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"Guerreiros mnemónicos". Os partidos políticos e a memória da transição portuguesa durante as celebrações oficiais do 25 de Abril

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(1)

45ANOS

DEDEMOCRACIA

EMPORTUGAL

Coordenação:

Rui Branco

e

Tiago

Fernandes

ã

rrrrrrrrrrlllll rrrrrrrrrrlllll

(2)

Ficlta lftniat

gruã}ãcã{

Título 45 slos dc democracia ern Portugal

Caordc n t ça o Pivi Branco c Tiago Fcrnandes

-Edffo Assembleia <ìa República - Divisão de Edições

Rror'rãa Maria da Luz Dias

Capa e zlesrgz NruroTirnóteo

Pagiiloçqo e ?ré-intPresrãa Mário Charola

InpresãoPalnigrÁfica - Artes Gráficas, Lda.

Zlrzgrra 500 exemplares

I S B N 97 8-97 2- 5 5 6 -7 28-9

Dcpósìto hgal 473 073/20 Lisboa, agosto de 2020

O Assembleia cìa RcpírbÌica, Direitos reservados, Ìros termos tlo aÍtigo 52-" cla lei n ." 28/2003, dc 30 de julho. rwluparlame nto.pt

Ìnagem ch crpa

"Nao faças o jogo da rcacçâo, r'ota pela revolução: povo - voto, \oto - po1'o", da autoria dc Nlarcelino Vcspeirr - Nlovimento cìas Forças Armadas, 1975. Cornissão Naciond de Eleições

7

ÍNoICe

DE FIGURAS, GRÁFICoS ETABELAS

13

LISTA Dtr ABREVIATURAS,ACRONIMOS E SIGLAS

15

AGRADtrCIMtrNTOS

L/

NOTA Dtr ABtrRTURA

Eduardo Ferro Rodrigues, Presider"rte da Assembleia da República

ío

INTRODUÇÃO

45

ANOS DE

DEMOCRACIA

EM

PORTUGAL

BALANçO

E

REFLEXÔES

Rui Branco e Tiago Fernandes

33

CAPÍTULO

1

A

DEMOCRACIA EXCECIONAL

DE PORTUGAL:

coMo

A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS CONDUZTU

A VANTAGENS

POLÍTICAS DURADOURAS

Robert M. Fishman

47

CAPÍTULO

2

CICLOS DE PROTESTO

E

DEMOCRACIA

EM

PORTUGAL

E

EM ESPANHA

QOOO_ZOTZ)

Tiago Fernandes, Cláudia Araújo, Isabel Gorjão Santos, Eduardo Romanos e Danijela Dolenec

B1

CAPÍTULO

3

CARTOGRAFIA

DE UM

DECLIVE:

A

GEOGRAFIA

DA

PARTICIPAçÃO

ELEITORAL

NAS ELErçÕBS pORTUGUESAS

ogZ S -ZOtg)

(3)

86 87 BB

r04

106 707 110 r1.1. .: : t t

t

t

99

CAPÍTULO

4

AS

BASES

SOCIAIS DOS PARTIDOS PORTUGUESES

João Cancela e Pedro C. Magaihães

127

CAPÍTULO

5

MULHERES

EM

DEMOCRACIA:

TRABALHO'

FAMÍLIA

E

REPREStrNTAçÃO

POLÍTICA

Edr-ra Falorca da Costa

143

CAPÍTULO

6

A

ELITtr MINISTERIAL

DA

DEMOCRACIA

PORTUGUESA.

ENTRE

POLÍTICOS

E

TECNOCRATAS

António Costa Pinto 1()J

CAPÍTULO

7

.GUERREIROS MN EMÓNICO

S'. OS

PARTIDO

S

POLÍTICO

S

E

A

MEMORIA

DA

TRANSIçÃO

PORTUGUESA

DURANTE

AS

CELEBRAÇÕES

OFICIAIS

DO

25

DE

ABRIL

Filipa Raimundo e António Luís Dias

181

CAPÍTULO

B

ESTAD

O

-PROVIDÊNCIA

E

DEMO CRACIA

IGUALITARIA

PORTUGAL

E

A EUROPA

DO

SUL

Rui Branco 249

CAPÍTULO

9

45

ANOS DE

DEMOCRACIA.

o

CONTRIBUTO

DOS

MOVIMENTOS

DE

POPULAçAO

Maria Margarida Marques 225

CAPÍTULO

10

DEMOCRACIA, CRESCIMENTO ECONOMICO

E

CRISES EM

PORTUGAL

Ricardo Paes Mamede

247

NOTAS BIOGRÁFICAS DOS AUTORES

257

ÍNorce

RtrMISSIVo

gntffigcK

xlm

F'ï#KJKAs,

ffiKÂ&rãtels

K ?-&ü3KK,AS

Figuras Figura 3.1.

FigLla3.2.

Figura 3.3. Figura 3.4' Figura 3.5 Figura 4.1 Figura 4.2. Figura 4.3 Figura 4.4 Figura 4.5 Figura 4.6. Fïgura 4.7. Figura 4.8. Figura 4.9

Evolução da ta-xa de participação

Evolução da participação eleitoral por município

Conglomerado dos mapas coropléticos da distribuição

da taxa de participação nas eleições legislativas em Portugal

Conglomerado dos mapas coropléticos da distribuição

da taxa de participação nas eleições autárquicas em Portugal Participação eleitoral por habitat

Relação entre o género e a probabilidade de optar por PS, PSD/CDS, CDU, BE ou abstenção nas eleições legislativas (2002-20L9)

Relação entre a idade e a probabilidade de optar por PS, PSD/CDS, CDU, BE ou abstenção nas eleições legislativas (2002-201.9)

Relação entre a prática religiosa e a probabilidade de optar por PS, PSD/CDS, CDU, Btr ou abstenção nas eleições legislativas (2002-2019)

Desempenho relativo de PS e PSD/CDS del-Ìtro de cada classe social, em comparação com recordação de voto

da totalidade dos

inquiridos

eleitores

Desempenho relativo de CDU e BE dentro de cada classe social, em comparação com recordação cle voto

da totalidade dos

inquiridos

eleitores

Propensão para a abstenção dentro de cada classe social, em comparação com a abstenção da totalidade

dos

inquiridos

eleitores

Composição de classe de cada opção de voto Relação entre o grau de instrução e a probabilidade

de optar por PS, PSD/CDS, CDU, BE ou abstenção

nas eleições legislativas (2002-2019)

Desempenho relativo de cada uma das opções de voto

junto

dos pequenos comerciantes e empresários, em comparação com o eleitorado

total

84 85 113 1.1.4 71.2 11.2

(4)

ê

#,&ã3ã'g'KJK.ffi

',r

'GUERREIRo

s

MNEvtóxlco

s'.

os

PARTIDos

porÍrlcos

EAMEMoRIA

DA

TRANSIçÃO

PORTUGUESA

DURANTE

AS CELEBn,+,çOES

OFICIAIS

DO

2SDE,ABRIL

Filipa

Rsimundo

e

António Luís Dias

1.

TNTRODUçAO

É

hoj"

.onr.trsual na literatura que os partidos poiíticos e os seus representantes eleitos valorizam,

tanto

as atividades legislativas, como as atividades não legislativas, indepenclenternente de serem mais orientados parâ os votos (vote-seekìng), pâIa os cargos

(ffice-seeking) orÌ para as políticas (poticy-seeftìng) (Strorn, 1990).

Qrando

falamos de

atividades não legislativas referimo-nos a discursos parlamentares, interpelações, votos de pesar/conglatulação, entrevistas, cotnunicados de imprensa, entre outros. Os partidos reconhecem nas atividades não legislativas uma importante fetramenta nn competição pela marcação da agenda política (Green-Pederson,2010).

Além

disso, os partidos têm gerahnente um de três objetivos em ÌÌìente :pÍorÌìover uma imagem positiva rle si n-iestnos ('publicidade'); convencer o eleitorado da sua responsabilidade direta sobre determinadas conquistas que veeln como positivas ('reconhecimento') ou dar visibilidade à posição que defendem sobre deterrninada matéria ('tomada de posição')

(Mú.*,

1974).

Contrìbuir

para um meihor entendimento sobre a forma como as atìúdades não legislativas permitem

arealização de funções sirnbólicas

importantes

para os

partidos

é o nosso objetivo.

Este tÍabalho centra-se nas políticas da memória e na forma como os partidos

políticos

Íecorrern

a

atividades

não

legislativas

para publicitarern

a

sua história,

obterem reconhecimento sobre propostas legislativas apresentadas e

tomârcln

posi-ções sobre temas relacionados com

o

passado. Esta é uma área que

tem

sido pouco explorada na literatura sobre partidos políticos e atividade parlamentar, e que só recen-temente começou a despertar o interesse dos investigadores que se dedicam ao estudo

dos partidos e dos parlamentos.

O

nosso argumento é que os partidos compreendem

que, mesmo não

constituindo

matéria legislável

ou

com

capacidade de entrada na agenda, os legados da memória não podem ser ignorados e podem até traz.er beneÍïcios para efeitos de publicidade, reconhecimento ou tomada de posição. Por esse motivo, efemérides relacionadas

com

episódios marcântes

ou

personalidades destacadas do passado histórico Íecente de um país constituem oportunidades pâra os partidos

polí-ticos fazerem uma de três coisas:

publicitarem

a sua bagagem

histórica

para, assim,

(5)

1ír4 -1.í r\N(lS l)I'l DllilÌOCR.\CI.ì Litt i'()Ìì'i'l.i(ìi\1.

histórico na hÌtrÌ pela democracia ou nir sua constlução; ou toÌr-ìarem posição perante

revisionisrros históricos

ou

debates púrblicos relacionados

com

a

memória

coletiva.

Isso pode ser

feito

através de atividades não legislativas, tais como disclrsos 1;11 votos

de pesar ou de conglatulação. Cor.rtudo, não é expetável que os partidos políticos atr.i-buarn igual grau de ir.nportâ'cìa à representação simbólica nesta rnatéria.

Ao

longo deste crpítulo, analisarnos os discursos dos particlos políticos durante

as celebrações oficiais do 25 de

Abril

na Assembleia da Repúrblica (AR), desde 1976 ate 20Lc)1, corn

o

intuito

de co-mpreender de que

forma

é que se posicionarn e que

importância atribuetn aos legados da rnemória. Para tal, colreçaremos

por

clistingui--los quarrto ao gratÌ de tolerância que expresslìrr relativarrente a

nirlativas

que sejrrrn

distintas da stta e eÌìl que rnedida procurarÌì publicidade, reconhecimento

./oi,

to,nada

de posição ern lelação aos legados da rnemória, iltravés das suas intervelções. Neste Processo' atlalisarnos qualitirtivarneÌlte os discursos e agrupxlnos os par.tidás políticos

ern

f.'ção

da

proposra

ir'alítica de

Be'rh.rd

e KuÈik-(zot3).

Na

,"gu.,án

p^.t",

ProctlÍal]]os

iclentificar

os tópiccts que estão rnais associados

a

cada

grupo,

irtravés

de ttrna análise qttantitativa dos discursos. Nesta segunda parte, procur'ar-emos

ai'da

compreender ern qtÌe medida é qr-re

o

pós-clise de 2008

^it.ror,

.snbstaptiyarnente o

discr,rrso dos partidos durante as celebrações oficiais.

2. OS PARTTDOS

ENqUANTO

AGENTtrS

DE

MEMORIA

1-De notar

qtÌc' Por clivcrsos motivos, estas scssões não ocorreLam Ì.Ìos xllos cÌc 1989, 1992,1993 e

20II

Acrescc txnìbém o frcto cle não tcrÌnos conseguiclo loc:rlizar os rcgistos da scssão de 19g3.

Não

é expetável que as políticas da rnemória assurnan a rìesma ímportâ1cia para todos os partidos políticos. Ìsso pode dever-se ao seu papel l'ristór.ico ãr.rrante o

regirne

político

anterior, à sua composição inten.ra

no

que à

iontilr,ridade og

rero-vação das elites

diz

respeito,

ou

zìs características

do

seu eleitorado,

que

pode ser

mais ou tnenos sensível às questões dzr rnemória. Independenterner-rte das

.nrõ.,

q.r"

explicarn difererltes graus de

importância

que os

partidos atribuem

às políticas da

rnernória,

identificar

e

caracterrzar essas diferenças é

importante

para cãmpreender

esta dimensão das dinârnicas político-partidárias. Isso é tanto mais verdade se

conside-l?rmos que os partidos políticos e os seus representantes eleitos são

nrl

tipo

de agentes

de rnemória qtte "frequentemente tratam a história de forrna instmrnental de forrna a

construir uma visão do passado que

contrib.a

para uma legitirnação mais eficaz dos

seus esforços de conqristar e manter o poder" (Bernhard

.

K.bik,

201,3: 4).

A

insttumenttiização

da

rnemória

pode

assumir

quatro fonnas

clistintas

(Bernhard e

l(ubik,

2013):

Em prirneiro

l,,rgar; os parridos

pád.-

procLlrar construir Lrma narrativa' idea'Tiztda e exclusìr'a do passado, cuja visão tende a ser única, r.rnidi-recional

e mitificada,

qr"rer positiva, qr.rer negativa.

-

^

este

tipo

podemos clesignar

de

'guerreiros'

rn'emónicos. Em

segundo lugar, os

partidos

podË-

construir

uma

., rtì t<trLll(()iIì\1.\1.)\l{()S ('il'\l(lll)')\l'r}l lrlrr'\l \\lr\i'rltl\lì.\ llt\\ilr Ì)l I Ìì I

^"'Í' il -\ S C ÌÌ Llì Ìì Iì ;\('OÌìS () ìrl (l I,\ ì

.\o P()lì'tii(;trusA 165

S 1)(ì 2-; l )lì :\ {11ì Ì ì .

detenninada narrativa soble o pzrssado, rnas revelal tolerância em relação a llarrativas

alternativas

-

a este segundo

tipo

podemos designar de'pluralistas'.

llstes

doìs tipos cle atores acrcditam na

irnportância

das qr.restões da rnernória para

a

suir estratégia política e tiran-i proveito das :rtividirdes não legislativas piìra

:idquilir

publìcidircle, r'eco-rrhecirnento

ot

frzer passar a sua posição. Mas, corno

dizíarros

anteriolmente, neÌn todos os partidos atribuem a ffìeslÌìlì impoltância lìs questões da rnen-rória. Pariì certos partidos, os debates sobre a memória não trazem beneÍÌcios evidentes. Nesse sentido, os particlos podern evitar entÌ'ar nos tem2Ìs do passzrdo histór'ico receÌrte e dos legados

da rnernória

-

neste

telceiro

caso podernos desigr-rá-los de 'renunciirdores'.

Ou,

em

qnarto 1r.rgar, podem aceitar pzrrticipar ern ações sobre as políticas da rnemória, rnzrs

2Ìpenas como fonna de

intloduzirern

questões da atualidade e planos que tenham para

o futuro

-

podemos designá-los de 'prospetivos'.

IJma forma de verificar eÌn que medida é quc os legados da memóri:r são

valo-rizados e instrllmentalizados pelos par-tidos políticos é ar-ralisar os discursos proferidos durante ceiebrações oficiais e efcrnéridcs de dimensão nacional.

É

irro

q,," falemos iro

longo do capítulo, com o

intuìto

de classificar os principais partidos políticos portu*

gueses relativ2Ìrnente à sua relação coÌn os legados da

mcuót'ia. Antes

disso, tcnta-rcmos compreender que liçõe s nos trazem os trabalhos existentcs base aclos nos discursos proferìdos na Assembleia da lìepírblìca cltirante as celebrações oficiais do 25 de

Ablil.

3.

AS

CtrLtrBRAçOES ANUAIS

DO

25

DE

ABRIL:

o

quE

Drz

^LTTERATURA

As

celebrações anuais do

25

de

Abril

têm

sido objeto de estudo ern diversas áreas disciplinares.

Ao

trâtâr-se de uma comemoração que se repete há rnais de 40 irnos com contornos rnuito semelhantes

-

uma cerimónia oÍìcia1 no Pallamento, com

inter-venções por parte de todos os partidos com represe ntação parlamentar', assim como do Presidente da Repúrblica, na presença cle destacadas figuras nacionais, corn cobertura rnediática

-

constitui um bom laboratório para explorar diferentes temáticas relacio-naclas corn a memória histórica, a retórica e

o

exercício do poder.

Billig

e

Marinho

(2014),

por

exemplo, recorrem a uma das celebrações mais polémicas,

ocolrida

em

2004,para analisar o tema da manipulação de informação z.r. rnanipulação de pessoas.

Ao

analisar as intervenções de dois deputados de bzrncadas opostâs, os rÌutores concluetn que o deputado indicado pelo Partido Comunista Portugttês (PCP) manipulou a

infor-mação durante o discurso, com

o

objetivo de lealçar zr posição

do

seu

partido

e que

o deputado indicado pelo

Centro

Democrático Social (CDS) manipulou a audiência,

ao exploral a indisponibilidade dos seus opositores parâ quebral as regÍas sociais das

celebrações, clue genuìnarnente lespeitavam, ao contrário do seu partido,

que é urn

partido qne se projeta como democrático, ao 1Ììesmo tenìpo que mantém "âs suas raízes

ideológicas na história

totalitária

do salazarismo" (201,4:1.72). Ainda que dificilmente se consiga

justificar

a classificação do CDS como Llm partido de extrerna-dteita(idem: 1,62),o artigo chama a atenção para a oportunidade que o momento solene representa

(6)

166 .rs.,rxos Dlt Dr.it\IOCiì;\ctA

liti

I,ORT'UcìÀt,

para os pâr'tidos se posicionarem e publicitarerÌì ulÌÌâ detelrninada imagern de si, rnesmo qrle com recurso a rnanipulação de informação ou de pessoas.

Analisando as celebrações ocorridas dez anos rnais tarde, em 201,4, durante o

período de implernentação do plano de res€ïate financeiro assinado entre Portugal e n

Tì'oica,

Oliveila

(2015) algumenta que houve setores da sociedade que forarn excluídos

da nalrativa cor.rstmída pelo governo, irssim como pelo Plesidente da Repirblica, en-i

particulaÍ

a

narrativa dos

'retomados'

e

dos

'retornados-emigrantes'. Os cidadãos portì.rgueses que regressaram a Portugal vindos das ex*colónias africanas ou dos países

de

enrigração a seguir ao

25

de

Abril

não forarn, segundo

o

ârltoÌl

englobados 1zr

narrativa oficial. Urna possível leitura dos resultados apresentados por Oliveira é que os

discursos proferidos dnrante estas sessões cornemorativas são

dirigidos

ao eleìtorrìdo que os par-tidos identificam como seu.

O

caso dos retornados ó um caso de um eleito-rado corn fraca representação partidária, recebendo ocasionalnente a atenção do CDS, mâs seln urn partido que de

folmir

consistente e sistelnática os represente, o que ajuda a compreender a ausência de referências nos discursos analisados.

Nurn

registo

mais historiográfico,

o

trabalho de

Rarnalho

(2015)

compara as celebrações oficiais com as celebrações populares e encontÍa elementos comuns ?Ì

ambos, norneadamente a leprodução de ano p2ìra ano, ao longo da prirneira décadn da democracia, de urna grande narrativa partilhada.

Ainda

assir.n, são identificáveis dife-rentes interpretações dos marcos sirnbólicos da transição entre a esquerda e ir direita. Segr-rndo Rar.nalho, a esquerda tende a defender o

25

de

Ablil

enquanto "momento de afirmação lerrolucionária" e o 25 de Noven-rblo como "traição"; enquanto zr

dileitir

tende a defenclel o 25 de Novernbro como o momento em que se Íetoma "os ideais cle liberdade e democraciir" (20L5 : 11.2).

Esta diferenciação cntre a narLativa dos

paltidos

de esquerda e dos partidos

de direita

está tarnbén.r preserìte

no

trabalho

de

Soutelo (2009), que

identifica

nos disculsos profelidos pela direita, dentro e

fola

do Parlamento, cÌulante os anos 1980 e

1990, corno expressando "tendências 'revisionistas"'que se rnatelializarn, entÍe orÌtrâs coisas, numa "inter-pretação negativa do processo revolucionário" (2009: 147).

Ainda

que nos

pareç:r

difícil

classificar as visões negativas sobre

os

âcontecimerìtos que

marcaram

o

ano de 1.975

cono

expressão de "tendências 'revisionistas"', esta análise

aponta, à partida, pâra uma leitura dos acor-rtecirnentos que caracterizaram o segundo

ano da transição democrática portrÌgrÌesa marcadamente

distinta

entre a esquerda e

a

direita

e reveladora de

um

reduzido grau de tolerância face à narrativa alternativa.

Ainda

que mais afzrstado

do objcto

deste capítulo

-

ou

seja, da questão dos

partidos políticos

e a

mernória

da

trar.rsição portuguesa

-

o

trabalho de

N4arqries

(2014),

sobre

os

discursos presidenciais

dulante

as celebrirções

oficiais

do 25

de

Abril

na Assernbleia da Repírblica, aponta para uma dimensão relevante : a figura do Presidente como Lim agente mnemónico 'prospetivo', para trttT\zar a terrninologia de

Bernhard e

I(ubik

(2013) acima citada.

Ao

analisar os discursos dos r'ários Plesidentes

da Repúrblìca desde 1976, â âutora chega a uma conclusão transversal ir todos: a

cele-bração "constitr-ri

um

momento priülegiado

para

o

Presidente

da

República traçar

objetivos e carninhos para

o

país, a

nível

político, económico,

cultural

e social (...).

A

sisternaticidade desta age nda, nos discursos analisados, configura-se como o ernergir' de uma finalidade constitutiva deste género discursivo" (Marques, 201.4:31.0).

.cLnìRtÌti)1ìOS À1N-IlìlÓNICOS'. OS lìi\lìÌ'Ìl)OS POl.Í.llCOS lì /\ XIIìtrIÓììJr\ DAt'Ìì,\NSlcÁo poììl ltGLtLSr\ 1ó7

I)UtìAr*'f Iì,\S CÌ,tL,liBiì,\COtis oìitct.\ts t)o 25 Dti ,\Blì Ìr.

Outros

estudos

têm olhado

para a presença

do

passado e erÌ1

palticular

da

memória

do

25

de

Abril,

no

Parlamento,

fora

das sessões cornernorativas,

llomer-damente

no âmbito

de iniciativas legislativas. Através da análìse da

forma

corÌìo os

partidos parlaÌnentares votârÌì as iniciativas relacionadas com os legados

do

Estado

Novo, verificamos que existe

utn relativo nível

de coÌìsenso

no

que

diz

respeito

lo

passado autoritário e que a memória da transição é mais fi'aturante, tornando os partidos

de dìleita mais ativos nestes temas do que podia ser de esperar.'A direita

utilizou

efeti-vamente a memória da transição durante o processo legislativo, queÍ no conteíldo das suas propostâs, qì,Ìef atÍavés da forma como justificou o seu voto"

(Raimundo,2017

10).

Por

fim,

ao nível das atividades não legislativas, existe tarnbérn evidência da

irnportância que os partidos atribuem aos legados da memória. Urna análise centrada

nos votos de pesar/congratulação revela três aspetos: ern

primeiro

lugar,

o

PCP e o

CDS têrn sido os partidos mais consistentes na forma cotno se têm posicionado perante os votos de pesar relativos a figuras marcantes do 25 de

Abril

e do 25 de Novembro.

Em

rnuitos casos, os partidos deixam claro que o seu set-rtido de

voto

se ficou a dever

ao texto aplese ntado pelo ploponente, mais do que à pessoa hon-renageda.

Em

segundo lr,rgal, em todos os casos ar-ralisados, os partidos políticos posicionaratn-se a favor ott contra o voto de pesar, corÌì utna exceção: o Partido Social Dernocrata (PSD), que nuln dos casos decide abster-se. Por

írltimo, o

útnico

partido

que oPtotl

por apoial

todas

os votos de pesar, independentemente de se tratarem de figuras replesentativas do

25 de

Abril

ou do 25 de Novernbro

foi

o Partido Socialista (PS) (Rairnundo e

Alneida,

2019). Estas conclusões srÌgereln que PS e PSD, os clois rnaiores partidos centristas,

tendem a ter um comportiìmento qLre se demarca, peio n-renos em certas ocasiões, das

posições mais inflexíveis dos restantes.

Os trabalhos acima citados partilham, assim, alguns pontos comurls: a idein de que as celebrações

constitue[ì

molÌìentos qrle a

maioÍia

dos partidos parlamentat'es valoriza para publicital' a sua visão do p?tssado; a ideia de que os partidos sabem qì.Ìe

estão a falar para o seu eleitorado e procuram

ir

ao encontro da visão do pirssado que

acreditam ser a sua; a esquerda e a

dircitir

levelarn tendencialnente visões

maÍcada-mente distintas sobre a transição portLÌguesa e de intoler'ância fiice à visão alternativa.

No

sentido de entlar em diálogo com esta literatura, procllraremos ern seguidzr classificar os paÌ'tidos políticos com assento parlamentar entre1976

e2019,utilizando

a proposta analítica de Bernl-rard e

I(ubik

(201,3).

4.

UM PARLAMENTO

DOMINADO

POR'GUtrRREIROS

MNEMONICOS'

F,m201,9, celebrararn-se

45

anos da queda

do

Estado

Novo

e

do início

da

constlução da democracia portuguesa. Apesar de a longevidade da democracia

ter'

superado a do regime autoritário que 1he precedeu, os legados da memória estão ainda

muito

presentes na cultura política nacional e são incontornáveìs em qualquer balanço que se queira fazer sobre o período dernocrático.

(7)

168 .1.5 nNo-c 1)iì, t)tìNocÌìACtr\ !tr\t polì'l UC,\1.

ATabela

7.1. rnostra

de

que

forma

os

partidos

con-Ì assento na

AR poderl

ser

classificados

com

base

nos

discursos

apresentados

durante

as

celebrações

oficiais, entre 1,977 e 201,9, alérn

do

sen posicionalÌ-Ìento nâ escala esquerda/direita2.

A

tabela distingue tarnbém

dois tipos

de 'guerreiros': os 'guerreiros de

Abr.il' (Ca)

-

aqueles que celebrarn âpenas e só

o

di:r

da queda

do

Estado Novo,

ou

seja,

o

dia

25 de AbLil

-

e os 'guelleiros de Novernbro'(GN)

-

aqr.reles que apoiararn a lnta

anti-comunista e associam o seu desfecho ao inícìo da consolidação democrática, on seja, o

dia 25 de Novembro.

urn aspeto fundarnental que sobressai da leitura desta tabela:

o

Parlameuto português

tern sido

quase exclusivamente dorninado

por

'guerleiros'

mnernónicos

-

partidos que defenclern nrna visão Írnica, unidirecional e

mitificada

da trarrsição dernocrática portuguesa. As exceções são os dois principais partidos: o pS

-cujo discurso corresponde ao

tipo

pluralista'-

e o do PSD

-

que, ainda que tenha tido

oscilações ao

longo

das legislaturas,

foi

durante muitos ânos rÌn-ì 'prospetivo'.

Ainda

assim, por ter tido períodos em qLle o seu discurso se aploximou do discurso dos

'guer-reiros de Novernbro', o PSD surge associado 2r esta categoria r-r:rTabela 7.1. Por fin-r, o

Írnico partido qÌ,Ìe entrorÌ na AR en-r 201,5

-

Pessoas-Animais-Natureza

(leN)

-

apre-senta-se, ao lonpço dos quatro anos ern que esteve no Parlamento, corÌìo urn prospetivo, sern desenvolver qr,ralqner visão sobre o 25 de

Abril

ou os rlÌeses que se segnirarr-r.

Tanar,r 7.1. Classificaçlo dos partidos parlarnentales portugueses (7976-201,9)

Partido Anos Lugares ll D cÌ\ cN Pl Pr

ASDI - Ação Social Dcrnocrata Ìnclepenclcntc tÌE

-

Bloco cle ììsqucrd:r

CDS

-

Centro Dcmocrático Socinl

^,lDP/CDE -

Nlovirncnto Dcmocr ático Portuguôs

PAN

-

Pessoas-Animais-Naturcza

PCP

-

Partido Cornunistir Por tuguês PDV

-

Partìdo Ecologista'Os Verdes' PPNI - PrrtìJo Poprrlrr Nìonrrrqrrico PRD P:rrtido RenovadorDemocrírticcr

PS

-

Partido Socialista PSD Partido Socìal DeÌìlocnta

UDDS

-

Llnião da Esqucrda para a Dcrnocrrrciir Socialista

IJDP

-

[Jniio f)enocrática Popuhr

1 980,83 1999- 1.976-1.979-87 2015- 1.976- 1.987-1.979-83 i 985-9 1 1976 7976-1980 83 1976 83 4

2-19

x 4,46

2-3

x 1

10-44

x

2x

5-6

7-45

x

57-121

x 73-148

4x

1x

X x X X X X X X X X X X x

(')

X x

Ììonte: cìabonção pliprir.

I-egenda: D - Esqucrcla; D I)ìreita; G-1\ - Gucrrciro clc Abril; GN - Guerrciro dc Novcnrbro; Pl - PltLrirlistrs; Pr - Prospctiros.

Apesar

de

aplesentarem

utn

posicionamento

marcadamente

distinto

em relação ao que considerafiì ser o l]1arco fundador da democracia portuguesa, entre eles

não stugem descrições substancialmente distintas em relação ao período autoritáÍio

2FIír duas exccções: a ASDI e o làN, dois partidos de posicionamento clifícil na esc:rlir esquercla/direita e

que por esse Ììloti\.o não foram classificados ucsta dirnensão.

GtitìRlìlilROS li--IÌU(ir\iCOS. OS r),\rì f il)OS POr.Í'f rCOS r;t lrrlttittt,.t I),\ ì'lì.\NsIc',\o rroRì'ii(;u1.rs.\ 169 DURr\N'l Iì.\S t]Ìll-tìÌllì1\ÇOLS Ol:L('l'\lS 1lO 2; l)L'l

nitRlÌ-pïopÍiâmente dito. Isso não significa cÌue o seu eleitorado não expresse atitucles

dife-Íentes: sâbemos qì.re isso é verdade a

partir

de estudos anteriores (Santanzr-Pereira,

Rairnundo

e

Pinto, 2016),

rr-ras essas diferenças 1lão se

encontrâlrl

espelhadas nas

ntitudes das elites que os represelltâm.

Nos

discursos parlamentâres

no

gelal, e nas

celebrações do 25 de

Abrìl

em

piìrticulìr,

a clzrssificação de ditadura e a condenação do

reginle anterior são um elemento transversal a todas as bancadas parlamentares.

Pol

esse motivo, a diferença elltre os 'guerreiros'de

Abril

e de Novernbro não Íeside na irnportância que recollhecem ao 25 de

Abril

enquanto mornento-chave no delrube da ditadura. Arnbos os grupos reconhecem que o dia 25 de

Abril

de 197 4 é

rm

dia-chave, el.n que rnilitares de rnédia patente derrubararn o Estado Novo, através de rlm golpe eÌ.n qrÌe pÍaticamente não houve derrame de szrngue (exceção feita ao processo

de lendição da polícia política ern Lisboa). As origens do golpe tarnbém paÍecern ser

consensu2ìis: por uln lado, uma motivação

corporltivl

corn origern nrlÌna xlteração legâl nos mecanismos de iìscensão na hierarquia militar; poÌ' outro lado, e rnais

impoÍtalìte

parâ a história do rnovimento, a convicção profnnda de que era necessiirio

pôr

firn

à

Gr.rerra Colonial, que durâva há 13 anos em Angola, Gr.riné-Bissau e Moçarnbique.

Entle

os 'guerreiros de

Abril'e

os 'guelreiros de Novembro' a

principal

fonte de discordância está na definição dos acontecimerltos que nlarcaram o ano de 1,975 e,

consequenten-Ìente, nâqì-lele que consideram ter sido o momento

fundadol

da den-ro-cracia poïtuguesa.

O

ano de 1975 foi LlrÌ ano de tentativas de golpe falhadas, de rzrdi-caliz.açío política, de ocupações e expropriações ilegais, de sirneamentos selvagens, de nacionalizações, de assaltos a sedes de carnpanha, entre r-Ìluitas outras ações coletivas jnstificadas, de um 1ado, coln base numa alegada legitirnidade Íevolucionária e, de outlo, como parte de uma 1r"rta anticomunista internacionaLnente âpoiadiì (Cerezales,2003).

Por reconhecereÌÌÌ no golpe dos capitães o po11to de partida para ttrn2Ì

parti-cipação política sem precedentes e o ìnício da constmção de urna noviì sociedâde, os

'gueneiros cle

Ablil'consideram

que não há outra data que deva ser comemoÍada que

não a data da Revoltição dos Cravos

-

o dia 25 de

Abril.

A1ém disso, os 'guerreiros de

Abril'tendem

a ser críticos dos sucessivos governos constitucionais, argumentando que

Abril

ficou "por cumprir". O partido

que melhor incorpora esta visão é

o

PCP, para quem, desde o fina1 da transição portuguesa, teve início uma tentativx sistemática dc destruição das grandes transformações económicas, sociais e políticas que o 25 de

Abril

tinha conqr.ristado.

Pelo facto de

o 25

de

Abril

ter

sido stÌcedido

por

umâ alegada tentativa de

tomada

do

poder

por

parte

do

PCP, os 'guerreitos de Novembro'consideram que o

momento fundador para a democracia poÍtugì.lesa é o motnento da derrota das forças

comunistas e seLls apoiantes

-

o dia25

de Novembro

de

1.975.

No

entender destes

partidos,

o

que se seglliu ao

25

de

AbLil

foi

urn

conjìrnto de excessos e

um

desvio

ideológico que aproximou o país de

um outro

tipo

de ditadura, desta

feita

de

natu-reza comunista.

O

COS é

o

rnelhor repÍesentante desta posição,

que não expressa qualquer tolerância em relação âos defensores dos ãcontecimentos qtie se seguiram ao 25 de

Abril.

Assim, Novembro representa "o verdadeiro

Abril",

o momento que crìott as condições para que uma democracia de

tipo

ocidental pudesse ser estabelecida no país. As ìntervenções

do

CDS

falam

mesmo numa 'traição' proïagonizada

pelo

PCP' dada a sua tentação

totalitária

de tomar o podeÍ através de meios leninistas.

(8)

I

170 45

^NOS

l)l:l ì)Ll;\lOClìÌ\(llA IìÀ1 POIìì'11(lAL

O

PS é

o único partido

que nunca assume uma posição de 'guerreir.o'.

A

sua

tendência é para celebiar

tanto

Abril

corno

Novernbrq

aproximando-se, quer. cÌ65

partidos de

esqr.rerda,

quer dos partidos de dileita.

Além do

PCP,

o

PS

é o

útnico

partido

existente à data do 25 de

Abril,

ao contrário dos principais partidos de direita,

que procuÍarn legitimar-se na nova democracia, convencendo o seu eleitorado da sua

dissociação do regime anterior.

Criado no

exílio, o PS é cornposto

por

resistentes ao

Estado Novo e a lut:r antifascista é uma importante fonte de legitirnação no contexto

de incerteza que caracterizou os prirneiros meses da transição. Por ontro lado,

junta-mente cor.Ì1 o PSD e o CDS, o PS adotou uma posição anticomunista clurante o a1o de

1.975,formando uma aliança coln o setor rnoderado das Forças Armadas. Essa aliança de forças anticomunistas haveria de desernbocar no 25 de Novernbro. Apesar de ter sido a sua posição anticomunista que levor.r o PS ao poder nas primeiras eleições

legis-lativas de 1,976

-

graças ao apoio da

direita

e do centro-direita

-

o

partido

não está

interessado ern ficar conotado com esse marco, em detrimento do 25 de

Abril.

Con-ro vimos, para todos os outros partidos parlamentares, tÍata-se de escolher

um

dos lados e essa escolira é relativarnente fácil de fazer.

No

caso do PS, particlo com uma inegável

raizna luta

antifascista,

ficar

conotado, jnntarnente com a direita, apenas com a luta anticornunista, é pôr en-ì causa uma importante coÌ"nponente da sua mârcâ.

Concluimos que nenhum dos grupos

identificaclos apresenta

urn

discr.rrso negativo em relação ao 25 de

Abril.

Pe 1o contrário, relativamente ao 25 de Nor.ernbro as expressões utilizadas virriam substancialmente. Se os 'guerreiros de

Abril'se

referem

a Novembro con-ìo a "Revolução diluída", a "defonnação do espírito original" e a

"rein-venção da história", os 'guerreiros de Noven-rbro'r.eem aquela data como o momento

que simboliza

"o

espírito autêntico

do 25

de

Abril",

o

"reencontro nacional com a

democracia", ou o "batismo de uma democracia parlarnentar".

Com

o objetivo de analisar de forma rnais sistemática quais as expressões e os

tópicos que caracterizam cada

tipo

de discurso, a próxima secção aplica r,rm método

diferente

aos mesmos dados, fornecendo uma visão rnais

longitudinal

e

articulada entre os tipos de discursos identificados.

5.

DAS'CONqUISTAS'

DE

ABRIL

A'INSTITUCION

^LLZAÇAO'

DE

NOVEMBRO

Nesta

segunda

parte,

apresentamos os resultados

de

uma Anrílìse de Texto

Ássistida par Computador, nomeadamente centrada em Mode/os de'fópìcos Esn'utttrai.r, um

conjunto de técnicas que tem sido utilizada na ciência política para estudar a agenda do

Parlamento Europeu (Greene

&

Cross, 2017)

ot

a evolução dos discursos presidenciais nos EUA (Schonhardt-Bailey, Yager,

&

Lahlou,201,2). Através de uma análise estatística da relação entre as palavras, sobretudo baseada na probabilidade de ocorrência ou não no mesmo texto de determinadas palavras, é possível tentar

identificar

quais os terÌas mais recorrentes num determinado discurso.

No

entanto, estas técnicas não substituem uma análise qualitativa dos textos. Aliás, o que fazem é sintet\zar informação para que

(ìLlt.tÌìtìDlÌìos i\1N*t.IlÓNÌcOS',. O5 Ì'r\tì'Ì-IDOS POr-í',t tCoS E I lrl,llttint,t Dr\ l'lìÀNSIç]Ão PolìT'l-rcuES,\ 171 Ì)UlìAr- f lì ÂS C IrL L:Lltì \( ( )lrs OÌìÌL'Í \l\ Iìtì 25 ])ìi;\llÌìlL

seja mais fácil analisar qì,ralitativamente urna grande quantidade de textos, zÌo rìesrrìo

telnpo que permitem uma identiÍìcação fácil da ocorr'ência de tópicos, constelações de

palavras qì.Ìe sì.Ìrgem mais interligadas entre si em cada discurso.

-

A

análise que em seguida se apresenta baseia-se, ern

primeiro

lugar, na

iden-tificação dos tópicos rnais recorrentes nos discursos sobÍe

o 25

de

Abril,

tentando

ilustrar cada tópico com exemplos relevantes do rnesmo. Depois de identificados estes

tópicos, analisa-se de que fonna a sua presença varia, tanto tendo en-ì conta cada gruPo mnemól"Ìico, como ao longo do teÌnpo.

O primeiro

passo na nossa análise será

identiÍìcar

qìrais os principais tópicos que podemos

identificar

nos discursos proferidos pelos depr"rtados nas sessòes

colÌÌe-rrorativas do 25 de

Abril.

Na Tzrbela 7 .2., podemos encontrar a lista dos seis tópicos

encontÍados

pelo

nosso rnodelo,

com a lista de

palavras mais freqr,rentes

e

cotrr a

descrìção qualitativa de cada tópico.

De

notar que esta descrição

foi

atribr"rícla por nós

qlÌalitiÌtivamente e advérn de urna análise de r"rm conjunto de textos onde cada tópico

está mais presente.

T,ul:l,t

7.2. Seis tópicos identificados

Tópico descriçâo Palt ras-chavc

Abril, Liberdadc, I loje, Tempo, Dctnocracia, Povo, Futuro,

Dia, Ser, Cada

Denocrircia, Portugal, Estaclo, Ser, Todos, Pornrgucses, Social, Sociedade, País, Política

Rcvolução c concluistas dc

Abril

Abril, País, Revolução, Direitos, Liberdade,Jovens,Toclos, Anos

Estado, País, Social, Democr:rcia, Toclos, Artos, I{ojc,

Portugal, Ser, Povo

Toclos, Portugueses, Dctlocracia, Scr, Hoje, Liberdade,

Portugal, Revolução, Anos, S

Abrì1, Povo, Trabalhadores, Política, Hoje, Nacional, País,

Luta, Vida, Iìevoluçiro

Se as palavras-chave identificadas não perrnitem uma

leituÍa

óbvia das

dife-Ì'enças entre os tópicos, já nos dão algumas pistas sobre essas diferenças. Mas a

identiÍì-cação de quais os textos onde cada tópico está maìs PÍesente permite-nos uma melhor análise de cada tópico.

Começando pelo

primeiro

tópico, verifica-se a sua relação com a irnportância de celebrar a liberdade e a democracia.

Um

bom exernplo deste tópico Pode ser

identi-ficado no início do discurso de

Nuno

Abecassis, deputado pelo CDS' em 1977:

"Pe1a terceira vez cot'tsccutiviÌ, e com representantes, só hoje celebram solenidade idêr-rtica eleitos pelo povo, que tem esta Assembleia como câsa e

como loca1 de trabalho, mais

um

aniversário do 25 de

Abril,

que desde a

primeira hora quisemos dernocrático e por isso mesmo pluralista e libeltador do homem e da sociedade portuguesa."

1

Celebrar a liberdadc de Abril

I

2 Dernocracia e Constinriçãtr 3

4

Crise e o 25 de Abril

5

Rcvolução e iÌrstituições

6

As reformas clo PlìllC

(9)

1

l

172 +.;,\Nos l)t.t I)lìi\toct{,\c] \ Ìtil ì)otì'tti(ìr\t.

Ou

então nrl intervenção do depr.rtirdo do PSD, Montalvão Mzrchado, 13 alos volvidos:

"[...] clirei que nlrncÌ é dernais celebrirr o 25 cÌc

Ablil.

Nesta Casa, sede

dl

dernoclacia portugucsa, não podernos, nluìcr, esquecer o que foi e o que Íepresentoll, e represellta, ess:r data. Lernblála é unra obrigação de todos nós, como obligação ó de todos os portugì.leses iìrÌliìntes cla libeldade e da dernocrircia."

Or-r seja, neste

tópico ellcontrarìos o

consenso de

Abril

enqì.ÌrìÍrto

rÌÌomento--chave. Revela o qrÌe seria de esperar r-reste tipo de sessão colnelnoÍativa, a1iás, a palavra 'celebraL'surge colno rÌÌna dâs qìJe mais distingue este tópico.

Aqui

encontraÌÌìos a

dimensão maìs consensual, como ilernos ver adiar-rte, clo 25 de

Ablil

e da importância de o celebrar'.

Um

segundo tópico, que apelidámos de'Democracia e Constitnição', estíÌ mais

ligado ao legado constitLrcionâl e democriitico do 25 de

Abril,

eÌrr contr?lpoÌlto

coÌr

o

legado subst2ìntivo que ilemos abordar no tópico seguinte.

Aqui

a transição é vista sob o prisl.na da ir.rstitucion alização de uma de mocracia representativa, da ordern

constitrÌ-cional e repr.rblicirna e, tambérn, eln rÌÌenor grau, da importância da adesão às CEE/UE.

Con'ro José L:rmego, deputado do PS, defendia em 2001:

"Comer.noram-se hoje, igualnente, os 25 anos cle entrada ern vigor da

Constituição da Repírblica. urn ano antes, ern 25 de abril de1975, as eleições para a Asserlblciur Constitninte conìeçaÍam a fazer rer.erter urna dinârlica clue

faria resvalzrr o país par:r:r confrontação. Em 25 de abril de 1976,

consolidou--se a matriz democrática e coÌlstitucional do regirne szrído da Revolr.rção.

Subseqr:entemente, as revisões de 1982 e 1989 afeiçoaÍaln o texto

cor-ìstìtì,I-cional ao modelo de uma tlcmocrlcil l'epleserìtxtiv.ì plena e às necessidades de

urna economia aberta."

Ou

como lefere José Paulo Carvalho do CDS:

"Portugal

é

hoje urn país moderno, coÌn LlrnrÌ democracia sólida,

ple narnente integrado na União Er,rropei:r. "

Neste tópico, a transição é apresentada corno LuÌì

primeiro

passo pârâ a criação de uma dernocracia estáve1, sendo o regirne apresentado como o maior legado desta.

Legado esse que

foi

aproftrndado pela Constitnição de 1.976,pelas suas revisões e pela

adesão ao projeto europeu.

Contrastando com este tópico, o tópico segLÌinte, "Revolução e Conquistas de

Abril",

está mais centrado nos ganhos lìgados com as políticas sociâis que

o 25

de

Abril

trorxe.

Mais

do

que

o

regime

político,

aqui

o

maior

legado

identificado

está

relacionado

com

a conquista de

direitos. No

entanto, ao

contrário de

outro

tópico

que iremos abordar abaixo, aqui os legados políticos são rnais difusos, baseando-se na

construção do Estado Social que surgiu após 1,974. Como dizia Heloísa Apolónia, do PEV, ern 2004:

(ìLjIiìÌìlìlÌìo,c ì1r-.Lr\loNlcos'. os t),\lì t'il)os t'o].ít'TCOS t-i,\ tltìNtitttr\ Ì)r|l ìì,\^-siçriio poÌì nlGtrÌ.tsr\ 173 1)Ltìì,\r-'lì.1 ,\s r l-l.l,1llì tc tll-: tìt-tt Í \ LS l)() :i Ì)ll r\ÌlÌìlì.

"Qre da lìevolução de

Abril

decorreu progresso, n-rodernidade, não há dírvicla. Conquistaram-se direitos lluÌìca al-Ìtes vividos, nourerdarner-rte na oportunidade de edr.rcação, no 2Ìcesso rì saírde, na disponibilização de

s:rnea-rnento biisico, na deíesa dos trabalhadores. Conquistou-se ainda o direito à paz, coÌn o

fim

da inqualificírvel Guerra Colonial."

Sendo que a

importância

destes direitos conquistiìdos rnuitas vezes iÌpresen-ta-se ligada a divisões políticas que ocorrern

lnuito

depois da Revolução.

Em

1998,

Odete

Santos, do PCP,

liga

as celebrações do

25

de

Abril

à realização

do

referendo sobre a despenalização da interrupção da glavidez llesse n-ìesmo ano:

"São esses milhtrres de mulheres anóninas que hoje saÍrdarn a liber* dirde, que sabem que rnuito de

Abril

não está culÌìprido. Elas registaranr do Programa do NÍi-A a garantir de urna r-rova política social, tenclo ern todos os

domínios, como objetivo, a defesa dos intelesses das classes traball-radoras.

E isto

dizllies

respeito e não estii cumprido, como

lhe diz

lespcito e se

encoÌ1trÌ no cerne de

Abril

zr efetiva garantir do direito à liberdade. E porque conlcÌÌloriÌm este 25 de

Abril,

arrostando a exigôncia refcrcr-rdária paÍ:Ì Íevo-gação dc urna lei injusta contrx a sua libercladc individual, as mull-reres assi-nalanr hoje, de uma forma especial, o dia da conquista de todas as 1ibcrclades."

O

qr.rarto

tópico

identificado, a "Crise e o 25 de

Ablil",

é o que está presente

de forma mais

limitada

no tempo. Neste encontÌ'aÌnos referências à crise econólnicâ e

à iÌrteÍvenção da

toica

qlre se seglrirl (2071,-2014).

Afirma-se

que as políticas econó-rnicas de então estavrìm a pôr em causa o legado social do 25 de

Abril

que discutimos

no tópico anterioÌ'. Como diz Cecília

Honório,

do BE, em 20L2

"E se o 25 cle

Abril

pode, sern reservas, ser enter-rdido coll"Ìo utrÌa revo-Iução, foi exatamente porque urÌla grandc maioria social impôs a r:niversali-zação dos direitos sociaìs e dos direitos políticos.

A

segurar-rça social, a escolir

pírblica, o Serviço Nacional de Saírde

-

eis a herança dc

Abril

que hoje corre o

risco de ser desrnontada peç2ì poÍ peçâ."

O

quinto tópico

refere-se à Revolr.rção e às instituições. Enquanto o scgundo

tópico referia o legado institucional do 25 de

Abrìl,

este refeÍe-se Ìnâis explicitâmente

ao desenrolar da lìevolr"rção e à importância da vitória das instituições sobre âs tendên-cias mais revolucionárias, destacando-se,

tanto

o 25

de Novembro,

como

a eleição do Presidente Ramalho Eanes, como momentos fundametrtais.

Como

dizia Meneres

Pimentel, deputado do PSD, em 1979:

"E importar-rte celebrar o 25 de Abli1, rnas comernorá-lo corn serer"ridade,

reflexão e sobriedade (...) o ato do 25 de

Abril

foi legítimo e autêntico peia intenção democrática qr.re lhe estava subjacente e o seu progÌama clzrramente estabelecia c impunha. Só por isso a esrnagadora lsicl maioria clos portr.rglteses esteve com a Revolução libeltadora. Mas o povo não precisava cltte tivessem

(10)

174 +s ,\xos L)Lr Dtr,\toctìr\clr ÌiÀr l,oÌì'f

ii(;Ar-.cr.'.tRlìEÌììosrrNIìNl(iNICgS.osi,r\R't'rIlOSt)ot,Íucosttr\\IÌìì1ÓIìlr\Ì)jVl'RANSJçiioPolì-lil{ìtJIì-qA 175 l)lllìÀN1 E ÀS CEi-IìBIìÀ(lÕ1:lS OÌfÌCIr\lS 1)O 2s Dl',) ARiìiL

persistido em

libertíJo

com a foÍça e, poÍtanto, sem a Íazão dernocriitica.

lòi

irrdispensirvel a violência ribertadora er-r 25 de Abrir dc 1974, nas

forarrì Ì.epro_

víveis as atit'des u'iraterais tomadas em Ìnomentos posteriores,

desig'adamente

a partir de 12 de março de r9zs. só q.e forças sectárias pretender.:r'r

-

e conse-guiram, enrbora parcialmente

-

alterar o prograrna democrático entregue .o

país

no dta,26 de abril e daí

.

recessidade cre outro 25 cre Abril liber ta.Ìo,

qi"

,,.o...,,,

como é reco.hecido, gerahnente, em 25 de Novernbro. pelas atitLrdes corajosas e dernocráticas tornadas

po'v.

Ex.'. Sr. preside'te da RepÍrblica rRarnalrro ,ianes],

'essa clattr a rnaio'i'.r absoluta dos portugueses não hesìtou em elegê{o em 19z6

para o exercício das pesadas, mas rron'osas funções de preside'te ãa Repírbrica.',

ou

como diria o seu corega de partido, o deputado pacheco pereira,

em

1996:

"["']

é que o25 de

Abril

não tern dono, ou se o tem, é port.gar e os

portugueses. Todos aqueles que o quiseram corn clono, ou que se comportem corno se fossem seus donos, seus herdeiros, ou seus legítirnos i'tér-pretes, referern-se a um outro n25 de

Abrii,,

:r um n25 de

Abril,

que dividiLr os pol.rì.r*

gueses no passado e os

di'idiria

lÌo

presente. Foi exatarnente porque não q.isémos tornar progÌa'rática

a

rossa dernoc-racia ou ad.ietivávcl

o

nor.o regime, que os acontecimentos do pós-25 de

Abril

for-ani no sentido da demo-cracia política,

o'dito

de outro nodo, da vontade soberara dos portugueses.', Or't seja, neste tópico encontramos um confi'onto rnais claro entre os diferentes

momentos do 25 de

Abril

e uma tentativa de

distinguir

o período revolucionário do

processo de ir.rstitucion allzação da democracia.

-

Finahnente, no sexto tópico, encontramos uma discussão mais direta sobre as

refo'nas

impulsio'adas

d.r.o,ri. o

pREC e uma iigação

direta

entre a Revolução e

estas. Corno dizia Acácio Barreiros, em

I9Z7,então

deputado da UDp: "Mas s:rudar o 25 de

Abrir

é sobretr-rcro saber correspo'der às amplas exigências dernocráticas e patrióticas do nosso povo. (...) Nestes três anos o

povo poÍtuguês realizou algunas das suas aspirações

vitais,

conquistou direitos fundamenrais. (...)

E-

grandiosas jorrru.rrì .1. ruto o povo impôs o

fim

da guerra dando o b'aço à

l'ta

aos povos clas ex-colónias, i,npôs a nacionari-znção de importlnte s setores da economia, varrendo po.a foro do noss:r pátria

os cliampalimaud, os Melos e outros tubarões fascistas. No Are'tejo clezenas

de milhares de trabalhadores lançavam-se nas ocupações de terras, termi-nando com a expl0ração dos latifundiários e resistir-rdo, depois, à sabotagenr,

aos ataques organizados por bandos fascistas, aos incênclios das searas. (...) Nas empresas os trabalhadores lutararn contra os

sabotaclorcs fascistas e irnpu-seram

o

seu saneamento.

(...)

Nos

CT!

na TAp, na Lisnave, os oficiais manda'am os soldados disparar sobre o povo) firas estes recusaram e o 25 de

Abril

saiu mais íorte' Aq'eres que hojeìtacarn as nacionarizações, o sanea-mento dos fzrscistas, as ocupações e a Reforma A gríria, ea hrta áos moradores pobres, é o próprio 25 de Abrilque esrão a aracar.

É

,r..t"

tópico

que

encontrâmos

mais

a

experiência

do 25 de

Ablil

não

enqnânto

projeto

po1ítico-institucional, mas enqì,Ìânto

projeto

de transformação da

soc'iedade .-Ao contrário

do tópico anterior

em que a

história

institucior.ral clo 25 de

Abril

era tratada, aqui são as políticas desenvolvidas no período o tema centrâl'

Estes são seis

principais tópicos

que conseguirnos

identificar uos

discursos

profericÌos nas cerin-róúas de cometnorzrção do 25 de

Abril'

Mas como seria de esPeral'

i.ndo

.t-11 colsideração o conteúdo destes, estes difereÌltes tóPicos t]ão se eucontran-t

clistribuídos de igual forma entre as diferentes categorias dos partidos' Na Figura 7'1', encolltramos a proporção esperada de cirda tópico

poÍ

categor'ìa de partido.

Frcune 7.1. Proporção espcradn de cacla tópico por gruPos de partidos

(ìN1ìípico1+ Gr-'l'ópìco2 + (ìn"Tópicoi3 + CN Tópico .1 CN'lópicoó -_--CATópi,io G;\ Gr\'Ìípico 5 OTTópico 4 CN Trlpìco 5 Gt\'Ììfico 1 GÂTópico3 + Gr\Ttipìco(. + OTTópico I O'l'l'ópico 2 o'Ì'Ììpico OITónìco6 + 0.1 00 t)'f lìpic,' 5 0.1 02 0.3 0,1 0.5

Nota: qrÌaÌìto miris para n clircita, mais sc espera quc o tóPico esteja rssociaclo ao gltlPo referido (g"'rreiros de Abril

(GA), [uerreiros cle Novembro (GN), ou outros (OT))

como

se pode veriÍìcar, a

partir

da análise da

Figura

7.1., a

distribuição

de

cada

tópico

p"lo, dif.r.,rtes

grupãs

de

partidos

valia

consoante

o

tema

abordado.

O

primãiro iópi.o,

consubstanciado

da

celebração genérica

da

data, está preseÍìte praticamente na mesma proporção nos dìferentes partidos.

No

entanto' é apenas neste

tópico que encontïamos este

tipo

de consenso.

'

ò,

partidos 'guerreir.os de Novembro' centram

o

seu discurso sobre o

25

de

Abril,

na

importância

clos desenvolvimentos

institucionais

do pós-Revolução, para

refrear os radicallsmos, tópico 5, e a democracia e o regime constitucional, enquanto

o principal legado da transição, tópico

2.É

verdade que também encontramos alguma

p...",rçâ

do.

iópi.o,

referentes às ionquistas de

Abril

e à crise, mâs em menoÍ grau. Por

(11)

-'!

17ír +5 ÀNOS l)Ì.1 l)t):\lt)( RACl.\ 1,1ìl 1)()Ìì'l Ì-t(1,\t

0,7

a,.,

I

Encontramos urna distribr-rição sernelhante de tópicos na categoria de

plr.rra-listas. Neste

gltÌpo,

o

legaclo dcrnocrático

e

corrstitucional

do

regime é clararne'te

o

tópico

m'.ris abordirdo.

O

intercssante

é

que aqui, ao

contrário

clos 'guerreiros ds

Novetnbro', existe uma presença equivalente dos tópicos 3

c

5, referentes ao leg.do

de cortquistas sociais e à in-rportância dos desenvolvimeÌrtos políticos dos anos que se

sttcederam ao 25 cle

Ablil.

Por firn, r-rão encontrar.Ìros rìrììx presença significativa irestes disculsos do debate, quel das reformas do PIìEC, quer da politização do 25 de

Abrit

drrlante a crise econórnica de 2010-2014.

A

distribuição dos tópicos uos discursos dos 'guelreìros de

Abril'distingqe-se

miris claramente dos dois outros

gnlpos.Ao

contrár'io dos outros casos, aqui o tópico m:ris presettte é referente às conquistas sociais da lìevolução como

rlaior

legirdo destir.

En-r segur-rdo

lugar de tópico

n-riris pl'esellte, encontramos

uma

discussão sobre as

reformas do PIìEC e, em telceiro lugar, encontrarnos [11Ììiì tentativa dc associação da

cr-ise ecouótnica rra scgttnda década do século

)Cfl

e o 25 de AbLil. l\4esrno qlre esre tópico, o nitmelo 4, stuja cotno t-tão muito presente, é preciso ter em coÌìta qtie este estli

tnttito

concentrado no tempo,

couo

seria de espet'ar.

Ou

seja, lÌìestÌìo a sua presetìçtÌ

Ìllellor

neste grupo é sigr-rificativa. Por

outro

lado, encontr'2ìlnos uúìa trel-ìor preselìçiì da discussão do legado político institucior.ral do 25 de

Abril,

quer irnediirtamente após a Revolr.rção, qrÌer enquanto legirdo cluradouro.

A

plesença destes

tópicos não

virria

aperì2Ìs

entle

diferentes gmpos,

mas

tarnbérn ao lortgo do tempo.

Corlo

a

Figura

7.2. dernorrstr2Ì, cprase todos os tópicos

sllrgeÌn tnais cm ceÍtos nlomentos do qr.ie

outros..|al

corno na lnálise entre difelentes

gnlpos, rÌpcllas o tópico 1 patece não vzrriar ao longo do ternpo.

FIcuna 7.2. Proporção cÌe cacla tópico ao longo clo período em análise (1,972,2019)

.(ìrÌ11ìììt,ltlos ìtNL\t(lNtc{ls. r)S PÀììr'll)()s P(lì.Ír'Ì(loS !l ,\ \ll.lìiO1ìlr l):\ l lÌl\.ìt:t!--,Ìg-llolì-l lj(ìr.rLSr\ 177 Ì)r ìrì A

\

l F. ,\s t iÌ1.ÌiÌl lìAcoÌls o1'ìcI-\ 1s Ì)o l5 t) lì A ÌlÌì Ì 1.

O

tópico refelente às reforrnas do PIìEC está

Ìnuito

concentrado entre o fir-ral

clr década de 1970 e mezidos da dócada seguinte. Mas' ir

paltil

deste ponto' rlo tempo passa 2ì ter um peso 1nenor nos discnrsos do 25 de

Abril,

embora llLlnca esteja

totâ1-rlente

ittseute.

No

rÌeslÌÌo

senticlo,

o

tópico

5

aparece

cotno

mais PÍesente entle meados da dócada de 1980 e de 1990, tendo uma pÍeserlçrì malginal âpós estc período.

Ou

seja, ambos os tópicos cstão ÌÌ1:ìis ligados à discussão

iniciai

sobre o 25 de

Ablil.

Pol

outro

1ado, dois tópicos srÌrgerr como rnais relet'antes clttrante a década

de

1990.

Qrel

a discussão

do

legado democrátìco-constittlcional,

tópico 2,

qner a

discussão do legado de conqr,ristas sociâis, tópico 3,vão surgir no longo prâzo como iìs pr.incipais formas de discr-rtir o legado da trarrsição. Este predomínio é interrompido

ã.,r",-ri" a intervenção da

toica,

ÌÌÌorÌer-Ìto

tnuito

dominado pcla discussão da clise,

enqì.ranto 2ìmeaça ao 25 de Abri1, norneadamente pelos'guerreiros cle

Abril'.

Contudo,

conseguirnos ver qlÌe corn o

fim

da clise existe

ltm

regresso à discttssão dos legaclos da lìevolução.

A

ar-rálise combinada dos clois

Gráficos

ofelece-nos, assitn,

utna

visão mais

complerne ntal da evolução dos discursos do 25 de

Ablil

dos diferentes grLlpos

lrÌnemó-r-ricos. Os 'guelLeiros de Novernbro'central'am, num

primciro

rnomento, o selt clisculso

r.ra evoltrção política e

institucional

até 1,976 e na

impoltância

dos dcserrvolvimentos

institucionais para lefrear os írnpetos revolucionários.

Cotn o

passar

do

tempo, este

discurso

foi

substituído

pol

uma ênf'.rse

no

legado dernocrático e constitucional de

Abril

e na adesão às instituições eulopcias.

Ou

seja, rleste grttpo tnnetnónico encoÌ1-tr2ìlrìos uma tnaior ênfase

fonnal

e institucional quando se debate o 25 de

Abril'

O

gr.upo de pluralistas segue ìrrr.l padrão b:istante se melhante a este.

No

entanto,

,.,.g.

u,o" dif"..nça

significativa. Sc é verclade qì,le

com

o

tempo

o

legado

clemo-crálico-constitucional vai imperando, existe esPaço tambérn para

referil

o legaclo de

conquistas de

direitos

sociais

do

25

de

AbLil.

Assirn sendo' neste gluPo, existe tttn

.rpoço

maior para discutir o legado rnzris sr.rbstancial cm tennos de políticas pirblicas

do 25 de AbLil.

Sendo que é esta visão substancial do 25 de

Abril

que domina o discrrlso clos

'guerreìros de

Abril'.

Na

primeira

clécada dzr democracia, este

gÍtÌpo

centÍou os seus

ãir.urro,

na discussão específica cÌas leformas sociais que sr.irgiram corn o PREC. Após este momento, o legado social do 25 de

Abril

vai surgindo como tópico mais

impor-tante pâra este gÍupo, sendo apenas ten-iporariamettte

intetrompido

dr,rrante a

inter-venção externâ em Portugal.

6.

CONCLUSÃO

E,ste ar.tigo analisou

os

discr.trsos

proferidos pelos partidos políticos

com

assento

parlo-.rttnr

durante as celebrações oficjais do 25 de

Abril

na Assernbleia da

República, entre 1977 e 2019.

O

objetivo

foi,

em

primeiro

lugar, ide

ntiÍìcar

a

iupor-târrcia que os partidos portugueses dão aos legados da rnemória.

Em

segundo lugar,

pletendeu-se

identificar

o

grari de tolerância que cada

partido

expïessa em relação

às narrativas alternativas sobre este período da história política recente. Por

último,

o

I I I 0,8 0,6 T'1,r , L 1ópì.o 2 ti,fr , l Iì,ìi,,, I --- -f,ifi.,)i - lìiÌri.o 6 0,3 0,2 0,1 0,0 0,1 ?Õ

óÊ-õoC ôtóÌõ

Lcgenda: Proporção esperacla de cacla tc'rpico no longo do tempo. O valor 1 indiciiria que todos os tliscursos abordarianr

(12)

178 +s.txos uE DI,l\toClì;\CIÀ ErÌ polìl-u(ìll.

câpífulo Procurou

identificar

os gÍandes tópicos que caracterizam o discrÌrso de cacla

grupo, assim como as variações ao longo do tempo.

A partir

da aná1ise qualitativa e quantitativa

do

texto,

o

capítulo apreser.ìtou duas conclusões fundamentais. Ern

primeiro

lugar, os legados da transição

pàru,gu.rì

são íraturante s entÍe os partidos políticos com repÍesentação parlamentar..

Ao

1",Ìg;ì;

democracia, a maioria dos partidos adototi uma visão úrnica sobre a transição

.

,;;l^:

dora de pouca tolerância em relação a narrativas altemativas.

Ainda

que

o.

doi.

prï_

cipais partidos escapem a este padrão

-

o

principal

partido de centro-esq.,.rdo, o

pi,

por expressar uma visão mais tolerante (ainda que instrumental), e o principal

pa'tido

de centro-direita, o PSD,

pol

expressar, em determinadas ocasiões, uma

posiçio

mais

voltada para o futuro

-,

os restântes partidos têrn contribuído pala que a

merlória

da

transição seja constantemente contestada e disputada durante as cerimóni:rs oficiais.

Com

a entrada de um novo

partido

no Parlamento, ern 2015, o pAN, surgiu ta'-rbérn

um

novo ator prospetivo.

Ainda

que o períocÌo analisado cubra apenas quatro anos, o

comportamento do único deputado do PAN

foi

consistente: um discurso voltaclo pa...a

o futuro,

sem qualquer posicionamento face às disputas protagonizadn,

p.lo,

,gl.r-reiros de

Abril'e

pelos 'guerreiros de Novembro'.

Ern segundo lugar, o capítulo mostrou que muitos dos tópicos que se destacarr nos discursos apresentados pelos

paltidos

não são estanques ao long-o das décadas,

sendo em

tnuitos

casos mais fortes

em

contextos específicos.

Em

partictilar, a crise

financeira que emergiu a

partir

de 2008 deu origem â um novo

tipo

áe tópico entre os

discursos do 25 de

Abril,

que se demarca dos demais. Particularmente interessante é o

facto de esse tópico expressar uma tentativa de estabelecer uma relação entre o 25 de

Abril

e a crise financeira.

Estes resultados vão,

no

essencial, ao encontro das concLrsões apresentadas

pelos trabalhos existentes assentes nos discursos parlarnentares durante as celebrações

oficiais do

25

de

Abril

e ajudam-nos a compreender a importância qne as questões

sirnbólicas assumerì para a maioria dos partidos parlame,-rtares portugueses.

.cUtjÌR11ÌRos IIr-Ìììt(ir-tcoS'. os I,r\tì'Ì'ÌDos Ì,oT.Íl'lcos tì,\ rlÌ'lIlÓÌì1.\ l)ryf ÌìÁNSlçiio t'rln-t'lrr;trtlst 179 Ì)1.1t{r\NTIi ÁS CFìl.l'ìBtì,\ÇOlìS OÌ'ICI'\1S ÌlO 2'; l)E i\ll1ìIl' Referências

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