapropostas de ambas as partes, chegaram a acordo de que os novos proprietários (A. e amigo) teriam de pagar o montante de Esc. 5.000.000$00, pelo trespasse em

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01/06/2001, data em que estes começariam a explorar o aqui referido estabelecimento comercial por sua conta e risco.

- Em consequência do negócio celebrado, A. e amigo, acordaram constituir uma sociedade por quotas para desse modo explorarem o já identificado estabelecimento comercial, dando início à papelada a 09/05/2001, para levar a efeito a sua pretensão.

- Também por essa altura, o ora A., que trabalhava em Chaves, no estabelecimento designado “F……….”, falou e acordou com o sócio gerente, G………., que as suas funções cessariam no final do mês de Abril de 2001, o que veio a suceder, isto por ter acordado o trespasse do estabelecimento comercial “D……….”.

- Apesar do A. e amigo só iniciarem a exploração no 1º dia do mês de Junho de 2001, o A. despediu-se para ficar com tempo para tratar da constituição da sociedade, o empréstimo bancário junto da H………., para começar a fazer contactos junto de fornecedores e para ter contacto diário com o funcionamento do

“D……….”.

- O A. e o seu amigo acordaram com o R. pagar-lhe a quantia de Esc. 5.500.000$00, pelo trespasse do estabelecimento comercial em causa, a título de preço final.

- Porém, em 30/05/2001, depois do A. e do seu amigo se terem deslocado a ………. à instituição bancária para formalizar o empréstimo, no montante de Esc. 6.000.000$00, subscrevendo uma livrança para garantia do mesmo, ficando deste modo, tudo tratado para o dinheiro estar disponível a 01/06/2001, para assim levar a bom termo o negócio celebrado.

- O aqui R. transmitiu ao A. e seu amigo, por via telefónica que já não iria celebrar o negócio.

- O A. despediu-se do estabelecimento comercial denominado “F………”, sito em Chaves, onde trabalhava e auferia Esc. 150.000$00 acrescido de subsídio de alimentação.

- Como consequência directa do não cumprimento por parte do R., o A. sentiu momentos de grande desgosto, desespero e desânimo.

- Tendo passado bastantes noites sem dormir, o que lhe trouxe aborrecimentos e inquietações.

- Aborrecimentos esses que se reflectiram na sua família e no seu grupo de amigos.

*

*

Questões a decidir:

-falta de causa de pedir;

-nulidade da sentença;

-falta dos pressupostos da responsabilidade civil;

-montante excessivo relativamente à condenação por danos não patrimoniais;

-indevida condenação em juros de mora relativamente ao montante atribuído por aqueles danos.

*

*

Começando pela primeira questão.

Sobre este ponto conclui o recorrente: “padece a presente acção de falta de causa de pedir, pois, não

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tendo o Apelado alegado factos que consubstanciem qualquer atitude culposa ou negligente por parte do aqui apelante, não está pois provada a culpa do aqui apelante cuja prova cabia ao Apelado (art.342º do Código Civil) por não haver presunção legal nesse sentido, pelo que deve proceder-se à alteração da condenação decretada ao aqui Apelante”.

Consiste a acusa de pedir, como se sabe, “no facto concreto que serve de fundamento ao efeito jurídico pretendido”- Antunes Varela, Miguel Bezerra e Sampaio e Nora in Manual de Processo Civil, 234. Consagra- se, assim, nesta matéria, a teoria da substanciação- Antunes Varela, ob. cit., 692.

Ora, percorrendo a petição inicial, fácilmente se constata que não assiste razão ao recorrente.

Na verdade o A., após fazer referência às negociações levadas a cabo com o R., à sua conclusão, às diligências que fez com vista à celebração do contrato acordado e à comunicação pelo R., em 30-5-01, de que já não celebrava o contrato, alegou no art.19º da petição inicial que “em consequência do não cumprimento do acordado, por culpa única e exclusiva do aqui Réu, violou este a relação de confiança estabelecida de pura e crua má fé, originando ao aqui A. danos patrimoniais e não patrimoniais...”, que a seguir discrimina.

Assim, e ao contrário do referido pelo recorrente, vem alegada a culpa do R., única questão que neste momento importa analisar.

Sobre o respectivo ónus da prova, questão também ali abordada pelo recorrente, analisá-la-emos adiante.

*

*

Sobre a nulidade da sentença.

Entende o recorrente que a sentença é nula nos termos do disposto no art.668º, nº1, al.s b) e c), do CPC.

Assim, limita-se a “alegar os artigos 227º e 487º do Código Civil” e “houve erro na interpretação dos factos dados por provados e contradição entre estes a decisão final...”.

Nos termos do disposto no art.668º, nº1, do CPC, é nula a sentença quando “não especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão”- al. b)- e “os fundamentos estejam em oposição com a decisão”- al. c).

Ora, os fundamentos de facto constam da sentença, o que nem sequer vem posto em causa.

E constam também os fundamentos de direito.

É certo que esta poderia ser mais completa.

Mas a sua eventual deficiência não gera a nulidade da sentença. Mas sim a sua falta absoluta, o que não é o caso. Assim o entende também Lebre de Freitas in CPC Anotado, 2º, 669.

E também não existe a alegada contradição entre os fundamentos e a decisão.

Existe aquela contradição quando “o julgador seguir determinada linha de raciocínio, apontando para determinada conclusão, e, em vez de a tirar, decidir noutro sentido, oposto ou divergente”- Lebre de Freitas, ob. cit., 670.

O que não é o caso.

Antes, o recorrente discorda da análise jurídica efectuada na sentença.

Mas isto não conduz à nulidade da sentença, pois não tem a ver com a sua estrutura. Antes, à sua eventual

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impugnação, o que o recorrente fez.

*

*

Verificação dos pressupostos de responsabilidade civil.

Conclui o recorrente que “a responsabilidade civil pressupõe culpa e, no caso de situação extra-contratual, como será o caso ora em apreço, o lesado tem ónus de prova de factualidade que demonstre culpa do lesante: artigos 487º, nº1 e 483º nº1 do Código Civil”. E ainda que “o tribunal a quo dá como provado que o Apelante se desvinculou a um suposto acordo que tinha com o Apelado, mas não dá como provada qualquer matéria de onde se possa extrair que o Apelante actuou de forma livre com o objectivo de lesar o Apelado”.

Este o cerne da questão. Vejamos.

Na sentença recorrida fundamentou-se, e bem, a decisão de condenação na responsabilidade pré- contratual do R..

Dispõe o art.227º, nº1, do C.Civil que “quem negoceia com outrem para conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares como na formação dele, proceder segundo as regras da boa fé, sob pena de responder pelos danos que culposamente causar à outra parte”.

Prevê-se aqui, como se sabe, a fase anterior à celebração do contrato. Esta fase pode ser mínima, ou pode incluir inúmeros e longos actos preparatórios. Por isso, normalmente, é subdividida em duas fases: a negociatória e a decisória. A primeira consiste na preparação do conteúdo do acordo e a segunda na emissão das declarações de vontade, ou seja, da proposta e da sua aceitação- Almeida Costa in Direito das Obrigações, 237.

Assim, nesta fase pré-negocial, como ao longo do contrato, as partes devem actuar de boa fé, ou seja, devem observar determinadas regras de conduta, determinados deveres, como de protecção, esclarecimento, lealdade, atenta a confiança mútua que se estabeleceu entre elas- Meneses Cordeiro in O Direito, 125º-I,II-160.

Um exemplo de inobservância deste último dever- dever de lealdade- consiste na ruptura injustificada das negociações. O que pode gerar responsabilidade civil.

E quais são os respectivos pressupostos?

Desde logo os pressupostos específicos previstos art.227º do C.Civil: a existência de negociações que gerem a confiança e a expectativa legítimas na conclusão do contrato; e a sua ruptura ilegítima, arbitrária e sem justa causa- Calvão da Silva in Estudos de Direito Civil e Processo Civil, 72 e 90.

Isto porque, nestas situações de ruptura de negociações, importa conciliar o princípio da liberdade contratual, nos termos do qual as partes conservam, até ao último minuto, a sua autonomia negocial, com o princípio da boa fé, nos termos do qual a parte que culposamente violou a confiança e as expectativas legítimas que criou na outra quanto à celebração do contrato, deve ser responsabilizada.

Como escreve Calvão da Silva, ob cit., 66, “nos termos do art.227º do Código Civil, a liberdade de concluir o contrato constitui a regra- não é da natureza das negociações o risco de as mesmas não terem êxito?- e a responsabilidade pela ruptura das negociações a excepção”.

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Ora, no caso em apreço, verificam-se os referidos pressupostos específicos.

Assim, é inegável que o A. tinha legítimas expectativas na celebração do negócio: as negociações estavam concluídas desde 18-4-01; o A. deu início à constituição da sociedade para exploração do estabelecimento;

tratou do empréstimo para pagamento do preço acordado; e até ao dia anterior à data acordada para início da exploração nada em contrário lhe foi dito pelo R..

Por outro lado, a recusa do R. é ilegítima.

Escreve Almeida Costa in Responsabilidade civil pela ruptura das negociações preparatórias de um contrato, 62, que “qualquer dos contraentes, desde que se torne inviável um acordo, dentro de um sistema de apreciação ou reapreciação própria das respectivas conveniências, tem o direito de interromper o iter negotii, sem responsabilidade alguma para com a parte contrária. Essa inconciliação de posições que legitima a ruptura pode fundar-se em razões objectivas de natureza económica, como acontecerá via de regra, ou mesmo em razões subjectivas...”.

Trata-se da tal manifestação da liberdade contratual.

E é certo que apenas está provado que, no dia 30-5-01, o R. comunicou que já não iria celebrar o contrato, desconhecendo-se as razões. Pelo que poderia concluir-se, assim, que apenas está provada a recusa, mas não que a mesma é ilegítima, sem justa causa.

Parece, todavia, que, em termos de normalidade, nada mais se pode exigir ao A. quanto à alegação e prova. Este apenas sabe que o R. se recusou a celebrar o contrato, depois de concluídas as negociações e de todas as diligências efectuadas, desconhecendo os motivos daquela recusa. Aliás, como resulta do trecho transcrito, o R. até o podia ter recusado celebrar o contrato por razões subjectivas, a que o A. nunca teria acesso. E assim sendo, parece razoável entender que cabia ao R. alegar e provar que a recusa era fundamentada, tinha justa causa para o fazer. Doutro modo, e dadas as circunstâncias concretas em que ocorreu, choca, ofende o sentimento ético-jurídico.

Concluímos que se verificam os pressupostos específicos da responsabilidade pré-negocial exigidos pelo art.227º, nº1, do C.Civil.

A estes acrescem, naturalmente, os pressupostos gerais da responsabilidade civil- art.s 483º e seg.s e 798º e seg.s do C.Civil.

Entende, todavia, o recorrente que, destes, não se verifica culpa, o que cabia ao A. alegar e provar, dado tratar-se de responsabilidade extra-contratual. Sobre esta questão incidem, no fundo, as suas alegações.

Mas não é assim.

Na verdade, estamos também no domínio da responsabilidade contratual. “A pessoa que cometa tal violação está a pôr em causa deveres específicos de conduta, de base legal. Assim, a responsabilidade é obrigacional e não apenas aquiliana: foram violadas obrigações legais e não somente o dever genérico de respeito, implícito no art.483º/1 do Código Civil”- Meneses Cordeiro in O Direito, 125º, I, II, 165. No mesmo sentido Galvão Telles in O Direito, 125º, III, IV, 346: “a responsabilidade proveniente da culpa in contrahendo é, a meu ver, e de harmonia aliás com a doutrina generalizada, uma responsabilidade obrigacional («contratual» no sentido amplo que a expressão costuma ser usada) porque supõe a infracção de uma verdadeira obrigação- a já assinalada obrigação de contratar bem, de agir, nos preliminares do contrato e na formação deste, por modo que o contrato nasça isento de mácula e de deficiência”.

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Assim sendo, aplica-se o regime do incumprimento das obrigações- art.798º e segs.s do C.Civil. Donde resulta que a culpa in contrahendo se presume, nos termos do disposto no art.799º do C.Civil- Galvão Telles e Meneses Cordeiro, ob.s citadas.

E não tendo aquela presunção sido ilidida, conclui-se que o R. actuou culposamente.

*

*

Condenação por danos não patrimoniais.

O R. foi condenando, a título de indemnização por danos não patrimoniais, no pagamento da quantia de 2.500 euros.

Entende, todavia, que aquele montante é exagerado e desajustado.

Na sua fixação importa ter em conta o critério da equidade- art.496º, nº3, do C.Civil..

Ora, ponderando a matéria de facto apurada, designadamente que o A., atenta a expectativa, legítima e fundada, de que o contrato de trespasse viria a ser celebrado, se despediu da empresa onde trabalhava, com reflexos inevitáveis na sua vida pessoal e familiar, afigura-se perfeitamente ajustado, como compensação, o montante atribuído.

*

*

Juros de mora.

Entende o recorrente que, sobre o montante atribuído a título de danos não patrimoniais, apenas são devidos juros de mora a contar da data da sentença.

Vejamos.

Na fixação dos danos não patrimoniais tem-se em conta, essencialmente, a equidade, como se disse.

Pelo que deve a sentença, ao fixar o montante a atribuir por aqueles danos, esclarecer o modo como chegou àquele montante: se o mesmo é obtido com base nos elementos existentes à data da sentença ou à data da citação.

E nada se dizendo, como acontece no caso em apreço?

Parece razoável presumir, neste caso, que se teve em conta a data da citação. Na verdade, nada se dizendo na sentença, e fixando esta os juros a contar da citação, é porque, de facto, não houve actualização.

Pelo que também nesta parte não assiste razão ao recorrente. Ver, sobre esta matéria, o Ac. de Uniformização de Jurisprudência nº4/02 de 9-5-02, anotado in Cadernos de Direito Privado, 1, 27. Note-se, todavia, que a questão aí colocada consistia em saber se, actualizado o montante a atribuir por danos não patrimoniais ou danos patrimoniais futuros, são devidos juros de mora a contar da citação ou da data da sentença.

*

*

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Acorda-se, em face do exposto, em julgar a apelação improcedente, confirmando-se a sentença recorrida.

Custas pelo recorrente.

Porto, 15 de Maio de 2006 Abílio Sá Gonçalves Costa

António Augusto Pinto dos Santos Carvalho Baltazar Marques Peixoto

Fonte: http://www.dgsi.pt

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