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A ANÁLISE DE INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS SEGUNDO UMA VISÃO MATEMÁTICO-CRÍTICA

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Academic year: 2019

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MESTRADO EM EDUCAÇÃO E CULTURA

A ANÁLISE DE INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS SEGUNDO UMA VISÃO MATEMÁTICO-CRÍTICA

Júlio César Tomio

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Júlio César Tomio

A ANÁLISE DE INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS SEGUNDO UMA VISÃO MATEMÁTICO-CRÍTICA

Dissertação apresentada à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Educação e Cultura da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC como requisito para obtenção do título de mestre, tendo como orientadora a Professora Doutora Silvana Bernardes Rosa.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, a minha família, a minha orientadora Prof. Dra. Silvana Bernardes Rosa e aos componentes da banca examinadora, Prof. Dra. Cristiana Tramonte Vieira de Souza e Prof. Dr. Gilson Braviano, ao amigo Paulo Rampelotti Neto e a todos que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho.

“No futuro, o pensamento estatístico será tão necessário para a cidadania eficiente como saber ler e escrever.”

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RESUMO

Esta dissertação tem por principal objetivo mostrar que várias informações estatísticas veiculadas na mídia impressa (jornais e revistas) sofrem distorções, tanto do ponto de vista técnico quanto semântico, seja por falta de conhecimento daqueles que as publicam, seja por manipulação intencional. Através da análise de casos, busca-se mostrar os equívocos eventualmente apresentados em termos de informações estatísticas. Intenciona-se dessa maneira, construir uma linha de análise que contribuirá para a obtenção de conclusões mais precisas por parte dos leitores.

Palavras chave: educação matemática, estatística, mídia impressa, análise crítica.

ABSTRACT

This work has as its main objective to show that several statistical information published in print media (newspapers and magazines) suffer distortions, both technical as well as semantic, whether by lack of knowledge of those who publish, either by intentional manipulation. Through the analysis of cases, seeking to show the misconceptions presented in terms of statistical information. It is intended to build a line of analysis which help to obtain more accurate conclusions on the part of readers.

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SUMÁRIO

1 – PANORAMA INICIAL ... 06

1.1. INTRODUÇÃO ... 06

1.2. JUSTIFICATIVA ... 07

1.3. PROBLEMA ... 17

1.4. OBJETIVOS ... 17

1.4.1 Geral ... 17

1.4.2 Específicos ... 17

1.5. PROCESSO METODOLÓGICO ... 18

1.6. ESTRUTURA DO TRABALHO ... 19

2 – A MATEMÁTICA E A SUA RELAÇÃO COM O COTIDIANO ... 20

2.1. DA INQUESTIONABILIDADE DA MATEMÁTICA ... 20

2.2. A MATEMÁTICA NO SISTEMA ESCOLAR ... 22

2.3. O PODER DA MATEMÁTICA E DA ESTATÍSTICA ... 30

2.4. OBSERVANDO A MATEMÁTICA DE FORMA MAIS ABRANGENTE (HOLÍSTICA) ... 33

3 – ANALISANDO A REALIDADE EM RECORTES ... 38

3.1. ESCOLHENDO AS MÍDIAS ... 38

3.2 OS RECORTES DA MÍDIA EM ANÁLISE ... 40

3.3 ENCONTRANDO UM CAMINHO EDUCATIVO ... 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 60

A LINHA DE ANÁLISE ... 61

OS LIMITES DA MÍDIA ... 61

UM INSTRUMENTO PARA EDUCAÇÃO ... 63

SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS ... 64

REFERÊNCIAS ... 66

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1 – PANORAMA INICIAL

1.1. INTRODUÇÃO

Desde que adquiriram personalidade social, cultural e política, os povos vêm fazendo registros de inúmeras situações, tais como, número de habitantes, nascimentos, riqueza pessoal, impostos, distribuição de terras, entre outros. “A Bíblia e a história dos Impérios Grego e Romano nos falam de recenseamentos levados a efeito para determinar os montantes de impostos a serem pagos pelos cidadãos e outros dados de interesse”. (GÓES, 1980, p.IX)

Em que na Idade Média, muitos registros destinavam-se principalmente a situações em que o principal objetivo era fornecer informações na área militar e tributária.

Por volta do século XVI surgem os primeiros estudos sistemáticos sobre fatos sociais, contudo as pesquisas ainda geravam números irregulares. Progressivamente, no entanto, elas ganharam novas formas de representação (gráficos) e se tornaram mais completas, complexas e com técnicas mais precisas, deixando de ser uma mera catalogação de dados, para assumir um perfil científico. Por este motivo, ganharam o status de ciência, a qual conhecemos hoje como Estatística, que é parte da Matemática Aplicada.

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que, na época, as pesquisas censitárias tinham origem quase exclusiva, nas tarefas de governo.

Desde os tempos antigos, as informações e o conhecimento eram posse de uma pequena classe dominante, que fazia uso destes “poderes” para manipular ou induzir o pensamento e as atitudes das classes dominadas. Tem-se exemplo deste fato na história do Egito antigo, quando o faraó usava dos conhecimentos científicos dos escribas para reforçar o seu poder teocrático em diversas situações, e a massa, inculta dos saberes científicos, mantinha-se convencida e dócil perante a situação.

Atualmente, podemos observar nos mais variados meios de comunicação: televisão, jornais, revistas, internet, rádio, almanaques, etc, que enorme carga de informações é lançada sobre a população, e esta grande massa, na rotina do dia-a-dia procura absorver, quando possível, apenas o que julga importante e indispensável para prosseguir com a sua vida.

No entanto, parece que fatos como os que ocorriam no Egito antigo tendem a perdurar com o avançar dos tempos, de uma forma diferente, às vezes, muito mais sutil.

Existe, portanto, uma outra “multidão” de indivíduos, aqueles que não têm nem arte e nem parte – como se costuma dizer –, para os quais obviamente não há nenhuma transmissão educativa, nem de técnicas propriamente culturais ou imediatamente produtivas. E esta será uma constante da história de todos os povos. (MANACORDA, 2000, p.39)

1.2. JUSTIFICATIVA

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sobre uma população ou sobre uma coleção de seres quaisquer, e os métodos de

tirar conclusões e fazer ilações ou predições com base nesses dados.

É possível perceber, pois, a amplitude do campo de aplicação das pesquisas estatísticas, as quais são realizadas para prever situações futuras e sustentar tomadas de decisões importantes daqueles que solicitam determinados dados para análise. Outras também são realizadas com a intenção de procurar uma solução para problemas específicos, ou ainda, para avaliar o crescimento ou não de um certo fenômeno.

O uso da Estatística vem constantemente se generalizando como instrumento auxiliar na preparação de decisões administrativas e como abordagem inicial de estudos científicos de numerosos problemas. O desenvolvimento das ciências administrativas evidencia cada vez mais a necessidade de estudo da natureza dos problemas em todos os seus aspectos para a tomada de decisões, em substituição ao sistema tradicional de decisão a sentimento. O estudo dessas informações, constituídas com extrema freqüência por dados estatísticos, coloca a Estatística em posição de importância fundamental no processo decisório, erigindo-a em disciplina essencialmente decisorial. Em muitos casos, e não apenas no campo da Administração, o método estatístico é o único disponível para o tratamento dos dados obtidos. Isto ocorre sempre que não se conhece a lei do fenômeno em estudo, seja por não se conhecer sua natureza ou suas causas, seja porque a complexidade dessa lei não permite o estabelecimento de uma expressão matemática razoável para descrever o fenômeno. Além disso, muitos fenômenos físicos e biológicos são mesmo de natureza estatística, não lhes cabendo outro tratamento que não o do método estatístico. (GÓES, 1980, p.X)

Refletindo mais atentamente sobre o exposto até aqui, pode-se perceber, que reside na obtenção e na análise dos dados de um fenômeno, uma lacuna para a subjetividade, permitindo que pessoas despreparadas ou mal intencionadas acabem por distorcer ou induzir os resultados, e de certa forma, o pensamento daqueles que recebem a informação.

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muito bem o que se pretende dizer: “Tal como o ‘minúsculo toque de pó, o pequeno estojo de ruge’, a estatística está fazendo com que muito fato importante pareça o que não é.”

Se por um lado, existe uma intencionalidade por parte de alguns, por outro há os que, movidos pela ânsia do conhecimento de determinados fenômenos sociais, mas ignorantes de técnicas de pesquisa sistematizadas e apropriadas ao estudo que empreendem, realizam um trabalho de pesquisa sem a aplicação de uma metodologia científica, o que obtém resultados questionáveis, pondo em risco a credibilidade do processo. “Acontece com muito que lemos e ouvimos. Média, relações, tendências e gráficos nem sempre são o que parecem. Pode haver neles mais do que o olho vê e muito menos do que se pensa.” (HUFF, 1992, p.10)

Esta circunstância sugere que a falta de uma análise mais criteriosa por parte dos leitores de informações obtidas através de processos estatísticos, pode eventualmente gerar interpretações equivocadas do fenômeno estudado, ocasionando as mais diversas conseqüências. “Não há dúvidas que as pesquisas devem ser mais controladas pela imprensa, pelo Congresso e pela sociedade com um todo. É necessário que todas as informações sobre cada pesquisa estejam disponíveis, permitindo assim que sua seriedade seja avaliada.” (RODRIGUES, 1999, p.30)

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Amazônia, não pode ser estendida para todo o país. Este é um exemplo simples para ilustrar e justificar o que foi supracitado.

Rodrigues (1999, p.24) reforça a subjetividade do processo estatístico quando faz um relato sobre pesquisas eleitorais:

Para os estatísticos, uma boa amostra deve poder ser pensada como um retrato, em tamanho pequeno, do universo que está sendo considerado. Assim, por exemplo, nenhuma pessoa de bom-senso entrevistaria apenas moradores das mansões do Morumbi, em São Paulo, ou somente habitantes das favelas da periferia da cidade. Os principais fatores utilizados para definir a composição da amostra são o nível socioeconômico, grau de instrução, idade, etc. A escolha desses fatores é em grande parte determinada pela experiência passada, podendo em alguns casos refletir uma opinião pessoal do pesquisador que acredita que um determinado fator é importante para o problema considerado.

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Por outro lado, se considerarmos o fato da Estatística servir como manipulação ou indução do pensamento de um determinado público alvo, é claro que aqueles que detêm o poder dessa “ferramenta” desejam que o seu possível público alvo não conheça os meios e técnicas necessárias para a tal acontecimento, tal fato justifica o pouco, ou nenhum conhecimento por parte da maioria da população em relação aos procedimentos e técnicas para realização de uma pesquisa confiável, sem mencionar a maneira como os resultados de uma pesquisa podem ser publicados, e em último plano e não menos importante, a análise ampla das informações publicadas.

Em geral, as pessoas, quando se referem ao termo estatística, o fazem no sentido da organização e descrição dos dados (estatística do Ministério da Educação, estatística dos acidentes de tráfego, etc.), desconhecendo que o aspecto essencial da Estatística é o de proporcionar métodos inferenciais, que permitam conclusões que transcendam os dados obtidos inicialmente. (CRESPO, 1997, p.13)

O conhecimento estatístico não deve ficar restrito àqueles que são responsáveis pela realização das pesquisas. Os procedimentos e técnicas estatísticas devem ser do conhecimento de todos, para que possam compreender e avaliar, de forma abrangente, o fenômeno estudado.

“O homem de hoje, em suas múltiplas atividades, lança mão de processos e técnicas estatísticos, e só estudando-os evitaremos o erro das generalizações apressadas a respeito de tabelas e gráficos apresentados em jornais, revistas e televisão, freqüentemente cometido quando se conhece apenas “por cima” um pouco de estatística.” (CRESPO, 1997, p.16)

Além disso, Rodrigues (1999, p.25) também afirma que:

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Dada a notória aparição da Estatística na vida real e sua relevante aplicabilidade, poder-se-ia pensar que tais conhecimentos são amplamente difundidos na vida escolar. Conforme Demo (2000, p.45): “Preocupação crucial será cultivar a proximidade entre o que se aprende na escola, com a vida real, não só por conta da possível utilidade imediata, nem sempre muito visível, mas sobretudo, por conta da relação entre teoria e prática, ou entre qualidade formal e política.”

Skovsmose (2001, p.38) também afirma a necessidade do ensino estar ligado às questões do cotidiano quando diz que: “A educação deve ser orientada para problemas, quer dizer, orientada em direção a uma situação “fora” da sala de aula.”

Por experiência sensível, porém, percebe-se que a Estatística não aparece de forma expressiva nas práticas do ensino fundamental e médio, e, em grande parte, nem em suas grades curriculares, embora já seja abordada de alguma forma, por alguns autores de livros didáticos.

Como já mencionado anteriormente, a Estatística é uma ramo da Matemática Aplicada, mas não é uma ferramenta de uso exclusivo da Matemática, mas sim, de todas as áreas do conhecimento. Para perceber isto, basta notar nas matérias de jornais, revistas ou mesmo na televisão, a grande variedade de temas e áreas, nas quais a Estatística participa de forma a prever ou explicar determinados fenômenos.

“No que diz respeito ao caráter instrumental da Matemática no Ensino Médio, ela deve ser vista pelo aluno como um conjunto de técnicas e estratégias para serem aplicadas a outras áreas do conhecimento, assim como para a atividade profissional.” (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1999, p.82)

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competem com números e palavras, a comunicação gráfica assume importante papel na divulgação de vários fenômenos estudados pela Estatística.

Na escola pouco se vê de Estatística. Quando isto acontece, apenas se aprende a utilizar as ferramentas e técnicas da coleta e análise superficial dos dados. É comum, até, os alunos aplicarem as técnicas sem mesmo entender o verdadeiro sentido do que estão executando.

Como já foi mencionado recentemente, alguns livros didáticos de Matemática para o ensino fundamental e médio têm apresentado abordagens, mesmo de uma forma superficial, de temas de Estatística. Em contrapartida, o trabalho do professor, com relação a este tema, ainda continua nos moldes antigos, não permitindo que a Matemática transcenda os limites da sala de aula.

Considerando uma nova postura de trabalho por parte do meio educacional, a Estatística pode ser muito bem explorada na Matemática de forma a contribuir em várias áreas do conhecimento, mesmo nos moldes educacionais de disciplinas compartimentalizadas, como se tem atualmente, na maioria das instituições de ensino. Dentro desta perspectiva, a estatística deixa de ser um assunto exclusivo da matemática, e se torna uma ferramenta entrelaçada com a grande maioria das disciplinas do sistema escolar vigente.

Técnicas e raciocínios estatísticos e probabilísticos são, sem dúvida, instrumentos tanto das Ciências da Natureza quanto das Ciências Humanas. Isto mostra como será importante uma cuidadosa abordagem dos conteúdos de contagem, estatística e probabilidade no Ensino Médio, ampliando a interface entre o aprendizado da Matemática e das demais ciências e áreas. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1999, p.91)

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adequadamente, poderia transformar um pouco o estigma que a disciplina carrega, de ser inútil e não ter aplicabilidade no dia-a-dia das pessoas, tornando mais agradável o trabalho do professor e a prática dos alunos.

Além disso, as atividades escolares poderiam ter um perfil muito mais dinâmico com trabalhos de campo envolvendo várias áreas do conhecimento. Tal procedimento acabaria contribuindo imensamente com o desenvolvimento da formação dos cidadãos brasileiros, objetivando uma melhora na qualidade de vida de todos, que é o objetivo final do processo.

Viu-se anteriormente a grande gama de informações do nosso cotidiano que estão envolvidas de algum modo com a Estatística. Deixá-la de fora do ensino ou tratá-la de forma errada é um grande desperdício, e um retrocesso por parte da educação.

Muito pouco do que se faz em Matemática é transformado em algo que possa representar um verdadeiro progresso no sentido de melhorar a qualidade de vida. É inadmissível que aceitemos esse fato sem contestação, como um fato consumado, e não façamos esforços para mudá-lo. (D’AMBROSIO, 1986, p.22)

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sua história para explicar, para entender, para manejar e conviver com a realidade sensível, perceptível e com o seu imaginário naturalmente dentro de um contexto natural e cultural”.

Porém, o que se imagina, com relação ao ensino da Estatística, não é apenas consolidar determinados conteúdos no currículo de Matemática, muito menos “treinar”, de forma pragmática os alunos na aplicação de algumas fórmulas e técnicas estatísticas, mas sim, proporcionar a utilização inteligente e holística da Estatística, segundo uma visão matemático-crítica.

Quando se fala, de uma análise holística, refere-se a uma observação não compartimentalizada, não enfocando o problema ou os dados isoladamente, e sim em toda a sua amplitude possível, considerando várias óticas sócio-histórico-culturais as quais envolvem, além do problema em questão, o seu leitor. A visão matemático-crítica é justamente a necessidade de avaliar e refletir criticamente os resultados encontrados numa pesquisa, por exemplo. Verificar minuciosamente, sob o ponto de vista matemático, a “certeza” e a aplicabilidade dos resultados e todo o processo de obtenção dos números envolvidos na pesquisa, é o que se busca através desta visão aqui proposta. “As reflexões poderiam estar relacionadas à confiabilidade da solução no contexto específico. Até mesmo se os cálculos são feitos corretamente, e a explicação das técnicas é estabelecida, isso não implica que os resultados sejam confiáveis”. (SKOVSMOSE, 2001, p.90)

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nova dinâmica para as aulas de Matemática, integrando várias áreas do conhecimento.

Em nossa sociedade, cada vez menos o homem comum pode passar despercebido dos conhecimentos matemáticos, cada vez mais os “técnicos” precisam tomar parte em conteúdos matemáticos que só a especialistas interessavam, em passado recente.

Em outras palavras, mesmo considerando a divisão social do trabalho em nossa sociedade, que para a grande maioria, pouco representa em termos intelectuais, mesmo assim, os conhecimentos considerados básicos da Matemática são cada vez mais numerosos e imprescindíveis; embora seja possível notar que o analfabetismo é detectado muito freqüentemente no mundo não desenvolvido, enquanto a “não-aptidão numérica” é muito rara, quase tão rara quanto a incapacidade de comunicação falada.

Apesar de todo o esforço por parte de muitos profissionais ligados de uma forma ou de outra à educação, nota-se ainda uma grande deficiência por parte dos alunos na percepção, reflexão e crítica, quando defrontados com uma situação real envolvendo valores estatísticos. Entretanto, esta inquietação, também servirá de estímulo para a busca de novos caminhos na Educação Matemática.

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podendo assim, ser aproveitado para inúmeras situações nas salas de aula do ensino médio.

1.3. PROBLEMA

Como fazer com que os leitores de jornais e revistas possam interpretar informações estatísticas de forma holística, segundo uma visão matemático-crítica?

1.4. OBJETIVOS

1.4.1 Geral

Construir uma linha de análise de dados estatísticos visando fornecer subsídios para os leitores de jornais e revistas interpretarem, com maior grau de clareza, informações que se lhes apresentam através da mídia impressa.

1.4.2 Específicos

- Rever conceitos de educação matemática e estatística.

- Analisar informações estatísticas da mídia impressa e as possibilidades de falhas e/ou “manipulação” nelas contidas.

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1.5. PROCESSO METODOLÓGICO

Previamente, será realizada uma pesquisa bibliográfica, exploratória e analítica, oportunizando o contato com pesquisadores da área de interesse. Anais de Congressos Nacionais e Internacionais de Educação Matemática e Estatística, artigos e websites de entidades e/ou pessoas que possam contribuir com o projeto também farão parte desta etapa preliminar.

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Estão sendo descartadas mídias como: a televisão, rádio, entre outras, devido à dificuldade de captação das informações necessárias para o estudo.

Na etapa subseqüente, dar-se-á o trabalho interpretativo de todo o material agregado e desenvolvido até então, com posterior análise conclusiva. Discussões e exposições de determinados tópicos da pesquisa, que sejam de interesse da comunidade científica, poderão também ocorrer nesta etapa do processo. Concomitantemente, estruturação geral do trabalho, apresentando os capítulos e as considerações finais, com redação dentro da linguagem científica.

1.6. ESTRUTURA DO TRABALHO

No capítulo seguinte será feito uma investigação sobre a questionabilidade da matemática e, por conseguinte, da estatística. A situação da matemática no sistema escolar e a maneira como ela pode ser utilizada, também serão estudadas nesta etapa.

No capítulo 3 será feita a análise de algumas informações estatísticas, retiradas de revistas e jornais, observando detalhes que possam corromper ou não tais informações, com o objetivo de desenvolver uma linha de análise crítica.

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2 – A MATEMÁTICA E A SUA RELAÇÃO COM O COTIDIANO

A matemática carrega a dicotomia: alguns a vêem como uma ciência com aplicabilidade em todas as áreas do conhecimento, e assim, de grande importância para a humanidade, outros, no entanto, pensam que ela não tem uma aplicação real, a não ser a de dificultar a vida dos estudantes que não têm afinidade com os seus pressupostos.

Neste capítulo será apresentada uma discussão pertinente a este paradigma. Também será avaliada a situação em que a matemática se encontra no sistema escolar, perante uma cultura já instalada, contribuindo assim para o entendimento da pouca contestação ou reflexão por parte das pessoas (devido a credibilidade dada a matemática) quanto à análise de valores estatísticos.

Observando estas situações e percebendo que a matemática pode estar a serviço de quem a domina, pode-se, então, refletir sobre a análise de estatísticas e de contestar, ou não, as informações que transitam no dia-a-dia dos seres humanos.

2.1. DA INQUESTIONABILIDADE DA MATEMÁTICA

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Este caráter dogmático, desde muito cedo é “implantado” na mentalidade social, a tal ponto que, para muitos, a hegemonia da matemática sobre as outras matérias é um “fato natural”. Isso é perceptível até mesmo na criança da mais tenra idade, que já nos primeiros anos escolares aprende, muitas vezes através de jogos e brincadeiras aparentemente despretensiosos, que a matemática merece mais atenção do que os outros assuntos, porque apresenta menor quantidade de erros e ambigüidades, gera menos questões subjetivas e tem maior utilidade para o desenvolvimento das faculdades cognitivas.

A ênfase sobre este tipo de caracterização não se limita apenas à escola, na qual os professores reforçam constantemente o seu “status quo”1, mas estende-se ao lar, onde pais admoestam seus filhos para que estudem com afinco a matemática, pois “ela é a mais difícil das disciplinas e, portanto, merece mais atenção”.

São muitas as afirmações pelas quais se procura justificar, tradicionalmente, o lugar de destaque que a matemática deve ocupar entre as outras disciplinas. Fala-se da sua utilidade, o que não é uma mentira, já que ela está na base de todo o desenvolvimento tecnológico necessário à construção do mundo, abrangendo desde sofisticados equipamentos, como os eletroencefalógrafos usados na medicina, até a simples forma plástica para fazer chocolates artesanais. Além disso, exaltam-se as suas características estéticas, que envolvem o desafio da solução de problemas e cálculos complexos. Isto também é verdade, como prova a experiência vivida por muitos nos anos estudantis, com longas horas de estudo na escola e em casa, para a resolução de difíceis equações dos mais diversos graus. Outro argumento, ainda,

1 No convívio escolar, é fato não raro que professores, não somente das ciências naturais, estimulem

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é a sua universalidade, exemplificada pela igualdade na aplicação dos fundamentos matemáticos nas mais diversas partes do mundo. Novamente, há aí uma afirmação procedente, pois tanto a máquina construída na Europa, quanto aquela feita no Brasil, Estados Unidos ou China, precisará de princípios matemáticos similares para se tornar um bem material. Também o edifício terá os seus fundamentos e sua construção apoiados em cálculos matemáticos apropriados, em qualquer parte do planeta.

Mas então, se a matemática realmente possui todas essas qualidades, procede a crença da maioria das pessoas na sua inquestionabilidade e, consequentemente, na da estatística, da qual constitui principal ferramenta?

Antes que se possa responder satisfatoriamente a esta questão, é necessário examinar alguns argumentos que acrescentam fatos novos à opinião comum.

2.2. A MATEMÁTICA NO SISTEMA ESCOLAR

É importante, neste momento, observar alguns argumentos oriundos da reflexão feita por D’Ambrósio que, analisando as justificativas acima expostas, levanta aspectos que normalmente são desconsiderados ao se fazer um juízo de valor entre a matemática e as outras áreas do conhecimento humano, mas que merecem atenção na hora de formular considerações sobre a credibilidade maior ou menor da matemática, já que apresentam qualidades tão ou mais necessárias à vida da sociedade, do que ela.

A primeira delas refere-se à questão estética. No convívio diário é freqüente ouvir daqueles que defendem uma posição de superioridade da matemática em

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relação às outras disciplinas, que ela é mais agradável ao estudante por ser mais desafiadora e apresentar a possibilidade de sistematização lógica dos conhecimentos, permitindo assim, a obtenção de resultados de maneira clara, organizada e precisa. Embora não se oponha totalmente a este pensamento, D’Ambrósio (1998, p. 13) coloca-lhe uma objeção, dizendo que: “[...] a matemática satisfaz tudo, mas dificilmente justificar-se-ia uma importância tão grande, maior que a pintura ou a música, que também são construções lógicas, formais e de uma beleza incrível.”

Esta colocação chama a atenção para um aspecto muito importante, cujo significado, poucos compreendem, ou consideram. Grande parte das habilidades e conhecimentos que o ser humano utiliza para executar suas atividades profissionais, domésticas e de lazer envolve a lógica espacial, a coordenação motora, a memória visual e auditiva e o raciocínio empírico. Estas qualidades, embora estejam mais desenvolvidas no artista, no atleta, no cientista e nos que se dedicam com especial afinco a atividades específicas, não são privilégio destes grupos, elas existem também no restante da população que estuda e trabalha nos diversos segmentos que compõem a sociedade, como o comércio e a indústria. Tal fato, no entanto, não parece despertar o interesse das instituições sobre as quais se estrutura a educação e a economia, sendo até mesmo, em diversas ocasiões, ignoradas2 por estas. Na escola, por exemplo, os estudos sobre música, pintura, escultura, desenho, entre outros, não são realizados no tempo regular de aula, mas no horário oposto, quando o são, para não atrapalhar as “matérias escolares”. Nestas ocasiões, são muitos os

2 O termo “ignorada” supõe, neste caso, o sentido de – atitude deliberada – como facilmente se

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alunos que desistem de freqüentar aulas voltadas às artes e à cultura, devido a dificuldades de arcar com o aumento de custos de transporte e alimentação, além de, não raro, precisarem trabalhar no período em questão. Parece, pelo que se vê, que as disciplinas propedêuticas herdadas, em grande parte, da era grega, ainda definem a gama de conhecimentos que se deve ou não aprender, não somente na escola, mas também no meio social e familiar, como fica claro quando alguns pais proíbem seus filhos de tocar ou pintar, se não tirarem notas altas na escola.

Semelhante conduta toma, nos dias de hoje, uma conotação ainda mais paradoxal do que em qualquer outra época, pois é exatamente o uso de manifestações artísticas como a pintura e o desenho que tem prestado fundamental contribuição para o desenvolvimento da computação gráfica, cuja utilidade para a criação visual aumenta a cada dia, nos mais diferentes setores, criando empregos e movimentando a economia.

Não é de admirar que num mundo destes, a estatística goze de elevado crédito perante uma população, cujas alternativas para a construção do conhecimento permanecem submissas aos limites da educação tradicional3. É possível também, que seja o caráter restritivo desta ótica, pelo menos em parte, o motivo pelo qual a universalidade é muito usada para justificar a posição privilegiada da matemática.

É fato que a presença nos sistemas educacionais de grande parte das nações do planeta, especialmente as que têm a sua educação baseada na retransmissão do

3 A qualificação de “tradicional”, neste caso, não diz respeito a um modelo educacional em particular,

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conhecimento sistematizado, através de instituições destinadas a isso, como a escola que se conhece no Brasil, é uma das atribuições da matemática, e poucas são as disciplinas que dela diferindo, assim se apresentam. A razão disso, entretanto, não reside na possível incompletude ou inadequação das outras matérias, mas sim, porque para seu estudo, é necessária, muitas vezes, uma gama de elementos de ordem social e cultural, cuja variação acaba por se tornar um fator de limitação à sua compreensão. Por exemplo, a história dos países. Muito embora apresente muitas vezes, características estruturais semelhantes, é diferente quanto às influências socioculturais que a determinaram em cada nação. Há países, por exemplo, que se encontram em semelhante grau de desenvolvimento econômico, mas que diferem sensivelmente na cultura e na organização social. Compreender a história, pois, exige da pessoa um número maior de inferências e reflexões sobre as diversidades humanas, temporais, culturais, etc., do que a matemática o faria, quando tratada apenas a partir de seus atributos utilitários. Da mesma forma, a geografia, a biologia, as letras, solicitam ao estudante flexibilidade e discernimento para lhes enxergar a universalidade, justamente em função da variedade de aspectos que as constituem.

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(D’AMBRÓSIO,1998, p.13). Este aspecto, porém, é freqüentemente desconsiderado pelo sistema educacional e pela sociedade por ele influenciada, o que alimenta, por conseqüência, uma espécie de “conservadorismo” segundo o qual se advoga que a matemática é merecedora de maior atenção, porque somente ela pode ser considerada uma disciplina “universal”. D’Ambrósio (1998, p.13), todavia, discorda deste pensamento; “[...] isto não é suficiente para justificar sua presença tão marcante nos sistemas escolares.”

Mas é inegável, por outro lado, que a subjetividade presente em grande parte das disciplinas que diferem da matemática, ou que não contêm pelo menos os seus princípios, desagrada um grande número de pessoas, quando atribuem ao critério de universalidade, características de padronização e regularidade. Sabe-se, pela experiência, que alunos têm argumentado que é melhor estudar a matemática porque podem usá-la em qualquer parte do mundo sem muitas adaptações, do que geografia ou história, que exigiriam grande diversidade de conhecimentos e reflexões, na mesma situação. Embora simplório e inconsistente, este pensamento tem sido compartilhado por uma certa parcela de indivíduos, gerando conseqüências como a crença inconteste em proposições estatísticas divulgadas na mídia por entidades governamentais e privadas, pelo simples fato de envolverem cálculos e sistematizações matemáticas.

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e tomar decisões com bom nível de segurança, é necessário frisar que ele não está totalmente correto, pois nem só de cálculos precisos e resultados previsíveis é composta a pletora de atividades individuais e coletivas que compõem a vida humana em sociedade. A comunicação, as artes, a psicologia, a filosofia, o lazer, as relações afetivas e muitos outros fatores exercem grande influência sobre o comportamento humano, orientando reflexões e determinando decisões, cuja extensão abrange, em certos casos, nações inteiras.

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empírica, gerada pela experiência de testemunhar outras pesquisas semelhantes que não se refletiram na realidade dos fatos, ou, por mera imposição de uma personalidade naturalmente incrédula, cuja manifestação precede a reflexão.

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raciocínio lógico? Negar que estes indivíduos possuem habilidades mentais pelas quais a matemática não foi a maior responsável, muito menos a única, seria no mínimo, algo para se repensar.

Por outro lado, também não seria menor engano acreditar que estes exemplos, apesar de elucidativos, não representam o trabalhador comum, o estudante regular, a pessoa do povo, o fato cotidiano. Para estes, não é necessário se afastar da sala de aula para perceber a contribuição que as outras disciplinas prestam para o desenvolvimento das faculdades cognitivas. Através dos estudos da metodologia científica e da comunicação, por exemplo, os alunos pesquisam temas diversos e os apresentam para o grupo. Estas exposições exigem, além de estudo diligente, a organização dos assuntos de maneira sistemática, pressupondo uma ordem clara, coerente e lógica. Será que ao construir e expor uma pesquisa desta forma não se está aprimorando o raciocínio? O que dizer ainda, dos estudos da língua pátria e de outras estrangeiras, cujo aprendizado exige conhecimentos de gramática normativa combinada com as características individuais e a experiência social e cultural das pessoas? Será que a aquisição deste tipo de conhecimento não proporciona desenvolvimento do pensamento racional? É difícil aceitar que atividades desta natureza não surtam tanto efeito quanto a matemática para o desenvolvimento do raciocínio. Não obstante, mesmo que se prossiga indefinidamente levantando exemplos de variadas procedências, dificilmente se conseguirá desviar para outras direções o foco das atenções, que permanece votado para os benefícios da matemática e suas derivadas.

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atividades de lazer, etc., que tal como o xadrez citado anteriormente, fazem parte do cotidiano das pessoas, influenciando, muitas vezes de maneira despercebida, seus pensamentos e atitudes, a ponto de modificar hábitos há muito adquiridos, que poucas vezes são associados ao desenvolvimento da capacidade de raciocinar.

2.3. O PODER DA MATEMÁTICA E DA ESTATÍSTICA

Considerando os argumentos expostos, não é de se estranhar que a estatística, entendida como uma das mais puras manifestações práticas do raciocínio matemático, usufrua a mesma supervalorização perante a escola e a sociedade. Na escola, na rua, em casa, dados estatísticos são freqüentemente usados nas discussões para “derrubar” os argumentos, cuja sustentação se apóia sobre o empirismo ou a subjetividade da opinião pessoal. Freqüentemente, estas posições são taxadas de irracionais e não-científicas, carecendo de consistência e crédito. Por outro lado, sob a égide de ser clara, precisa, elucidativa, a estatística, grande parte das vezes, fecha bocas e escapa a questionamentos.

Os especialistas demonstram sua capacidade produzindo soluções verificáveis para os problemas que nos deixam frustrados, produzem argumentos plausíveis contra nossas propostas (argumentos cujos planos estão bem disfarçados para serem desmascarados) e oferecem explicações psicologicamente convincentes de nossos erros. (D’AMBRÓSIO, 1998, p. 28)

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uso como instrumento de medição e quantificação, e o desejo humano de reduzir as questões da natureza a limites explicáveis e controláveis. Esta intenção, por sua vez, pode ter sido produzida por fatores socioculturais segundo os quais, a matemática está na base do processo de desenvolvimento tecnológico. A construção da materialidade, sob este prisma, seria então, fundamentalmente, o resultado de cálculos e equações que definiriam a forma e a composição dos elementos que compõem o mundo.

Possivelmente, dentre as muitas causas que levaram à popularização desse pensamento, está o fortalecimento do racionalismo científico que, livre da repressão política e religiosa que perduraram durante os séculos da idade média, floresceu e espalhou seus frutos por todo o mundo, amparado pelas proposições de cientistas como Descartes.

Além deste aspecto e reforçando as suas implicações, está a revolução industrial, que a partir do século XVIII mudou completamente o modo de produção e formalizou o positivismo econômico segundo o qual, os bens deveriam ser disponibilizados para todos os que pudessem adquiri-los. Para isso, foi necessário desenvolver sistemas fabris que permitissem a produção em grande quantidade, o que somente foi possível através da utilização de máquinas que trabalhassem mais rapidamente e por mais tempo do que o ser humano, sem perda dos padrões formais das mercadorias.

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industrializar e distribuir mercadorias em grande escala. Nesta nova realidade, tornou-se especialmente importante a capacidade de construir e operacionalizar máquinas sempre mais eficientes para atender à crescente demanda da população por produtos diversos. Como isso exige o desenvolvimento de tecnologias cada vez mais avançadas, nas quais a matemática está sempre presente, não é de surpreender que nos últimos séculos o seu estudo tenha adquirido tanta importância no meio escolar e no cotidiano da sociedade: “Na sociedade da informação a habilidade de coletar, sistematizar e usar a informação parece ser o veículo para o desenvolvimento social, e, simultaneamente, torna-se uma fonte de poder.” (SKOVSMOSE, 2001, p.78).

D’Ambrósio (1998, p. 41) também compactua de pensamento similar, porém, faz uma reflexão sobre um outro lado dos avanços das técnicas de análise estatística:

E técnicas avançadas de análise permitem penetrar no íntimo emocional das pessoas, liberando-as de tensões e pressões e permitindo o livre usufruir de suas potencialidades, mas ao mesmo tempo essas técnicas são utilizadas para manipular grupos de indivíduos, conduzindo-os a participar individual e coletivamente, ativamente ou por consentimento passivo, de atos de violência da maior barbárie, tais como genocídio e tortura física e mental em dimensão e intensidade jamais imaginados em gerações anteriores e que representam vergonha e culpa para cada geração.

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uma educação matemática adequada, acreditem que o seu domínio é privilégio de uns poucos “escolhidos”, que por causa da suas “habilidades especiais” devem também estar sempre certos em suas posições a respeito dos destinos da sociedade. Portanto, mais do que confirmar uma suposta superioridade da matemática, objetiva-se, ao taxar-lhe semelhante valor, lucrar de alguma forma nos âmbitos político, social e econômico.

2.4. OBSERVANDO A MATEMÁTICA DE FORMA MAIS ABRANGENTE (HOLÍSTICA)

Antes que se possa analisar a proposta de D’Ambrosio (1998) para aplicação da Etnomatemática (seu significado virá a seguir), é necessário observar a sua concepção de conhecimento, uma vez que aquela se propõe a compartilhar com as outras ciências naturais a construção deste. Além disso, tal como a própria Etnomatemática, a teoria do conhecimento ou a “teoria da cognição”, termo utilizado modernamente segundo este autor, é passível de variadas interpretações, segundo óticas sócio-histórico-culturais diversas.

De acordo com D’Ambrosio (1998, p.6) o conhecimento se realiza quando a pessoa é capaz de: “identificar técnicas ou mesmo habilidades e práticas utilizadas por distintos grupos culturais na sua busca de explicar, de conhecer, de entender o mundo que os cerca, a realidade a eles sensível e de manejar essa realidade em seu benefício e no benefício de seu grupo.”

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as suas transformações no decorrer do tempo. A Etnomatemática vem para atender as necessidades decorrentes desta concepção de conhecimento. Conforme D’Ambrosio (1998, p.7): “etnomatemática é um programa que visa explicar os processos de geração, organização e transmissão de conhecimento em diversos sistemas culturais e as forças interativas que agem nos e entre os três processos. Portanto o enfoque é fundamentalmente holístico”.

O que chama a atenção nesta definição é o termo holístico. Para D’Ambrosio (1998), a matemática deve respeitar as variedades culturais de cada sociedade, adaptando-se às suas necessidades e às suas concepções de mundo. Sob esta visão, a pretensa universalidade da matemática toma um contorno negativo no que tange aos seus resultados. O que outrora era apontado como um trunfo em relação a outras ciências, mostra-se agora como um entrave à construção de um conhecimento que produza liberdade e autonomia. “Começou-se a falar de efeitos negativos que podem resultar de uma educação matemática mal adaptada a condições socioculturais distintas, seja nos países do Terceiro Mundo, seja nos países com grande desenvolvimento cultural.” (D’AMBROSIO, 1998, p.11). Estes resultados negativos são visíveis quando se analisa em âmbito nacional, por exemplo, as quedas e elevações das economias mundiais geradas por dados matemáticos irreais, ou, inadequados para explicar distintas realidades; e também em âmbito escolar, quando a Matemática não consegue instrumentalizar os alunos para investigar e compreender a sua própria realidade sociocultural e geográfica.

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universalmente aceitos em educação matemática pela introdução preponderante de considerações socioculturais é um exemplo da mudança qualitativa.” (D’AMBROSIO, 1998, p.11)

Mas as falhas nas informações oriundas das análises estatísticas não são fáceis de serem encontradas. Em geral, estão maquiadas pela suposta credibilidade de fatos outrora comprovados e que quando necessários, são utilizados como sustentáculo para o que se deseja afirmar, mesmo que sua natureza não esteja originalmente ligada aos dados em questão. Além disso, não são poucas às vezes em que eventuais críticas a afirmações de base estatísticas são silenciadas, antes mesmo de serem esboçadas, em função do poder exercido sobre a opinião pública por determinado canal de comunicação. É fato comum que certa colocação seja aceita pelas pessoas apenas por ter sido pronunciada pelo jornalista “A” ou “B”, ou por ter sido veiculada pelo canal “X” ou “Y”. A verdade, então, parece não ter sua validade apoiada nos fatos, que supostamente constituem a matéria da estatística, mas na popularidade de que goza que a constrói e a publica.

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A linguagem secreta da estatística, tão atraente em uma cultura maníaca por fatos, é empregada para criar sensação, inflacionar, confundir e simplificar em excesso. Métodos e termos estatísticos são necessários para comunicar dados agregados de tendências sociais e econômicas, condições dos negócios, “inquéritos de opinião pública,” ou dados de recenseamento. Mas, sem escritores que usem com honestidade e compreensão as palavras e sem leitores que saibam o que elas significam, o resultado pode ser puro absurdo semântico. (HUFF, 1992, p.10).

De uma forma mais breve, Reichmann (1975, p.37) compactua da mesma idéia de Huff (1992) com relação ao exposto acima: “A interpretação depende tanto do intérprete como dos dados interpretados e ele deve estar sempre em guarda contra a irrealidade, o preconceito e o ilógico.”

Mas nem sempre o problema está centrado no conteúdo, em alguns casos é a maneira como ele está exposto que induz a interpretações desejadas por quem produziu a informação.

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É importante frisar, entretanto, que o despreparo de alguns na tarefa de apresentar graficamente um conjunto de informações também pode gerar interpretações equivocadas.

Huff (1992, p.61) ainda reforça a utilidade dos gráficos pictóricos, observando sua dualidade: “Trata-se de um instrumento útil. Possui aquilo que, receio, seja chamado de capacidade de encher o olho. E é capaz de tornar-se um mentiroso eloqüente, tortuoso, e bem-sucedido.”

A análise minuciosa de números estatísticos não deve ficar restrita aos leitores de jornais e revistas ou apenas para telespectadores. Grandiosas pesquisas que conduzem a tomada de decisões, envolvendo diretamente grande quantidade de pessoas, devem ter ainda um olhar mais refinado, pois interpretações errôneas podem geram danos em diversos aspectos ou até irreparáveis.

“Muitas estatísticas, incluindo as de natureza médica, tão importantes para todo mundo, são distorcidas por comunicação inconsistente na fonte. Há números espantosamente contraditórios sobre assuntos delicados como abortos, filhos ilegítimos e sífilis.” (HUFF, 1992, p. 75).

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3 – ANALISANDO A REALIDADE EM RECORTES

Neste capítulo serão apresentados os recortes das mídias impressas selecionadas. Nestes recortes, detalhes explícitos ou implícitos que possam desvirtualizar a apresentação dos dados estatísticos serão discutidos, objetivando desenvolver uma linha de análise crítica, contribuindo para a educação matemática necessária ao cotidiano das pessoas.

3.1. ESCOLHENDO AS MÍDIAS

O desenvolvimento desta pesquisa, não tem o interesse de avaliar o padrão de qualidade de alguns meios de comunicação, mas sim, o de orientar o leitor e deixá-lo mais atento com relação às matérias veiculadas por eles, principalmente aqueles artigos que envolvem de alguma forma a matemática e, particularmente, a estatística. Escolheu-se então estudar recortes das mídias de conhecimento geral da população, para que a pesquisa em questão tenha maior validade.

Para o estudo, escolheu-se o meio de comunicação impresso, devido à sua grande difusão nos mais variados setores da sociedade, sendo inclusive, mencionado muitas vezes em outros canais de comunicação como a televisão, rádio e Internet.

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página do jornal, ou seja numa atividade de sala de aula, em que os alunos debatem sobre um tema específico que convenientemente foi publicado numa revista.

Baseado no exposto acima, selecionou-se duas revistas de publicação semanal: “Veja” e “IstoÉ”. A revista Veja, da Editora Abril, tem tiragem superior a 1 milhão de exemplares por semana, o que mostra a sua popularidade e difusão em todo o território nacional, sendo eventualmente referência em algumas matérias. A revista IstoÉ, da Três Editorial, também com grande distribuição de exemplares, é uma revista de grande credibilidade e respeito no mercado.

Para completar o quadro das mídias, escolheu-se dois jornais: “A Notícia” e “Diário Catarinense”. O jornal A Notícia, com sede em Joinville, tem abrangência direcionada para a região norte do estado de Santa Catarina, onde se encontra instalado grande pólo industrial do estado, principalmente no ramo metal-mecânico. O Diário Catarinense tem difusão mais ampla, por ter sede na capital (Florianópolis), sendo mais difundido na região centro-leste do estado. A escolha por jornais de Santa Catarina fez-se em contraposição à escolha das revistas de abrangência nacional, pois o caráter regional também deve ser aqui preservado. Vale mencionar também que cada uma das mídias impressas escolhidas tem sua versão digital na rede mundial de computadores - Internet.

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As reportagens escolhidas estarão publicadas no intervalo de janeiro de 2004 até janeiro de 2005.

3.2 OS RECORTES DA MÍDIA EM ANÁLISE

Quando se assiste a um noticiário na televisão, por exemplo, devido à própria formatação dos programas de notícias, as matérias tendem a passar rapidamente. Neste caso, o telespectador fica de mãos atadas, pois, se procurar refletir mais profundamente sobre determinada matéria que viu, poderá perder em parte ou totalmente, a outra ou as outras que surgirão na seqüência. Por um outro lado, um leitor de jornal ou revista, quando se depara com uma determinada matéria, pode optar em seguir sua leitura, semelhantemente ao noticiário televisivo, ou então, procurar refletir mais profundamente sobre ela, caso lhe seja conveniente, sem abrir mão da possibilidade de apreciar com tranqüilidade as outras notícias, já que tem o poder de determinar o ritmo, a seqüência e a escolha das matérias.

O fato, entretanto, é que a maioria de nós:

Tendemos na vida, até por força de uma escola que apenas ensina a copiar, a ser receptores de informação, principalmente diante da manipulação da mídia. Lemos um jornal passivamente, quer dizer, sem investir espírito crítico, sem relacionar com outras formas de dizer ou com outras notícias, sem mobilizar interpretação pessoal, sem ter noção do que se deturpa, esconde, manipula. Esta deficiência se revela, por exemplo, no fato de que o lido, mesmo que seja diário, não repercute em nada na vida concreta, na profissão, nas relações sociais e políticas, na organização da vida diária. (DEMO, 2000, p.24)

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Recorte 1 – Quantas horas se trabalha em cada país

Publicado na Veja – edição 1846, ano 37 – nº 12 – p. 37 – 24 de março de 2004.

Uma leitura superficial desta publicação poderia sugerir, a priori, que o Brasil, em termos de horas trabalhadas, vem se aproximando mais dos países tidos como desenvolvidos4, do que de outros menos avançados.

Uma observação mais aprofundada, no entanto, poderia gerar alguns questionamentos em torno das informações explícitas na matéria.

No rodapé da matéria há a observação que a fonte dos dados é da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e que os números são de 2002, exceto o do Brasil, que é de 2001. Em primeiro lugar, a pesquisa já está defasada em 2 anos da sua publicação, embora a própria matéria diga que é uma “pesquisa recente”. Um outro fator mais agravante para efeito de comparação é que os dados não são de um mesmo ano.

4 O termo “desenvolvidos” nesta pesquisa foi usado apenas como designação genérica, segundo os

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Justamente aí se encontra uma inconsistência, pois a informação sobre o Brasil é mais antiga que as outras (de um ano anterior). Será que estes números não podem mudar significativamente de um ano para o outro? E em 2004, como poderão estar se comportando estes números? Caso sua variação fosse insignificante num intervalo de variação de 2 anos, seria muito conveniente que esta informação estivesse sendo apresentada para o leitor.

Pode-se gerar ainda, outros questionamentos mais profundos em virtude daquilo que não está explícito na matéria.

Por que o Banco da França produziria uma pesquisa como esta? Quais seriam os seus verdadeiros interesses nestes dados? Como eles foram coletados? De que forma foi feita a pesquisa, já que foi realizada pela Organização Internacional do Trabalho? Se, por ventura, os dados foram obtidos através de entrevistas às pessoas, elas conseguem avaliar com precisão quantas horas trabalharam numa semana? Esses erros se cancelam mutuamente? Que tipo de trabalhador foi considerado? Todos? Operários? Vendedores? Executivos? E o trabalho informal?

Pode-se ainda extrapolar a reflexão. Nos países citados na pesquisa, estão acontecendo horas extras? Qual é o número de horas semanais estipulado por lei em cada um dos países, caso exista lei? Observe que, pela pesquisa, trabalham-se 41,8 horas por semana no Brasil, e o acordado pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) é de 44 horas semanais, regime este adotado para uma grande massa de trabalhadores do país.

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objeções procedentes. Por exemplo, a quantidade de horas semanais que se atribuiu ao Brasil (registre-se que não houve distinção entre as várias regiões do país, embora elas apresentem conhecidas diferenças sociais, culturais e econômicas), poderia servir como tese para afirmar que os níveis salariais são maiores do que costuma julgar a opinião pública, podendo até mesmo superar, se a colocação for bem construída, países tidos como economicamente mais adiantados. A leitura dos dados, pois, não será apenas uma, mas tão-somente será aquela mais conveniente, ou mais acessível a quem a empreenda.

Então, pode-se sintetizar algumas incertezas e/ou falhas que se apresentam na matéria do recorte 1, que serão mais detalhadas logo adiante:

• Solicitante / Contexto

• Data de Validade / Localização • Comparação de Dados • Método de Pesquisa

• Números / Incerteza • Amostra

• Publicação / Fonte

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Recorte 2 – Livros, ginástica e amigos

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A matéria inicia pela chamada que diz: “Pesquisa derruba mito de que os internautas são desmiolados, sedentários e misantropos5”. Ela se utiliza de palavras como “derruba mito” e “desmiolados” para causar impacto e vocábulos poucos conhecidos no dia-a-dia como misantropos, que eventualmente pode não ser a interpretação correta para o caso. O uso de termos desse tipo reforça o poder da matéria no sentido de emplacar as informações nela contidas e aumentar a sua credibilidade.

Primeiramente, a matéria começa embasada numa pesquisa realizada na Universidade da Califórnia nos Estados Unidos, que diz que “quer enterrar a imagem do internauta como um sujeito misantropo e imbecilizado”. Será que o trabalho intitulado World Internet Project 2004 realizado em 14 países tem apenas esta finalidade? Embora o projeto atinja vários países do globo, “o Brasil não consta do levantamento, mas os números nacionais disponíveis são semelhantes aos da Universidade da Califórnia”. Como assim? Foi realizada uma pesquisa também aqui no Brasil? Se foi, o processo aplicado na pesquisa foi rigorosamente o mesmo? O que realmente significa: “números nacionais disponíveis são semelhantes”? Quais são os 14 países envolvidos na pesquisa? Algum da América Latina?

O processo utilizado na coleta dos dados não foi mencionado. É interessante observar que se a pesquisa foi feita nas ruas, justamente deixará de fora aqueles internautas que não praticam as atividades mencionadas na matéria.

5 Misantropo, segundo o Novo Aurélio: 1. Que ou aquele que tem ódio ou aversão à sociedade;

antropófobo. 2. Que ou aquele que evita a convivência, que prefere a solidão, que é solitário,

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Outro questionamento que pode também ser incluído é a respeito do tipo de internauta costuma responder questionários, caso tenha sido este o processo de coleta dos dados. Podemos ponderar também se o tipo de internauta brasileiro é o mesmo que o americano ou de países europeus, pois a situação sócio-econômica e cultural destes dois países tem diferenças consideráveis.

Outro dado muito importante apresentado é: “A pesquisa americana não se arrisca a produzir explicações”. Entretanto, os responsáveis pela publicação da matéria em questão fazem várias considerações a respeito do tema.

A pesquisa, como foi mencionada, é uma compilação de dados sobre o comportamento e os hábitos de 30.000 usuários regulares da internet. Como se diferencia um usuário regular de internet de um não usuário?

O quadro em destaque na matéria apresenta 3 itens de comparação: leitura, atividades físicas e vida social. As pessoas “perguntadas” têm um mesmo conceito do que seja vida social?

Então podemos sintetizar algumas incertezas e/ou falhas que se apresentam na matéria do recorte 2:

• Solicitante / Contexto • Comparação de Dados • Método de Pesquisa

• Números / Incerteza • Amostra

• Publicação / Fonte

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Recorte 3 – Resultados Positivos

Publicado na IstoÉ – edição 1838 – 29 de dezembro de 2004.

A matéria inicia com: “O preparo dos diretores de escolas é primordial para o desempenho do aluno. É o que prova o programa Gestão para o Sucesso Escolar...”. Frases de impacto como “é o que prova” tentam dar total credibilidade à publicação. Será que a pesquisa em questão realmente prova isto? Não existem outros fatores primordiais para o desempenho do aluno?

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O resultado “saltou” de 24,2 para 28,5 pontos, numa avaliação de 40 pontos. Que tipo de avaliação é esta e o que é avaliado? E por que 40 pontos se a grande maioria das escolas adota o sistema com valor máximo de 10 pontos, ou ainda 100 pontos? Caso fosse imprescindível, qual a justificativa para se utilizar 40 pontos? Todos os alunos envolvidos fizeram parte dos dados apresentados? Tem-se aí uma inconsistência na publicação dos dados pois a média geral dos alunos que foi divulgada serve para os dois estados. Seria conveniente divulgar a média dos alunos para cada estado (ou ainda para cada escola), pois, pelos dados apresentados, há a possibilidade de um estado ter decaído na média dos alunos e ainda assim a média aumentar.

Explica-se, na reportagem, que a verificação das médias ocorreu em um ano. O projeto iniciou no mesmo ano ou já vem sendo aplicado durante mais tempo? Supõem-se que o ocorrido aconteceu em 2004, mas o leitor não tem a obrigação de supor datas, pois este dado deveria aparecer em algum momento na reportagem.

Já é conhecido no meio acadêmico as dificuldades existentes num processo de avaliação dos alunos, seja qual tipo for, pois uma série de fatores estão envolvidos. A divulgação de maiores informações sobre o projeto apresentado na matéria e sobre a verificação do aumento das médias dos alunos seria fundamental, considerando que questões que envolvem avaliações devam ser tratadas com mais “delicadeza”.

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grandes investimentos em educação, talvez uma matéria como esta merecesse de mais espaço e seriedade para divulgação.

Sintetizando algumas incertezas e/ou falhas que se apresentam na matéria do recorte 3, tem-se a seguir:

• Solicitante / Contexto • Data de Validade

• Comparação de Dados • Método de Pesquisa

• Números / Incerteza • Amostra

• Publicação / Fonte

• Completude de Informações

Recorte 4 – Quero ser grande

Publicado na IstoÉ – edição 1804, p. 54-60 – 05 de maio de 2004. (Anexo 1)

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inicia também com frase de impacto: “A reportagem da capa desta edição traz revelações surpreendentes sobre a juventude brasileira.” E em seguida menciona que “jovens e talentosos jornalistas da editoria de Comportamento da IstoÉ, debruçaram-se sobre os resultados da extensa pesquisa feita pelo Instituto Cidadania.” É aí que pode suscitar várias falhas sobre a reportagem. A pesquisa parece ser séria, pois traz vários dados sobre a realização da mesma, como por exemplo, número de entrevistados (amostragem), método da pesquisa, data de realização, entre outros itens importantes já mencionados anteriormente, embora não divulgue qual o percentual de erro que os valores podem conter. Todavia, os resultados desta extensa pesquisa foram “fragmentados” por dois “jovens e talentosos jornalistas”. Neste momento não se quer avaliar o talento dos jornalistas em questão, muito menos a experiência dos mesmos, porém cabe ressaltar se estes estão capacitados para fazer tais inferências sobre os dados apresentados na pesquisa, trabalho este de responsabilidade de um profissional da estatística.

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parece ignorar que os 10% dos jovens que já fumaram maconha representam aproximadamente (segundo os dados do Censo 2000 do IBGE) 3,41 milhões de jovens brasileiros, o que representa um número considerável.

Algumas outras questões que podem ser argumentadas. “Um quarto dos jovens nunca foi a um shopping nem a uma danceteria”. Deve-se considerar aqui o fato de que a pesquisa também foi feita no interior dos estados, e, consequentemente, existem cidades que não possuem shopping ou mesmo alguma danceteria. Talvez fosse importante repensar este dado antes de sua publicação.

Vale lembrar que, embora a reportagem informe que as amostras são proporcionais ao número de habitantes de cada estado, tomar porcentagens para a totalidade de um país tão heterogêneo em inúmeros aspectos e de dimensões continentais, parece ser algo que precisa ser levado mais em consideração.

Para finalizar esta análise, observa-se o fato de que a matéria apresenta algumas entrevistas com jovens que combinam com o perfil da pesquisa, sendo que isto parece bastante conveniente, até para justificar os dados ali publicados.

Agora então, sintetizando algumas incertezas e/ou falhas que se apresentam na reportagem do recorte 4, seguem abaixo:

• Comparação de Dados • Método de Pesquisa

• Números / Incerteza • Amostra

• Publicação / Fonte

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Recorte 5 – Internet ainda está longe de professores

Publicado no jornal A Notícia – nº 23.067 – p. A10 – 30 de maio de 2004. (Anexo 2 – Versão da internet: www.an.com.br)

Esta reportagem foi antecedida pela chamada de primeira página que dizia: “Tecnologia distante da sala de aula.” “Pesquisa revela que 58,4% dos professores jamais navegaram na internet, 77% dos docentes que recebem até 5 salários não têm computador próprio.”

Na verdade, como se pode ler nas páginas seguintes, esta pesquisa não se restringe apenas ao aspecto tecnológico6, mas envolve outros posicionamentos de ordem sociocultural como: “69% dos professores não desejam ter como vizinhos viciados em drogas”. Embora somente esta afirmação já possa ser um denso objeto de análise, o enfoque aqui permanecerá centrado na questão da informática.

Os valores apresentados no texto (77% e 58,4%), tanto ao leitor que não faz parte do magistério quanto ao próprio professor, podem causar a impressão de que a carreira de educador vai de mal a pior, tanto no sentido de qualificação profissional quanto no da adequação ao atual estágio cultural e tecnológico da sociedade. Mas será que estes dados correspondem à realidade? Se a coleta fosse feita nas escolas em que este pesquisador trabalha, certamente a resposta seria negativa. Na SOCIESC7, por exemplo, é possível afirmar, sem grande margem de erro, que quase 100% dos professores acessa a internet com freqüência semanal. Em outras duas entidades em que o pesquisador também leciona, toda a comunicação com o corpo docente e disponibilização do material didático são feitas através da internet.

6 O termo “tecnológico” está sendo usado neste caso para definir a disponibilidade de recursos

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Mas não é somente nestas escolas que isto acontece, há colegas que trabalham em outras instituições tanto públicas quanto particulares que usam estes recursos com regularidade. Nenhuma destas escolas, entretanto, respondeu a qualquer pesquisa neste sentido.

Tal fato, acredita-se, é extensivo a um grande número de escolas em todo o território nacional, as quais apesar de já disponibilizarem computador para seus alunos e professores não foram consultadas na pesquisa.

Da mesma forma, afirmar que 77% dos professores que ganham de 1 a 5 salários mínimos não têm computador em casa, parece um exagero, pois hoje a aquisição destas máquinas tem sido facilitada por uma série de artifícios financeiros, o que tem possibilitado a um número cada vez maior de pessoas de renda mais baixa o acesso à informática. É certo, no entanto, que esta condição não é geral, há muitas regiões do país em que não apenas os professores mas grande parte da população ganham salários muito baixos, e as escolas carecem de recursos operacionais e educacionais, não somente como computador, mas também giz, quadros, carteiras, livros, etc. Esta situação, entretanto, não pode ser generalizada, como sugere a pesquisa em questão, já que a incompletude dos dados orientativos sobre as amostras e as populações pesquisadas dá a entender que ela não é suficientemente abrangente. Se assim o fosse, amanhã seria possível divulgar, depois de uma pesquisa exclusivamente com pessoas de renda elevada, que 60 ou 70 ou 80% dos brasileiros possuem carro importado, moram em mansões e viajam com freqüência ao exterior.

Outro aspecto cujo sentido subjaz ao texto da reportagem é a sugestão de que o professor faz parte de uma classe de “coitados” que se sacrificam como

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podem em favor da educação, apesar de não conhecerem e não terem acesso aos recursos educacionais que o mundo já oferece. “Os docentes do Brasil são heróis tentando construir uma nação”. Este pesquisador não crê que a realidade seja assim, ele acredita que os educadores são profissionais de grande importância para a sociedade e que dispõem de recursos tecnológicos e pedagógicos para realizar seu trabalho com eficácia. O “heroísmo”, entretanto, é uma atribuição imprópria para a profissão e esta conotação de “altruísmo piegas” parece emprestar ao magistério uma aparência de atitude improvisada, pois baseia sua existência muito mais numa iniciativa pessoal do que numa atividade tecnicamente estruturada. Por fim, pode-se observar também na presente pesquisa que há uma simplificação dos fatos, ou seja, quando se divulgou os percentuais obtidos, parece que não se analisou a dimensão dos fatos que eles representam pois, se assim fosse feito, perceber-se-ia que se está afirmando que mais da metade das escolas do Brasil e mais de ¾ dos professores simplesmente não conhecem o computador, ou não sabem utilizá-lo. Se a UNESCO, entidade responsável pela pesquisa, pensa desta maneira, parece que é necessário que o governo brasileiro faça uma divulgação mais apropriada do nível social, cultural, econômico e tecnológico em que se encontra hoje o nosso país.

Relacionando as incertezas e/ou falhas apresentadas na reportagem do recorte 5, tem-se:

• Solicitante / Contexto • Comparação de Dados • Método de Pesquisa

Referências

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