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OBSERVANDO A MATEMÁTICA DE FORMA MAIS ABRANGENTE (HOLÍSTICA)

Antes que se possa analisar a proposta de D’Ambrosio (1998) para aplicação da Etnomatemática (seu significado virá a seguir), é necessário observar a sua concepção de conhecimento, uma vez que aquela se propõe a compartilhar com as outras ciências naturais a construção deste. Além disso, tal como a própria Etnomatemática, a teoria do conhecimento ou a “teoria da cognição”, termo utilizado modernamente segundo este autor, é passível de variadas interpretações, segundo óticas sócio-histórico-culturais diversas.

De acordo com D’Ambrosio (1998, p.6) o conhecimento se realiza quando a pessoa é capaz de: “identificar técnicas ou mesmo habilidades e práticas utilizadas por distintos grupos culturais na sua busca de explicar, de conhecer, de entender o mundo que os cerca, a realidade a eles sensível e de manejar essa realidade em seu benefício e no benefício de seu grupo.”

Deduz-se desse conceito, que o conhecimento é abrangente e dinâmico, levando em consideração valores e crenças que definem a vida de cada sociedade

as suas transformações no decorrer do tempo. A Etnomatemática vem para atender as necessidades decorrentes desta concepção de conhecimento. Conforme D’Ambrosio (1998, p.7): “etnomatemática é um programa que visa explicar os processos de geração, organização e transmissão de conhecimento em diversos sistemas culturais e as forças interativas que agem nos e entre os três processos. Portanto o enfoque é fundamentalmente holístico”.

O que chama a atenção nesta definição é o termo holístico. Para D’Ambrosio (1998), a matemática deve respeitar as variedades culturais de cada sociedade, adaptando-se às suas necessidades e às suas concepções de mundo. Sob esta visão, a pretensa universalidade da matemática toma um contorno negativo no que tange aos seus resultados. O que outrora era apontado como um trunfo em relação a outras ciências, mostra-se agora como um entrave à construção de um conhecimento que produza liberdade e autonomia. “Começou-se a falar de efeitos negativos que podem resultar de uma educação matemática mal adaptada a condições socioculturais distintas, seja nos países do Terceiro Mundo, seja nos países com grande desenvolvimento cultural.” (D’AMBROSIO, 1998, p.11). Estes resultados negativos são visíveis quando se analisa em âmbito nacional, por exemplo, as quedas e elevações das economias mundiais geradas por dados matemáticos irreais, ou, inadequados para explicar distintas realidades; e também em âmbito escolar, quando a Matemática não consegue instrumentalizar os alunos para investigar e compreender a sua própria realidade sociocultural e geográfica.

Por conta disso, as críticas têm surgido, não somente em congressos internacionais, mas também nas conversas de sala de aula e nos debates entre professores de ensino médio. “A heresia de se questionar os cânones

universalmente aceitos em educação matemática pela introdução preponderante de considerações socioculturais é um exemplo da mudança qualitativa.” (D’AMBROSIO, 1998, p.11)

Mas as falhas nas informações oriundas das análises estatísticas não são fáceis de serem encontradas. Em geral, estão maquiadas pela suposta credibilidade de fatos outrora comprovados e que quando necessários, são utilizados como sustentáculo para o que se deseja afirmar, mesmo que sua natureza não esteja originalmente ligada aos dados em questão. Além disso, não são poucas às vezes em que eventuais críticas a afirmações de base estatísticas são silenciadas, antes mesmo de serem esboçadas, em função do poder exercido sobre a opinião pública por determinado canal de comunicação. É fato comum que certa colocação seja aceita pelas pessoas apenas por ter sido pronunciada pelo jornalista “A” ou “B”, ou por ter sido veiculada pelo canal “X” ou “Y”. A verdade, então, parece não ter sua validade apoiada nos fatos, que supostamente constituem a matéria da estatística, mas na popularidade de que goza que a constrói e a publica.

Huff (1992) demostra isso quando trata de diversos temas que envolvem as estatísticas e/ou as suas publicações, trabalhando e explorando várias facetas desta mesma ciência. Investiga falhas, incoerências e manipulações em toda a amplitude da Estatística, desde a preparação e escolha das amostras para uma coleta de dados, até a divulgação final dos resultados “escolhidos” para tanto, dependendo do que se pretende quando da solicitação da pesquisa. Além disso, Huff (1992) exemplifica de forma holística, a análise das mais variadas situações, nas quais a estatística pode estar a serviço ou a desserviço de alguém.

A linguagem secreta da estatística, tão atraente em uma cultura maníaca por fatos, é empregada para criar sensação, inflacionar, confundir e simplificar em excesso. Métodos e termos estatísticos são necessários para comunicar dados agregados de tendências sociais e econômicas, condições dos negócios, “inquéritos de opinião pública,” ou dados de recenseamento. Mas, sem escritores que usem com honestidade e compreensão as palavras e sem leitores que saibam o que elas significam, o resultado pode ser puro absurdo semântico. (HUFF, 1992, p.10).

De uma forma mais breve, Reichmann (1975, p.37) compactua da mesma idéia de Huff (1992) com relação ao exposto acima: “A interpretação depende tanto do intérprete como dos dados interpretados e ele deve estar sempre em guarda contra a irrealidade, o preconceito e o ilógico.”

Mas nem sempre o problema está centrado no conteúdo, em alguns casos é a maneira como ele está exposto que induz a interpretações desejadas por quem produziu a informação.

A estatística pode ser manifestada de muitas formas, mas o gráfico é a forma mais plástica de apresentar um fenômeno. Novamente, este recurso tem duas faces: a primeira é de facilitar e acelerar o acesso do leitor às informações. Contudo, pode- se ainda, tornar os resultados mais atrativos, buscando à atenção de quem os observa através de cores e formas ou ainda, figuras ilustrativas (pictogramas). É o caso dos outdoors e de inúmeras publicações em revistas do tipo “semanais”. A segunda face é aquela de utilizar tudo o que foi supracitado, mas com pequenos “desvios” imperceptíveis aos leitores desatentos, direcionando a interpretação no caminho de interesse. “As companhias de aço usam métodos gráficos analogamente enganosos em tentativas de conquistar o apoio do público contra aumentos salariais de seus empregados.” (HUFF, 1992, p. 59).

É importante frisar, entretanto, que o despreparo de alguns na tarefa de apresentar graficamente um conjunto de informações também pode gerar interpretações equivocadas.

Huff (1992, p.61) ainda reforça a utilidade dos gráficos pictóricos, observando sua dualidade: “Trata-se de um instrumento útil. Possui aquilo que, receio, seja chamado de capacidade de encher o olho. E é capaz de tornar-se um mentiroso eloqüente, tortuoso, e bem-sucedido.”

A análise minuciosa de números estatísticos não deve ficar restrita aos leitores de jornais e revistas ou apenas para telespectadores. Grandiosas pesquisas que conduzem a tomada de decisões, envolvendo diretamente grande quantidade de pessoas, devem ter ainda um olhar mais refinado, pois interpretações errôneas podem geram danos em diversos aspectos ou até irreparáveis.

“Muitas estatísticas, incluindo as de natureza médica, tão importantes para todo mundo, são distorcidas por comunicação inconsistente na fonte. Há números espantosamente contraditórios sobre assuntos delicados como abortos, filhos ilegítimos e sífilis.” (HUFF, 1992, p. 75).

Com a intencionalidade de passar a maior quantidade de informações possíveis ou de preencher a falta delas em diversas áreas, muitos meios de comunicação cometem erros primários, se assim se pode dizer, tão comuns no dia- a-dia. Cabe neste momento, um exemplo simples que Huff (1992, p.73) menciona para ilustrar este fato: “Mais pessoas morreram em desastres de avião no ano passado do que em 1910. Neste caso, os aviões modernos são mais perigosos? Tolice. Há centenas de vezes mais gente voando hoje, só isso”.

3 – ANALISANDO A REALIDADE EM RECORTES

Neste capítulo serão apresentados os recortes das mídias impressas selecionadas. Nestes recortes, detalhes explícitos ou implícitos que possam desvirtualizar a apresentação dos dados estatísticos serão discutidos, objetivando desenvolver uma linha de análise crítica, contribuindo para a educação matemática necessária ao cotidiano das pessoas.

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