FACULDADE de CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO de MATEMÁTICA
Problemas de Máximos e Mínimos
Belmiro da Silva Ferreira Mestrado Matemática para Professores Lisboa 2012FACULDADE de CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO de MATEMÁTICA
Problemas de Máximos e Mínimos
Belmiro da Silva Ferreira Dissertação orientada pela Professora Doutora: Ana Cristina Barroso Mestrado Matemática para Professores Lisboa 2012
Os problemas de máximos e de mínimos suscitam grande interesse aos matemáticos, principalmente por resultarem muitas vezes de situações do dia a dia. São apresentados problemas clássicos e outros visando percorrer diversas áreas da matemática, sem nos distanciarmos da sua aplicação ao ensino da matemática no secundário. As resoluções apresentadas, baseadas numa pequena fundamentação teórica, têm a preocupação de abarcar diferentes abordagens e proporcionar o relacionamento de conceitos.
Palavras‐chave: máximo, mínimo, derivada, otimização.
Problems of maxima and minima are very interesting to mathematicians, in part because they arise in everyday situations. We present some classical problems and others spanning various areas of mathematics, keeping in mind their application in the teaching of secondary school mathematics. The solutions presented here, for which we provide a short theoretical basis, intend to cover different approaches and allow the possibility of relating concepts.
Keywords: maximum, minimum, derivative, optimization.
Índice
Introdução ... 1 1. Preliminares ... 3 1.1. Funções de uma variável ... 3 1.2. Funções de duas variáveis ... 15 1.2.1. Extremos livres ... 17 1.2.2. Extremos condicionados ... 18 2. Reflexão e Refração ... 19 2.1. Problema de Héron ... 19 2.1.1. Resolução Geométrica ... 20 2.2. Fenómeno da refração ... 21 3. Problema de Dido ... 23 3.1. Área de um polígono regular em função do número de lados ... 27 4. Área de uma região triangular ... 30 4.1. Triângulo de área máxima e perímetro fixo ... 31 4.1.1. Estudo usando uma função de uma só variável ... 31 4.1.2. Estudo usando uma função de duas variáveis ... 34 5. As abelhas e a matemática ... 37 5.1. Porque é que os alvéolos das abelhas são hexagonais? ... 38 5.2. Porque razão o fundo dos alvéolos não é plano? ... 39 5.2.1. Cálculo do ângulo diedro dos losangos, quando a área é mínima. ... 42 5.2.2. Ângulo de inclinação dos losangos do topo ... 43 6. Produto máximo ... 44 6.1. Soma fixa ... 44 6.1.1. Estudo usando uma função de uma só variável. ... 44 6.1.2. Estudo usando uma função de duas variáveis ... 44 6.2. Soma dos quadrados fixa ... 45 6.2.1. Estudo usando uma função de uma só variável ... 45 6.2.2. Estudo usando uma função de duas variáveis ... 46 7. Outros problemas ... 49 8. Médias ... 70 8.1. Médias para mais de dois números ... 71 8.2. Aplicações das desigualdades das médias ... 73 Bibliografia ... 78
Apresento os meus agradecimentos à Professora Doutora Ana Cristina Barroso por sempre se ter mostrado bastante interessada e disponível, pelo que, a sua orientação foi importantíssima na elaboração deste meu trabalho.
Introdução
Os problemas de máximos e de mínimos desde de muito cedo despertaram a atenção dos matemáticos. Por exemplo, os gregos no século III a.C. já sabiam que de todas as curvas com igual perímetro, a que envolvia maior área era o círculo. Contudo estes problemas eram resolvidos utilizando processos engenhosos, não havendo uma forma sistemática de os solucionar. Só no século XVII, Fermat desenvolveu o primeiro método geral para a determinação de máximos e mínimos. No entanto este método era um procedimento algorítmico desprovido de qualquer fundamentação demonstrativa. A generalização da resolução deste tipo de problemas aparece com o trabalho de Newton e Leibniz no desenvolvimento do Teorema Fundamental do Cálculo.
O interesse deste tipo de problemas reside sobretudo na forma como são adaptados ao quotidiano e a situações da vida real, permitindo modular e interpretar fenómenos à nossa volta. Com inúmeras aplicações em diversas áreas, como a Física ou Engenharia, têm também uma grande importância a nível pedagógico. Aplicáveis a vários conteúdos da matemática, para além de desenvolver o estudo do cálculo diferencial, proporcionam trabalhar conceitos relativos a funções, trigonometria, geometria entre outros.
Após uma pequena revisão de conceitos teóricos que permitem e fundamentam a resolução dos problemas de máximos e mínimos, foram selecionados diversos problemas, visando cobrir uma grande área de conteúdos matemáticos e diferentes formas de abordagem. De referir que a grande maioria dos problemas apresentados são de aplicação direta ou de fácil adaptação ao ensino secundário, nomeadamente 12º ano. Algumas das resoluções são enriquecidas com mais do que uma abordagem e por vezes aparece uma resolução usando funções de duas variáveis.
Por fim, fugindo um pouco ao método clássico, são aplicadas propriedades das médias ao cálculo de soluções ótimas de alguns problemas, que utilizando outros métodos seriam de difícil resolução.
1. Preliminares
1.1. Funções de uma variável
Consideremos uma função real
f x
( )
definida num intervalo I . A taxa de variação média da função entre dois pontos A a f a
,
e M x f x
,
com,
a x I e
x a
, é dada porf x
f a
x a
A taxa de variação da função no ponto A é o limite quando x a da razão incremental
f x
f a
x a
A taxa de variação média da função entre dois pontos A e M é o declive da reta AM , secante ao gráfico da função nos pontos A e M . A reta
t
cujo declive é igual aolim
x a
f x
f a
x a
, diz‐se tangente ao gráfico da função no ponto A. Definição 1.1 Diz‐se que uma funçãof
, real de variável real, definida numa vizinhança de um ponto a, é diferenciável em a, se existe e é finito o limite:lim
x a
f x
f a
x a
. A este limite chama‐sederivada de
f
no ponto a e representa‐se por
0lim
lim
x a hf x
f a
f a h
f a
f a
x a
h
.Diz‐se que
f
é derivável ou diferenciável à esquerda em a se existe e é finito o limite:
0lim
lim
e x a hf x
f a
f a h
f a
f a
x a
h
.Diz‐se que
f
é derivável ou diferenciável à direita em a se existe e é finito o limite:
0lim
lim
d x a hf x
f a
f a h
f a
f a
x a
h
.Definição 1.2 Diz‐se que a função
f D
:
é uma função derivável ou diferenciável no aberto D se for derivável em todo o ponto de D. À nova funçãof D
:
,x
f x
( )
, chama‐se derivada def
.
Nota 1.3 Se
f
é diferenciável num ponto a, o declive da reta tangente ao gráfico def
no ponto
,
A a f a é igual a f a
. A reta tangente ao gráfico nesse ponto tem por equação
y f a f a x a .
Proposição 1.4 Se
f D
:
é uma função derivável ema
int
D
, entãof
é contínua nesse ponto.
Demonstração.
Para
x D
, comx a
temosf x
f a
f x
f a
(
x a
)
x a
, pelo que
lim ( )
( )
lim
(
)
( ) 0 0
x a x af x
f a
f x
f a
x a
f a
x a
. Ou seja lim ( ) ( ) xa f x f a , que prova que a funçãof
é contínua em a.□Proposição 1.5 Uma função f x
definida num intervalo aberto I é diferenciável num pontoa I
se e só se existe um númerol
tal que se tem numa vizinhança de af x
f a
l x a
r x (1.1) em que r x
é uma função contínua e nula no ponto a (infinitésimo no ponto a) tal que
lim
0
x ar x
x a
(1.2) O númerol
é único e igual a f a
.Demonstração.
Nas condições do enunciado de (1.1) deduz‐se que para
x a
se tem,f x
f a
l
r x
x a
x a
, donde em consequência de (1.2), vemlim
x af x
f a
l
x a
, o que prova quef
é diferenciável em a e quef a
l
.Reciprocamente, se f x
é diferenciável no ponto a, escrevendo
r x f x f a f a x a , obtemos (1.1) com l f a
. A função r x
verifica as condições da proposição, pois é diferença de duas funções contínuas, logo é uma função contínua, é nula no ponto a e verifica (1.2), uma vez quelim
lim
0
x a x a
r x
f x
f a
f a
x a
x a
.□Lemos a relação (1.2) dizendo que r x
é desprezável ou muito pequena em comparação com x a numa vizinhança de a e escreve‐se, usando a notação de Landau:r x
o x a
. (1.3)As relações (1.1) e (1.2) da proposição 1.5 podem sintetizar‐se numa única igualdade:
f x
f a
f a x a
o x a
. (1.4)Teorema 1.6 Sejam
f g D
, :
funções deriváveis ema
int
D
; então 1.f g
é derivável em a e
f g
( )a f a( )g a( ); 2.f g
é derivável em a e
f g
( )a f a g a( ) ( )g a f a( ) ( ); 3.f
n é derivável em a e
f
n
( )
a
nf
n1( ) ( ) ,
a f a
n
; 4. Seg a
( ) 0
,f
g
é derivável em a e 2 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) f f a g a g a f a a g g a .Demonstração. 1.
( ) lim
lim
lim
lim
( )
( )
x a x a x a x af
g x
f
g a
f x
g x
f a
g a
f
g
a
x a
x a
f x
f a
g x
g a
f a
g a
x a
x a
2. Queremos mostrar que:
f g
( )a f a g a( ) ( )g a f a( ) ( )
( ) lim
lim
x a x af g x
f g a
f x g x
f a g a
f g
a
x a
x a
Adicionando e subtraindo f a g x
ao numerador, vem
( ) lim lim lim x a x a x a f x g x f a g x f a g x f a g a f g a x a f x f a g x g x g a f a x a f x f a g x g a g x f a f a g a g a f a x a x a uma vez que lim
xag x g a , porque g é derivável em a e por consequência é contínua
em a.□ 3. Vamos provar por indução que
f
n
( )
a
nf
n1( ) ( ) ,
a f a
n
Paran
1
f ( ) 1a f0
a f a f a
Proposição Verdadeira Hipótese de indução Suponhamos para um certop
, que:
f
p
( )
a
p f
p1( ) ( )
a f a
Queremos mostrar que
f
p1
( )
a
p
1
f a f a
p( ) ( )
Usando a propriedade 2 tem‐se
1 . . 1 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 1 ( ) ( ). p p p p H I p p p p p f a f f a f a f a f a f a f a f a f a p f a f a f a f a p f a f a p f a f a 4. Como g a
0 e g é contínua em a existe um aberto I contendo a tal que g x
0,x I
D
.
( ) lim
lim
lim
x a x a x af x g a
f a g x
f
f
x
a
g x g a
f
g
g
a
g
x a
x a
f x g a
f a g x
g x g a x a
adicionando e subtraindo f x g x
ao numerador, vem:
2
( ) lim
lim
lim
x a x a x af x g a
f x g x
f x g x
f a g x
f
a
g
g x g a x a
f x
g a
g x
f x
f a
g x
g x g a x a
f x
f a g x
g x
g a f x
f a g a
g a f a
g x g a x a
g x g a x a
g a
uma vez que lim
xa f x f a e limxag x
g a
, porquef
e g são deriváveis em a epor consequência contínuas em a.□
Proposição 1.7 (Derivação da função composta). Sejam
f
e g funções reais definidas em intervalos abertosJ
e I de , respetivamente, tais g I
J. Então, se g é diferenciável num ponto0
t
I
ef
é diferenciável no ponto correspondente x0 g t
0 ,f g
é diferenciável emt
0 e
f g
t0 f x
0 g t 0 .
Demonstração.
Como f x
é diferenciável emx
0, pode‐se escrever
0 0
0 0
0
0 0
0
f x f x f x x x x x
x , em que
0
lim
0
xx
x
.Substituindo x por g t
, vem
0 0 0 0 0 0 0f g t
f g t
f x
g t
g t
g t
g t
g t
f g t
f g t
f x
g t
g t
g t
dividindo ambos os membros port t
0 obtemos
0
0 0 0 0 f g t f g t g t g t f x g t t t
t t passando ao limite quandot
t
0, vem
0 0 0 0 0 0 0 lim lim t t t t f g t f g t g t g t f x g t t t
t t ou seja
f g
t0 f x g t
0 0 , uma vez que
0 lim 0 tt
g t por continuidade de g emt
0. □ Proposição 1.8 (Derivação da função inversa). Sejaf
uma função diferenciável e injetiva definida num intervalo I . Sejax
0
I
tal quef x
( ) 0
0
; entãof
1:
f I
I
é diferenciável em0
( )
0y
f x
e
1 0 01
f
y
f x
. Demonstração. Sejaf
uma função diferenciável e injetiva definida num intervalo I . Seja y f x
, comof
1 é injetiva se y y0 f1
y f1
y0 x0. Então podemos escrever
1 1 0 1 0 0 0 1 1 1 0 01
1
f
y
f
y
y y
y y
f f
y
f x
f
y
f
y
f
y
x
.Como
f
é diferenciável, logo contínua e está definida num intervalo, a sua inversaf
1 é contínua e portanto y y0 f1
y x0.
Passando ao limite temos:
0 0 1 1 0 1 0 0 0 1 01
1
lim
lim
y y y yf
y
f
y
y y
f f
y
f x
f x
f
y
x
□Definição 1.9 Seja
f D
:
ea D
. Diz‐se quef
tem em a um máximo local (ou relativo) se existe
0
tal que f x
f a
, x V a
D. Do mesmo modo, diz‐se quef
tem em a um mínimo local (ou relativo) se existe
0
tal que f x
f a
, x V a
D.Diz‐se que
f
tem em a um máximo absoluto se f x
f a
,
x D
. Do mesmo modo, diz‐se quef
tem em a um mínimo absoluto se f x
f a
,
x D
.Se a função possui um máximo ou mínimo (relativo ou absoluto) dizemos que a função tem um extremo (relativo ou absoluto).
Proposição 1.10 Seja
f
uma função diferenciável emx
0.1) Se f x
0 0 então f x
0h
f x
0 f x
0h
,
h
0
suficientemente pequeno. 2) Se f x
0 0 então f x
0h
f x
0 f x
0h
,
h
0
suficientemente pequeno. Demonstração. 1) Por definição tem‐se que
0lim
k 0
0
0f x
k
f x
f x
k
.Como f x
0 0 usando a definição de limite sabemos que existe
0
tal que se 0 k
então f x
0 k
f x
0 f x
0 f x
0 k dondef x
0f x
0k
f x
0f x
0f x
00
f x
0k
f x
02
f x
0k
k
. Em particular,f x
0k
f x
00
k
, 0 k
. Tomando0 h
tem‐se 0 h
e 0 h
logo
0
0
0 00
f x
h
f x
f x
h
f x
h
e
0
00
0
0f x
h
f x
f x
h
f x
h
. A demonstração de 2) faz‐se de forma análoga. □Teorema 1.11 (Fermat) Seja
f D
:
uma função com derivada ema
int
D
. Sef
tem em a um extremo local, então f a
0.
Demonstração.
Suponhamos que
f
tem em a um máximo local (o outro caso é análogo).Como
a
int
D
, existe
0
tal que se x a
, entãox D
e f x
f a
. Portanto, paraa x a
temosf x
f a
0
x a
. Logo, d
lim
0
x af x
f a
f a
x a
. (1.5) Por outro lado, paraa
x a
temosf x
f a
0
x a
. Portanto, e
lim
0
x af x
f a
f a
x a
. (1.6) Mas como, por hipótese, existe f a
, temos f
a fd
a f ae
. De (1.5) e (1.6) vem f a
0.□Note‐se que o recíproco deste resultado é falso. Por exemplo, a função
f x
x
3 verifica
0
0
f
mas sendo uma função estritamente crescente não tem extremo emx
0
. Teorema 1.12 (Weierstrass) Uma função contínua num intervalo fechado
a b, , tem máximo e mínimo absolutos nesse intervalo.Teorema 1.13 (Rolle) Seja f : ,
a b , coma b
, uma função contínua no intervalo limitado e fechado
a b, e com derivada finita em todos os pontos do seu interior
a b, . Se
f a f b então existe pelo menos um ponto
a b, tal que f
0.Demonstração.
Sendo
f
contínua no intervalo fechado e limitado
a b, ,f
tem máximo e mínimo nesse intervalo pelo Teorema de Weierstrass. Se o máximo e o mínimo são atingidos nos extemos do intervalo, como
f a f b , tem‐sef
constante e portanto para qualquer c
a b, , f c
0. No caso do máximo ou do mínimo ser atingido num ponto interior
a b, tem‐se pelo teorema de Fermat que f
0. □Teorema 1.14 (Valor Médio de Lagrange) . Seja f : ,
a b , coma b
, uma função contínua no intervalo limitado e fechado
a b, e com derivada finita no interior
a b, . Então, existe pelo menos um ponto c
a b, tal que f b
f a
b a f c
.
Geometricamente o teorema do valor médio estabelece que se uma função
f
for contínua em
a b, e derivável em
a b, , então existe pelo menos um ponto c entre a eb
onde a tangente ao gráfico def
é paralela ao segmento de reta que une os pontos A a f a
,
e
,
B b f b . Demonstração. Sejag x
f x
f b
f a
x
b a
.Devido às hipóteses sobre
f
resulta que a função g é contínua em
a b, e diferenciável em
a b, . Tem‐se ainda que
f b
f a
f b
f a
g b
f b
b
f b
b a
a
b a
b a
f b
f a
f b
f a
f b
f a
f b
b a
a
f a
a g a
b a
b a
b a
portanto o Teorema de Rolle garante que c
a b, tal queg c
f c
f b
f a
0
b a
. Logo f b
f a
f c b a
□.Corolário 1.15 Seja f : ,
a b uma função contínua em
a b, e diferenciável em
a b, . Se f x
0, x
a b, então f x
é constante no intervalo
a b, .Demonstração.
Para x
a b, , a funçãof
satisfaz as condições do teorema de Lagrange em
a x, . Então pelo referido teorema, existe pelo menos um ponto c
a x, tal que f x
f a
x a f c
. Mas por hipótese f x
0, x
a b, , logo f c
0 e como tal f x
f a
, x
a b, . Por continuidade def
emb
conclui‐se quef
é constante em
a b, .□
Corolário 1.16 Seja f : ,
a b uma função contínua em
a b, e diferenciável em
a b, . 1) Então f x
0, x
a b, f é crescente em
a b, .
0 f x , x
a b, f é decrescente em
a b, . 2) Tem‐se ainda f x
0, x
a b, f é estritamente crescente em
a b, .
0 f x , x
a b, f é estritamente decrescente em
a b, . Demonstração.
Sejaf
uma função nas condições do enunciado e tomemos x y,
a b, , com x y. Pelo Teorema de Lagrange
c
x y
,
tal que f y
f x
y x f c
.Então f c
0 f y
f x
0 (respetivamente f c
0 f y
f x
0) ou seja,f
é crescente (respetivamente estritamente crescente) em
a b
,
.A demonstração para o caso decrescente é análoga.
Seja f : ,
a b uma função monótona crescente, isto é,
, , ,
x y a b x y f x f y . Como
f
é derivável em c
a b, ef x
f c
0
x c
,para
x c
, conclui‐se que
lim
0
x c
f x
f c
f c
x c
. Do mesmo modo, sef
é monótona decrescente e derivável em c
a b, , f c
0. □ Observações 1. O recíproco de 2) do último corolário é falso. Tome‐se mais uma vez como exemplo a função 3( )
f x
x
, que é estritamente crescente. No entanto f
0 0.2. A hipótese da continuidade de
f
no intervalo fechado
a b, é muito importante, pois se não se verificar o resultado é falso, como podemos ver no seguinte exemplo:
1 , se 0
1
1 , se
1
x
x
f x
x
1 0f x para todo x
0,1 e no entanto,f
não é crescente em
0,1 . O corolário não pode ser aplicado porque f x
não é contínua no ponto 1.Resulta imediatamente do corolário anterior que:
Teorema 1.17 Seja
f
uma função diferenciável numa vizinhança do ponto c tal que f c
0. Se existe
0
tal que:i) f x
0, x
c
,c
e f x
0, x
c c,
então f c
é um máximo local.ii) f x
0, x
c
,c
e f x
0, x
c c,
então f c
é um mínimo local.iii) f x
tem o mesmo sinal em
c
,c
c c,
então f c
não é extremo local.Teorema 1.18 (Valor Médio de Cauchy) Sejam f g a b, : ,
, coma b
, funções contínuas no intervalo limitado e fechado
a b, e com derivada finita em
a b, . Então, se g x
0,
, x a b , existe pelo menos um ponto c
a b, tal que
f b f a f c g b g a g c . Demonstração.Note‐se que g b
g a
0, porque caso contrário pelo teorema de Rolle existiria c
a b, tal que g c
0. Seja
f b f a h x f x g x g b g a . Tem‐se
f b
f a
f b
f a
h b
f b
g b
f b
g b
g a
g a
g b
g a
g b
g a
f b
f a
f b
f a
f b
f b
f a
g a
f a
g a
h a
g b
g a
g b
g a
h
é contínua em
a b, e diferenciável em
a b, , porquef
e g são contínuas em
a b, e diferenciáveis em
a b, . Então pelo teorema de Rolle, existe c
a b, tal que
0 f b f a h c f c g c g b g a . Logo
0
f b f a f b f a f b f a f c f c g c g c f c g b g a g b g a g b g a g c □.Definição 1.19 Seja
f D
:
uma função diferenciável em D e seja aint
D . Sef
é diferenciável em a então diz‐se quef
é duas vezes diferenciável em a. A segunda derivada def
em a representa‐se por f
a e é dada por:
lim
x af x
f a
f
a
x a
. Se existem , ,..., n 1f f f em D e fn1 é derivável em a, então diz‐se que
f
tem derivada de ordem n em a:
1
1
lim
n n n x af
x
f
a
f
a
x a
.A função
f
diz‐se de classeC
n em D e escreve‐se f C Dn
, se todas as derivadas def
até à ordem n forem contínuas em D. Proposição 1.20 Seja f : ,
a b uma função duas vezes diferenciável num ponto c
a b, tal que f c
0. Então, 1) se f 0
c c é ponto de mínimo local. 2) se f 0
c c é ponto de máximo local. Demonstração. 1) Suponhamos que f
c 0. Pelo corolário 1.16 aplicado af
,
0
tal que, se 1 2c
x
c x
c
então f x
1 f c
f x
2 . Como f c
0 tem‐se
0f x , x
c
,c
e f x
0, x
c c,
, logo f c
é mínimo local, conforme o teorema 1.17. Analogamente se provaria 2). □1.2. Funções de duas variáveis
Definição 1.21 Seja
f D
:
2
uma função definida numa parte D de
2. Seja
a b,
um ponto interior a D. Diz‐se quef
tem derivada parcial em ordem a x no ponto
a b,
quando existe
0,
,
,
lim
hf a h b
f a b
f
a b
x
h
, e ao número real
, f a b x chama‐se derivada parcial def
em ordem a x no ponto
a b,
.Pode‐se ainda definir derivada parcial de
f
em ordem a y no ponto
a b,
, como:
0,
,
,
lim
kf a b k
f a b
f
a b
y
k
.As derivadas parciais de 2ª ordem de uma função f x y
,
de duas variáveis, são representadas pelos símbolos: 2 2f
f
x
x x
, 2f
f
x y
x y
, 2f
f
y x
y x
, 2 2f
f
y
y y
.Definição 1.22 Uma função
f A
:
2
, diz –se de classeC
0 no aberto A quandof
for contínua em A; diz‐se quef
é de classeC
k em A
k
1, 2,3,...
, e escreve‐se f C Ak
, quando existirem todas as derivadas parciais de ordem
k
def
em A e forem todas contínuas emA;
f
diz‐se de classeC
em A, quando f C Ak
para qualquer k
0,1, 2,3,...
.Teorema 1.23 (Schwarz) Se
f A
:
2
é de classeC
2 no aberto A, então2
f
2f
x y
y x
em todos os pontos de A.
Definição 1.24 Seja
f D
:
2
uma função definida numa parte D de
2 e seja
a b,
um ponto interior a D. Suponhamos ainda quef
tem derivadas parciais de primeira ordem em
a b,
. Então chama‐se gradiente def
no ponto
a b,
ao vetor cujas componentes são as 2 derivadas parciais de primeira ordem def
calculadas no ponto
a b,
. Representa‐se por
grad f
a b, ou
, f a b . Assim,
,
f
, ,
f
,
f a b
a b
a b
x
y
Os pontos onde o gradiente def
se anula designam‐se pontos de estacionaridade def
.Definição 1.25 Seja
f D
:
2
uma função definida numa parte D de
2 e seja
a b,
um ponto interior a D. Diz‐se quef
é diferenciável em
a b,
se e só se existe
2 tal que:
1, 2
,
1, 2
1, 2
f a h b h f a b
h h o h h , em que a função o h h
1, 2
, satisfaz a condição
1 2 1 2 , 0,0 1 2 , lim 0 , h h o h h h h . Pode‐se mostrar que existe um único vetor
2 nestas condições e que
f a b
, .1.2.1. Extremos livres As noções de extremo apresentadas na definição 1.9 generalizam‐se de forma natural às funções de duas variáveis. O resultado seguinte é consequência do teorema 1.11.
Teorema 1.27 (Fermat) Seja
f D
:
2
, uma função diferenciável no ponto
a b,
, interior a D. Então, sef
tem um extremo em
a b,
tem‐se f a b
, 0.
Definição 1.28. Seja
f D
:
2
e
a b, intD, um ponto de estacionariade def
. Sef
não tem um extremo em
a b,
, então
a b,
diz‐se um ponto de sela.Apresentamos em seguida exemplos de gráficos de funções que possuem um mínimo, um máximo e um ponto de sela em (0,0). A função f x y1
, x2y2 possui um mínimo em (0,0) A função f x y2
,
x2y2
possui um máximo em (0,0) A função f x y3
, x2y2 possui um ponto sela em (0,0)Definição 1.29 Se
f
for uma função de classeC
2 no ponto
a b,
, chama‐se matriz hessiana def
em
a b,
e representa‐se por H a b
, à matriz dada por
2 2 2 2 2 2,
,
,
,
,
f
f
a b
a b
x
x y
H a b
f
f
a b
a b
y x
y
. Trata‐se de uma matriz quadrada do tipo 2 2 , simétrica, conforme o Teorema de Schwarz.Teorema 1.30 Seja
f A
:
2
de classeC
2 definida num aberto A e seja
a b,
um ponto de estacionaridade def
. a) Se
2 2,
0
f
a b
x
e H a b
,
então 0f
tem um mínimo local em
a b,
.b) Se
2 2,
0
f
a b
x
e H a b
,
então 0f
tem um máximo local em
a b,
.c) Se H a b
,
então 0f
tem um ponto sela em
a b,
.d) Se H a b
,
não podemos afirmar nada acerca da natureza do ponto de 0 estacionaridade
a b,
.
Para mostrar que no caso de d) nada se pode concluir, consideremos os exemplos abaixo, cujas funções verificam a condição
H
(0,0)
0
, mas: f x y
,
x
4
y
4 , tem mínimo em
0,0
, g x y
,
x4 y4
, tem máximo em
0,0
, h x y
,
x
4
y
4 , tem um ponto de sela em
0,0
. 1.2.2. Extremos condicionadosSejam
f g A
, :
2
definidas num aberto A de
2 e suponhamos que queríamos estudar os extremos de f x y
,
com a variável
x y,
condicionada à relação g x y
,
0. Dizemos que temos um problema de extremos condicionados, sendo g x y
,
0 a condição a que estão sujeitas as variáveis x e y. O problema resume‐se a calcular os extremos da funçãof
restrita ao conjunto não vazio C
x y,
A g x y:
,
0
, representada por f C.Supondo que
f g
,
são funções de classeC A
1
e que g x y
,
0, 0 para qualquer
x y,
A tal que g x y
,
0, temos o seguinte:
Teorema 1.31 (Lagrange) Se f C tem um extremo em
a b, C, então para um certo
, a função F x y
,
f x y
,
g x y
,
, definida em A, tem um ponto de estacionaridade em2. Reflexão e Refração
2.1. Problema de Héron
Dada uma reta,
r
, e dois pontosA
eB
do mesmo lado da reta, encontrar um pontoM
der
, de modo a que a soma das distânciasAM
eMB
seja mínima.
Resolução.
Sejam
A
0 eB
0 as projeções ortogonais deA
eB
, respetivamente, na reta r. Sejama b c
, ,
0
, em que AA0 a, BB0 b,0 0
A B c.
Sejam
e
os ângulos formados pela retasr
eMA
e pelas retasr
eMB
, respetivamente. Logo,
0,
2
. Designemos A M0 x.Para x
0,c , designemos por MA d 1, MB d 2 e o caminho AMB pord
, em qued
d
1
d
2.2 2 2 2 2 1 1 d a x d a x