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Palavras-chave: INFORMAÇÃO CONTÁBIL. MERCADO DE CAPITAIS. DISCRICIONARIEDADE. PROCESSO CONTÁBIL.

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Academic year: 2021

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CONTEÚDO INFORMACIONAL NOS RELATÓRIOS DE ADMINISTRAÇÃO DE COMPANHIAS ABERTAS BRASILEIRAS: UMA ANÁLISE DO USO DA DISCRICIONARIEDADE NA COMUNICAÇÃO DE INFORMAÇÕES AO MERCADO Cláudio Gonçalves

Mestrando em Contabilidade e Controladoria

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e-mail: mestradoclaudio@outlook.com

Fernanda Gomes Victor Doutora em Administração

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e-mail: fernanda.victor@ufrgs.com.br

Mariana de Oliveira Cavalheiro Graduanda em Ciências Contábeis

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e-mail: mariana_ocavalheiro@hotmail.com

Área Temática: Contabilidade para usuários externos RESUMO

Considerando que a valia das demonstrações financeiras está fundamentada na qualidade informacional que é ofertada aos usuários destas informações, estudos acerca da utilidade, da transparência e da confiabilidade da informação contábil divulgada aos usuários externos, tornam-se importantes. Tendo como base o Relatório da Administração de Companhias Abertas listadas no Novo Mercado e no Mercado Tradicional da BM&FBovespa no ano de 2015, este estudo se propõe analisar o conteúdo das mensagens comunicadas pelos administradores, acerca dos temas pontuados na Lei nº 6.404/76 e nos pareceres de orientação da CVM de números 15/87, 17/89 e 18/90, a fim de identificar como a discricionariedade inerente à divulgação de informações no relatório da administração é usada pela administração de Companhias Abertas brasileiras para comunicar informações ao mercado. Logo, este estudo parte da hipótese que as empresas efetuam uma comunicação seletiva ao mercado, que tende a destacar aspectos positivos e omitir aspectos negativos em seus relatórios. A pesquisa caracteriza-se como descritiva quanto aos objetivos, com abordagem qualitativa do problema de pesquisa. O procedimento de coleta dos dados se deu de forma documental e as informações foram analisados por meio da técnica de análise de conteúdo e análise de asserção avaliativa. Os resultados trazem indícios moderados de otimismo na divulgação dos itens: Mensagem da Administração, Descrição do Negócio, Conjuntura Econômica e Perspectivas, e também nos itens Desempenho, Investimentos, Dividendos e Endividamento. Já nos itens Auditoria, Reformas da Administração e Capital Social e Estrutura, as companhias são mais brandas em seus comentários. Conclui-se que há considerável discricionariedade, que pode ser usada com fins à divulgação seletiva de informações ao mercado.

Palavras-chave: INFORMAÇÃO CONTÁBIL. MERCADO DE CAPITAIS. DISCRICIONARIEDADE. PROCESSO CONTÁBIL.

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1 INTRODUÇÃO

O mercado de capitais global experimentou três décadas de expansão até a crise mundial de 2008. Localmente, as companhias acompanharam a curva de ganhos oportunizada pela redemocratização do país na década de 80, pela abertura comercial nos anos 90 e pela consolidação do mercado de capitais brasileiro nos anos 2000. Em paralelo, a contabilidade positiva evoluiu espelhando-se nas evoluções da ciência econômica. Seminalmente, Ball e Brown (1968) associaram as informações dos lucros com os retornos das ações. Os autores abriram o campo da Positive Accounting Theory, para as análises de Watts e Zimmerman (1978; 1979 e 1986). Convergindo ao cenário atual, no qual Sarlo Neto (2009) afirma que “a ideia de relevância da contabilidade está diretamente ligada à sua capacidade informacional, que significa o seu potencial de transmitir informações que influenciam as expectativas dos usuários”.

Em face a atual conjuntura do mercado de capitais, a perspectiva informacional da contabilidade ganha enfoque significativo. As informações contábeis podem se tornar uma vantagem competitiva para as organizações (McGEE; PRUSAK, 1994; BEUREN, 2000). Goldratt (1991), McGee e Prusak (1994), Davenport (2000) e Beuren (2000) tratam sobre a importância do alinhamento informacional para as organizações inseridas num ambiente de escalada da competitividade. O volume de informações e dados que influenciam as organizações exige uma coordenação eficaz para Beuren (2000), esse tópico é parte constituinte do processo decisório da administração das companhias.

Meigs, Johnson e Meigs (1977) apontam que diferentes decisões empresariais são fundamentadas, ao menos em parte, pelas informações contábeis. Entretanto, mesmo tendo o objetivo de subsidiar eficientemente os administradores no processo decisório, em certas circunstâncias a informação proveniente da contabilidade causa o efeito oposto. Por serem imprecisas e incompletas, tais informações deixam de retratar o desempenho operacional da companhia (WERNKE; BORNIA, 2001). Para Johnson e Kaplan (1993), as informações contábeis originárias pelas práticas e pelo conjunto de informações financeiras da organização, são deveras tardias e aglomeradas para que assumam função relevante nas decisões do planejamento dos gestores.

Beuren (2000) ressalta que os tratamentos práticos que são dados ao gerenciamento informacional, empregados pela contabilidade, pelas finanças, pela informática, etc., têm pulverizado o encargo de melhoria no volume, na qualidade e na tempestividade da originação e comunicação da informação contábil aos seus diferentes usuários. Para tanto, o contador não deve esperar que um único grupamento de relatórios vá atender as necessidades informacionais dos administradores (ATKINSON et. al., 2000), pois tais necessidades frequentemente divergem substancialmente das informações reportadas (MEIGS; JOHNSON; MEIGS, 1977). Santos (1998), preconiza a presença de diferentes usuários com necessidades e preferências diferentes, sendo este um impasse do qual a contabilidade não pode se abster. Na prática a contabilidade se propõe a prestar as informações que julga atenderem satisfatoriamente ao maior número de usuários possível. As pesquisas contábeis atualmente publicadas têm, em larga escala, a proposição de analisar quantitativamente o volume de informações que são divulgadas. Poucas são as pesquisas acerca da qualidade informacional que a contabilidade revela.

Dessa forma, a questão problema que se formula no presente estudo é: Como a discricionariedade inerente à divulgação de informações no relatório da administração é usada pela administração de Companhias Abertas brasileiras para comunicar informações ao mercado? Logo, este estudo propõe o desenvolvimento de uma análise de conteúdo do discurso

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técnico empregado nos Relatórios da Administração das companhias, partindo da hipótese, baseada na teoria da agência (JENSEN; MECKLING, 1976), de que as empresas utilizam a discricionariedade para efetuar uma comunicação seletiva ao mercado, que tende a destacar aspectos positivos e omitir aspectos negativos sobre a realidade econômica da empresa.

O estudo justifica-se por abordar uma temática de interesse tanto do mercado, quanto da academia. Muito se apregoa quanto à importância da informação contábil par ao mercado de capitais e sobre as características fundamentais que a mesma deve possuir a fim de ser relevante aos usuários e fidedigna no relato da realidade econômica subjacente. Entretanto, pouco se pesquisa efetivamente com relação à qualidade da informação contábil, já que a maioria dos estudos, ao se basear em parâmetros estabelecidos em legislações de caráter compulsório, acaba por mensurar a transparência unicamente de forma quantitativa, ou seja, pela frequência de ocorrência das informações divulgadas. Nota-se que a discricionariedade (liberdade de escolha do profissional contábil e da administração da empresa) na etapa de evidenciação do processo contábil, não se encontra apenas na decisão de “divulgar ou não divulgar”, mas também a forma de exposição do conteúdo, que pode vir a se tornar seletiva ou mesmo tendenciosa.

2 REVISÃO DA LITERATURA

A revisão de literatura compreende os conceitos indispensáveis à compreensão da temática pesquisa, incluindo a fundamentação da teoria da agência e papel da evidenciação na mesma; assimetria de informação no mercado de capitais, incluindo o relato de estudos realizados no mercado brasileiro e, por fim, a formulação da hipótese de pesquisa.

2.2 TEORIA DA AGÊNCIA E EVIDENCIAÇÃO

A teoria da agência é embasada no conjunto de contratos implícitos e explícitos, conjectura apresentada por Coase (1937) em seu artigo “The Nature of Firm”. Esta teoria apresentou relevantes estudos nas décadas de 70 a 80, na contabilidade (DEMSKI; FELTHAM, 1978), na economia (Spence e Zeckhouser, 1971), nas finanças (Fama, 1980), no marketing (BASU; LAL; SRINIVASAN; STAELIN, 1985) nas ciências políticas (Mitnick, 1986), na área de comportamento organizacional (EISENHARDT, 1985, 1988; KOSNIK, 1987) e na sociologia (ECCLES, 1985; WHITE, 1985). O desenvolvimento científico que se desenhou nas últimas quatro décadas acerca desta temática, promoveu o significativo avanço das pesquisas empíricas sobre a teoria da agência.

A sua origem advém dos estudos na economia sobre o risco compartilhado entre os indivíduos de um determinado grupo (WILSON, 1968). Nesse estudo, os autores descreveram o problema do compartilhamento de risco quando os entes cooperativos de um determinado grupo atuam de forma distinta frente ao risco. A teoria da agência ampliou este conceito, postulando que este fenômeno ocorre não somente pelos diferentes objetivos dos agentes, mas também, pelas diferentes visões sobre o trabalho (JENSEN; MECKLING, 1976; ROSS, 1973). O conflito surge quando uma das partes, o principal, delega a gestão para outra, o agente.

O ponto focal da teoria da agência é resolver dois problemas, o primeiro ocorre devido as diferenças entre os objetivos do principal e do agente, e ao alto custo de monitoramento da revisão dos atos do agente. O segundo, ocorre quando o principal e o agente têm diferentes posicionamentos frente ao risco, dando margem ao interesse próprio, a racionalidade limitada e maior ou menor aversão ao risco. Presume-se então que o conflito entre principal e agente examina as relações entre pessoas, organizações e informações.

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Alchian e Demsetz (1972) e Jensen e Meckling (1976) aperfeiçoaram Coase (1937), focando na estrutura de propriedade das companhias e como a participação acionária por parte dos agentes pode ajudar no alinhamento de objetivos entre principal e agente. Cabe-se destacar que Jensen e Meckling (1976) analisaram as consequências das idiossincrasias originárias dos direitos estabelecidos nos contratos, entre o principal e os administradores, da companhia. Sobre este fundamento, a teoria da agência foi amoldada pelos autores em torno da separação entre propriedade e controle da firma.

Fama (1980) abordou o conflito de agência sob a óptica da eficiência dos mercados de trabalho e de capitais como mecanismos de controle do comportamento oportunístico dos agentes. Assim Fama e Jensen (1983) definiram a função do conselho de administração como um sistema informacional do qual acionistas de grandes companhias podem se utilizar para monitorar os atos dos executivos. Jensen e Roeback (1983) e Jensen (1984) aprofundaram a análise sobre processos corporativos como “golden parachutes”, que consistem em benefícios geralmente concedidos a altos executivos, e os “corporate raiders”, que promovem a aquisição de grandes participações acionárias e tomam decisões embasadas em seu poder de voto, tão somente objetivando o aumento no valor da ação no curto prazo. O Quadro 1 destaca os diferentes potenciais conflitos de agência.

Quadro 1 – Conflito Principal – Agente

Possíveis Conflitos O que o Principal espera do Agente? Acionistas – Administradores Maximização da riqueza do Acionista Debenturistas – Administradores Maximização do retorno do Debenturista

Credores – Administradores Garantia do cumprimento dos contratos de financiamento Clientes – Administradores Garantia da entrega de produtos de valor para o Cliente. Qualidade (maior), tempo (menor), serviço (melhor) e custo

(menor)

Governo – Administradores Gerentes assegurem o cumprimento das obrigações fiscais, trabalhistas e previdenciárias da Empresa Comunidade – Administradores Gerentes assegurem a preservação dos interesses comunitários, cultura, valores, meio ambiente etc. Acionistas - Auditores Externos Auditores Externos atestem a validade das demonstrações financeiras (foco na rentabilidade e na eficiência) Credores - Auditores Externos Auditores Externos atestem a validade das demonstrações financeiras (foco na liquidez e no endividamento) Administradores - Auditores Internos Auditores Internos avaliem as operações na ótica de sua eficiência e eficácia, gerando recomendações que agreguem

valor

Administradores – Empregados Empregados trabalhem para a administração com o melhor de seus esforços Administradores – Fornecedores Fornecedores supram as necessidades de materiais dos administradores no momento necessário

Fonte: Adaptado de Martinez (1998:2)

Na figura central do agency problem, o agente tem a oportunidade de atuar licenciosamente em benefício próprio, em virtude de um cenário onde há a separação da propriedade, atributo dos donos da empresa, e do controle, facultado a atuação de profissionais remunerados. A teoria da contabilidade trata do conflito de agência, dentro do seu campo positivo, que conforme Watts e Zimmerman (1986), objetiva discutir os fenômenos contábeis, explica-los e prevê-los quando possível. De acordo com a teoria positiva da contabilidade, os custos de agência (por exemplo, custos de acompanhamento e contratos) podem variar devido às diferentes características das empresas, tais como o seu tamanho e o seu endividamento (WATTS; ZIMMERMAN 1978, 1979, 1986).

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Watts e Zimmerman (1986) argumentam que os administradores fazem escolhas contábeis com base em seu próprio interesse. Como os gerentes sabem que os acionistas tentam controlá-los pela contratação e o monitoramento, eles usam incentivos para convencer os acionistas que agem no melhor interesse destes. Uma forma de obter essa confiança é proporcionar aos acionistas informações relevantes e fidedignas.

As decisões dos gestores para a divulgação voluntária de informações são afetadas por uma série de fatores diferentes (ADREM 1999; CORMIER ET AL., 2005). Mesmo que o foco principal deste estudo seja baseado nas teorias econômicas de agência, como teoria da positiva da contabilidade e a teoria do custo proprietário, não cabe a exclusão de outras teorias que possam tratar sobre o presente tema. De acordo com Gray et al. (1995) pode-se ter um problema quando as teorias são vistas como competitivas em vez de complementares. Para Adrem (1999) e Cormier et al. (2005) as divulgações são um fenômeno complexo que não pode ser explicado por uma única teoria.

2.3 ASSIMETRIA DA INFORMAÇÃO NO MERCADO DE CAPITAIS

Três economistas foram particularmente influentes no desenvolvimento da teoria da assimetria informacional: George Akerlof, Michael Spence e Joseph Stiglitz. Os três dividiram o Prêmio Nobel de Economia em 2001 por suas contribuições anteriores. Akerlof (1970) foi o primeiro a discutir sobre a assimetria de informação em seu artigo "The market of “lemons”: Quality uncertainty and the market mechanism" Akerlof afirmou que os compradores de carros veem as informações sob uma perspectiva diferente da dos vendedores, dando aos vendedores um incentivo para vender bens com qualidade abaixo da média no mercado.

Spence (1973) adicionou ao debate a modelagem de empregados como investimentos incertos para as companhias. O empregador não tem certeza de suas capacidades produtivas, quando da contratação, Spence compara esta situação a uma loteria. Spence identifica as assimetrias de informação entre empregadores e empregados, levando a cenários onde os empregos de baixa remuneração criam uma armadilha de equilíbrio persistente que desencoraja a variação para cima dos salários em certos mercados.

É com Stiglitz e Weiss (1981), que a assimetria informacional ganha destaque. Em seu artigo, os autores evidenciam que a assimetria entre possíveis credores e tomadores de recursos pode causar aumento nas taxas de juros, influenciando negativamente sobre a formação do rol daqueles que demandam crédito, apresentando o efeito da seleção adversa, e também afetando a percepção destes quanto ao risco, efeito do moral hazard.

O efeito nas taxas de juros se explica pelo diferente risco de default dos tomadores, e a dificuldade na obtenção de informações por parte dos credores. As informações têm um custo ao credor e, por óbvio o credor repassa este ônus em sua taxa de juros ao tomador, induzindo-o, de certa forma, a ponderar sobre a tomada de créditinduzindo-o, fazendo com que sobre somente os tomadores com maior risco de crédito. Desta forma, a taxa de juros que o agente está disposto a pagar pode ser utilizada como um mecanismo de detecção para os stakeholders (credor e acionista).

Uma vez que as informações advindas da contabilidade ofereçam elementos pertinentes ao processo decisório, então os dados contábeis serão importantes para os investidores (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). Segundo Lopes (2002), a contabilidade é relevante para investidores do mercado de capitais, e o mercado absorve eficientemente a produção informacional contábil. Por conseguinte, a capacidade de resposta do mercado é diretamente correlacionada a eficiência deste e da relevância informacional percebida pelos usuários da contabilidade. Relevância e eficiência são as premissas fundamentais para a celeridade da

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tomada de decisões no mercado de capitais. Schiehll (1996) e Lima e Terra (2004) apontaram a absorção semi-eficiente da informação contábil no mercado brasileiro, dado a sua eficiência semi-forte.

No Brasil o tratamento científico da assimetria informacional no mercado de capitais ainda é recente, se comparado a mercados mais desenvolvidos. Ao final da década de 80 e início dos anos 90, os estudos de Lemgruber, Becker e Chaves (1988), Costa Jr. (1990) e Lemgruber (1993) trataram de verificar o efeito “dia da semana” ou efeito “segunda-feira”, efeito pelo qual pode-se evidenciar retornos baixos ou negativos no início da semana, e crescentes até sexta-feira. Em tais estudos ficou evidenciado a ocorrência do fenômeno, assim como em outros mercados. Em seu estudo seminal, Schiehll (1996) tratou de evidenciar se a publicação das demonstrações financeiras no mercado de capitais brasileiro causa variações no desempenho do preço das ações. Em seus resultados ficou indicado que o mercado é reativo às divulgações das demonstrações contábeis, e que elas produzem efeitos relevantes sobre o comportamento do valor das ações.

Prux Jr. (1998) observou que a divulgação das demonstrações financeiras em moeda constante dos papéis das companhias listadas na BM&FBovespa guarda relação causal com o comportamento do preço das ações. Os resultados revelaram efeitos expressivos da divulgação sobre a variação do preço das ações. Lopes (2002) apurou a função das informações contábeis para descrever as variações nos preços das ações negociadas na BM&FBovespa.

Lima e Terra (2004) pesquisaram acerca da influência dos relatórios financeiros trimestrais e anuais nos preços das ações comercializadas na BM&FBovespa. Como produto de seu estudo, comprovaram que os retornos anormais desses papeis na data de publicação dos relatórios eram estatisticamente insignificantes, indicando que o mercado brasileiro absorve a informação contábil de modo semi-forte, sob o aspecto de eficiência do mercado.

Lima (2010) avaliou a importância das informações contábeis nos períodos anterior e posterior ao começo do processo de convergência ao IFRS. O estudo constatou a relevância das informações contábeis na adoção parcial dos padrões internacionais. Macedo e Machado (2011), confrontaram a importância das informações contábeis antes e depois do processo de convergência normatizado pela lei 11.638/11. Nesse estudo, perceberam incremento informacional no lucro líquido, porém redução no patrimônio líquido, possivelmente pela reação do mercado à crise de 2008. O comportamento do mercado de capitais brasileiro é, portanto, sensível às informações contábeis, reagindo naturalmente àquelas que possuam significativo valor para os investidores.

2.3 FORMULAÇÃO DA HIPÓTESE DE PESQUISA

Para Lee (2006) a contabilidade apresenta como deficiência a imprecisão no conceito de qualidade, visto que o arcabouço normativo está voltado para princípios e segue a estruturação conceitual formatada originalmente pelo FASB. Tomando como base a relação entre o objetivo da contabilidade a qualidade das informações contábeis, para Hendriksen e Van Breda (1999), a utilidade dessas informações reside na sua fidedignidade. Portanto, para ser útil, tem que ser confiável e guardar relevância em termos de valor.

Lopes e Martins (2007) concordam com essa visão, apontam que na contabilidade financeira, a divulgação das demonstrações financeiras após o crivo da auditoria independente, é uma forma inequívoca de demonstrar que a informação contábil atua na mitigação da assimetria informacional. Para os autores, o desconhecimento de informações relevantes pelos investidores coloca os administradores em posição de conflito, desta forma, os investidores

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necessitam de mecanismos independentes que analisem e julguem a discricionariedade dos atos da administração.

Almeida et al (2009) evidenciou que a qualidade das informações contábeis melhorou com o aprimoramento das estruturas de governança corporativa das companhias. Em oposição a este estudo, Cardoso et al (2008) apresentou pesquisa que aponta não haver distinção entre as companhias listadas em segmentos diferenciados de governança corporativa e as demais, quanto a manipulação das informações contábeis no brasil.

Sob o prisma normativo, o disclosure é claramente previsto pela Lei nº 6.404/1976. Sendo as notas explicativas, complementares às demonstrações financeiras, a principal fonte de esclarecimentos que devem ser prestados ao mercado. Em linha, o CPC 26 comenta que as notas explicativas devem evidenciar informações que ainda não tenham sido objeto de análise das demonstrações contábeis, porém, que sejam relevantes à sua compreensão.

As evidências empíricas dos estudos mais relevantes acerca da temática de disclosure voluntário mostram que companhias com melhor qualidade de disclosure têm menor custo de capital próprio (BOTOSAN, 1997; HAIL, 2003; FRANCIS; KRURANA; PEREIRA, 2005; ALENCAR, 2007), custo de capital de terceiros inferior (SENGUPTA, 1998; LIMA, 2007), maior liquidez das ações da empresa (WELKER, 1995; HEALY; HUNTTON; PALEPU, 1999; LEUZ; VERRECCHIA, 2000) e maior monitoramento pelos analistas de mercado (HEALY; HUNTTON; PALEPU, 1999; LANG; LUNDHOLM, 2000).

A ciência econômica pressupõe a racionalidade dos administradores da empresa, então quando consentido, ou seja, quando o disclosure foge do caráter mandatório, os administradores optarão pela não divulgação de informações que possam ser prejudiciais a si e à companhia, ainda que a ausência de tais informações possa, na perspectiva do investidor, prejudicar a sua análise (VERRECCHIA, 2001). Logo, uma informação cuja divulgação seja de caráter não obrigatória, uma vez que não seja divulgada pelos gestores, tende a ser negativa. Nesse caso, se o mercado compreender que o valor da empresa está superavaliado, poderá antecipar uma redução do valor de mercado dessa companhia (DYE, 1985).

Pode-se exemplificar com uma situação hipotética, em que uma companhia comenta com ênfase no seu relatório da administração que os custos operacionais foram reduzidos, contudo, não comenta nada acerca da evolução das suas receitas, provavelmente o seu faturamento não foi tão bom ou até mesmo sofreu redução, para Dye (2001), tal inferência pode ser feita mesmo antes da análise da demonstração do resultado do exercício. Assim, formula-se a formula-seguinte hipóteformula-se de pesquisa:

H1: As empresas utilizam-se da discricionariedade presente na elaboração do relatório da administração para efetuar uma comunicação seletiva ao mercado, que tende a destacar aspectos positivos e omitir aspectos negativos.

Assim, evidências de maior ênfase em aspectos positivos e/ou maior frequência de conteúdo classificado como de caráter otimista, acompanhado de menor ênfase em aspectos negativos e menor frequência de conteúdo de caráter pessimista, podem trazer indícios de conflito de interesse na divulgação das informações, e de uso da discricionariedade da evidenciação em benefício da administração, em detrimento da divulgação de informação relevante e fidedigna aos usuários dos relatórios.

A exceção ocorre quando a companhia evidencia que é mais interessante divulgar a informação negativa voluntariamente, do que ser penalizada pelo mercado, caso não as divulgue. Para Verrecchia (2001), essa proposição tem como base o conceito de seleção adversa. Sem informação, estimar o preço das ações de uma empresa é mais arriscado, portanto, a análise do mercado é adversa à companhia, pois a falta de informação faz com que os

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investidores descontem o valor dos títulos até o momento da divulgação obrigatória (VERRECCHIA, 2001).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para Cervo, Bervian e da Silva (2007) o método científico aproveita-se da observação, da descrição, da comparação, da análise e da síntese, conjuntamente aos processos mentais de dedução e indução, inerentes a qualquer processo investigativo. Utilizando-se de tais processos, o presente estudo se caracteriza como uma pesquisa descritiva, que emprega a abordagem qualitativa dos dados para atender a questão problema e o objetivo da pesquisa.

O problema da amostragem é selecionar uma parcela representativa da população para conferir legitimidade ao estudo, como se o total da população fosse estudado (MARCONI; LAKATOS, 2008). A população que deu origem foram as companhias brasileiras de capital aberto. Todavia, para o estudo optou-se por um corpus amostral composto por cinco empresas listadas no Novo Mercado e cinco no Mercado Tradicional da BM&FBovespa, visando a análise e o confronto dos dados capturados.

O constructo de pesquisa observou a coleta de dados por meio da técnica documental, constituída fundamentalmente de fontes primárias (MARCONI; LAKATOS, 2008). Os documentos coletados foram os relatórios da administração, divulgados pelas empresas brasileiras de capital aberto, disponíveis no portal eletrônico da Comissão de Valores Mobiliários, de competência 2015.

Para a análise dos dados, foi construído um checklist contendo os itens mandatórios para a composição do relatório da administração, conforme a Lei 6.404 (1976) e os pareceres de orientação 15/87, 17/89 e 18/90 da CVM. Tal documento considerou a presença destes itens (presença, sim; ausência, não), o texto formulado pela administração versando sobre o tema, e o viés do texto (otimista, pessimista ou neutro). Foram elencados 11 temas, como segue: mensagem da administração, descrição do negócio, conjuntura econômica, reformas da administração, desempenho, auditoria, investimentos, dividendos, capital social e estrutura, endividamento e perspectivas.

Além da quantificação objetiva da evidenciação do referido conteúdo por parte das empresas, a análise dos dados exigiu a leitura detalhada de cada parágrafo, a fim de classificar o conteúdo dos mesmos em O – Otimista; P – Pessimista; N – Neutro. Para isso, os pesquisadores valeram-se da técnica de análise de conteúdo. Para Bardin (2002), a análise de conteúdo, enquanto método, representa o conjunto de técnicas de análise de comunicação, que tem como base o estudo sistemático e objetivo da descrição do conteúdo das mensagens. O estudo realizou a análise de asserção avaliativa (OSGOOD, 1959), onde tenta-se medir as atitudes do emissor da mensagem, quanto aos objetivos que ele deseja alcançar por meio dela. 4 INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os resultados foram subdivididos quatro seções, sendo a primeira destinada ao relato da ocorrência de divulgação de tais informações pelas Companhias Abertas. Os três itens restantes compreenderam blocos contendo os 11 temas cuja divulgação é recomendada pelas legislações destacadas nos procedimentos metodológicos, agrupados em virtude de natureza de tais informações.

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4.1 OCORRÊNCIA DAS DIVULGAÇÕES

O Quadro 2 evidencia as estatísticas descritivas da divulgação das informações pelas empresas integrantes da amostra. Na coluna “Viés”, as letras representam: O – Otimista; P – Pessimista; e N – Neutro.

Quadro 2 – Ocorrência da Divulgação das Informações

Tópico

Novo

Mercado Tradicional Mercado Total N Viés MT Viés O P N Total N O P N MT O P N O P N Total Desempenho 5 2 0 3 5 2 1 2 4 1 5 10 Mensagem da Administração 5 4 1 0 4 1 3 0 5 4 0 9 Auditoria 5 0 0 5 4 0 0 4 0 0 9 9 Perspectivas 5 1 2 2 3 2 1 0 3 3 2 8 Investimentos 4 2 0 2 3 2 0 1 4 0 3 7 Conjuntura Econômica 2 0 2 0 5 0 4 1 0 6 1 7 Dividendos 4 1 0 3 1 1 0 0 2 0 3 5 Descrição do Negócio 2 1 0 1 2 1 0 1 2 0 2 4 Reforma da Administração 2 2 - - 1 1 0 0 3 0 0 3 Endividamento 1 0 0 1 2 1 0 1 1 0 2 3 Capital Social/Estrutura 2 2 0 0 1 0 0 1 2 0 1 3 Fonte: elaborado pelos autores a partir dos dados da pesquisa (2016).

Conforme salienta o Quadro 1, o único tópico que apareceu em todos os relatórios foi o item desempenho, que apareceu nas dez companhias analisadas. Os itens mensagem da administração e auditoria apareceram nove vezes, e o item perspectivas menos ainda, apenas em oito relatórios. Os itens investimentos e conjuntura econômica foram constatados em sete relatórios da administração. Os demais itens aparecem em um universo entre três e cinco relatórios, quantidades diminutas para o nível de governança corporativa do mercado de capitais brasileiro.

4.2 MENSAGEM DA ADMINISTRAÇÃO, DESCRIÇÃO DO NEGÓCIO, CONJUNTURA ECONÔMICA E PERSPECTIVAS

A informação que pode ser comunicada aos acionistas por meio dos quatro itens aglutinados nesta subseção, tem caráter subjetivo e pode ser explorada com maior flexibilidade para direcionar um viés informacional em seu conteúdo. A mensagem da administração é de modo geral a primeira informação apresentada nos relatórios da administração. Todas as empresas apresentaram este tópico no seu relatório, e apenas a Restoque foi apresentou viés negativo em sua mensagem. Apenas a Évora, não apresentou a mensagem da administração, focando no tópico descrição do negócio. Todas as demais apresentaram, sendo que apenas a Ambev foi otimista em seus comentários.

A descrição do negócio apareceu em apenas dois relatórios, de forma sucinta e resumida. No entanto, os administradores da Arezzo adotaram postura otimista, em que colocaram em evidências a posição de liderança da companhia no mercado calçadista brasileiro. Duas companhias do Mercado Tradicional apresentaram a descrição do negócio. A companhia Ambev, de forma neutra, e a Évora de forma otimista, valorizando a sua história e o seu posicionamento de liderança nos mais variados segmentos de negócio que a companhia atua.

Acerca da conjuntura econômica, apenas duas companhias do Novo Mercado apresentaram os seus comentários. Sendo que a Grendene, aponta que o seu desempenho foi

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fortemente impactado, principalmente pela redução do consumo e pela desvalorização cambial. No caso da Hypermarcas, o viés também foi pessimista, porém com um direcionamento mais técnico sobre economia, sem alinhar o seu desempenho ao desempenho geral da economia. Para as companhias do Mercado Tradicional, todavia, a conjuntura econômica apresentou-se como um canal de comunicação para a justificativa de resultados abaixo do esperado. Foram quatro as empresas que comentaram sobre a conjuntura econômica e todas foram pessimistas em suas considerações, apresentando forte correlação entre seus resultados e os revezes da econômica local e global.

Todas as Companhias teceram seus comentários sobre as perspectivas da corporação sobre o futuro. Sendo apenas as Lojas Renner e a Grendene as opiniões com viés pessimista. Tanto Arezzo, quanto Hypermarcas foram neutras, e a Restoque apresentou otimismo em suas projeções. Dentre a amostra do Mercado Tradicional, apenas três companhias comentaram as perspectivas. Ambev e Évora deixaram de direcionar um comentário detalhado sobre o tema, deixando esta lacuna em seu relatório.

4.3 DESEMPENHO, INVESTIMENTOS, DIVIDENDOS E ENDIVIDAMENTO

Nesta subseção, foram consolidados os elementos que, teoricamente, devem contar com comentários mais realistas, tendo em vista que esses itens são fáticos, já aconteceram em sua plenitude. O comentário sobre o desempenho das companhias do Novo Mercado foi apresentado em todos os relatórios. Sendo que Arezzo e Lojas Renner, foram otimistas em suas análises, utilizando termos que ressaltam as variações positivas nos resultados. Entre as companhias do Mercado Tradicional, apenas a Ambev, foi pessimista, uma vez que em 2014 o seu desempenho foi bastante superior, impactado pela Copa do Mundo de futebol. A Panatlântica e a Vulcabrás, apresentaram viés otimista em seu comentário. E tanto Évora, quanto Kepler Weber foram neutras em seus comentários.

Quatro foram as empresas do Novo Mercado que apresentaram seus comentários sobre os investimentos. Duas delas, Grendene e Hypermarcas, foram otimistas comentando que se desfizeram de projetos não rentáveis, porém as demais, Arezzo e Lojas Renner, foram neutras nos seus textos sobre o tema, tratando apenas de informar os montantes de novos investimentos. O comportamento das empresas do Mercado Tradicional foi semelhante àquelas listadas no Novo Mercado, uma vez que somente duas comentaram de maneira otimista sobre seus investimentos, Panatlântica, que foi extremamente superficial em seus comentários, e Vulcabrás, que também eliminou projetos não rentáveis de seu portfólio.

Quatro das companhias apresentaram o seu comentário sobre os dividendos. Apenas a Grendene, na qualidade de forte geradora de caixa, foi otimista em seu comentário. Todas as demais pagaram dividendos, porém foram neutras em suas notas. Apenas a Ambev, dentre as companhias estudadas no Mercado Tradicional apresentou comentário sobre os dividendos, sendo otimista, valorizando também a característica de forte geradora de caixa. Quanto ao pagamento de dividendos, aparentemente, aquelas empresas que apresentaram resultados negativos ou tem dividend yield baixo não comentam o tema.

O endividamento das empresas é geralmente a fonte mais relevante para os investimentos das companhias brasileiras. No entanto, apenas a Arezzo comentou de forma neutra sobre o seu endividamento e suas fontes de recursos de terceiros. No Mercado Tradicional, apenas duas empresas comentaram o tema. A Kepler Weber, de forma otimista, comentou a redução da dívida, porém apesar do alto montante de dívida vencendo em 2016, não apresentou uma solução concreta para honrar tais compromissos. Já a Vulcabrás, que passa por situação financeira delicada, foi neutra em seu comentário.

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4.4 AUDITORIA, REFORMAS DA ADMINISTRAÇÃO E CAPITAL SOCIAL E ESTRUTURA

Por último, estes três itens foram agrupados por não terem tanta capacidade de orientar as opiniões daqueles que leem o relatório da administração. Todas as Companhias estudadas do Novo Mercado apresentam o comentário sobre a auditoria. Nenhuma apresentou viés pessimista ou otimista. Das companhias listadas no Mercado Tradicional, apenas a Kepler Weber não comentou a relação com os auditores independentes.

O tópico de reformas da administração somente foi utilizado quando houve alguma ação por parte da administração. O viés do comentário foi positivo nos dois casos, Hypermarcas e Restoque, valorizando as ações dos administradores. NO caso do mercado tradicional, também somente apareceu comentário, quando a administração tomou decisão relevante para a companhias. Apenas um caso foi constatado, a Évora, também com viés otimista.

O item capital social e estrutura parece ser mais relevante para companhias com o capital pulverizado, caso tanto da Grendene, quanto da Lojas Renner, que apresentaram a informação, ambas com viés otimista. Apenas a Kepler Weber apresentou o seu comentário sobre o capital social e a estrutura societária, também apresenta-se como um caso de capital social pulverizado no mercado.

4.5 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Este estudo tomou como base a técnica de análise de conteúdo para avaliar a presença de elementos textuais que podem enviesar a opinião dos acionistas e demais stakeholders interessados no Relatório da Administração das companhias brasileiras. Buscou-se consolidar uma abordagem qualitativa, incomum às pesquisas da área de finanças e contabilidade. Em termos nacionais, o estudo que mais se aproxima desta pesquisa é o artigo de Silva et al. (2007), no qual os autores propõem uma análise quantitativa, por meio de regressão linear, para correlacionar a incidência de palavras, frases e letras, com o desempenho das companhias, para então, em última instância realizar a análise de conteúdo.

O intento principal deste estudo é responder Como a discricionariedade inerente à divulgação de informações no relatório da administração é usada pela administração de Companhias Abertas brasileiras para comunicar informações ao mercado? Partindo da hipótese que as empresas utilizam a discricionariedade presente na elaboração do relatório da administração para efetuar uma comunicação seletiva ao mercado, que tende a destacar aspectos positivos e omitir aspectos negativos. Investigava-se indícios de que os administradores procuram induzir as opiniões dos investidores por meio da redação técnica utilizada no Relatório da Administração, o que foi parcialmente encontrado nos resultados da análise realizada.

Acreditava-se que os itens Mensagem da Administração, Descrição do Negócio, Conjuntura Econômica e Perspectivas pudessem concentrar maior evidência de gerenciamento na divulgação das informações, uma vez que tais temas permitem comentários mais subjetivos. Apesar de algumas evidências, constatou-se que as companhias analisadas não utilizam em demasia a comunicação otimista em tais itens. Já quanto aos itens Desempenho, Investimentos, Dividendos e Endividamento, a expectativa era encontrar uma menor incidência de termos otimistas sobre fatos já ocorridos. Contrariamente, as companhias brasileiras, na figura de seus administradores, comunicam positivamente ao mercado todas as variações positivas nesses itens, passando a impressão que o destinatário da mensagem preocupa-se mais com a

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divulgação de números positivos, de que com origem de seus resultados. Quanto aos temas Auditoria, Reformas da Administração e Capital Social e Estrutura, as companhias são mais brandas em seus comentários, sendo que particularmente no caso do item reforma da administração, a opinião da administração sempre foi positiva nas ocorrências desta amostra. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste estudo foi analisar a possibilidade de viés informacional nos Relatórios da Administração, incorporado pelas considerações dos administradores das companhias brasileiras. Devido ao alto grau de informações divulgadas no Relatório da Administração, os stakeholders consideram tal documento como umas das principais e mais completas fontes de informação disponíveis ao mercado para decisões de investimento. No entanto, pesquisas anteriores, como a de Silva et al. (2007), verificam que o texto dos relatórios é positivamente afetado pelo otimismo da administração.

As principais evidências da pesquisa apontam que as companhias do Novo Mercado tendem a cobrir o maior número de itens para o Relatório da Administração. Muito embora, as companhias listadas no segmento nobre da BM&FBovespa, tentem atender à exigência legal, elas atendem utilizando-se de artifícios na mensagem que é comunicada ao mercado. No caso das companhias do Mercado Tradicional, há um hiato informacional no relatório da administração muito grande, se forem comparadas às empresas do Novo Mercado. Não somente, na amostra selecionada, as companhias do Mercado Tradicional, mesmo apresentando pontos relevantes que deveriam ser comentados, foram omissas com seus acionistas ao não comentar tais itens. O mais preocupante das evidências encontradas é a baixa aderência das companhias brasileiras ao mínimo postulado pelas normas legais. Bem como, a escolha pontual por parte dos administradores daquilo que é interessante a sua divulgação.

A pesquisa apresenta algumas limitações evidentes, a principal, o tamanho da amostra, que não permite generalizar as conclusões encontradas para o grupo populacional. Também cabe-se comentar que a técnica utilizada, análise de conteúdo, tem suas limitações, pois pode não gerar as mesmas conclusões para outros pesquisadores, uma vez que a análise é um processo reflexivo que se utiliza de conceitos e opiniões formatadas previamente pelo pesquisador, podendo inclusive não se aprofundar devido às limitações técnicas do avaliador. Para pesquisas futuras, sugere-se realizar estudos que utilizem um comparativo entre dois períodos, evidenciando aquilo que foi dito no primeiro ano, e o que de fato verificou-se no segundo período. Também são interessantes estudos quantitativos empregando séries históricas e a segregação entre setores econômicos e o viés das informações divulgadas.

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