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PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS, UMA ALTERNATIVA INTELIGENTE À PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

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Academic year: 2020

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International Scientific Journal – ISSN: 1679-9844

Nº 3, volume 12, article nº 1, July/September 2017

D.O.I: http://dx.doi.org/10.6020/1679-9844/v12n3a1

Accepted: 01/02/2017 Published: 24/09/2017

ISSN: 16799844 – InterSciencePlace – International Scientific Journal Páginas 1 de 160

PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS, UMA ALTERNATIVA

INTELIGENTE À PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

RIGHTS RESTRICTIVE, AN INTELLIGENT ALTERNATIVE

TO THE PRIVATIVE FREEDOM PENALTY

Thulio Imbeloni Mattos

1

, Carlos Henrique Medeiros de Souza

2

, Bruna Moraes

Marques

3

, Fabio Machado de Oliveira

4

, Maressa da Silva Monteiro

5

1

Universidade Cândido Mendes – UCAM, Rio de Janeiro-RJ; Brasil,

thuliomattos@yahoo.com.br

2

Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF, Campos dos

Goytacazes - RJ; Brasil,

chsouza@gmail.com

3

Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF, Campos dos

Goytacazes - RJ; Brasil,

brunatombos@hotmail.com

4

Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF, Campos dos

Goytacazes - RJ; Brasil,

fabiomac@gmail.com

5

Universidade Cândido Mendes – UCAM, Rio de Janeiro – RJ; Brasil,

(2)

Resumo – As penas restritivas de direitos são, na maioria das vezes, aplicadas aos crimes de menor potencial ofensivo e, quando a lei penal permite, são colocadas em substituição às penas privativas de liberdade. Desta forma, o legislador pátrio, sensível à lamentável situação carcerária de nosso país, achou por bem mudar o paradigma do Direito Penal, no sentido de este se tornar uma ciência onde se busca o aperfeiçoamento do caráter do homem e não o mero encarceramento daquele que transgride a norma penal incriminadora. Deste modo, as penas alternativas se mostram muito mais eficazes do ponto de vista punitivo, bem como sob a ótica repressiva e preventiva, já que os condenados que cumprem tais penas dificilmente voltam a transgredir as leis penais, demonstrando que o índice de reincidência é sensivelmente inferior ao daquele referente à pena privativa de liberdade. Deste modo, o presente trabalho pretendeu demonstrar que as penas restritivas de direitos são as mais adequadas para proporcionar uma oportunidade de mudança de comportamento do condenado, além de constituírem num modelo que respeita os direitos fundamentais do cidadão, e de cumprirem a função de reprovação do crime ao realizarem os fins gerais e especiais da pena. Busca-se, portanto, neste trabalho, demonstrar que a justa sanção no Direito Penal atual constitui-se da equilibrada cominação e criteriosa fixação, além da execução eficiente das penas restritivas de direitos, nos crimes de pequeno e médio potencial ofensivo, reservando-se a prisão para os condenados que cometem crimes graves e para os criminosos perigosos ou habituais.

Palavras-Chaves – Direito. Penas Privativas de Liberdade. Alternativa. Penas Restritivas.

Abstract –

Rights-restrictive sentences are, in most cases, applied to crimes

of lesser offensive potential and, when criminal law allows, they are

substituted for custodial sentences. In this way, the country's legislator,

sensitive to the lamentable prison situation in our country, has considered it

a good idea to change the paradigm of Criminal Law, in the sense that it

becomes a science where the perfection of man's character is sought and

not the mere imprisonment of the one who Violates the incriminating criminal

standard. Thus, alternative punishments are much more effective from a

punitive point of view, as well as from a repressive and preventive point of

view, since convicted persons who comply with such sentences hardly ever

transgress criminal laws, demonstrating that the rate of recidivism is

appreciably lower To that of the custodial sentence. Thus, we intend to

demonstrate that the restrictive penalties of rights are the most appropriate

to provide an opportunity for behavior change in the convicted, as well as

being a model that respects the fundamental rights of the citizen, and to fulfill

the function of disapproval of the general and special purposes of the

sentence. The aim of this work is also to demonstrate that the just sanction

in the current Criminal Law constitutes a balanced commencement and

careful fixation, in addition to the efficient enforcement of restrictive

sentences of rights, in crimes of small and medium potential offensive,

reserving itself Imprisonment for convicts who commit serious crimes and for

dangerous or habitual criminals.

(3)

Keywords – Right. Private Feathers of Freedom. Alternative. Restrictive Feathers.

1.

Introdução

A pena privativa de liberdade começou sua decadência antes mesmo que o século XIX se findasse, haja vista que os estudiosos e críticos, após um grande questionamento em torno desta modalidade de pena, afirmavam que ela não cumpria sua finalidade, pois, ao invés de recuperar o condenado, estimulava-o à reincidência.

Tem-se dito que o problema da prisão é a própria prisão, já que além de não servir à recuperação do delinquente, ela corrompe, desmoraliza, denigre e embrutece o penitente, levando-o, na maioria das vezes, ao desmantelamento de sua família.

Michel Foucault, filósofo francês, em sua obra Vigiar e Punir, esclarece o que seja prisão e questiona se a pena privativa de liberdade fracassou, tendo ele mesmo afirmado que ela não fracassou, pois cumpriu o objetivo a que se propunha, de estigmatizar, separar e segregar os delinquentes e, em outra passagem, este mesmo autor sentencia: “ela é a detestável solução da qual não se pode abrir mão”.

Apesar de muitas críticas da doutrina europeia, a moderna orientação político criminal da primeira metade do século passado não influenciou o legislador pátrio, tendo em vista que a reforma penal de 1940 não trouxe nenhuma modificação com relação às espécies de pena, não prevendo nenhuma alternativa à pena segregativa.

Contudo, as penas alternativas à pena privativa de liberdade somente vieram com o advento da reforma penal de 1984.

Nesta fase de nossa história, nítida era a corrosão do sistema penitenciário, o qual exigiu do legislador mais imaginação, não mais se admitindo que o nosso sistema ficasse ancorado e limitado à pena pecuniária e à pena privativa de liberdade.

Com a dita reforma, foram inseridas no ordenamento jurídico pátrio as penas restritivas de direitos, quais sejam: prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana, em substituição às penas privativas de liberdade inferiores a um ano, nos crimes dolosos ou sem limite quantitativo de pena, nos crimes culposos, obedecendo-se aos critérios de ausência de reincidência e de requisitos subjetivos favoráveis ao condenado, ou seja, a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade, bem como os motivos e as circunstâncias indicassem que a substituição seria suficiente.

(4)

Por sua vez, a Lei 9.714/98 acrescentou outras duas penas restritivas de direitos: prestação pecuniária e a perda de bens e valores, possibilitando a substituição de pena privativa de liberdade não superior a quatro anos, em crimes dolosos, delitos esses cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, ou em qualquer quantidade de pena, nos crimes culposos. A reincidência exigida, com a nova lei, passou a ser em crime doloso, ou ainda, a específica, desde que em face de condenação anterior a medida fosse socialmente recomendável, devendo considerar-se também os aspectos subjetivos do condenado previstos no art. 44, III, do Código Penal: a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.

Vale também registrar, somente a título de reforço, o surgimento de outras penas restritivas de direitos que vieram a lume através de leis especiais, como, por exemplo, na lei dos crimes ambientais (Lei 9.605/98) e a nova lei de tóxicos (Lei 11.343/06), demonstrando a ocorrência da ampliação sadia do sistema de penas alternativas no nosso ordenamento jurídico.

Desta forma, nota-se um aumento significativo da abrangência das penas alternativas em relação a vários tipos penais, evitando o encarceramento de muitos sentenciados. Passa-se, então, a questionar sobre a existência de certo exagero do legislador na edição dessas leis: as penas restritivas de direitos são uma proposta adequada para a punição de crimes de pequeno e médio potencial ofensivo? São elas eficazes no sentido da realização dos fins retributivos, preventivos gerais e preventivos especiais da pena?

Pretendemos, assim, demonstrar que as penas restritivas de direitos são as mais adequadas para proporcionar uma oportunidade de mudança de comportamento no condenado, além de constituírem num modelo que respeita os direitos fundamentais do cidadão, e de cumprirem a função de reprovação do crime ao realizarem os fins gerais e especiais da pena.

Busca-se, neste trabalho, também demonstrar, que a justa sanção no Direito Penal atual constitui-se da equilibrada cominação e criteriosa fixação, além da execução eficiente das penas restritivas de direitos, nos crimes de pequeno e médio potencial ofensivo, reservando-se a prisão para os condenados que cometem crimes graves e para os criminosos perigosos ou habituais.

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2. Origem e evolução das penas restritivas de direitos na legislação

pátria

Antes de iniciarmos falando sobre a origem das penas restritivas de direitos em nosso país, iremos abordar a origem desta espécie de pena no cenário legislativo internacional.

Pois bem, somente no final do século XIX surgem efetivamente formas alternativas de pena que hoje poderiam ser identificadas como prestações de serviços à comunidade. Essas sanções são verificadas na legislação penal de 1875, no Cantão de Vaud e em alguns Lander alemães (Saxônia, Prússia, e Baden), os quais conheciam um trabalho de utilidade pública como sucedâneo da pena privativa de liberdade na forma de conversão.

Em meados do início do século XX, o Egito, por meio da Lei de 12 de junho de 1912, também introduz o trabalho penal como substitutivo de penas de curta duração, sendo usado para substituir penas inferiores a três meses de prisão, como subsidiária em caso de não pagamento da multa.

No Código Italiano de 1889, que vigorou até 1930, havia a previsão de trabalhos comunitários de duas formas: no lugar da pena de prisão, em caso de insolvência do condenado; e como sanção isolada, no caso de cometimento de pequenos delitos como mendicância e embriagues grave.

Segundo Sheilla Maria da Graça Coutinho das Neves, uma das primeiras penas alternativas à pena privativa de liberdade foi a prestação de serviços à comunidade, estabelecida no Código Penal soviético de 1926. O Código Penal russo de 1960 criou a pena de trabalhos correcionais, sem privação da liberdade, cujos trabalhos deveriam ser cumpridos no distrito do domicílio do condenado, sob a vigilância do órgão encarregado da execução da pena.

Hodiernamente, a moderna forma de prestação de serviços à comunidade prevê a voluntária submissão ao trabalho, com o objetivo de o próprio condenado evitar a custódia prisional, isto porque os trabalhos forçados do passado são incompatíveis com a Convenção sobre Trabalhos Forçados (Convenção de Genebra de 1930), com a Convenção para Proteção de Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais (Tratado de Roma de 1950), com a Convenção sobre a Abolição de Trabalhos Forçados (Convenção de Genebra de 1957), e com o Acordo Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Convenção de Nova York de 1966).

A Inglaterra foi o primeiro país da Europa ocidental a utilizar a prestação de serviços como pena autônoma, o que se deu através do Criminal Justice Act, de 1972.

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Nesse jaez, surgem na Inglaterra, com o apoio da Criminal Justice Bill, novas alternativas à pena privativa de liberdade tendentes a ampliar o sistema penal e a oferecer aos tribunais medidas adequadas para evitar o encarceramento de autores de crimes menores e que não fossem perigosos. Trata-se da obrigação de realizar um trabalho de utilidade pública sem remuneração sob a orientação de um funcionário especializado ou de pessoa encarregada da vigilância, durante um período de quarenta a duzentas horas sob a supervisão de um assistente social. É pena vinculada com numerosas organizações sociais inglesas e requer, para sua eficácia, um forte compromisso do grupo social, contribuindo para a real ressocialização do condenado, que, além de realizar um serviço necessário à comunidade, não perde os vínculos com o seu próprio meio social.

A Bélgica, por sua vez, instituiu o arresto de fim de semana, em casos de detenção inferior a um mês, no ano de 1963, e a Alemanha também insere em seu ordenamento jurídico a mesma pena, no ano de 1953, somente para os infratores menores. O Principado de Mônaco instituiu, em 1967, uma forma de execução fracionada da pena privativa de liberdade, que se aproximava do arresto de fim de semana.

Na França, a Lei 70.643 de 17 de julho de 1970 e o Decreto 72.852/73 estabeleceram a semiliberdade para condenados, por uma ou mais vezes, à pena não superior a um ano, sendo que outra lei de 11 de julho de 1975 alterou o Código Penal francês ao introduzir diferentes medidas alternativas e substitutivas da prisão, tais como a dispensa da pena, o adiamento da pena e a retirada de licença para dirigir.

Realizou-se no Brasil, em 1971, o I Encontro Nacional de Secretários de Justiça e Presidentes de Conselhos Penitenciários, tendo sido aprovada a Moção de Friburgo, na qual se afirmou a necessidade de ampliação das penas do Código pátrio. Após vários movimentos de estudiosos da área penal, já na década de 80, no sentido de criar medidas que estimulassem a reintegração social dos sentenciados, o Ministro da Justiça constituiu uma Comissão, com o objetivo de apresentar mudanças à Parte Geral do Código Penal, resultando na aprovação da Lei 7.209/84, instituindo, assim, no Brasil, as primeiras penas restritivas de direitos.

Segundo René Ariel Dotti, a mais recente contribuição em nível internacional que difundiu, em larga escala, a pena de prestação de serviços à comunidade foi o VI Congresso da ONU, realizado em Caracas no ano de 1980, cujo documento elaborado pela Secretaria Geral textualiza: “considera-se que a prestação de trabalho em favor da comunidade caracteriza uma alternativa construtiva e econômica à pena de prisão e constituiu um novo meio de se colocar o delinquente em contato mais próximo aos cidadãos que precisam de ajuda e apoio”.

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Não há dúvidas que a origem das penas alternativas no plano internacional está na constante preocupação da ONU, seja com a redução do uso da pena privativa de liberdade, seja com o tratamento e recuperação do delinquente, para evitar a reincidência. A citada autora traz, em sua obra, manifestação de outro autor, Luiz Flávio Gomes, acerca do tema em questão, quando aduz que ninguém será submetido à tortura nem a tratamentos ou punições cruéis, assertiva esta firmada pela Declaração Universal de Direitos Humanos, que aparece em vários outros documentos internacionais de grande alcance e, no plano interno, inúmeros dispositivos da Constituição se encontram em perfeita sintonia com os citados documentos (art. 5º, incisos III, XLVII, dentre outros).

Nas palavras de Dotti, as penas restritivas de direitos “nasceram porque sobrepairando tudo se achava a convicção de que o encerramento, salvo para os denominados presos residuais, consiste em injustiça constante”. Registra o mencionado autor que a reformulação do sistema de penas impunha-se como obrigatória, pois a pena é castigo, “mas a punição não é só a prisão”. Nessa toada “cogitou-se de sanções alternativas a ela e que se convertessem, até em substitutivas para a prisão e não, simplesmente, ao contrário”.

Conclui-se a partir disto, que as penas restritivas de direitos resultaram de uma evolução humanitária do sistema punitivo, em nível mundial, e nasceram para responder ao ambiente de crise da pena privativa de liberdade, já que o Estado mostrava-se de todo impotente na adoção de uma política penitenciária que pudesse solucionar a contento os problemas resultantes da criminalidade de pequeno e médio potencial ofensivo.

As penas restritivas de direitos surgem no Brasil como resultado de uma nova perspectiva do Estado ao tratar da criminalidade de pequeno e médio potencial ofensivo: humanização das sanções criminais, preocupação com a ressocialização dos condenados, e também com a contaminação de apenados primários, autores de crimes de menor gravidade com outros de alta periculosidade, tratando-se de uma verdadeira mudança de paradigma.

Denota-se que tal modificação de paradigma, no sistema legislativo nacional, marca seus fundamentos no processo histórico de evolução política, econômica e social por que passou o país nas últimas décadas.

Impende ressaltar que desde 1984, diversos estudos e comissões objetivaram a reestruturação da Parte Especial do Código Penal, quando atualizaram as normas penais incriminadoras, tornando-se mais adequadas e em sintonia com os novos rumos da política criminal internacional, passando, a pena, a ser encarada e conduzida com um objetivo que

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vai além da imediata proteção da sociedade com a retirada do delinquente do meio onde vive. A punição torna-se um método de ressocialização do próprio condenado, com o sentido corretivo e de respeito à dignidade da pessoa humana.

O legislador pátrio agiu de forma prudente e cautelosa, inserindo no Código Penal, primeiro através da reforma de 1984, três penas restritivas de direitos (prestação de serviços à comunidade; interdição temporária de direitos; e limitação de fim de semana) em substituição às penas privativas de liberdade inferiores a um ano, nos crimes dolosos, ou sem limite quantitativo de pena, nos crimes culposos. E, somente com a Lei 9.714/98, que conferiu nova redação aos artigos 43 a 47, e 55, criaram-se outras penas restritivas de direitos: “a prestação pecuniária e a perda de bens e valores” (art. 43, inciso I e II). Modificaram-se, igualmente, as regras no sentido de se permitir que as penas privativas de liberdade, nos crimes dolosos, cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, ou em qualquer quantidade de pena, nos crimes culposos, fossem substituídas por restritivas de direitos.

O forte movimento de crescimento e amplitude das penas restritivas de direitos é facilmente notado quando Cezar Roberto Bitencourt ressalta ter sido estabelecida, pela Lei 9.714/98, uma abrangência dessas penas em mais de 90% das infrações tipificadas no Código Penal.

Registra-se que estão excluídos apenas os crimes dolosos contra a vida, os crimes contra o patrimônio, se forem praticados com violência, o estupro, por força da quantidade de pena já que no mínimo legal abstratamente cominado ultrapassa os quatro anos previstos no inciso I do artigo 44 do Código Penal. Executando-se esses delitos, somente aqueles que forem praticados com violência ou grave ameaça à pessoa, não serão suscetíveis de substituição por penas restritivas de direitos.

Vale notar, que desde a Lei 9.714/98, a reincidência passou a excluir a possibilidade de aplicação de penas restritivas de direitos somente em casos de reincidência específica, considerando-se, entretanto, os aspectos subjetivos do condenado, que estão estabelecidos no art. 44, inciso III, do Código Penal.

É importante salientar que embora o art. 44 do Código Penal em seu inciso II restrinja a aplicação das penas restritivas de direitos no caso da reincidência em crime doloso, o parágrafo terceiro do mesmo artigo impede, tão somente, a sua aplicação em caso de reincidência específica, estabelecendo que, em caso de condenação anterior, poderá ser aplicada a substituição desde que a medida seja socialmente recomendável.

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Assim, houve significativo aumento do campo de atuação das penas restritivas de direitos em relação a vários delitos, desde a reforma de 1984, observando-se que a lei faz referência à pena aplicada, ou seja, à pena concreta, evitando-se, com essa regulação, o encarceramento de muitos condenados que se enquadram nas regras vigentes.

Daí a relevância da aplicação criteriosa dessas penas, devendo o magistrado observar com prudência os requisitos subjetivos necessários à sua aplicação, tais como a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, além de examinar se os motivos e as circunstâncias do crime indicam que essa substituição seja suficiente, sob pena de deixar de atender aos fins preventivos, gerais e especiais, da pena.

Deve-se ressaltar que apenas uma semana após a edição da Lei 9.714/98 foi instituída, pelo Decreto federal nº 2.856/98, a “Comissão de Acompanhamento e Avaliação do Regime de Penas Restritivas de Direitos” para, no prazo de dois anos, ofertar manifestação conclusiva sobre a conveniência da eventual alteração da referida lei, demonstrando-se, claramente, que o Presidente da República, não estava convicto sobre a conveniência da edição da citada norma legal, já que estabeleceu um período de experiência com o objetivo de acompanhar e avaliar se a aplicação das penas restritivas de direitos na proporção ensejada pela nova lei teria sido conveniente.

Desta forma, o Poder Executivo, após passados os dois anos da edição da citada lei, verificando a importância e a necessidade da aplicação das penas restritivas de direitos, decidiu implantar um programa de fomento a essas penas, criando, no ano 2000, um órgão próprio para a execução do Programa Nacional de Apoio às Penas Alternativas, a CENAPA – Central de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas Alternativas, que é subordinada à Secretaria Nacional de Justiça, vinculada ao Ministério da Justiça.

Após a criação da CENAPA, iniciou-se a celebração de convênios com os Estados, junto às Secretarias competentes e/ou Tribunais de Justiça, com o fito de viabilizar o estabelecimento das Centrais de Apoio, as quais tornariam possível o funcionamento do programa em cada ente federado. Com tal desiderato, o Ministério da Justiça forneceu recursos de implementação, que permitiram a constituição de uma estrutura mínima para que fossem iniciados o acompanhamento e a fiscalização do cumprimento das penas restritivas de direitos.

Nesse diapasão, deve ser salientado outro dado de grande relevância, qual seja, as penas restritivas de direitos são menos onerosas e mais humanas do que as penas privativas de liberdade. Trata-se de um dado utilitarista, mas que repercute na real situação de desumanidade advinda da superlotação dos presídios.

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Segundo dados do Ministério da Justiça, para manter um só preso na cadeia, o Estado Brasileiro gasta, em média, entre R$ 700,00 e R$ 1.000.00 por mês. Entretanto, estima-se que o monitoramento de um sentenciado a penas restritivas de direitos custa em torno de R$ 70,00 mensais, do que se conclui que o preço de uma punição tradicional pode ser até quinze vezes maior do que o valor gasto na execução de uma pena alternativa.

Acrescente-se que cada vaga em um presídio custa R$ 15.000,00. Tais custos se potencializam quando se tem em mente o crescimento da população carcerária do nosso país. Na metade da década de 1990 existiam 150.000 presos. Em 2002, já superavam os 200.000. Em 2005, o universo carcerário era de 330.000 presos. Destarte, grande é a economia estatal com a utilização das penas restritivas de direitos.

Conforme as estimativas do DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional, cada presidiário custa em média, de R$ 1.000,00 a R$ 2.000,00 por mês, isto pela avaliação realizada no ano de 2006, ou seja, passados mais de quatro anos. Tal órgão estima que existiam naquele ano, cerca de 361,4 mil presos em delegacias e penitenciárias de todo o Brasil. Desta forma, manter a população carcerária do país geraria um custo mensal de R$ 542,1 milhões por mês e R$ 6,5 bilhões por ano. Já com a aplicação de penas restritivas de direitos, o custo de um preso poderia ser reduzido em até 10 vezes e o índice de reincidência despencaria de 42,5% para 17,5%.

Insta, acentuar, que o sistema de substituição previsto no Código Penal favorece a realização dos três fins da pena: preventivo geral; preventivo especial; e retribucionista, pois, ao ser cominada pena privativa de liberdade no tipo penal, a qual poderá ser substituída por restritiva de direitos, o fim da prevenção geral é realizado, sendo este também concretizado quando do descumprimento das penas restritivas de direitos, as quais poderão ser convertidas em penas privativas de liberdade.

A prevenção especial, por sua vez, é perfeitamente atingida quando o juiz, ao substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, afasta o condenado do cárcere, deixando de submetê-lo a um sistema que poderá estimular sua corrupção e perversão, oferecendo-lhe uma oportunidade de permanecer no grupo social, outorgando-lhe, tão somente, uma pena que lhe restringirá certos direitos, mas não lhe subtrairá a liberdade.

Por exemplo, a prestação de serviços à comunidade vem se mostrando extremamente ressocializadora, na medida em que alguns condenados, após terem mantido contato com pessoas carentes de ajuda, conseguem desenvolver uma relação de empatia com tais pessoas, além de reconhecer a importância do trabalho realizado, optando por

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continuar a prestação do serviço, voluntariamente, mesmo após o término do cumprimento da reprimenda.

Dados relativos à reincidência também se mostram animadores, pois, conforme pesquisa trazida pela já citada autora Sheila Maria, na Vara de Execuções Penais de Pernambuco, por exemplo, a qual monitora cerca de 2.400 beneficiários, quase 17% da população carcerária do referido Estado, a taxa de reincidência é quase nula, abaixo de 1%. Para se ter idéia, no Brasil o percentual médio de reincidência no sistema carcerário tradicional chega a 65%, ou seja, de cada 100 presos, apenas 35 não voltam à vida do crime. Quando as penas aplicadas são as restritivas de direitos, este número despenca para apenas 5%.

Deve, ainda, ser salientado, que um dos principais objetivos da pena alternativa é conscientizar o cidadão, em conflito com a lei, que seu ato foi nocivo à sociedade e a ele próprio, que esse dano deve ser reparado, que a adoção desta espécie de pena vem acompanhada de um programa de inclusão social, por meio de políticas de escolarização, profissionalização e geração de emprego e renda, e que a união desses fatores contribui, sem dúvida, para a sua reintegração à sociedade.

Nessa toada, podemos afirmar que a retribuição (fim retribucionista) também é alcançada através da aplicação das penas restritivas de direitos, pois ao sentenciado são efetivamente impostas restrições que lhe ocasionam a expiação pelo crime praticado. Tais sanções menos graves que a privação da liberdade, são, desta forma, proporcionais à culpabilidade do agente, a qual é mensurada pelo magistrado com base nas condições subjetivas, ex vi do art. 44, II e III, do Código Penal.

Portanto, a nosso viso, pode-se concluir que as penas restritivas de direitos atendem aos fins preventivos: geral e especial, sendo que a retribuição do agente, examinada sob a égide da imposição de limites à sua liberdade, também se faz presente nessas penas alternativas à prisão.

Por fim, enumeraremos as penas restritivas de direitos encontradas no art. 43 do Código Penal e teceremos breves comentários acerca de cada uma:

i) prestação pecuniária: consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou à entidade pública ou privada, com destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo, nem superior a trezentos e sessenta salários mínimos;

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ii) perda de bens e valores: consiste em sanção em que o magistrado determina o perdimento, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, ressalvada a legislação especial, de bens e valores pertencentes aos condenados;

iii) prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas: consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas, devendo ser cumpridas em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais;

iv) interdição temporária de direitos: tal nomenclatura representa o uso correto, ou seja, mais técnico da terminologia “penas restritivas de direitos”, abrangendo: a proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo; a proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público; a suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo automotor; e a proibição de frequentar determinados lugares, sendo que esta última pode ser considera pena restritiva de liberdade, embora seja denominada como pena restritiva de direitos no Código Penal; e

v) limitação de fim de semana: consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por cinco horas diárias, em casa de albergado, ou em outro estabelecimento adequado, período durante o qual deverão ser ministrados, ao condenado, cursos e palestras, ou atribuídas atividades educativas.

3. Considerações finais

Pode-se verificar, portanto, que as penas restritivas de direitos, quando aplicadas de forma correta aos que cometem crimes de menor potencial ofensivo, são infinitamente mais benéficas para os delinquentes, para a Justiça e para o Estado-administração.

Com relação aos condenados, o trabalho revelou que estes são beneficiados por não serem encarcerados. Por tal motivo, bem como pelo fato de se poder continuar a conviver com os seus pares na sociedade onde vivem, cumprem, geralmente, de forma satisfatória a reprimenda imposta pelo Estado-juiz.

Desta forma, podem continuar praticando todas as atividades da vida comum, não havendo necessidade de serem retirados de forma abrupta do convívio da família.

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Portanto, os sentenciados e beneficiados com tais penas alternativas percebem que deverão, o mais rápido possível, buscar a correção de rumos para que não voltem a responder perante a Justiça e, no nosso entender, este dado revelador é um dos motivos para que o índice de reincidência seja sensivelmente inferior ao dos egressos do sistema penitenciário, ou seja, daqueles que cumpriram pena privativa de liberdade.

Quanto à Justiça, temos para nós que esta ganhou credibilidade ante ao fato da Lei 9.099/95 ter inaugurado uma nova etapa na história do Direito Penal. É que ao prever o procedimento sumaríssimo, onde os critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade são fundamentos deste rito procedimental, passou-se a evitar que crimes de menor potencial ofensivo ficassem impunes, pois, na maioria das vezes, eram fenecidos pela decadência ou pela prescrição. Desta forma, aqueles que respondem perante os Juizados Especiais Criminais, geralmente, são condenados e não beneficiados pelos dois institutos de extinção da punibilidade acima referenciados.

Com relação ao Estado-administração, entendemos que também saiu laureado, já que as penas restritivas de direitos são menos onerosas do que as privativas de liberdade, pois, segundo dados do Ministério da Justiça, para manter um só preso na cadeia, o Estado gasta entre R$ 700,00 e R$ 1.000.00 por mês. Porém, estima-se que o monitoramento de um condenado a penas alternativas custa em torno de R$ 70,00 mensais, do que se conclui que o preço de uma punição tradicional pode ser até quinze vezes maior do que o valor gasto na execução de penas restritivas de direitos.

Soma-se a isto o seguinte dado, cada vaga em um presídio custa R$ 15.000,00. Tais custos se potencializam quando se tem em mente o crescimento da população carcerária. Para se ter noção, na metade da década de 1990 existiam 150.000 presos, em 2002 já superavam os 200.000 e em 2005 o universo carcerário era de 330.000 presos. Assim, grande é a economia estatal com a utilização das penas restritivas de direitos.

Conforme as estimativas do Departamento Penitenciário Nacional, cada presidiário custa, em média, de R$ 1.000,00 a R$ 2.000,00 por mês. Tal órgão estima que existiam no ano de 2006 cerca de 361 mil presos em delegacias e penitenciárias de todo o Brasil, o que nos levam aos seguintes números: para manter a população carcerária do país geraria um custo mensal de R$ 542,1 milhões por mês e R$ 6,5 bilhões por ano.

Já com a aplicação de penas restritivas de direitos, o custo de um preso poderia ser reduzido em até 10 vezes e o índice de reincidência despencaria de 42,5% para 17,5%.

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Vale acrescentar que o sistema de substituição previsto no Código Penal favorece a realização dos três fins da pena, quais sejam: preventivos (geral e especial) e o da retribuição.

Ao permitir que as penas privativas de liberdade sejam substituídas pelas restritivas de direitos e que estas, em caso de descumprimento das condições impostas, sejam convertidas em penas privativas de liberdade, o legislador realiza o fim da prevenção geral.

Por sua vez, a prevenção especial é perfeitamente atingida quando o juiz, ao substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, afasta o condenado do cárcere, deixando de submetê-lo a um sistema que poderá estimular sua corrupção, oferecendo-lhe uma oportunidade de permanecer no grupo social.

Por fim, deve ser salientado que um dos objetivos da pena alternativa é conscientizar o cidadão em conflito com a lei que seu ato foi nocivo à sociedade e a ele próprio, que esse dano deve ser reparado, que a adoção desta espécie de pena vem acompanhada de um programa de inclusão social, por meio de políticas de escolarização, profissionalização e geração de emprego e renda, e que a união desses fatores contribui, sem dúvida, para sua reintegração à sociedade.

Nessa toada, podemos afirmar que a retribuição também é alcançada através da aplicação das penas restritivas de direitos, pois ao sentenciado são efetivamente impostas restrições que lhe ocasionam a expiação pelo crime praticado.

Portanto, pode-se concluir que as penas restritivas de direitos atendem aos fins preventivos: geral e especial, e a retribuição ao agente, examinada sob a égide da imposição de limites à sua liberdade, também se faz presente nessas penas alternativas à prisão.

Referências

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado. São Paulo: Saraiva, 2004.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Novas Penas Alternativas. Análise político-criminal das alterações da Lei 9.714/98. São Paulo: Saraiva, 2006.

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GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte geral. Rio de Janeiro: Impetus, 2010.

JAKOBS, Günther; MELIÁ, Manuel Cancio. Direito penal do inimigo. Noções e críticas. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, 2009.

NEVES, Sheilla Maria da Graça Coitinho das. Penas restritivas de direitos. Alternativa de punição justa. Curitiba: Juruá, 2008.

SHECAIRA, Sérgio Salomão; JUNIOR, Alceu Corrêa. Teoria da pena. Finalidades, direito positivo, jurisprudência e outros estudos de ciência criminal. São Paulo. Revistas dos Tribunais, 2002.

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