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O impacto da empresa júnior na intenção de empreender dos universitários brasileiros

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Academic year: 2021

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MESTRADO EM GESTÃO EMPRESARIAL

O IMPACTO DA EMPRESA JÚNIOR NA INTENÇÃO DE

EMPREENDER DOS UNIVERSITÁRIOS BRASILEIROS

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

MATEUS LIMA DORNELAS

Rio de Janeiro - 2017

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MATEUS LIMA DORNELAS

O IMPACTO DA EMPRESA JÚNIOR NA INTENÇÃO DE EMPREENDER DOS UNIVERSITÁRIOS BRASILEIROS

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas como requisito para obtenção do título de Mestrado em Gestão Empresarial.

Orientador: Prof. Dr. Diego de Faveri

Rio de Janeiro 2017

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV

Dornelas, Mateus Lima

O impacto da empresa júnior na intenção de empreender dos universitários brasileiros / Mateus Lima Dornelas. - 2017.

68 f.

Dissertação (mestrado) - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa.

Orientador: Diego de Faveri. Inclui bibliografia.

1. Estudantes universitários – Programas de desenvolvimento. 2.

Empreendedorismo. 3. Empresas novas. 4. Extensão universitária. 5. Aprendizagem organizacional. I. Lima, Diego de Faveri Pereira. II. Escola Brasileira de

Administração Pública e de Empresas. Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. III. Título.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho para minha família, especialmente a minha esposa, meus filhos e meus pais.

Dedico também a todos que se arriscam a empreender e aos que apoiam positivamente o empreendedorismo no Brasil e no mundo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em especial a Deus pelas bênçãos concedidas nos momentos mais árduos desta jornada, em particular na recuperação milagrosa da saúde de meu filho.

A minha amada esposa, que mais do que cônjuge sempre foi minha maior aliada e companheira nos momentos mais difíceis, me apoiando incondicionalmente e ainda sendo uma supermãe para meus filhos, Larissa e Ivan Viera Dornelas.

Aos meus pais, Luiz Gonzaga Cerqueira Dornelas e Aparecida Lima Dornelas, pela dedicação, apoio e incentivo ao longo da minha vida. Foram eles os principais responsáveis pela minha educação e formação moral.

A minha sogra, Maria Cristina Matheus Moreira, que esteve presente nos momentos em que eu e minha esposa mais precisamos de apoio com as crianças.

Aos meus irmãos Filipe e Ramon Dornelas pelas palavras de encorajamento em momentos importantes.

Ao meu orientador, professor Diego de Faveri, pela contribuição fundamental para o desenvolvimento e finalização desta pesquisa.

Ao professor e coordenador do mestrado, Joaquim Rubens Filho, pela compreensão quanto ao caso de meu filho e pelo apoio para continuidade do processo. Assim como a Aline Felix Gouveia, sempre eficiente e competente na organização das atividades e demandas do curso. Aos amigos da Brasil Jr., Daniel Pimentel, Pedro Rio, Klynsmann Bagatini e a todos os que de alguma forma contribuíram para a coleta dos dados utilizados nesta pesquisa.

A todas as pessoas que fizeram ou fazem parte da Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo - CNC e que de alguma forma contribuíram e me apoiaram do início ao final do mestrado.

Aos professores e colegas da turma MEX 2016, pela intensa troca de experiências, pelo convívio e coleguismo ao longo destes dois anos.

Enfim, agradeço a todas as pessoas envolvidas direta ou indiretamente nesta jornada e que influenciaram minha vida durante estes dois anos.

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RESUMO

Objetivo - Este estudo pretende investigar se a empresa júnior contribui para o incremento da intenção empreendedora dos alunos de universidades brasileiras. Ainda, busca identificar diferenças deste incremento em relação aos alunos de sexo masculino e feminino e em relação aos que possuem ou não experiência anterior nos negócios.

Metodologia - Para atingir os objetivos propostos foi realizado um quase-experimento que, para a estimativa dos efeitos das empresas juniores na intenção empreendedora, se valeu de um pareamento entre grupos de tratamento (participantes de empresa júnior) e controle (não participantes da EJ) e aplicação de regressão linear múltipla. A abrangência da amostra, 5969 alunos, e a utilização de grupo de controle, ofereceram um bom nível de validade interna e a amostragem de diferentes universidades de localidades distintas aumentou a validade externa das descobertas.

Resultados - Foi demonstrado que a participação na empresa júnior tem um efeito positivo no incremento da intenção empreendedora dos alunos. Há evidências de que o efeito das empresas juniores sobre o aumento da intenção empreendedora é superior para as mulheres. O mesmo não se confirma quando se trata da experiência prévia dos alunos nos negócios.

Limitações - A principal limitação da pesquisa é relativa a variável dependente pois não foram consideradas as relações entre as empresas juniores e as variáveis comumente utilizadas que buscam predizer a intenção empreendedora. Assim, a utilização de uma escala, de maior grau de validade e confiabilidade, seria útil para testes empíricos futuros.

Contribuições práticas - A partir dos resultados, os agentes envolvidos no contexto podem utilizá-los como insumo para o processo de fomento ao empreendedorismo e desenvolvimento socioeconômico, dada a evidência de efeitos positivos das empresas juniores.

Contribuições acadêmicas - Este estudo contribui para a pesquisa sobre educação para o empreendedorismo, revelando o efeito benéfico para os alunos participantes de programas de educação empreendedora.

Originalidade - Pelo nosso conhecimento, este é o primeiro estudo sobre empresa júnior que apresenta impactos sobre a intenção de empreender em uma ampla amostra de alunos e universidades, com mitigação de endogeneidade a partir do pareamento entre grupos de tratamento e controle.

Palavras-chave: Intenção empreendedora; Educação empreendedora; Empresa Júnior; Empreendedorismo.

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ABSTRACT

Purpose - This study intends to investigate if the junior enterprise contributes to the increase of the entrepreneurial intention of the students of Brazilian universities. Also, it seeks to identify differences in this increase in relation to male and female students and in relation to those who have or do not have previous business experience.

Design/Methodology - In order to reach the proposed objectives, a quasi-experiment was carried out which, in order to estimate the effects of the junior companies on the entrepreneurial intention, a pairing between treatment (participants of junior enterprises) and control groups (non participants of junior enterprises) and multiple linear regression application was performed. The scope of the sample, 5969 students, and the use of the control group provided a good level of internal validity and the sampling of different universities from different locations increased the external validity of the findings.

Findings - The outcome indicated the participation in the junior enterprise has a positive effect on the increase of the students' entrepreneurial intention. There is also evidence that the effect of junior enterprise on the increase of entrepreneurial intent is higher among women. The same scenario does not apply to students with previous experience in business.

Research limitations - The main limitation of the research is related to the dependent variable because the relations between the junior companies and the commonly used variables that seek to predict the entrepreneurial intention were not considered. Thus, the use of a scale of greater validity and reliability would be useful for future empirical tests.

Practical Implications - As practical relevance, this study allows the actors involved in the context to use it as an input to foster entrepreneurial and socioeconomic development, given the evidence of positive effects of junior enterprises.

Academic Implications - This study contributes to the research on education for entrepreneurship, revealing the beneficial effect for students participating in entrepreneurship education programs.

Originality - To our knowledge, this is the first study about junior enterprise that show impacts on the entrepreneurial intention in a wide sample of students and universities, with mitigation of endogeneity through the use of a pairing between treatment and control groups. Keywords: Entrepreneurial Intention; Entrepreneurial Education; Junior Enterprise; Entrepreneurship.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CNJE Confédération Nationale des Junior-Entreprises EJ Empresa Júnior

ESSEC L’Ecole Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales EUA Estados Unidos da América

GEM Global Entrepreneurship Monitor IES Instituição de Ensino Superior

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais JADE European Confederation of Junior Enterprises

MEJ Movimento Empresa Júnior RUF Ranking Universitário da Folha

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1. INTRODUÇÃO ... 1

2. REVISÃO DE LITERATURA E HIPÓTESES DE PESQUISA ... 4

2.1. Intenção Empreendedora ... 4

2.2. A Teoria do Comportamento Planejado ... 4

2.3. A Educação Empreendedora ... 5

2.4. A Empresa Júnior ... 9

2.5. Empresa Júnior no mundo e no Brasil ... 10

2.6. Hipóteses de Pesquisa ... 13

3. MÉTODO DE PESQUISA ... 15

3.1. População de graduandos ... 15

3.2. Fontes e tratamento de dados ... 16

3.3. Operacionalização das variáveis ... 18

3.4. Estratégia de identificação ... 19

4. RESULTADOS ... 22

4.1. Estatística descritiva da amostra ... 22

4.2. Análise fatorial exploratória ... 23

4.3. Pareamento ... 28

4.4. Efeito médio do tratamento ... 30

5. DISCUSSÃO ... 32

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 34

6.1. Implicações Acadêmicas e Práticas ... 34

6.2. Limitações da Pesquisa ... 35

6.3. Recomendações para Trabalhos Futuros ... 35

7. REFERÊNCIAS ... 37

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Tratamento dos dados para definição da amostra final ... 18

Figura 2 - Distribuição da variável dependente para os participantes e não participantes da EJ ... 22

Figura 3 - Distribuição da percepção sobre o comportamento empreendedor de docentes ... 26

Figura 4 - Distribuição da percepção sobre o comportamento empreendedor discente ... 27

Figura 5 - Distribuição da percepção sobre soft skills dos discentes ... 27

Figura 6 - Distribuição do propensity score para os grupos de tratamento e controle ... 28

Figura 7 - Análise do balanceamento dos grupos de tratamento e controle ... 29

Figura 8 - Diferença entre a intenção de empreender (feminino x masculino) ... 30

LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Número de universidades, por região e setor ... 15

Tabela 2 - Número de universidades, por tipo de universidade e grau acadêmico ... 15

Tabela 3 - Número de matriculados em cursos presenciais de universidades, por região e gênero ... 16

Tabela 4 - Matriz de correlação das variáveis latentes ... 24

Tabela 5 - Matriz de correlação das variáveis latentes ... 25

Tabela 6 - Resultados dos modelos ... 31

LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Definição das variáveis utilizadas no estudo ... 19

Quadro 2 - Itens da escala comportamento empreendedor dos docentes ... 23

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1. INTRODUÇÃO

Muitas pesquisas têm sido realizadas sobre o empreendedorismo e obtido espaço na agenda dos governos e diversas organizações, tanto em países de economias emergentes quanto em países desenvolvidos. Por representar importante contribuição social como indutor de crescimento econômico e dinamização das economias locais (RAUCH; HULSINK, 2015), o tema tem alcançado cada vez mais relevância no âmbito acadêmico e educacional (KURATKO, 2005, GÜROL; ATSAN, 2006; NABI et. al. 2017).

Segundo a Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2016), no Brasil, mais de um quarto da população adulta (entre 18 e 64 anos) pretende empreender nos próximos três anos. Isto representa mais do que países como Estados Unidos, Alemanha e os demais países dos BRIC’s. No entanto, o estudo também constatou que os estudantes de ensino superior demonstram o menor percentual de intenção empreendedora entre a amostra pesquisada.

Somada à constatação acima, há mais de 30 anos, um dos temas que mais cresceram dentro da literatura do empreendedorismo foram os estudos sobre as intenções empreendedoras (LIÑAN; FAYOLLE, 2015), dada a constatação de que elas direcionam a atenção, a experiência e a ação para um conceito de negócios e estabelecem a forma e a direção das organizações na sua criação (BIRD, 1988). À frente de iniciativas de negócio, os novos empreendedores poderão oferecer mais postos de trabalho, explorar necessidades de mercado ainda não atendidas e gerar inovações (LIMA et. al., 2015).

Os estudos iniciais sobre a intenção empreendedora buscaram desenvolver modelos capazes de explicá-la (BIRD, 1988; AJZEN, 1991; KRUEGER; CARSRUD, 1993; KRUEGER; BRAZEAL, 1994; DAVIDSSON, 1995) e posteriormente as pesquisas foram principalmente pautadas no efeito das caraterísticas pessoais dos indivíduos sobre as intenções de empreender (LEE; WONG, 2004; SEGAL; BORGIA; SCHOENFELD, 2005, ZHAO; HILLS; SIEBERT, 2005, HMIELESKI; CORBETT, 2006; WILSON; KICKUL; MARLINO; 2007; GUERRERO; RIALP; URBANO, 2008). No entanto, a revisão da literatura mostra que os programas de educação empreendedora também são capazes de contribuir para que novos empreendedores surjam no mercado de trabalho (PITTAWAY; COPE, 2007; MARTIN; MCNALLY; KAY, 2013; FAYOLLE; GAILLY, 2015; NABI et. al., 2017). A importância da educação para o empreendedorismo já foi reconhecida pela Conferência das Nações Unidas

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sobre Comércio e Desenvolvimento como um item importante na promoção do desenvolvimento de países (LIMA et. al. 2015).

Porém, há poucos estudos que exploram os impactos na intenção de empreender oriundos dos diferentes tipos de programas de educação empreendedora existentes no ambiente da educação superior. Quando tratamos especificamente das empresas juniores, presente em diversas instituições de ensino superior, esta lacuna é ainda maior. A lei 13.267 de 2016 disciplina a criação e a organização destas instituições, sob a forma de associação civil gerida por estudantes matriculados em cursos de graduação de instituições de ensino superior, com o propósito de realizar projetos e serviços que contribuam para o desenvolvimento acadêmico e profissional dos associados. A literatura sobre as empresas juniores além de escassa, principalmente em revistas internacionais, concentra-se basicamente em estudos relacionados aos cursos de graduação em administração.

Neste contexto, a presente dissertação tem como objetivo principal investigar se a empresa júnior contribui para o incremento da intenção empreendedora dos alunos de universidades brasileiras, com base na teoria do comportamento planejado (AJEN, 1991). É importante observar que a teoria do comportamento planejado não foi utilizada como um preditor de comportamento empreendedor, e sim como uma ferramenta relevante para modelar o desenvolvimento da intenção empreendedora através de contexto de aprendizagem. De forma complementar este trabalho se propõe a averiguar se há diferenças significativas de gênero e experiência prévia com negócios sobre as intenções empreendedoras.

Para atingir os objetivos propostos foi realizado um quase-experimento que, para a estimativa dos efeitos das empresas juniores na intenção empreendedora, se valeu de grupo de controle composto por alunos de universidades públicas e privadas que não tiveram participação em tais entidades. Os dados foram coletados a partir de pesquisa realizada pela Confederação Brasileira de Empresas Juniores - Brasil Jr., para a elaboração do ranking Universidades Empreendedoras realizado em 2016. A base de dados completa inclui 5.969 alunos. A abrangência da amostra e a utilização de grupo de controle ofereceu um bom nível de validade interna e a amostragem de diferentes universidades de estados distintos aumentou a validade externa das descobertas.

Como resultado, esta pesquisa revela que a participação na empresa júnior tem um efeito positivo no incremento da intenção empreendedora dos alunos. De forma complementar as análises demonstraram que existem diferenças significativas de gênero sobre

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a intenção de empreender, que indicaram que o incremento na intenção de empreender é maior para as mulheres do que para os homens. Por outro lado, a hipótese, de que o efeito da empresa júnior na intenção empreendedora é diferente entre alunos que tem negócios em comparação aos que não tem negócio, foi rejeitada.

O trabalho realizado poderá contribuir com o aumento do conhecimento na área em questão e ser útil para as universidades revisarem seus currículos e ações, no sentido de incluírem disciplinas e programas que tratem de questões comportamentais e sociais associadas ao empreendedorismo. O trabalho poderá também ser relevante para as organizações que desenvolvem projetos de políticas educacionais, pois desta forma podem ter mais informações que aumentem a probabilidade de sucesso em suas escolhas e consequentemente para aqueles que vão começar um novo empreendimento.

A pesquisa está organizada, além desta introdução, em outras cinco seções: na revisão de literatura, busca-se suporte teórico para a proposição de um modelo explicativo para a formação da intenção empreendedora de estudantes universitários a partir de sua participação em empresas juniores. A segunda seção é dedicada a dados e metodologia, em que são discutidas questões referentes ao instrumento de coleta, amostra, procedimentos do teste e a estratégia de identificação adotada. Na terceira seção apresentam-se os resultados dos testes realizados e, na quarta seção, estes resultados são discutidos frente à literatura.Por fim, uma seção apresenta as considerações finais, a qual é seguida das referências bibliográficas em que foi baseado o trabalho.

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2. REVISÃO DE LITERATURA E HIPÓTESES DE PESQUISA

2.1. Intenção Empreendedora

Os estudos empíricos sobre intenção empreendedora vêm aumentando consideravelmente nos últimos anos (LIÑAN; FAYOLLE, 2015). O conceito vem evoluindo há mais de 30 anos desde os estudos iniciais (SHAPERO; SOKOL, 1982), tendo contribuições valiosas dentro do campo da psicologia social, a saber, a psicologia cognitiva (BANDURA, 1982). Variados modelos, buscando predizer a intenção e o comportamento empreendedor, foram elaborados (BIRD, 1988; AJZEN, 1991; KRUEGER; CARSRUD, 1993; KRUEGER; BRAZEAL, 1994; DAVIDSSON, 1995) e partiu destes estudos a consolidação do conceito da intenção empreendedora em que principalmente é defendido que ela seja a primeira etapa de um longo e envolvente processo que induz ao comportamento empreendedor (KRUEGER; CARSRUD, 1993; SHOOK; PRIEM; MCGEE, 2003). De forma complementar, Thompson (2009) explica que a intenção empreendedora parte da convicção própria de um indivíduo de abrir um novo negócio, que planeja conscientemente em algum momento no futuro ter uma empresa, podendo ser algo iminente ou indeterminado, ou mesmo nunca acontecer devido a uma série de fatores ambientais e acontecimentos pessoais. Contudo, as intenções são assumidas como uma motivação para se envolver em determinado comportamento e, portanto podem ser influenciadas (RAUCH, HULSINK, 2015).

2.2. A Teoria do Comportamento Planejado

Entre os modelos elaborados para explicar as variáveis que influenciam a intenção e o comportamento empreendedor, a Teoria do Comportamento Planejado (TCP) de Ajzen (1991) predominou e foi utilizada em diversos estudos posteriores (SOUITARIS; ZERBINATI; AL-LAHAM, 2007; ENGLE et. al. 2011; LIÑAN; FAYOLLE, 2015; RAUCH; HULSINK, 2015, entre outros). A TCP foi apontada como o modelo que melhor apoia e explica a intenção e comportamento empreendedor, principalmente por sua abrangência e complexidade (SCHLAEGEL; KOENIG, 2014), embora ela seja criticada, dado que a intenção empreendedora não garante que o empreendedor potencial efetivamente se torne um empreendedor (LIMA et. al. 2015).

A Teoria do Comportamento Planejado indica que os comportamentos conscientes são planejados, e que podem ser antecipados, sabendo-se a intenção de executar o comportamento (AJZEN, 1991). O modelo elaborado por Ajzen (1991) compreende três variáveis

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independentes: 1) a atitude face ao comportamento, que permite determinar o momento favorável para um determinado comportamento; 2) as normas subjetivas, que consistem na percepção da pressão social favorável ou não, exercida por pessoas importantes ou de referência no círculo de relações do indivíduo; e, por fim 3) a percepção de controle individual, levando o indivíduo a ter um determinado comportamento relativo à percepção de dificuldade ou facilidade para desenvolvê-lo frente às experiências passadas, deficiências e obstáculos. Desta forma, quanto mais favorável for a atitude e a norma subjetiva e maior for a percepção do controle individual, mais forte deveria ser a intenção para executar um determinado comportamento (AJZEN, 1991).

2.3. A Educação Empreendedora

A partir do ano 2000 a maioria dos estudos empíricos foi realizada buscando aprimorar os modelos de intenção empreendedora principalmente para prever e explicar o comportamento dos indivíduos, aumentando assim a compreensão do processo empreendedor (ZHAO; HILLS; SIEBERT, 2005; SEGAL; BORGIA; SCHOENFELD, 2005; HMIELESKI; CORBETT, 2006; VAN GELDEREN et. al., 2008; LIÑÁN; CHEN, 2009; THOMPSON, 2009). Por outro lado, novas linhas de pesquisa ganharam espaço e contínua linha de estudos devido ao entendimento de que outros fatores podem afetar os antecedentes das intenções e por consequência o comportamento empreendedor. Há um consenso entre alguns pesquisadores de que a educação empreendedora possa encorajar a intenção e as atitudes de empreender e, consequentemente, a criação de novos negócios (GORMAN; HANLON; KING, 1997; TKACHEV; KOLVEREID, 1999; NOEL, 2002; PETERMAN; KENNEDY, 2003; FAYOLLE, GAILLY; LASSAS-CLERC, 2006, SOUITARIS; ZERBINATI; AL-LAHAM, 2007; GASSE; TREMBLAY, 2011; SOLESVIK, 2013; FAYOLLE et. al. 2015; LIMA et. al. 2015; GAILLY, 2015; RAUCH, HULSINK, 2015; NABI et. al., 2017).

A educação empreendedora, também conhecida como educação em empreendedorismo ou ensino de empreendedorismo, consiste em um programa ou processo pedagógico com o intuito de desenvolver habilidades e atitudes empreendedoras que priorizam a integração entre estudantes, de modo a desenvolver atividades práticas e análise de casos reais (FAYOLLE; GAILLY; LASSAS-CLERC, 2006; ELMUTI; KHOURY; OMRAN, 2012; MARITZ; BROWN, 2013). Pesquisadores compartilham a ideia de que os programas de educação empreendedora têm características semelhantes e incorporam aprendizagem interativa baseada na experiência do mundo real através de forma autêntica,

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constituída por atividades voltadas para ação e reflexão dos alunos, o que conduz a uma maior propensão a habilidades empreendedoras e, possivelmente, para um desempenho empresarial que beneficie os indivíduos e toda a sociedade (PETERMAN; KENNEDY, 2003, KASSEAN

et. al., 2015).

Neste contexto, a Teoria do Comportamento Planejado tem sido utilizada para avaliar os efeitos da educação empreendedora (FAYOLLE, GAILLY; LASSAS-CLERC, 2006), pois ela facilita a explicação das intenções e comportamentos empreendedores, uma vez que aborda aspectos que podem ser influenciados por meio de um programa de educação (KATZ, GARTNER, 1988; LIÑAN; RODRIGUEZ-COHARD; RUEDA-CANTUCHE, 2011). Por exemplo, o principal determinante das intenções empreendedoras é a convicção de uma pessoa de que, começar um negócio é uma alternativa de carreira adequada (DAVIDSSON, 1995). Neste sentido é plausível assumir que o objetivo em curto prazo de um programa de educação empreendedora é criar uma atitude positiva em relação ao empreendedorismo (RAUCH, HULSINK, 2015). Quanto ao controle percebido, é algo que também pode ser influenciado pela educação empreendedora, dado que os alunos treinados devem perceber-se mais "no controle" sobre o que eles precisam fazer para se tornarem mais empreendedores (FAYOLLE, GAILLY; LASSAS-CLERC, 2006), e que a educação empreendedora aumenta as competências dos indivíduos (KRUEGER; REILLY; CARSRUD, 2000). Em relação a normas subjetivas, que também fazem parte da Teoria do Comportamento Planejado, não seria possível estabelecer este vínculo, uma vez que as crenças de amigos e familiares não podem ser influenciadas diretamente pela educação empreendedora (RAUCH, HULSINK, 2015).

O estudo de Peterman e Kennedy (2003), realizado com estudantes do ensino médio na Austrália, corroboram a ideia de que a exposição à um programa de educação empreendedora seja uma variável adicional em modelos de intenções empreendedoras. A pesquisa evidenciou que o grau de mudança nas intenções de empreender dos alunos está relacionado à positividade da experiência anterior e à experiência no programa de educação empreendedora. Em pesquisa realizada anos depois, desta vez com estudantes de educação superior, Fayolle, Gailly e Lassas-Clerc (2006) confirmaram relação positiva de experiência no programa de educação com a intenção de empreender, porém não houve a mesma correlação positiva para os que possuíam uma exposição empresarial anterior. Os autores fizeram uma avaliação antes e depois do programa, contudo o estudo foi realizado considerando uma amostra de apenas 20 alunos, que participaram de um programa de

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educação de apenas um dia de duração. Souitaris, Zerbinati e Al-Laham (2007) identificaram que a inspiração vinda de professores e profissionais externos foi o benefício mais influente dos programas de educação empreendedora para o aumento da intenção empreendedora. Contudo, seus estudos se concentraram apenas em universitários que cursavam ciência e engenharia. Gasse e Tremblay (2011) se concentraram em estudantes de cursos de administração e de engenharia, porém em uma amostra mais significativa, que comparava sete países e tipos de programas diferentes. Em todos os países as amostras sinalizaram uma relação positiva dos programas com as intenções de empreender, principalmente nas modalidades de programas como projetos e iniciativas práticas, simulações, estágios e experiências de trabalho.

Essas várias contribuições mostram que é possível e relevante estudar o surgimento e desenvolvimento da intenção de empreender e como um programa pode afetar positivamente essa variável. Por outro lado, alguns estudos empíricos sugerem que a educação empreendedora reduz a intenção empreendedora de certos grupos, por exemplo, estudantes com exposição empresarial anterior (FAYOLLE; GAILLY; LASSAS-CLERC, 2006; FAYOLLE; GAILLY, 2015), estudantes do sexo masculino (PACKHAM, et. al., 2010) e estudantes do sexo feminino (WILSON; KICKUL; MARLINO; 2007; GUPTA et. al., 2009; JOENSUU et. al. 2013). Em relação ao gênero, estudos reforçam que as mulheres tendem a ter mais complicações no processo de empreender (SULLIVAN; MEEK; 2012; GOYAL; YADAV; 2014), percebem menos oportunidades, possuem maior medo do fracasso e barreiras financeiras mais altas do que os seus homólogos masculinos (LANGOWITZ; MINNITI; 2007; SANTOS; ROOMI; LIÑAN, 2016), o que pode ficar mais latente a partir do momento em que adquirem maior educação e conhecimento sobre o assunto.

Em estudo utilizando dados da Global University Entrepreneurial Spirit Students’

Survey, Lima et. al. (2015) identificaram que a educação empreendedora tem um efeito

negativo significativo sobre a intenção empreendedora dos estudantes, porém os estudantes brasileiros apresentaram níveis mais altos de intenção empreendedora e estão significativamente mais motivados para fazer cursos e atividades em empreendedorismo em comparação com estudantes de outros países.

Apesar da crescente atenção no empreendedorismo, continua faltando pesquisa sobre intenções empreendedoras e educação em empreendedorismo em contextos variados e múltiplos (NABI et. al., 2017). Ainda há a percepção de que existe pouco conhecimento sobre

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o potencial vínculo causal entre algumas variáveis educacionais (seleção de participantes e exposição empreendedora anterior, conteúdo do curso, métodos pedagógicos, perfis profissionais dos professores, recursos disponíveis, etc.) e o impacto de programas de educação empreendedora sobre os antecedentes de intenção e/ou comportamento (FAYOLLE; GAILLY, 2015).

A aplicação de técnicas e conteúdo de ensino diferenciado, para alcançar resultados mais efetivos, é uma demanda apontada por Liñan e Fayolle (2015), visto que as pesquisas empíricas revelaram diferenças significativas em termos de atitudes e níveis de intenção dos alunos que participam de programas de educação empreendedora e aqueles que não o fazem. Os autores também sugerem que futuras pesquisas busquem utilizar grupo de tratamento (estudantes que recebem educação empreendedora) e um grupo de controle (estudantes que não recebem educação empreendedora) para evitar viés de amostragem (LIÑAN; FAYOLLE, 2015).

Em estudo realizado no Brasil (LIMA et. al., 2015) foram identificados cinco grandes desafios da educação empreendedora: aumentar a oferta de cursos, disciplinas e atividades de educação empreendedora; treinar mais professores; promover proximidade e contato com os empreendedores e sua realidade; dar foco à prática e diversificar a oferta de educação empreendedora para além do plano de negócios. A ênfase no contexto prático e crítica ao foco nas atividades de elaboração de planos de negócios também foram apontadas por Neck e Greene (2011).

Neste contexto, as universidades são, por consequência, uma das organizações que mais possuem um papel preponderante para a superação destes desafios. Seu impacto positivo no desenvolvimento da intenção empreendedora e a sua influência no comportamento empreendedor dos estudantes são confirmados por vários estudos (FAYOLLE; GAILLY; 2015).

Contudo, as universidades podem ser vistas como fontes potenciais de empreendedores futuros, muito embora exista uma grande variedade entre as universidades quanto à natureza, alcance e estrutura da educação empreendedora (TURKER; SELCUK, 2009). Dentre os mecanismos utilizados nas universidades para a promoção da educação para o empreendedorismo estão as empresas juniores (COSTA, BARROS, MARTINS, 2008, FERREIRA; FREITAS, 2013; KLAPPER, 2013; SILVA; PENA, 2017).

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2.4. A Empresa Júnior

A empresa júnior (EJ) é uma associação sem fins lucrativos formada por estudantes de instituições de ensino superior (IES), na qual os alunos têm a oportunidade de agregar experiência prática às suas habilidades teóricas (GRUBER-MUECKE et. al., 2010; JADE, 2012; BARÈS; HOUET; JAQUOT, 2011; DOS SANTOS et. al., 2015; SILVA; COSTA; DIAS, 2016; BERVANGER; VISENTINI, 2016) e minimizar a lacuna existente entre a instituição de ensino e o mercado de trabalho (GRUBER-MUECKE; KAILER, 2015).

Para alguns autores, as EJs funcionam como espaço de práticas simuladoras de aprendizagem em contexto real (TOLFO; SCHMITZ, 2005; NASSIF; AMARAL; PRANDO, 2012; BARBOSA et. al., 2015) e de aquisição de experiência empreendedora anterior ao ingresso no mercado de trabalho (COSTA, BARROS, MARTINS, 2008; JADE, 2012; GRUBER-MUECKE; KAILER, 2015; BERVANGER; VISENTINI, 2016). O contexto da EJ se apresenta com diversas oportunidades de aprendizado, seja por meios tradicionais, como leitura de livros, palestras e treinamentos, como por meios mais interacionais e sociopráticos (DOS SANTOS et. al., 2015). Há também a compreensão de que o objetivo de uma EJ é fornecer atividades que possam levar a comportamentos empresariais e habilidades gerenciais que vão além das habilidades clássicas, ou seja, puramente analíticas (BARÈS; HOUET; JAQUOT, 2011). Praticamente, todas estas características convergem com a pesquisa de Emulti, Khoury e Omran (2012), as quais se revelaram como sendo os principais aspectos que levam a educação empreendedora a gerar impacto no desenvolvimento de habilidades e na abertura de novos negócios.

Para seu funcionamento, as EJs realizam projetos e serviços de consultorias em diversas áreas do conhecimento (DOS SANTOS et. al., 2015; BRASIL JR, 2016; BERVANGER; VISENTINI, 2016) e, geralmente, são prestados para micro e pequenas empresas (BRUM; BARBOSA, 2009; FERREIRA-DA-SILVA; PINTO, 2011). Desta forma, grande parte dos serviços prestados pelas EJs está relacionada ao que Solomon, Duffy e Tarabishy (2002) apontaram como sendo as principais ferramentas de aprendizagem na educação empreendedora, a saber, destacando-se a elaboração de plano de negócios, contatos com empresas iniciantes, conversas e entrevistas com empreendedores, viagens a campo entre outras.

(21)

Os serviços de consultoria das empresas juniores são supervisionados por docentes ou profissionais especializados (TOLFO; SCHMITZ, 2005; GUIMARÃES; MOREIRA; BAETA, 2013; MARQUES et. al., 2016), o que converge com a conclusão de que a inspiração destas referências pessoais pode impactar a intenção de empreender dos alunos (SOUITARIS; ZERBINATI; AL-LAHAM, 2007). Quanto à natureza da EJ, esta corresponde à de uma empresa real, com gestão autônoma em relação à direção da instituição, centro acadêmico ou qualquer outra entidade acadêmica (GUIMARÃES; MOREIRA; BAETA, 2013). Quanto à estrutura organizacional, percebe-se que a EJ atua com flexibilidade, adotando uma configuração híbrida, contando com diretoria executiva, conselho de administração, estatuto e regimentos próprios, de modo que a frequente rotatividade de colaboradores não prejudique a realização das atividades e o aprendizado se perpetue (FERREIRA-DA-SILVA; PINTO, 2011; DOS SANTOS et. al., 2015; MARQUES et. al., 2016). A rotatividade nas EJs é algo comum, assim como a renovação dos seus membros, que ocorre anualmente facilitando o encontro entre estudantes com diferentes perfis e permitindo que a aprendizagem também ocorra dentro de uma extensa rede de relacionamentos (BARÈS; HOUET; JAQUOT, 2011; MARQUES et. al., 2016). Os processos seletivos das empresas juniores, em linhas gerais, são bem organizados e se equiparam aos adotados por uma empresa comum; muitas delas, inclusive, apresentam programas trainees estruturados para a captação de seus membros (SILVA; COSTA; DIAS, 2016).

Neste contexto, as EJs têm sido consideradas espaços de formação profissional em expansão no ensino superior de todo o país, promovendo impactos sociais e econômicos: sociais, ao integrar aluno e mercado de trabalho e ao fomentar o empreendedorismo; econômicos, pois integrantes atuam diretamente no mercado e atendem a demandas de nichos menos favorecidos por serviços de consultoria especializada a preços acessíveis (CAMPOS

et. al., 2015). De forma complementar, a EJ pode, ainda, contribuir para o crescimento da

cultura empreendedora, tanto internamente, com seus participantes e demais alunos da instituição, quanto externamente, com a comunidade (NASSIF; AMARAL; PRANDO, 2012; GUIMARÃES; MOREIRA; BAETA, 2013; BARBOSA et. al., 2015).

2.5. Empresa Júnior no mundo e no Brasil

A primeira empresa júnior, Junior ESSEC, foi estabelecida em 1967 na França por iniciativa de estudantes da L’Ecole Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales (ESSEC) de Paris (DOS SANTOS et. al., 2015) e ainda na década de 60 estendeu-se para

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muitas outras universidades e países (GRUBER-MUECKE; KAILER, 2015). Próximo à década de 70, mais de vinte EJ’s francesas fundaram a Confédération Nationale des

Junior-Entreprises - CNJE, para promover e representar o Movimento Empresa Júnior - MEJ na

França, assim como assegurar a qualidade dos estudos realizados por essas associações (GUIMARÃES; MOREIRA; BAETA, 2013; DOS SANTOS et. al., 2015).

Em 1987, as ideias e conceitos chegaram ao Brasil por meio da Câmara de Comércio e Indústria Franco-Brasileira e a primeira empresa júnior no país foi a da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (DOS SANTOS et. al., 2013). Nos sete primeiros anos do MEJ no Brasil surgiram aproximadamente 100 empresas. Na França, esse número de empresas foi alcançado após 19 anos de início do movimento (GUIMARÃES; MOREIRA; BAETA, 2013).

Devido à grandiosidade deste movimento de empresa júnior, em 2003 foi criada a Confederação Brasileira de Empresas Juniores, a Brasil Júnior, que representa as EJs em todas as esferas (GUIMARÃES; MOREIRA; BAETA, 2013) e, com o passar do tempo o Brasil se consolidou como o país que possui mais EJs no mundo (FERREIRA-DA-SILVA; PINTO, 2011). De acordo com a Brasil Jr (2016), atualmente existem no país mais de 510 empresas juniores, apoiadas por 24 federações estaduais, realizando aproximadamente 6000 projetos, através de aproximadamente 16 mil empresários juniores.

Como resultado da atuação do Movimento Empresa Junior ou MEJ (BERVANGER; VISENTINI, 2016), no Brasil, foi sancionada pela presidência da república a Lei nº 13.267, de 6 de abril de 2016, que disciplina a criação e a organização destas instituições, denominada a Lei das Empresas Juniores:

Art. 2º Considera-se empresa júnior a entidade organizada nos termos desta Lei, sob a forma de associação civil gerida por estudantes matriculados em cursos de graduação de instituições de ensino superior, com o propósito de realizar projetos e serviços que contribuam para o desenvolvimento acadêmico e profissional dos associados, capacitando-os para o mercado de trabalho.

A lei esclarece também a abrangência de sua atuação, o que possibilita que as EJs ofertem soluções de áreas distintas:

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§ 2º A empresa júnior vincular-se-á a instituição de ensino superior e desenvolverá atividades relacionadas ao campo de abrangência de pelo menos um curso de graduação indicado no estatuto da empresa júnior, nos termos do estatuto ou do regimento interno da instituição de ensino superior, vedada qualquer forma de ligação partidária.

Segundo a Brasil Jr (2016), os universitários que participam das EJs possuem idade de 20,9 anos em média, permanecem no movimento júnior 9 meses em média, a maioria são da região sudeste (44,5%) e do gênero masculino (52,7%). Contudo, apesar da alta rotatividade e da pouca experiência dos membros das EJs brasileiras, estas empresas têm obtido cada vez maior participação no mercado, tendo registrado em 2016 um faturamento de R$11.096.620,77, o que representou um aumento de 66% em relação ao ano de 2015, que foi de R$ 6.685.738,11 (BRASIL JR, 2016).

Ao ingressarem na empresa júnior, os alunos agregam experiência a sua formação acadêmica, com a possibilidade de participar de decisões como líderes de uma empresa (BARBOSA et. al., 2015). Assim, estes estudantes são valorizados pelo mercado mais do que os alunos que fazem o estágio tradicional, pois adquirem um diferencial que possibilita uma maior oportunidade de ser empregado, além do que já é proporcionado pela sua graduação (BERVANGER; VISENTINI, 2016). Ou seja, estas empresas parecem representar o espaço ideal de transformação do estudante em empreendedor (COSTA; BARROS; MARTINS, 2008; GRUBER-MUECKE; KAILER, 2015).

Embora nas revistas internacionais haja escassez de estudos sobre as EJs, no Brasil vêm se consolidando a relevância da presença destas associações estudantis nas instituições de ensino superior. Estudos empíricos realizados concluíram que as EJs contribuem para a formação empreendedora dos alunos do curso de administração, podendo esta contribuição estar relacionada de forma significativa com o desenvolvimento pessoal durante a graduação e por outros aspectos ligados à fatores pessoais e contextuais (BARBOSA et. al., 2015; MENEZES; COSTA, 2016).

Outra pesquisa realizada corrobora que a participação em EJ contribui para a propensão empreendedora dos alunos (FERREIRA; FREITAS, 2013). Este estudo foi realizado com 163 alunos de graduação em administração, sendo 75 estudantes que

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participavam de empresas juniores e 88 que não participavam. Os resultados apurados mostraram que os alunos que não participaram de EJ apresentaram uma intenção inferior de abrir um negócio, de apenas 68%, quando comparado aos alunos de EJ, de 88%. Contudo a tabulação dos dados observou apenas as médias e desvios padrão dos grupos estudados.

2.6. Hipóteses de Pesquisa

De acordo com a revisão da literatura, este estudo se propõe principalmente a estudar a seguinte hipótese:

H1: A participação na empresa júnior contribui para o incremento da intenção

empreendedora dos estudantes universitários.

Diversos estudos suportam a premissa de que os programas de educação empreendedora afetam positivamente a intenção de empreender dos alunos (GORMAN; HANLON; KING, 1997; TKACHEV; KOLVEREID, 1999; NOEL, 2002; PETERMAN; KENNEDY, 2003; SOUITARIS; ZERBINATI; AL-LAHAM, 2007; PITTAWAY; COPE, 2007; GASSE; TREMBLAY, 2011; SOLESVIK, 2013; FAYOLLE; GAILLY, 2015; LIMA

et. al. 2015; NABI et. al., 2017).

A empresa júnior apresenta características e funcionalidades que a credencia a ser considerada um programa de educação empreendedora capaz de fomentar a intenção e o comportamento empreendedor (SOLOMON; DUFFY; TARABISHY,2002; SOUITARIS; ZERBINATI; AL-LAHAM, 2007; BARÈS; HOUET; JAQUOT, 2011; EMULTI; KHOURY; OMRAN; 2012; FERREIRA; FREITAS, 2013; BARBOSA et. al., 2015; CAMPOS et. al., 2015; GRUBER-MUECKE; KAILER, 2015; MENEZES; COSTA, 2016).

De forma complementar, duas outras hipóteses são trabalhadas buscando avaliar o que a literatura revelou:

H2: A participação na empresa júnior contribui para o incremento da intenção empreendedora dos estudantes universitários, porém este incremento é diferente entre alunos do sexo masculino e feminino.

Esta hipótese se apoia em estudos empíricos que apontam para o fato de que entre os estudantes do sexo feminino e masculino os efeitos da educação empreendedora na intenção de empreender são distintos, dado a provável diferença de estilos de aprendizado e de reação e atribuição de valor aos métodos e práticas pedagógicas (WILSON; KICKUL; MARLINO,

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2007; GUPTA et. al., 2009; JOENSUU, et. al. 2013). Adicionalmente, o fato das empresas juniores serem possivelmente a primeira experiência no mundo dos negócios dos alunos, a percepção de distanciamento do poder entre homens e mulheres pode ser baixa entre os mesmos, condicionando assim a uma sensação de igual oportunidade de crescimento. Neste contexto as jovens estudantes poderiam se aproveitar da situação para se envolver em mais atividades da EJ, buscar mais espaço, gerar mais aprendizado e consequentemente fortalecerem suas intenções de empreender.

H3: A participação na empresa júnior contribui para o incremento da intenção empreendedora dos estudantes universitários, porém este incremento é diferente entre alunos com e sem experiência prévia no mundo dos negócios.

Para esta hipótese consideram-se as constatações dos estudos de Fayolle e Gailly (2015) em que são apresentados que uma experiência anterior pode enfatizar as limitações ou dificuldades associadas à abertura de um novo negócio e diminuir, consequentemente, sua vontade de empreender. Leva-se em consideração também que, os alunos que já tiveram uma experiência real de empreendedorismo podem perceber que a participação na EJ não teria muito a agregar em seus conhecimentos e por este motivo haveria pouca influência sob suas intenções de empreender novamente.

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3. MÉTODO DE PESQUISA

Este capítulo tem por objetivo descrever a população de graduandos, as fontes e o tratamento das bases de dados, assim como delimitar a população de interesse do estudo. Apresenta também a estratégia de identificação e os modelos estatísticos utilizados.

Este estudo considerou apenas os alunos em cursos de graduação presenciais, do tipo bacharelado, de universidades brasileiras em que existem pelo menos uma empresa júnior em funcionamento.

3.1. População de estudo

De acordo com o Censo da Educação Superior (2015), o Brasil possui 4.273.155 alunos matriculados, em cursos presenciais ou a distância, em 195 universidades, o que representa mais da metade de matrículas no país (53,2%). Destes, a maior parte encontra-se nos cursos presenciais, conforme descrito abaixo.

Tabela 1 - Número de universidades, por região e setor Universidades Quantidade Matriculados em

cursos presenciais Matriculados em cursos a distancia Total Pública 107 1.546.581 116.641 1.663.222 Privada 88 1.728.283 881.650 2.609.933 Total 195 3.274.864 998.291 4.273.155

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de INEP (2015)

Dos 3.274.864 matriculados em cursos presenciais, a maioria faz os cursos de grau acadêmico bacharelado.

Tabela 2 - Número de universidades, por tipo de universidade e grau acadêmico

Universidades Bacharelado Licenciatura Tecnólogo Não Aplicável Total Pública 1.060.928 431.324 25.836 28.493 1.546.581

Privada 1.451.600 123.751 152.814 118 1.728.283

Total 2.512.528 555.075 178.650 28.611 3.274.864 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de INEP (2015)

A distribuição por grande região mostra que a maioria dos matriculados em cursos presenciais, de grau bacharelado encontram-se nas regiões Sudeste do Brasil, com predominância do sexo feminino.

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Tabela 3 - Número de matriculados em cursos presenciais de universidades, por região e gênero

Universidades Feminino Masculino Total

Sudeste 677.626 582.626 1.260.252 Sul 257.326 239.496 496.822 Nordeste 225.453 206.825 432.278 Centro Oeste 115.818 9.733 95.227 Norte 60.075 52.056 112.131 Total 1.336.298 1.176.230 2.512.528

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de INEP (2015)

3.2. Fontes e tratamento de dados

Este projeto utilizou uma única fonte de dados que foi a pesquisa realizada pela Confederação Brasileira de Empresas Juniores – Brasil Jr., para a elaboração do ranking Universidades Empreendedoras realizado em 2016. Os dados foram coletados via pesquisa

online, através da ferramenta SurveyMonkey, realizada entre os dias 04 de julho e 20 de

agosto de 2016.

A organização responsável pela consolidação do ranking realizou um recorte selecionando as 100 primeiras universidades do renomado Ranking Universitário da Folha (RUF). Dessas 100 primeiras selecionadas, foram excluídas aquelas que não possuíam organizações estudantis, como por exemplo, as empresas juniores. Diante disso, alunos de graduação de 71 universidades formaram a população de interesse da pesquisa (ANEXO 2).

A amostra de alunos dentro destas universidades foi selecionada por conveniência e a coleta de dados foi realizada por meio de uma rede de alunos colaboradores que conta com integrantes dentro destas universidades. Os alunos colaboradores repassaram o link da pesquisa utilizando o mailing list das universidades que aceitaram colaborar com o estudo. O envio da pesquisa por este mecanismo não anula o risco de viés de resposta do questionário por alunos com mais afinidade ao tema, portanto o pareamento apresentado na sessão 3.4 teve por objetivo mitigar esse problema.

O banco de dados fornecido pela Brasil Jr. continha diversas informações incluindo a universidade do respondente, a graduação, o gênero, sua participação em organizações estudantis (a exemplo, empresa júnior), sua intenção de empreender antes de ingressar na faculdade e a atual, entre outras informações. O questionário da pesquisa está disponível no ANEXO 1.

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Inicialmente o banco de dados continha 5.969 respostas de usuários distintos de 67 universidades espalhadas em 23 unidades da federação1.

Durante a aplicação do questionário, os alunos tiveram a opção de responder as perguntas que julgaram pertinentes. Como consequência, para 1.695 alunos não foi possível mensurar a variável dependente do estudo (diferença entre a intenção de empreender antes de o aluno ingressar na universidade e a sua vontade no momento da coleta de dados). Nesta etapa, restaram 4.274 alunos de 65 universidades.

Destes 4.274 alunos, foram eliminados 26 alunos que estavam cursando doutorado, mestrado, curso técnico, tecnólogo ou não informaram a qual curso pertenciam.

A estratégia de identificação, que será detalhada na seção 3.4, prevê a comparação de alunos que participaram da EJ em algum momento da graduação e os alunos que não participaram. Porém, em diversos cursos de graduação não é comum a participação dos alunos nas EJs, tais como letras, pedagogia, odontologia, artes, etc. Com a eliminação de 346 alunos por este critério, a amostra passou a contar com 4.030 alunos.

Por fim, foram eliminados 281 alunos por não terem preenchido o questionário na sua totalidade. Nesta etapa, os alunos que deixaram sem preenchimento mais de 15% das variáveis do banco de dados foram eliminados. Como consequência, o número de valores faltantes por variável não ultrapassou 5%. Para não eliminar os questionários com poucos valores faltantes, o valor da média de cada variável foi imputado.

Após todos os procedimentos de tratamento do banco de dados, a amostra final do estudo contou com 3.749 alunos de 64 universidades em 85 diferentes cursos de graduação, conforme demonstra a figura abaixo. Destes 2.003 participaram da EJ durante a graduação e 1.746 não participaram.

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Figura 1 - Tratamento dos dados para definição da amostra final

3.3. Operacionalização das variáveis

Neste item, apresenta-se a definição da variável dependente e independentes utilizadas nesta dissertação.

A variável dependente foi mensurada com base nas perguntas: 1) Qual era sua vontade de empreender antes de entrar na universidade? e 2) Qual sua atual vontade de empreender?

Ambas foram mensuradas em uma escala de Likert de 5 pontos que varia entre 1 e 5, sendo que o limite inferior da escala corresponde a pouca vontade e o limite superior muita vontade de empreender. Havia também uma opção de resposta para os que não sabiam o que responder.

Portanto, a variável dependente do estudo capta a diferença entre a atual vontade de empreender do aluno e sua vontade de empreender antes de ingressar na universidade. Essa variável indica o quanto aumentou ou diminuiu a intenção de empreender do aluno entre estes dois instantes.

Além disso, foi utilizado um conjunto de variáveis independentes que caracterizam o aluno de graduação como sexo, universidade, curso, percepção do comportamento empreendedor dos docentes, auto percepção do comportamento empreendedor, auto percepção da presença de soft skills, entre outras variáveis. Vale destacar que as variáveis latentes relacionadas à percepção dos alunos foram mensuradas através de escalas de Likert e com o uso da análise fatorial exploratória.

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A definição operacional de cada variável utilizada encontra-se no Quadro 1.

Quadro 1 - Definição das variáveis utilizadas no estudo

Tipo Código da variável Descrição da variável Fonte

Variável

dependente CE_PDISC_AU_VO_DIF

O quanto cresceu ou diminuiu a vontade de

empreender Brasil Jr.

Variáveis utilizadas no pareamento

d_EJ

Dummy que assume valor 1 quando o aluno participou em algum momento da EJ durante a graduação e 0 caso contrário

Brasil Jr.

d_negócio

Dummy que assume valor 1 quando o aluno tem ou teve um negócio durante a graduação e 0 caso contrário

Brasil Jr.

CE_PDISC_AU_VO_ANTES Qual era sua vontade de empreender antes de

entrar na universidade? Brasil Jr.

d_outras_entidades

Dummy que assume valor 1 quando o aluno participou em algum momento de outra instituição estudantil que não a EJ durante a graduação e 0 caso contrário

Brasil Jr.

UNIVER_n Universidade em que o aluno faz a graduação Brasil Jr. GRADUA_n Curso de graduação em que está matriculado Brasil Jr. GENERO Dummy que assume valor 1 quando indivíduo

do sexo masculino e 0 feminino Brasil Jr. Comportamento

empreendedor dos docentes

Variável latente mensurada por meio de 12 indicadores. Variável padronizada. Detalhes na seção 4.2.

Brasil Jr.

Auto avaliação do

comportamento empreendedor

Variável latente mensurada por meio de 12 indicadores. Variável padronizada. Detalhes na seção 4.2.

Brasil Jr.

3.4. Estratégia de identificação

O desenho de pesquisa adotado no presente estudo foi o quase-experimento (GERTLER; MARTINEZ; PREMAND; RAWLINGS; VERMEERSCH, 2015). A principal característica deste tipo de desenho de pesquisa é que os indivíduos não são aleatorizados para um grupo de tratamento e um grupo de controle. É importante destacar que, o fato de existir uma legislação que regulamenta e organiza as atividades das empresas juniores e que suas estruturas organizacionais apresentam considerável grau de uniformização, minimiza as possíveis diferenciações no tratamento dos grupos. Além deste fato, as comparações realizadas entre os grupos foram dentro dos mesmos cursos de graduação.

No contexto do presente estudo, não foi possível alocar aleatoriamente os alunos para formar um grupo de alunos que participou da EJ (tratamento) e outro grupo que não participou da EJ (controle). Como consequência, podem existir diferenças significativas entre estes dois grupos que podem influenciar tanto na participação do aluno na EJ quanto na mudança na intenção de empreender ao longo do tempo (GERTLER et. al., 2015). Antes

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mesmo de entrar na EJ, por exemplo, o grupo de alunos tratados pode ter maior intenção de empreender e, entre eles, maior proporção de alunos que já tiveram o próprio negócio quando comparado ao grupo de controle devido à pré-disposição natural ao risco, à necessidade de produzir além dos estudos, à busca de novos desafios, etc. Logo, as diferenças entre tratados e controles podem estar relacionadas à existência de diferenças pré-tratamento e não podem ser atribuídas a participação na EJ. Ou seja, o tratamento pode ser considerado endógeno, o que compromete a inferência causal que se pretende estabelecer no presente estudo (GERTLER

et. al., 2015).

Para mitigar o problema de endogeneidade, os grupos de tratamento e controle foram pareados em características observáveis e características não observáveis (mensuradas por meio de escalas). O pareamento permitiu construir um grupo de controle ao identificar, para cada aluno participante da EJ, um aluno que não participou da EJ (ou um conjunto de alunos) que possuía a maior quantidade possível de características semelhantes (GERTLER et. al., 2015).

Os grupos de tratamento e controle foram pareados nas seguintes características: universidade; curso de graduação; sexo; dummy que indica se o aluno teve ou tem negócio;

dummy que indica se o aluno participou ou não de uma outra entidade estudantil (ex.

ENACTUS, AIESEC, etc.); percepção sobre o comportamento empreendedor dos docentes; auto avaliação do aluno quanto ao comportamento empreendedor; auto avaliação do aluno sobre o nível de soft skills e a variável que indica a vontade do alunos de empreender antes de entrar na universidade.

O algoritmo utilizado no pareamento foi o psmatch2, disponível no pacote estatístico Stata 14. Este algoritmo estimou um modelo de regressão logística cuja variável dependente é a dummy que indica a participação ou não na EJ e como variáveis independentes as características dos alunos. Em seguida, os valores previstos da regressão estimada (ou

propensity score) foi utilizado para o pareamento dos grupos. Idealmente, os alunos do grupo

de tratamento e controle com propensity scores similares devem ser pareados, uma vez que são os mais parecidos nas variáveis incluídas no modelo de regressão logística (GERTLER et.

al., 2015). Por fim, o algoritmo utiliza a distância de Mahalanobis para encontrar nos dois

grupos os alunos mais parecidos em termos de propensity score.

Considerando os grupos pareados, o efeito da EJ na intenção de empreender foi obtido a partir do seguinte modelo de regressão:

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Em que: 𝑌𝑖 = diferença entre a intenção de empreender antes de entrar na universidade e a vontade de empreender no momento da coleta de dados para os alunos pareados; 𝑑𝐸𝐽= variável dummy que assumiu valor 1 para o aluno que participou em algum momento da EJ durante a universidade e 0 para o aluno que não participou da EJ e que foi pareado e; 𝛽0 e 𝛽1 são parâmetros estimados por meio do Método de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO). A equação 1 permitiu testar a hipótese 1 deste estudo.

Para testar a hipótese 2, que prevê que a participação na EJ tem um efeito diferente sobre a intenção de empreender quando se compara alunos do sexo masculino e feminino, um modelo de interação foi estimado conforme a equação 2:

𝑌𝑖 = 𝛽0+ 𝛽1𝑑𝐸𝐽 + 𝛽2𝑆𝑒𝑥𝑜 + 𝛽3𝑑𝐸𝐽∗ 𝑆𝑒𝑥𝑜 + 𝜀 (2)

Em que: 𝑆𝑒𝑥𝑜=1 se o aluno do sexo masculino e 0 do sexo feminino; 𝑑𝐸𝐽 ∗ 𝑆𝑒𝑥𝑜 = a

multiplicação entre as variáveis dummy 𝑑𝐸𝐽 e 𝑆𝑒𝑥𝑜; 𝛽0 , 𝛽1, 𝛽2 𝑒 𝛽3 são parâmetros estimados por MQO. Vale ressaltar que o parâmetro estimado 𝛽3 capta a diferença no efeito da EJ sobre

a intenção de empreender de alunos do sexo masculino e alunos do sexo feminino. Caso 𝛽3 apresente significância estatística (valor -p<5%) a hipótese 2 não será rejeitada.

De maneira similar, a hipótese 3 foi testada a partir da equação 3:

𝑌𝑖 = 𝛽0+ 𝛽1𝑑𝐸𝐽 + 𝛽2𝑑_𝑛𝑒𝑔ó𝑐𝑖𝑜 + 𝛽3𝑑𝐸𝐽∗ 𝑑_𝑛𝑒𝑔ó𝑐𝑖𝑜 + 𝜀 (3)

Em que: 𝑑_𝑛𝑒𝑔ó𝑐𝑖𝑜= assume valor 1 se o aluno tem ou teve negócio durante o período da universidade e 0 caso contrário.

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4. RESULTADOS

4.1. Estatística descritiva da amostra

A amostra analisada contou com 3.749 alunos dos quais 53,3% participaram da EJ durante a graduação. Além da EJ, cerca de 65% dos alunos também participaram de outras entidades estudantis (62% participou da EJ x 67% não participou da EJ).

Cerca de 51,7% são do sexo masculino e 21% dos alunos declararam ter ou ter tido um negócio durante a graduação. Estes números não diferem significativamente entre os alunos do grupo de tratamento e controle.

A Figura 2 mostra que o incremento da vontade de empreender do grupo de alunos que participou da EJ é maior do que o incremento do grupo de controle (Mtr=1,79 x

Mctrl=1,15, t=13,3, p<0,001). Porém estes resultados devem ser interpretados com cautela,

uma vez que podem existir diferenças em característica entre os dois grupos que podem explicar esta diferença encontrada, como por exemplo, se a intenção de empreender mudar significativamente entre as universidades é necessário comparar tratados e controles dentro da mesma universidade. O pareamento implementado na seção seguinte permitiu controlar estas diferenças entre os grupos e contribuiu para aumentar a confiança na inferência causal estudada.

Figura 2 - Distribuição da variável dependente para os participantes e não participantes da EJ -4 -2 0 2 4 6 D ife re nç a e nt re v o nt a de a tu al e a nt e s d e e nt ra r na u n iv ers id ad e

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4.2. Análise fatorial exploratória

A utilização do comportamento empreendedor dos docentes e da auto avaliação do comportamento empreendedor teve como intuito considerar e contribuir com a Teoria do Comportamento Planejado (AJZEN, 1991), principalmente em relação a duas das três variáveis independentes utilizadas no modelo de Ajzen (1991), quais sejam: normas subjetivas (comportamento empreendedor dos docentes) e percepção de controle individual (auto avaliação do comportamento empreendedor e dos soft skills). A intepretação que se propõe neste estudo é de que o comportamento empreendedor do docente possa gerar no aluno uma pressão favorável ou não para que sua intenção de empreender aumente. E que a autoavaliação do comportamento empreendedor esclareça um determinado comportamento relativo à percepção de dificuldade ou facilidade para desenvolvê-lo. Neste sentido, se torna fundamental o controle das diferenças entre tratados e controles nas variáveis comportamento empreendedor dos docentes e auto avaliação sobre o comportamento empreendedor.

Duas escalas foram utilizadas para mensurar as variáveis supracitadas. A primeira teve o objetivo de mensurar o comportamento empreendedor dos docentes. Foi solicitado aos alunos que respondessem para os doze itens listados no Quadro 2 a seguinte pergunta: “O quanto as seguintes características estão presentes nos PROFESSORES da sua Universidade?”. As opções de resposta variaram de pouco presente (1) a muito presente 5).

Quadro 2 - Itens da escala comportamento empreendedor dos docentes

Código da variável Descrição da variável Fonte CE_PDOC_Inconform Inconformada com a realidade e disposta a

transformá-la Brasil Jr.

CE_PDOC_Visão Com visão para oportunidades Brasil Jr. CE_PDOC_Pinov Que tem pensamento inovador Brasil Jr. CE_PDOC_Crealiza Capacidade de realização Brasil Jr. CE_PDOC_Criscos Com coragem para tomar riscos Brasil Jr.

CE_PDOC_Curi Curiosa Brasil Jr.

CE_PDOC_Comun Com facilidade para comunicar ideias Brasil Jr.

CE_PDOC_Socia Sociável Brasil Jr.

CE_PDOC_Criat Criativa Brasil Jr.

CE_PDOC_Planej Que planeja suas atividades Brasil Jr. CE_PDOC_Experi Com experiência de Mercado Brasil Jr. CE_PDOC_ApoiaIn Que apoia iniciativas empreendedoras Brasil Jr. CE_PDOC_MetodApr Inovar nas metodologias de aprendizado Brasil Jr.

Já a segunda escala, teve o objetivo de mensurar a auto percepção dos alunos quanto ao seu próprio comportamento empreendedor. Foi solicitado aos alunos que respondessem

(35)

para os doze itens listados no Quadro 3 a seguinte pergunta: “O quanto você se considera uma pessoa”. As opções de resposta variaram de concordo pouco (1) a muito (5).

Quadro 3 - Itens da escala auto percepção quanto ao comportamento empreendedor dos discentes

Código da variável Descrição da variável Fonte CE_PDISC_AU_Inconform Inconformada com a realidade e disposta a

transformá-la

Brasil Jr CE_PDISC_AU_Pinov Que tem pensamento inovador Brasil Jr

CE_PDISC_AU_Criat Criativa Brasil Jr

CE_PDISC_AU_Curi Curiosa Brasil Jr

CE_PDISC_AU_Visão Com visão para oportunidades Brasil Jr CE_PDISC_AU_ApoiaIn Que apoia iniciativas empreendedoras Brasil Jr CE_PDISC_AU_Criscos Com coragem para tomar riscos Brasil Jr CE_PDISC_AU_Comun Com facilidade para comunicar ideias Brasil Jr CE_PDISC_AU_Crealiza Capacidade de realização Brasil Jr CE_PDISC_AU_Experi Com experiência de Mercado Brasil Jr

CE_PDISC_AU_Socia Sociável Brasil Jr

CE_PDISC_AU_Planej Que planeja suas atividades Brasil Jr

A técnica de análise fatorial exploratória foi utilizada para a mensuração das variáveis latentes descritas acima. A qualidade da mensuração foi avaliada pela análise dos critérios de validade convergente, confiabilidade e validade discriminante. Como critério de validade convergente, todas as cargas fatoriais associadas a um fator (correlação entre os indicadores e a variável latente extraída) devem ser superiores a 0,6. O cálculo do alfa de Cronbach permitiu avaliar a confiabilidade (consistência interna) dos construtos. Valores do alfa superior a 0,6 indicam adequada confiabilidade do construto. Por fim, o critério de Fornell e Larcker (1981) foi utilizado para avaliar a validade discriminante dos construtos. Por esse critério, raiz quadrada da AVE (fração da variância extraída) deve ser maior do que qualquer correlação envolvendo a variável latente analisada.

O resultado da estimação do modelo de análise fatorial encontra-se nas Tabela 4 e Tabela 5.

Tabela 4 - Matriz de correlação das variáveis latentes

Dimensão Código da variável Descrição da variável Carga

Fatorial Indicadores

Docentes - Comportamento empreendedor

CE_PDOC_Inconform Inconformada com a realidade e disposta a

transformá-la 0,81

AVE = 0,60; Alfa de Cronbach=

0,94 CE_PDOC_Visão Com visão para oportunidades 0,82

CE_PDOC_Pinov Que tem pensamento inovador 0,84 CE_PDOC_Crealiza Capacidade de realização 0,73 CE_PDOC_Criscos Com coragem para tomar riscos 0,81

Imagem

Tabela 2 - Número de universidades, por tipo de universidade e grau acadêmico
Tabela 3 - Número de matriculados em cursos presenciais de universidades, por região e gênero
Figura 1 - Tratamento dos dados para definição da amostra final
Figura 2 - Distribuição da variável dependente para os participantes e  não participantes da EJ
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Referências

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Fonte: elaborado pelo autor. Como se pode ver no Quadro 7, acima, as fragilidades observadas após a coleta e a análise de dados da pesquisa nos levaram a elaborar

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