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CATEGORIAS DE ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE

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CATEGORIAS DE ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE

Autoria: Míriam Rodrigues

Resumo

Este trabalho se propõe a comparar categorias de análise de assédio moral identificadas em estudos de pesquisadores brasileiros partindo-se de abordagem teórica e empírica. Os estudos ainda recentes, bem como a importância do tema, que envolve elementos internos e externos do espaço organizacional, sinalizam a necessidade de um maior aprofundamento em sua compreensão e também o desenvolvimento de estratégicas de prevenção e intervenção constantes, em detrimento a comportamentos que ignoram ou banalizam este fenômeno nos ambientes organizacionais. As comparações e discussões propostas neste estudo remetem para a abrangência e complexidade deste fenômeno, bem como à identificação de diferentes dimensões pelas quais pode ser compreendido e analisado.

1. Introdução

A despeito dos discursos que proclamam elementos como a humanização e democratização no mundo do trabalho, é sabido que empresas desenvolvem práticas abusivas quanto à centralização e abuso do poder. O alto nível de desemprego e a competitividade acirrada, hoje no âmbito mundial, que assolam as economias modernas podem contribuir na compreensão dos fatores que favorecem as práticas de assédio, uma vez que, diante deste cenário, muitos profissionais acabam se sujeitando a situações constrangedoras e indesejáveis em seus ambientes de trabalho, por medo de perder seu emprego (FREITAS, 2001). Entretanto, como é destacado por Freitas, Heloani e Barreto (2008), se por um lado, as empresas produzem violência e mal estar, é também certo que são também responsáveis por suas ações e consequências. Ainda segundo estes autores, as múltiplas facetas da violência no trabalho devem ser enfrentadas por múltiplos atores e a construção de ambientes de trabalho seguros e saudáveis devem ser objetivo a ser perseguido por indivíduos, grupos, empresas e instituições permanentemente.

Considerando a recentidade dos estudos sobre assédio moral tanto no Brasil quanto em outros países e a importância que reside na compreensão e, principalmente, na inibição deste fenômeno, que degrada os ambientes de trabalho, gerando consequências negativas para as próprias empresas e para as pessoas envolvidas, este estudo propõe uma análise comparativa entre conceitos e categorias de assédio moral no ambiente de trabalho baseada em estudos realizados por pesquisadores brasileiros, sendo um dos estudos realizado a partir de uma abordagem teórica e o outro a partir de uma abordagem empírica. Pretende-se, com esta análise, avançar nos estudos sobre o assédio moral no ambiente de trabalho, gerando reflexões sobre suas possibilidades de análise, bem como a tomada de posição dos atores envolvidos.

2. O assédio moral no ambiente de trabalho

2.1. O que é assédio moral ?

Hoel et al (2003), sinalizam que as primeiras pesquisas sobre assédio moral ocorreram na Escandinávia, na década de 80. Neste período houve uma intensificação do interesse em

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casos de stress, sendo que os primeiros casos de assédio moral foram relatados na Suécia e, posteriormente, na Noruega e Finlândia.

É atribuído ao psicólogo sueco Heinz Leymann, a publicação do primeiro estudo sobre o tema, em 1996, denominado Mobbing: la persécution au travail. Este estudo envolveu diferentes categorias profissionais durante vários anos e levou à identificação de comportamentos violentos no ambiente de trabalho, que foram denominados de “psicoterror”.

Em 1998, o livro Le harcèlement moral, escrito pela psiquiatra Marie France Hirigoyen, tornou-se rapidamente um best-seller, abrindo debates em escolas, universidades, sindicatos, empresas, repartições públicas, jornais, TV e revistas especializadas e de acesso popular (FREITAS, HELOANI E BARRETO, 2008).

O fenômeno do assédio moral recebe diferentes denominações em cada país, podendo variar de acordo com a origem da palavra, seu conceito e a cultura onde se insere.

Nos trabalhos de pesquisa em língua inglesa, pode-se identificar com certa frequência a utilização dos termos: mobbing, bulling e harrassment.

Mobbing vem do verbo inglês to mob, cuja tradução é maltratar, atacar, perseguir, sitiar. Já o substantivo mob, significa multidão, turba e, ainda, Mob, com letra maiúscula, significa máfia. O uso deste termo pode ser observado com maior frequência nos seguintes países: Suécia, Dinamarca, Finlândia, Suíça, Alemanha.

Já o termo bullying é utilizado de maneira mais ampla, indo desde chacotas e isolamento até condutas abusivas com conotações sexuais ou agressões físicas, referindo-se com maior frequência às ofensas individuais do que à violência organizacional. O uso do termo bullying pode ser observado com maior frequência na Inglaterra e alguns outros países de língua inglesa.

O termo harassment, que significa tormento ou assédio, pode ser mais encontrado em publicações nos Estados Unidos, principalmente em referências a situações de assédio sexual (sexual harassment), sendo também utilizado, em alguns casos, nas referências a assédio moral (moral harassment).

No Japão, o termo ijime é utilizado para descrever assédio. Segundo Hirigoyen (2002b), ijime não somente descreve as ofensas e humilhações infligidas às crianças no ambiente escolar, como também é utilizado para descrever, nas empresas nipônicas, as pressões de um grupo com o objetivo de formar os jovens recém-contratados ou ainda reprimir os elementos perturbadores.

Aguiar (2003) cita, ainda, os termos utilizados na Espanha e na França para referir-se ao fenômeno do assédio moral: psicoterror ou acoso moral na Espanha, e harcèlement moral na França.

Na Língua Portuguesa, segundo Ferreira (1986), assediar significa perseguir com insistência ou ainda importunar, molestar, com perguntas ou pretensões insistentes. Segundo o autor, moral refere-se a costumes, é um conjunto de regras de conduta consideradas válidas para qualquer tempo ou lugar, seja para um grupo ou uma pessoa determinada. Em Portugal, é chamado de terrorismo psíquico ou assédio moral e no Brasil, simplesmente, assédio moral. 2.2. Conceitos de assédio moral

Segundo Hirigoyen (2002a), os estudiosos do tema assédio moral não conseguiram ainda chegar a um denominador comum sobre uma definição suficientemente pertinente, pois esse fenômeno pode ser abordado de diferentes maneiras, de acordo com o ponto de vista que for adotado. Médicos, sociólogos e juristas, dentre outros, tratam o fenômeno do assédio moral em conformidade com seu foco de visão e atuação.

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Como as primeiras publicações abordando o tema começaram no início dos anos 80, também é importante considerar que se trata de um fenômeno que, embora não seja novo, tem sido estudado há pouco tempo.

A busca por conceitos de assédio moral resultou nos elementos apresentados no Quadro 1, onde podem ser observados conceitos de autores brasileiros que tem se dedicado ao estudo deste tema, como também autores de outros países.

Quadro 1: Conceitos de Assédio Moral

Autor (es) Ano / p. País Conceito

Einarsen 1999, p. 17 Noruega “perseguição sistemática de um colega, subordinado ou superior que, se realizada de maneira contínua, pode causar severos problemas sociais, psicológicos e psicossomáticos às vítimas”

Freitas, Heloani e Barreto

2008, p. 52 Brasil “trata-se de uma conduta abusiva e intencional, freqüente e repetida, que ocorre no ambiente de trabalho e que visa diminuir, humilhar, vexar, constranger, desqualificar e demolir psiquicamente um indivíduo ou um grupo, degradando as suas condições de trabalho, atingindo a sua dignidade e colocando em risco a sua integridade pessoal e profissional”

Hirigoyen 2002a, p.65 França “toda e qualquer conduta abusiva, manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho”

Leymann 1996, p. 165 Suécia “Comunicação anti-ética ou hostil, direcionada de maneira sistemática por um ou mais indivíduos”.

Uva 2008, p. 06 Portugal “ato de provocar uma violência psicológica no trabalho, de forma repetida e sistemática, com o objetivo de humilhar, isolar e desacreditar um trabalhador”

Zapf 2001, p. 70 Alemanha “ofender e excluir socialmente alguém ou delegar tarefas ofensivas”.

Fonte: elaborado pelo autor (tradução nossa)

Nas definições de assédio moral que foram apresentadas pode-se observar que:

• É caracterizado por condutas notadamente abusivas, que não podem ser confundidas com situações de conflito pertinentes ao dia-a-dia profissional;

• Existe um processo de intencionalidade por parte de quem assedia; • Caracteriza-se pela frequência e sistemática;

• Envolve relações de poder ou dominação entre quem assedia e quem é assediado;

• Pode gerar consequências negativas para a saúde do assediado, tanto no aspecto psíquico, quanto no aspecto físico, incluindo questões referentes à sua integridade e dignidade, dentre outros.

A observação destes conceitos, suas semelhanças e diferenças, permitem uma compreensão mais ampla do fenômeno e das diferentes nuances sob as quais ele pode ser analisado.

Também permite observar que não há consenso ou limites nas definições de assédio pesquisadas, o que pode ser justificado pelo fato de que o assédio constitui uma forma, muitas vezes sutil, de degradação psicológica (SESSO, 2005).

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A definição adotada por Leymann (1996) é, de acordo com Bradaschia (2007), a mais citada nas pesquisas e trabalhos científicos que tratam sobre o tema.

3. Categorias de análise do assédio moral

De maneira semelhante ao que ocorre com os conceitos de assédio, também podem ser encontradas diferentes categorias de análise do fenômeno do assédio moral.

Considerando a abrangência e a recentidade do trabalho, serão apresentadas as categorias identificadas por Bradaschia (2007), Rodrigues (2005), ambas pesquisadoras brasileiras.

3.1 Categorias de assédio moral identificadas por Bradaschia (2007)

Bradaschia (2007) realizou um amplo estudo, baseado em revisão das produções blibligráficas sobre o tema, com o objetivo de investigar como o assédio moral é identificado em estudos científicos, considerando as contribuições teóricas e empíricas de pesquisadores de vários países do mundo.

O estudo de Bradaschia (2007) permitiu a identificação das categorias apresentadas na Figura 1:

Figura 1 – Categorias de assédio moral segundo Bradaschia (2007) Fonte: Elaborado pelos autores

Ao abordar o assédio moral como um processo, Bradaschia (2007) destaca elementos referentes à incidência, duração, evolução da situação de assédio moral no trabalho, táticas utilizadas, lei do silêncio e reação das vítimas, sinalizando que o assédio moral é um fenômeno que não se limita a um país ou atividade específica, sendo que sua incidência poderá variar em função da definição utilizada, critério e metodologia de coleta de dados considerados.

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No que se refere às causas do assédio, a autora identifica: fatores individuais, fatores organizacionais, aspectos relacionados à cultura e clima organizacional, aspectos relacionados ao comportamento da liderança, aspectos relacionados à organização do trabalho, mudanças que ocorrem no interior das organizações, bem como fatores societais.

Bradaschia (2007) identificou que as consequências do assédio atingem as vítimas, as testemunhas e também as organizações. As vítimas têm consequências sobre sua saúde física, saúde mental, consequências para a carreira e para a família. Aqueles que testemunham atos violentos podem ter consequências semelhantes àquelas sentidas por pessoas diretamente envolvidas e as organizações podem ter consequências fortes no aspecto econômico.

Ao abordar o perfil da vítima, gênero, idade, setor e tamanho da empresa são analisados pela autora.

Quanto às direções do assédio moral, a pesquisa realizada por Bradaschia (2007) identifica o assédio ascendente, provocado pelo subordinado; descendente, provocado pela liderança; horizontal, quando ocorre entre os pares e misto, quando várias pessoas se envolvem nas situações de assédio.

São raros, segundo a autora, os estudos que tratem do perfil do agressor. As poucas menções encontradas abordam elementos substancialmente diferentes, o assediador pode ser uma importante peça para a organização, podem ser ditadores narcisistas ou ainda pessoas geralmente subservientes à autoridade.

Já os custos do assédio moral podem abranger, segundo Bradaschia (2007), o indivíduo, a empresa e também a sociedade.

Esta autora destaca que em seu estudo identificou importantes contribuições advindas da Psicologia, chamando a atenção para a gravidade das consequências do fenômeno sobre o indivíduo, sua saúde e emprego. Em muitos estudos, entretanto, foi notada uma forte busca pela identificação de culpados individuais ou ainda abordagens atreladas a condições intrínsecas das organizações, ignorando, por vezes, o contexto em que as situações de assédio ocorriam.

3.2 Categorias de assédio moral identificadas por Rodrigues (2005)

O estudo realizado por Rodrigues (2005), difere substancialmente daquele realizado por Bradaschia (2007) por apresentar categorias de assédio baseadas em pesquisa empírica. A pesquisa realizou-se sob abordagem qualitativa, mediante a análise de conteúdo léxica e semântica de respostas oferecidas por 175 profissionais atuantes em empresas paulistas de diferentes ramos e portes, a um formulário com questões abertas aplicado em sistema de auto-preenchimento. Seu objetivo foi analisar e compreender o fenômeno do assédio moral, visando sua caracterização.

O conteúdo que emergiu das respostas apresentadas pelos participantes da pesquisa foi agrupado em categorias (Figura 2), permitindo uma contextualização do fenômeno no aspecto longitudinal.

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Figura 2 – Categorias de assédio moral segundo Rodrigues (2005) Fonte: Adaptado de Rodrigues (2005)

Na pesquisa realizada por Rodrigues (2005), identificou-se que a predisposição de alguém para aceitar uma situação de assédio moral pode estar relacionada a um sentimento de “dever”, ou seja, de que o profissional não tem outra opção que não seja a de aceitar o assédio. Uma outra subcategoria identificada no que se refere à predisposição, estaria relacionada a uma modalidade onde os respondentes sinalizaram uma análise prévia, denominada pela autora de epistêmica, sobre a necessidade de aceitar a situação do assédio, seja por visualizar recompensas futuras, seja por não identificar outra possibilidade de ação.

Os agentes provocadores que emergiram na amostra de Rodrigues (2005), desempenham, em sua maioria, papéis que envolvem poder, tanto dentro, quanto fora da organização, sendo representados pela liderança, colegas de trabalho, clientes, sócios e fornecedores.

As vítimas são representadas por subordinados, cliente, fornecedores, bem como a própria empresa. Assim como os agentes provocadores, as vítimas podem se encontrar também fora da organização, extrapolando, portanto, seus limites.

A reação das vítimas no estudo de Rodrigues (2005), poderá ou não estar relacionada com o sentimento de dever. A necessidade, dever ou obrigação em acatar elementos referentes às situações de assédio emergiram na análise das respostas dos participantes da pesquisa, assim também como reações de aceitação ou ainda passividade total.

No que se refere ao que a vítima sentiu foram identificados desde os sentimentos mais intensos, como “raiva”, “ódio”, “indignação” até sentimentos que foram categorizados como positivos, exemplificados pelo “orgulho” que o respondente declara ter tido a respeito de seu posicionamento, as citações identificadas nesta categoria revelaram um universo de

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sentimentos que, em sua maioria, abatem o indivíduo, debilitando-o e comprometendo sua possibilidade de ação ou reação.

Na amostra analisada por Rodrigues (2005), a maior parte das menções aborda a incorporação por parte do respondente sob a forma de aprendizado. Outras menções fizeram referências à incorporação utilizando-se de modelos mentais (Exemplo: A corda sempre estoura do lado mais fraco.), julgamento de valor , amadurecimento profissional e ainda posicionamentos de resistência, no sentido de não se deixar abater pelo fenômeno.

As menções referentes aos motivos que levam os profissionais se sujeitarem às situações de assédio abordam, em sua maioria, relatos diretamente relacionados à necessidade de manutenção do emprego por parte da vítima. Outros motivos identificados foram: preocupação com o futuro, boa convivência com o grupo em geral, questões hierárquicas, por conveniência, medo de se expor, para garantir êxito na tarefa ou ainda para crescer como pessoa.

Os exemplos de situações trouxeram exemplos reais de histórias de vida dos respondentes da amostra. A maior parte destes exemplos refere-se a situações envolvendo o trabalho desenvolvido pela vítima e seu relacionamento com a empresa. Também foram relatadas situações envolvendo gestão da equipe, envolvendo veracidade de informações e relacionamento com colegas de trabalho.

No que se refere às consequências do assédio moral, o estudo de Rodrigues (2005) evidenciou que, em sua maioria, estas menções referem-se a relacionamentos: com a empresa, com os colegas de trabalho, com a família, com o cliente, com a liderança. Também foram mencionadas consequências físicas, referentes à visão de mundo e aspectos morais e éticos. É importante destacar que pouca ou nenhuma consequência também foram mencionadas pelos respondentes, suscitando questionamentos referentes a aspectos que poderiam estar relacionados a esta percepção do fenômeno do assédio moral.

Os dados analisados no estudo de Rodrigues (2005) revelaram que o assédio moral encontra-se presente no cotidiano das pessoas, influenciando sua vida profissional e familiar, os processos de tomada de decisão, comportamentos, auto-imagem, auto-estima, dentre outros. Suas consequências abrangem não apenas aqueles que estão envolvidos diretamente na situação, como desemprego e problemas físicos, mas também as próprias organizações, afetando, por exemplo, a imagem que funcionários, clientes e fornecedores possuem a seu respeito.

4. Análise comparativa entre os elementos convergentes das categorias propostas

As pesquisas realizadas por Bardaschia (2007) e Rodrigues (2005) sugerem a análise e compreensão do fenômeno do assédio moral, tendo como ponto de partida duas abordagens diferentes, o levantamento bibliográfico, no primeiro caso e a pesquisa empírica, no segundo.

Três foram os elementos comuns identificados nestes estudos: aquele que se refere ao assediador, denominado também de agente provocador ou agressor; a categoria referente às consequências do assédio moral e também os elementos que se referem ao perfil da vítima, mais especificamente às suas reações frente ao assédio.

Dentre os elementos comuns identificados nos estudos, destaca-se o que Rodrigues (2005) denomina “Agente Provocador” e que Bardaschia (2007) trata nas categorias “Perfil do Agressor” e “Direções”. Os dados que emergiram na pesquisa de Rodrigues (2005) estão diretamente relacionados à identificação de quem representa a figura do assediador, no caso, o líder, o sócio, o colega de trabalho, dentre outros, enquanto que na pesquisa de Bardaschia (2007) emergem as abordagens sobre a direção do assédio (ascendente, descendente,

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horizontal ou misto). Quanto ao perfil daqueles que praticam assédio, Bradaschia (2007) não identificou estudos que tratem sobre o tema diretamente, o que sugere possibilidades de novas abordagens, principalmente no que se refere ao processo de contratação realizado pelas empresas, no sentido de se buscar a identificação de perfis que possam vir a se encaixar no perfil de futuros assediadores, conforme destaca a autora.

As consequências do assédio também emergem em ambos os estudos, que identificaram que o fenômeno do assédio moral atinge e gera consequências para as pessoas, organizações, e sociedade de uma maneira geral. Estas consequências apontam para a abrangência da nocividade do assédio moral em diferentes âmbitos. Neste sentido, os estudos apontam para reflexões sobre as eventuais dimensões de estudo do fenômeno do assédio moral, que neste caso, está relacionada à dimensão social.

Os “Custos do Assédio”, identificados por Bradaschia (2007) também podem ser considerados como consequências, uma vez que decorrem do assédio. Muito embora o cálculo dos custos gerados como consequência das situações de assédio não seja um processo simples, como destacado pela própria autora, eles existem e não podem ser desconsiderados, seja pelo indivíduo, seja pela organização, seja pela própria sociedade. Esta abordagem sugere novas perspectivas de análise do assédio moral, considerando-se o ponto de vista financeiro, bem como uma nova possível dimensão de análise do fenômeno do assédio moral, a dimensão econômica.

Ao abordar o perfil da vítima, Bradaschia (2007) identificou estudos, a maioria no campo da Psicologia, que tratam, dentre outras coisas, das diferentes reações das vítimas frente a situações de assédio. Embora a personalidade possa ser um fator que influencia as reações e comportamentos nas situações de assédio, pesquisas sinalizam que algumas vítimas podem ser mais sensíveis ou reagir de maneira mais dramática. Já no estudo de Rodrigues (2005) as reações das vítimas surgem relacionadas a percepções de dever – no sentido de não ter outra opção de conduta, passividade e aceitação por parte das vítimas. No caso brasileiro, a passividade, aceitação e até mesmo o sentimento de dever, adotados como conduta em alguns casos, podem remeter a questões de natureza histórica, sociais e políticas. Neste sentido, destaca-se o posicionamento de Santos (2000), que defende que a passividade do povo brasileiro teria sido cunhada no desenvolvimento da cultura religiosa brasileira, caracterizada pela fragmentação, oriunda da subordinação da vida social e política à vida econômica. Tal abordagem remete à possibilidade de outras dimensões no estudo do fenômeno do assédio moral, além das anteriormente mencionadas, a dimensão histórica e política.

As categorias propostas e analisadas neste estudo trouxeram os diversos elementos que podem constituir o fenômeno do assédio moral, facilitando sua compreensão e permitindo aprofundamento em cada uma das categorias apresentadas de modo a identificar novas e diferentes perspectivas de análise.

No caso das categorias convergentes, a análise propiciou a identificação de que o assédio moral também pode ser analisado em suas diferentes dimensões: social, econômica, política ou ainda histórica, o que sugere uma agenda para pesquisas futuras nesta direção.

5. Considerações finais

Caracterizado em suas diferentes definições por condutas abusivas, uso desmedido do poder, intencionalidade e frequência, o assédio moral gera consequências tangíveis e intangíveis para o ambiente organizacional e seu entorno, não havendo, como identificado por Bradaschia (2007), prevalência em determinado país ou segmento.

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Banalizar ou ignorar a existência de práticas de assédio moral nas organizações, não minimiza seus efeitos e consequências, inclusive nos aspectos referentes a seus custos que, conforme lembrado por Freitas (2007), são pagos por todos: indivíduos, organizações e sociedades.

Em contrapartida, o estudo deste fenômeno cumpre um importante papel no sentido de chamar a atenção sobre o tema, analisá-lo sob diferentes perspectivas, entender e propor caminhos. Freitas (2007) lembra que somente a partir da nomeação de um fenômeno, seu estudo se torna viável e possível de ser analisado comparativamente e destaca também a importância de que exista sempre uma postura vigilante para que o fenômeno em questão não se torne apenas mais um tema da moda e que morra na irrelevância ou na esterilidade prática.

A comparação entre as categorias de análise do fenômeno do assédio moral no ambiente de trabalho apresentadas por Rodrigues (2005) e Bradaschia (2007) permitiu a identificação de seus aspectos convergentes bem como a percepção de que o constructo do assédio moral pode ser analisado mediante diferentes dimensões: social, econômica, histórica e política. Esta perspectiva sugere novas formas de abordagens e agendas de pesquisa, que, efetivamente, possam transpor os limites da organização, buscando propiciar uma compreensão e também uma ação mais efetiva sobre causas e consequências do assédio moral. Neste sentido ainda, vale o destaque para a condição do assédio moral enquanto um constructo, ou seja, algo que é construído e necessita ser adequadamente identificado no tempo e no espaço (FREITAS, 2007).

Os estudos sobre assédio moral no ambiente de trabalho têm se tornado mais frequentes, conforme destacado por Freitas (2007), o que pode ser considerado positivo se for considerada a gravidade do assunto. Há, entretanto, muito a se caminhar neste sentido.

O assédio moral encontra-se presente no universo organizacional e é reforçado muitas vezes por interesses individuais ou mesmo da própria organização. A questão é, como sinaliza Teixeira (2008), adotar a perspectiva de que não existe alternativa ou de que é possível contribuir para construir uma ambiente empresarial responsável, uma vez que os segmentos empresariais não apenas desempenham um papel econômico, mas também um papel social e político. A busca de elementos que propiciem a compreensão sobre o assédio moral, sua prevenção e combate representa, portanto, a adoção da perspectiva de que é possível contribuir positivamente para a mudança deste cenário, favorecendo assim, as pessoas, a empresa e, por que não dizer, a sociedade de uma maneira geral.

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