Revista Científica do UniRios 2020.2| 104
CRIANÇA, TELEVISÃO E RECEPÇÃO CRÍTICA: Um olhar educomunicacional
Blueth Sabrina Lobo Uchôa Talarico Mestre em Educação pela Uniube. Professora nos cursos de Jornalismo, Audiovisual e Publicidade e Propaganda da Universidade de Uberaba.
E-mail: blueth.talarico@uniube.br
Fernanda Telles Márques Doutora em Sociologia pela Unesp, com pós-doutorado em Estudos Culturais pela UFRJ.
Professora do Programa de Pós-graduação em Educação e dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade de Uberaba.
E-mail: fernanda.marques@uniube.br
RESUMO
O artigo apresenta resultados de uma pesquisa bibliográfica desenvolvida em abordagem qualitativa, cujo objetivo mais amplo foi refletir sobre possíveis relações entre a televisão e a produção da infância contemporânea. Partindo de referencial teórico advindo da Educomunicação em diálogo com a Antropologia, a investigação apontou que a incapacidade da criança de posicionar-se frente ao que lhe é apresentado é apenas parcial e aparente. Afinal, além de produto de um meio, a criança é um ser social e histórico, o que faz dela, dialeticamente, também produtora de cultura. Na relação com seus pares, a criança é capaz de produzir modos de significação do mundo que se diferenciam das culturas apresentadas pelos adultos em meio a processos como a escolarização. Em conclusão, além de problematizar a questão da recepção crítica da criança, ao levar em conta a ocorrência de culturas da infância, a pesquisa identifica elementos favoráveis ao emprego da Educomunicação como mediadora do contato entre a criança em idade escolar e a televisão.
Palavras-chave: Televisão. Criança. Educomunicação. Imaginário.
CHILDREN, TELEVISION AND CRITICAL RECEPTION – An educommunication look
ABSTRACT
This article presents the results of a bibliographical research developed under a qualitative approach, whose wide objective was to reflect on possible relations between television and the production of contemporary childhoods. Starting from the theoretical reference of Educommunication in dialogue with Anthropology, the investigation pointed out that the child’s incapacity of take a position in face of what is presented to them is only partial and apparent. After all, besides being the product of the environment, the child is also a historical and social being, which makes them, dialectically, producer of culture. Through the relationship with their peers, children are capable of producing ways of signifying the world which are different from the cultures presented by the adults in processes such as schooling.
In short, besides problematizing the question of the child’s critical reception, the
research also identify favorable elements to the usage of Educommunication as a
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mediator of the contact of school children with television, for considering the existence of childhood cultures.
Keywords: Television, Child. Educommunication. Imaginary.
1 INTRODUÇÃO
Elaborado a partir da leitura de autores como Baccega (2000), para quem, nas últimas décadas, a televisão tornou-se um importante e complexo agente de formação, este estudo recorre ao campo da Educomunicação para refletir sobre possíveis relações entre a televisão e a produção social da infância contemporânea. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, desenvolvida em abordagem qualitativa 29 .
O olhar preocupado e atento sobre a criança em idade escolar se dá ao fato de ser justamente na fase da educação básica que ela começa a expandir e intensificar suas relações sociais, a desbravar o “mundo exterior”, a construir seus valores e a desenvolver a capacidade de gerir o seu próprio comportamento, baseando-se em sua (con)vivência nos diversos âmbitos da sociedade, mas também na percepção e até apreensão do que lhe chega editado, por meio da televisão. Se a meta é colaborar para a formação de um cidadão crítico, pensador, criativo, participativo e socialmente responsável, é necessário que se reflita as influências da televisão a partir da infância, nas mais variadas instituições sociais, mas principalmente no espaço escolar, onde a criança dedica grande parte do seu tempo e os saberes são compartilhados.
Para a criança, assistir televisão pode significar a descoberta de “um mundo outro”, mais ampliado, distante de tudo o que ela poderia viver e mesmo imaginar. Assim como um livro de histórias, só que com uma linguagem bem mais ágil e constituída por imagens alucinantes e vivazes, a televisão proporciona à criança, sem dela exigir muito esforço intelectual, uma viagem pelo mundo afora, apresentando novas possibilidades de ver, sentir e até de participar.
Segundo Baccega (2003), os meios de comunicação são mediadores privilegiados entre nós e o mundo, que cumprem o papel de “costurar” as diferentes realidades, e que divulgam em escala mundial, informações (fragmentadas), que tomamos como conhecimento, construindo, desse
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