• Nenhum resultado encontrado

A NOVA CONSTITUIÇÃO E A N ECESSIDADE DE ADVOGADO, NOS PRO CESSO S TRABALHISTAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A NOVA CONSTITUIÇÃO E A N ECESSIDADE DE ADVOGADO, NOS PRO CESSO S TRABALHISTAS"

Copied!
3
0
0

Texto

(1)

A N O V A C O N STIT U IÇ ÃO E A N E C E S S ID A D E DE A D V O G A D O , N O S P R O C E SS O S TRA BALH ISTA S

W agner D. G ig lio ( * )

A s s i m que entrou em v ig o r a nova C o n s tit u iç ã o Federal, e até a n te s d is s o , s u rg ira m v á r io s p ro n u n c ia m e n to s de e s p e c ia lis t a s e e s t u d io s o s do p r o c e s s o tra ba lh ista n o se n tid o de que, p or fo rça do pre ce ito co n tid o no art. 133 da C a rta M a g n a , p a s s o u a s e r in d is p e n s á v e l a in te rv e n çã o do a d v o g a ­ do em to d o s o s feitos, ou seja: a partir de 5 de o u tu bro de 1988, o traba­

lhador e o e m p re g a d o r p erde ra m o " j u s p o s t u la n d i” e já não p od em m a is m o v e r re cla m a çã o e a c o m p a n h a r p e s s o a lm e n t e s e u p ro c e s s o , s e n d o in d is ­ p e n sá v e l a in term ediação de procurador.

S e g u in d o e s s a orientação, a lg u m a s J u n ta s de C o n c ilia ç ã o e J u lg a m e n to v ê m re c u s a n d o p r o c e s s a m e n t o à s c h a m a d a s " r e c la m a ç õ e s v e r b a is ” , p ro­

duto da red u çã o a termo, p or fu n c io n á rio da J u s tiç a do Trabalho, da queixa f o r m u l a d a o ra lm e n te pelo trabalhador. T a m p o u c o perm item , m e s m o n a s re ­ c l a m a ç õ e s já em andam ento, que a s parte s atuem s e m adv og ad o, fix a n d o ­ lh e s prazo, num c a s o c o m o no outro, para que v o lte m a c o m p a n h a d a s de advogado.

S e r á co rre ta e s s a atitude, isto é, s e r á m e s m o in d is p e n s á v e l a in te rv e n ­ ção do a d v o g a d o da parte, em to d o s o s p r o c e s s o s t r a b a lh is t a s ?

É b om que s e diga, de início, que a faculda d e de p o stu la r em juízo s e m in te rm e dia çã o de p atrono nã o é p rivativa do D ire ito P ro c e s s u a l do T rabalho brasileiro, e s im um a d a s c a ra c t e rís tic a s do p ro c e d im e n to p erante o s ór­

g ã o s que d irim e m o s litíg io s do trabalho em q u a s e to d o s o s p a ís e s do m u n ­ do, adotado tam bém , em a lg u n s c a s o s , até pelo p r o c e s s o civil.

O p re ce de n te m a is antigo, que s e r v iu de e x e m p lo e de in sp ira ç ã o para a cria çã o d e ó r g ã o s e s p e c ia liz a d o s na s o lu ç ã o d o s c o n flit o s tra ba lh ista s, é o “C o n s e il d e s P r o u d 'h o m m e s '' da França, cu ja s o r ig e n s p od em s e r e n c o n ­ tra da s no s é c u lo X III e que foram re s ta b e le c id o s p o r N a p o le ã o Bonaparte, e m Lyon, a ped ido d o s fa b ric a n te s de seda, em 1806. D e s s e s " C o n s e l h o s de h o m e n s p r o b o s " derivaram , em fin s do s é c u lo p a s s a d o e c o m e ç o s deste, o s “C o n s ig li del P r o b iv ir i” e a Ju stiç a T rabalhista da Esp a n h a . E até hoje o s C o n s e lh o s fr a n c e se s , a s s im c o m o a s J u n ta s d e C o n c ilia ç ã o e A r b it ra g e m do M é x ic o , do Peru e de in ú m e ro s o u tro s p a ís e s, a tuam s e m a e xig ê n c ia d e a d v og ad os.

( * ) O a u t o r é J u i z T o g a d o d o T r i b u n a l R e g i o n a l d o T r a b a l h o d a 9 ª R e g i ã o.

73

(2)

O " j u s p o s tu la n d i'' d a s partes, ou “direito de p o s t u la r ” em juízo, direta­

mente, nã o é, portanto, um a anom alia particular do Brasil, m a s um c o m ­ porta m e n to q u a s e u niversal.

Por o u tro lado, até m e s m o o D ire ito P ro c e ss u a l Civil, m a is tra d icio­

n alista e ortodoxo, admite, em a lg u n s p r o c e s s o s , que o próp rio litigante req ueira em juízo c o m o no c a s o de " h a b e a s c o r p u s ”. O juiz do feito p o d e, de fo rm a abrangente, dete rm in a r o co m p a re c im e n to da parte, para ouvi-la p e s s o a lm e n te , e m qualqu e r fa se do p r o c e s s o (C P C , art. 342), e deve ouvi-las, diretam ente, n a s a ç õ e s de s e p a ra ç ã o e de divórcio, para tentar u m a reconciliação, s e m a interferência de a d v o g a d o s. M a i s ainda: talvez p or influência do p roc ed im e n to trabalhista, a s p arte s atuam s e m patrono n o s J u iza d o s de P e q u e n a s C a u s a s .

A s s im , e n q u a n to o u tro s s is t e m a s le g a is acolhem , s e m re striç õ e s, o “jus p o stu la n d i", e o D ire ito P ro c e ss u a l C ivil s e m oderniza, no se n tid o de adm iti­

lo, o D ire ito P ro c e ss u a l do Trabalho e sta ria ca m in h a n d o em s e n t id o inverso, co ntra a te n d ê n cia geral, ao e xigir o patro cín io n e c e s s á r io por a dvogad o, em to d a s a s c a u s a s.

T o d a s e s s a s p o n d e r a ç õ e s s e ria m irrelevantes, porém , s e a nova C o n s ­ tituição b ra sile ira d e te rm in a sse , de fo rm a clara e in so fism á v e l, que a s par­

te s s ó pod eriam atuar em juízo a tra v é s de adv og ad o. O pre ce ito c o n st itu ­ cional a que s e a p e g a m o s d e f e n s o r e s da e lim in a çã o do “ju s p o s tu la n d i", entretanto, não é e x p re ss o , n e s s e sentido, d is p o n d o a p e n a s que “ o a d v o ­ g a d o é in d is p e n s á v e l à a d m in istra ç ã o da justiça, s e n d o inviolável por s e u s a to s e m a n ife s ta ç õ e s no e x e rc íc io da p ro fissã o , n o s lim ites da lei” (cf. art.

133 da C o n s t. Fed.).

A prim e ira d ú vid a na interpretação d e s s e texto é de o r ig e m gram atical;

a re striç ã o final ( “n o s lim ite s da le i”) s e aplica a todo o preceito ou a p e n a s à in violabilidad e do advogado, no e x e rc íc io da p r o f is s ã o ? S e a prim e ira al­

ternativa fo r a correta, s o m e n t e d e p o is que a lei (ordinária) e s p e c ific a r o que sig n ifica , ou e m que c o n siste , na prática, a in d isp e n sa b ilid a d e do a d v o ­ gado, na a d m in istra ç ã o da justiça, é que t e r e m o s o p arâm etro n e c e s s á r io para defin ir a so b re v iv ê n c ia ou o p erec im e n to do “ju s p o s tu la n d i”.

A in d a que s e adm ita que o s lim ite s im p o s t o s por lei s e re s tr in g e m e dizem re sp e ito a p e n a s à inviolabilidade d o s a to s e m a n ife s ta ç õ e s do a d v o ­ gado, e não à s u a im p re scin d ib ilid a d e na g e s t ã o da justiça, m e s m o a s s im s e r “in d is p e n s á v e l à a d m in istra ç ã o da j u s t iç a ” não e qu iv ale nem s e c o n ­ fu n d e c o m a p roib iç ã o do direito de a parte postular, s e n ã o vejam os.

A re dação da n orm a c o n stitu cio n al não é um a inovação; ao contrário, reproduz, exatam en te, a e x p r e s s ã o já c o n s a g ra d a no Estatuto da O rd e m d o s A d v o g a d o s (Lei n. 4.215/63), ao realçar que o a d v o g a d o d e v e s e r tido c o m o

“ele m e n to in d is p e n s á v e l à a d m in istra ç ã o da J u s t iç a " (art. 68). E s s a d is p o -

74

(3)

sição, v ig o ra n te há m a is de um quarto de sé cu lo, não im pediu a s o b r e v iv ê n ­ cia do " j u s p o s tu la n d i". Teria s u a repetição, na nova Carta, alterado s e u s ig n if ic a d o ? Pare ce -n os que não.

A c r e s c e que o texto de lei que autoriza a s p arte s a atuarem , “p e s s o a l­

mente, perante a J u s tiç a do Trabalho e a c o m p a n h a r a s s u a s re c la m a ç õ e s até o fin a l" (CLT, art. 791) é bastan te antigo, a nterior à Lei n. 4.215, da m e s m a hierarquia. A s s im , s e e sta últim a lei h o u v e s s e inviabilizado o " j u s p o stu la n d i", teria re v o g a d o o texto da C o n s o lid a ç ã o . E s s a re v oga çã o , p o ­ rém, não ocorreu. Por que teria, então, o c o rrid o a re v o g a ç ã o agora, s e a situ a ç ã o é e xatam ente a m e s m a ?

S e não h ou v e re v o g a ç ã o por lei ordinária, o pre ce ito do art. 731 da C L T s ó não p re va le ce ria s e f o s s e incom patível c o m a re gra co n stitu cio n al. A c o n ­ tece, e n tr e t a n t o , que a in con stitu cio n a lid a d e de lei s o m e n t e d e v e s e r d e ­ clarada em c a s o s bem d e fin id o s de clara incom patibilidade, o que nã o parece s e v e rifica r na h ip ó te se em exam e, diante d o s a rg u m e n to s a nteriores.

M a i s ainda: a s e e n te n d er que a in d isp e n sa b ilid a d e do a d v o g a d o para a a dm in istra ç ã o da ju stiça s ig n ific a que s u a p re se n ç a é im p re sc in d ív e l, em to d o s o s p ro c e d im e n to s, ha ve ria que concluir, p or coerência, que já não s o b re v iv e o direito de a parte req uerer “ h a b e a s c o r p u s ” p e s s o a lm e n t e e de atuar d iretam ente perante o s Ju iz a d o s de P e q u e n a s C a u s a s , a s s im c o m o não poderia s e r inte rroga d a pelo juiz, n o s p r o c e s s o s de se p a ra ç ã o judicial e de divórcio, s e m a p re se n ç a de s e u patrono.

Finalm ente, s e a parte não pode m a is atuar no juízo tra b a lh ista direta­

mente, não teria se n tid o e x ig ir s e u co m p a re c im e n to p e s s o a l à au diê n cia (CLT, art. 843), a p ro p o sta de co n c ilia ç ã o d e v e ria s e r feita a, e eve n tua l­

m ente aceita p or s e u a dvogad o, e o d e p o im e n to p e s s o a l se ria to m a d o a pe ­ n a s q uando p re via m e n te re q uerido pela parte contrária. É bem de v e r que tudo isso , além de in c o n v e n ie n te p or v á r ia s razões, viria a p a ga r a s d istin ­ ç õ e s entre o p r o c e s s o do trabalho e o p r o c e s s o civil, p a s s o im portante para a ca ba r co m a J u s tiç a do T rabalho e integrá-la de volta à J u s tiç a O r d i­

nária.

U m a últim a o b se rv a ç ã o : na localidade on d e o tra ba lh a d or não tenha c o m o obter a s s is t ê n c ia judic iária gratuita, p orque o E sta d o nã o â fo rn e ce e não há sin d ic a to de s u a categoria, p or exem plo, o a c e s s o à J u s t iç a do Trabalho se ria dificultado até o ponto de s e to rn a r q u a s e im p o s s ív e l, diante do ô n u s im p o sto pela n e c e s s á r ia contratação p révia de a d v o g a d o particular.

Em s u m a : a in terpretação dada ao texto c o n stitu c io n a l n o s e n t id o de que elim in o u o “ju s p o s t u la n d i” n o s parece precipitada, ju rid icam e n te in­

correta e s o c ia lm e n te inconveniente.

75

Referências

Documentos relacionados

A disciplina “Infographie-sérigraphie” tem um caráter muito básico e introdutório, mas eu não recomendaria para aqueles que estão interessados em aprender mais a fundo

A responsabilidade pela entrega dos documentos dos veículos, necessários a transferência para o nome dos arrematantes de veículos classificados como CONSERVADOS,

Auction Criteria: greatest grant Estimated grant(up front): R$ 223,3 million Jobs created throughout the concession contract: estimated 4.545 (direct, indirect and income

Embora não haja critérios estritos para a inclusão num protocolo de reabilitação, doentes com deficiente função respiratória (GOLD II – FEV 1 < 80%), dispneia

em Curitiba; QUE ele sempre ficava no Hotel Curitiba Pa- lace e o declarante enviava emissários para entregar valores no referido Hotel; QUE o próprio declarante chegou a vir uma

a capacidade de lidar com diferentes pontos de vista e com os seus pares, ou seja, jogar também é uma forma de interagir socialmente e com isso contribui com

Da mesma forma, após o domínio dos estoques por estes intermediários de- mandadores, tendo já alcançado os primeiros objetivos (aviltamen- to dos preços ao nível do produtor)

O processo civil brasileiro recepcionou a aplicação da garantia do devido processo legal, embora importe assinalar que a Constituição Federal anterior, não