Press Release
Sobrevivência da captura acessória da pesca pode impactar a população das
espécies?
Experimentos de sobrevivência realizados com indivíduos provenientes de capturas acidentais da pesca danificados e descartados, revelou que o peixe Dicologlossa cuneata exibiu a menor mortalidade após um período de 48 horas (54%), seguido pelo caranguejo Polybius henslowii (65%) e o peixe Trachinus vipera (81%). Apesar da magnitude das porcentagens estimadas de mortalidade, o número médio de indivíduos que morrem durante os 15 minutos de dragagem (tempo padronizado para a pesca comercial) foi relativamente pequeno: 1.2, 3.24 e 11 para D. cuneata, T.vipera e P. henslowii, respectivamente. Contudo, quando o quadro é extrapolado para toda a frota pesqueira, o impacto dessa prática pode ser significativo sobre as populações das espécies estudadas, especialmente para D. cuneata.
O destino de capturas acessórias rejeitadas ao mar é uma questão de grande interesse para a pesquisa e gestão pesqueira. A pesca pode afetar a recuperação das populações ou o crescimento de muitos invertebrados e espécies de peixes, tanto comercial quanto não comercial. Experimentos de sobrevivência foram conduzidos por pesquisadores da Universidade do Algarve e do Instituto Português para Oceano e Atmosfera para verificar a capacidade de sobrevivência de animais danificados e descartados durante as operações de dragagem de bivalves. Três espécies acessórias da captura, dois peixes e um caranguejo, foram coletadas na costa noroeste de Portugal em 2009, durante a triagem a bordo dos arrastos realizados por barco de pesca comercial. Uma escala de pontuação arbitrária foi utilizada para quantificar o tipo e amplitude dos danos infligidos aos organismos.
As dragas de arrastão para a coleta de bivalves de interesse econômico têm sido usadas intensivamente ao longo da costa portuguesa, e embora tenham sido desenhadas para a coleta de bivalves, também capturam outros invertebrados bênticos e peixes demersais. De um modo geral, no presente estudo, a mortalidade de indivíduos danificados após 48 horas foi sempre acima de 50% para todas as espécies, indicando que a maioria dos indivíduos machucados irá morrer após o descarte. Além do estudo quantitativo, “é de grande importância entender a magnitude dos efeitos da pesca de bivalves sobre a população das espécies acessórias capturadas e descartadas, em uma escala global da pescaria sobre a área de estudo” dizem os autores.
Ao quantificar a sobrevivência de indivíduos danificados a pesquisa pode determinar o nível de corte para a função de sobrevivência de cada espécie. A mortalidade total associada à captura e o processo de manutenção dos estoques foram também adequadamente levados em consideração nesses cálculos. Outra importante conclusão alcançada foi que os estudos de sobrevivência contribuem para incrementar a exatidão das estimativas de mortalidade das espécies acessórias da pesca, baseando-se apenas em graus arbitrários de injúria.
Para saber mais sobre o assunto acesse o artigo completo do Brazilian Journal of Oceanography, 62 (4) no site www.scielo.com.br.
Contato: Francisco Leitão e-mail: fleitao@ualg.pt