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AVIFAUNA INVERNANTE NA RESERVA NATURAL DO SAPAL DE CASTRO MARIM E VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO

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AVIFAUNA INVERNANTE NA RESERVA NATURAL DO SAPAL DE CASTRO MARIM E VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO

Elza Neto, Victor Bartolomeu, Paulo Monteiro, António Severo & Luís Cancela da Fonseca Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, Apartado 7, 8950 Castro Marim

RESUMO

A Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António é, em Portugal, uma das áreas mais ricas em espécies de avifauna, tendo sido, por isso, classificada como zona de protecção especial no âmbito da Directiva 79/409/CEE. A distribuição destas espécies na área da Reserva depende de diversos factores físicos e do ciclo anual. A intenção deste trabalho é de contribuir para um melhor conhecimento da dinâmica da avifauna aquática na Reserva. Este estudo centrou-se nos meses de Outubro, Novembro, Dezembro e Janeiro a fim de melhor entender quais as espécies invernantes na Reserva Natural. Escolhemos os dados de 1998/99 e 1993/94 para perceber qual a tendência ou evolução nos cinco anos que os separam. Seleccionámos cinco áreas da Reserva Natural (áreas delimitadas para efeitos de contagens), as quais foram caracterizadas através de um levantamento de habitats, para melhor compreender as condições que proporcionam à avifauna que nelas passa o Inverno. Para cada área, e com base nas contagens, determinou-se densidade, diversidade e dominância de espécies avifaunísticas aquáticas e não aquáticas. Verificou-se que das 52 espécies encontradas o Cerro do Bufo, uma das cinco áreas estudadas e onde funcionam umas salinas industriais teve valores de densidade mais altos. Apesar de uma maior densidade nesta área, os valores de diversidade variaram substancialmente de umas áreas para as outras. As variações nestes valores pareceram depender dos níveis de precipitação e dos valores de dominância, já que a diversidade, de uma forma geral, variou inversamente aos valores de precipitação e dominância.

INTRODUÇÃO

Os sapais do estuário do Guadiana são há muito conhecidos como uma área utilizada, principalmente pela avifauna aquática, para nidificação, passagem do Inverno ou zona de descanso para as aves no decurso da sua rota migratória. Foi por isso que em 1975 foi criada a Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António com a finalidade de proteger esta área tão importante para a avifauna europeia.

Tem uma área de 2089 hectares e abrange os Concelhos de Castro Marim e Vila Real de Santo António. É limitada a Leste pelo rio Guadiana que desagua em Vila Real de Santo António. A Reserva é constituída por zonas de sapal, esteiros, salinas artesanais e industriais e terrenos agrícolas. É toda esta diversidade de habitats que permite a coexistência de um tão diverso número de espécies de vertebrados (aves, mamíferos, répteis e anfíbios).

É objectivo deste estudo tentar perceber, através das contagens, quais são as espécies que usam a Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António para passar o Inverno e de que forma é que elas se distribuem pelos diversos tipos de biótopos da Reserva . Escolhemos dois invernos, separados por cinco anos, para perceber também de que forma tende a ocupação desta área pela avifauna aquática a evoluir.

MÉTODOS

Foram escolhidas cinco zonas de amostragem em conformidade com as áreas onde se realizam as contagens de avifauna aquática, as quais são efectuadas de uma forma consistente desde 1992 (Fig. 1): Cerro do Bufo, Salinas do Parra, Venta Moinhos, Horta D’el Rei, Cunha D´Eça. Atendendo a que 65% da área da Reserva Natural são salinas e 25% sapais e ao facto das contagens de avifauna se centrarem à volta destes biótopos, os critérios usados foram os de salina artesanal activa ou abandonada, salina industrial (totalmente mecanizada) ou semi-industrial (parcialmente mecanizada), sapal evolutivo (sujeito à influência das marés e

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vegetação típica de sapais), sapal degradado (não inundado pelas marés, mas com vegetação de sapal) e sapal secundarizado (não inundado pelas marés e com a vegetação de sapal degradada). Algumas destas áreas englobam zonas agrícolas, o que é mencionado, apesar de não ser de grande interesse para o estudo em questão, já que não é lá, salvo raras excepções, que se encontra a avifauna aquática. Após calculadas as áreas em hectares das cinco zonas, caracterizaram-se os diferentes biótopos aqui considerados.

Fig.1 – Localização da Reserva Natural e zonas de amostragem (A- Cerro do Bufo, B - Salinas do Parra, C- Venta Moinhos, D - Horta D’el Rei, E – Cunha D´Eça)

Densidade

Para a determinação da densidade das populações de aves aquáticas nas cinco zonas de amostragem calculou-se o número de indivíduos por hectare.

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Diversidade e Diversidade Máxima

Para a determinação da diversidade utilizou-se o Índice de Shannon-Wiener, pois é a expressão que mais vantagens apresenta para estudos sobre amostragens de populações (MARGALEF, 1980; POOLE, 1974), em que:

N

H´= - ∑ pi log2pi

i=1

Sendo: N- número de espécies

Pi = nº de indivíduos da espécie i

nº total de indivíduos

H´- Índice de diversidade de Shannon-Wiener, expresso em bit/ind.

A diversidade é máxima quando as várias espécies têm um número igual de indivíduos. O valor máximo de diversidade é atingido quando numa população, com um dado número de espécies, todas elas são igualmente comuns (POOLE, 1974), assim:

H´max = log2 S

em que S= riqueza total, que , por definição é o número total de espécies (BLONDEL, 1979). Equirrepartição, equitabilidade ou “Eveness”

O Índice de equirrepartição ou “eveness” (J´) define a razão entre o índice de diversidade observado (H’ obs) e o índice de diversidade máxima (H’ max.):

J´= H´obs

H´máx

Pluviosidade

Os dados de pluviosidade foram-nos fornecidos pela Direcção Regional do Ambiente do Algarve e referem-se à estação Meteorológica de Castro Marim.

Dominância

Mc NAUGTON (1968) define o índice de dominância através da fórmula:

D´= di + dj x 100

F

sendo: di- abundância relativa da espécie mais abundante (i) dj- abundância relativa à segunda espécie mais abundante (j) F- abundância total

RESULTADOS

Na tabela 1 apresentam-se as espécies de avifauna aquática encontradas nos diferentes locais estudados em 1993/94 e 1998/99. Destes destacamos o pato trombeteiro (Anas clypeata), o pilrito comum (Calidris alpina ), o galeirão (Fulica atra), o flamingo (Phoenicopterus ruber) e o alfaiate (Recurvirostra avosetta), pois estes aparecem em números significativos nesta Reserva, apesar de o flamingo ser uma espécie rara e o alfaiate uma espécie vulnerável (SNPRCN, 1990).

Na tabela 2 temos as áreas em hectares respeitantes às cinco zonas recenseadas. Destas verifica-se que Venta Moinhos apresenta a maior diversidade de biótopos e Horta D’el Rei a menor. Por outro lado, verifica-se que o Cerro do Bufo é constituído maioritariamente por salinas industriais, sendo distinto dos restantes locais de amostragem nos quais predominam sapais e salinas artesanais.

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Tabela 1: Espécies encontradas nas contagens efectuadas durante o Outono/Inverno de 1993/94 e 1998/99 e respectivo estatuto segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal: V- vulnerável; P- em perigo ; R – raro ; IC- insuficientemente conhecido (SNPRCN, 1990)

93/94 98/99

Espécie Out. Nov. Dez. Jan. Out. Nov. Dez. Jan. Stat

Actitis hypoleucos - Maçarico das rochas 13 4 1 2 4 7 4

Alcedo atthis - Guarda rios comum 1 1 3 5 2 1

Anas acuta - Arrabio 16 284 222 34 81 271

Anas clypeata - Pato trombeteiro 255 789 965 774 582 779 730 516

Anas crecca - Marrequinho comum 67 368 140 100 7 172 209 IC

Anas penelope - Piadeira 2 40 202 42 76 129 25

Anas platyrhynchos - Pato real 74 51 53 138 82 165 118 455 V

Anser anser - Ganso comum ocidental 30 40

Ardea cinerea - Garça real 42 55 91 101 33 69 80 41 V

Arenaria interpres - Rola do mar 1 4 11

Aythya ferina - Zarro comum 6

Bubulcos ibis - Garça boieira 9 10 18 22

Burhinus oedicnemus - Alcaravão 48 114 59 39 4 4 5 1 IC

Calidris alba - Pilrito sanderlingo 14 10 12 7 3 2

Calidris alpina - Pilrito comum 79 482 768 698 493 1285 2111 842

Calidris canutus - Seixoeira 203 6

Calidris ferruginea - Pilrito de bico comprido 8 19

Calidris minuta - Pilrito pequeno 23 43 61 15 88 70 57 234

Charadrius alexandrinus - Borrelho coleira interrompida 21 47 36 8 84 89 137 129 IC

Charadrius hiaticula - Borrelho grande de coleira 35 80 99 35 41 176 90 34

Ciconia ciconia - Cegonha branca 57 183 121 50 82 70 132 36 V

Ciconia nigra - Cegonha preta 1 P

Circus aeruginosus - Tartaranhão ruivo dos pauis 2 1 4 1 1 V

Circus pygargus - Tartaranhão caçador 2 V

Egretta garzetta - Garça branca pequena 21 45 22 8 57 59 30 25

Falco tinnunculus - Peneireiro vulgar 2 1

Fulica atra - Galeirão comum 331 656 953 1281 3336 3580 3990 2583

Gallinago gallinago - Narceja comum 2 8 4 8 2 10 R

Himantopus himatopus - Pernalonga 329 223 373 259 396 369 212 222

Limosa limosa - Maçarico de bico direito 110 130 289 864 563 172 386 589

Numenius arquata - Maçarico real 19 9

Numenius phaeopus - Maçarico galego 1

Phalacrocorax carbo - Corvo marinho de faces brancas 1 77 88 155 268 227 402 217

Philomachus pugnax - Combatente 34 9 14 9 18 21 10 16 R

Phoenicopterus ruber - Flamingo comum 826 1315 1044 820 1082 883 937 995 R

Platalea leucorodia - Colhereiro 5 19 103 3 52 V

Pluvialis apricaria - Tarambola dourada 27 30 106

Pluvialis squatarola - Tarambola cinzenta 41 60 61 262 15 37 127 68

Podiceps cristatus - Mergulhão de crista 2 1 2

Podiceps nigricolis - Mergulhão de pescoço preto 16 20 64 44 45 7

Recurvirostra avosetta - Alfaiate 556 217 437 492 393 218 408 319 V

Sterna albifrons - Andorinha do mar anã 3 1 1 V

Sterna caspia - Gaivina de bico vermelho 3 4 7 R

Sterna hirundo - Andorinha do mar comum 1 1 IC

Sterna sandvicensis - Garajau comum 5 3

Tachybaptus ruficollis - Mergulhão pequeno 31 24 23 30 44 79 80 106

Tadorna tadorna - Pato branco 7 12 31 26 92 R

Tetrax tetrax - Sisão 20 2 32 59 60 40

Tringa erythropus - Perna vermelha escuro 17 2 30 5 11 12 3 58

Tringa nebularia - Perna verde comum 8 12 5 6 2 7 4 13

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Tabela 2: Áreas das zonas recenseadas (hectares) e respectivas percentagens de ocupação (SD – sapal degradado; SE – sapal evolutivo; SS – sapal secundarizado; SAA – salinas artesanais activas; SAD – salinas artesanais desactivadas; ZA – zona agrícola; SIA – salinas industriais activas; SSIA – salinas semi-industriais activas). Cerro do Bufo Área - 624 4% SD 9% SE 32% ZA 55% SIA Salinas do Parra Área - 79 6% SAA 11% SSIA 17% ZA 66% SAD Venta Moinhos Área - 282 2% SAA 10% SSIA 13% SAD 35% SE 40% SS

Horta D’el Rei Área - 88 1% SAA 32%SE 67% SAD Cunha D´Eça Área - 177 14% SAD 16% SE 70% SS

A tabela 3 refere-se à densidade (indivíduos por área) nos dois invernos estudados. Pode-se verificar que as densidades são, de uma forma geral, maiores no Cerro do Bufo, tanto no Inverno de 1993/94, como no de 1998/99. Cunha D´Eça apresenta os menores valores nos dois invernos estudados. O primeiro é caracterizado como uma zona de salinas industriais e o segundo como uma zona primordialmente ocupada por sapal secundarizado. De realçar ainda o aumento dos valores de densidade no Cerro do Bufo de 1993/94 para 1998/99. Nas restantes áreas as alterações das densidades não foram significativas de um Inverno para o outro, com a excepção de o valor elevado visível nas Salinas do Parra em Janeiro de 1999.

Tabela 3: Densidades(ind/ha) nos Invernos de 1993/94 e 1998/99 nas cinco zonas recenseadas. 93/94 98/99

Local Out Nov Dez Jan Out Nov Dez Jan Cerro do Bufo 4.1 6.9 8.8 8.5 12.9 13.5 15.7 10.5 Salinas do Parra 0.2 1.1 5.4 3.8 1.6 1.3 4.2 11.2 Venta Moinhos 1.7 1.8 1.1 1.4 0.7 0.5 1.7 2.2 Horta D’el Rei 1.2 1.3 2.2 1.7 0 0 2 1.98 Cunha D’Eça 0.9 0.2 0.9 0.9 0.5 1.5 0.7 0.8

A tabela 4 refere-se aos valores do índice de diversidade obtidos para as diferentes zonas de amostragem, os quais variam substancialmente de uma zona para outra. Salienta-se que no Inverno de 1993/94 os valores da diversidade foram maiores no mês de Dezembro em todas as zonas, com a excepção do Cerro do Bufo onde os valores de diversidade foram mais altos no mês de Janeiro, tanto em 1993/94 como em 1998/99. No Inverno de 1998/99 as diversidades foram, de uma forma geral, maiores no mês de Janeiro, com a excepção de Cunha D´Eça (valor mais elevado em Novembro) e Venta Moinhos, cujo valor máximo de diversidade ocorreu no mês de Outubro. Este valor é significativamente maior que todos os outros nesta área, o que poderá ser indicativo da presença de aves migratórias em descanso nesta área na sua rota de migração, não se tratando, por isso, de aves que permaneçam no local para a invernada.

A tabela 5 dá-nos os valores de “eveness” ou equitabilidade. Verifica-se que, de uma forma geral, o Cerro do Bufo apresenta os valores de “eveness” mais baixos nas duas épocas estudadas. No Inverno de 1993/94, enquanto a tendência em todos os outros locais foi para a diminuição destes valores, no Cerro do Bufo a equitabilidade aumentou. Na época de 1998/99 já não se verificou nenhum padrão nas variações do “eveness”.

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Tabela 4: Índices de diversidade (unidades em bit / ind) nas cinco zonas estudadas nos invernos de 1993/94 e 1998/99

93/94 98/99

Local Out Nov Dez Jan Out Nov Dez Jan

Cerro do Bufo 3.079 3.237 3.523 3.634 3.165 3.048 3.083 3.244 Salinas do Parra 1.875 1.877 2.455 2.074 2.965 2.7 2.617 3.194 Venta Moinhos 3.568 3.554 3.69 3.159 3.319 2.904 2.291 2.998

Horta D’el Rei 2.525 2.552 2.799 2.707 0 0 2.637 2.343

Cunha D’Eça 3.015 2.477 3.292 2.474 2.739 3.003 2.666 2.631

Tabela 5: Valores de “eveness” (diversidade observada/ diversidade máxima) nos diferentes locais nos dois Invernos estudados

93/94 98/99

Local Out Nov Dez Jan Out Nov Dez Jan

Cerro do Bufo 0.6475 0.6534 0.6984 0.7480 0.6031 0.5942 0.5918 0.6431 Salinas do Parra 0.7242 0.6257 0.6634 0.5995 0.7788 0.7296 0.7072 0.6966 Venta Moinhos 0.8123 0.8091 0.8538 0.7898 0.8495 0.8394 0.5393 0.6825 Horta D’el Rei 0.7299 0.8051 0.8426 0.8149 0 0 0.7126 0.6536 Cunha D’Eça 0.8148 0.8823 0.8421 0.6901 0.7917 0.7508 0.7002 0.711

Para perceber se a precipitação está de algum modo relacionada com as oscilações verificadas nos valores de diversidade, graficou-se a evolução dos valores de diversidade ao longo dos quatro meses estudados nas cinco diferentes áreas e comparou-se com as oscilações na precipitação nos mesmos meses. Assim, a Fig. 2 representa a precipitação nos anos de 1993/94 e 1998/99; a Fig. 3 as densidades no ano de 1993/94 ; a Fig. 4 as densidades de 1998/99.

Fig.2 – Valores de precipitação nos meses estudados nos dois invernos: 93/94 e 98/99

A Fig. 3 mostra a evolução dos índices de diversidade ao longo dos meses estudados no Inverno de 1993/94. Como se pode verificar através das Fig. 2 e Fig.3, a diversidade tende a aumentar quando há uma diminuição na pluviosidade e a diminuir quando a pluviosidade

Outubro Novembro Dezembro Janeiro

0 20 40 60 80 100 120 1993/94 1998/99 Pluviosidade (mm)

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precipitação também diminui e a zona do Cerro do Bufo, onde no mês de Janeiro a diversidade sobe com o aumento de pluviosidade.

Fig.3 - Diversidades da época de Outono/ Inverno de 1993/94 nos locais de recenseamento.

A Fig. 4 dá-nos a evolução dos índices de diversidade ao longo dos meses estudados na época de 1998/99. Neste Outono verificou-se que, tal como em 1993/94 a diversidade variou inversamente à pluviosidade. As excepções são, como já tinha sido verificado, na zona de Cunha D´Eça e Cerro do Bufo. No primeiro o aumento da pluviosidade no mês de Novembro gerou um aumento da diversidade, o mesmo acontecendo no segundo, no mês de Dezembro.

Fig. 4 - Diversidades da época de Outono/Inverno de 1998/99 nos locais de recenseamento.

Outubro Novembro Dezembro Janeiro

1 2 3 4 Cerro do Bufo Sallinas do Parra Venta Moinhos

Horta Del Rei Cunha d'Eça D iv er si da de ( bi t/ in d)

Outubro Novembro Dezembro Janeiro

0 1 2 3 4 Cerro do Bufo Sallinas do Parra Venta Moinhos Horta Del Rei Cunha d'Eça D iv er si da de ( bi t/ in d)

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A Fig. 5 representa a relação dos índices de diversidade e de dominância. Como se pode verificar na Fig. 5, a dominância, para todas as áreas e nas duas épocas abordadas neste estudo, é inversamente proporcional à diversidade. Foi também notado que quando não há uma significativa mudança de diversidade de um mês para o outro, os valores de dominância podem alterar-se ligeiramente num qualquer sentido (aumentar ou diminuir). Por outro lado, se há uma mudança significativa nos valores de diversidade, também a mudança nos valores de dominância é significativa e de sentido oposto.

Fig 5 - Relação entre os valores dos índices de dominância e de diversidade

DISCUSSÃO

Verificou-se que no Cerro do Bufo, com 55% da sua área ocupada por salinas industriais, foi encontrado o maior número de indivíduos, bem como uma maior densidade. Este dado poderá estar relacionado com o facto de ser uma área bastante grande, onde a zona de intervenção de maquinaria é, na realidade, muito reduzida, deixando uma vasta área de tanques muito pouco perturbados. Finalmente, trata-se de uma área privada, com acesso reservado, o que reduz a circulação de veículos e o transito pedestre não relacionados com o funcionamento das salinas, facto este que contribui igualmente para a pouca perturbação das áreas onde se encontram as aves.

Nas restantes áreas os valores são mais semelhantes, não levando a nenhuma conclusão em termos de relação ocupação de espaço/avifauna. Estas áreas encontram-se muito juntas umas das outras e são, de uma forma geral, mais parecidas em termos de ocupação de solo. De notar, porém, que os valores de “eveness” nestas zonas são mais altos que no Cerro do Bufo, o que significa que a diversidade calculada se aproxima mais da diversidade potencial e que nestes locais as populações são mais uniformes relativamente ao número de indivíduos por espécie.

Para os anos de 1993/94 a diversidade tende a aumentar quando há uma diminuição na pluviosidade e a diminuir quando a pluviosidade aumenta. As excepções são as de Cunha

4 3 2 1 20 30 40 50 60 70 80 Diversidade de Shannon-Wiener D om in ân ci a de M cN au gh to n y = 116.56 - 22.121x R^2 = 0.823

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D´Eça, no qual a diversidade diminui com a diminuição da precipitação, o que poderá estar relacionado com o facto de a esta área corresponder uma maior percentagem de sapal degradado e uma pequena percentagem de salinas artesanais dependendo, por isso, mais directamente da pluviosidade para a manutenção das zonas alagadas. No Cerro do Bufo, no mês de Janeiro, a diversidade sobe com o aumento da pluviosidade; isto poderá estar relacionado com o facto de se tratar de uma salina industrial activa, cuja quantidade de água nos tanques é controlada pelo homem, não estando, por isso, tão sujeita à pluviosidade para a manutenção dos níveis de água.

Na época de 1998/99 verifica-se que, tal como em 1993/94, a diversidade tende a variar inversamente à pluviosidade. As duas excepções são, uma vez mais, Cunha D´Eça onde, no mês de Novembro, com o aumento da pluviosidade, a diversidade aumenta, o que concorda com o que já foi dito anteriormente, e o Cerro do Bufo onde a diversidade tende a aumentar no mês de Dezembro, acontecendo o mesmo aos valores da pluviosidade.

Relativamente às aves inventariadas, verificou-se que as limícolas constituem o grupo com maior representação. Estas alimentam-se remexendo o lodo do fundo dos charcos e tanques com o bico, necessitando, por isso, de águas pouco profundas. As salinas são, assim, muito usadas por elas, já que para além de terem águas pouco profundas, também estão normalmente rodeadas por vegetação, a qual proporciona abrigo e protecção. Contagens feitas ao longo do ano na Reserva, levam a crer que muitas destas aves são residentes nesta área. O facto da diversidade variar inversamente à pluviosidade durante os períodos considerados poderá estar relacionado, à excepção do Cerro do Bufo, com uma subida nos níveis da água nas salinas, tornando-as menos acessíveis às aves que as frequentam.

Outro grupo significativo foram os anatídeos. Constatou-se que as aves deste grupo tendem realmente a utilizar esta área no Inverno, já que o seu número aumentou significativamente de Outubro para Novembro. Verificou-se ainda que, de uma forma geral, o número de anatídeos aumentou de 1993/94 para 1998/99. Destes destaca-se o pato real (Anas

platyrhynchos), por ser considerada uma espécie vulnerável (em 1993/94 o máximo contado

foi de 138 indivíduos e em 1998/99 foram contados 455 indivíduos).

Merece, também, referência especial a ocorrência, nestas zonas, de um número apreciável de sisões (Tetrax tetrax) e de abibes (Vanellus vanellus), apesar de não poderem ser considerados espécies aquáticas.

Não pertencentes a estes grupos, há espécies que se destacam por serem encontradas em números significativos na área da Reserva. O flamingo (Phoenicopterus ruber) é uma destas espécies, pois apesar de ser considerada uma espécie rara (SNPRCN, 1990), a sua população invernante na Reserva parece manter-se estável e, entre os dois Invernos estudados, houve apenas um ligeiro aumento no número contado (máximo contado em 1993/94 foi de 1044 indivíduos e em 1998/99 de 1082 indivíduos).

Da mesma forma, o galeirão (Fulica atra), também aumentou de 1993/94 (o mínimo contado de 331 e o máximo1281 indivíduos), para 1998/99 (mínimo contado 2583 e o máximo de 3990 indivíduos).

A cegonha preta, espécie em perigo (SNPRCN, 1990), por outro lado, foi apenas encontrada em Outubro de 1993 e não voltou a ser observada nos meses a que este estudo se refere.

De uma forma geral, pode-se afirmar que a avifauna aquática encontrada na área da Reserva está a aumentar. Em 1993/94 os totais de indivíduos de todas as espécies atingiram um máximo de 7400. Em 1998/99 estes números foram de 10886, o que demonstra claramente que há um aumento na população de aves.

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CONCLUSÃO

Neste trabalho verificou-se que o Cerro do Bufo (zona primordialmente de salinas industriais) tem a maior densidade de indivíduos. Com algumas excepções, verificou-se que a diversidade tende a ser inversa aos níveis de pluviosidade. De notar que na zona de amostragem de Horta D’el Rei, nos meses de Outubro e Novembro de 98 não foi contado qualquer indivíduo. Nesta zona predominam as salinas artesanais abandonadas. Tal como em Horta D’el Rei, também nas restantes áreas as salinas artesanais têm sido abandonadas.

Se tivermos em conta que as salinas representam para muitas espécies de aves, locais de primordial importância como zonas de nidificação, refúgio e alimentação, quer no Inverno, quer durante as passagens migratórias (Neves & Rufino, 1992), o abandono das salinas poderá constituir uma ameaça para estas espécies. No caso de Castro Marim poder-se-ia pensar que a zona do Cerro do Bufo constituiria sempre uma alternativa, caso as salinas artesanais atingissem um estado muito degradado. Porém, isto não nos parece razoável, já que é uma zona muito mais pobre em vegetação, essencial para abrigo, construção e esconderijo de ninhos. Assim, torna-se urgente que sejam tomadas medidas de preservação das salinas artesanais, nomeadamente, e como é sugerido por Neves & Rufino (1995), através da gestão dos níveis de água em associação com a manutenção de comportas. Estas medidas permitirão que o número de aves que utilizam esta área se mantenha ou, e como tem sido a tendência, aumente.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a António Araújo, Ana Xavier, Anabela Resende, Humberto Guerreiro, Brigitte Farraia e Carlos de Melo todo o apoio prestado.

REFERÊNCIAS

BLONDEL, J. 1979. Biogeographie et Ecologie. Masson et Cie, Paris. MARGALEF, R. 1980. Ecologia, Ed. Omega, Barcelona.

Mc NAUGHTON, S. J. 1968. Structure and function in California grasslands. Ecology, 49(5): 962-972.

NEVES, R. & RUFINO, R. 1992. As salinas em Portugal - sua importância ornitológica.

Correio da Natureza, 15:2-7.

NEVES, R. & RUFINO, R. 1995. Importância ornitológica das salinas; o caso particular do estuário do Sado. Estudos de biologia e conservação da natureza, 15: 3-23.

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