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Quatro pobres doentes

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Academic year: 2021

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Capítulo I

Quatro pobres doentes

«Pobre Lena», exclamou uma vozita triste à porta do quarto. «Pobre Lena! Assoa-te, pequena.»

Ouviram-se fortes fungadelas e depois uma tosse seca.

Fez-se então silêncio, como se quem se encontrava do lado de fora estivesse a escutar aguardando qualquer resposta.

João deitou-se e olhou para Filipe, que ocupava a outra cama.

— Filipe… Não te importas de deixar entrar a Didi? Pare- ce tão triste…

Filipe, com um movimento de cabeça, anuiu.

— Está bem. Desde que não grite nem faça muito baru- lho… Estou melhor da cabeça, graças a Deus.

João levantou-se da cama e dirigiu-se para a porta com passo incerto. Ele, Filipe e as duas pequenas tinham sido atacados por uma forte gripe da qual se achavam convalescentes, mas sen- tiam-se ainda bastante fracos. Filipe fora o mais atingido, sendo- -lhe impossível suportar a presença da catatua no quarto. O ani- mal imitava as tossidelas, os espirros e todos os outros sons. O

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pobre Filipe, apesar da estima que sentia pelas aves e pelos res- tantes animais, sentia ganas de atirar chinelos, livros ou qual- quer outra coisa que estivesse à mão ao desconcertante pássaro.

«Pobrezinha», murmurou João. Logo a seguir a ave voou- -lhe para cima do ombro. «Nunca te havíamos obrigado a ficar lá fora, não é verdade? O barulho que fazes desagrada a quem está com dores de cabeça, minha velha. Quase fizeste enlou- quecer o Filipe com a tua imitação de um aeroplano avariado!»

— Cala-te! — exclamou Filipe, estremecendo só de pensar em tal. — Tenho a impressão de que nunca mais voltarei a rir-me dos ruídos da Didi.

Tossiu e procurou às apalpadelas o lenço que estava debai- xo da almofada. A Diditossiu também, mas muito discreta- mente. João sorriu.

«É inútil, Didi», observou. «Tu não estás constipada, por isso escusas de fingir.»

«Inútil, inútil. Limpa os pés! Fecha a porta!», imitou a Didi.

E soltou uma gargalhada.

«Não. Ainda não estamos dispostos a rir-nos das tuas idio- tices, Didi», prosseguiu o dono, voltando a meter-se na cama.

«Não sabes desempenhar o papel de quem visita um enfermo?

Gestos simpáticos… Voz baixa… Todas essas coisas.»

«Pobre Lena», fez a ave.

E aninhou-se o mais que pôde contra o pescoço de João, exalando um enorme suspiro.

«Não… não suspires para o meu pescoço, por favor!», im- plorou o pequeno. «Tens dó de ti própria, Didi. Anima-te. A nossa temperatura baixou e hoje todos nos sentimos melhor.

Depressa nos levantaremos outra vez e aposto que a tia Lia ficará contente com isso. Deve ter-lhe dado muito trabalho cuidar de quatro pobres doentes.»

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Abrindo a porta cautelosamente, a tia Lia assomou à en- trada do quarto.

— Ah! Estão acordados! — exclamou. — Como se sen- tem? Querem mais um pouco de sumo de limão?

— Não, obrigado — respondeu João. — Mas sempre lhe direi, tia Lia, que já, já… imediatamente… me apetece um ovo cozido e pão com manteiga! Ocorreu-me subitamente ser isso o que mais desejo do mundo neste instante.

A tia Lia riu.

— Ah… então sempre estás melhor! Também queres um ovo, Filipe?

— Obrigado. Não quero nada.

«Pobre menino, pobre menino», murmurou a Didi, er- guendo a cabeça para fitar Filipe e soltando uma risada.

«Cala-te!», ordenou-lhe o rapaz. «Ainda não estou dis- posto a deixar que se riam de mim, Didi. Se continuas para aí a palrar vais outra vez lá para fora.»

«Silêncio, Didi!», ordenou João, e deu uma palmada no bi- co do pássaro.

O animal aconchegou-se novamente ao pescoço do rapaz.

Não se importava de estar calado se o deixassem continuar ao lado do seu querido dono.

— Como estão as pequenas? — perguntou João.

— Oh, muito melhor! — tranquilizou-o a tia Lia. — Me- lhoram mais depressa do que vocês. Estão a jogar às cartas.

Mandam perguntar se podem vir aqui, à tarde, para conver- sar um pouco.

— Por mim, ficaria encantado — respondeu João. — O Filipe é que talvez não seja da mesma opinião. Não é verda- de, Filipe?

— Veremos — resmungou o outro. — Ainda me sinto bastante indisposto.

9 A Aventura no Rio

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— Não te preocupes, Filipe — aconselhou a mãe. — En- contras-te em plena convalescença. Amanhã estarás melhor.

Tinha razão. Na tarde seguinte, o rapaz sentia-se já tão animado que consentiu que a Didipalrasse e cantasse até se fartar. Autorizou-a mesmo a imitar um comboio ao entrar num túnel, o que fez com que a Sr.ª Cunningham subisse as escadas a correr.

«Oh, não!», exclamou. «Esse barulho não! Por favor, Di- di! Não posso suportá-lo cá em casa!»

Dina olhou para a mãe e estendeu-lhe a mão.

— Que mau bocado passou, minha mãe, com o tratamen- to de todos nós. Sinto-me contente por a mãe não ter tam- bém apanhado a gripe. Está muito pálida. Oxalá não adoeça.

Diga-me que não, minha mãe.

— Creio que não irei adoecer. Apenas me sinto um pouco cansada de tanto subir e descer as escadas para vos atender. Mas depressa estarão de novo de pé e poderão ir para o colégio.

Ouviram-se quatro gemidos em uníssono, logo seguidos pelo maior de todos, exalado pela Didi.

— O colégio! — exclamou João, aborrecido. — Porque nos lembrou isso, tia Lia? Seja como for, custa-me ter de ir para o colégio depois de começar o período. Todos se acos- tumaram e já sabem com o que contam… Quase nos senti- mos uns novatos.

— Que compaixão sentem por vocês próprios! — comen- tou a Sr.ª Cunningham, sorrindo. — Bem, continuem entre- tidos, mas não consintam que a Didifaça imitações de aviões, comboios, automóveis ou tratores.

— Pode ficar descansada — garantiu João.

E dirigindo-se severamente à Didi:

«Ouviste, pássaro tonto? Porta-te com juízo… se pu- deres.»

11 A Aventura no Rio

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