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Baseado nos recortes que foram analisados e discutidos anteriormente, buscar-se-á uma linha de análise visando fornecer subsídios para que os leitores possam interpretar e criticar com maior grau de clareza e de forma holística, informações estatísticas que os mesmos encontrarão nas mídias do decorrer de seus cotidianos.

Não se tem a pretensão aqui, de criar um padrão formatado de análise, mas sim, um caminho no qual o leitor possa trilhar a ponto de encontrar as possíveis inconsistências que os dados e as informações estatísticas possam trazer. Estimular e aprimorar o hábito de reflexão crítica quando se defronta com informações deste tipo é o que se espera também da presente pesquisa.

Através dos recortes discutidos e de forma sintética, relacionou-se e agrupou- se os itens a seguir, que aqui denominaremos “Linha de Análise”.

Os tópicos são:

•••• Publicação / Fonte

A fonte dos dados é confiável? Quem realizou a pesquisa? É uma entidade conhecida e idônea? A pesquisa está sendo publicada por quem? O jornal ou a revista têm credibilidade no meio em que atuam? A mídia que publica faz cortes da pesquisa e/ou acrescenta comentários e frases de impacto e até sensacionalismo para vender a informação?

•••• Data de Validade / Localização

Onde e quando os dados foram coletados? A pesquisa foi realizada na região de interesse? Se ela foi realizada na Europa, pode ser “aplicada” no Brasil? Para todo o Brasil ou apenas alguns estados? Em que data ela foi realizada? Certas pesquisas perdem a validade em um determinado espaço de tempo.

•••• Método da Pesquisa

Qual o tipo de coleta de dados? Ela é coerente para tal pesquisa? A coleta de dados contempla justamente o objeto de estudo?

•••• Amostra

A quantidade e qualidade da amostra são suficientes para tal pesquisa? A amostragem deve ser extratificada para melhor explicar o fenômeno?

•••• Solicitante / Contexto

Quem solicitou (e/ou pagou) pela pesquisa? Qual o interesse de quem solicitou tal pesquisa e por quê? O contexto em que a pesquisa está inserida reflete a realidade de seus dados?

•••• Números / Incerteza

Qual a incerteza ou o erro dos números (dados) apresentados? A precisão dos números condiz com a situação estudada?

•••• Comparação de Dados

Os dados podem ser comparados? Foram desenvolvidos na mesma pesquisa?

•••• Completude de Informações

Todos os dados necessários para ampla análise e comparações estão sendo informados?

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento das ciências naturais é uma das grandes realizações da mente humana. Explicar o mundo de maneira racional, entendendo e normalizando seus fenômenos é uma necessidade da qual não se pode prescindir. Em que ambiente caótico estaríamos hoje vivendo, se é que estaríamos ainda, se o gênio do homem não houvesse captado no mundo alguns dos fatores que regem a sua própria existência e os transformado em instrumentos palpáveis, para compreender e atuar sobre ele?

Negar, pois, a importância da matemática na organização da nossa existência e na sua evolução no decorrer do tempo, é atitude assaz ignóbia para merecer qualquer consideração. Da mesma forma, subestimar a importância da estatística para definir, explicar e sistematizar os fenômenos sociais, culturais e econômicos, é tomar a inteligência por atributo inútil e, por conseguinte, mostrar-se obtuso.

Mas a pessoa, em sua integralidade, não é apenas racionalismo, nem só cognição, nem tão-somente lógica. Grande parte de nossas atribuições é regida pelos sentimentos, pela subjetividade. Além disso, vivemos em um mundo em que grande parte das intenções está escondida sob máscaras cuja forma empresta aparência benévola a objetivos nem sempre elevados. É por isso que se deve tomar cuidado com o nível exacerbado em que se pode estar colocando os postulados gerados por áreas do conhecimento como a matemática e a estatística. Se de um lado elas são símbolos da lógica e da retidão de raciocínio, por outro, em mão ímprobas, podem se tornar instrumentos de manipulação e favorecimento. Assim, indivíduos ou classes sociais específicas podem usá-las para auferir benefícios particulares, em detrimento do bem estar geral da comunidade.

A LINHA DE ANÁLISE

Após toda a pesquisa realizada, buscando construir uma linha de análise, conforme objetivo geral desta dissertação, pode-se então escrever aquilo que irá contribuir com a análise e reflexão, por parte dos leitores de jornais e revistas, de informações estatísticas que circulam pelo meio impresso.

• Publicação / Fonte

• Data de Validade / Localização • Método da Pesquisa • Amostra • Solicitante / Contexto • Números / Incerteza • Comparação de Dados • Completude de Informações OS LIMITES DA MÍDIA

É bem verdade que existem vários segmentos na imprensa, no que tange à postura ética perante a opinião pública. Alguns primam pela seriedade e imparcialidade na divulgação dos fatos, esforçando-se para mostrar a verdade, ou, pelo menos, para se afastarem o mínimo dela. Outros, no entanto, têm pouca preocupação neste sentido, fazem análises superficiais dos acontecimentos, são tendenciosos e até mesmo deturpam ou manipulam a realidade, em seu benefício ou de terceiros.

A respeito do segundo grupo, pouco há que comentar, já que a mentira, a farsa, o embuste dão a tônica de sua existência, e a sua índole desonesta ignora qualquer tipo de contribuição para aperfeiçoá-la em suas atividades diárias. Sobre este segmento que se utiliza da força comunicativa das diversas mídias para manipular, deturpar, corromper o pensamento da sociedade, através de dados incorretos, diz-se apenas que eles são mais um dos cânceres que a convivência democrática precisa respeitar em nome da liberdade de expressão. A tais entidades podem ser somadas tantas outras obscuras personalidades como políticos demagogos e corruptos, empresários sonegadores e assim por diante.

É ao primeiro segmento da imprensa, pois, que cabem algumas considerações no sentido de melhorar a eficácia das informações estatísticas por ele veiculadas. Embora estejam imbuídos de intenções positivas ao divulgar pesquisas das mais diversas naturezas, não raro, jornais e revistas de reconhecida idoneidade acabam, por incapacidade técnica, obtendo o mesmo tipo de resultado que o grupo citado anteriormente, a deturpação dos fatos. Ironicamente, neste caso, a busca da verdade termina no mesmo ponto que a proposição da mentira.

Mas se no resultado final não há, embora aconteça, a intenção de causar danos à imparcialidade da informação, na causa existe a perniciosidade da omissão e da falta de conhecimento.

Raramente, afirmar jamais pode ser um excesso, os meios de comunicação investem na contratação de estatísticos, ou na capacitação de repórteres nesta área, para analisar, organizar e registrar corretamente os dados compilados. Isto faz com que muitas vezes, a informação seja deturpada pela própria incompreensão da parte de quem está divulgando, de entendê-la e materializá-la adequadamente. Quantas

vezes dados diferenciados vindos de situações também distintas não foram tratados da mesma forma, apenas por apresentarem certa semelhança formal ou causal? Como se pode fazer uma análise correta dos fatos diários, se não se conhece ou não se sabe utilizar o instrumento analítico mais adequado para cada um deles?

Acredita-se, pois, que se não for possível a contratação de estatísticos, ou o treinamento de jornalistas, pelo menos a contratação de consultoria especializada na área para o tratamento dos casos mais importantes, poderia ocasionar a redução dos erros e impropriedades nas interpretações estatísticas que tão comumente se vê em veículos de informação de variados portes.

UM INSTRUMENTO PARA EDUCAÇÃO

Não basta apenas criamos a exigência de qualidade nas informações estatísticas que circulam na mídia. É preciso também que a população em geral seja capaz de questionar e perceber as possíveis falhas que possam ocorrer em dados estatísticos.

A exigência de mudanças nos órgãos que publicam informações de cunho estatístico deve acontecer, mas será muito mais conveniente que se saiba o que está se exigindo. Chega-se ao ponto então de não mais aceitarmos que a estatística não faça parte dos currículos escolares, em todos os seus níveis. É fato que alguns livros didáticos, de ensino médio e fundamental, já trazem a estatística em suas páginas, porém a importância que se dá a estes tópicos por parte dos professores e das instituições de ensino talvez não seja o suficiente, até por que muitas escolas têm seu enfoque (no ensino médio) em preparar seus estudantes para os

vestibulares, e estes, na sua grande maioria, não contemplam questões de estatísticas em seu conjunto de matérias.

O enlace da matemática, no estudo da estatística, com as outras disciplinas é de suma importância já que esta última tem suas aplicações em todas as áreas do conhecimento humano.

Os vestibulares que contemplam a estatística em suas provas e as entidades de ensino que proporcionam o estudo desta para seus alunos o fazem em grande parte com a aplicação pura de fórmulas (estatística descritiva) não objetivando uma prática no sentido de realmente fazer inferências em estudos que venham a contribuir de forma significativa para a compreensão dos fenômenos estatísticos, sua importância e amplitude de aplicação. Definitivamente, a estatística deve ter seu espaço em todas as etapas do ensino escolar.

SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS

Neste estudo, por casualidade da pesquisa, não surgiram questões que envolvessem deturpações de ordem visual, ou seja, gráficos que, bem “elaborados” podem desviar a atenção do leitor para aquilo que se interessa. Isto ocorre quando se altera propositalmente ou não, a escala de uma ou mais variáveis envolvidas no gráfico, ou ainda interferindo em suas proporções. Este recurso visual tem se tornado muito presente em várias mídias, sendo apresentado em variados tipos, como o de barras, no modelo pizza e também no gráfico de linha, ou ainda aqueles que se utilizam de figuras (pictogramas). No mundo atual, a imagem vem tomando,

em muitos casos, o lugar das palavras escritas e se tornando uma forma de comunicação muito utilizada.

Uma pesquisa poderia ser feita buscando encontrar recortes reais de situações similares às citadas acima.

Percebeu-se através da pesquisa realizada que as revistas que fizeram parte deste estudo apresentavam uma quantidade de matérias envolvendo dados estatísticos relativamente maior que a quantidade exibida nos jornais em questão. Na verdade, constatou-se o pouco uso de informações estatísticas em suas publicações, pelo menos naquelas que entraram na pesquisa, o que resultou na diminuição das matérias dos jornais escolhidas para este estudo.

Sugere-se então, uma pesquisa com outros jornais brasileiros de grande tiragem para observar mais atentamente este fenômeno.

O estudo de informações estatísticas em outros meios de comunicação, como a televisão, e a busca por outros tipos de falhas nos processos estatísticos, que não foram contemplados neste estudo, surge como uma proposta para complementar a pesquisa em questão.

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