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TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

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Academic year: 2021

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Registro: 2017.0000742386

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº

0037577-76.2011.8.26.0050, da Comarca de São Paulo, em que é apelante MARIA ELISANGELA GOMES, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em 8ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de

Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "DERAM PARCIAL

PROVIMENTO ao recurso de apelação interposto por Maria Elisângela Gomes para, nos termos do art. 383, do Código de Processo Penal, alterar a capitulação jurídica para aquela descrita no art. 304, c/c art. 301, § 1º, do Código Penal, resultando pena de quatro meses e quinze dias de detenção, em regime aberto, substituída por prestação de serviços à comunidade, pelo prazo da condenação, mantida, no mais, a r. sentença recorrida. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MARCO ANTÔNIO COGAN (Presidente) e LOURI BARBIERO.

São Paulo, 28 de setembro de 2017.

SÉRGIO RIBAS RELATOR Assinatura Eletrônica

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Apelação nº 0037577-76.2011.8.26.0050 Apelante: Maria Elisangela Gomes

Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo Comarca: São Paulo

Voto nº 32.671

APELAÇÃO CRIMINAL Uso de documento público falso em continuidade delitiva Recurso da Defesa Absolvição por falta de provas Improcedência Materialidade e autoria bem comprovadas Conjunto probatório robusto para lastrear o decreto condenatório Condenação mantida Desclassificação para o crime de estelionato descabida Uso de documentos falsos (atestados médicos) para justificar ausências no trabalho e não para obter vantagem de cunho patrimonial ilícita em prejuízo da vítima - Ainda que as faltas da apelante possam ter gerado à empresa eventual perda financeira, o objetivo da ré não era a aquisição de vantagem patrimonial indevida Necessidade, contudo, de adequação da capitulação dos fatos, nos termos do art. 383, do CPP - Conforme descrito na inicial acusatória e comprovado ao longo da instrução, a ré fez uso de atestado médico falso, que é um delito autônomo e específico, previsto no artigo 301, §1°, Código Penal Adequação das penas Recurso parcialmente provido.

Trata-se de apelação criminal, interposta por Maria Elisângela Gomes, contra a r. decisão de fls. 124/127, cujo relatório se adota, acrescentando-se que ao julgar procedente a ação penal, condenou a ré ao cumprimento da pena de 02 (dois) anos de reclusão, no regime inicial aberto, mais ao pagamento de 120 (cento e vinte) dias-multa, no piso, como incursa no art. 304, por doze vezes, c/c art. 299, na forma do art. 71, todos do Código Penal, substituída a sanção corporal por duas restritivas de direitos,

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consistentes em prestação de serviços à comunidade e em prestação pecuniária, no importe de 01 (um) salário mínimo, em prol de entidade assistencial.

Inconformada, recorre a acusada, com razões a fls. 133/135, nas quais requer sua absolvição por insuficiência de provas. Subsidiariamente, postula a desclassificação para o delito previsto no art. 171, parágrafo 1º, do Código Penal.

Recurso regularmente processado e contrariado pelo Ministério Público (fls. 137/139).

Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se a fls. 144/146, apresentando parecer pelo desprovimento do recurso defensivo.

É o relatório.

Consta da denúncia que, no período compreendido entre o dia 25 de outubro de 2010 até meados de fevereiro de 2011, no período da manhã, no interior da sede da empresa “La Vitta cosmética Ltda”, situada na Rua Javari, n.° 246/250, Mooca, nesta Capital, a denunciada, de forma continuada, fez uso de documentos públicos ideologicamente falsos, por doze vezes, consistentes nos Atestados Médicos de fls. 14/25, emitidos

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supostamente pelo Hospital Municipal ''Doutor Cármino Caricchio”, conforme informação de fls. 13.

Segundo o apurado, a denunciada foi admitida na empresa vitima no dia 01 de julho de 2010, sendo que no mês de setembro daquele ano veio a engravidar. Todavia, a partir de tal fato, mais precisamente a partir do dia 25 de outubro de 2010, a denunciada começou a se ausentar constantemente do ambiente de trabalho, apresentando como justificativa para tanto, supostos comparecimentos ao Hospital Municipal “Doutor Cármino Caricchio”, para a tomada de cuidados médicos, entregando para seu chefe os Atestados Médicos de fls. 14/25.

Intrigado com a constante ausência da denunciada na empresa, o representante desta, Paulo Sérgio do Espírito Santo, resolveu verificar a veracidade dos documentos por ela apresentados, tendo, para tanto, oficiado ao hospital responsável por emitir os atestados (fls. 11). Em resposta, obteve a informação de que um dos médicos responsável por assinar tais atestados (Dr. Aldo Ciancio) não trabalhava no referido hospital, bem como a inexistência de registro de comparecimento da sentenciada àquela unidade hospitalar nas datas indicadas pelos atestados (fls. 13).

Após ser descoberta a fraude, a denunciada foi demitida da empresa por justa causa, sendo, em seguida, comunicado o fato criminoso à autoridade policial. Intimada a depor sobre os fatos, ela confessou a utilização dos documentos falsos, indicando em seu interrogatório policial que adquiriu o primeiro dos atestados pelo valor de R$ 10,00, no centro de

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São Paulo, após ser aconselhada per indivíduo cuja qualificação não declinou, uma vez que estava descontente com seu emprego, esclarecendo, ainda, que repetiu o mesmo procedimento por diversas vezes, até ser demitida da empresa vitima.

Como a denunciada não esteve no hospital, foram inseridas nos atestados declarações falsas com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.

Estes são os fatos.

A materialidade do delito restou demonstrada pelo boletim de ocorrência de fl. 03/04, atestados médicos de fls. 14/25, ofício de fls. 13 e prova oral amealhada.

A autoria delitiva, igualmente, restou inconteste.

A ré confessou os fatos nas oportunidades em que foi ouvida, afirmando que comprou os atestados, no centro de São Paulo, pelo valor de R$ 10,00.

A confissão encontrou pleno amparo na prova oral colhida, especialmente nos relatos do representante da empresa onde a ré

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apresentou os atestados, bem como no depoimento dos funcionários do Hospital, a testemunha Eduardo, assistente de gestão de políticas públicas do Hospital do Tatuapé e Gizele, que trabalhava na A.M.A., os quais esclareceram que os médicos supostamente subscritores dos atestados não trabalharam no local.

Com efeito, Paulo Sérgio disse que a acusada trabalhava na empresa na qual sua esposa é proprietária. Foi o declarante quem foi registrar a ocorrência. Na época ela trabalhava em serviços gerais e estava grávida. Ela saia para exames de rotina. Ocorre que começaram a chegar muitos atestados dela, seguidos um do outro. Acharam estranho, pois ela não parecia estar tendo uma gravidez de risco. Notaram que todos os atestados tinham o numero 88. Mandaram uma carta para a a.m.a. (assistência médica ambulatorial) que constava dos atestados e eles responderam que ela não tinha passado lá, que sequer tinha prontuário. O médico que supostamente assinou os atestados não trabalhava lá. Questionada, ela confirmou suas idas ao médico. Quando apresentaram os atestados ela ficou quieta. A ré foi demitida por justa causa.

Gizele trabalhava na a.m.a. (assistência médica ibulatorial), que é uma unidade que fica dentro do hospital. É como se fsse um setor do hospital, mas terceirizado. Afirmou que os doutores Aldo Ciancio e Luciano Alves de Oliveira nunca trabalharam na a.m.a (assistência médica ambulatorial), ao menos no período em que a depoente esteve lá, de janeiro de 2010 a maio de 2013.

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A testemunha Eduardo, assistente de gestão de políticas públicas do Hospital do Tatuapé, trabalha no departamento pessoal. O depoente contou que foi procurado pelo responsável do departamento jurídico, o Dr. Gatti, que disse que provavelmente o depoente seria chamado como testemunha, uma vez que uma funcionária da A.M.A. havia sido chamada. Eduardo explicou que os atestados precisam ser verificados pelo departamento pessoal e pelo a.m.a.. Verificou atestados que entraram em 2011 e constatou que eram supostamente subscritos por dois médicos, doutores Aldo Ciancio e o Luciano Alves de Oliveira, que não trabalhavam no hospital. O jurídico deve ter solicitado para a a.m.a (assistência médica ambulatorial) verificar também.

Vê-se que a acusada, visando justificar as ausências no trabalho, utilizou atestados que sabia serem falsos, uma vez que não passou em consulta com os médicos que supostamente os assinaram, nem mesmo possuindo prontuário no Hospital Público mencionado nos documentos.

Não há falar em desclassificação da conduta para estelionato privilegiado, previsto no artigo 171, § 1º, do Código Penal.

Não se verifica, no caso, a pretensão de obter vantagem patrimonial indevida, tendo a falsidade, no caso, a finalidade de ludibriar o empregador.

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As provas evidenciam o uso de documentos falsos (atestados médicos) para justificar ausências no trabalho e não para obter vantagem de cunho patrimonial ilícita em prejuízo da vítima. Ainda que as faltas da apelante possam ter gerado à empresa eventual perda financeira, o objetivo da ré não era a aquisição de vantagem patrimonial indevida.

As condutas da apelante, contudo, encontram consonância com o disposto no art. 304, c.c. o art. 301, parágrafo 1º, do Código Penal, devendo ser alterada a capitulação jurídica dada na sentença, nos termos do art. 383, do Código de Processo Penal.

Isso porque, a despeito de se tratar de uso de documento público falso, cumpre observar qual a espécie de documento falso foi utilizada, eis que a lei determina aplicação das mesmas penas cominadas à falsificação ou à alteração.

O crime de uso de atestado médico falso é autônomo e específico (art. 301, do CP), cuidando-se de modalidade menos severamente apenada de falsificação de documento público ou falsidade ideológica, em razão de ser, indubitavelmente, conduta de menor ofensividade ao bem público.

E o crime específico de falsificação material de atestado médico, como previsto no art. 301, § 1º, do Código Penal, pode ser praticado por qualquer pessoa, ao contrário do tipo previsto no “caput”, que por abranger a falsidade ideológica somente pode ser praticado pelo funcionário público em razão de seu ofício.

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Nesse sentido:

“RECURSO ESPECIAL. PENAL.

FALSIDADE MATERIAL DE ATESTADO OU CERTIDÃO. CRIME COMUM. Segundo precedentes "o delito previsto no artigo 301, § 1º do Código Penal não é próprio, podendo qualquer pessoa ser o seu sujeito ativo." (REsp 188.184, Rel. Min. Felix Fischer, DJ de 29.03.1999) Recurso provido” (STJ Rel. José Arnaldo da Fonseca 5ª Turma REsp nº 197901/DF DJ 21/02/2000).

“PROCESSO PENAL. RECURSO

ESPECIAL. CERTIDÃO FALSA. INTELIGÊNCIA DO ART. 301, § 1º, DO CÓDIGO PENAL. 1 - O crime previsto no § 1º, do art. 301, do Código Penal (falsidade material de atestado ou certidão), diverso daquele tipificado no caput do aludido dispositivo, não é delito próprio de servidor público, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Precedentes. 2 - Recurso conhecido e provido para restabelecer a sentença de primeiro grau” (STJ Rel. Fernando Gonçalves 6ª Turma REsp nº 251009/DF DJ 21/10/2002).

A infração penal tratada nestes autos, em que pese a capitulação dada na sentença (uso de documento ideologicamente falso) cuida-se de uso de atestado materialmente falso (artigo 301, § 1º, do Código Penal).

Confira-se:

“USO DE DOCUMENTO FALSO - Falsificação de atestado médico. Conduta específica capitulada como crime

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autônomo Art. 301, §1°, do CP - Falsidade material de atestado. Crime comum quanto ao sujeito. Correção quanto à capitulação do fato. Uso de atestado médico falso que remete às penas do art. 301, §1º, do CP - Condenação que decorre do coeso conjunto probatório. Recurso parcialmente provido para esse fim - (voto n. 26155)” (TJSP Rel. Des. Newton Neves 16ª Câmara Criminal Apelação nº 0057565-57.2003 j. 22/09/2015).

Confira-se, ainda, julgado desta Colenda Câmara:

PENAL. APELAÇÃO. USO DE

DOCUMENTO FALSO. ADEQUAÇÃO DA CAPITULAÇÃO AOS FATOS DECRITOS NA EXORDIAL- INTELIGÊNCIA DO ART. 383 DO CPP. Conforme descrito na denuncia, e comprovado durante a instrução ocorreu a falsificação de atestado, que é um delito autônomo e específico (art. 301 do CP. Ainda, no caso, há o crime específico de falsificação material de atestado médico, como previsto no artigo 301, §1°, Código Penal, que pode ser

praticado por qualquer pessoa”. (TJSP; Apelação

0018619-71.2012.8.26.0320; Relator (a): Alcides Malossi Junior; Órgão Julgador: 8ª Câmara de Direito Criminal; Foro de Limeira - 3ª. Vara Criminal; Data do Julgamento: 19/05/2016; Data de Registro: 24/05/2016).

Portanto, de rigor a alteração da capitulação jurídica dada na sentença, por ter a ré violado o art. 304, c/c art. 301, § 1º, do Código Penal, porque fez uso de atestado médico falso, com a finalidade específica de se habilitar a obter vantagem, consistente na falta ao trabalho justificada, sem o desconto nos vencimentos.

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As penas serão as mínimas, mantida a fundamentação da r. sentença, resultando três meses de detenção para cada crime.

Reconhecida a continuidade delitiva entre os doze delitos, mantém-se o acréscimo de metade promovido na r. sentença, que se mostra adequado ao número de infrações cometidas, resultando pena total de quatro meses e quinze dias de detenção, a qual será substituída, nos termos do art. 44, do Código Penal, por prestação de serviços à comunidade, a qual se mostra socialmente recomendável e necessária à prevenção e a reprovação da infração penal. Por derradeiro, anota-se que o regime prisional, em caso de descumprimento, será o aberto.

Via de consequência, DOU PARCIAL

PROVIMENTO ao recurso de apelação interposto por Maria Elisângela Gomes para, nos termos do art. 383, do Código de Processo Penal, alterar a capitulação jurídica para aquela descrita no art. 304, c/c art. 301, § 1º, do Código Penal, resultando pena de quatro meses e quinze dias de detenção, em regime aberto, substituída por prestação de serviços à comunidade, pelo prazo da condenação, mantida, no mais, a r. sentença recorrida.

SÉRGIO RIBAS

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