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Modus operandi de jovens agressores sexuais: implicações para a avaliação e intervenção clínica

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Academic year: 2021

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Modus operandi de jovens agressores sexuais: implicações para a

avaliação e intervenção clínica

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Andreia Isabel Leite da Silva

Orientador: Professor Doutor Ricardo Barroso

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Modus Operandi de jovens agressores sexuais: implicações para

a avaliação e intervenção clínica

Dissertação de Mestrado em Psicologia Especialização em Psicologia Clínica

Andreia Isabel Leite da Silva Orientador: Professor Doutor Ricardo Barroso

Composição do Júri:

Professora Doutora Alice Margarida Martins dos Santos Simões Professora Doutora Ana Paula dos Santos Monteiro

Professor Doutor Ricardo Nuno Serralheiro Gonçalves Barroso

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Dissertação apresentada á Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia Clínica, sob a orientação científica do Professor Doutor Ricardo Barroso.

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Agradecimentos

Ao finalizar este percurso tão importante e enriquecedor, queria expressar o meu agradecimento a todos aqueles que estiveram presentes e me apoiaram, tornando possível, direta ou indiretamente a realização desta etapa. Desta forma, deixo aqui algumas palavras de sentido e profundo sentimento de reconhecimento.

Ao Professor Doutor Ricardo Barroso pelo apoio, partilha do saber, pelas valiosas contribuições que me ofereceu, por todo o esclarecimento de dúvidas que foram surgindo ao longo da concretização desta dissertação, pela disponibilidade, por me acompanhar nesta jornada e estimular o meu interesse por esta área.

Aos meus pais e á minha irmã, pelo apoio incondicional, pelo incentivo, amizade e paciência que sempre demonstraram para comigo, bem como por toda a ajuda na superação dos obstáculos que iam surgindo. Por sempre me incentivarem perante os desafios e a fazer mais e melhor.

A toda a minha família e amigas (os) que sempre acreditaram em mim e me valorizaram, por toda a motivação e carinho.

Uma palavra de reconhecimento muito especial a todos (as) pelo apoio incondicional e pela forma, como ao longo deste ano, souberam tão bem ajudar-me, por isso, o meu “MUITO OBRIGADA” a todos!

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Índice

Agradecimentos ... 1

Lista de tabelas ... 4

Lista de siglas e acrónimos ... 6

Introdução ... 7

I PARTE ... 8

Resumo ... 10

Abstract ... 11

Delinquência Juvenil ... 12

Violência Sexual Juvenil ... 13

Classificação dos Agressores Sexuais ... 15

Modus Operandi ... 17 Método ... 18 Procedimentos e instrumento ... 18 Caraterização da Amostra ... 19 Área de residência ... 20 Proveniência ... 21 Estatuto socioeconómico ... 21 Contexto familiar ... 21 Caraterísticas individuais ... 22 Ajustamento escolar ... 23 Criminalidade prévia ... 25

Caraterísticas dos crimes sexuais ... 26

Saúde Mental ... 34 Discussão ... 35 Referências bibliográficas ... 40 II PARTE ... 44 Resumo ... 46 Enquadramento teórico ... 48 Metodologia ... 52

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Procedimento e instrumento ... 52

Resultados ... 53

Discussão ... 61

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Lista de tabelas

I Artigo

Tabela 1 – Distribuição dos jovens participantes por instituição de proveniência. Tabela 2 – Distribuição dos jovens participantes por estatuto socioeconómico.

Tabela 3 – Número de sujeitos nos dois grupos relativamente á escolaridade dos JAS e resultados do teste qui-quadrado realizado.

Tabela 4 – Número de sujeitos nos dois grupos de jovens relativamente ao tipo de crimes ocorridos anteriormente e resultados do teste qui-quadrado realizado. Tabela 5 – Relação entre vítima e agressor nos crimes de JAS.

Tabela 6 – Tipos de crimes sexuais cometidos. Tabela 7 – Tipos de ações perpetradas por JAS.

Tabela 8 – Local onde foi cometido o crime de agressão sexual. Tabela 9 – Modo de cometer o crime dos dois grupos de jovens.

Tabela 10 – Estratégias nos dois grupos de jovens para cometer o crime. Tabela 11 – Jovens que recorrem ao uso de agressão física das suas vítimas. Tabela 12 – Jovens que recorrem ao uso de armas para cometer o crime.

Tabela 13 – Número de sujeitos no grupo de JAS relativamente á ocorrência de roubo aquando a abordagem á vítima.

Tabela 14 – Atitude face ao crime. Tabela 15 – Empatia com a vítima. Tabela 16 – Ideação suicida.

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II Artigo

Tabela 1 –Comparação entre JAS e JANS em diferentes variáveis. Tabela 2 –Potenciais preditores.

Tabela 3 –Variáveis explicativas do número de vítimas dos JAS. Tabela 4 –Variáveis explicativas da idade da vítima dos JAS.

Tabela 5 –Variáveis explicativas da idade com que os JAS cometeram a agressão. Tabela 6 –Variáveis explicativas do modo de cometer o crime.

Tabela 7 –Variáveis explicativas do uso de restrição física por parte dos JAS. Tabela 8 –Variáveis explicativas do nível de força física usada na vítima por JAS. Tabela 9– Variáveis explicativas da humilhação perpetrada sobre a vítima por JAS. Tabela 10 - Variáveis explicativas da agressão física á vítima por parte dos JAS. Tabela 11 – Variáveis explicativas do nível de empatia por parte dos JAS.

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Lista de siglas e acrónimos

CE – Centro Educativo

DGRSP – Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais JANS – Jovens Agressores Não Sexuais

JAS – Jovens Agressores Sexuais

JAS-A – Jovens Agressores Sexuais Abusadores JAS-V – Jovens Agressores Sexuais Violadores LTE – Lei Tutelar Educativa

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Introdução

A violência sexual tem sido um campo de estudo importante para distintas áreas científicas, que procuram um conhecimento aprofundado de quem comete os atos delinquentes, as características dos agressores e dos crimes, as estratégias dos agressores para cometer o crime (modus operandi), e de que forma isto pode ser prevenido e os danos reduzidos para as vítimas. Deste modo, o conhecimento acerca desta temática é fundamental para intervenções adequadas para com estes agressores e com as vítimas.A realização de mais estudos sobre o modus operandi revela-se essencial para fornecer informações de prevenção, sendo necessária uma melhor compreensão da interação dinâmica entre os vários componentes do crime.

A investigação que se segue aparece em resposta à carência de estudos sobre os comportamentos sexuais de jovens adolescentes, contribuindo desta forma para o conhecimento, para a prevenção e intervenção no âmbito clínico destes

comportamentos. O conhecimento pormenorizado sobre esta temática revela-se uma mais-valia no âmbito da psicologia clínica e forense. Quanto à sua estruturação, esta dissertação de mestrado encontra-se dividida em dois artigos empíricos. O primeiro artigo com o objetivo de compreender o modus operandi dos jovens agressores sexuais, distinguindo-os a este propósito dos jovens agressores não sexuais. A segunda parte desta dissertação compreende segundo estudo empírico com a finalidade de analisar quais os preditores criminais de agressões sexuais cometidas por adolescentes. Deste modo, recorreu-se a uma amostra total de 272 jovens agressores do sexo masculino, sendo que 142 são jovens agressores sexuais e 130 são jovens agressores não sexuais.

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I PARTE

ARTIGO 1 – Modus operandi de jovens agressores sexuais: implicações

para a avaliação e intervenção clínica

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Modus operandi de jovens agressores sexuais: implicações para a avaliação e intervenção clínica

Andreia Leite & Ricardo Barroso Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Departamento de Educação e Psicologia, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Dissertação apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para o cumprimento de requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em

Psicologia, realizada sob a orientação científica do Doutor Ricardo Barroso. Correspondência acerca deste artigo deve ser endereçada para Andreia Leite, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Educação e Psicologia, Quinta de Prados, Edifício Complexo Pedagógico – Apartado 1013,

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Resumo

As agressões sexuais cometidas por jovens são ainda um tema alvo de controvérsias, sendo muitas vezes um tipo de violência desconhecido da sociedade, pois a maior parte dos estudos acerca desta temática tende a focar-se na população adulta. Dado que a adolescência apresenta características, necessidades e problemas específicos que a diferenciam da infância e da fase adulta, é fundamental a deteção, intervenção e promoção de fatores de proteção para reduzir este tipo de violência e o seu impacto negativo no desenvolvimento. Esta investigação teve como objetivo compreender os comportamentos que agressores sexuais exibem, tendo sido estudado o modus operandi, incluindo uma série de estratégias utilizadas por estes jovens para chegarem ao contacto sexual com a vítima. A recolha de dados foi efetuada em instituições sob a alçada da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, mais especificamente em centros educativos, estabelecimentos prisionais e equipas tutelares educativas. A amostra encontra-se dividida em dois grupos: jovens agressores sexuais (n=142) e jovens agressores não sexuais (n=130). Os resultados obtidos na análise desta amostra, nas dimensões demográficas, clínicas e de modus operandi criminal, permitiram um esclarecimento sobre algumas das suas especificidades e, em concreto, verificar a existência de algumas diferenças significativas num conjunto de dimensões entre estes dois grupos de agressores, nomeadamente ao nível do estatuto socioeconómico, dos aspetos como a marginalidade, toxicodependência e delinquência, escolaridade,

capacidade de resolução de problemas, criminalidade prévia, uso de armas para cometer o crime, agressões físicas á vítima, entre outros aspetos, acabando por se verificar que foram os jovens agressores não sexuais aqueles que demonstraram uma situação mais negativa em quase todas as variáveis analisadas quando comparados com os jovens agressores sexuais.

Palavras-chave: delinquência juvenil, jovens agressores, violência sexual, modus operandi.

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Abstract

The sexual assaults committed by young people are still the object of controversy, it is still an unknown type of violence for society because most of the studies on this subject focuses on the adult population. Given that Adolescence has some characteristics, specific needs and problems which differentiate it from childhood and adulthood. It is crucial the detection, intervention and promotion of protective factors to reduce this type of violence and its negative impact on development. This research intended to understand the behaviors that young sex offenders show by studying the operandi modus, including a number of strategies that these young people use to reach sexual contact with the victim. Data collection was carried out in institutions under the purview of the General Direction of Reintegration of Correctional Services and, more

specifically in educational centers, jails and educational tutelary teams. The sample is divided into two groups: young sex offenders (n = 142) and young people who are not sex offenders (n = 130). The results of the analysis of this sample, the demographic, clinical and criminal operandi modus dimensions, allowed a clarification of some of their specificities and in concrete to verify the existence of some significant differences in a set of dimensions of these two groups of offenders, in particular at the level of socio-economic status, aspects such as marginalization, drugs addiction and

delinquency, schooling, problem-solving ability, prior criminality, use of weapons to commit crime, physical aggression towards the victim, among other aspects, and it turned out that it was the young non-sexual aggressors who showed to be in a more negative situation in almost all the analyzed variables when compared with the young sexual aggressors.

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Delinquência Juvenil

Atualmente a delinquência juvenil é um tema que assume uma enorme importância, impulsionando vários estudos nesta área, de forma a uma melhor

compreensão deste fenómeno. Está definida por vários autores, como a participação de um menor em atos que transgridem uma ou mais leis penais (Loeber, Farrington, Stouthamer-Loeber, & White, 2008). Segundo Pechorro (2011), a delinquência juvenil pode adotar diversas formas e ser percebida de modos muito distintos, ou seja, um jovem que rouba e outro que agride uma pessoa são atos que divergem na forma como são encarados tanto pelas autoridades bem como pelo cidadão comum. Porém, este tipo de comportamentos ocorre com tanta frequência em jovens que têm sido considerados como normativos.

A adolescência é marcada por inúmeras mudanças, levando a um

questionamento de valores e conceitos estabelecidos. Para desenvolver uma identidade madura é necessário que os jovens se identifiquem com determinadas ocupações e com um núcleo de relações interpessoais estáveis (Schoen-Ferreira, Aznar-Farias & Silvares, 2003). É também na adolescência que surgem as mudanças primordiais ao nível da violência e agressividade. Contudo, a maior parte dos jovens acaba por abandonar este tipo de comportamento no fim da adolescência (Farrington, 2006). O entendimento dos conceitos de vulnerabilidade e de fatores de risco é essencial para a determinação das diversas variáveis presentes na etiologia deste comportamento. Conviver com a violência aumenta a probabilidade de um jovem exercer ou de se transformar numa vítima, especificamente quando a exposição se traduz em momentos de maior

vulnerabilidade como a infância e adolescência (Martins, 2005). Assim, a fragilidade, a falta de presença de vínculos, a assistência a violência e eventos de stress vivenciados estão associados diretamente á manifestação dos comportamentos delinquentes e podem ser percebidos como facilitadores de infrações (Dell’Aglio, Santos & Borges, 2004). Contudo, segundo Loeber e Hay (1997) “a agressão precoce permite prever a violência posterior, mas a previsão está longe de ser perfeita, quer em termos de erros de falsos positivos (jovens que estão em risco de violência mas que não se tornam violentos), quer de erros de falsos negativos (indivíduos que não eram altamente agressivos na infância e que se tornaram violentos) ”.

Apesar desta problemática parecer um assunto atual, pelo resultado mediático e sensacionalista que na maior parte das vezes advém dos meios de comunicação, na

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verdade não é, ou seja, os comportamentos delinquentes já existiam anteriormente e eram já alvo de atenção (Barroso, 2012). No entanto, a crescente sensibilização da opinião pública relativamente á delinquência juvenil tem conduzido a um aumento da regulamentação face á prevenção e ao tratamento desta problemática, contribuindo desta forma para o delineamento de programas de intervenção que se ajustem às

características e às necessidades das populações de risco (Lemos, 2010). A nível nacional, constata-se um progresso no que diz respeito á intervenção judicial, no setor da jurisdição de menores. A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) assume-se como um “serviço central da administração direta do Estado, provido de autonomia administrativa e que visa o desenvolvimento das políticas de prevenção criminal, de execução das penas e medidas, de reinserção social e a gestão articulada e complementar dos sistemas tutelar educativo e prisional, assegurando condições compatíveis com a dignidade humana e contribuindo para a defesa da ordem e da paz social” (DGRSP, 2014). O ordenamento jurídico compreende que existe capacidade de certo indivíduo ter consciência de que efetuou determinados atos, qualificados pela lei penal como crime, a partir dos 16 anos. Sob a alçada da LTE (Lei Tutelar Educativa) ficam os jovens com idades abrangidas entre os 12 e menos de 16 anos que cometeram infrações punidas por lei como crimes. É importante referir que quando um jovem com idade compreendida entre os 12 e menos de 16 anos pratica um ato qualificado na lei como crime, a institucionalização num CE (Centro Educativo) é a medida mais grave que lhe pode ser imposta, dentro das diversas medidas tutelares educativas. Esta institucionalização pode acontecer em regime aberto, semiaberto ou fechado (Barroso, 2012).

Violência Sexual Juvenil

Contemporaneamente, existe uma maior atenção das diversas entidades às agressões sexuais cometidas por jovens agressores, dado que os primeiros trabalhos realizados davam um foco principal aos agressores sexuais adultos. A violência sexual é um fenómeno dotado de uma complexidade patente através de formas de dominação e opressão que desencadeiam diversos conflitos (Matos, Ferreira, Cardoso, Santos, Pereira & Costa, 2013). É um estado de ultrapassagem de limites, de direitos humanos, de poder, de papéis, do nível de desenvolvimento da vítima (Inoue & Ristum, 2008).

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Quando se trata de crimes sexuais advêm distintas especulações que desejam encontrar uma explicação para se ter cometido o delito (Carreiro, 2012). Os dados disponíveis apontam que as agressões executadas por elementos do sexo feminino são raras. A maioria das pesquisas dá uma atenção principal aos sujeitos do sexo masculino (Seto & Lalumière, 2010; Stephenson, Woodhams, & Cooke, 2014; Yeater, Lenberg, & Bryan, 2012). Injustificável em qualquer eventualidade, a violência sexual adota um terrível papel quando a vítima é uma criança ou adolescente pelas repercussões no seu carácter e na constituição negativa da sua sexualidade (Penna, Canella & Silva, 2002). A maior parte dos abusadores inicia a violência contra outras pessoas mesmo antes de completarem 18 anos, sendo assim considerados menores de idade (Silva & Lins, 2013). Alguns estudos têm vindo a evidenciar que uma parte significativa dos abusos sexuais é cometida por jovens menores de idade, tendo estes comportamentos sido durante muito tempo fundamentados pela fase de desenvolvimento que estes jovens atravessavam, por uma curiosidade juvenil ou experimentação sexual, acabando por serem desvalorizados (Barbaree & Marshall, 2006). Mas, o que caracteriza a relação violenta e abusiva, não é a diferença de idade mas o uso de poder, autoridade ou força usada pelo agressor (Inoue & Ristum, 2008). O principal critério diferenciador dos atos sexuais abusivos nestas idades acaba por ser o mesmo dos adultos, ou seja, o facto de um menor cometer um acto sexual com outro indivíduo, sem a suapermissão ou contra a sua vontade, de maneira agressiva, manipuladora e ameaçadora para as vítimas (Barroso, 2012).

Segundo Silva, Cazella e Costa (2010), há sempre uma consequência para qualquer tipo de violência, seja física ou psicológica e deste modo, todas as vítimas deveriam receber um acompanhamento psicológico, para que se torne possível um retorno às suas vidas, dado que os efeitos regularmente são arrasadores e permanecem até á idade adulta. Os indivíduos que sofreram de abuso sexual na infância/adolescência transportam consigo marcas emocionais em diversos graus, sendo por isso necessário que a violência sexual se torne foco de estratégias de prevenção, para evitar que este processo se repita posteriormente. Para que isto se torne realizável, é pertinente o envolvimento de vários profissionais (Padilha & Gamide, 2004). Estes profissionais devem estar capacitados para identificar e diagnosticar qualquer tipo de abuso sexual e desenvolver intervenções preventivas e terapêuticas para as vítimas e para as respetivas famílias (Habigzong, Koller, Azevedo &Machado, 2005). Para Magalhães e Ribeiro (2007), a adequação e eficácia de uma equipa multidisciplinar é fundamental, tendo

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sempre em consideração todo um conjunto de circunstâncias, como a proximidade que carateriza a relação entre o abusador e a vítima (a abordagem a ser realizada reveste-se de uma enorme complexidade face á natureza do crime, á dinâmica do impacto e á especificidade de toda a investigação). Assim, todos os profissionais envolvidos têm de atuar de forma articulada para que todo o processo seja corretamente conduzido e evitando intervenções repetidas. É de extrema importância que cada profissional saiba os seus papéis para atingir esta intervenção adequada a cada indivíduo (tendo em consideração as diferenças de cada um) e imprescindível conhecer as caraterísticas psicopatológicas dos agressores sexuais (Lã-Branca, 2012).

Classificação dos Agressores Sexuais

Para Barroso (2012), diversos fatores são explicativos da diferença entre JAS e JANS (delinquentes), pelo menos em certas variáveis. Os agressores sexuais apresentam mais história de abuso sexual, abuso físico, maior isolamento social, bem como uma exposição desde muito cedo a sexo e a pornografia. Deste modo, tendem a manifestar mais ansiedade e baixa autoestima, podendo estas variáveis ser diferenciadoras dos restantes JANS. Para Marshall e Barbaree (1990), os JAS poderão não ter a

possibilidade de obter competências de relacionamento interpessoal e íntimo, expandindo um padrão relacional de comportamentos agressivos inapropriados, reforçados e modelados pelos pais.

Para outros investigadores, a vitimação assume aqui um papel importante, pois um indivíduo que sofreu de um abuso no passado terá mais probabilidade de no futuro repetir essa prática com outros (Knight, 2004). Segundo Barroso (2012), também a vinculação é referida como uma dimensão psicológica que diferencia JAS de JANS, assim como as competências sociais têm sido alvo de atenção em estudos com o

objetivo de comparar estes jovens, bem como aspetos relacionados ao desenvolvimento sexual e as atitudes e crenças no que diz respeito á violência e á sexualidade.

Segundo o mesmo autor, os atos sexuais que são cometidos com mais frequência por jovens agressores menores de idade, são as violações e os abusos sexuais de outros menores. É fundamental haver consciência da clara distinção entre JAS – A e JAS – V.

O abuso sexual infantil é definido como qualquer forma de toque e interação sexual de uma criança ou adolescente com alguém que contenha um estágio mais

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avançado de desenvolvimento (Portes & Senra, 2015). Nesse sentido, qualquer abuso sexual tem por objetivo estimular a criança sexualmente e assim utilizá-la para obter prazer sexual. Este é um problema de saúde pública que está a preocupar cada vez mais a sociedade, dada a alta incidência epidemiológica e os inúmeros prejuízos para o crescimento das vítimas. Esta forma de violência é bastante complexa, abrangendo uma série de aspetos psicológicos, sociais e legais, comprometendo assim o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da vítima e da sua família (Habigzang, Koller, Azevedo & Machado, 2005). O abuso sexual ainda é cercado por várias crenças. A crença que aparece com maior frequência é a de culpabilização, acabando por rotular a vítima e a não oferecer o apoio indispensável, gerando um sentimento de culpa e de aceitação da violência (Portes & Senra, 2015).

Quanto aos abusadores sexuais, na literatura pode destacar-se uma classificação primordial que está bastante difundida e que se prende com aspetos motivacionais, com a descrição dos afetos e com os comportamentos, pelos quais as motivações foram expressas (Lã-Branca, 2012). São aqueles que praticam agressões sexuais com crianças, com uma diferença de idade de pelo menos quatro anos, sendo o comportamento e a idade satisfatórios para a definição do problema (Carvalho, 2011; Glowacz & Born, 2013).

No que diz respeito aos violadores de crianças, segundo Barroso (2012), estes evidenciam uma maior probabilidade em terem obtido conhecimentos sexuais através do envolvimento com pornografia (filmes e internet), assim como recorrendo á prostituição. Ora, a obtenção destes conhecimentos, pode assumir neste sentido, um papel saliente nos interesses sexuais posteriores. Kemper e Kristner (2010), definem os JAS – V, como indivíduos que praticam a agressão sexual de forma forçada, recorrendo á ameaça, violência, força física, bem como ao abuso da autoridade.

Ambos os grupos têm em comum cometer estes atos, normalmente, com vítimas do sexo feminino (Fannif & Kolko, 2012). Comprovando-se também a existência de problemas de comportamento nestas duas categorias de agressores (Barroso, 2012).

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Modus Operandi

O crescente interesse nos estudos sobre o modus operandi de agressores sexuais de crianças, oferece uma abordagem fulcral para uma melhor compreensão das formas de atuação dos agressores. Os primeiros estudos que analisaram especificamente o modus operandi de agressores sexuais de crianças foram realizados na década de 80 e tinham como objetivo fornecer informações para formas de prevenção. O modus operandi é definido por alguns autores como “o padrão de comportamentos que os agressores exibem nos períodos que precedem o contacto sexual ilícito, bem como durante e após esse contacto” (Leclerc, Proulx &Beauregard, 2009).Segundo os mesmos autores, os agressores tomam as suas decisões, cujas escolhas são direcionadas pelos valores, custos e a probabilidade de obterem os resultados pretendidos. Os fatores situacionais, como por exemplo a resistência das vítimas são vistos como tendo um papel imprescindível dado que influenciam as decisões dos agressores e

consequentemente, a interação agressor - vítima que se sucede. Deste modo, o crime é entendido como um processo dinâmico, influenciado por fatores situacionais e a tomada de decisão destes agressores progride com a experiência, melhorando e alterando as suas estratégias para cometerem o crime. Para Leclerc, Proulx e Mckibben (2007), a relação entre a vítima e o agressor está associada a estratégias de modus operandi de forma complexa, pois em grande parte dos casos, o agressor é visto como uma

referência para a vítima. O estatuto do agressor desempenha um papel fundamental na escolha das estratégias que estes vão usar para realizar os seus crimes com sucesso, sendo que o modus operandi também se encontra intimamente relacionado com a posição de confiança pois normalmente os agressores beneficiam de um contexto que potencie uma relação estreita com a vítima. Dentro deste tipo de contexto podem ser usadas inúmeras estratégias subtis de manipulação.

Para Kaufman et al. (1998), existem duas diferenças significativas do modus operandi de agressores sexuais adolescentes e agressores sexuais adultos, sendo que os jovens agressores recorrerem com mais frequência a estratégias para materializar a agressão e estes jovens recorrem ainda a mais violência do que os agressores adultos pois estes últimos beneficiam normalmente de um estatuto social que não requer o uso de estratégias como as dos adolescentes. Num estudo exploratório de Proulx, Ouimet e Lachaîne (1995), constatou-se que para um crime ser bem-sucedido, o agressor tem de atender a uma série de aspetos, sendo o primeiro o local onde é provável encontrar a

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potencial vítima e quando irá efetuar o ato/agressão. De seguida, tem de escolher a vítima de acordo com o seu valor erótico (idade, género e características físicas), com a sua vulnerabilidade (física ou psicológica) e com a sua familiaridade. Posteriormente, o agressor tem de decidir como vai abordar a vítima e qual a estratégia a adoptar para a envolver num contacto sexual.

É importante referir que o modus operandi por si só, não é suficiente para entender o processo de concretização de um crime na totalidade, pois fatores como as características da vítima e variáveis situacionais podem estar diretamente relacionados e influenciar o modus operandi, o que por sua vez tem consequências nos efeitos do crime. Assim, o modus operandi pode variar de acordo com a idade do agressor, características das vítimas e fatores situacionais (Leclerc, Proulx &Beauregard, 2009).

Método

A presente investigação é de carácter transversal e quantitativo. A

transversalidade do estudo deve-se ao facto dos dados serem retirados da amostra num único momento. O carácter quantitativo da investigação prende-se com a componente estatística, numérica e tipificação da investigação para o contexto clínico. Tinha-se o objetivo de descrever um conjunto de variáveis associadas, sendo as características sóciodemográficas e psicológicas de jovens agressores e as especificidades dos crimes sexuais cometidos.

Procedimentos e instrumento

Para se puder reunir um conjunto de jovens que reunissem as características que se pretendiam analisar, foi solicitado apoio à Direção Geral de Reinserção Social e á Direção Geral dos Serviços Prisionais. Estas, após autorizações escritas, encaminharam para as várias instituições por elas dirigidas. Posteriormente, houve uma reunião prévia com o/a diretor(a) da respetiva instituição, o que possibilitou obter informações

associadas a cada caso particular.

Foi considerado um instrumento para a recolha da informação desta

investigação, tendo em atenção alguns aspetos como as qualidades psicométricas, fácil aplicação, preenchimento rápido e adaptação à população portuguesa. Recolheu-se informações que constavam nos processos individuais dos indivíduos, nos

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estabelecimentos referentes á DGRSP, com suporte numa Grelha de Recolha de Dados Processuais (Barroso, 2012). Essas informações abrangiam características demográficas dos participantes, contexto familiar, história desenvolvimental, contexto residencial, história de institucionalização, história de comportamentos delinquentes, características dos atos, nomeadamente comportamentos sexuais realizados e agressão física, uso de substâncias psicoativas, competências interpessoais e história médica.

Durante alguns dias foram também consultadas as peças processuais que constavam no dossier institucional do indivíduo, com uma atenção especial nos dados do seu percurso institucional e nos elementos disponibilizados pelos tribunais que julgaram os casos.

Caracterização da Amostra

A amostra deste estudo foi constituída por 272 jovensinstitucionalizados do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 13 e os 33 anos (M = 17.04, DP = 2.57) provenientes de 15 instituições localizadas em Portugal (cf. tabela 1), dos quais 142 são jovens agressores sexuais (52.2%) e 130 são jovens agressores não sexuais (47.8%). Relativamente ao primeiro grupo, Jovens Agressores Sexuais, as suas idades estão compreendidas entre os 13 e os 33 anos (M = 17.71, DP = 3.21), sendo que no grupo de Jovens Agressores Não Sexuais a idade varia entre os 13 e os 19 anos (M = 16.32, DP = 1.25).1A maioria dos participantes (61.8%, N = 168) provinha da zona da Grande

Lisboa, sendo que os restantes participantes eram provenientes de diversas localidades de todo o país.2

1 Um jovem do Grupo dos Jovens Agressores Sexuais e 1 jovem do Grupo dos Jovens Agressores Não Sexuais não forneceram dados sobre a sua idade. Existem diferenças significativas no que à idade dos dois grupos de participantes diz respeito. Com efeito, os JAS são mais velhos que os JANS, t (185.04) = 4.76, p <.001.

2 Grande Porto (N =19); Sintra (N = 8); Vila Franca de Xira (N = 5); Trancoso, Oeiras, Portimão (N = 4) Leiria, Seixal, Olhão, Angra do Heroísmo (N = 3); Marco de Canavezes, Vale de Cambra, Castelo Branco, Entroncamento, Marinha Grande, Amadora, Odivelas, Torres Vedras, Santarém, Faro (N = 2); Chaves, Guimarães, Amarante, Lamego, Águeda, Albergaria-a-Velha, Caldas da Rainha, Montijo, Pombal, Pinhal Novo, Beja, Setúbal, Tondela, Mangualde, Golegã, Grândola, Alcoitão, Benavente, Ponta Delgada (N= 1). Dos 272 participantes, 9 não responderam a esta questão.

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Tabela 1. Distribuição dos jovens participantes por instituição de proveniência. Número de Jovens

Instituição JAS JANS TOTAL χ2

CESA N 12 27 39 52.53 (ns.) CEBV N 5 31 36 CEO N 5 29 34 CEM N 6 27 33 ETE 1 – Lisboa N 30 0 30 ETE 2 – Lisboa/Sintra N 27 1 28 CEPAO N 9 15 24 EP Linhó N 13 0 13 EP Leiria N 12 0 12 ETE – Porto N 7 0 7 EP Lisboa N 6 0 6 EP Setúbal N 4 0 4 EP Montijo N 2 0 2 EP Braga N 2 0 2 EP Caxias N 2 0 2 TOTAL 142 130 272 Área de residência

No que concerne à área de residência dos participantes, cerca de metade (51.8%, N = 141) residia em zonas suburbanas, sendo que mais de um terço (35.3%, N = 96) residia em zona urbana, e menos de 10% em zona rural (9.2%, N = 25).3

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Proveniência

A maioria dos participantes era oriunda de Portugal (64.7%, N = 174), sendo que 95 provêm de outros países (34.9%), nomeadamente Cabo-Verde (16.2%, N = 44), Angola (6.3%, N = 17), Brasil (3.7%, N = 10), Guiné-Bissau (3.3%, N = 9), São Tomé e Príncipe (2.9%, N = 8), Moçambique e Ucrânia (0.4%, N = 1, respetivamente) e estão em Portugal, em média, há 10 anos (M = 9.52, DP = 5.49).4

Estatuto socioeconómico

Relativamente ao estatuto socioeconómico dos jovens que participaram neste estudo, 97 jovens reportaram pertencer à Classe Média (Classe III, 35.7%). 111 à Classe Média-Baixa (Classe IV, 40.8%) e 34 à Classe Baixa (Classe V, 12.5%). Salienta-se, porém, o facto de os JANS (M = -0.83, DP = 0.72) reportarem um estatuto

socioeconómico significativamente inferioraos JAS (M = -0.66, DP = 0.65).5

Tabela 2. Distribuição dos jovens participantes por estatuto socioeconómico. Número de Jovens

Estatuto

Socioeconómico JAS JANS TOTAL

χ2

Médio (Classe III) N 55 42 97 4.62

(ns.) Média-baixa (Classe IV) N 57 65 111 Baixo (Classe V) N 12 22 34 TOTAL 124 118 242 Contexto familiar

No que respeita a existência de violência no contexto familiar, mais de metade dos participantes (57.7%, N = 157)6 reportou a ocorrência da mesma, sendo que mais de

um terço da amostra reportou existir violência conjugal no contexto familiar (39.7%, N

4 Dos 272 jovens participantes, 3 não forneceram informação sobre se eram ou não emigrantes em Portugal. Dos 95 que reportaram não serem provenientes de Portugal, 5 não mencionaram qual o seu país de origem, e apenas 44 responderam há quantos anos residem em Portugal.

5 Não se obteve informação quanto ao estatuto socioeconómico de 30 participantes. t (241) = 1.99, p = .048. Não há diferenças significativas na distribuição dos grupos pelos diferentes Estatutos económicos, χ2= 4.62, ns.

(25)

= 108)7. Um outro aspeto que foi alvo de reflexão na análise destas variáveis sobre a violência no contexto familiar, e tendo como suporte os estudos de alguns autores (Barroso, 2012, p.150), relacionou-se com a ocorrência de comportamento criminal nos irmãos do jovem agressor, como mais uma forma de ponderação da possibilidade de se estar perante contextos familiares desfavoráveis em termos comportamentais e com manifestas influências negativas nos seus membros mais novos. De facto, 15.6% dos jovens que responderam a esta questão relataram problemas evidenciados em irmãos (N = 28), havendo maior probabilidade de estes problemas ocorrerem nos irmãos dos JANS.8

Apenas 32 sujeitos (11.8%) relataram problemas de saúde mental da mãe e 21 no pai (7.7%), sendo que 35 sujeitos têm pelo menos um dos progenitores com problemas de saúde mental.

Características individuais

Dos participantes do estudo, mais de um quarto (25.7%, N = 70) estiveram institucionalizados em Lar de Acolhimento, sendo desses 34 JAS e 36 JANS.9 Dos 272

participantes, 111 assumiram a Pertença a Gangs (40.8%) e, concomitantemente, a grande maioria reportou acompanhar Pares Problemáticos (78.3%, N = 213). Mais de metade da amostra (51.5%, N = 140) avaliou o seu contexto comunitário como sendo “conotado com marginalidade, toxicodependência e delinquência”. Em todos estes aspetos, os JANS apresentaram uma situação mais negativa comparativamente com os JAS.10

No que respeita às competências pessoais dos jovens que participaram no estudo, evidenciou-se uma elevada propensão para um estilo “Agressivo” (N = 162, 62.1%), sendo que apenas 5.4% reportaram competências pessoais do tipo “Assertivo” (N = 14). Destaca-se, igualmente, um número importante de sujeitos com

comportamento passivo inibidos (N= 45) e com comportamentos manipuladores (N= 40).11

7 72 Sujeitos não responderam a esta questão. Não existem diferenças significativas entre JANS e JAS relativamente à existência de Violência Conjugal, t (199) <1.

8 X2 (1, 179) = 8.78, p <.001.

9 6 Sujeitos não responderam a esta questão. 10 Menor t (246.30) = 3.34, p = .001.

11 12 Sujeitos não responderam a esta questão. Não se verificam diferenças significativas entre os grupos, x2 (3, 261) = 4.49, ns.

(26)

No que diz respeito à competência dos sujeitos na resolução de problemas, apenas uma percentagem reduzida demonstrou essas competências (N = 24, 9.45%). Contudo, verificaram-se diferenças significativas entre os dois grupos amostrais, sendo os Jovens Agressores Sexuais aqueles que demonstraram uma maior capacidade de resoluçãode Problemas (M = 0.16, DP = 0.36) comparativamente com os JANS (M = 0.03, DP = 0.18).12 Encontrou-se um padrão semelhante relativamente à manifestação

de autocontrolo e autorregulação, ou seja, apenas 29 sujeitos o manifestaram (11.37%), sendo que mais uma vez são os Jovens Agressores Sexuais aqueles que revelam um maior autocontrolo/autorregulação (M = 0.17, DP = 0.38) em contraste com os JANS (M = 0.06, DP = 0.23).13

Ajustamento escolar

Para a análise das variáveis relacionadas com a dimensão escolar dos JAS e dos JANS, debruçou-se sobre o grau de escolaridade que os participantes possuíam no momento da perpetração do crime, aos resultados das medidas de inteligência empregues nas avaliações psicológicas efetuadas, no nível de absentismo e no comportamento global do sujeito com todos os atores do contexto escolar.

Na Tabela 3 são apresentados os graus de escolaridade dos sujeitos. Naanálise da tabela, que observou 251 dos sujeitos da amostra, verificou-se que a esmagadora maioria dos sujeitos (N = 237, 94.42%), não chegaram a concluir o 3º ciclo de escolaridade (9ºano). O 5º ano é aquele em que se concentra o grau de escolaridade com maior número de sujeitos (35.86%, N = 90), seguido do 6º ano de escolaridade (31.08%, N = 78). Verificou-se que existem diferenças significativas entre os dois grupos de sujeitos em estudo, sendo os Jovens Agressores Sexuais aqueles que possuem um maior grau de escolaridade (M = 6.19, DP = 1.55).14

12 19 Sujeitos não responderam a esta questão. t (186.63) = 3.45, p = .001. 13 18 Sujeitos não responderam a esta questão. t (209.26) = 2.98, p = .003.

14 21 Sujeitos não responderam quanto ao seu grau de escolaridade. JANS, M = 5.33, DP = 0.98. t (220.07) = 5.32, p

(27)

Tabela 3. Número de sujeitos nos dois grupos relativamente á escolaridade dos JAS e resultados do teste Qui-quadrado realizado.

Número de Jovens

Ano de Escolaridade JAS JANS TOTAL χ2

3º Ano N 0 1 1 32.65 (p < .001) 4º Ano N 11 19 30 5º Ano N 36 54 90 6º Ano N 39 39 78 7º Ano N 26 4 30 8º Ano N 7 2 9 9º Ano N 5 2 7 10º Ano N 3 0 3 11º Ano N 2 0 2 12º Ano N 1 0 1 TOTAL 130 121 251

Embora não seja o fator explicativo desta circunstância, pôde observar-se os resultados relativos àscompetências cognitivas dos sujeitos, de acordo com a avaliação psicológica realizada pelos técnicos. Verificou-se que a maior percentagem dos

participantes revelou competências cognitivas inferiores à média (N = 139, 54.30%), seguida de participantes com capacidades cognitivas médias (N = 109, 42.58%), sendo muito reduzido o número de participantes que revelaram capacidades intelectuais acima da média (N = 8, 3.13%). Verificaram-se diferenças significativas entre os dois grupos de participantes, sendo os Agressores Sexuais (M= 1.41, DP= 0.34) aqueles que revelaram um melhor resultado na avaliação da Inteligência comparativamente com os JANS (M = 1.13, DP= 0.49).15

No que concerne ao absentismo escolar, a grande maioria dos participantes tende a ausentar-se da escola de forma sistemática (83.06%, N = 206). Contudo, são os JAS

(28)

(M = 0.72, DP = 0.45) os que revelaram menor absentismo escolar em contraste com os JANS (M = 0.94, DP = 0.24).16 Concomitantemente com estes resultados, a maior

percentagem dos participantes revelou um comportamento “Globalmente Desadequado” no contexto escolar (N = 175, 73.84%), sendo ainda assim os Jovens Agressores

Sexuais (M = 1.59, DP = 0.49) os que demonstraram um padrão comportamental menos desadequado comparativamente com os JANS (M = 1.87, DP = 0.34). 17

Criminalidade prévia

O conhecimento dos aspetos referentes á ocorrência de outros crimesantes daquele que se encontra em análise é essencial para uma melhor compreensão desta população agressora. A grande maioria dos participantes revelou a ocorrência de crimes prévios (N = 170, 71.13%), sendo esta criminalidade prévia mais prevalente nos JANS (M = 0.83, DP = 0.37) do que nos Jovens Agressores Sexuais (M = 0.60, DP = 0.49).18

A partir da observação da tabela 4, concluiu-se que cerca de um terço dos participantes (32.5%, N = 52), praticou anteriormente um crime de roubo.

Os crimes de ofensas a integridade física (N = 25) e os crimes de furto (N = 20) encontram-se também patentes nesta amostra. No que concerne aos crimes sexuais, existe registo em 23 sujeitos (14.38%), isto é, tinham já registado um crime sexual anterior a este último nos seus processos individuais. Os resultados das análises estatísticas do teste de Qui-quadrado evidenciaram diferenças significativas, nos

doisgrupos em observação, permitindo notar uma expectável maior probabilidade de os JAS terem cometido anteriormente outros crimes sexuais e, no que diz respeito aos JANS, uma maior probabilidade de terem cometido um crime de Roubo ou Ofensa à integridade física antes do crime sexual que cometeram. Foi efetuado um conjunto de cálculos matemáticos para um entendimentomais rigoroso da percentagem de

reincidência na amostra de Jovens Agressores Sexuais. Deste modo, sabendo que a amostra total possui 142 sujeitos, a ocorrência de 18 sujeitos com novos crimes sexuais permitiu afirmar a ocorrência de, nesta amostra, uma percentagem de reincidência de 12.68%.

16 Não existem dados relativos ao absentismo escolar de 24 dos participantes. t (182.60) = 4.70, p <.001.

17Não há dados relativos ao comportamento em contexto escolarde 35 dos participantes. t (189.93) = 4.91, p <.001. 18Não há dados relativos à ocorrência de crimes anteriores em 33 dos participantes. t (229.80) = 4.15, p <.001.

(29)

Tabela 4. Número de sujeitos nos dois grupos de Jovens relativamente ao tipo de crimes ocorridos anteriormente e resultados do teste Qui-quadrado realizado.

Número de Jovens

Tipo de Crime JAS JANS TOTAL χ2

Crime Sexual N 18 5 23 18.02 (p = .021) Roubo N 24 28 52 Ofensas à Integridade Física N 10 15 25 Roubo e Ofensas à Integridade Física N 9 22 31 Furto Qualificado N 7 13 20 Condução sem habilitação legal N 0 2 2 Detenção de arma proibida N 0 2 2 Ameaça N 1 2 3 Tráfico N 1 1 2 TOTAL 70 90 160

Características dos crimes sexuais

As especificidades dos crimes cometidos pelos JAS foram uma das dimensões sujeitas a análise. Importa aqui clarificar quais as particularidades associadas á vítima, ao tipo de atos sexuais praticados, a relação entre a vítima e o jovem agressor, as características do local onde o crime aconteceu e ao modo como este foi cometido. Por último acompanhou-se as indicações sobre a perceção do jovem agressor sobre o crime que cometeu e os dados da avaliação sobre a sua capacidade empática pela vítima.

Verificou-se que as vítimas dos JAS tinham em média 15.60 anos (DP = 14.08), sendo que a idade destas variou entre os 3 e os 83 anos de idade. No que respeita ao sexo das vítimas, verificou-se que a grande maioria (71.9%, N = 97) é do sexo feminino, sendo cerca de um quarto (24.4%, N = 33) as vítimas do sexo masculino. Apenas uma

(30)

percentagem diminuta de JAS indicou ter agredido pessoas de ambos os sexos (N = 5, 3.7%).19 Importa ainda salientar que o número total de vítimas é em média de 1.64 (DP

= 1.63) variando entre 1 e 12 vítimas.

Tabela 5.Relação entre vítima e agressor nos crimes de Jovens Agressores Sexuais. Número de Jovens

Relação Agressor-Vítima N %

Colegas de Escola 36 26.1

Desconhecidos 31 22.5

Vizinhos 23 16.7

Colegas da mesma instituição de acolhimentos 17 12.3

Irmãos 10 7.2

Primos 10 7.2

Ex-namorados 6 4.3

Educadores de lares de acolhimento 2 1.4

Professores e/ou funcionários da escola 1 0.7

Tio/tia 1 0.7

Total 137 100%

Como se pode constatar na tabela acima, a grande maioria das vítimas dos JAS são conhecidas dos mesmos (N = 106, 77.37%), sendo que aproximadamente um quarto (22.5%, N = 31) indicou ter agredido pessoas desconhecidas. No que concerne às

vítimas conhecidas dos JAS, constatou-se que a maior parte destas são colegas da escola (26.1%, N = 36), seguidas de vizinhos (16.7%, N = 23) e de colegas da instituição onde estão acolhidos (12.3%, N = 17).

(31)

Tabela 6.Tipos de crimes sexuais cometidos.

Número de Jovens

Tipo de Crimes Sexuais N %

Violação 61 43.6

Abuso Sexual Criança 57 40.7

Coação Sexual 12 8.6

Importunação Sexual 10 7.1

Total 137 100%

Tal como é apresentado na tabela 6, os tipos de crimes sexuais cometidos pelos JAS concentraram-se sobretudo em Violação (N = 61, 43.6%) e Abuso Sexual de Crianças (N = 57, 40.7%).

No que respeita ao tipo de atos sexuais cometidos pelos JAS, mais de um quarto (N = 38, 28.8%) levou a cabo Penetração Vaginal (com pénis), sendo que (N = 17, 12.9%) efetuou Penetração Anal (com pénis) ou realizou Carícias/Roçar, seguidos de mais de 10% que efetuou a prática de Sexo Oral (N = 15, 11.4%).

Tabela 7.Tipo de ações sexuais perpetradas por jovens agressores sexuais. Número de Jovens

Tipo de acções Sexuais N %

Penetração vaginal (com pénis) 38 28.8

Penetração anal (com pénis) 17 12.9

Carícias/Roçar 17 12.9

Sexo Oral 15 11.4

Contacto sexual (palpar) os seios e/ou genitais 10 7.6

Penetração anal e vaginal (com pénis) 7 5.3

Penetração vaginal e Contacto Sexual 6 4.5

(32)

Tentativa de Penetração anal (com pénis) 5 3.8

Masturbação 4 3.0

Exibicionismo 3 2.3

Penetração anal (com objetos) 2 1.5

Penetração vaginal (com dedos) 2 1.5

132 100%

No que respeita aos locais onde ocorreram os crimes de Agressão Sexual estes acabaram por se distribuir por diferentes locais, sendo os mais comuns as casas da Vítima ou do Agressor (N = 47, 35.88%). Um dos locais que se destacou foi os Lares de Infância e Juventude e as Escolas (N = 35, 26.72%). No entanto, se olharmos aos crimes cometidos na via pública (N = 18), em locaisermos e afastados (N = 17) e em jardins públicos (N = 14), verificou-se que umapercentagem expressiva (37.40%) de crimes sexuais foicometida em espaços públicos e indiferenciados.

Tabela 8.Local onde foi cometido o crime de agressão sexual.

Número de Jovens

Local onde foi cometido o crime N %

Casa da Vítima 24 18.3

Casa do Agressor 23 17.6

Via Pública 18 13.7

CAT ou Lar de Infância ou Juventude 18 13.7

Escola 17 13.0

Numa mata ou local ermo afastado 17 13.0

Jardim Público 14 10.7

(33)

Constatou-se, através da observação da tabela 9, que a maioria dos crimes foi cometida individualmente (N = 128; 48.30%), com uma preponderância dos crimes sexuais de agressão sexual nesta situação (N = 82). Por outro lado, mais de 46% dos crimes cometidos por um grupo de indivíduos, não revelou diferenças entre estes grupos de Jovens nesta vertente. Também nesta variável estatística, o teste de Qui-quadrado revelou diferenças significativas sendo mais provável que para os JAS as agressões surjamindividualmente e, para os JANS, o crime seja praticado em Grupo. Também este último grupo revelou uma maior probabilidade de praticar o crime individualmente e em grupo do que os JAS.

Tabela 9. Modo de cometer o crime dos dois grupos de jovens. Número de Jovens

Modo de Cometer o

Crime JAS JANS TOTAL

χ2 Individualmente N 82 46 128 22.89 (p < .001) Em Grupo N 57 63 120 Individualmente e em Grupo N 1 16 17 TOTAL 140 125 265

A análise da tabela 10 permitiuverificar que, quando se analisa o momento em que o agressor efetua a abordagem da vítima, os crimes de agressão sexual, são na maior parte das vezes, com ameaças à integridade física da vítima (N= 44,34.65%) e/ou com agressões físicas violentas (N= 31, 24.41%). Este padrão é também patente nos métodos utilizados por JANS (Agressões física e ameaça, N= 28, 29.17%; Ameaça, N= 42, 43.75%).

(34)

Tabela 10. Estratégias dos dois grupos de jovenspara cometer o crime. Número de Jovens

Estratégia JAS JANS TOTAL χ2

Ameaça N 44 42 86 49.79

(p <.001)

Manipulação N 26 1 27

Sugeriu querer falar com ela

em privado N 9 2 11

Agressão física e ameaça N 31 28 59

Arrombamento N 0 15 15

Esfaqueamento N 0 3 3

Abordagem imediata e

“surpresa” N 17 5 22

TOTAL 127 96 223

As agressões sexuais praticadas por JAS, por seu lado, foram cometidas em grande parte com manipulações (N= 26). Alguns dos agressores sexuais (N= 9) abordaram a vítima pessoalmentesolicitando uma conversa particular num local

afastado, dando-se aí o crime sexual. Observou-se também um conjunto de crimes (N= 17) cuja abordagem foi realizada de forma repentina, entendendo-se esta abordagem como havendo uma aproximação súbita á vítima, onde não existia qualquer emissão de palavras, e desencadeando-se de imediato a agressão sexual, seja ela qual for. O teste de Qui-quadrado revelou diferenças estatisticamente significativas evidenciando uma maior probabilidade de os JAS terem usado a manipulação nas agressões cometidas.

Tabela 11. Jovens que recorrem ao uso de agressão física das suas vítimas. Número de Jovens

Agressão Física JAS JANS TOTAL χ2

Sim N 50 61 111 11.23

(p = .001)

(35)

TOTAL 126 98 224

Como se pode constatar na tabela 11, o número de Jovens que agrediu fisicamente as suas vítimas para a execução do crime foi de aproximadamente 50% (N=111, 49.55%). Contudo, verificou-se que são os JANS (M = 0.62, DP = 0.49) aqueles que recorrem mais à agressão física.20

Tabela 12. Jovens que recorreram ao uso de armas para cometerem o crime. Número de Jovens

Arma JAS JANS TOTAL χ2

Sem recurso a arma N 92 26 118 38.54

(p < .001) Navalha N 17 33 50 Faca de Cozinha N 21 25 46 Arma de caça/pistola N 4 2 6 Caçadeira N 0 2 2 Chave de fendas N 0 1 1 TOTAL 134 89 223

A partir da observação da tabela 12, constatou-se que a maioria (N= 118, 52.91%) dos sujeitos não utilizou qualquer arma para cometer o crime, mas esta nãoutilização de armas foi sobretudo patente nos crimes de agressão sexual, em que aproximadamente 70% dos sujeitos não recorreram ao uso de arma (N= 92, 68.67%). Há, no entanto, 31.34% de jovens agressores sexuais que usou pelo menos um tipo de arma no momento em que cometeu o crime. Assim, aproximadamente um terço destes jovens recorreu a armas, sendo as mais recorrentes a faca de cozinha (N= 21) ou a navalha (N = 17). Contudo, é mais manifesto este uso de armas em JANS (70.79%, N = 63), tendo 25 usado uma faca de cozinha e 33 uma navalha. Destaca-se, assim, a maior probabilidadedos crimes realizados por JANS ocorrerem com recurso a armas. A

20 48 Sujeitos não responderam a esta questão. Jovens Agressores Sexuais, M = 0.40, DP = 0.49. t (222) = 3.42, p = .001.

(36)

ocorrência de roubo antes ou após o crime sexual foi também alvo de observação no estudo, cujos resultados podem ser observados na tabela seguinte.

Tabela13. Número de sujeitos no grupo de JAS relativamente a ocorrência de roubo aquando daabordagem á vítima.

Ocorrência de Roubo Agressores Sexuais

Sem ocorrência de roubo N 102 (75.12%)

Ocorrência de roubo antes do crime sexual N 16 (11.94%) Ocorrência de roubo depois do crime sexual N 9 (6.72%) Ocorrência de roubo antes e depois do crime

sexual N 7 (5.22%)

TOTAL 134

Como se pode verificar na Tabela 13, a grande maioria dos Jovens Agressores Sexuais não revelou ocorrência de roubo nem numa fase prévia nem numa fase posterior à realização do crime sexual (N = 102, 75.12%).

Tabela 14. Atitude face ao crime.

Número de Jovens Atitude

face ao crime JAS JANS TOTAL

Demonstra sentido crítico face ao crime N 49 59 108 Não demonstra sentido crítico face ao

crime N 88 69 157

TOTAL 137 128 265

Como se pode verificar na tabela 14, a maior percentagem dos jovens que participaram neste estudo não demonstrou sentido crítico face ao crime cometido (N= 157, 59.25%) não se verificando diferenças significativas entre JAS e JANS.21

(37)

Tabela 15. Empatia com a vítima.

Número de Jovens

Empatia com a vítima JAS JANS TOTAL

Denota capacidade empática N 34 25 59

Não apresenta capacidade empática N 99 101 200

TOTAL 133 126 259

Como se pode constatar na tabela 15, a maior percentagem dos jovens que participou neste estudo não apresentou capacidade empática perante a vítima (N = 200, 77.22%) não se verificando diferenças significativas entre JAS e JANS.22

Saúde Mental

Tabela 16. Ideação Suicida.

Número de Jovens

Ideação Suicida JAS JANS TOTAL

Não N 133 119 252

Sim N 4 7 11

TOTAL 137 126 263

Foi diminuta a percentagem de participantes que revelou ideação suicida (N = 11, 4.18%) não se verificando diferenças significativas entre JAS e JANS42.

22t (256.68) = 1.10, ns. Não há dados relativos à empatia com a vítima de 13 sujeitos. 42t (228.23) = 1.07, ns. Não há dados relativos à ideação suicida de 9 sujeitos.

(38)

Discussão

Os resultados obtidos na análise desta amostra de jovens agressores sexuais e jovens agressores não sexuais nas dimensões demográficas, clínicas e de modus

operandi criminal, possibilitaram a elucidação sobre algumas das suas especificidades e, em particular, verificar a existência de algumas diferenças significativas entre estes dois grupos distintos de participantes num conjunto de dimensões. Neste estudo foram efetuadas avaliações retrospetivas através da verificação dos processos individuais de 272 jovens portugueses (142 JAS e 130 JANS), com o objetivo de caracterizar estes jovens em termos demográficos, psicológicos, tipológicos e criminais. A um nível demográfico e familiar foi possível verificar que a maioria dos participantes residia num contexto suburbano e pertencia a agregados familiares de classe média e média-baixa. O contexto familiar destes jovens foi marcado, num número significativo de casos, por várias interpolações e afastamentos desde os primeiros anos de vida, sendo educados pelos progenitores com estilos parentais maioritariamente Permissivo, devendo-se, contudo, salientar que os jovens agressores não sexuais revelaram uma maior probabilidade de ter tido uma mãe com estilo parental do tipo Permissivo

comparativamente com os jovens agressores sexuais, que por sua vez apresentaram uma maior probabilidade em ter uma mãe “Negligente” ou “Autoritária” do que os jovens agressores não sexuais. Já no que concerne aos estilos parentais dos pais, estes

oscilaram entre Permissivo, Ausente e Negligente, não se verificando diferenças entre os dois grupos de jovens. Estes agregados familiares apresentaram manifestas

dificuldades em supervisionar e controlar os comportamentos e impor regras e limites comportamentais aos seus filhos, sendo o recurso à punição física frequente e existindo, também, não raras situações em que subsistem maus tratos físicos. A ocorrência de violência doméstica no contexto familiar, em muitos casos, não evidenciou diferenças entre os dois grupos de jovens.

Estes resultados vão, de certa forma, ao encontro do que é descrito sobre a temática de comportamentos sexuais violentos na adolescência, nomeadamente no facto de sugerir que estes comportamentos são “aprendidos” e que, frequentemente, os JAS residem em ambientes com elevados níveis de negligência e violência (Rich, 2003). A teoria da aprendizagem social ou a sua posterior teoria da cognição social constitui o quadro teórico que é mais comum e explica o constructo da literatura referente aos JAS, incorporando elementos do condicionamento operante e da cognição social (Burton

(39)

&Meezon, 2004). A sua premissa básica é de que o ser humano tende a “modelar” ou imitar o comportamento ao qual é exposto durante a infância, gerando assim um reportório comportamental próprio (Sofocleus, 2013). De acordo com esta teoria, a violência é aprendida e modificada a partir dos modelos existentes na família (pais, irmãos e outros parentes). Se a criança vivencia/testemunha momentos em que os seus familiares respondem com violência a situações de stress/conflito, há um maior risco de mais tarde desenvolver o mesmo padrão de respostas (Mihalic & Elliot, 1997).

Adicionalmente, a aprendizagem observacional inicial sobre o que são interações “apropriadas” no seio das relações íntimas é definida e demonstrada pelos pais e pelas pessoas significativas (Stinson et al., 2008). A teoria da aprendizagem social sugere que no contexto familiar, o comportamento pode ser ensinado e aprendido, incluindo comportamentos sexuais e abusivos. É sabido que nem todos os JAS têm um historial de vitimização de abuso sexual ou estão inseridos em famílias que permitem ou promovem o abuso sexual. Para além disso, nem todas as vítimas de abuso sexual se tornam agressores sexuais. Contudo, entre os estudos sobre os JAS, as características da criança e da sua família revelaram-se domínios determinantes no desenvolvimento do comportamento criminal (Sofocleous, 2013).

Segundo o mesmo autor, os vários estudos realizados sobre a temática da

agressão sexual cometida por jovens, as características do jovem e da sua família têm-se revelado domínios importantes no desenvolvimento do comportamento criminal. Tendo como finalidade a compreensão efetiva e o providenciar de um tratamento eficaz para os Jovens Agressores Sexuais (JAS), é impreterível recorrer a uma análise de fundo sobre as experiências de infância e as características da família. Adicionalmente, uma

descrição mais precisa sobre as características de jovens agressores não sexuais como de jovens agressores sexuais é determinante para perceber padrões possíveis e até mesmo crónicos ou diversos da sua delinquência.

No que concerne às características individuais do próprio jovem, uma grande parte manifestou uma postura tendencialmente agressiva, assumindo a pertença a gangs e o convívio com pares problemáticos, sendo isso mais prevalente nos JANS do que nos JAS. Para além disso, esta prevalência está também patente nas dificuldades na

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As capacidades cognitivas dos participantes variaram entre média e média-baixa, sendo significativamente mais baixa em JANS. Em concomitância com estes resultados, o ajustamento escolar foi claramente desajustado do que deveria ocorrer em função da faixa etária dos participantes, verificando-se elevados níveis de absentismo e a

demonstração de comportamentos no contexto escolar, em geral, desadequados

(sobretudo nos JANS). Stephenson, Woodhams e Cooke (2014) verificaram que a nível escolar, os jovens agressores sexuais apresentavam necessidades educativas especiais e dificuldades na alfabetização, com maior propensão a serem excluídos da escola.

Focando nos Jovens Agressores Sexuais no que se refere aos aspetos criminais, verificou-se a ocorrência recorrente de crimes anteriores até ao momento de ser

registado judicialmente pelo crime sexual. A este respeito, denotou-se uma taxa de reincidência criminal na amostra total de 12.7%. As vítimas são maioritariamente do sexo feminino e os atos sexuais praticados implicaram, com grande probabilidade, penetração vaginal ou anal com pénis. Percebe-se que a maioria das vítimas dos JAS são possivelmente colegas de escola ou de instituição dos jovens agressores, os seus vizinhos ou familiares próximos, ou seja, são conhecidos do agressor. Em relação ao contexto onde o crime foi cometido, verificou-se que os locais mais comuns são as residências do agressor ou da própria vítima, devendo também destacar-se a ocorrência frequente destes crimes na Escola ou nos Lares onde se encontravam

institucionalizados. Os crimes de agressão sexual foram cometidos, na maior parte das vezes, de modo individual (ao passo que nos JANS é mais provável que o crime seja cometido em grupo), sem violência física e de modo manipulador ou ameaçador.

Kaufman, Hiliker e Daleiden (1996) verificaram que um conjunto diverso de estratégias do tipo manipulador/ameaçador (e.g. oferecer presentes e prestar

atenção/carinho para conquistar a confiança da vítima, ameaçar magoar amigos e familiares da vítima e alterar a relação entre agressor e vítima por forma a garantir a cooperação da mesma, ameaçar causar danos físicos e retirar benefícios para manter o silêncio da vítima) são frequentemente usados por agressores de vítimas tanto do sexo masculino como feminino. Outro fator importante relacionado com o modus operandi é a relação entre o agressor e a vítima (isto é, intrafamiliar ou extrafamiliar). Um membro da família é mais acessível e pode ser abusado sexualmente com mais facilidade. Nesta situação, o agressor pode beneficiar do seu estatuto e autoridade como um membro da

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família (Leclerc et al., 2008). Kaufman, Hiliker e Daleiden (1996) estudaram esta variável no modus operandi de agressores adolescentes, verificando que os agressores que primordialmente optam por vítimas familiares adotam mais frequentemente

estratégias que consistem em recompensar a vítima com presentes para conquistar a sua confiança, prestar atenção/carinho, ameaçar alterar esta relação para garantir a

cooperação da vítima, e ameaçar retirar benefícios com vista a manter o silêncio da vítima, comparativamente com agressores que selecionam vítimas não familiares. O local do crime constitui um fator situacional crucial na conceção e concretização do crime (Wortley & Smallbone, 2006). Por exemplo, o infrator pode estar mais disposto a abusar sexualmente num local privado, como na sua casa do que em casa da vítima por causa dos riscos mais baixos de apreensão (Leclerc et al., 2008). Para os mesmos autores, a casa do agressor parece ser a melhor localização possível para cometer um crime, pois oferece várias vantagens comparativamente com outros locais. Na sua casa, o agressor tem a oportunidade de realizar interações sexuais satisfatórias sem

interferência externa. Os agressores que adotam estratégias de manipulação são mais propensos a cometer os seus crimes em locais fechados e que lhes são familiares (a sua casa ou local de trabalho), do que os infratores que adotam estratégias do tipo coercivo.

No entanto, os resultados deste estudo apontaram para uma igual probabilidade do crime ocorrer na casa do agressor como na casa da vítima, o que corrobora os resultados obtidos noutros estudos em que se verificou que os agressores sexuais de crianças frequentemente concretizam o crime na casa da vítima (Leclerc et al., 2008).

Por último, a análise centrou-se na avaliação efetuada sobre a perceção que o jovem agressor tinha em relação ao seu comportamento agressor e verificou-se que a maioria parece demonstrar pouco sentido crítico em relação aos atos praticados demonstrando, igualmente, pouca capacidade empática para com a vítima. A teoria integrativa de Ward e Beech (2006) incorpora fatores explicativos para a violência sexual juvenil, englobando fatores socioculturais e fatores individuais, tais como predisposições genéticas, as primeiras experiências de abuso sexual ou físico, e as diferenças individuais na empatia, distorções cognitivas, problemas emocionais, competência interpessoal e interesses sexuais Em concomitância com os resultados obtidos neste estudo, os resultados de Ward e Beech (2006), demonstraram que os jovens agressores sexuais diferem de outros adolescentes infratores quanto às suas

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histórias de abuso sexual e físico, problemas de regulação emocional, traços de

personalidade (e.g., impulsividade e empatia), competências sociais, atitudes e crenças sobre o ofensor sexual e interesses sexuais atípicos. Também Stephenson e colegas (2014) identificaram fatores de risco para as agressões violentas cometidas por jovens. Foram registadas informações sobre as condições de vida dos jovens, relações

familiares e pessoais, educação, saúde emocional/mental, de pensamento e de comportamento, e atitudes em relação à agressão. Os resultados indicaram que, à semelhança do que se verificou nos jovens que participaram neste estudo, os jovens que cometeram um crime violento foram mais propensos a apresentarem comportamentos impulsivos e, por sua vez, menos propensos a ceder à pressão e a demonstrarem remorsos/sentimentos de culpa face ao crime cometido.

Recomenda-se a realização de novos estudos, abarcando inclusive outras variáveis importantes, como características da infância e da família destes jovens agressores, visto e como já foi referido anteriormente serem domínios imprescindíveis no desenvolvimento do comportamento criminal, segundo diversos autores. Achamos ainda que há uma maior necessidade da prevenção do crime sexual e que as

intervenções com estes jovens agressores sexuais sejam focadas no sentido da reabilitação dos mesmos, uma vez que a taxa de reincidência é altíssima. Espera-se ainda que a presente investigação assuma um contributo positivo na compreensão de forma mais específica de jovens agressores sexuais e de jovens agressores não sexuais, funcionando ainda como um alerta principalmente para os profissionais da área da psicologia clínica e da psicologia forense.

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Tabela 1. Distribuição dos jovens participantes por instituição de proveniência.
Tabela 3. Número de sujeitos nos dois grupos relativamente á escolaridade dos JAS e  resultados do teste Qui-quadrado realizado
Tabela 4. Número de sujeitos nos dois grupos de Jovens relativamente ao tipo de crimes  ocorridos anteriormente e resultados do teste Qui-quadrado realizado
Tabela 5.Relação entre vítima e agressor nos crimes de Jovens Agressores Sexuais.
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Referências

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