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Pode o Amor ser Roubado - Propriedade Intelectual e Capitalismo Murillo Cruz

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Pode o Amor ser Roubado ? Propriedade Intelectual e Capitalismo

Murillo Cruz - Notas de Aulas: (junho de 2010 MB)

O Capitalismo é uma etapa-fase (i) sui generis, (ii) conseqüente1, e (iii) suprassumida (sublate) da atividade comercial mercantil diuturna milenar. Ou, dito de outra forma: Business é uma etapa-atividade (i) sui generis, (ii) conseqüente, e (iii) suprassumida, dos objetivos diuturnos das atividades comerciais e mercantis milenares.2

A Loja, a Unidade Produtiva com finalidade de lucro, e a Firma, estão, para o Comércio-Atividade Mercantil-Produtiva, assim como o Empreendimento-Going Concern estão para as atividades de Business. Daí John Commons referir-se, já em 1920, às vezes, ao going business, como um dos elementos chaves (senão o elemento chave) do Capitalismo (ou à própria definição de Capitalismo).

O capital patrimonial operacional tangível (i.e., de serventia, objetivo e ostensivo), define uma eficiência; e, logo, uma lucratividade (ao ver o negócio sob a ótica de suas operações ostensivas).

1Consequente no sentido de que é uma conseqüência da expansão material econômica do Ocidente, isto é, da Era do Artesanato, da Revolução Industrial, etc; Assim como,

consequência das inúmeras revoluções filosóficas, estéticas e morais do Homem e do

Mundo Modernos.

2 É milenar a “promessa” (a potencialidade) da transformação da atividade mercantil em

business; mormente após o sequestro da Economia (oikos-nomeoh) pela Crematística (khrematistiké) nos tempos antigos.

Crematística é um conceito aristotélico que advém das idéias de khréma e atos - busca incessante da produção e do açambarcamento das riquezas por prazer.

A prática crematística consiste em colocar a procura da maximização da rentabilidade financeira (acumulação de numerário) antes de qualquer outra coisa, em detrimento, se necessário, dos seres humanos e do meio-ambiente. É da natureza da prática

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Mas o Goodwill do Dono, i.e., as vantagens incorpóreas ou adicionais do seu negócio, devido às suas destrezas, competências e demais qualidades (únicas ou especiais), privadas, ... ERAM “ele”, ou ERAM “dele”, como posse e propriedade (ownership), e não como property. Tais qualidades e demais intangíveis pertenciam (como ownership) à ele (ao dono) e estavam indissoluvelmente atreladas a ele, ou ao conjunto (acima) – compondo um

Fundo de Comércio.

[um artesão competente – ou um empresário competente – possui em si (ou comanda, a partir de si) suas habilidades e goodwill (os segredos de fabricação, construção; seus canais de distribuição, etc.). São valores – intangíveis – atrelados fortemente ao sujeito, e permanecem, nesta longa fase (pré-capitalista), indefinidamente com o sujeito.

Tais habilidades e competências não podiam ser negociadas como property(ies); até porque não eram consideradas properties independentemente das coisas e/ou das próprias pessoas que lhes davam transparência e evidência. A propriedade era “propriedade” de, ou sobre,

coisas tangíveis.

O Goodwill, as vantagens e as qualidades da Firma, ou melhor, do Dono da Firma (ou das coisas em suas materialidades, veículos do goodwill), eram (e ainda são, em milhões de pequenos e médios empreendimentos) USUFRUÍDAS, ou sentidas, no processo final de venda de seus produtos, serviços, ou processos; isto é, nos mercados de venda. [Notar, e.g., a forte característica de operação/atividade backward da cristalização (manifestação) do goodwill, nos produtos tradicionais, como bebidas, perfumaria, alimentação, etc.]. O Dono da Firma obtinha um “sobre valor” (uma mais-valia), relativamente à média, em decorrência destes monopólios (como eram então conhecidos) (ou destas Assimetrias, como designamos atualmente). O Dono da Firma obtinha, então, uma Renda, isto é, um valor adicional acima do “lucro natural” (Invenção dos economistas clássicos: este lucro médio = régua dedutiva de uma hipotética situação ótima-ideal competitiva ... a competição perfeita).

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Mas esta Renda era decorrente de um conjunto muito amplo e intangível de fatores, fatores estes não reconhecidos como tendo existência isolada dos próprios objetos. Alguns “mais corpóreos” e perceptíveis, como a Localização, a qualidade das matérias primas utilizadas (na fabricação de cerveja, vinho, etc. por exemplo); mas, outros, fortemente intangíveis, como por exemplo: a reputação tout court, os segredos de fabricação, etc.

O Capitalismo irá, entre outras coisas, transformar as VANTAGENS (do

Dono da Firma, ou “colhidas” e perceptíveis nos objetos e serviços da Firma

– e que não eram reconhecidos como virtualmente passíveis de serem títulos de propriedades - properties) oferecidas ou apresentadas no ou ao Mercado, isto é, o seu Goodwill, (normais e milenares) ... em DIREITOS de propriedade, isto é, em properties. As ownerships das vantagens, que se materializam e se expressam nos OBJETOS (ou na percepção que os consumidores possuíam ou possuem destes OBJETOS) ... serão transformadas (i.e., suprassumidas) em direitos de propriedade (destas vantagens), ... em “properties”. (Mas, como veremos adiante, em uma “property” especial, sui generis, grávida de dificuldades e compreensões). Fazendo também com que extendessem os direitos (das vantagens) ... em direitos exclusivos “ao mercado”, para aplicarem-se precisamente como “properties” (que sempre são, ou deveriam ser, exclusivas, plenas e totais – um direito erga omnes). (Ao menos em alguns objetos da propriedade intelectual, como as patentes, os copyrights, etc., por exemplo. As marcas, e demais signos distintivos do negócio, sofrerão tratamento diferenciado, mas com efeitos bem semelhantes). Uma grande confusão, fruto de grandes controvérsias, decorrente do aspecto de suprassunção do instituto aqui em apreciação, é a centenária discussão acerca dos direitos plenos, totais, e eternos destes objetos da propriedade intelectual moderna, como properties. Algumas heranças do instituto anterior, e das fases anteriores, estão, e continuarão, presentes na etapa atual do Capitalismo, [(i) a “concessão”, por autoridade pública, das patentes modernas, etc.; (ii) a “imbricação” com “simples” qualidades genericamente conhecidas em outros Donos de Firmas; (iii) o próprio caráter “sistêmico” e suprassumido das ciências e das Técnicas, etc.]. Um direito de propriedade

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exemplo, deveria, neste caso, ser “eterno”, irrestrito e total; erga omnes. A alegação de que um tal Direito seria contraproducente, ou pernicioso para a sociedade e outros agentes não incluídos nesta concessão, neste direito, somente deixa claro que o instituto do direito moderno de propriedade intelectual é um Direito sui generis: tímido e envergonhado. Diz tal Direito: “Eu reconheço, obviamente, a sua ownweship sobre X (desde, é óbvio, que esta ownweship possa ser claramente distinguível de todas as demais ownerships); e lhe concedo, mesmo, e então, a “property” sobre tal objeto X”. Isto é, transformo tal item indiferenciado e intangível do “passado”, em uma property; mas, como esta é suprassumida (em aspectos tangíveis-técnicos ou intangíveis-de qualidades), e/ou envolvem grandes interesses adicionais, tal “property” será, então, limitada, ou fortemente relativizada. Estes limites, portanto, são frutos de grandes controvérsias e debates, principalmente diante da assertiva de uma concessão e reconhecimento destes itens como “property”(ies).

Notar que um comerciante (ou fabricante) competente, e com bom Goodwill, poderia produzir ou comercializar (com vantagens), seus produtos ou serviços (pães, e.g.). Seus objetos produzidos estavam protegidos legalmente contra roubos e contrafações sobre os mesmos. O dono possuía (e ainda possui) os direitos legais sobre a posse e a propriedade destes objetos. Mas não possuía, propriamente, para si, em caráter exclusivo, o mercado de seus produtos ou serviços (o mercado de “pães”, por exemplo), e nem sequer qualquer

propriedade (isoladamente) sobre as qualidades e as competências

(know-how, reputação, etc.) vinculados ao produto. O direito de propriedade exercia-se “somente” sobre o objeto, e, inclusivamente, as qualidades causadoras de qualquer goodwill, seriam “apenas” verificadas e usufruídas (pelo dono), mas não eram reconhecidas como tendo existência, corpo e clarificação independente dos próprios produtos. A não ser que obtivesse um “privilégio real” mercantil, sobre este produto ou serviço, ao mercado. Mas mesmo assim este privilégio não era um direito (individual, privado) dele. Mas sim, uma concessão, arbitrária, da autoridade real ou pública.

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.(1) Na etapa pré-capitalista (cf. Commons) o Goodwill (atrelado ao “capital comercial das Firmas” – cap^) fazia parte integral e era importante para as atividades fim da Firma e importante para a finalização, (junto à clientela de bens e serviços) de todo o processo econômico mercantil. Aqui, o Goodwill era importante para realizar ou vender ALGO TANGÍVEL, ou ostensivelmente vinculado a uma realidade social e material, para clientes em busca de bens e serviços. [ D – M ... M – D´ ]

.(2) No Capitalismo, o Goodwill é importante não para QUALQUER FINALIZAÇÃO DE PROCESSOS (econômicos ou mercantis clássicos) ... a expansão do Goodwill busca atrair “consumidores” diferentes (investidores, aplicadores, jogadores, especuladores monetários, manipuladores de securities e contratos). Visa o “mercado de capitais”. Este opera a futuro; os “produtos” (sic), isto é, os objetos dos contratos não precisam existir (concretamente e/ou presentemente). São processos, são virtualidades, etc.

Grandes revoluções conceituais e institucionais contemporâneas: (i) as Finanças Corporativas e a economia de crédito; (ii) a concepção de propriedade; e (iii) o conceito de capital (relevante). Em uma versão de T.Veblen ... e em outra de J.Commons. Para Commons a Revolução Industrial decorre de uma Revolução Comercial (institucional) prévia. Para Veblen, a Revolução Industrial decorre (também) de uma mudança institucional (dos hábitos de pensamento menos animísticos da era do artesanato). Ambos concordam que as mudanças chaves são “institucionais”, mas diferem, em parte, das definições de “instituição”

A patente de invenção, portanto, teria também 2 ângulos: (i) um feudal pré capitalista ... um direito à invenção (direito do inventor à inovação feita sobre “processos tangíveis econômicos” – produtos e processos industriais. Embora um bem intangível (um Direito), o direito deveria exercer-se SOBRE o objeto concreto da inovação (da idéia inventiva) (produto ou processo) ... Direito sobre alguma coisa existente na atividade mercantil produtiva. Daí a expressão ... patente de invenção.

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(ii) um ângulo financeiro capitalista. Por este ângulo, a ênfase recai no aspecto da exclusividade, no direito exclusivo ao mercado; mas “pleno”, i.e., podendo negociar tal direito como um bem (proprietário) qualquer.

Antes do “capitalismo”, quando eu vendia uma colher, eu vendia TUDO; os materiais, a função daquela colher; e, se alguém soubesse o know-how, o “direito” de alguém reproduzir e vender outra colher igual (daí, por exemplo, as inúmeras cópias da marca de Durer !!), pois esta idéia de contrafação de uma ideia, de um signo, ou de um conhecimento - era estranha aos medievais). Ou seja, esta idéia de que estava alguém “roubando” algo intangível (conhecimento, abstrações, etc.) era inconcebível! O Amor poderia sim ser roubado !!.

O direito (moderno) da patente de invenção buscará separar duas coisas; dois direitos; vendo, por um lado, o objeto, etc. MAS NÃO VENDO o Goodwill (ou a idéia inventiva, que pode continuar a ser minha, de acordo com o direito moderno de patentes). E aqui surge uma outra dificuldade doutrinária: se a idéia inventiva é só sua (como um certo objeto, por exemplo), não poderia ser alienada – licenciada, negociada, etc. – para mais de uma pessoa ... Mas a intangibilidade e a reprodutividade sem qualquer perda ou “diminuição” da coisa licenciada, faz deste “direito” um direito mais ainda especial.

Um outro “problema” adicional: se dei o direito para você, se a idéia inventiva é só sua, não poderia, ou não deveria poder ser alienada, negociada ou licenciada (como eram as restrições das antigas corporations) ... A concessão (real ou pública), antes do “capitalismo”, era para uma determinada pessoa ou família. E por não ser uma property, não poderia, portanto, ser negociada ou alienada para terceiros.

Referências

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