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AJES - FACULDADE DO VALE DO JURUENA BACHARELADO EM DIREITO TIAGO JOSÉ FARIAS SIMIONI CRIMINALIZAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL

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AJES - FACULDADE DO VALE DO JURUENA BACHARELADO EM DIREITO

TIAGO JOSÉ FARIAS SIMIONI

CRIMINALIZAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL

JUÍNA-MT 2020

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AJES - FACULDADE DO VALE DO JURUENA BACHARELADO EM DIREITO

TIAGO JOSÉ FARIAS SIMIONI

CRIMINALIZAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Monografia apresentada ao Curso de Bacharelado em Direito, da AJES - Faculdade do Vale do Juruena, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, sob a orientação do Prof. Douglas Willians da Silva dos Santos.

JUÍNA-MT

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AJES - FACULDADE DO VALE DO JURUENA BACHARELADO EM DIREITO

SIMIONI, Tiago José Farias. CRIMINALIZAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL: uma análise em torno da criminalização da alienação parental à luz do princípio da proteção integral da criança e adolescente na sociedade brasileira. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – AJES – Faculdades do Vale do Juruena, Juína-MT, 2020.

Data da defesa: ___/___/ 2.020.

MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA:

Orientador: Prof. Douglas Willians da Silva dos Santos ISE/AJES

Membro Titular: Prof. Marileide Antunes de Oliveira ISE/AJES

Membro Titular: Prof. Igor Felipe Bergamaschi ISE/AJES

Local: Associação Juinense de Ensino Superior

AJES – Faculdade do Vale do Juruena

(4)

DECLARAÇÃO DO AUTOR

Eu, Tiago José Farias Simioni, portador da Cédula de Identidade – RG nº 24790150- SSP/MT, e inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda – CPF sob nº 050.468.321-78, DECLARO e AUTORIZO, para fins de pesquisa acadêmica, didática ou técnico-científica, que este Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado CRIMINALIZAÇÃO

DA ALIENAÇÃO PARENTAL pode ser parcialmente utilizado, desde que se faça referência

à fonte e à autoria.

Autorizo, ainda, a sua publicação pela AJES, ou por quem dela receber a delegação, desde que também seja feita referência à fonte e à autoria.

Juína/MT, 01 de junho de 2020. ____________________________________________

Tiago José Farias Simioni

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DEDICATÓRIA

Agradeço primeiramente a Deus que me ajudou e me deu força para chegar até o final. A minha mãe em especial, amigo e demais familiares pelo apoio e compreensão durante esse período em que estive cursando o curso que sempre sonhei, razão pela qual a minha conclusão se torna a NOSSA CONQUISTA.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por me ajudar durante toda a minha vida e nunca me abandonar, bem como a todos os meus familiares, em especial a minha mãe, por me apoiarem, seja direta ou indiretamente.

Agradeço também ao professor orientador Douglas Willians da Silva dos Santos pela compreensão e pelo tempo que gastou me ajudando no presente trabalho.

Por último, mas não menos importante, a faculdade e demais amigos com quem convivi ao longo desses anos.

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Consagre ao Senhor tudo o que você faz, e os seus planos serão bem-sucedidos. (Provérbios 16:3)

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RESUMO

O objetivo do trabalho é esclarecer como a alienação parental, atualmente definida e regulada pela Lei Federal nº 12.318/10, tem sido prejudicial para o desenvolvimento das crianças e adolescentes vítimas do ato e como a criminalização da conduta, no intuito de combater os casos, pode ser inefetivo para a solução do problema. Os princípios da convivência familiar e da proteção integral da criança e adolescente assegurados constitucionalmente serão o alicerce da presente pesquisa, sem prejuízo dos demais assuntos que serão tratados, visto que seus valores não podem ser mitigados pela alienação parental ou pelo combate indevido da conduta. Dessa forma, pretende-se concluir o trabalho demonstrando que em virtude da preponderância dos interesses dos menores a criminalização do ato pode não ser o melhor caminho adotado pelo Brasil para a efetivação dos direitos violados, pois os prejuízos acabam sendo maiores que os benefícios às crianças e que o Brasil, além dos direitos já consagrados, deverá adotar medidas efetivas para o controle da conduta para que, assim, as famílias e a sociedade possam viver em real harmonia. A pesquisa foi realizada com base na legislação brasileira, pactos e convenções internacionais que o Brasil faz parte e por pesquisa bibliográfica.

Palavras-chave: Alienação Parental; Mitigação ao Princípio da Convivência Familiar e do

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ABSTRACT

The objective of the work is to clarify how parental alienation, currently defined and regulated by Federal Law No. 12,318 / 10, has been harmful to the development of children and adolescents who are victims of the act and how to criminalize conduct, in order to combat cases, may be ineffective for the problem. The principles of family coexistence and the integral protection of children and adolescents constitutionally guaranteed will be the foundation of this research, without prejudice to the other subjects that will be treated, since given their values they cannot be mitigated by parental alienation or by the undue combat of conduct. Thus, it is intended to conclude the work by demonstrating that, due to the preponderance of the interests of minors, the criminalization of the act may not be the best path adopted by Brazil for the realization of violated rights, as the losses end up being greater than the benefits to children and that Brazil, in addition to the rights already enshrined, must adopt effective measures to control conduct so that, thus, families and society can live in real harmony. The research was carried out based on Brazilian legislation, pacts and international conventions that Brazil is part of and through bibliographic research.

Keywords: Parental Alienation; Mitigation of the Principle of Family Living and the Best

Interest of Children and Adolescents; Violation of Family Rights.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...11

CAPÍTULO 01. DIREITO DE FAMÍLIA E ALIENAÇÃO PARENTAL...14

1.1 DO CONCEITO E DA EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA EM SOCIEDADE...14

1.2 EVOLUÇÃO E SURGIMENTO CIENTÍFICO DA ALIENAÇÃO PARENTAL...20

1.3 SEPARAÇÃO CONJUGAL, AUTORIDADE PARENTAL E ALIENAÇÃO PARENTAL NA FAMÍLIA – EFEITOS GERADOS...21

1.4 ALIENAÇÃO PARENTAL E SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL – DISTINÇÃO...26

1.5 CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS E PSICOLÓGICAS DO ATO DE ALIENAÇÃO PARENTAL PARA AS CRIANÇAS...28

CAPÍTULO 02. PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DE FAMÍLIA NO BRASIL...32

2.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA...32

2.2 PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE...34

2.3 PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA FAMÍLIA...36

2.4 PRINCÍPIO DA PATERNIDADE RESPONSÁVEL E DO PLANEJAMENTO FAMILIAR...38

2.5 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR...39

2.6 PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA DO ESTADO NO DIREITO DE FAMÍLIA...41

2.7 PRINCÍPIO DA CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA...43

2.8 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE...44

CAPÍTULO 03. CRIMINALIZAÇÃO DA CONDUTA NO BRASIL...48

3.1 ANÁLISE DA LEI FEDERAL Nº 12.318/2010 (LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL) E AS PROPOSTAS DE CRIMINALIZAÇÃO DA CONDUTA NO BRASIL...48

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3.2 ANÁLISE DO INSTITUTO DA MEDIAÇÃO PARA OS CASOS DE ALIENAÇÃO PARENTAL EM DECORRÊNCIA DA LEI Nº 12.318/2010...56 3.3ANÁLISE DA GUARDA COMPARTILHADA COMO POSSÍVEL MEIO DE PREVENÇAO DA ALIENAÇÃO PARENTAL...59 3.4 ANÁLISE DAS CONSEQUÊNCIAS DA CRIMINALIZAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL PARA AS FAMÍLIAS NO BRASIL...62 3.5 PREPONDERÂNCIA DOS INTERESSES DOS MENORES FRENTE À CRIMINALIZAÇÃO DA CONDUTA NO BRASIL...65

CONSIDERAÇÕES FINAIS...71 REFERÊNCIAS...74

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11

INTRODUÇÃO

É sabido que o ato de alienação parental não surgiu de uma hora para outra e que também não se trata de um fenômeno novo, mas que foi com o evoluir social, jurídico e das relações familiares em sociedade que o ato tomou maior proporção, sobretudo com a consagração de direitos que elevaram o grupo familiar ao pé de igualdade entre todos os membros.

Atualmente, são vários os mecanismos jurídicos que regulamentam as relações familiares em sociedade, mecanismos que variam desde a Declaração Universal de Direitos Humanos, Declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente, Constituição Federal Brasileira de 1988, Lei Federal nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), Lei Federal nº 10.406/02 (Código Civil Brasileiro), Lei Federal nº 12.318/10 (Lei de Alienação Parental), dentre outras normas infraconstitucionais aplicáveis ao tema, tudo servindo de aparato para a proteção das mais diversas relações sociais e familiares.

A alienação parental, atualmente conceituada e regulamentada pela Lei Federal nº 12.318/10, é tratada como a interferência na formação psicológica da criança ou adolescente promovida por um dos genitores ou responsáveis para que repudie o outro genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento de vínculos com este.

No direito brasileiro, o respectivo ato é algo totalmente ligado ao direito de família, pois é o ramo onde o ato encontra maior terreno fértil, visto ser a família o início da formação psicológica, da personalidade, da moral, da vida espiritual das crianças até sua vida adulta.

Com isso, pretende-se analisar se a criminalização do ato de alienação parental, que atualmente não é tratada como crime pela legislação brasileira, seria o melhor caminho para se resguardar os direitos violados das crianças e adolescentes vítimas do ato, sobretudo como meio inibidor da consumação futura de alienação parental.

A família nem sempre foi tratada como é atualmente, pois em seu início prevalecia o poder patriarcal do marido sobre a esposa e os filhos, bastando a estes últimos somente a obediência. Do ponto de vista brasileiro, esse instituto perdurou até o Código Civil Brasileiro de 1916, sendo somente com a Constituição Federal Brasileira de 1988 que a promulgação de direitos elevou efetivamente a igualdade entre o marido, esposa e os filhos em uma relação familiar, sendo que todos passaram a ter direitos mútuos de proteção e convivência familiar.

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12 Com o evoluir das instituições veio a consagração de direitos, porém além de promover a facilitação da formação familiar houve também a facilitação no seu desfazimento, sendo, inclusive, o desfazimento das relações familiares um dos maiores meios de propagação da alienação parental, visto que com a separação dos genitores, que nem sempre é consensual e amigável, acaba ocasionando em uma turbulência de sentimentos e ressentimentos entre o grupo e que na maioria das vezes é descarregado sobre a criança, chegando ao ponto de esta ser usada como uma catarse emocional entre os genitores, o que vem causando afronta direta aos direitos fundamentais dos menores, inclusive um descumprimento direito aos deveres inerentes ao poder parental dos genitores.

O próprio desfazimento da união conjugal, conforme será visto, tem o condão de perturbar as relações familiares, isso sob a ótica do melhor interesse da criança e adolescente, pois na maioria das vezes o interesse em jogo é somente dos adultos e não das crianças, porém que não tem parado por ai, pois situação que vem se reforçando com a alienação parental perpetrada.

Por causa disso, o presente estudo vai buscar analisar se a criminalização da alienação parental será a melhor forma de solucionar o problema, a julgar pelas consequências que o respectivo ato traz para o grupo familiar, especialmente na vida dos menores que são os indivíduos mais vulneráveis em nome do princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.

Para tanto, o respectivo trabalho vai ser dividido em três partes fundamentais. Na primeira parte, será realizada uma breve introdução sobre o surgimento da família, surgimento científico da alienação parental e suas consequências para as famílias sob o olhar brasileiro, bem como uma breve análise acerca das obrigações dos pais em relação aos filhos à luz do direito brasileiro.

Na segunda parte, é o momento de abordar os princípios norteadores do direito de família cruciais para a abordagem do tema, perpassando pelo princípio da dignidade humana, princípio da afetividade, princípio da função social da família, princípio da convivência familiar, princípio do melhor interesse da criança e adolescente etc, fazendo uma análise legislativa e doutrinária do assunto, buscando com isso esclarecer a gravidade da respectiva conduta frente o conjunto de mecanismos de proteção aos menores.

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13 Na terceira e última parte, será feito um estudo dos dispositivos da atual Lei Federal nº 12.318/10 (Lei de Alienação Parental) e das propostas de criminalização da conduta no brasil, uma breve análise acerca do instituto da mediação e da guarda compartilhada como meios inibidores e menos gravoso ao problema e, ponderando os interesses em discussão, concluir a ideia acerca da real necessidade ou não de criminalização da conduta no direito brasileiro, visto que criminalizar uma conduta nem sempre pode ser o melhor caminho para efetivação de direitos, mas talvez um gatilho para o surgimento de outros problemas, ponto de crucial relevância para o presente trabalho e que será melhor desenvolvido no final do estudo.

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14

CAPÍTULO 01. DO CONCEITO E DA EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA EM SOCIEDADE

No presente tópico, serão abordados pontos relevantes e cruciais para o entendimento do presente trabalho, notadamente acerca da evolução do conceito de família, alienação parental e o seu surgimento científico, distinção da alienação parental e síndrome de alienação parental e atual consequências do ato para as crianças e adolescentes, finalizando o capítulo com a elucidação dos direitos e obrigações dos genitores em relação aos filhos à luz da legislação brasileira.

Como será visto, as crianças e adolescentes são pessoas em desenvolvimento e que precisam do máximo de atenção e cuidado dos seus responsáveis para o seu sadio desenvolvimento, tanto físico como psicológico, o que vem sendo mitigado em decorrência da alienação parental e sendo um prejuízo para as famílias brasileiras.

1.1 DO CONCEITO E DA EVOLUÇÃO DA FAMÍLIA EM SOCIEDADE

Primeiramente, mostra-se de suma importância a compreensão do conceito e da evolução de família em sociedade, pois somente assim poderá ser efetiva a compreensão das questões elencadas no discorrer do trabalho.

Como é sabido, a sociedade atual é fruto de grandes ocorrências sociais ao longo do tempo, o que não poderia ser diferente com o instituto da família e com o direito em decorrência da necessidade de regulação das relações em sociedade.

Acerca da família, Carlos Roberto Gonçalves prescreve que as primeiras noções de família se iniciaram no direito Romano, sendo esse período marcado pelo poder patriarcal, conforme descreve:

A família é a primeira célula da organização social, no direito Romano a família era organizada sob o princípio da autoridade, exercido pelo genitor o qual exercia o Pater famílias exercia sobre os filhos direito de vida e de morte, podia desse modo vende-los, impor-lhes castigos e penas corporais e até mesmo tirar-lhes a vida. A mulher era totalmente subordinada à autoridade marital e podia ser repudiada por ato unilateral do marido.1

1 Gonçalves, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, vol. 06: Direito de Família, - 9. ed. – São Paulo: Editora

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15 Como se observa, o genitor possuía total poder sobre o filho, fazendo o que bem entender em decorrência do princípio da autoridade, inclusive sendo a própria genitora subordinada à autoridade do marido.

Inclusive, o próprio autor destaque que:

Com o tempo, a severidade das regras foi atenuada, conhecendo os romanos o casamento sine manu, sendo que as necessidades militares estimularam a criação de patrimônio independente para os filhos. Com o imperador Constantino, a partir do século IV, instala-se no direito romano concepção cristã da família, na qual predominam as preocupações de ordem moral. Aos poucos foi então a família romana evoluindo no sentido de se restringir progressivamente a autoridade do pater, dando-se maior autonomia à mulher e aos filhos, passando estes a administrar os pecúlios castrenses.2

Observa-se que com o passar do tempo, mais precisamente com o evoluir das instituições familiares, sociais e jurídicas a severidade no convívio familiar foi diminuída em decorrência de uma maior preocupação de ordem moral.

Com a instalação no direito Romano da concepção cristã de família aos poucos a família Romana foi evoluindo no sentido de restringir progressivamente a autoridade do genitor e consequentemente atribuindo à mulher e aos filhos maior autonomia.

Nesse cenário, perseguindo a linha do tempo em relação ao evoluir jurídico, agora sob o olhar jurídico brasileiro acerca da instituição da família, menciona-se a inteligência de Madaleno sobre o assunto:

Ao tempo do Código Civil de 1916, dispunha o art. 233, a unidade de direção do marido, designado para ser chefe da sociedade conjugal e a família se caracterizava como uma entidade eminentemente patriarcal, hierarquizada, matrimonializada e patrimonializada. Pertencia ao esposo, investido na função de cabeça do casal, o poder diretivo de toda família e à mulher e aos filhos competia tão-somente aceitar que deviam obediência ao pater familiae, a bem da paz, da harmonia e da felicidade da família.3

Frente a isso, torna-se mais claro a percepção de que a família era calcada no modelo patriarcal, modelo em que o sustento era proporcionado pelo homem enquanto a mulher era

2 Gonçalves, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, vol. 06: Direito de Família, - 9. ed. – São Paulo: Editora

Saraiva, 2012, p. 31.

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16 dona de casa e cuidadora dos filhos, realidade baseada no homem como detentor dos direitos e a mulher como detentora dos deveres, cabendo aos filhos somente obedecer às ordens do pai. Como pôde ser constatado, depreende-se que a família, desde o seu surgimento, não tinha muitas preocupações com questões afetas ao amor e carinho, mas tão somente de uma instituição com viés patrimonial onde o homem era o chefe da casa.

Contribuindo ao assunto, leciona Rolf Madaleno:

A família do passado não tinha preocupações com o afeto e a felicidade das pessoas que formavam seu principal núcleo, pois eram os interesses de ordem econômica que gravitavam em torno daquelas instâncias de núcleos familiares construídos com suporte na aquisição de patrimônio.4

A família não era vista como algo basilar, mas como um simples instituto inserido na sociedade, situação que só veio a mudar com o surgimento da Constituição Federal de 1988, sobretudo de leis infraconstitucionais afetas ao instituto.

Por conta disso, torna-se evidente a preocupação da Carta Federal em assegurar direitos e garantias a todas as pessoas em uma sociedade pluralística, a julgar pela sua proteção e igualdade entre gêneros, igualdade entre os cônjuges em uma relação, reconhecimento da família como base da sociedade, inclusive com especial proteção do Estado, como a total proteção das crianças e adolescentes como sujeitos de direitos em desenvolvimento, conforme se observa da previsão do art. 3º, inc. IV, art. 5, inc. I, art. 226, §5º, e art. 227, caput, todos do texto Constitucional.5

E não parou por aí, pois o Código Civil de 2002 seguiu a mesma linha protetiva sobre a igualdade do poder familiar, assegurando isonomia de direitos e deveres sobre os filhos, sobretudo pela edição da Lei Federal nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e Adolescente) e da Lei nº 12.318/10 (Lei de Alienação Parental), entre outros dispositivos legais.

A promulgação da respectiva Carta Federal trouxe grandes transformações ao cenário familiar, rompendo com a ideia patriarcal que se sobrepunha aos direitos da mulher e da criança, trazendo especial proteção a todos.

4 Madaleno, Rolf. Direito de Família, 7ª ed. – Rio de Janeiro: Editora forense, 2017. P. 46.

5 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado

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17 À luz dessa transformação legal afeta à família, comentou o doutrinador Paulo Lôbo:

A excessiva preocupação com os interesses patrimoniais que marcou o direito de família tradicional não encontra eco na família atual, vincada por outros interesses de cunho pessoal ou humano, tipificados por um elemento aglutinador e nuclear distinto – a afetividade. Esse elemento nuclear define o suporte fático da família tutelada pela Constituição, conduzindo ao fenômeno que denominamos repersonalização.6

Por conta da igualdade auferida à família, o instituto passou a ter uma maior proteção do Estado em sociedade, inclusive sendo tratada como instituto basilar.

No mesmo deslinde, regulando e abrangendo toda a transformação ocorrida no direito de família, a Constituição Federal previu em seu artigo 226, não necessariamente o conceito de família, mas sim uma breve regulação das relações familiares em sociedade, o que inclusive se mostra de grande valia para compreensão do presente trabalho, veja-se:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração.

§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.

§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.

§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.

§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.

§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.7

Como visto, o evoluir familiar trouxe grandes inovações calcadas em um vínculo mais pessoal e humano, trazendo uma nova concepção social e jurídica do instituto, sobretudo com maior proteção e conscientização legal dos envolvidos, isso para consagrar a melhor vivência possível da família.

Sobre o assunto, cita-se os escritos de Maria Berenice Dias:

6 LÔBO, Paulo. Direito civil - famílias. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 12.

7 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado

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18 As mudanças das estruturas políticas, econômicas e sociais produziram reflexos nas relações jurídico-familiares. Ainda que continue a família a ser essencial para a própria existência da sociedade e do Estado, houve uma completa reformulação do seu conceito. Os ideais de pluralismo, solidarismo, democracia, igualdade, liberdade e humanismo se voltaram à proteção da pessoa humana.8

Ou seja, mais que uma nova estrutura a família vivenciou uma completa reformulação do seu conceito, não somente com foco em sua finalidade social, mas, acima de tudo, na pessoa dos envolvidos como sujeitos com dignidade humana.

Não se olvida atualmente a existência de um embate entre a doutrina e a legislação brasileira acerca da família, mais precisamente quanto à formação do seu núcleo, isso porque novas noções de família se inseriram em sociedade e, consequentemente, passaram a exigir regulação legislativa.

A exemplo disso, cita-se a união estável e a união homoafetiva que encontraram espaço como entidade familiar no novo cenário social e constitucional, essa última julgada e reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 42779 e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 13210, sem prejuízo, ainda, de novos arranjos familiares que podem surgir em virtude do princípio da dignidade humana, igualdade e não discriminação e pelo princípio da afetividade que vem dando suporte às famílias formadas pelo amor.

Por conta disso, lecionou sobre esses novos arranjos familiares Maria Berenice Dias:

A Constituição Federal, rastreando os fatos da vida, viu a necessidade de reconhecer a existência de outras entidades familiares, além das constituídas pelo casamento. Assim, enlaçou no conceito de família e emprestou especial proteção à união estável (CF 226 § 3º) e à comunidade formada por qualquer dos pais com seus descendentes (CF 226 § 4º), que começou a ser chamada de família monoparental. No entanto, os tipos de entidades familiares explicitados são meramente exemplificativos, sem embargo de serem os mais comuns, por isso mesmo merecendo referência expressa. Mas não só nesse limitado universo flagra-se a presença de uma família. Não se pode deixar de ver como família a universalidade dos filhos que não contam com a presença dos pais. Dentro desse aspecto mais amplo, não cabe excluir do âmbito do direito das famílias os relacionamentos de pessoas do mesmo sexo, que mantêm entre si relação

8 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10ª ed. rev. atual. e. ampl. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2015. p. 133.

9 Ação Direta de Inconstitucionalidade 4277. Distrito Federal. Disponível em:

<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635>. Acesso em: 29 de março de 2020, às 16:00 hrs.

10 Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 132. Rio de Janeiro.

http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628633. Acesso em: 29 de março de 2020, às 16:00 hrs.

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19 pontificada pelo afeto, a ponto de merecerem a denominação de uniões homoafetivas. Apesar de posturas discriminatórias e preconceituosas, não é mais possível deixar de emprestar-lhes visibilidade. Dita flexibilização conceitual vem permitindo que os relacionamentos, antes clandestinos e marginalizados, adquiram visibilidade, o que acaba conduzindo a sociedade à aceitação de todas as formas de convívio que as pessoas encontram para buscar a felicidade.11

A ideia de que a família somente poderia ser definida como patriarcal tornou-se ultrapassada com o evoluir social e jurídico afeto ao tema, sendo deixado de lado a noção de família como mero meio de fortalecimento econômico e patrimonial e passando a encontrar o seu fundamento primordial nos laços afetivos entre os envolvidos

Inclusive, na mesma linha de pesquisa, descreveu Caio Mario da Silva Pereira:

Consolida-se a família socioafetiva em nossa Doutrina e Jurisprudência uma vez declarada a convivência familiar e comunitária como Direito Fundamental, a não-discriminação de filhos, a co-responsabilidade dos pais quanto ao exercício do poder familiar e o núcleo monoparental reconhecido como entidade familiar.12

Não se discute hoje em dia a força do afeto atribuído quando da formação dos núcleos familiares, porém, independentemente de como a entidade familiar é formada atualmente, a existência de criança e adolescente, reconhecidos como sujeitos de direitos em fase de desenvolvimento, impõe aos responsáveis o dever de zelo, cuidado e amor para a sua formação saudável, seja física ou psicológica.

Partindo dessa premissa legislativa, contudo, que o presente trabalho se ocupou em tratar do fenômeno da alienação parental e seu desenvolvimento atualmente, especialmente seu impacto nas crianças e adolescentes inseridas nas famílias brasileiras à luz do preceito fundamental da proteção integral dos menores

Assim, finalizando o presente tópico, mostrou-se que com o evoluir do direito de família, mais precisamente da concepção de família na sociedade atual, houve maior preocupação com o instituto, passando o Estado a regular e proteger de forma especial o assunto como norma fundamental.

11 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito de famílias. 6 ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista

dos Tribunais, 2010, p. 41.

12 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, volume V: Direito de Família. 14 ed. – Rio

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20 As crianças e adolescentes nem sempre foram sujeitos de direitos como são atualmente, o que foi alterado somente com a atual legislação protecionista, porém que vem sendo ameaçada em decorrência do fenômeno da alienação parental, exigindo do Estado, acima de tudo, mecanismos de proteção efetivo para a real solução dos problemas.

1.2 EVOLUÇÃO E SURGIMENTO CIENTÍFICO DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Em primeira abordagem, denota-se que o assunto é intrínseco ao direito de família. Dito isso, pontua-se que a alienação parental não se trata de um fenômeno novo, mas já existe a muito tempo, todavia foi com o evoluir social, jurídico e das relações familiares que a conduta tomou maior proporção e atenção ante a sua regulação legislativa.

Por tais motivos, não se torna nem um pouco demasiado afirmar que a alienação parental se trata, atualmente, de um dos assuntos mais delicados vivenciado pelo direito de família em decorrência dos seus efeitos prejudiciais causados na formação psicológica e emocional nas relações entre pais e filhos.

O tema foi regulado pela Lei nº 12.318, que foi aprovada em 26 de agosto de 2010, e passou a ser o mais importante instrumento de controle e manutenção da saúde psicológica e emocional no seio das famílias brasileiras, chegando a conceituar a alienação parental de forma bem clara em seu art. 2º da seguinte maneira:

Art. 2. Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.13

Como se observa, a alienação parental viola um direito básico da criança ou adolescente à uma convivência familiar saudável, causando afronta direta ao art. 227, caput, da Carta Federal de 1988 ao assegurar a convivência familiar e comunitária livre de toda forma de opressão e negligência como um direito fundamental da criança, inclusive sendo dever da família, da sociedade e do Estado assegurá-los, o que se reforça com a previsão do artigo 3º, caput, da referida Lei de Alienação Parental:

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21 Art. 3º. A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda.14

Como se extrai, além de violação direta de valores fundamentais dos menores a conduta revela, ainda, total descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental, ou seja, dos cuidados dos pais com os filhos.

Não é difícil de perceber a importância dos interesses em jogo, porque em se tratando de criança a sua vulnerabilidade acaba sendo presumida e que, por estarem sujeitos à autoridade parental, quando vítimas de alienação acabam tendo seus sentidos influenciados negativamente ao ponto de auferirem desprezo pelo outro genitor, situação que prejudica a realização de afeto nas relações do grupo familiar. 15

Por conta disso, sendo assunto perpetrado de forma corriqueira entre as mais diversas famílias em sociedade, eis que decorrente de um cenário familiar instável, seja na vida comum ou no desfazimento conjugal, a alienação parental vem encontrando espaço cada vez mais fértil e, consequentemente, causando prejuízo aos direitos dos menores.

E por assim ser, havendo novos institutos de proteção à família em sociedade, o Estado não pode se abster em tomar medidas efetivas em combater à alienação parental, sobretudo considerando a criança como foco central do assunto para melhor resguardar seus interesses.

1.3 SEPARAÇÃO CONJUGAL, AUTORIDADE PARENTAL E ALIENAÇÃO PARENTAL NA FAMÍLIA – EFEITOS GERADOS

A alienação parental é um fenômeno que pode se iniciar tanto nas relações intrafamiliares como nos casos de separação conjugal entre pais que possuem filhos oriundos da relação, com maior frequência neste último caso em decorrência dos sentimentos gerados com o fim da relação, conforme será visto abaixo.

14 BRASIL. Lei nº 12.318/10. Lei de Alienação Parental. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 2010. 15 SIQUEIRA, Fernanda Barbosa. Alienação Parental e Síndrome de Alienação Parental. Disponível em:

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22 Em decorrência da consagração legislativa de direitos auferida às famílias brasileiras, o matrimônio consequentemente passou a ser uma instituição com maior flexibilidade quanto ao seu desfazimento, isso porque extinguiu-se a noção de obrigatoriedade conjugal entre os envolvidos, ou seja, com a família calcada no afeto e nos laços sentimentais, havendo o fim destes laços entre o casal, o caminho atual é o divórcio.

Por ser o casamento um vínculo repleto de emoções e sentimentos que une o casal, o seu desfazimento acaba envolvendo-se em muitas outras questões emocionais também, podendo ser emoções tanto positivas como negativas dependendo de como se deu a dissolução da relação, com turbulência ou amigável.

Fato é que, para o deslinde da presente pesquisa, situação que revela maior compatibilidade com o assunto são os desfazimentos conjugais carregados de sentimentos negativos, conturbados e repletos de conflitos entre os parceiros, pois são nestes casos que ocorrem as disputas judiciais pela guarda dos filhos.

E é nesse momento de disputa pela permanência com o filho, sobretudo, que é dado início a um comportamento de obstrução por parte de um dos genitores ou, na pior das hipóteses, de ambos visando impedir o contato do filho com o outro em decorrência dos sentimentos até então deflagrados pela separação.16

A questão que demanda atenção, contudo, é que mesmo diante da separação conjugal perpetrada entre os genitores, seja negativa ou positiva, a autoridade parental, que são os direitos e deveres dos pais com os filhos, não se extinguirá, mas acima de tudo exigirá dos genitores comportamentos condignos com o desenvolvimento do filho, porém que vem sendo contrariado em decorrência da prática corriqueira de alienação parental, pois é considerada um abuso moral e um descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental pela Lei Federal nº 12.318/10, art. 3º, (Lei de Alienação Parental).17

Frente a isso, mesmo que os prejuízos diretos sejam de ordem emocional à criança, consequentemente, ocorrem consequências jurídicas pelos mesmos atos causados. Assim, mesmo que em desfavor dos próprios genitores, as leis aplicáveis ao instituto se aperfeiçoaram

16 COSTA, Natália Carolina Lapa. Alienação Parental: a proteção da criança e do adolescente à luz da garantia

constitucional. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/37430/alienacao-parental-a-protecao-da-crianca-e-do-adolescente-a-luz-da-garantia-constitucional>. Acesso em: 29 de maio de 2020, às 17:26 hrs.

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23 para a solução efetiva dos problemas familiares, como é o caso da citada lei de alienação parental que limita a autoridade dos pais sobre os filhos.

Como é notório, o atual ordenamento jurídico brasileiro atribuiu aos pais direitos e deveres para o efetivo exercício da autoridade parental em relação aos filhos, isso porque a criança e adolescente, desde o advento da Carta Federal de 1988, Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal 8.069/90) e da Convenção dos Direitos da Criança ganharam status de sujeitos de direitos com especial proteção18, o que claramente se observa da previsão expressa do artigo 227, caput, da respectiva Carta Federal:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.19

Melhor explicando, observa-se que às crianças a prioridade à vida, à saúde e demais direitos inerentes a sua formação devem ser prioridades absolutas a serem assegurados pela família, sociedade e pelo Estado.

Sobre a autoridade parental, Maria Helena Diniz relata que:

O poder familiar consiste num conjunto de direitos e obrigações, quanto à pessoa e bens do filho menor não emancipado, exercido em igualdade de condições por ambos os pais para que possam desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o interesse e a proteção dos filhos.20

Ou seja, mais que um simples conceito a autoridade parental se revela no conjunto de direitos e obrigações dos pais com os seus filhos em vista dos melhores interesses da criança, inclusive sendo assunto reforçado pelos ensinamentos da doutrinadora Ana Carolina Brochado ao dizer:

A autoridade parental atribui a ambos os pais a titularidade, o exercício, o poder e o dever de gerenciar a educação dos filhos, de modo a moldar-lhes a personalidade, a

18 BARBOSA, Águida Arruda. Direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 29-30. 19 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado

Federal: Centro Gráfico, 1988.

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24 proporcionar-lhes um crescimento com liberdade e responsabilidade, sem falar no dever de zelo do seu patrimônio.21

Ambos os genitores devem se aterem aos direitos e obrigação inerentes aos filhos, de modo a moldar-lhes a personalidade e assim proporcionar-lhes um desenvolvimento sadio com liberdade e responsabilidade.

E os direitos protecionistas aos menores não param por ai, pois em consonância com a respectiva previsão constitucional o ECA assegura em seu artigo 7º a formação sadia e harmoniosa das crianças e adolescentes como sendo um direito fundamental a ser observado pelos pais, senão veja-se: “A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”.22

Em melhor análise, a previsão legal além de reforçar a necessidade dos menores se desenvolverem no seio de sua família de forma harmônica busca a observação no mínimo dignas de existência das crianças.

Por conta disso, todavia, compreende-se que a convivência sadia dos menores com a sua família não é somente um direito, mas acima de tudo um dever a ser observado, sobretudo porque o afastamento dos pais causam um impacto negativo no desenvolvimento filhos, inclusive os sujeitando à responsabilização pelo descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental regulado pelo ECA.23

Da mesma forma, acerca dos deveres e obrigações dos pais, o ECA prevê no artigo 22, caput, que: “Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais”.24

21 BROCHADO TEIXEIRA, Ana Carolina. Alienação parental: aspectos práticos e processuais. Disponível

em: <http://civilistica.com/wp-content/uploads/2013/01/Ana-Carolina-Brochadociv.a2.n1.2013-1.pdf>. Acesso em: 29 de maio de 2020, às 18:18 hrs.

22 BRASIL. Lei nº 8.069/90. Estatuto da Criança e Adolescente. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico,

1990.

23 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. Porto Alegre: Revista dos Tribunais, 2009. p.

415.

24 BRASIL. Lei nº 8.069/90. Estatuto da Criança e Adolescente. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico,

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25 Ainda, o Código Civil (Lei 10.406/2002) faz menção expressa de direitos e obrigações da família em relação aos próprios filhos, à exemplo, nesse caso, do artigo 1634, inciso I, que diz: “Compete aos pais, quando à pessoa dos seus filhos menores: I – dirigir-lhes a criação e educação”.25

Pelo que se observa, os filhos gozam de total proteção dos pais para o seu sadio desenvolvimento em família e em sociedade, sendo livres de toda forma de situações que os coloquem em riscos à sua formação, o que nas palavras de Sílvio Rodrigues essa proteção está atrelada às obrigações de ordem material e moral para a formação da educação e do caráter das crianças.26

Na verdade, pode-se dizer de acordo com as citações mencionadas que a criação dos filhos está relacionada à proporcionar o mínimo de condições para que os menores possam desfrutar de uma vida digna e um desenvolvimento sadio como pessoa humana, ou seja, um conjunto de ações por parte da família para orientá-los de forma mais saudável à encontrarem o melhor caminho para se agregarem aos valores da sociedade em que estão inseridos.

Tanto é a importância de tais deveres, que o seu descumprimento sujeita os pais tanto à responsabilização penal, como é o caso do abandono intelectual previsto no artigo 246 do Código Penal que diz: “Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa”.27

Como da mesma forma as penas previstas no ECA:

Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao pátrio poder, poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar: (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. 28

Nessa senda, além da importância dos institutos jurídicos aplicáveis ao tema, os direitos e obrigações referentes aos cuidados dos filhos necessitam sempre serem interpretados à luz do

25 BRASIL. Lei nº 10.406/02. Código Civil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 2002. 26 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: direito de família. São Paulo: Saraiva, 2004, p.360. 27 BRASIL. Decreto Lei nº 2.848/40. Código Penal. Rio de Janeiro. Centro Gráfico, 1990.

28 BRASIL. Lei nº 8.069/90. Estatuto da Criança e Adolescente. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico,

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26 melhor interesse dos menores, sobretudo pela condição social das normas e pelo caráter de pessoas em desenvolvimento.

1.4 ALIENAÇÃO PARENTAL E SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL – DISTINÇÃO

De início, mostra-se necessário constatar que a síndrome de alienação parental foi inicialmente estudada e desenvolvida pelo professor norte-americano Richard Gardner para se referir a consequências psicológicas e até mesmo como uma patologia conhecida como SAP (Síndrome de Alienação Parental).29

Elucida-se o assunto:

Um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que faz a ―lavagem cerebral, programação, doutrinação‖) e contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança pode ser justificada, e assim a explicação de Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade da criança não é aplicável.30

A expressão Síndrome de Alienação Parental (SAP), para melhor compreensão, é utilizada para descrever um conjunto de sintomas referentes a uma doença ou uma perturbação psicológica formada na criança em decorrência da própria alienação parental.

Nos ensinamentos do professor Richard Gardner, existe diferença entre a síndrome e alienação parental, pois, enquanto a alienação é uma real situação de abuso e negligência, a SAP é o modo exacerbado da alienação, ou seja, é um nível mais profundo e propício ao desenvolvimento de problemas psiquiátricos, sendo basicamente uma consequência da alienação e que se caracteriza pelas sequelas emocionais deixadas pela alienação perpetrada. 31

29 GARDNER, Richard. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental

(SAP)?. Disponível em:

<https://pt.scribd.com/document/6155591/Sindrome-da-Alienacao-Parental-Richard-Gardner#>. Acessado em 09 de março de 2020, às 12:20 hrs.

30 GARDNER, Richard. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental

(SAP)?. Disponível em:

<https://pt.scribd.com/document/6155591/Sindrome-da-Alienacao-Parental-Richard-Gardner#>. Acessado em 09 de março de 2020, às 12:20 hrs.

31 GARDNER, Richard. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental

(SAP)?. Disponível em:

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27 Para o psiquiatra:

Uma síndrome, pela definição médica, é um conjunto de sintomas que ocorrem juntos, e que caracterizam uma doença específica. Embora aparentemente os sintomas sejam desconectados entre si, justifica-se que sejam agrupados por causa de uma etiologia comum ou causa subjacente básica. Além disso, há uma consistência no que diz respeito a tal conjunto naquela, em que a maioria (se não todos) os sintomas aparecem juntos. O termo síndrome é mais específico do que o termo relacionado à doença. Uma doença é geralmente um termo mais geral, porque pode haver muitas causas para uma doença particular.32

Assim, mesmo que sejam termos parecidos os seus conceitos em nada se confundem, mas um é decorrência lógica do outro. A síndrome vai além, pois são os sintomas deixados pelo conjunto de atos negativos à formação psicológica da criança, que nesse caso é a alienação parental.

Da mesma maneira, lecionada sobre o tema a Dra. Priscila Corrêa:

A síndrome refere-se à conduta do filho que se recusa, terminantemente e obstinadamente, a ter contato com um dos genitores e que já sofre com o rompimento de seus pais, ou seja, é uma patologia referente à criança e uma forma de abuso emocional por parte do genitor alienador. Já a alienação parental é o afastamento do filho em relação ao genitor visitante, provocado pelo titular da guarda, ou seja, relaciona-se com o processo desencadeado pelo guardião que intenta arredar o outro genitor da vida do filho.33

Existe muitas críticas que colocam em discussão o caráter científico da respectiva SAP, sendo a maior delas devido ao não reconhecimento da SAP como doença nem pela Associação de Psiquiatria Americana (DSM-IV) nem, tão pouco, pela OMS (CID-10). Além disso, também não há o referido reconhecimento pela Associação Médica Americana.34

Fato em discussão, contudo, é que a situação vai além da mera classificação do fenômeno como doença, isto é, doença ou não a existência do fenômeno é real e vem causando consequências graves em suas vítimas que são crianças em desenvolvimento.

32 GARDNER, Richard. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental

(SAP)?. Disponível em:

<https://pt.scribd.com/document/6155591/Sindrome-da-Alienacao-Parental-Richard-Gardner#>. Acessado em 09 de março de 2020, às 12:20 hrs.

33 FONSECA, Priscila M. P. Corrêa da. Síndrome da Alienação Parental. In: Revista de Direito de Família.

Porto Alegre: Síntese, IBDFAM, v. 8, n. 40.

34 GARDNER, Richard. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental

(SAP)?. Disponível em:

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28 Por conta disso, chega-se à conclusão de que a SAP, muito além de mero atrapalho entre genitores e filhos, como no caso da alienação parental, se configura da existência de um sentimento de rejeição voluntário por parte da criança ao genitor.

Não se trata, a partir da sequela gerada, de uma conduta de afastamento perpetrada por um dos genitores, mas de um afastamento espontâneo por parte da criança em decorrência do distúrbio gerado em seu consciente.

1.5 CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS E PSICOLÓGICAS DO ATO DE ALIENAÇÃO PARENTAL PARA AS CRIANÇAS

Como já estudado, a alienação parental e a SAP formada pelo ato são ataques diretos ao direito fundamental da criança ou adolescente ao seu desenvolvimento sadio em sociedade e na sua família, bem como de sua integridade psicológica.

A instabilidade conjugal dos pais acabam por colocarem os filhos em meio aos problemas da relação, situação que se agrava ainda mais diante do desfazimento da vida em comum, o que nem sempre são amigáveis e, consciente ou inconscientemente, acabam usando a criança como objeto de controle emocional em desfavor do outro, expondo sentimentos ruins e negativos, desencadeando com isso a alienação parental, conforme melhor se elucida abaixo:

Os sentimentos dos filhos em relação aos pais tornam-se ambíguos, ódio e amor simultaneamente, ao mesmo tempo em que a criança sente falta do genitor que não está mais no lar, sente raiva quando vê o outro chorar mas, também, se entristece com este quando escuta falar mal daquele.35

É notável que a criança não tem culpa da relação conturbada dos genitores, porém mesmo assim acabam sendo vítimas de pais que buscam somente seus interesses no fim das relações e que sequer se preocupam com o bem-estar do filho, mas os alienam em desfavor do outro genitor ao ponto dá criança sentir que é necessário se unir somente a uma parte e rejeitar a outra, contraindo para si toda a negatividade e sofrimento do conflito.

Nos dizeres da Psicóloga Larissa A. Tavares Vieira:

35 JUNIOR, Elo Pereira Lemos. Alienação parental – uma análise da lei 12.318/2010. Disponível em:

<http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=0c57998b6a829067>. Acesso em: 12 de março de 2020, às 16:00 hrs.

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29 Como consequência da Alienação Parental, o filho pode desenvolver problemas psicológicos e até transtornos psiquiátricos para o resto da vida. Alguns dos efeitos devastadores sobre a saúde emocional, já percebidos pelos estudiosos, em vítimas de Alienação Parental, são: vida polarizada e sem nuances; depressão crônica; doenças psicossomáticas; ansiedade ou nervosismo sem razão aparente; transtornos de identidade ou de imagem; dificuldade de adaptação em ambiente psicossocial normal; insegurança; baixa autoestima; sentimento de rejeição, isolamento e mal estar; falta de organização mental; comportamento hostil ou agressivo; transtornos de conduta; inclinação para o uso abusivo de álcool e drogas e para o suicídio; dificuldade no estabelecimento de relações interpessoais, por ter sido traído e usado pela pessoa que mais confiava; sentimento incontrolável de culpa, por ter sido cúmplice inconsciente das injustiças praticadas contra o genitor alienado.36

Consequentemente, quando vítima de alienação, o filho além de poder desenvolver problemas psicológicos e até transtornos psiquiátricos para o resto da vida, acaba por desenvolver uma crise de lealdade em relação aos pais, porque enquanto tem que ser leal com um acaba sendo desleal com o outro, o que se agrava com o medo da criança ser rejeitada por um deles.

Diz Jorge Trindade:

O filho pode assumir uma postura de se submeter ao que o alienador determina, pois teme que se desobedecer ou desagradar, poderá sofrer castigos e ameaças. A criança criará uma situação de dependência e submissão às provas de lealdade, ficando com medo de ser abandonada do amor dos pais. Ocorre um constrangimento para que seja escolhido um dos genitores, trazendo dificuldades de convivência com a realidade. Entrando num mundo de duplas mensagens e vínculos com verdades censuradas, favorecendo um prejuízo na formação de seu caráter.37

Dessa forma, a criança acaba por assumir a postura determinada pelo alienador, visto o medo de castigos e ameaças e até mesmo ser abandonada do amor dos pais, ficando constrangida a escolher um dos genitores e rejeitar o outro, trazendo dessa forma consequências graves para a convivência com sua realidade, inclusive favorecendo um prejuízo imensurável na formação de seu caráter e vida em sociedade.

Inclusive, a psicóloga jurídica Andreia Calçada, através da citação de Larissa Domingos, diz que:

36 VIEIRA, Tavares A. Larissa. O efeito devastador da alienação parental: e suas sequelas psicológicas sobre

o infante e genitor alienado. Disponível em: <https://psicologado.com/atuacao/psicologia-juridica/o-efeito-devastador-da-alienacao-parental-e-suas-sequelas-psicologicas-sobre-o-infante-e-genitor-alienado>. Acesso em: 12 de março de 2020, às 16:00 hrs.

37 TRINDADE, Jorge. Manual de psicologia Jurídica para operadores do direito. Porto Alegre: Livraria do

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30 O filho envolvido em alienação parental, como também em falsas acusações de abuso sexual, desenvolve sequelas graves. Segundo ela, a criança ou adolescente passa a se sentir dividido, como se precisasse escolher entre amar o pai ou a mãe, e não ambos em igual proporção. Isso causa uma divisão interna e, consequentemente, uma fragilidade na estruturação de personalidade que pode gerar problemas de relacionamentos escolares, psicológicos e psiquiátricos‖, diz, ressaltando que, quanto mais o filho precisar se aliar a um dos genitores, pior serão as consequências.38

Como se constata, o guardião responsável acaba programando o filho para rejeitar o outro, situação que, mesmo passando despercebido pelos pais, acaba em desenvolver a SAP, sequelas emocionais e psicológicas na criança, que além do sofrimento do menor acaba por prejudicar o alienado (genitor ou genitora) também.

Como será visto, o direito à convivência familiar não é um direito somente de uma pessoa, mas de todo o grupo familiar. Por isso, tanto a criança como o genitor alienado acabam sofrendo às consequências do ato, haja vista o seu afastamento da criança em decorrência de situações que sequer existiram e que, não raro, não conseguem nem se reaproximar, mas acabam ficando com a imagem denigrida perante a criança.39

Por relevante, menciona-se o julgado da Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

Ementa: DIREITO DE VISITAS. PAI. ACUSAÇÃO DE ABUSO SEXUAL. PEDIDO DE SUSPENSÃO. SUSPEITA DE ALIENAÇÃO PARENTAL. INTENSA BELIGERÂNCIA. PEDIDO DE AMPLIAÇÃO PARA CONTEMPLAR DATAS ESPECIAIS. 1. Como decorrência do poder familiar, o pai não-guardião tem o direito de conviver com a filha, acompanhando-lhe a educação, de forma a estabelecer com ela um vínculo afetivo saudável. 2. A criança está vitimizada, no centro de um conflito quase insano, onde a mãe acusa o pai de abuso sexual, e este acusa a mãe de promover alienação parental, devendo os fatos serem esclarecidos ao longo da fase cognitiva. 3. As visitas estão estabelecidas e ficam mantidas devendo assim permanecer até que venham aos autos elementos de convicção que justifiquem a revisão. 4. Descabe a pretendida ampliação do sistema de visitação, pois o horário fixado na decisão recorrida mostra-se bastante razoável e permite o contato saudável entre o genitor e a criança, levando em conta a tenra idade desta. 5. A intensa beligerância desaconselha, nesse momento, modificações. Recurso desprovido. (Agravo de Instrumento Nº 70052347887, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio

38 DOMINGOS, Larissa. Entenda a alienação parental e suas consequências a pais e filhos. Disponível em:

<https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:ag6NpMUwpFoJ:https://catraquinha.catracalivre.com .br/geral/familia/indicacao/alienacao-parental/+&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 12 de março de 2020, às 16:40 hrs.

39 GAUDIOSO, Guimarães Laura Ana. Alienação Parental: a mediação deveria ser utilizada com alternativa de

solução do conflito? Disponível em:

<http://fapam.web797.kinghost.net/admin/monografiasnupe/arquivos/28092015194909ANA_LAURA.pdf>. Acesso em: 12 de março de 2020, às 16:30 hrs.

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31 Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 03/12/2012) Data de Julgamento: 03/12/2012 Publicação: Diário da Justiça do dia 06/12/201293.40

Assim, constata-se que os atos de alienação parental mais que prejudicam somente a criança, visto que ao gerar o afastamento do genitor alienado o prejuízo à família se torna inevitável, sobretudo em desfavor do menor que já vivencia as sequelas da alienação e que sofrerá mais ainda com o afastamento abrupto do genitor.

Como será visto, a convivência familiar é um direito fundamental do grupo familiar, porém acaba tendo maior impacto em favor das crianças que são os mais vulneráveis da relação, inclusive sendo obrigação fundamental dos pais promoverem relações positivas e harmoniosas entre si para o bom desenvolvimento dos filhos.

Mesmo que haja previsão expressa na Cara Federal e nas leis infraconstitucionais de proteção às famílias em sociedade, à exemplo do art. 227, da lei nº 10.406/02 (Código Civil), lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e Adolescente) e lei nº 12.318/10 (Lei de Alienação Parental), sem prejuízo de outras normas de proteção, fato em evidencia é que o desrespeito às crianças ou adolescentes estão cada vez mais corriqueiros nos cenários familiares, demandando maior efetividade dos mecanismos de proteção.

40 Agravo de Instrumento Nº 70052347887, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio

Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 03/12/2012. Disponível em:

<https://tjrs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22844224/agravo-de-instrumento-ag-70052347887-rs-tjrs>. Acesso em: 12 de março de 2020, às 16:30 hrs.

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CAPÍTULO 02. PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DE FAMÍLIA NO BRASIL

São vários os princípios norteadores do direito de família que abordam a proteção e a conscientização das famílias em sociedade, sobretudo às crianças e adolescentes que são as pessoas mais suscetíveis de prejuízo em decorrência de uma vivencia familiar conflituosa.

Serão abordados alguns dos princípios considerados mais importantes ao assunto, à exemplo do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, Princípio da Afetividade, Princípio da Função Social da Família, Princípio da Paternidade Responsável ou do Planejamento Responsável, Princípio da Solidariedade, Princípio da Intervenção Mínima do Estado na Família, Princípio da Convivência Familiar e Princípio do Melhor Interesse da Criança e Adolescente, todos voltados para a melhor organização e conscientização das famílias em sociedade, conforme será abordado nos subtópicos abaixo.

2.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Com o advento da Constituição Federal de 1988, sobreveio o princípio da dignidade da pessoa humana como corolário fundamental da República, isso por considerar o ser humano o mais importante ser dotado de direitos e de proteção em sociedade.

Por esse motivo, todas as relações jurídicas e sociais em sociedade passaram a ser calcadas na dignidade humana, o que se observa da análise do art. 1, inc. III, da Constituição Federal ao prever que:

Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

[...]

III - a dignidade da pessoa humana. [...] 41

Como se observa, a República Federativa do Brasil, constituindo-se em Estado Democrático de Direito, consagrou, além de outros fundamentos, a dignidade da pessoa

41 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado

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33 humana, que no presente trabalho vem sendo tratado como princípio fundamental que deve ser observado nas relações de família.

À luz da previsão constitucional, promulgou-se a Lei Federal nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e Adolescente) assegurando em seu art. 7º, caput, além de outros direitos fundamentais: “a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”.42

Sem sombra de dúvidas, a criança e adolescente passou a ter proteção integral do Estado em sociedade.

É sabido que os princípios nem sempre possuem uma definição precisa acerca do seu conteúdo, pois, sendo dotados de valores hermenêuticos, acabam dando margens para mais de uma interpretação, sobretudo por ser uma cláusula geral.

A dignidade humana deve ser avaliada a partir da realidade vivenciada pelo ser humano em sociedade, em sua vida concreta, e não como algo ideal.

Dessa forma, não poderia ficar de fora do presente trabalho menção da Declaração Universal dos Diretos Humanos, pois sem sombra de dúvidas é a expressão máxima de proteção à dignidade humana como meio de promover o progresso social e melhores condições de vida em sua liberdade mais ampla.

Como afirma a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada por meio da Assembleia Geral da ONU em 1948: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.43

Por tais motivos, torna-se claro a incidência da dignidade humana em todas as áreas jurídicas e sociais em sociedade, sobretudo nas relações de família que é o foco do presente estudo e que merecem especial proteção do Estado, inclusive sendo previsto pela própria Declaração que: “A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado”.44

42 BRASIL. Lei nº 8.069/90. Estatuto da Criança e Adolescente. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico,

1990.

43 Assembleia Geral da ONU. (1948). Declaração Universal dos Direitos Humanos. (217 (III) A). Paris.

Disponível em: <http://www.un.org/en/universal-declaration-human-rights/>. Acesso em: 05 de março de 2020, às 12:00 hrs.

44 Assembleia Geral da ONU. (1948). Declaração Universal dos Direitos Humanos. (217 (III) A). Paris.

Disponível em: <http://www.un.org/en/universal-declaration-human-rights/>. Acesso em: 05 de março de 2020, às 12:30 hrs.

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34 Dessa forma, recebendo a família especial proteção a alienação parental acaba por ser algo que deve ser combatido rigidamente, pois cuida-se, em verdade, de um descumprimento aos deveres afetos ao poder familiar ou até mesmo oriundos dos deveres de tutela ou guarda que afetam diretamente a dignidade das crianças e adolescentes.

Tudo isso porque os infantes são os mais vulneráveis em sua formação e precisam de uma convivência familiar segura com sua família, porém que no cenário atual acabam ficando sujeitos as mais severas agressões psicológicas e morais pelos próprios guardiões.

No mais, como forma de respeito ofertado a todos os tipos de entidades familiares em sociedade, o princípio em jogo merece total respeito em decorrência de ser o corolário máximo de proteção das pessoas, sobretudo como forma de combate aos atos de alienação parental que que violam direitos fundamentais dos menores.

2.2 PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE

Também com o advento da Constituição Federal, o princípio da afetividade ganhou espaço no meio jurídico, social e familiar, mesmo não sendo um princípio expresso e sim implícito.

Analisando a corpo constitucional, não se observa a expressão princípio da afetividade ou até mesmo afeto, tratando-se de um princípio calcado em uma interpretação hermenêutica da Lei Maior e de dispositivos infraconstitucionais aplicáveis ao tema.

Fazendo um apanhado dos escritos aos tópicos anteriores, foi com o evoluir da sociedade e das instituições jurídicas e sociais que houve maior preocupação com a estrutura e organização das famílias, pois como já visto a família não possuía o seu alicerce no amor e na felicidade do seu núcleo principal, mas principalmente em interesses de ordem econômica.

Em verdade, a família não era algo basilar de uma sociedade, sendo com o surgimento da Constituição Federal de 1988, sobretudo de leis infraconstitucionais, que os aspectos familiares tomaram rumos diferentes, deixando a ideia de uma família baseada somente no poder patriarcal e com interesses econômicos e concebendo uma força pessoal, humanizada e socioafetiva da relação.

A bem da verdade, uma grande expressão do princípio em tela é a previsão do artigo 226, §4º, e 227, §5º e §6, da Constituição Federal ao elevar a igualdade familiar prevendo que:

(36)

35 “os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.45

Complementa Rolf Madaleno:

Maior prova da importância do afeto nas relações humanas está na igualdade da filiação (CC, art. 1.596), na maternidade e paternidade socioafetivas e nos vínculos de adoção, como consagra esse valor supremo ao admitir outra origem de filiação distinta da consanguínea (CC, art. 1.593), ou ainda através da inseminação artificial heteróloga (CC, art. 1.597, inc.V); na comunhão plena de vida, só viável enquanto presente o afeto, ao lado da solidariedade, valores fundantes cuja soma consolida a unidade familiar, base da sociedade a merecer prioritária proteção constitucional.46

Por conta disso, para além do vínculo biológico, a afetividade passou a ser um dos pilares familiar e com proteção constitucional, devendo haver relação de amor entre os integrantes do núcleo acima do laço sanguíneo, visto a igualdade das entidades familiares assegurada na Lei Maior.

Como melhor exemplifica os doutrinadores Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona: “Mas o fato é que o amor, a afetividade, tem muitas faces e aspectos e, nessa multifária complexidade, temos apenas a certeza inafastável de que se trata de uma força elementar, propulsora de todas as nossas relações de vida”.47

É o caso também do reconhecimento de paternidade em uma relação afetiva, o que se elucida nas palavras Paulo Lôbo:

Impõe-se a distinção entre origem biológica e paternidade/maternidade. Em outros termos, a filiação não é um determinismo biológico, ainda que seja da natureza humana o impulso à procriação. Na maioria dos casos, a filiação deriva-se da relação biológica; todavia, ela emerge da construção cultural e afetiva permanente, que se faz na convivência e na responsabilidade. No estágio em que nos encontramos, há de se distinguir o direito de personalidade ao conhecimento da origem genética, com esta dimensão, e o direito à filiação e à paternidade/maternidade, nem sempre genético. O afeto não é fruto da biologia. Os laços de afeto e de solidariedade derivam da convivência e não do sangue. 48

45 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado

Federal: Centro Gráfico, 1988.

46 MADALENO, Rolf. Direito de família, 7ª ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: forense, 2017. p. 166. 47 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, direito de família.

Volume VI. São Paulo-SP. Editora Saraiva. 2014, p. 78.

Referências

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