• Nenhum resultado encontrado

Boas Práticas para a Reabilitação de Ribeiras em Contexto Urbano - Aplicação às Ribeiras da Riguinha e de Carcavelos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Boas Práticas para a Reabilitação de Ribeiras em Contexto Urbano - Aplicação às Ribeiras da Riguinha e de Carcavelos"

Copied!
81
0
0

Texto

(1)

insira uma figura alusiva ao tema

Boas Práticas para

a Reabilitação de

Ribeiras em

Contexto Urbano -

Aplicação às

Ribeiras da

Riguinha e de

Carcavelos

Henrik Beck

Mestrado em Arquitetura Paisagista

Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território 2017/2018

Orientador

Isabel Silva

Coorientador

(2)

Todas as correções determinadas pelo júri, e só essas, foram efetuadas.

O Presidente do Júri,

(3)
(4)

Agradecimentos

Um agradecimento especial é necessário, que embora breve, não deixa de ser da maior importância. Foram muitos os que me apoiaram, das mais diversas formas, ao longo dos anos que passei como aluno de arquitetura paisagista. Muitos deles não o fizeram por obrigação, e a sua paciência não passará despercebida. Sinto-me também obrigado a ceder ao clichê dos agradecimentos familiares. O apoio que recebi de toda a minha família sempre foi imperial, em especial o da minha (por vezes) querida mãe. Sem ela nada disto teria sido possível.

Resumo/Abstract

A gestão de ribeiras contemporânea enfrenta vários objetivos, estando na reabilitação de ribeiras, o seu principal foco. Esta representa não só um estado final que se procura alcançar, mas todo um processo que vai desde a gestão de águas pluviais, ao planeamento dos espaços que albergam tais intervenções. Isto numa altura em que o planeamento da proteção e reabilitação de ribeiras em áreas de captação urbanas requer, um esforço consideravelmente maior e uma busca por novas ideias, fora das abordagens atuais. É, então, imperativo compreender as melhores práticas a serem aplicadas na reabilitação de ribeiras em contexto urbano, e é para esse fim que são compiladas neste trabalho, algumas dessas práticas, cuidadosamente retiradas de vários textos e documentos académicos, assim como de guias disponibilizados por variadas organizações e empresas de renome e com larga experiência no ramo. Desde o estudo da potencialidade de reabilitação, ao design do canal da ribeira e dos espaços em que se insere, espera-se com este trabalho, incentivar a uma melhor relação entre as ribeiras e o tecido urbano.

Contemporary stream management faces several objectives, but it’s main focus is on stream restoration. Stream restoration represents not only a final state one tries to achieve, but a process that goes from stormwater management, to the planning of the spaces which must host such interventions. All this at a time when stream protection and restoration planning within urban catchment areas require considerably more effort and a search for new ideas. It is, therefore, imperative to understand the best practices to be applied in the rehabilitation of streams in an urban context, and it is with this in mind that several practices were compiled, carefully gathered from across several academic texts and documents, as well as from guides made available by various organizations and companies of renown and with lots of experience in the field. By studying the restoration potential, choosing the best place to intervene, and how to design the stream’s channel and the space in which it is inserted, we hope to encourage a better relationship between streams and the urban fabric.

Palavras Chave/Keywords

Ribeiras, Reabilitação, Desenterramento, Gestão de águas pluviais, Galeria ripícola, Planeamento urbano, Arquitetura paisagista

Streams, Daylighting, Restoration, Stormwater management Riparian vegetation, Urban planning, Landscape architecture

(5)

INDÍCE

INTRODUÇÃO E OBJETIVOS 8

METODOLOGIA 8

REVISÃO DA LITERATURA 9

1. BOAS PRÁTICAS – GESTÃO DE RIBEIRAS EM CONTEXTO URBANO 9

1.1 Quais as consequências, em ribeiras, das atuais técnicas de gestão de escoamento de águas pluviais? 9 1.2 Espaço ripícola reduzido e o reaproveitamento de planícies de inundação 10

1.3 Opções para a gestão de sedimentos 11

1.4 Legado de impactos e o seu papel na proteção e reabilitação 11

2. BOAS PRÁTICAS – O DESENTERRAMENTO DE RIBEIRAS (STREAM DAYLIGHTING) 12

2.1. O que é o desenterramento de ribeiras? 12

2.1.1 Que benefícios traz? 14

2.1.2. Desafios do desenterramento de ribeiras 15

2.2. Escolha do local mais indicado 16

3. PRINCÍPIOS DO DESIGN E CONSTRUÇÃO DE CANAIS DE RIBEIRAS 17

3.1. Identificação e análise da rede hidrográfica 18

3.1.1. Classificação do tipo de ribeira 18

3.1.2. Níveis de intervenção 19

3.2. Processo (Metodologia) 20

3.2.1. Componentes 21

3.2.2. Monitorização 23

3.3. Considerações finais 23

3.3.1. Potenciais impactos em serviços de utilidade 23

3.3.2. Controlo de erosão e sedimentação durante a obra 23

3.3.3. Demolição e transporte de resíduos 24

3.3.4. Desenho geral do local 24

4. APLICAÇÃO À RIBEIRA DA RIGUINHA E À RIBEIRA DE CARCAVELOS 24

4.1 Identificação e análise da rede hidrográfica – Rede das ribeiras da Riguinha e Carcavelos 24

4.1.2 Classificação do tipo de ribeira 27

4.1.3 Potencial de desenterramento e reabilitação 27

4.2 Propostas 28

4.2.1 Parque de Real (Real de Baixo) 28

4.2.1.1 Situação existente 28

(6)

4.2.2 Estádio do Mar 32 4.2.2.1 Situação existente 32 4.2.2.1 Proposta 33 5. NOTA FINAL 36 BIBLIOGRAFIA E WEBGRAFIA 37 ANEXOS 40

1. TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO E RESTAURO 40

Gabiões 40

Colchões reno 41

Malhas para a proteção de taludes 41

Enrocamentos 42

Telas e mantas biodegradáveis 42

Deflectores de corrente 43

2. TÉCNICAS PARA A PROMOÇÃO DO RESTAURO DA GALERIA RIPÍCOLA 44

Reimplantação de Vegetação em Pequenos Troços 44

Plantação de Caniço (Phragmites sp) por Torrões ou Hastes 44

Linhas de Arbustos 44

Placas de Relva 45

Sementeiras 45

Gabiões e Instalação de Torrões de Caniço 46

Fachina de Sopé de Margem 46

3. Evolução da ocupação dos solos no concelho de Matosinhos 47

4. Informação geológica do concelho de Matosinhos 48

5. Tabela de potencialidade de reabilitação 49

6. Parque de Real (Real de Baixo) – Situação existente 59

7. Plano de Urbanização de Real de Baixo (zonamento) 62

8. Parque de Real (Real de Baixo) – Plano Geral 63

9. Parque de Real (Real de Baixo) – Pormenor de construção e perfis 64

10. Parque de Real (Real de Baixo) – Planos de plantação 66

11. Estádio do Mar - Plano de Urbanização para o Complexo Desportivo do Mar e sua envolvente 68

12. Estádio do Mar – Situação existente 69

13. Estádio do Mar – Plano Geral 73

14. Estádio do Mar - Perfis 74

(7)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Cheonggyecheon, ribeira reabilitada localizada em Seul, Coreia do Sul. Exemplo de uma ribeira “artificial”

num meio altamente urbanizado. (fonte: Sightline Institute) 13

Figura 2 – Exemplo de uma ribeira em canal e algumas estruturas utilizadas no controlo de erosão e estabilização

das margens e leito da ribeira. (fonte: Pierce, S.C., Kröger, R., & Pezeshki, R., 2012) 14

Figura 3 - Novamente a ribeira de Cheonggyecheon em Seoul, Coreia do Sul, nas suas fases “antes”, “durante” e

“pós” intervenção. (fonte: Koreabridge) 15

Figura 4 - Visualizações longitudinais, em perfil e em plano dos principais tipos de ribeira. (fonte: Rosgen, 1994) 18 Figura 5 - Esquema exemplificativo das várias características de um canal. (fonte: netmaptools, adaptado) 21 Figura 6 – Esquema exemplificativo de plantação de espécies ripícolas ao longo do canal (fonte: DairyNZ, adaptado)

22

Figura 7 - Rede das ribeiras da Riguinha e de Carcavelos (fonte:autor) 25

Figura 8 - Distribuição das áreas impermeáveis no município de Matosinhos (fonte: Componente Solos e Paisagem

– Resumo não técnico, Escola superior Agrária e Instituto Politécnico de Viana do Castelo) 26

Figura 9 - Potencial de reabilitação ao longo das ribeiras da Riguinha e Carcavelos (fonte: autor) 28

Figura 10 - Zona de menor relevo do Parque de Real com parcelas ocupadas pela actividade agricola, assim como

estruturas improvisadas. (mais imagens do local disponíveis no anexo 6) (fonte: autor) 29

Figura 11 - Pormenor do plano geral proposto para a reabilitação da ribeira da riguinha em Real de Baixo,

Matosinhos. (fonte: autor) 30

Figura 12 - Pormenor do plano geral proposto para a reabilitação da ribeira da riguinha em Real de Baixo,

Matosinhos. (fonte: autor) 30

Figura 13 - Parque de Real - Perfil B - B' (anexo 9) (fonte: autor) 31

Figura 14 - Diferentes vistas da área de intervenção junto ao complexo desportivo do Mar. (fonte: autor) (mais

imagens do local disponíveis no anexo 12) 32

Figura 15 - Plano geral dos espaços propostos junto ao complexo desportivo do Mar. (fonte: autor) 33

Figura 16 - Estádio do Mar - Perfil A - A' (fonte: autor) 34

Figura 17 - Estádio do Mar - Perfil B - B' (fonte: autor) 35

Figura 18 - Muro de suporte com gabião e gabião em saco. (fontes: Giraudon e Tradekorea) 40

Figura 19 - Colchão reno revestindo um canal por completo (fonte: Master Ambiental) 41

Figura 20 - Malha instalada num talude para protecção contra a erosão na costa de Melila, Espanha. (fonte:

Maccaferri) 41

Figura 21 - Enrocamento ou riprap (fonte: Garland & Garland) 42

Figura 22 - Telas e mantas biodegradáveis para o controlo da erosão (fonte: Projar) 43

Figura 23 - Exemplo de um deflector com pedras grandes. (fonte: Terrestrial Environmental Specialists, Inc.) 44

Figura 24 - Aplicação de placas de relva (fonte: Portal do Jardim) 45

Figura 25 - Combinação de gabiões em saco e de torrões de caniço. (fonte: Guia Requalificação e limpeza das

linhas de água, adaptado) 46

(8)

Figura 27 - Distribuição das classes de ocupação do solo no município de Matosinhos no ano de 1990, 2003 e 2010. (fonte: Componente Solos e Paisagem – Resumo não técnico, Escola superior Agrária e Instituto Politécnico de

Viana do Castelo) 47

Figura 28 - Distribuição geográfica das principais formações geológicas presentes no município de Matosinhos (informação adaptada da Carta Geológica de Portugal Folha 9-C de 1957) (fonte: Componente Solos e Paisagem –

Resumo não técnico, Escola superior Agrária e Instituto Politécnico de Viana do Castelo) 48

Figura 29 - Localização dos troços identificados. (fonte: autor) 49

Figura 30 - Parque de Real - Ponto onde surge à superfície, a ribeira da Riguinha (fonte: autor) 59

Figura 31 - Parque de Real - A ribeira corre num canal ladeado de placas de betão, neste caso entre o caminho

pedonal e a encosta. (fonte: autor) 59

Figura 32 - Parque de Real - A ribeira corre pelo canal de betão ao longo da totalidade do troço que se encontra, actualmente, à superfície. Muita da actividade agrícola que se observa no local, utiliza a ribeira para regar as

culturas. (fonte: autor) 60

Figura 33 - Parque de Real - O canal da ribeira distancia-se do caminho pedonal e da zona de maior relevo (onde é

possível observar o eucaliptal), encaminhando-se para o vale. (fonte: autor) 60

Figura 34 - Parque de Real - O vale encontra-se dividido em várias parcelas onde se procede à exploração agrícola. Associadas a estas parcelas, surgem por vezes estruturas improvisadas, construídas com recurso a materiais como

chapa e todo o tipo de entulho. (fonte: autor) 61

Figura 35 - Parque de Real - Outro ângulo de visualização da zona de vale. (fonte: autor) 61

Figura 36 - Pormenor de um "rock-step" acompanhado do enrocamento. Vista em plano, sem escala. (fonte: autor) 64 Figura 37 - Pormenor de um "rock-step" acompanhado do enrocamento. Vista em plano, sem escala. (fonte: autor)

64 Figura 38 - Pormenor de um "rock-step" acompanhado do enrocamento. Corte XS2, sem escala. (fonte: autor) 64

Figura 39 - Parque de Real - Perfil A -A' (fonte: autor) 65

Figura 40 - Parque de Real - Localização dos perfis no plano. (fonte: autor) 65

Figura 41 - Parque de Real - Perfil B - B' (fonte: autor) 65

Figura 42 - Estádio do Mar - Vista do topo do da zona mais alta, junto ao complexo desportivo. (fonte: autor) 69 Figura 43 - Estádio do Mar - Na zona mais alta, junto ao complexo desportivo, identificam-se algumas espécies

autóctones. Porém, o local encontra-se cheio de entulho. (fonte: autor) 69

Figura 44 - Estádio do Mar - Junto ao arruamento, a descer, já é possível observar marcas da degradação que

marca o espaço. (fonte: autor) 70

Figura 45 - Estádio do Mar - Porém, junto ao edificado a situação muda, o espaço apresenta ser alvo de assídua

manutenção. (fonte: autor) 70

Figura 46 - Estádio do Mar - O caminho em cubo que acompanha a linha do metro não aparenta estar em mau estado, mas é só uma questão de tempo para a cobertura vegetal, que aqui cresce livremente, o engolir por

completo. (fonte: autor) 71

Figura 47 - Estádio do Mar - O vale por onde um dia deverá ter passado a ribeira, agora canalizada. No fundo

observa-se a autoestrada A28. (fonte: autor) 71

(9)

Figura 49 - Estádio do Mar - A sua forma mantém-se, por esta imagem só poder-se-ia acreditar que por ali ainda

passa uma ribeira no seu estado natural. (fonte: autor) 72

Figura 50 - Estádio do Mar - Perfil A - A' (fonte: autor) 74

Figura 51 - Estádio do Mar - Perfil B - B' (fonte: autor) 75

Figura 52 - Estádio do Mar - Localização dos perfis no plano geral. 75

(10)

Introdução e Objetivos

Como será possível deduzir através do título deste trabalho, este estudo tem como principal objetivo uma compilação de boas práticas para auxiliar os processos inerentes à intervenção em ribeiras em contexto urbano, nomeadamente a sua reabilitação. Tem também como objetivo a aplicação de algumas das práticas compiladas nas ribeiras da Riguinha e de Carcavelos no concelho de Matosinhos, mais concretamente nas zonas de Matosinhos Sul, Matosinhos Sudeste, Real de baixo e Estádio do Mar, através de uma proposta de reabilitação de um troço de ribeira à superfície, e de uma proposta de desenterramento de um troço de ribeira que se encontre canalizado. Este estudo efetuou-se no contexto do estágio curricular, realizado no Departamento de Urbanismo e Planeamento da Câmara Municipal de Matosinhos, sob a orientação profissional do arquiteto João Quintão e sob a orientação académica da professora Isabel Silva.

Metodologia

De modo a atingir os objetivos traçados, foi necessário proceder-se à pesquisa de material (tanto académico, como de fontes ligadas à gestão e reabilitação de ribeiras e rios), a sua tradução (quando necessária), e adaptação, de modo a juntar a informação necessária à criação de uma lista de práticas concisa podendo esta no final, ser aplicada a situações reais. A informação que se encontra na revisão da literatura provém, portanto, de várias fontes diferentes, montada de modo a criar um processo prático e coerente que possa acompanhar um projeto ou estudo de reabilitação de ribeiras em contexto urbano desde o seu início, à sua finalização, tendo em consideração as suas diversas fases.

Utilizando a informação e as metodologias provenientes da pesquisa, foi possível aplicar algumas das práticas reunidas a duas situações distintas - aplicação a um troço à superfície e a um troço subterrado – tendo em conta as possibilidades a nível de tempo, recursos, e dos conhecimentos no ramo da arquitetura paisagista, aquando a realização deste estudo.

(11)

Revisão da literatura

1.

Boas práticas – Gestão de ribeiras em contexto urbano

A gestão de ribeiras contemporânea enfrenta o objetivo de restaurar ribeiras de modo a que mantenham ou aumentem as funções dos seus ecossistemas, enquanto salvaguardam os ecossistemas costeiros e a montante (Palmer et al., 2005), ao mesmo tempo satisfazendo funções utilitárias como a proteção contra cheias e erosão (Gregory & Chin, 2002). A principal meta da reabilitação de ribeiras é alcançar estes objetivos com o menor esforço e o custo mais reduzido. Se se mantiver a tendência no aumento da densidade populacional, em 2030, a ocupação urbana dos solos irá aumentar 1.2 milhões de km2, quase triplicando os solos urbanizados a nível global (Seto, Guneralp, & Hutyra, 2012). Isto significa que o planeamento da proteção e reabilitação de ribeiras em áreas de captação urbanas requer, um esforço consideravelmente maior e uma busca por novas ideias, fora das abordagens atuais.

Em primeiro lugar, o excesso de águas pluviais é o motor fundamental da maioria das mudanças que se têm vindo a observar, sendo necessário que a sua gestão seja feita à escala da área de captação. Em segundo lugar, tentativas de reconstrução artificial de elementos das ribeiras nunca serão bem-sucedidas enquanto a quantidade de águas pluviais e a consequente frequência dos distúrbios, não for abordada. Em terceiro lugar, permitir que ocorram mudanças “antecipadas”, só será bem-sucedido caso haja espaço para que essas mudanças geomórficas possam acontecer, por exemplo, a previsão da formação de planícies de inundação só poderá ocorrer caso haja espaço suficiente para estas se formarem. Quarto, a recuperação de ribeiras deverá ter sempre em consideração, os sedimentos e a água.

1.1 Quais as consequências, em ribeiras, das atuais técnicas de gestão de escoamento de águas pluviais?

Pesquisas recentes sugerem que os resultados hidrológicos de uma bacia de captação específica, podem variar significativamente em função da gestão do escoamento das águas pluviais (Booth, 2005; Burns et al., 2012; Walsh, Fletcher, & Burns, 2012). O uso de práticas de drenagem convencionais, que promovem o transporte rápido do escoamento das águas pluviais, irá levar, inevitavelmente, a uma condição geomorfológica debilitada, como canais alargados e descaracterizados (Vietz, 2013; Walsh et al., 2005).

(12)

A resposta geomórfica à mudança hidrológica, fruto do escoamento de águas pluviais, incluí normalmente, canais que são mais fundos e largos do que aqueles cuja drenagem é feita de maneira imperturbada (Chin, 2006; Hammer, 1972), com maior instabilidade das margens, leitos sedimentares menos profundos, reduzidos habitats de rápidos (“riffles”), menos barras, tamanhos de sedimentos alterados e menores densidades de vegetação lenhosa (Hawley, McMannis, & Wooten, 2013; Vietz, Sammonds et al., 2014). Por sua vez, o aumento no fluxo das ribeiras e dos riscos de cheia (Grable & Harden, 2006), levam muitas vezes a respostas de gestão como a canalização, que agravam a perda de valores ecologicos. As ribeiras canalizadas acentuarão, depois, os problemas a jusante (Vietz, Rutherfurd, Walsh, En Chee, & Hatt, 2014).

Apesar das boas intenções, a abordagem típica quanto à mitigação de cheias dando uso a bacias de retenção localizadas no final de áreas de sub-captação de modo a atenuar grandes fluxos, estende muitas vezes esses mesmos, acima dos limites de erosão durante longos períodos de tempo, aumentando a degradação (Booth & Jackson, 1997; Burns et al., 2012). De facto, para atingir objetivos geomórficos em termos de rácio de fluxos, tais bacias teriam de ter volumes de armazenamento de uma ordem de magnitude maior do que aqueles que são normalmente necessários para o controlo de cheias (Booth, 1990).

O desafio de restaurar regimes de fluxo naturais permanece, muito devido a incertezas quanto à sua eficácia, custos e standards de engenharia insuficientes (Roy et al., 2008). Porém, as abordagens à escala da área de captação, para a reabilitação dos regimes de fluxos em ribeiras urbanas trazem importantes co benefícios. Por exemplo, o uso da captação e armazenamento de águas pluviais para reduzir os volumes de escoamento das mesmas, tem o benefício de criar novas fontes de fornecimento de água e de aumentar a amenidade da paisagem urbana através do aumento dos valores sociais (Vietz, Ruthefurd, et al., 2014).

1.2 Espaço ripícola reduzido e o reaproveitamento de planícies de inundação

As planícies de inundação ajudam a atenuar e a infiltrar o excesso de escoamento de águas pluviais e a armazena-las, por exemplo; através do uso de planícies de inundação de solos húmidos, “wetlands”, (Palmer et al., 2005), canais verdes tributários que são basicamente “esponjas” ripícolas (Sammonds & Vietz, 2015), ou através de “buffers” florestais (Ebisemiju, 1989).

Oportunidades para maiores espaços de planície de inundação necessitam, porém, de aquisição de terras (no caso de áreas em desenvolvimento) ou, planeamento estratégico para a preservação de áreas ripícolas (em áreas periurbanas). A aquisição de terras ripícolas e a reconecção de

(13)

planícies de inundação em áreas já desenvolvidas, são as duas intervenções mais caras na reabilitação de ribeiras.

A deslocação de edificado ameaçado pela migração de canais ou a aquisição de propriedade em áreas em desenvolvimento, pode acabar por ser mais eficiente a nível de custos a longo termo, do que trabalhos de proteção continuados (Kondolf, 1996).

Em áreas onde o espaço para a inundação de áreas ripícolas não é suficiente, como em áreas onde o desenvolvimento extensivo não permite o uso da antiga planície de inundação, podem ser criadas diferentes formas de “várzea”, desenhadas dentro de uma trincheira alargada. Várzeas internas podem proporcionar alguma atenuação dos fluxos, permitir a formação de uma zona de transição terrestre-aquática, e ainda proporcionar espaços de recreio passivo e ativo quando não se encontram inundadas.

Áreas de captação periurbanas proporcionam as melhores oportunidades para a proteção de “buffers” ripícolas, dado o baixo custo das terras.

1.3 Opções para a gestão de sedimentos

Oportunidades para manter o influxo de sedimentos grosseiros são maiores em desenvolvimentos novos ou periurbanos. Onde fosse possível, poderiam ser protegidas as fontes de sedimentos grosseiros, como por exemplo, ao manter conceções com as fontes de água das ribeiras ou ao estabelecer corredores. Em áreas em desenvolvimento, a renovação urbana de sistemas de drenagem, poderá permitir que haja uma reativação do fornecimento de sedimentos grosseiros a montante (por exemplo, pela reintegração de canais de fontes de água e remoção de barreiras como açudes, etc). Este desafio torna-se maior, no caso de muitas destas fontes se encontrarem canalizadas. A dificuldade de retomar regimes de sedimentação apropriados em contextos de áreas em desenvolvimento, reforça a necessidade crítica de proteger as fontes das ribeiras durante a fase de desenvolvimento (Bernhardt & Palmer, 2007; Walsh et al., 2005).

O potencial do abastecimento de sedimentos grosseiros em ribeiras urbanas poderá ser tido em consideração em novas abordagens de gestão ao nível da proteção e recuperação de canais de ribeiras urbanas.

1.4 Legado de impactos e o seu papel na proteção e reabilitação

As cidades tendem a expandir-se para a paisagem rural. Isto significa que, ribeiras afetadas pela urbanização, raramente passam por florestas intactas, estando perturbadas por clareiras, materiais circundantes, drenagem e canalização (Trimble, 1997; Wohl & Merrits, 2007). As ribeiras

(14)

são influenciadas por duas fases principais do uso de captação. Em primeiro lugar, à medida em que as áreas de captação são alteradas, de uma fase pré-distúrbio a uma rural (fase agrícola), ações como o reforço do canal das ribeiras, poderão ser implementadas, dando uso à estabilização das margens de modo a aumentar a área de terra útil para a agricultura. Em segundo lugar, enquanto a área de captação se vai alterando de um uso dos solos rural para predominantemente urbano, as ações a implementar provavelmente incluirão o alargamento dos canais das ribeiras (para reduzir o risco de cheia) e a sua blindagem extensiva (para aumentar a resistência hidráulica em resposta a maiores fluxos).

O legado de impactos em ribeiras causados por usos de terra passados, pode também confundir previsões e a compreensão dos efeitos da urbanização na condição física das ribeiras (Allan, 2004). Comparações entre a condição física de ribeiras em contextos urbanos e rurais, poderão ignorar usos do solo da área de captação anteriores à urbanização, levando a falsas conclusões quanto ao seu impacto.

2.

Boas práticas – O desenterramento de ribeiras (stream daylighting)

2.1. O que é o desenterramento de ribeiras?

O desenterramento expõe uma parte, ou a totalidade de um rio, ribeira ou canal de escoamento de águas fluviais, que até a essa altura se encontrava coberto. (Pinkham, R. 2000.)

A preservação e proteção de pequenas ribeiras é a melhor abordagem para assegurar benefícios ambientais e sociais, como a qualidade da água e redução de cheias. Porém, em áreas altamente urbanizadas, onde por muitas vezes as ribeiras se encontram subterradas e esquecidas, a sua proteção torna-se impossível. O desenterramento das ribeiras (“stream daylighting”), é uma abordagem relativamente nova que visa trazer as ribeiras subterradas de volta à vida, procedendo-se ao procedendo-seu deprocedendo-senterramento e recuperação. Esta técnica contribui para reduzir o escoamento de poluentes, o controlo de cheias e melhora a habitabilidade do ambiente construído.

Na reabilitação de ribeiras em contexto urbano, sublinham-se três abordagens de desenho diferentes, que são fruto das limitações físicas do local – ribeiras artificiais, ribeiras em canal e ribeiras naturalizadas.

Projetos de ribeiras artificiais são normalmente realizados em meios altamente urbanizados, onde o espaço para um leito sombreado conseguir serpentear, é bastante limitado. A ribeira resultante necessita de ser rigidamente controlada de todos os lados, resultando normalmente, num canal

(15)

revestido a betão, que passa por entre o edificado. Uma “ribeira artificial”, tem funções ecológicas reduzidas, à exceção da contenção e controlo do fluxo de água. Esta reabilitação é chamada, por vezes, de “reabilitação cultural”, porque assinala o traçado da ribeira, sem restaurar as suas

funções básicas. A reabilitação cultural pode passar pela simples celebração de uma ribeira enterrada através de sinalização ou arte pública, de modo a informar o público acerca do trajeto da ribeira, mesmo que esta permaneça enterrada.

Ribeiras em canal estão normalmente localizadas em meios periurbanos (ou áreas urbanas com grandes parcelas vazias). As margens desta ribeira poderão precisar de estabilização, assim como de um controlo da erosão e da incisão do leito. O contexto físico do local pode influenciar a fisiologia da ribeira, podendo-se criar vários elementos, como “step-pools” e troços de correntes rápidas de pouca profundidade, rápidos ou correntezas, assim como acomodar elementos como deflectores de corrente e vegetação ripícola. Estas ribeiras em canal” oferecem um maior grau de funções ecológicas do que as ribeiras artificiais – o canal é restaurado de volta à superfície, com água corrente, e com alguns habitats aquáticos, contudo, continua num canal parcialmente condicionado.

Figura 1 - Cheonggyecheon, ribeira reabilitada localizada em Seul, Coreia do Sul. Exemplo de uma ribeira “artificial” num meio altamente urbanizado. (fonte: Sightline Institute)

(16)

Ribeiras naturalizadas são comuns em contextos rurais, ou em grandes parcelas de terreno, como em grandes parques. A maior disponibilidade de área permite reestabelecer planícies de inundação, zonas húmidas, charcos, margens naturais e meandrizadas, e maiores áreas de vegetação ripícola e de floresta (buffers). As ribeiras naturalizadas proporcionam o maior grau de funções ecológicas, alcançando um estado similar, senão igual, àquele que teriam na natureza, sem qualquer intervenção humana.

Todas as abordagens acima referidas têm os seus benefícios, mas a reabilitação natural é, no geral, a mais eficaz na mitigação de cheias, aumento da qualidade da água e controlo de águas pluviais.

2.1.1 Que benefícios traz?

O desenterramento de ribeiras traz inúmeros benefícios, nomeadamente o aumento da capacidade hidráulica, facilitando o controlo das cheias; a diminuição da velocidade das águas, reduzindo a erosão a jusante; a remoção de águas pluviais da rede conjunta de esgotos, reduzindo inundações e transbordos e custos com o tratamento de águas; a revitalização ecológica, e o aumento da qualidade da água. (Pinkham, R., R. Serrano, E. Kwanza and P. Krishna, 2001.)

Figura 2 – Exemplo de uma ribeira em canal e algumas estruturas utilizadas no controlo de erosão e estabilização das margens e leito da ribeira. A - Um pequeno tronco é utilizado para estabilizar a margem, imediatamente a montante de um rápido. B – Deflectores limitadores de corrente são usados para estabilizar o leito. As recentes estacas de salgueiro ladeiam o canal e formam as planícies de inundação. C – Deflectores e salgueiros já estabelecidos. D – Rápidos e sinuosidade artificiais. (fonte: Pierce, S.C., Kröger, R., & Pezeshki, R., 2012)

(17)

O desenterramento das ribeiras, para além dos benefícios já referidos, traz várias oportunidades educacionais e de recreio. Os projetos de desenterramento podem incluir a criação de áreas verdes públicas, permitindo um maior contacto das populações com o espaço natural da ribeira, aumentando o valor de terrenos e edificado, e beneficiando o comercio local. Estes espaços podem assumir a forma de parques urbanos ou corredores verdes associados a corredores de mobilidade suave.

2.1.2. Desafios do desenterramento de ribeiras

O desenterramento de ribeiras tem vários desafios associados. Ribeiras em zonas urbanizadas estão geralmente subterradas debaixo de várias camadas de betão, fazendo com que sejam necessários grandes, e complicados, trabalhos de escavação. Não só é necessária a escavação de materiais indesejados, como se pode mostrar fisicamente impossível a reabilitação de algumas das planícies de inundação em áreas altamente desenvolvidas, devido a restrições espaciais impostas por estruturas adjacentes. Caso seja possível o desenterramento da ribeira, o deslocamento de estruturas existentes, como parques de estacionamento, podem ser complicados, assim como a obtenção dos fundos necessários para o fazer. Estes problemas, podem ser resolvidos através de um planeamento, projeto e divulgação adequados.

Figura 3 - Novamente a ribeira de Cheonggyecheon em Seoul, Coreia do Sul, nas suas fases “antes”, “durante” e “pós” intervenção. O Cheonggyecheon tornou-se no centro cultural e de atividades econômicas da cidade e o projeto é referência em todo o mundo. (fonte: Koreabridge)

(18)

2.2. Escolha do local mais indicado

Embora não haja regras definitivas estabelecidas no que toca a “quando e onde” se deverá proceder ao desenterramento de um troço de ribeira, existem algumas questões essenciais que deverão ser tidas em consideração, antes de se dar início ao desenterramento:

1- O que faz de um determinado local, um bom candidato para se proceder ao desenterramento de uma ribeira?

2- Que tipos de resultados é que podemos esperar, de forma sensata, desse local?

O Centro americano para a Proteção das Bacias Hidrográficas, criou uma lista de características específicas para avaliar a viabilidade de opções no que toca ao desenterramento e/ou à reabilitação de ribeiras (Brown K, Schueler, T 2004):

1- Características das ribeiras canalizadas

a- Conexão com a rede existente de ribeiras (de modo a aumentar o corredor total)

b- Diâmetro do canal de descarga (devem ser investigados atravessamentos e/ou asfixiamentos que possam perturbam troços saudáveis da ribeira)

c- Presença de um caudal perene

d- Comprimento do canal desobstruído (deverá ser o maior possível)

e- Largura da área de servidão de drenagem (deverá ser o mais larga possível)

f- Profundidade a que se encontra o canal (o processo de escavação e transporte de grandes quantidades de solo e de resíduos poderá inviabilizar o desenterramento)

2- Características do local

a- Existência de infraestruturas subterrâneas – a maior parte dos meios urbanos incluem redes de infraestruturas subterrâneas. Se existirem demasiadas destas estruturas o desenterramento da ribeira poderá não ser possível.

b- Presença de solos contaminados – se for grande a presença de solos contaminados no local, a opção de desenterrar a ribeira poderá ser descartada, visto que a ribeira não deverá passar por solos contaminados.

c- Nível da camada freática – Dado que o canal poderá ganhar ou perder água para a camada freática, podendo ser necessário o revestimento do canal com betão.

(19)

d- Elementos paisagistas significativos – afloramentos rochosos ou conjuntos de árvores adultas ou notáveis poderão impedir a construção de um novo canal.

e- Construções circundantes – a presença de edificado comercial, institucional ou residencial, poderá impedir tanto o projeto da ribeira como o processo de construção de um novo canal à superfície; esta presença também influencia os tipos de vegetação conseguirão crescer com sucesso ao longo do novo corredor.

f- Iniciativas de planeamento urbano – alguns centros urbanos têm planos que identificam certas parcelas e distritos, como alvos para reabilitação futura. Projetos de desenterramento de ribeiras podem melhorar estas áreas, podendo receber o apoio de líderes da comunidade local. Esse apoio pode ajudar a aumentar as oportunidades de assegurar os fundos necessários para a realização desses projetos.

O conceito de “ribeira sem suporte” está diretamente relacionado com a saúde da ribeira. São casos de ribeiras sem suporte, as ribeiras cuja superfície impermeável está entre os 25% e os 60%, não conseguindo garantir a: estabilidade do habitat do canal, a qualidade da água os ou indicadores biológicos. Em situações que envolvem ribeiras sem suporte, poderá ter que se descartar completamente o desenterramento por razões ecológicas.

3.

Princípios do design e construção de canais de ribeiras

O processo de recuperação de uma ribeira é um processo holístico. A recuperação deve promover um sistema biologicamente diverso, através de um desenho cuidadoso das margens e do leito da ribeira, da plantação de vegetação ripícola e da monitorização dos resultados pós-construção, de modo a assegurar a eficácia do projeto. Geralmente envolve as seguintes medidas:

1- Analisar a rede hidrográfica, o canal da ribeira e a saúde das suas funções; 2- Determinar o nível apropriado de intervenção;

3- Desenvolver um desenho para o canal, que consiga acomodar vários caudais e que tenha a forma mais estável possível.

4- Confirmar o desenho do canal através de software de modelação hidráulica, antes da construção;

(20)

5- Monitorizar a estabilidade da ribeira e das suas funções ecológicas depois de terminada a execução do projeto;

3.1. Identificação e análise da rede hidrográfica

A análise da rede hidrográfica é essencial para compreender os impactos à grande escala, e a longo termo na rede da ribeira a ser recuperada. Esta análise é particularmente importante no planeamento de um canal cujos “inputs” podem vir a mudar no futuro, tendo o canal de aguentar tais alterações. Por norma, a análise da rede hidrográfica envolve o levantamento de áreas de drenagem, de informação geológica (de modo a determinar características fisiográficas), da quantidade de áreas impermeáveis (redes hidrográficas mais de 15% de impermeabilização são consideradas urbanas), de padrões de uso do solo (assim como informação histórica e previsões para o futuro), de padrões hidrológicos, de informação biológica e de qualidade da água, e por fim, da classificação do tipo de ribeira. (PLLC and U.S. Fish and Wildlife Service, 2011)

3.1.1. Classificação do tipo de ribeira

Uma ribeira não é uma entidade estática, está em constante evolução para um “estado de equilíbrio”. As alterações propostas têm de ser compatíveis com a tendência natural da ribeira de evoluir para uma forma morfologicamente específica. Existe uma variedade de sistemas de classificação de ribeiras, como o de Schumm – que relaciona ribeiras lineares, sinuosas e canais entrelaçados, com a carga sedimentar; o de Montgomery & Buffington – com 6 classes de tipos de ribeiras; e o de Rosgen – com 8 classes de ribeira de maior importância e mais 100 tipos de ribeiras individuais. Classificar uma ribeira ajuda a determinar que tipo de canal o projeto de reabilitação deve alcançar. (Alliance for the Chesapeake Bay, 2002)

Figura 4 - Visualizações longitudinais, em perfil e em plano dos principais tipos de ribeira. (fonte: Rosgen, 1994)

(21)

O método de Rosgen é atualmente o sistema de classificação mais utilizado. De modo a facilitar a classificação, Rosgen organizou o processo em quatro níveis. O nível I parte da caracterização geomórfica. O nível II lida com a morfologia. O nível III caracteriza o estado dos fluxos. Finalmente, o Nível IV trata da validação das características do processo (Rosgen, 1994). Para fins de clareza, Rosgen descreve principalmente os níveis I e II em detalhe, e apenas brevemente, os níveis III e IV. Neste trabalho focou-se nos primeiros dois níveis do processo.

Segundo o método de Rosgen, uma ribeira pode ser classificada em 9 categorias diferentes, A, Aa+, B, C, D, DA, E, F ou G. Estas categorias são utilizadas para descrever uma variedade de características.

A primeira característica distintiva do nível I são os perfis longitudinais usados de modo a representar o declive das margens da ribeira. Estes diferem substancialmente entre si, de perfis profundos e estreitos, a perfis largos e de pouca profundidade. A morfologia dos perfis também ajuda a descrever as planícies de inundação.

O nível I descreve ainda a morfologia da visualização em plano. As nove categorias descrevem a sinuosidade do sistema de ribeiras em questão: ribeiras do tipo A representam ribeiras relativamente direitas, isto é, com sinuosidade muito reduzida, ribeiras do tipo B representam baixa sinuosidade, o tipo C representa ribeiras serpenteantes, o tipo E ribeiras altamente serpenteantes e os tipos D e DA representam sistemas complexos (Rosgen, 1994).

O nível II representa a descrição morfológica do canal. Este nível aprofunda a descrição do sistema de ribeiras de forma mais específica. Para isto, organiza o canal em variedades discretas de declives e introduz o tamanho de partículas para os materiais presentes no leito do canal. O nível II cobre ainda outras variáveis como o entrincheiramento, largura e profundidade e sinuosidade. Este tipo de descrição morfológica só pode ser aplicado a distâncias limitadas, isto porque a morfologia de um sistema de ribeiras muda, muitas vezes, entre curtas distâncias. O nível II é, portanto, aplicado somente a troços individuais, em vez de se considerar o sistema no seu todo (Rosgen, 1994).

3.1.2. Níveis de intervenção

Baseado nas análises acima referidas, é determinado o potencial de reabilitação – o objetivo é alcançar o mais alto nível de reabilitação possível, tendo em conta as limitações presentes (e futuras) do espaço.

(22)

3.2. Processo (Metodologia)

Segundo a “Alliance for the Chesapeake Bay”, uma organização regional sem fins lucrativos que constrói e promove parcerias e consenso para proteger e restaurar a Baía de Chesapeake, nos Estados Unidos (incluindo os seus rios e ribeiras), a única forma de criar um “desenho sólido” é “avaliando quantitativamente, as principais características morfológicas de um determinado tipo de ribeira… que se encontra num estado natural ou estável (o troço de referência) e restaurar a combinação natural de dimensão e forma(…) no canal debilitado.” (Alliance for the Chesapeake Bay, 2002)

A “Alliance for the Chesapeake Bay” lista alguns passos chave no processo de levantamento de dados, os seguintes são considerados os mais relevantes:

1- Levantamento de informação no local do projeto

- Identificação da capacidade máxima da ribeira, isto é, o momento em que (durante uma cheia) a água no canal sobe até que extravasa as margens e se espalha pela planície de inundação; - Levantamento das: dimensões, padrão, perfil e materiais do leito do troço de ribeira selecionado; - Determinação do tipo de ribeira tendo em conta a informação reunida;

2- Reunir informação acerca do troço de referência

- Levantamento das dimensões, padrão, perfil e materiais do leito do troço de referência; - Determinação de um tipo de ribeira para o troço de referência;

- Conversão de medidas morfológicas para rácios adimensionais. Estes tornar-se-ão valores de desenho a utilizar, uma vez à escala da área de intervenção selecionada. Serão utilizados para determinar a largura, profundidade, curvatura, áreas de seção transversal de corredeiras e piscinas, entre outras propriedades do canal;

3- Calibrar a informação do local

- Observações no local a nível da descarga terão de ser calibradas tendo em conta os dados conhecidos do fluxo da ribeira, usando o equipamento e o método melhor indicado.

Uma vez concluídos os passos acima referidos, podem ser desenvolvidos os desenhos para o corte transversal, plataforma e o perfil do projeto do troço, podem ser desenvolvidos. O desenho será, de seguida, verificado através de programas de análise, como o HEC-RAS, de modo a

(23)

confirmar que o canal proposto consegue aguentar diferentes condições de fluxo. (Alliance for the Chesapeake Bay, 2002)

Através da capacidade máxima, pode-se determinar o tipo de ribeira. Devido ao uso da capacidade máxima como base para a medição de variadas características físicas do canal da ribeira (largura/profundidade, rácio, corte transversal, etc), é imperativo identificar corretamente a fase de capacidade máxima aquando o planeamento de intervenções de reabilitação. Além disso, é importante que canais não sejam desenhados para carregar caudais maiores do que o de capacidade máxima, caso contrário poder-se-ão observar fenómenos de erosão e/ou assoreamento. (PLLC and U.S. Fish and Wildlife Service, 2011)

3.2.1. Componentes

O processo de levantamento de informação ajuda a estabelecer padrões de geometria hidráulica necessários para construir um canal de ribeira estável, que se consiga adaptar a variadas condições de fluxo ao longo do tempo. Contudo, componentes físicos adicionais ajudam a alcançar, e a manter, o alinhamento geral e a profundidade de um canal restaurado. Três componentes geralmente utilizadas são:

1- Estruturas construídas

2- Conexões entre planícies de inundação 3- Vegetação

No caso de ribeiras localizadas em áreas altamente urbanizadas (ou de ribeiras com margens instáveis), são muitas vezes necessárias estruturas, tanto naturais como artificiais. Estas incluem materiais de “blindagem” como pedras de grande tamanho e enrocamentos, vegetação especializada e ancorada com estacas, plantada tanto nas margens como nas planícies de inundação, etc. (PLLC and U.S. Fish and Wildlife Service, 2011)

(24)

Estruturas construídas nas margens, e no próprio canal, ajudam a controlar a erosão de sedimentos ao longo das margens e do leito do canal, ao reduzirem a velocidade do fluxo. Estruturas como enrocamentos, “step-pools”, “rock-steps” e áreas de transição de rápidos (“pool-riffles”), para além de minimizarem a velocidade da água, proporcionam variados habitats aquáticos.

Para além do canal da ribeira, o desenho procura restabelecer a ligação do troço da ribeira com a sua planície de inundação histórica (ou proposta). As planícies de inundação são um ingrediente chave para uma ribeira estável, porque reduzem a velocidade do caudal, e permitem que o excesso de sedimentos seja depositado fora do canal.

São várias as técnicas que podem ser utilizadas de modo a garantir a maior estabilidade possível do canal da ribeira, como por exemplo o uso de gabiões, colchões reno, malhas para a proteção de taludes, enrocamentos, telas e mantas biodegradáveis, e deflectores de corrente (anexo 1). O cuidadoso planeamento da vegetação é uma componente essencial no desenho do canal. Os planos de vegetação devem incluir tanto planos de plantação temporários como permanentes. O plano de plantação temporário tem como objetivo o controlo da erosão, visto que a cobertura herbácea se estabelece rapidamente. O plano de plantação permanente deve incluir herbáceas, arbustos e árvores, ao longo das margens, socalcos e das planícies de inundação. (PLLC and U.S. Fish and Wildlife Service, 2011)

A plantação de espécies nativas ripícolas (e espécies associadas) ao longo da ribeira e nas suas áreas adjacentes, na sua planície de inundação e áreas húmidas associadas, ajuda a estabilizar

Figura 6 – Zona A – Na margem, em grande proximidade com o canal, são plantadas as espécies com a maior tolerância a condições húmidas e/ou de cheia; Zona B – Na parte superior da margem surgem as espécies arbóreas e arbustivas de maior porte; Zona C – Zona relvada onde se poderá estender a planície de inundação. (fonte: DairyNZ, adaptado)

(25)

os solos, a filtrar nutrientes e poluentes, e a capturar sedimentos. Espécies autóctones são preferíveis porque evoluíram de modo a resistir a extremos climáticos e hidrológicos, assim como a competir com outras espécies nativas. São, geralmente, menos propícias a desenvolver doenças em comparação com espécies não-nativas, e uma vez estabelecidas, necessitam de pouca, ou até nenhuma manutenção.

Existem várias técnicas que promovem o restauro da galeria ripícola e, consequentemente, a proteção das margens contra a ação erosiva, como por exemplo, a reimplantação de vegetação em pequenos troços, a plantação de Caniço (Phragmites sp) em torrão ou em haste, linhas de arbustos, placas de relva, entre outras (anexo 2).

3.2.2. Monitorização

A monitorização é feita para verificar o cumprimento das condições de licenciamento, medir o sucesso dos objetivos do projeto, e medir o desempenho do canal no longo termo. Alguns objetivos a ter em conta durante a monitorização do canal são: o transporte de sedimentos, a reabilitação de habitats, e a estabilização das margens.

Idealmente, deve-se proceder à monitorização duas vezes por ano durante os primeiros 2 anos. Depois desse período e até ao quinto ano basta uma monitorização anual. Desta maneira qualquer problema que possa surgir pode ser remediado pouco após à construção.

3.3. Considerações finais

3.3.1. Potenciais impactos em serviços de utilidade

Como mencionado anteriormente, existem várias infraestruturas debaixo da superfície, como esgotos, sistemas de distribuição de água e gás, fibra ótica, etc. Dependendo da localização da ribeira, partes destas infraestruturas terão de ser relocalizadas para permitir o desenterramento de um troço de ribeira. Um levantamento minucioso, incluindo pesquisa de infraestruturas e servidões, efetuado por um profissional, é necessário para determinar potenciais impactos desta natureza.

3.3.2. Controlo de erosão e sedimentação durante a obra

Na fase construção deve minimizar-se a erosão secundária causada pelo processo de obra. Em situações de desenterramento de ribeiras em contexto urbano, isto significa manter a ribeira dentro do seu canal durante a construção, de modo a evitar que esta passe por áreas de solos soltos e resíduos, e limitar o tempo em que equipamento de construção se encontra dentro do corredor da ribeira e nas suas áreas de inundação. De maneira a reduzir problemas de erosão e sedimentação

(26)

durante a construção do canal, é sugerido como uma boa prática (Brown K, Schueler, T 2004), que todas as obras se realizem nas margens da ribeira, onde for possível, utilizando ainda coberturas temporárias anti erosão onde os solos se encontrarem soltos, especialmente nos meandros, assim como proceder-se à estabilização de todas as áreas perturbadas ao mesmo tempo das atividades de restauro. Os especialistas recomendam também que se proceda a amostragem da água, antes e depois da construção, de modo a realizar testes relativos à turvação e à erosão das margens.

3.3.3. Demolição e transporte de resíduos

Os materiais resultantes da demolição deverão ser reutilizados sempre que possível, de preferência nas construções de espaços verdes. Caso não sejam reutilizáveis, os materiais demolidos devem ser separados com vista à reciclagem, e posterior transporte para a central de tratamento mais próxima. O processo de demolição pode tornar-se ainda mais complicado com a descoberta de materiais perigosos sob a forma de solos contaminados.

3.3.4. Desenho geral do local

Projetos de desenterramento de ribeiras, encontram-se frequentemente integrados em iniciativas mais amplas, que incluem a construção de parques, corredores verdes ou novas pontes pedestres ou viárias. A construção do canal da ribeira deve ser coordenada com os outros projetos, de modo a minimizar sobreposições desnecessárias e prevenir erosão secundária adicional.

4. Aplicação à Ribeira da Riguinha e à Ribeira de Carcavelos

4.1 Identificação e análise da rede hidrográfica – Rede das ribeiras da Riguinha e Carcavelos

De modo a compreender os impactos que uma intervenção num troço de ribeira poderá vir a ter na hidrologia da rede em que se encontra inserida, é essencial proceder-se à análise dessa mesma rede hidrográfica. As ribeiras da Riguinha e Carcavelos constituem uma rede hidrográfica independente da bacia do rio Leça, o principal curso de água a atravessar o município de Matosinhos, visto que não se encontram interligados, podendo-se denominar de “ribeiras atlânticas”.

As duas ribeiras nascem na freguesia da Senhora da Hora e encontram-se praticamente todas canalizadas, atravessando as freguesias da Senhora da Hora e de Matosinhos. A nascente da Ribeira da Riguinha localiza-se na Fonte das 7 Bicas. Esta ribeira apresenta um pequeno troço a

(27)

céu aberto junto ao parque de Real. As duas linhas de água juntam-se no cruzamento da R. Sousa Aroso, com a R. D. João I, percorrendo um troço comum até à foz situada na Praia de Matosinhos, junto à Praça Cidade do Salvador.

As áreas em que se inserem as ribeiras em questão, as freguesias de Matosinhos e da Senhora da Hora correspondem às zonas com maior índice de construção no concelho de Matosinhos e, consequentemente, maior índice de impermeabilização. Estas zonas resultam acima de tudo de atividades de construção e consolidação urbana bastante antigas e, mas também, da criação de polos industriais e comerciais, sendo expectável que se traduzam num elevado índice de construção.

(28)

A nível da ocupação dos solos, é possível observar um aumento significativo do tecido urbano mais ou menos consolidado e das zonas industriais e comerciais, com uma tendência particular de aumento dos espaços urbanos habitacionais. Isto verifica-se na área da rede hidrográfica das ribeiras da Riguinha e de Carcavelos, onde é possível observar uma redução dos espaços verdes ao longo do trajeto das ribeiras, possibilitando a sua canalização, uma maior expansão do tecido urbano (anexo 3).

Do ponto de vista hidrogeológico e atendendo à estrutura de ocupação urbana existente nesta área do município, a porosidade dos materiais existentes no substrato geológico (anexo 4) e a ocorrência de focos de contaminação à superfície pode implicar uma rápida propagação dos Figura 8 - Distribuição das áreas impermeáveis no município de Matosinhos (fonte: Componente Solos e Paisagem – Resumo não técnico, Escola superior Agrária e Instituto Politécnico de Viana do Castelo)

(29)

contaminantes, em particular em zonas de granito e areias de dunas nas quais o lençol freático se encontra superficial.

4.1.2 Classificação do tipo de ribeira

Para a classificação das ribeiras do sistema de ribeiras da Riguinha e Carcavelos, considerou-se o sistema de classificação de Rosgen, usando como referência, os troços naturalizados localizados no parque do Carriçal na Senhora da Hora.

Depois da observação e do breve levantamento de parte dos troços localizados no parque do Carriçal na Senhora da Hora, chegou-se à conclusão, utilizando o método descrito, que as ribeiras em questão se inserem na classificação A6, tendo como características: margens com declives entre os 4% e os 10%; sedimentos no leito de dimensões reduzidas, sendo predominantes as areias e as argilas; e uma baixa meandrização.

4.1.3 Potencial de desenterramento e reabilitação

Das características específicas de locais e de ribeiras canalizadas, propostas anteriormente, cuja finalidade é avaliar a viabilidade de opções no que toca ao desenterramento e/ou reabilitação de ribeiras, apenas algumas foram tidas em consideração nesta aplicação.

Numa situação ideal, com um prazo de trabalho maior e com a participação no estudo, de profissionais das mais diferentes áreas, haveria a possibilidade de atingir conclusões mais aprofundadas. Porém, neste caso, tendo em conta o contexto no qual o estudo foi efetuado, apenas se consideraram os fatores que se inserem no leque das capacidades que disponho como estudante de arquitetura paisagista, e que se provaram possíveis de considerar no tempo do estágio. Estes são: a distância percorrida pelo troço da ribeira; a área do espaço que o troço atravessa (caso este apresente poucas estruturas construídas ou seja complemente despromovido destas; ex.: espaços expectantes); o cadastro dos espaços identificados; a presença de construções no caminho do troço; a presença de construções na envolvente do troço; a qualidade paisagista envolvente; e as ações de planeamento urbano pendentes sobre o espaço (anexo 5). Sublinha-se o facto de se ter tido em consideração a realidade dos espaços à altura da elaboração do estudo, não se considerando possíveis alterações a nível do planeamento da malha urbana depois de junho de 2018.

(30)

Dado a reduzida dimensão da rede de ribeiras em estudo, observam-se facilmente as suas ligações, concluindo-se que todos os troços de ribeira que dela fazem parte, se encontram conectados entre si.

A distância ideal a considerar para o desenterramento de um troço de uma ribeira é cerca de 97 metros, e a área do terreno deve rondar os 0,40 hectares.

4.2 Propostas

4.2.1 Parque de Real (Real de Baixo) 4.2.1.1 Situação existente

Inaugurado a 27 de novembro de 2001, este parque insere-se no meio urbano e desenvolve-se numa zona de vale, apresentando uma área de encosta que se estende até terrenos de menor relevo, onde se observam várias parcelas ocupadas pela atividade agrícola. É atravessado pela ribeira da Riguinha, correndo esta entre muros de betão (anexo 6), em direcção ao Bairro de Real. Na malha urbana envolvente prevalece a habitação multifamiliar e unifamiliar e destaca-se a proximidade do Hospital Pedro Hispano. O Parque de real foi projetado pela Câmara Municipal de Matosinhos numa intervenção conjunta com a Metro do Porto e insere-se no plano de urbanização de Real de Baixo, aprovado em assembleia municipal a 02/10/2008 (ver anexo 7). Somente parte da área representada no plano foi, de facto, intervencionada, encontrando-se atualmente, num estado de avançada degradação.

(31)

A nível da vegetação sublinha-se a presença de um eucaliptal (Eucalyptus globulus), de espécies infestantes como mimosas e austrálias (Acacia dealbata e Acacia melanoxylon). Contudo, também se identificou a presença de algumas espécies autóctones, nomeadamente, o pinheiro-bravo (Pinus pinaster), o carvalho-alvarinho (Quercus robur) e o sobreiro (Quercus suber), podendo-se mesmo observar vários exemplares de jovens Q. robur recentemente plantados nas encostas de maior declive. Por entre o arvoredo surgem também pontuações de espécies arbustivas, como o escalheiro (Pyrus cordata), o alfenheiro-do-japão (Ligustrum lucidum) e a urze branca (Erica

arborea). Nos prados de sequeiro, predominam plantas como azevém (Lolium perene),

trevo-branco (Trifolium repens), trevo-subterrâneo (Trifolium subterraneum), dáctila (Dactylis glomerata) e festuca-alta (Festuca arundinacea). Ao nível do estrato herbáceo também estão presentes a dedaleira (Digitalis purpurea), o dente-de-leão (Taraxacum officinale), branca-ursina (Heracleum

sphondyllium), entre outras. Associada à ribeira surge alguma vegetação ripícola, estando

presentes o sabugueiro (Sambucus nigra) e a erva-das-pampas (Cortaderia selloana), espécie infestante.

4.2.1.1 Proposta de requalificação da Ribeira da Riguinha no Parque de Real

A proposta elaborada para este local envolve a reabilitação da ribeira existente, tendo como objetivo principal, a naturalização do seu canal e das suas planícies de inundação, assim como a adição de vegetação ripícola variada, tanto arbustiva como arbórea.

A área de intervenção considerada para esta proposta estende-se ao longo do troço ribeira, num buffer de aproximadamente 10 metros em relação às margens do canal atual. A reabilitação do

Figura 10 - Zona de menor relevo do Parque de Real com parcelas ocupadas pela actividade agricola, assim como estruturas improvisadas. (mais imagens do local disponíveis no anexo 6) (fonte: autor)

(32)

canal da ribeira passa por demolir o canal em betão pelo qual esta corre atualmente e a criação de um canal “naturalizado” – sendo criado por mão humana – por via de modelação do terreno, tendo em conta as práticas descritas anteriormente. O canal naturalizado é depois reforçado por materiais de suporte, onde

necessário, incluindo pedras, enrocamentos, vegetação especializada e ancorada, plantada tanto nas margens como nas planícies de inundação.

No troço inicial, por exemplo, quando a ribeira emerge à superfície, é proposta a estabilização da margem junto ao caminho por via de um

enrocamento, de modo acomodar um nível de fluxo máximo, sem o risco de inundar os caminhos adjacentes. Associados a este enrocamento são propostos vários “rock-steps”, estruturas tipo degraus, de forma a reduzir a velocidade do fluxo e a controlar erosão. Pormenores de construção e uma simulação em perfil estão disponíveis no anexo 8.

Passando a zona de encosta, a área abre-se em terrenos mais planos, possibilitando a criação de zonas de inundação maiores, e por consequência, a uma maior naturalização do canal. Na área mais plana, onde segundo o plano existente (anexo 7) passaria um segundo “braço” da ribeira, propõe-se a criação, por via da modelação de terreno de bacias de retenção, uma zona húmida.

Ao longo do canal da ribeira é

proposta a plantação de variadas espécies vegetais, com destaque para as espécies autóctones Figura 11 - Pormenor do plano geral proposto para a reabilitação da ribeira da riguinha em Real de Baixo, Matosinhos. (fonte: autor)

Figura 12 - Pormenor do plano geral proposto para a reabilitação da ribeira da riguinha em Real de Baixo, Matosinhos. (fonte: autor)

(33)

e ripícolas. A distribuição e a escolha dos espécimes nascem da procura de uma visão naturalista da paisagem, em contraste com o meio urbano em que se insere. O estrato arbustivo ripícola, como é possível observar nos pormenores acima (assim como no plano geral, anexo 7), acompanha o canal da ribeira, de modo a estabilizar as suas margens, de acordo com a topografia em que se insere.

O estrato arbustivo proposto é composto por espécies ripícolas autóctones, das quais se sublinham os salgueiros, Salix salviifolia (Borrazeira-branca), Salix atrocinerea (Borrazeira-preta), os sabugueiros, Sambucus nigra, e ainda Frangula alnus (Sanguinho-bastardo), todos em crescimento semi-livre (cortados pela touça de 7 em 7 anos, seguindo-se o seu regenerar natural). O estrato arbóreo, também composto maioritariamente por espécies ripícolas autóctones, procura, para além de formar uma galeria ripícola, criar uma maior harmonia entre o canal naturalizado e o estrato arbóreo existente, encontrando-se ao longo do canal, tanto nas zonas de maior relevo (encosta), como nas zonas de inundação. À exceção da zona de encosta, raramente se encontra em grandes maciços, tendo essa opção o objetivo de manter o canal naturalizado visível de vários ângulos e distâncias. As espécies propostas incluem amieiros (Alnus glutinosa), os choupos (Populus alba e Populus nigra), os freixos (Fraxinus angustifolia), entre outras, incluindo espécies associadas à mata ripícola e que ajudam a transição para o estrato arbóreo existente, como o

Quercus robur e o Pinus pinea.

(34)

4.2.2 Estádio do Mar

4.2.2.1 Situação existente

A segunda proposta envolve o desenterramento de parte da ribeira da Riguinha, considerando-se os terrenos junto ao complexo desportivo do Estádio do Mar, uma das áreas com o maior potencial para tal operação. Os terrenos em questão são maioritariamente camarários, e encontram-se designados no Plano de Urbanização do Complexo desportivo do Mar e sua envolvente, aprovado pela assembleia municipal a 02/10/2008, como áreas verdes de uso público (anexo 11).

A área de intervenção pode-se considerar dividida em três parcelas diferentes: uma área de maior relevo que cria uma espécie de planalto, junto ao complexo do estádio; uma área de relevo menos acidentado que acompanha o edificado; e uma zona de vale junto ao caminho que acompanha a linha do metro. No seu todo, esta área apresenta características topográficas que sugerem que esta ribeira, ou outro curso de água, tenha corrido à superfície algures no passado. Estas características são importantes para o sucesso da operação de desenterramento, visto que facilitam a criação do novo canal.

Figura 14 - Diferentes vistas da área de intervenção. Começando pela área de planalto (onde é possível observar o topo do edificado); a área junto ao edificado, abaixo da encosta do planalto, mantida regularmente; e o início do caminho que acompanha a linha do metro, partindo de junto do edificado. (fonte: autor) (mais imagens do local disponíveis no anexo 12)

(35)

Tanto a zona de planalto, junto ao muro que delimita o complexo do estádio, como a zona de vale que acompanha a linha de metro até ao IC-1, encontram-se degradadas. Nestas parcelas observa-se muita vegetação em crescimento livre, sublinhando-observa-se a preobserva-sença de espécies infestantes, como as acácias (Acacia melanoxylon) e os eucaliptos (Eucaliptus globulus), assim como lixo e outros resíduos. Porém, observam-se também algumas espécies autóctones, incluindo algumas espécies ripícolas, espécimes com potencial de fazerem parte do novo desenho do espaço, que surge com a operação de desenterramento da ribeira.

A área que se encontra junto ao edificado apresenta-se bem mantida, com uma variedade de espécies ornamentais a pontear as zonas de relvado. Apresenta também um pequeno campo de jogos.

4.2.2.1 Proposta

A proposta exemplo elaborada para a área adjacente ao complexo desportivo do Estádio do Mar envolve o desenterramento de parte da ribeira que por ali passa entubada. Juntamente com a proposta de desenterramento e criação de um novo e naturalizado canal para a ribeira, é proposta a requalificação de todo o espaço no qual este se insere, formando uma área verde consolidada, aproveitando o potencial paisagístico que emerge com o ressurgimento da ribeira à superfície.

(36)

Devido ao edificado que se encontra sobre parte do troço da ribeira, propõe-se o seu desenterramento em duas partes distintas. Supõe-se que esta opção seja a mais económica e plausível, tendo em conta a infraestrutura subterrânea que poderá acompanhar o edificado e possivelmente comprometer a operação. O canal proposto sobrepõe-se, quase diretamente, ao trajeto atual da ribeira entubada, à exceção do pequeno troço referido acima. A ribeira surge então, no extremo norte da área de intervenção, junto ao IC-1, e corre em direção a sul por uma zona de vale que se abre numa área de relevo menos acidentado, voltando ao subsolo à medida que se dirige em direção ao edificado. Volta depois a surgir, num troço de menor distância, seguindo o perfil da base da encosta até que torna a desaparecer para o subsolo.

Ao longo do canal naturalizado surge o estrato arbustivo ripícola, com espécies como os salgueiros (Salix salviifolia e Salix atrocinerea), sabugueiros (Sambucus nigra) e Frangula alnus. A nível do estrato arbóreo, acompanham o canal da ribeira, várias espécies ripícolas, das quais se sublinham os choupos (Populus alba e Populus nigra), os vidoeiros (Betula alba), os amieiros (Alnus

glutinosa), os freixos (Fraxinus angustifolia), as faias (Fagus sylvatica), entre outras. Associadas

aos corredores ripícolas que se formam ao longo das margens do canal, surgem outras espécies autóctones que muitas vezes se encontram associadas à mata ripícola, como o Quercus robur e o Pinus pinea. Surgem também outras espécies, mais ornamentais, como o cipreste de lawson (Chamaecyparis lawsoniana), de modo a criar uma maior harmonia entre os espaços criados e os corredores ripícolas que ladeiam o canal.

(37)

Vários caminhos são traçados na área de intervenção, cada um partindo de pontos considerados principais. Começando pelo sudoeste da área, junto à entrada para o complexo desportivo do Mar, surge uma das entradas para o parque. Esta dá acesso à área de planalto, para onde se propõe que se desloque o campo de jogos existente, acompanhado de uma zona de descanso pavimentada. O traçado dos caminhos procura emular a natural ramificação dos rios e ribeiras, dando-lhe simultaneamente uma essência humana através de um traçado angular. Mais a Sul da área propõe-se outro acesso ao espaço, acompanhando o canal da ribeira. Esse caminho proporciona também, acesso ao edificado, juntando-se depois ao caminho principal que se estende ao longo do canal da ribeira. Observa-se depois uma pequena travessia “molhada”, onde os utilizadores do espaço poderão atravessar a ribeira sobre pedras fixas no seu leito. Associada a esta travessia, encontra-se outra área de repouso pavimentada.

Ao longo dos caminhos surgem várias áreas de clareira, onde os utilizadores do espaço têm a oportunidade de praticar um vasto, e livre, leque de atividades. Outros espaços com fins mais específicos também são propostos, incluindo áreas de aprendizagem, onde utilizadores poderão entrar em contacto com a natureza e com os habitats da ribeira, e onde se poderão realizar aulas ao ar livre, entre outras atividades.

(38)

5. NOTA FINAL

O aumento da densidade populacional, e por consequência, da ocupação urbana dos solos significa que o planeamento da proteção e reabilitação de ribeiras em áreas de captação urbanas requer, um esforço consideravelmente maior. Um esforço que atravessa várias disciplinas, e que só se torna possível através do trabalho conjunto e da dedicação dessas várias ciências. Espera-se assim, que este estudo possa, de facto, fazer uma diferença e incentivar as várias entidades envolvidas na reabilitação de ribeiras em contexto urbano, a tomar as melhores decisões possíveis.

Para o arquiteto paisagista trata-se, não só da reabilitação ou do desenterramento da ribeira, mas também da oportunidade de dar uma nova vida a espaços muitas vezes menosprezados. E para isso, é importante ter em conta quais as práticas que levam a que essas ações sejam bem-sucedidas, e como podem ser incorporadas nos nossos projetos.

Do estudo da potencialidade de desenterramento e de reabilitação, à escolha dos locais mais indicados para intervir; das características da ribeira à sua classificação; todas as práticas e informações compiladas ajudaram a formar uma visão que não possuía antes da realização deste trabalho. No final, foram essas informações, essa visão, que me permitiu criar as propostas para a reabilitação da ribeira da Riguinha em Real de Baixo e para o seu desenterramento junto ao complexo desportivo do Mar, e é essa visão que espero ter transmitido.

Referências

Documentos relacionados

• The definition of the concept of the project’s area of indirect influence should consider the area affected by changes in economic, social and environmental dynamics induced

Nas leituras de falhas efetuadas, foram obtidos códigos de anomalia por meio de dois diferentes protocolos de comunicação: o ISO 14230 KWP (2000) e o ISO 15765-4 CAN. A seguir, no

Para a realização das simulações no ambiente urbano e rodovia, foram consideradas diferentes densidades veiculares para cada caso. Além disso, a velocidade também

O processo de transformação bacteriana utilizada na Biologia Molecular ocorre in vitro, e pode ser afetado pelo tamanho e conformação da molécula de DNA a ser introduzida na

d) Não serão fornecidas referências bibliográficas, materiais para consulta ou apostilas, observe o conteúdo programático constante no Anexo I.. f) Será eliminado do

Alternativamente à convocação para comparecer perante o órgão ou entidade para a assinatura da Ata de Registro de Preços, a Administração poderá encaminhá-la

Caso o Pregoeiro não logre êxito em obter a certidão correspondente através do sítio oficial, ou na hipótese de se encontrar vencida no referido sistema, o licitante será

Caso a licitante qualificada como microempresa ou empresa de pequeno porte melhor classificada desista ou não se manifeste no prazo estabelecido, serão convocadas