Boletim
de
Pesquisa
I
DEZEMBRO,
1983ASPECTOS
DA FENOLOGIA
DE
COI,,II GOELL.,,.J
HUBER E
SUAS RELAÇÕES COM ALGUNS
PARAMETROS CLIMATICOS
Empresa Brasileira de Pesqulsa AgropscuBria
-
EMBRAPA Vinculada ao MinlstBrlo doi AgrfculturaCentro de Pesquisa AgropscuBrIa do Trópico Omldo
-
CPATUMINISTRO DA AGRICULTURA AngeIo Arnaury Stabi te
Presidente
da
EMBRAPAEliseu Roberto de Andrade Alves Diretoria
Executiva
da EMBRAPAAgide Gorgatti Netto
-
DiretorJose Prazeres Ramalho de Castro
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DiretorRaymundo Fonsêca Souza
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DiretorChefia
do
CBATUCristo Nazaré Barbosa do hlaszimento
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ChefeJosé Furtan JGnior - Chefe Adjunto Tecnico
José de Brito Lourenço Junior
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Chefe Adjunto Administrativo- - - -
EMBRAPA
BOLETIM
DE
PESQUISA N." 54ISSN 0100-8102
Dezembro,
1983ASPECTOS DA FENOCOCIA DE
Cordia
goeldiana HUBER E SUASRECACÕES COM ALGUNS PARÃMETROS CLIWIATICOS
Lise Helene Montagner
Jorge AIberto Gazel Yared
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecudria
-
EMBRAPA Vinculada ao MinlstBrlo da AgriculturaCentro de Pesquisa Agropecutiria do Tráplco Úmido
-
CPATUEDITOR: Comitê
de
Publicações do CPATUExemplares desta pu blicaçáo podem ser solicitados à EMBRAPA-CPAT'U
Trav. Dr. Enéas Pinheiro, s/n." Caixa Postal, 48
66.000
-
Belém, PA Telex [O911 1210Montagner, Lise Helene
Aspectos da fenologia de Cordia goeldiana Huber e suas relações
com alguns parãmetros ~Iimáticos, por Lise Melene Montagner e Jorge
AIberto Gazel Yared . BeIBrn, EMBRAPA-CPATU, 1983.
18p. ilust (EMRRAPA-CPATU
.
Bofetirn de Pesquisa. 54).1 . Freijó
-
Fenologia. 2. Freijó-
Influência. I. Yared, Jorge Al-berto Gazel. 11. Título. III. Série.
CDD: 634.97377
-. -
S U M A R I O
INTRODUÇÃO
. . .
6MATERIAL
E
MÉTODOS. . .
7Caracterização da Area em Estudo
. . .
7. . .
Período
de
Observacóes 8. . .
Coleta e Análise dos Dados 8
. . .
RESULTADOS 9
Crescimento
em Altura e DAP
. . .
9Queda
de
Folhas.
Floração e Frutificação. . .
10. . .
DISCUSSÃO 10
Crescimento
em
Alturae
DAP. . .
10Queda
d e
folhas. Floração e Srutificação. . .
7 5. . .
CONCLUSAO 16
ASPECTOS DA FENOLOGIA DE Cordia goeldiana
HUBER
E
SUASRELAÇÕES
COM
ALGUNS PARAMETROS CLIMATICOS'
Lise
HeleneMontagner
e Jorge Afberto Gaze1 YaredRESUMO
-
O presente trabalho treta da fenologla de Coidla goel- dlana Huber [frei j6) e suas relaçoes com alguns fatores climtlticos.O objetivo foi obter Informações sobre os aspectos relacionados
ao crescimento vegetativo e reprodutivo, que são básicos para o
direcionamento de outras pesquisas com a espécie. O frefJ6 apre-
sentou periodicidade de crescimento. com um periodo de repouso
vegetativo de aproximadamente dois meses, na estação seca. A Insolação, a temperatura máxima e a amplitude térmica foram os fatores mais importantes na determinação da epoca de crescimen-
t o e de repouso vegetativo. A espécie apresentou um camporta- rnento semi-decíduo. A floração e a ftutlficação estão relacionadas
As condições da estação seca.
Termos para indexação: periodicidade, crescimento, floração, fruti- ficaçãe e queda de folhas.
ASPECTS OF THE FEMOLOGY OF
Cordia
goeldiana HUBER ANDTHEIR RELATIONS TO
SOME CLIMATIC
FACTORSABSTRACT
-
The staidy deals with lhe fenology of Cardia goel- diana Muber (freijó) and its relsrtions with some climatlc factors. The objectfve was t o obtain inforrnations on aspects related t o veg- etatlve and reproductive growth basic to researches wlth thisspecies. Freljó showed growth periodicity with a pesiod of veg-
etative rest of two months. The insolation, the rnaximurn temper- ature and the thermal range were the most irnportant Factors deter-
mining perlod of growth snd vegetative rest. The species showed
a semi-deciduous behavior . The flowering and frutification are re-
lated to dry season conditions.
Indsx terms : periodicity, growth, f lowering, frutif ication and leaf fali.
Este trabalho recebeu apoio financeiro do POLAMAZ6NIA e FINEP, Conv8nto IBDF/EMBRAPA.
Eng.0 Florestal, Bolsista do CNPq/EMBRAPA. Caixa Postal 48. CEP 66.000.
Belém, PA.
3 Eng.0 Florestal, M
.
Sc.
Pesquisador da EMBRAPA-CPATLI.
Caixa Postal 48. CEPINTRODWÇÃO
Cordia goeldiana Huber
[freijó]
pertence à família Boragina-ceae, e é uma das espécies
da
Amazônia Brasileira mais comercia-fizada nos mercados interno e externo. Pesquisas recentes têm des-
tacado sua grande potencialidade para a regeneração artificial [Yared
et ai. 1980, Carpanezzi & Yared i981 e Carpanezzi et al. 1983).
Apesar do
esforço
que vem sendo desenvolvido no sentido de se conhecer os aspectos si lviculturais e tornar possível o estabeleci- mento de plantações de freijó, poucas são as informações sobre osfatores relacionados ao crescimento, f loração, frutif icação e queda
de folhas
da
espécie.O estudo da fenologia tem sua aplicação imediata na silvicul- tura quando se passa a conhecer a periodicidade
de
alguns fenõme-nos relativos a atividade biológica da espécie. Varias
praiticas
empre- gadas, tais como estabelecimento deplantações,
podas, raleios,fer-
til ização, deveriam planear-se em função da fenologia do crescimento a fim de se obter melhores resultados [Lojan 19681,
O fenômeno da periodicidade
do
crescimento, em regiões tropi-cais, é
um
assuntoainda
bastante discutido. Apesarda
controvérsiaexistente quanto aos fatores que
regulam
tal periodicidade, Huxley& Eck (1974) e Stubblebine et a1
.
(1978) mencionam que estes podemser tanto
de
natureza endógenacomo
exógena.
0 s trabalhos relacionados com o crescimento de espécies flo- restais são numerosos. Para Lojan (19671, a maioria desses
traba-
lhos mostra que o crescimento é determinado por um ou mais fatores
limitantes da localidade. De uma revisão sobre o assunto, Huxley &
Eck (19741 encontraram que o período
de
repouso vegetativod e
árvo-res tropicais tem sido atribuído a vários fatores climáticos. tais co- mo: seca estacional, umidade atmosférica baixa e fotoperiodismo les- pecialrnente temperaturas mais baixas durante à noite]. Por outro
lado,
o iníciodo
crescimento tem sido atribuídoa
ocorrência dechu-
va, um aumento da temperatura ou um aumento do nível da radiação
solar, um decréscimo na temperatura seguido por um aumento
da
mesma, ou a combinação dos vários fatores. Segundo Krarner 8
Kozlowski (19791, quando a resposta da planta está relacionada à al-
considerado o de maior slgnif icância,
pois
ainda
quevsrios
deles
pos-sam afetar o crescimento, um é mais importante do que outros em
um
dado tempo.Grande parte das
espécies
tropicaisestudadas
apresentam,de
certa maneira, uma tendência geral para periodicidade do crescimen- to vegetativo, independentementedo
tipocfimático,
conforme os tra-balhos de Lojan ('1967, 1968).
Moraes
(19701. Huxley &Eck
(19741,Frankie et
al.
(i9741 e Alvim & Alvim (1978).O fenomeno
da
periodicidade temsido
verificado também pa-ra a queda de
folhas
efloraqáo, as
quais ocorrem commaior
fre-qüência
na estação de menor pluviosidade quando comparado a ou-tras épocas do ano [Araújo 1970, Frankie et al. 1974, Alvim &
Alvim
1978, Alencar et al. 1979 e Carvalho 1980). Segundo Longman & Jenik
(19781, picos estacionais
de
crescimento vegetativo, fIoração e que- da de folhas podem ser mascarados em virtude do grande núme-ro
de
espécies, pela grande variaçgo entre árvoresde
uma
mesma es-pecie e ate entre partes de uma única árvore.
Não obstante a dificuldade
de
avaliar a Importância relativados
vdrios
fatores ambientais, no presentetrabalho
estudou-se al- guns aspectos da fenologia dof
reijó, procurando-se observarpossí-
veis relações com alguns desses fatores.Com
isso, pretendeu-seobter
informações praticas quepossam
ser
adicionadas aos conheci- mentos atuais para um manejo adequado da espécie.MATERIAL E
MfTODOS
Caracterizaqáo
da
Area emEstudo
O ensaio
sobre
a fenologia de freijó foi executado no Campo Experimentalde
Belterra, município de Santarém [PAI, que está si- tuado a uma latitude de 02'38's e longitude de 54"57%V.O clima é
do
tipo Ami. segundo a classificaçãode
Koppen;com
uma temperatura média anual de 24,g°C e precipitação anual media de 2 . i 0 0 mm, ocorrendo menos
de
60 mm pormês,
entre os meses deO estudo foi concentrado em duas áreas de plantios experi-
mentais com as seguintes características: a] Area i
-
plantio a pie-no
SOE,
com espaçamentode
5 mx
5
m e 6 m x 6 m, realizadoem
7980; e b] Area2
-
plantio a pleno sol, já desbastado, com espaça-mento 10 m
x
I 0m,
realizado em 1976.Período
de
Observa~ões
As observações
foram
realizadas
a cada 20 dias por um pe-ríodo
de
16meses,
compreendido entre novembro de 7981 efeverei-
ro
de
1983,Coleta e Análise dos Dados
Para as observações fenológicas foram se lecionadas dez irvo-
res na Area i e doze árvores na Area 2, sendo que cada árvore foi
considerada uma repetição.
Na Area i, foram coletados os dados de altura e DAP [diâme- tro à altura do peito] para o estudo do crescimento. Para a mediçáa
da altura, utilizou-se uma régua graduada com precisão de í crn.
A
medição do DAP foi efetuada com um paquímetro de precisão de 1
mm, sendo que as árvores foram marcadas à altura de 1,30
rn
dosolo
a fim de se evitar erros
sucessivos
de medições.Na
Area 2, foram feitas obsewacões visuais de queda de fo-I
has, floração, frutificação
e queda de sementes, registrando-se o re- ferido evento para cada árvore individualmente,Os elementos climáticos utilizados para o estudo da fenollogia
foram umidade relativa, precipitação pluviométrica. horas de
brilho
solar, número de dias
com
mais
de
4 mm de chuva diária, temperatu-ras média, máxima e mínima e amplitude térmica.
Esses
dados foramobtidos na Estação Meteorológica de Belterra, localizada a quatro qui-
lômetros da
área
experiment'al e fornecidos pelo Instituto Nacional deMetereologia
-
INEMET, Belém,PA.
Para avaliar o efeito da distribuiçiio da pIuviosidade no cresci-
mento, considerou-se o número de dias com valores iguais ou supe- riores a 4 mm diários de chuva. O valor limite de 4
mrn
representa,aproximadamente, a média diária de evapotranspiraçáo potencial da
O estudo da correlação entre as caracteristicas de crescimen- to e os parãmetros climhticos foi
efetuado
medianteo
Coeficiente deCorrelação de Spearman, conforme metodologia também
adotada
porCaser & Kageyama (1981).
Crescimento
em
Altura eDAP
A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos do estudo
da
cor- relação entre as características de crescimento (altura e DAP) e at-guns parâmetros
cl
imáticos (umidade relativa,precipitação,
insola-ção, temperaturas máxima, média e mínima e amplitude térmica), em Belterra, PA .
TABELA 1. Coeficiente de Correlaeo de Spearman entre as caracterCstices de
crescimento [altura e DAP] do frefjd e alguns parâmetros clim8tices.
Aliura Diâmetro
[ml rcm1
Umidade relativa
[%I
Precipitação pluviométrica [mm] Insolaç3o [horas) Temperatura [oC3 Mgxlma rn Media Mínima
Número de dias com mais de 4 mm de chuva
Amplitude térmlca [oC]
Signlficãncia ao nível de 5%
" Signlficância ao nível de 1 */O
O
crescimento emaltura
apresentou
umacorrelação
positivaaltamente significativa com
a
umidade relativa, precipitação enQme-
ro de dias
com
mais de 4 mmde
chuva diária, porém negativa com adência foi observada para o crescimento em diâmetro,
sendo
que es- ta característica também mostrou-se correlacionada negativamente, ao nívelde
5%,
com a temperatura média, Tanto o crescimento emaltura como em DAP, não foi correIacionado com a temperatura mi-
nima.
Para melhor visualizar as correlações obtldas, são mostradas,
na
Fig.
1, as tendências das curvas do crescimento em altura e diâ-metro e dos elementos climáticos.
Queda de
Folhas,
Floração e FrutificacãoEm geral, os resultados das observações fenológicas sobre a
queda de folhas, floração e frutificagão revelam que o freijó obedeceu
a seguinte
seqfiência
no
período estudado:-
Amarelecimento das folhas: agosto-setembro-
Queda de folhas: setembro-outubro-
Folhas novas e floração: outubro-novembro-
Frutif icação: dezembro-janeiro-
Queda dos frutos-sementes: janeiro-fevereiroCrescimento
em
Altura e DAPO estudo da variação das características
fenológicas
de
espé- cies florestais é de grande importância,não
apenas paraa
compreen-são da dinâmica das comunidades florestais, mas também como um indicador da
resposta
destes organismos 2s condições climáticas eedaficas
de uma região [Fournier 3969). A representação gráficaem
forma de curva é, segundo Lojan [1967), um método que permite
ob-
servar as variações fenológicas deuma
especie, assim como as doselementos climáticos em
períodos
sucessivosde
tempo.Para Kramer & Kozlowski (19791, no estudo de correlações entre o crescimento e os fatores ambientais,
onde
se atribuem relações de causa e efeito, é necessário ter-se certa precaução: um alto grau defator está influenciando o crescimento, quando, de fato,
ele
está me- ramente associado a um outro fator que e realmente efetivo, mas quepode
até nãoestar
incluidona
análise.Os incrementos em altura e DAP mostraram urna correllaçáo
significativa e positiva
com
a precipitaçáo, umidade relativa e núme.ro
de
dias commais
de
4 rnm de chuva diária [Tabela I ] . Correlações significativas e negativas foram encontradascom a insolação,
tem-
peratura máxima e amplitude térmica. O incremento em DAP foi
cor-
relacionado negativamente também com a temperatura média. Essas
correlações são melhor
visualizadas
na Fig. I .Observa-se
que as cur- vas do crescimento em altura, seguem uma tendência mais ou me-nos semelhante as de precipitação, umidade relativa e nitmero de
dias com mais de 4 rnm de chuva
diária,
enquanto há uma tendênciainversa em relação às curvas de inso [ação, temperaturas média e má-
xima e as de amplitude térmica.
As curvas do crescimento em altura e DAP, apesar de segui-
rem
amesma
tendência, não apresentaramcoincidência
quanto aosseus
pontos de máximo crescimento, inicio e final de repouso vege-tativo e
época
de retomadado
crescimento. Opico
de maior incre-mento em altura ocorreu no mês de maio,
enquanto
do DAP deu-se em abril. A paralisação do crescimento em altura ocorreu desetembro
a novembro, enquanto em DAP deu-se de novembro a dezembro.
Em relação à pluviosidade,
há
naregião
uma estação chuvosa queinicia,
normalmente, em novembro-dezembro do ano anteriore vai até junho-julho
do
ano seguinte. A estaçso mais seca ocorre noperiodo de agosto a novembro. O primeiro período, que correspon- de aos maiores
índices
de precipitação, é onde se verificam as taxasmais elevadas do crescimento; o segundo, em que a precipitação é relativamente baixa ou quase
nula,
coincidecom
a
diminuição e a pa-ralisação do crescimento [Fig
.
I]. Entretanto.pode-se
observar
queos picos do crescimento
não
correspondemexatamente
aos pontosde máxima pluviosidade. Outro aspecto interessante é que, mesmo
no período chuvoso ou próximo ao seu final [abrid/rnaio), os incre- mentos em altura e DAP começaram a dec tinar acentuadamente. Isto leva a crer que, apesar das condições ainda favoráveis de umidade
do
solo, um ou outros fatores poderiam estar afetando o crescimen-INCREMENTO ALTURA INOEMENTO DIA METRO AM PLITCIDE TERMICA 7 E,M PERATU RA MEDIA T MPERATURA &iMn UMIDADE AELATI VA N? DE DIAS OOM MAIS DE 4 m m DE CHUVA D I A R I A PRECIPITA~ÇÀO PLUVIOMEIRICA 25 1 5 0 5 E 1 5 0 5 2 6 1 4 0 5 2 5 ~ 4 0 5 2 6 1 4 0 6 2 7 I f > 0 6 2 ~ 14052617 DATA D A S _ N O J F M A M J J 4 s O N D J F OBSERVAÇWS
I
1 9 8 2I
F I G . 1 . Tendências do crescimento (incremento emolturo e D A P ) do f r e i j 0 e de a l g u n s elementos c i i m 8 i i c o s diironte o p e r í o d o dos o b s e r v o ç ó e S .
to e náo propriamente
uma
deficiência de água no solo. Da mesma forma, nesse período, a umidaderelativa
doar
aindaera
elevada eestável, por volta
de
95%.
Quanto
2
insolação, observou-se que o períodode
maior cres-cimento correspondeu, também, com o de horas
de
brilho solar maisreduzida.
A
insolação teveuma
variação entre í17,3
horas de brilho solar no mês de fevereiro [valor mínimo] a 271,7 horasde
brilho so- lar em agosto [valor máximo]. O aumentoda
insolação correspondeu a uma diminuição do crescimento e vice-versa.E
evidente, que a épo-ca
de
maior nebulosidade está tambSrn associada ao período de plu- viosidade mais intensa.Uma diminuição no crescimento
do
freijó parece estar estrei-tamente relacionada ao
aumento
do número de horas de brilho solar e a elevação da temperatura máxima.Esse
fato corrobora a afirma-ção de Carpanezzi et al. (19831 de que o freijó apresenta melhor cres- cimento quando plantado
em
condições de vegetação matricial [som-bseamento leve] e em sistema "taungya" do que a pleno sol. Resul- tados semelhantes foram encontrados por Yared et al. (19831 com a
associação inicial de freij6 e macaxeira [Manihot
sculental, o
quefoi
favorável parao
seu crescimento em altura. O plantio do freijo com sombreamento leve ou associado a outra cultura, aIém de promoveruma
menorinsolação
nas plantas e no solo, favorece também 3scon-
dições locais, de temperaturas mais amenas.
A temperatura máxima apresentou os valores
mais
baixos doano durante o
período
de maior crescimento, oscilando entre 29°C e30°C
e ,no período
de repouso vegetativo, elevou-se até atingir33°C.
A temperatura mínima apresentou menor variação
entre
os dois pe-ríodos, o
que justifica anão
correlação
observada com oerescimen-
to. A amplitude térmica seguiu
uma
tendência similarh
da curva datemperatura máxima.
Pela análise das curvas das temperaturas máxima e mínima (Fig. 11, verifica-se que no período de maior crescimento,
ocorreu
uma menor amplitude entre elas
(8°C
a g°C],A
medida
que houve um aumento da amplitude térmica, os incrementos em altura e DAP co- meçaram a decrescer.Esse
aumento da amplitude deve-se muito maisa uma elevaqão da temperatura máxima do que a uma queda acentua-
to praticamente coincidiu
com
os pontos mais elevados de tempera-tura
máxima, bem corno com as maiores amplitudes t6rrnicas. Essefato justifica as correlações negativas e significativas encontradas
entre o crescimento [altura e DAPI e a temperatura máxima e a am- plitude térmica. Do ponto de vista fisiológico, segundo Kramer &
Kozlowski [I
979).
o decréscimo no crescimento em altas temperatu- ras pode estar também associado à transpiração excessiva e as ta- xas elevadas de respiração, que causam umaredução
dos carboi-dratos
.
A retomada do crescimento em altura deu-se a partir de uma queda da temperatura máxima e da diminuição da amplitude térmica.
E
claro que está associada também, às condições adequadas de dis-ponibilidade de água no solo. O reinicio do crescimento em DAP ocor-
reu um pouco mais tarde do que em altura.
A influência do termoperiodisrno
sobre
a fenologia de espé-cies
florestais, em regiõestropicais,
tem sido enfatizada pordiver-
sos autores [Longman 1978, Longrnan & Jenik 1978, Kramer &
Koz-
lowski
1979
e Larcher 19801. Segundo Longman & Jenik (19781, a va-riação da temperatura exerce um papel importante na ecologia e Ti-
siologia das árvores. As dteraçóes não são tão acentuadas
como
em regiões temperadas, mas algumas espécies podemser
bastante sen-síveis a pequenas variacoes. A esse respeito, Larcher (19801 mencio-
na que plantas tropicais, apesar da estabilidade do regime de tempe-
raturas
nas
regiões
equatoriais,são
ajustadas a oscilaçóes de ampfi- tudeç baixas[cerca
de
3OC3.Uma periodicidade
estaciona1
dos fatores ambientais (insola- ção, temperatura,precipitação
e umidade relativa] é claramente de- finida no planalto do Tapajos, conforme pode ser deduzido da Fig. I. Os resultados da fenotogia do crescimento de freijo revelam que aespécie é perfeitamente ajustada a essas condições. Há um período
d e crescimento,
quando as condições são mais favoráveis, e outro derepouso vegetativo, quando as condições são mais drásticas.
A
sin-cronia
entre a periodicidade de crescimento e a dosfatores
climati-cos, parece ser
também
uma característica inerente da própria espé-cie. Além disso, a arquitetura do freijó favorece esse tipo de com- portamento, conforme conceitos estabelecidos por HalIé et al. (1978)
A periodicidade de crescimento detectada neste estuda para o
freijó,
tem
grande importânciado
ponto de vista pratico. SegundoLojan [1968), para as espécies que apresentam crescimento periddi-
c0 podem ser definidas as epocas
de
atividades tais como:plantio,
adubação, manutenção,
desrarna
edesbastes.
Um crescimento perí0dico resultante das condiçoes de uma
parcial
ou definida estação seca[pequenas
variacões no comprimen-to
do dia,
luz ou temperatura) leva, normalmente, à forrnalção de anèis anuais de crescimento [Mariaux 1981). A presença de anéis anuaisde crescimento é importante, pois permite a realização de outros es-
tudos, tais como a determinação do índice de sítio, competiçáo no povoamento, idade das árvores, etc
.
,
[Tschinkel 19661. Quando emplantações, o freijó apresenta anéis anuais de crescimento bem
ní-
tidos, conforme tem se observado em material proveniente de des-
bastes. Em
árvores
de florestas naturais, o Instituto Brasileiro de De- senvolvimento Florestal-
IBDF
(1981) mencionaque
a esp6cie pos-sui anéis de crescimento distintos e irregulares.
Para a prática de coleta
de
material com vistas à enxertia é importante observar-se a época de maior atividade fisiold;gica, quecorresponde, para
o
freijó, aos mesesde
fevereiro emarço,
aproxi- madamente. As manutençoesde
plantios deveriamser
mais concen-tradas no período compreendido entre
o
início
e
o finaldo
crescimen-t o e até suprimidas no de repouso.
Estudos específicos e ernbasados
nos
resultados ora apresen- tados, deveriamser
desenvolvidoscom
o freijó a fim de se ter umamelhor definição para outras atividades silvicu tturais com a espécie.
Queda de Folhas, Floração e
Frutificação
Do mesmo modo que para o cresci;mento, o freij0 apresentou
periodicidade para queda de folhas,
floração
e
frutificação.Este
fe-n8meno é comum para muitas espécies tropicais, principalmente, em
regiões
com
clima sazonal (Tornlinson & Longman 1981]. Enquanto o crescimento do freijó estáassociado
às condiçõesda
estaçãochuvo-
sa, a queda de folhas, a floração e a frutificacão estão relacionadas as da estação seca.
O freijó apresenta troca parcial
de
folhas durante o ano todo.A queda total
das
folhas ocorre noperíodo
mais seco (setembro-outu- bro].
O tempo em que permanece desfolhado é relativamentecur-
to-
cerca de uma semana-
quando então, são emitidas novas fo-I
has.
Por esse comportamento, alem de apresentar periodicidade decrescimento como abordado anteriormente, a
especie
pode ser carac- terizada comosemi-decídua,
conforme Tomlinsorn & Longman [I 9811.
Quanto à
floraçáo
e frutificação, há uma variaçáo relacionada a época de ocorrência desses eventos em diferentes anos, possivel- mente, devido as diferenças nas condições climáticas de cada ano.Um aspecto importante observado foi, também, a grande variação que ocorreu entre as árvores. Apesar
de
uma maior proporção ter flo-rescido e frutificado em uma mesma
época,
um número considera- vel destas floresceram precocemente em julho, ou tardiamente em ja- neiro.Esse
fato torna-se problemático caso se pretenda estabelecer áreas para produçãod e sementes
coma
espécie.
Para essa finalida- de, seria necessário aseleção
de arvores que apresentem floraçáo E frutificação funcionando sincronicamente.C O N C L U S W O
Para as condições em que se realizou
o
ensaio,os
resultados encontrados e discutidos permitem as seguintes conclusões:-
A insolação, a temperatura máxima e aamplitude
térmica foram osfatores
mais importantes na determinação da época decres-
cimento e de repouso vegetativo do freijó;
-
A época demaior
e menor crescimento correspondeu ascondições da estação chuvosa e seca, respectivamente;
-
O freijó apresentou umperíodo
de repouso vegetativo dedois
meses,
aproximadamente, na estação seca;-
A periodicidade de crescimento confirma a formaçáo deanéis anuais de crescimento na espécie;
-
O freijó apresentou um comportamento semi-decíduo; e-
A floraçáo e a frutificação estão relacionadas às condiçõesALENCAR, J . da C. ; ALMEIDA, R .A. de & FERNANDES, N . P. Fenologia de esp6- cies florestais em floresta tropical úmida de terra firme na Amazônia Central. Acta Amaz., 9[1
I:
163-98, 1979.ALVIM, P. de i. & ALVIM, R . Relation of climafe to growth periodicity in tropical trees. In: TOMLENSON, P. B. & ZIMMERMANN, M .H. eds. Tropical trees as living systems. Cambridge, Cambridge University, 1978. p . 445-64.
ARAÚ JO, V. C. de. Fenologia de essências florestais amazônicas. I . Manaus, INPA, 1970. 25p. (INPA, Boletim. Pesquisas Florestais, 4).
BASTOS, T
.
X. Clima P6Io Tapajos. Belés, S. ed., 1982. 1 p . (datilografado).CARPANEZZI, A. A . & YARED, J .A. G
.
Crescimento de freijó (Cordia gueldianuHuber) em plantios experimentais. Relém, EMBRAPA-CPATW. 1981
.
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