• Nenhum resultado encontrado

Rigoroso Horizonte : estudo sociológico sobre a gênese do estilo antilírico de João Cabral de Melo Neto

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Rigoroso Horizonte : estudo sociológico sobre a gênese do estilo antilírico de João Cabral de Melo Neto"

Copied!
205
0
0

Texto

(1)1. José Afonso Chaves. “Rigoroso Horizonte”: Estudo sociológico sobre a gênese do estilo antilírico de João Cabral de Melo Neto. Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Sociologia.. Orientadora: Profª. Drª. Eliane Veras Soares Co-Orientador: Prof. Dr. Paulo Marcondes Soares. Recife, Fevereiro de 2010.

(2) 2. Chaves, José Afonso “Rigoroso Horizonte” : estudo sociológico sobre a gênese do estilo antilírico de João Cabral de Melo Neto / José Afonso Chaves. – Recife: O Autor, 2010. 204 folhas : il., fig. Tese (doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. CFCH. Sociologia, 2010. Inclui bibliografia. 1. Sociologia. 2. Cultura. 3. Poesia – Aspectos sociais. 4. Estilo literário. 5. Melo Neto, João Cabral de, 1920-1999. I. Título. 316 301. CDU (2. ed.) CDD (22. ed.). UFPE BCFCH2010/14.

(3) 3.

(4) 4. Aos meus pais, com a gratidão de sempre, porém, nunca suficiente. À Adriana e Clarinha, as alegrias e desafios da vida..

(5) 5. AGRADECIMENTOS. Minha família muito contribuiu durante todo esse tempo de realização do doutorado. Sempre estimulando, perguntando e provendo nas dificuldades existenciais, afetivas e financeiras. Será que um dia terei como recompensá-los? Se não, saberei que serei amado do mesmo jeito. Aos Professores do PPGS com os quais tive a oportunidade de muito aprender nas disciplinas que ministraram, de maneira muito especial a Professora Silke Weber pela curiosidade científica com os trabalhos dos mestrandos e doutorandos e pelo compromisso com a universidade pública brasileira. Aos meus colegas de turma no doutorado que sempre me animaram a continuar nos momentos bem difíceis desse percurso; de modo especial Rui Mesquita e Davi Batista. Aos funcionários do Programa de Pós-Graduação em Sociologia, meu agradecimento pela atenção ao longo desses anos. Às instituições nas quais trabalho que, em diversos momentos, foram compreensivas quando de minha ausência às atividades acadêmicas. À Fundação Casa de Rui Barbosa, na pessoa de seu Presidente, o poeta José Almino, que me acolheu durante o mês de janeiro de 2008 para consulta ao acervo de João Cabral. Um agradecimento particular à funcionária Paula Silva que me acompanhou na busca de informações. A Vagner França que “quebrou muitos galhos” nesse último ano. Aos membros da Banca Examinadora – Professoras Dra. Maria Elisa Cevasco e Dra. Valéria Torres e o Professor Dr. Luciano Oliveira - que gentilmente aceitaram contribuir para a avaliação e melhoria deste trabalho. A professora Maria Elisa mostrou-se entusiasmada e disponível.

(6) 6. quando tomou conhecimento da pesquisa em seus inícios. Pena que eu não levei o diálogo em frente. Ao Professor Paulo Marcondes pela co-orientação produtiva e instigante e pelas discussões da disciplina Sociologia da Arte. À Professora Eliane Veras que me acolheu acadêmica e afetivamente, sempre, mesmo quando redirecionei meu objeto de pesquisa. Durante esse tempo aprendi bastante com sua riqueza intelectual, orientação segura mas, sobretudo, com sua figura humana que me fez ver de modo incisivo que a vida está acima de nossas atribuições. Ela e o Professor Paulo Marcondes não respondem pelos limites desse trabalho. À Adriana e Mariah Clara que participaram ativamente de tudo o que constituiu minha vida nesse período..

(7) 7. Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. João Cabral de Melo Neto. Quando as obras estavam sendo feitas, seus criadores muitas vezes pareciam, tanto para si mesmos quanto para os outros, estar sozinhos, isolados, e serem ininteligíveis. E no entanto, muitas vezes, quando essa estrutura de sentimento tiver sido absorvida, são as conexões, as correspondências, e até mesmo as semelhanças de época, que mais saltam à vista. Raymond Williams.

(8) 8. Resumo. O poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto é reconhecido como o construtor de uma poesia que se caracteriza pela negação do eu lírico, por primar pela elaboração racional de seus versos e por estabelecer uma adequada relação entre o rigor formal e pressupostos políticoideológicos. Esses atributos podem ser resumidos naquilo que a crítica denominou de antilira cabralina. O presente estudo tem por finalidade problematizar a origem social desse estilo poético. A questão que move a pesquisa é justamente a afirmação de que o estilo antilírico de Cabral parece ser uma criação isolada do poeta, não estando ele, portanto, inserido no contexto sócio-estético pelo qual passavam as manifestações artísticas brasileiras em geral e a literatura em particular, nos decênios de 1940-1950. Tanto a crítica literária, quanto o próprio poeta, a despeito de negarem qualquer forma de inspiração e sentimentalismo em sua obra, terminam por erigir a imagem de um criador amplamente distanciado do modo como se fazia poesia na época de formação do poeta. Na tentativa de oferecer um quadro histórico e social que fundamenta o projeto poético de João Cabral, esse trabalho busca no conceito de estrutura de sentimento de Raymond Williams o instrumento analítico necessário e capaz de estabelecer tal relação, qual seja, a estreita ligação entre a poética antilírica de João Cabral e uma estrutura de sentimento vigente no período estudado. Nesse sentido, o estudo defende que a origem do estilo antilírico de João Cabral se encontra, em boa medida, em uma estrutura de sentimento racional-coletivista disponível no momento de seu aprendizado de poeta. Palavras-chave: João Cabral; Estilo; Antilira; Estrutura de Sentimento..

(9) 9. Abstract. The Pernambucan poet João Cabral de Melo Neto is known as the writer of poetry characterized by the denial of the lyrical I, to support the rational elaboration of his verse and to establish an adequate relation between formal rigor and political and ideological assumptions.. These. attributes can be summarized in what the critic calls `antilira cabralina´ (Cabralian Anti-lyrical). The present study intends to difficult the social origin of this poetic style. The questions that moves this research is justly the affirmation that this anti-lyrical style of Cabral seems to be an isolated creation of the poet, not being it, therefore, inserting in the social aesthetic context to which passed the Brazilian artistic demonstrations in specific and general literature, during the 1940´s. Both literary criticism as the poet himself, despite denying any form of inspiration or sentimentalism in his work, end by creating an image of the creator amply distant from the way of writing poetry of the time of the growth of the poet. In trying to offer a social and historic framework which founds João Cabral´s poetry, this paper tries to find the concept based on the Raymond Williams Structure of Feeling, the analytic instrument necessary and capable to establish this relation, namely, the direct connection between the anti-lyrical poet João Cabral and the structure of the feeling prevailing in the period studied. In this sense, the study defends the origin of the anti-lyrical style of João Cabral is, largely, in the structure of the rational-collectivist feeling at the time of his development as a poet. Keywords: João Cabral; Style; Anti-lyrical; Structure of feeling.

(10) 10. Résumé. Le poète de Pernambuco João Cabral de Melo Neto est reconnu comme le constructeur d'une poésie qui se caractérise par le refus du lyrique j'excelle dans le développement rationnel de ses versets et établissant un lien approprié entre la rigueur formelle et d'hypothèses politiques et idéologiques. Ces attributs peuvent être résumées dans ce que les critiques appelé cabralian antilyrique. Cette étude vise à discuter de l'origine sociale de style poétique. La question qui anime la recherche est précisément l'affirmation selon laquelle le style antilyrique de Cabral semble être un endroit isolé du poète, non pas quand il a été inséré dans le développement socio-esthétique par lequel passaient les manifestations artistiques brésilienne en général et la littérature en particulier dans les décennies de 1940-1950. Les deux critiques littéraires, comme le poète lui-même, en dépit de nier toute forme d'inspiration et de la sentimentalité dans son travail, finissent par ériger l'image d'un créateur largement distancé façon dont la poésie a été faite au moment de la formation du poète. Dans une tentative d'offrir un contexte historique et social qui sous-tend le projet poétique de João Cabral, ce travail sur la notion du structure de sentiment de Raymond Williams l'outil d'analyse et devraient être en mesure d'établir une telle relation, à savoir le lien étroit entre la poétique antilyrique de João Cabral et une structure de sentiment qui prévaut dans la période étudiée. En ce sens, l'étude soutient que l'origine du style antilyrique de João Cabral est dans une large mesure, sur une structure rationnelle du sentiment collectiviste disponibles au moment de son apprentissage en tant que poète.. Mots-clé:. João. Cabral;. Style;. Antilyrique,. la. structure. de. sentiment..

(11) 11. Lista de Ilustração. Triangulação de sentido......................................................................................................163.

(12) 12. SUMÁRIO Introdução............................................................................................................................12 Capítulo I – O estilo antilírico de João Cabral de Melo Neto........................................17 1. A marca do poeta...................................................................................................17 2. Traços biográficos de João Cabral........................................................................19 3. O modernismo antilírico de João Cabral ..............................................................26 3. 1 Surrealismo construtivista...........................................................................28 3. 2 Poemas da negatividade...............................................................................33 3. 3 Os poemas do rio.........................................................................................39 3. 4 Os poemas de faca.......................................................................................50 3. 5 Os poemas da linguagem madura................................................................53 3. 6 Os poemas da pedra....................................................................................58 Capítulo II – A construção da singularidade poética de João Cabral...........................62 1. A “voz” da crítica......................................................................................................62 2. A “voz” do poeta.......................................................................................................80 3. O problema da racionalidade genial..........................................................................82 Capítulo III – A abordagem da cultura nas Ciências Sociais.........................................85 1. Os Clássicos da Sociologia e a cultura................................................................87 1.1 Karl Marx e o materialismo histórico.................................................................87 1.2 O problema da Cultura em Émile Durkheim......................................................90 1.3 Max Weber e a cultura........................................................................................95 1.4 Síntese dos Clássicos.........................................................................................102 2. Teoria Social e cultura na contemporaneidade.................................................103 2.1 Fenomenologia e correntes micro-sociológicas...............................................103 2.2 A sociedade como totalidade: funcionalismo, estruturalismo e pósstruturalismo.....................................................................................................106 2.3 Pierre Bourdieu e a noção de habitus...............................................................110 2.4 Considerações...................................................................................................111.

(13) 13. Capítulo IV – Estrutura de Sentimento e mudança estilística.....................................114 1. Estilo e abordagem estética....................................................................................114 2. Estilo e crítica literária............................................................................................118 3. Estilo e sociologia...................................................................................................122 3.1 A perspectiva internalista.................................................................................126 3.2 A perspectiva externalista.................................................................................127 3.3 A perspectiva sintética......................................................................................132 4. Mikhail Bakhtin e o dialogismo da obra literária....................................................133 5. Pierre Bourdieu e o conceito de campo literário.....................................................137 6. Raymond Williams: Materialismo Cultural e inovação dos estilos........................142 1. O conceito de Estrutura de sentimento.............................................................153 2. O conceito de Formações Culturais..................................................................159 7. Triangulação de sentido..........................................................................................160 Capítulo V – As razões sociais do estilo antilírico de João Cabral...............................165 1. O apelo formal: o campo literário e a busca rigorosa da forma..............................166 2. O apelo racional: a introdução do padrão de conhecimento científico no Brasil....173 3. O apelo coletivista: a política cultural do PCB e a ideologia do Planejamento......181 Conclusão...........................................................................................................................195 Referências bibliográficas................................................................................................198.

(14) 14. INTRODUÇÃO. A obra poética de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), desde seu a p a r e c i me n t o n o a n o d e 1 9 4 2 , f o i v i s t a c o mo o r es u l t a d o d e u m l a b o r i o s o e c o n s t a n t e e x e r c í c i o d e r i g o r f o r ma l . A f o r t u n a c r í t i c a d o p o e t a , c o mo s e r á v i s t o n e s t e t r a b a l h o , t e m e n f a t i z a d o o s e u mo d o r a c i o n a l e o bj e t i v o d e c o n s t r u ç ã o d a s u a o b r a p o é t i c a , e x i s t i n d o me s m o , c o mo a f i r m a m a l g u n s a u t o r e s , u m n í t i d o d i s t a n c i a m e n t o d o f a z e r p o é t i c o d o s p r i me i r o s p o e t a s mo d e r n i s t a s , s o b r e t u d o , d e M a n u e l B a n d e i r a ( 1 8 8 6 - 1 9 6 8 ) ( C O S T A L I M A , 1995). Esse estilo antilírico de João Cabral já recebeu, desde a crítica l i t e r á r i a , u m t r a t a m e n t o e x t e n s o e s a t i s f a t ó r i o . A e s s e r e s p e i t o b as t a n o t a r a d e t a l h a d a b i b l i o g r a f i a c r í t i c a , o r g a n i z a d a p o r Z i l a M a me d e ( 1 9 8 7 ) e t a mb é m no. Caderno. de Literatura. B r as i l e i r a. dedicado. a João. Cabral. (1996).. Contudo, no que respeita às condições sociais que se fizeram presentes na origem desse estilo. poético,. p r a t i c a me n t e. não. s e e mp r e e n d e u. nenhum. e s f o r ç o , c o mo mo s t r a m a s b i b l i o g r a f i a s s u p r a c i t a d a s . S u r g e u m t e r r e n o a mp l o q u e n e c e s s i t a d o o l h a r d a s o c i o l o g i a p a r a u ma a b o r d a g e m ma i s c o mp l e x a d a o b r a d e J o ã o C a b r a l . U ma i mp o r t a n t e c o n t r i b u i ç ã o p a r a e s s a i ma g e m d e a u r a à s a v e s s a s q u e cerca a obra de João Cabral foi encetada pelo próprio poeta que, em diversas o c a s i õ e s , a o l o n g o d e s u a t r a j e t ó r i a f e z s e mp r e q u es t ã o d e e n f a t i z a r q u e e m seu ofício nunca se valera da inspiração: “inspiração não tenho nunca. Aliás, c o mo d i z A u d e n , a p o e s i a p r o c u r a a g e n t e a t é o s 2 5 a n o s . D e p o i s , é a g e n t e que tem que procurá-la, inspirá-la. Confesso que desde o início construí mi n h a p o e s i a . R e n d i me n t o é u m a q u es t ã o d e t r a b a l h o e mé t o d o . D e s e n t a r t o d o s o s d i a s à m e s m a h o r a ” (M E L O N E T O a p u d A T H A Y D E , 1 9 9 8 , p . 4 8 ) . A inspiração é um aspecto que, ainda segundo Cabral, não parece existir, o c o r r e n d o t ã o s o me n t e o t r a b a l h o p a c i e n t e e o b j e t i v o d a q u e l e q u e s e p r o p õ e a.

(15) 15. e s c r e v e r p o e s i a . O p r o b l e ma q u e d e r i v a d e s s a a u t o - i n s i s t ê n c i a , b e m c o mo d o c o n j u n t o d a c r í t i c a é d e , a i n d a , c o mp r e e n d e r a f e i t u r a d a o b r a p o é t i c a c o mo s e e s t a e s t i v e s s e p a r a a l é m d a s o c i e d a d e q u e a c i r c u n d a e d a s i nj u n ç õ e s d o c a mp o l i t e r á r i o e m q u e é e l a b o r a d a . C o m i s s o , n ã o e s t a mo s a d v o g a n d o a i d é i a d e q u e n ã o e x i s t a e m C a b r a l u ma s u bj e t i v i d a d e d o t a d a d e g r a n d e s e n s i b i l i d a d e a r t í s t i c a , ma s , e s t a mo s c h a ma n d o a a t e n ç ã o p a r a , p o r u m l a d o , a n e g a ç ã o d e u ma i n t e r f e r ê n c i a d o c o n t e x t o s o c i a l e , p o r o u t r o , a n e c e s s i d a d e d e p e r c e b e r q u e h á u ma d e t e r mi n a ç ã o s o c i a l n a c o n f o r ma ç ã o d e u m es t i l o p o é t i c o . E v i d e n t e me n t e , e m C a b r a l , a l í r i c a é c o n c e b i d a c o mo e l a b o r a ç ã o d e u m artefato de linguagem. Para ele, a criação poética, longe de ser o resultado d a i n s p i r a ç ã o o u d o t r a n s e ( a e x e mp l o d o q u e r o mâ n t i c o s , s i mb o l i s t a s e s u r r e a l i s t a s p e n s a v a m) , é e n t e n d i d a c o mo u ma l e n t a e s o f r i d a p e s q u i s a d e e x p r e s s ã o . P o r i s s o , e l e d es p r e z a a i n t u i ç ã o , o mi s t é r i o e a s r e v e l a ç õ e s i n c o n s c i e n t e s c o mo mó v e i s d o f a z e r l i t e r á r i o , o f e r e c e n d o e m t r o c a u ma p o é t i c a e m q u e t u d o é me d i d o , c a l c u l a d o , t r a b a l h a d o , e m u m me t i c u l o s o p r o c e s s o d e c o n s t r u ç ã o (N U N E S , 1 9 7 1 , p . 2 8 ) . O p o e t a b u s c a a p a l a v r a o b j e t i v a , a p a l a v r a e x a t a , c o mo q u e m p r o c u r a s s e u ma f ó r mu l a ma t e m á t i c a p a r a r e p r e s e n t a r o mu n d o . O r e s u l t a d o d e s e u e s f o r ç o é u ma l í r i c a c e r e b r a l q u e , e m u ma p r i m e i r a v i s a d a , r o mp e c o m a p o e s i a f e i t a n os i d o s d e 1 9 4 0 , e x c e s s i v a me n t e p a l a v r o s a , p r i s i o n e i r a d a mu s i c a l i d a d e f á c i l e d o e x a g e r o me t a f ó r i c o , c o mo t a mb é m, a o me s mo t e mp o , d á p r os s e g u i m e n t o a o c â n o n e mo d e r n o , o r e - c o n f i g u r a e m mo d o n e g a t i v o , a n t i l í r i c o . P a r a d o x a l me n t e , u ma p o é t i c a q u e é t o d a p e r p a s s a d a p o r p a i s a g e n s , c o i s a s , c o n c r e t u d e , c o mo a c r í t i c a s e e n c a r r e g o u d e d e mo n s t r a r , a i n d a n ã o t e v e o s e u p r o c e s s o d e c r i a ç ã o a n a l i s a d o s a t i s f a t o r i a me n t e e m p a r a l e l o c o m o curso social e histórico de que fez parte. Esse hiato entre obra e processo s o c i a l t r a b a l h a p a r a o r e f o r ç o d a c o mp r e e n s ã o d e s i n g u l a r i d a d e e x c e p c i o n a l.

(16) 16. contida na trajetória de escritores e poetas e não ajuda ao razoável e n t e n d i me n t o d a s r a z õ e s e s t i l í s t i c a s p r e s e n t e s n o s ma i s d i v e r s o s p e r c u r s o s l i t e r á r i o s q u e p o d e mo s e n c o n t r a r . U ma. abordagem. sociológica. d es t a. d i n â mi c a. literária. deverá. se. p e r g u n t a r p e l a s c o n d i ç õ e s s o c i a i s q u e e f e t i v a r a m t a i s mu d a n ç a s e s t é t i c a s d e n t r o d o i t i n e r á r i o d o mo d e r n i s mo p o é t i c o b r a s i l e i r o . O q u e t o r n o u p o s s í v e l a a n t i l i r a d e J o ã o C a b r a l d e M e l o N e t o n o h o r i z o n t e d a p o e s i a mo d e r n i s t a n o B r a s i l ? E s s a q u e s t ã o n os r e m e t e a u ma o u t r a ma i s a mp l a e q u e d e a l g u ma ma n e i r a a s us t e n t a , q u a l s ej a , o q u e c o n t r i b u i d e c i s i v a me n t e p a r a o a b a n d o n o d e c e r t o s p a d r õ e s f o r ma i s e a c o n s a g r a ç ã o d e n o v o s p a d r õ e s f o r ma i s ? P o r q u a i s r a z õ e s s e e s t a b e l e c e m a s mu d a n ç a s e s t é t i c a s ? D i v e r s o s e n f o q u e s e s t ã o i mp l i c a d o s n a t e n t a t i v a d e r e s p o n d e r a e s s a q u e s t ã o . E v i d e n t e me n t e , q u a n d o s e e s t á p r o c e d e n d o à a n á l i s e c o n c r e t a d e u ma mu d a n ç a f o r ma l t e r á d e s e p r o c u r a r p e l o e l e me n t o o u o c o n j u n t o d e e l e me n t o s r e s p o ns á v e l p o r a q u e l a t r a n s f o r m a ç ã o a r t í s t i c a e s p e c í f i c a . A s s i m, t o r n a - s e p r o b l e má t i c a a e s c o l h a a n t e c i p a d a d e u m a s p e c t o q u e s e mp r e i mp l i c a r á n a mu d a n ç a . T a l v e z s e j a ma i s p r o d u t i v o e n t e n d e r o p r o c e s s o d e mu d a n ç a f o r ma l c o mo d e s e n c a d e a m e n t o d e u ma a r t i c u l a ç ã o e n t r e d i v e r s o s f a t o r e s . C o m i s s o , s e i n t e n t a a f a s t a r - s e d e p r o p o s t a s t e ó r i c o - me t o d o l ó g i c a s q u e s ã o p o r d e ma i s d e t e r mi n i s t a s n a e x p l i c a ç ã o d os f e n ô me n o s i mp l i c a d o s n e s s a s mu d a n ç a s . U m c o n c e i t o c o mo o d e e s t r u t u r a d e s e n t i me n t o , p r o p o s t o p o r R a ymo n d W i l l i a ms , a i n d a p o u c o e x p e r i m e n t a d o n a p r á t i c a a n a l í t i c a d a s o c i o l o g i a d a l i t e r a t u r a e n t r e n ós , p a r e c e e n v e r e d a r p o r e s s e h o r i z o n t e d a não-identificação imediata entre contexto e obra de arte, cabendo ao analista, i n c l u s i v e , a d mi t i r a s l a c u n a s e x i s t e n t e s n a r e l a ç ã o e n t r e a mb o s . N ã o s e t r a t a d e n e g a r t a l r e l a ç ã o . P e l o c o n t r á r i o , s e q u e r e n f a t i z a r q u e a c o mp l e x i d a d e d a r e l a ç ã o e n t r e e s t é t i c a e c o n t e x t o h i s t ó r i c o r e q u e r , n e c e s s a r i a me n t e , u ma a b o r d a g e m q u e t a mb é m s e j a c o mp l e x a , n o s e n t i d o d e me l h o r t e ma t i z á - l a ..

(17) 17. Ao procedermos a um processo de busca daquilo que, enquanto d i s p o s i ç õ e s s o c i a i s , c o n c o r r e p a r a a c o n s t i t u i ç ã o d o e s t i l o a t i l í r i c o d a p o es i a d e J o ã o C a b r a l , e s t a mo s i n s e r i n d o n o s s a p e s q u i s a n o s e g u i n t e p r o b l e m a s o c i o l ó g i c o : q u a i s o s d e t e r mi n a n t e s s o c i a i s d a mu d a n ç a a r t í s t i c a ? C o m e s s e i n t u i t o , e s s e t r a b a l h o , c o mo i n d i c a d o a c i ma , s e a mp a r a t e o r i c a m e n t e n o c o n c e i t o d e e s t r u t u r a d e s e n t i m e n t o d o p e ns a d o r i n g l ê s R a ymo n d W i l l i a m s e t a mb é m f a r á u s o d o s c o n c e i t o s d e d i a l o g i s m o p r o p o s t o p o r M i k h a i l B a k h t i n e d e c a mp o l i t e r á r i o c o n c e b i d o p o r P i e r r e B o u r d i e u . Esse. trabalho. visa,. portanto,. a. p r o b l e ma t i z a ç ã o. do. processo. de. estabelecimento do estilo antilírico de João Cabral, relacionando-o com as d i s p o s i ç õ e s s o c i a i s e h i s t ó r i c a s p r ó p r i a s a o t e mp o d e s e u a p a r e c i me n t o . E s t a mo s c h a ma n d o d e d i s p os i ç õ e s s o c i a i s e h i s t ó r i c a s o c o n t e x t o a t r a v e s s a d o pela sociedade brasileira no período que vai de 1938 a 1950. A hipótese de t r a b a l h o é a d e q u e n o s a n o s 1 9 4 0 e 1 9 5 0 ( p e r í o d o d a f o r ma ç ã o p o é t i c a d e C a b r a l ) c o n f i g u r o u - s e u ma e s t r u t u r a d e s e n t i me n t o r a c i o n a l - c o l e t i v i s t a n a s o c i e d a d e b r a s i l e i r a , t e n d o s i d o e l a d e t e r mi n a n t e p a r a o s u r g i me n t o d a antilira de João Cabral. A t e s e e s t á d i v i d i d a e m c i n c o c a p í t u l o s . N o p r i me i r o é a p r e s e n t a d a u ma b r e v e t r a j e t ó r i a b i o g r á f i c a d o p o e t a e t a mb é m é c o n s t r u í d o u m p a n o r a m a d e sua obra que vai de Pedra do Sono (1942) até o livro A Educação pela Pedra (1966), procurando expor o que é o estilo antilírico de João Cabral. No s e g u n d o c a p í t u l o r e a l i z a m o s u m b a l a n ç o d a c r í t i c a p o é t i c a ma i s d e t e r mi n a n t e p a r a a c o mp r e e n s ã o d e C a b r a l e e x p o mo s o s p r o b l e ma s d e c o r r e n t e s d a l e i t u r a e mp r e e n d i d a p e l a c r í t i c a , q u a l s e j a , a c o n s t r u ç ã o d o p r e s s u p o s t o d e q u e o e s t i l o d e J o ã o C a b r a l e s t á i s o l a d o n o i n t e r i o r d o mo d e r n i s m o p o é t i c o . O t e r c e i r o c a p í t u l o c o n t é m u ma e x p o s i ç ã o d o mo d o c o mo a t e o r i a s o c i a l , d e s d e os. clássicos. até. h oj e ,. tem. se. a p r o x i ma d o. dos. f e n ô me n o s. culturais;. f u n d a m e n t a n d o e s s e t r a b a l h o n o â mb i t o d a s o c i o l o g i a d a c u l t u r a . N o q u a r t o c a p í t u l o h á u ma r e v i s ã o d a l i t e r a t u r a a c e r c a d a mu d a n ç a es t i l í s t i c a n a sociologia e se apresenta o referencial teórico do estudo: o conceito de.

(18) 18. e s t r u t u r a d e s e n t i me n t o . N o q u i n t o e ú l t i mo c a p í t u l o é c o n s t r u í d a a e s t r u t u r a d e s e n t i me n t o r a c i o n a l - c o l e t i v i s t a e s u a r e l a ç ã o c o m o e s t i l o d e J o ã o C a b r a l . O d e s e n v o l v i m e n t o d e s s a p es q u i s a q u e r c o l a b o r a r , n o q u e r e s p e i t a a o u n i v e r s o d a s c i ê n c i a s s o c i a i s , e m t r ê s d i r e ç õ e s . E m p r i me i r o l u g a r , c o n t r i b u i r p a r a o d e s d o b r a me n t o a n a l í t i c o e me t o d o l ó g i c o d a s o c i o l o g i a d a l i t e r a t u r a , c a mp o q u e a i n d a c a r e c e d e a mp l o d e s e n v o l v i m e n t o e n t r e n ó s . E m s e g u n d o lugar, enriquecer a recepção crítica da obra de João Cabral de Melo Neto p e l o â n g u l o d a r e l a ç ã o q u e h á e n t r e s e u e s t i l o a n t i l í r i c o e u ma e s t r u t u r a d e s e n t i me n t o r a c i o n a l - c o l e t i v i s t a . E m t e r c e i r o l u g a r , c o n f r o n t a r a s p e r s p e c t i v a s a n a l í t i c a s d e R a ym o n d W i l l i a ms e u m f e n ô me n o e mp í r i c o d o c a mp o l i t e r á r i o b r a s i l e i r o e d e mo n s t r a r q u a i s g a n h o s a n a l í t i c o s d e r i v a m d e s u a c o n t r i b u i ç ã o ..

(19) 19. Capítulo I – O estilo antilírico de João Cabral de Melo Neto. Neste. capítulo. t e mo s. por. finalidade. apresentar. a. particularidade. estilística da poesia de João Cabral de Melo Neto através da análise de sua poesia publicada em livro desde Pedra do Sono, livro de estréia do poeta, até A e d u c a ç ã o p e l a p e d r a , o b r a d e ma t u r i d a d e a r t í s t i c a e q u e e n c e r r a o c i c l o q u e d e ma r c a J o ã o C a b r a l c o mo r e a l i z a d o r d e u m e s t i l o a n t i l í r i c o n o mo d e r n i s m o p o é t i c o b r a s i l e i r o . O c a p í t u l o i n i c i a c o m u ma s u c i n t a b i o g r a f i a do poeta. A m a rc a d o p o e t a No dia 13 de junho do ano de 1942 o crítico literário Antonio Candido, em sua coluna de crítica literária do Jornal Folha da Manhã escrevia as s e g u i n t e s p a l a v r a s a o s a u d a r o l a n ç a me n t o d o l i v r o P e d r a d o s o n o , d e a u t o r i a d e u m n o v o p o e t a p e r n a mb u c a n o , J o ã o C a b r a l d e M e l o N e t o : A tendência vamos dizer construtivista do Sr. Cabral de Melo se mostra na sua incapacidade quase completa de fazer poemas em que não haja um número maior ou menor de imagens materiais... O seu cubismo de construção é sobrevoado por um senso surrealista da poesia. Nessas duas influências – a do cubismo e a do surrealismo – é que julgo encontrar as fontes da sua poesia. Que tem isso justamente de interessante: engloba em si duas correntes diversas e as funde numa solução bastante pessoal (CANDIDO, 1999, pp. 9-11).. E mb o r a a p o n t a s s e p a r a o c o mp o n e n t e s u r r e a l i s t a p r e s e n t e n o l i v r o , o c r í t i c o p a u l i s t a d e t e c t a v a o c o n s t r u t i v i s m o t í mi d o , m a s j á p r e s e n t e , n a p o e s i a de João Cabral. Esse traço será a característica preponderante do trabalho p o é t i c o d e C a b r a l . D e s t a o b r a a t é S e v i l h a A n d a n d o ( 1 9 8 9 ) , s e u ú l t i mo t r a b a l h o ; d e s s a e s t r é i a a t é s u a mo r t e o p o e t a s e r á a c o mp a n h a d o p e l a i d é i a d e c o n s t r u t i v i s mo e p os t e r i o r me n t e t a mb é m p o r u m c o n s t a n t e r a c i o n a l i s mo e.

(20) 20. o b j e t i v i s mo . V ej a mo s , p e l a o c a s i ã o d e s u a mo r t e , u m e x e mp l o d o q u e s e noticiou: Inimigo declarado dos derramamentos e melosidades, ele fez versos secos, severamente controlados em seus efeitos. É uma poesia antilírica, no sentido de que nela a emoção é pensada, as imagens construídas e tudo que é supérfluo ou enfeitado de plumas, rejeitado (GRAIEB, 1999, p. 63).. A c a r a c t e r i z a ç ã o d e C a b r a l c o mo p e r t e n c e n t e a u m mo d o c r í t i c o , construtivo e racional de fazer poesia corresponde ao que efetivamente se e n c o n t r a e m s u a o b r a , c o mo t ã o b e m j á d e mo n s t r o u a c r í t i c a l i t e r á r i a e s p e c i a l i z a d a e , c o mo v e r e mo s , o p r ó p r i o p o e t a s e e s f o r ç o u e m a s s i m s e parecer. Em princípio, toda essa aposta na ausência de um eu poético e lírico e d a a mp l a d e mo n s t r a ç ã o d e q u e a s a d e q u a d a s r e s o l u ç õ e s f o r ma i s a q u e c h e g o u o p o e t a n ã o s ã o f r u t o d e i n s p i r a ç ã o s u bj e t i v i s t a m a s t ã o s o me n t e c o n c l u s ã o d e u m t r a b a l h o p e r ma n e n t e e r i g o r o s o e m b u s c a d o v e r s o “ p e r f e i t o ” , p a r e c e r i a c o r r o b o r a r c o m u m c e r t o d e s ma n c h e d o mi t o g e n i a l q u e c o mu m e n t e e n t o r n a o h o r i z o n t e d a p o es i a e s e a l i n h a r i a ma i s p r ó x i mo d e u ma v i s a d a s ó c i o - h i s t ó r i c a d a l í r i c a . T o d a v i a , o mo d o c o mo s e e x p r i me c r í t i c a e p o e t a a c e r c a d es s e s e u e s t i l o n ã o p a r e c e i n d i c a r p r o p r i a me n t e a p o e s i a c o mo u m artefato social decorrente de diversas relações envolvendo autor e obra, pois n a s d u a s v o z e s c i t a d a s r e s u l t a u ma s i n g u l a r i d a d e p o é t i c a d i s t a n t e d e t u d o o ma i s q u e s e p r a t i c a v a e m t e r mo s d e l i t e r a t u r a n o B r a s i l p o r v o l t a d o s a n o s 1940. e. 1950.. A. construção. dessa. singularidade,. que. requer. portanto. i n v e s t i g a ç ã o s o c i o l ó g i c a , h a j a v i s t a q u e a p o e s i a , c o mo a l i t e r a t u r a e m g e r a l , é u m a r t e f a t o s o c i a l , s e r á a p r e s e n t a d a ma i s à f r e n t e . P o r o r a , a p r e s e n t a r e mo s um percurso biográfico de João Cabral e, principalmente, o que caracteriza seu estilo poético..

(21) 21. T r a ç o s b i o g r á f i c o s d e J o ã o C ab r a l d e M e l o N e t o E s s e p e r c u r s o p r o c u r a , t ã o s o me n t e , i n d i c a r p o r o n d e p a s s o u o p o e t a e o q u e f e z d e ma i s s i g n i f i c a t i v o a o l o n g o d e s u a v i d a . É u ma a p r e s e n t a ç ã o t e l e g r á f i c a d e s u a t r a j e t ó r i a . C o m i s s o , e s t a mo s a f i r ma n d o q u e o t r a b a l h o q u e o r a s e i n i c i a n ã o t o mo u c o mo r e g i s t r o a n a l í t i c o a p e r s o n a l i d a d e d o p o e t a c o mo f u n d a me n t o d e s u a o b r a . M a s t a mb é m n ã o s e t r a t a d e n e g l i g e n c i a r o u d e n ã o v a l i d a r t a l p r o c e d i m e n t o c o mo b a s e h e u r í s t i c a p a r a c o mp r e e n d e r a s o p ç õ e s f o r ma i s d e u m a r t i s t a . E n t r e os e s t u d i o s o s d a o b r a d e C a b r a l , p o d e mo s n o t a r t r ê s ma n e i r a s d e e n t e n d e r a r e l a ç ã o d e s u a v i d a c o m s u a p o e s i a . U ma p r i me i r a , a f i r m a q u e h á u ma s e p a r a ç ã o a b i s s a l e n t r e a p o e s i a d e C a b r a l e s u a v i d a , n ã o c a b e n d o à s e g u n d a n e n h u m a i n t e r f e r ê n c i a n a p r i me i r a ( e x e mp l o d e s s a v e r t e n t e p o d e s e r c o n f e r i d o n o t r a b a l h o d o c r í t i c o F á b i o L u c a s , O p o e t a e a m í d i a : C a r l o s D r u mm o n d d e A n d r a d e e J o ã o C a b r a l d e M e l o N e t o ) ; u ma s e g u n d a , d i z q u e h á u m a a r ma ç ã o d a c r í t i c a a c a d ê mi c a e m e x a g e r a r o h e r m e t i s mo e a f r i e z a c e r e b r a l d o p o e t a e q u e , e m v e r d a d e é possível ler “subjetividade” na obra de João Cabral, pois diferente do que se d i z e l e e r a u m “ h o me m c o m a l ma ” ( e x e mp l o d e s s a l e i t u r a p o d e s e r c o n f e r i d o n o r e c e n t e R e t r a t o f a l a d o d o p o e t a , d e S e l ma V a s c o n c e l o s ) . A e s s e r e s p e i t o , p a r e c e me s m o o c o r r e r u m c r e s c e n t e mo v i m e n t o n a i n t e r p r e t a ç ã o d o p o e t a , n o sentido. de. torná-lo. ma i s. espiritual. e. subjetivo.. Em. 2007,. a. Editora. A l f a g u a r a , q u e e s t á r e l a n ç a n d o t o d a a o b r a d o p o e t a , r e u n i u os t r a b a l h o s d i t o s ma i s í n t i mo s e p e s s o a i s e m u m v o l u m e c u r i o s a m e n t e i n t i t u l a d o O a r t i s t a i n c o n f e s s á v e l , ma s q u e b u s c a r e a l me n t e e n f a t i z a r u m C a b r a l me n o s r a c i o n a l e c o n f i d e n t e d e s e u e u . U ma t e r c e i r a v e r t e n t e , a i n d a , s u g e r e q u e o ma t e r i a l i s mo o bs e s s i v o d e C a b r a l s e j us t i f i c a c o mo u ma má s c a r a p a r a encobrir. sua. real. preocupação. com. p r o b l e ma s. de. ordem. espiritual. e. me t a f í s i c o , c o i s a s t a x a t i v a me n t e i g n o r a d a s p e l a f a l a d o p o e t a . O l i v r o J o ã o C a b r a l d e M e l o N e t o : o h o me m s e m a l ma , u m a b i o g r a f i a d e C a b r a l e s c r i t a pelo jornalista e escritor José Castello, é ilustrativo dessa vertente1. 1. A título de indicação: no âmbito das ciências sociais um estudo central no que respeita a interação personalidade e sociedade é o trabalho de Norbert Elias, que constrói uma sociologia de base freudiana, em sua exemplar monografia.

(22) 22. João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade do Recife, no estado de P e r n a mb u c o , n o d i a n o v e d e j a n e i r o d e 1 9 2 0 . F o i o s e g u n d o f i l h o d e L u i z A n t ô n i o C a b r a l d e M e l o e d e C a r me m C a r n e i r o - L e ã o C a b r a l d e M e l o . P e l o l a d o p a t e r n o , e r a p r i mo d e M a n u e l B a n d e i r a e , p e l o l a d o ma t e r n o , d e G i l b e r t o F r e yr e . P a s s a a i n f â n c i a e m e n g e n h o s d e a ç ú c a r . P r i me i r o n o E n g e n h o P o ç o d o A l e i x o , e m S ã o L o u r e n ç o d a M a t a , e d e p o i s n os e n g e n h o s P a c o v a l e D o i s I r mã o s , n o mu n i c í p i o d e M o r e n o 2 . E m 1 9 3 0 , c o m a mu d a n ç a d a f a m í l i a p a r a R e c i f e , i n i c i a o c u r s o p r i m á r i o n o C o l é g i o M a r i s t a . J o ã o C a b r a l e r a u m a ma n t e d o f u t e b o l , t e n d o s i d o c a mp e ã o j u v e n i l p e l o S a n t a C r u z F u t e b o l C l u b e e m 1 9 3 5 ( C A S T E L L O , 2 0 0 6 , p . 4 2 ) . F o i n a A s s o c i a ç ã o C o me r c i a l d e P e r n a mb u c o , e m 1 9 3 7 , q u e o b t e v e s e u p r i me i r o e mp r e g o , t e n d o d e p o i s t r a b a l h a d o n o D e p a r t a me n t o d e Estatística do Estado. Já com 18 anos, começa a freqüentar a roda literária d o C a f é L a f a ye t t e , q u e s e r e ú n e e m v o l t a d e W i l l y L e w i n e d o p i n t o r V i c e n t e do Rego Monteiro, que regressara de Paris por causa da guerra. E m 1 9 4 0 v i a j a c o m a f a mí l i a p a r a o R i o d e J a n e i r o , o n d e c o n h e c e M u r i l o M e n d es . E s s e o a p r e s e n t a a C a r l o s D r u mm o n d d e A n d r a d e e a o c í r c u l o d e i n t e l e c t u a i s q u e s e r e u n i a n o c o ns u l t ó r i o d e J o r g e d e L i m a . N o a n o seguinte, participa do Congresso de Poesia do Recife, ocasião em que a p r e s e n t a s u a s C o n s i d e r a ç õ e s s o b r e o p o e t a d o r mi n d o . O ano de 1942 marca a publicação de seu primeiro livro, Pedra do S o n o . E m n o v e mb r o v i a j a , p o r t e r r a , p a r a o R i o d e J a n e i r o . C o n v o c a d o p a r a s e r v i r à F o r ç a E x p e d i c i o n á r i a B r a s i l e i r a ( F E B ) , é d i s p e n s a d o p o r mo t i v o d e s a ú d e . M a s p e r ma n e c e n o R i o , s e n d o a p r o v a d o e m c o n c u r s o e n o me a d o sobre Mozart. Elias, N. Mozart, a sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Zahar, 1995. 2 A presente biografia de João Cabral está amplamente baseada no livro João Cabral de Melo Neto: o homem sem alma, de José Castello; em Retrato falado do poeta, de Selma Vasconcelos, em Obra Completa, João Cabral de Melo Neto e em Cadernos de literatura brasileira, volume de 1996 dedicado a Cabral..

(23) 23. A s s i s t e n t e d e S e l e ç ã o d o D A S P (D e p a r t a me n t o d e A d mi n i s t r a ç ã o d o S e r v i ç o Público).. Frequenta,. então,. os. intelectuais. que. se. reuniam. no. Café. A ma r e l i n h o e C a f é V e r me l h i n h o , n o C e n t r o d o R i o d e J a n e i r o . P u b l i c a “ O s t r ê s ma l - a ma d o s ” n a R e v i s t a d o B r a s i l ( M A M E D E , 1 9 8 7 , p . 4 ) . O engenheiro é publicado em 1945, em edição custeada por Augusto F r e d e r i c o S c h mi d t . F a z c o n c u r s o p a r a a c a r r e i r a d i p l o má t i c a , p a r a a q u a l é n o me a d o e m d e z e mb r o . C o me ç a a t r a b a l h a r e m 1 9 4 6 , n o D e p a r t a me n t o C u l t u r a l d o I t a ma r a t y, d e p o i s n o D e p a r t a m e n t o P o l í t i c o e , p os t e r i o r me n t e , n a c o m i s s ã o d e O r g a n i s mo s I n t e r n a c i o n a i s . E m f e v e r e i r o , c a s a - s e c o m S t e l l a M a r i a B a r b o s a d e O l i v e i r a , n o R i o d e J a n e i r o . E m d e z e mb r o , n a s c e s e u primeiro filho, Rodrigo. É r e mo v i d o , e m 1 9 4 7 , p a r a o C o ns u l a d o G e r a l e m B a r c e l o n a , c o mo v i c e - c ô n s u l . A d q u i r e u ma p e q u e n a t i p o g r a f i a a r t e s a n a l , c o m a q u a l p u b l i c a l i v r o s d e p o e t a s b r a s i l e i r o s e e s p a n h ó i s . N es s a p r e n s a ma n u a l i mp r i me P s i c o l o g i a d a c om p o s i ç ã o . N o s d o i s a n o s s e g u i n t e s n a s c e m ma i s d o i s f i l h o s : I n ê s e L u i z , r e s p e c t i v a me n t e . R e s i d i n d o n a C a t a l u n h a , e s c r e v e s e u e n s a i o sobre Joan Miró, cujo estúdio freqüenta. Miró faz publicar o ensaio com t e x t o e m p o r t u g u ê s , c o m s u a s p r i m e i r a s g r a v u r a s e m ma d e i r a . R e mo v i d o p a r a o C o n s u l a d o G e r a l e m L o n d r e s , e m 1 9 5 0 , p u b l i c a O c ã o sem plumas. Dois anos depois retorna ao Brasil para responder por inquérito onde é acusado de subversão. Escreve o livro O rio, em 1953, com o qual r e c e b e o P r ê mi o J os é d e A n c h i e t a d o I V C e n t e n á r i o d e S ã o P a u l o , e m 1 9 5 4 . É c o l o c a d o e m d i s p o n i b i l i d a d e p e l o I t a ma r a t y, s e m r e n d i me n t o s , e n q u a n t o r e s p o n d e a o i n q u é r i t o , p e r í o d o e m q u e t r a b a l h a c o mo s e c r e t á r i o d e r e d a ç ã o do Jornal A Vanguarda, dirigido por Joel Silveira. Arquivado o inquérito p o l i c i a l , a p e d i d o d o p r o mo t o r p ú b l i c o , v o l t a p a r a P e r n a mb u c o c o m a f a m í l i a . L á , é r e c e b i d o e m s es s ã o s o l e n e p e l a C â ma r a M u n i c i p a l d o R e c i f e ..

(24) 24. E m 1 9 5 4 é c o n v i d a d o a p a r t i c i p a r d o C o n g r es s o I n t e r n a c i o n a l d e E s c r i t o r e s , e m S ã o P a u l o . P a r t i c i p a t a mb é m d o C o n g r es s o B r a s i l e i r o d e P o e s i a , r e u n i d o n a me s ma é p o c a . A E d i t o r a O r f e u p u b l i c a s e u s P o e m a s R e u n i d o s . R e i n t e g r a d o à c a r r e i r a d i p l o m á t i c a p e l o S u p r e mo T r i b u n a l F e d e r a l , p a s s a a t r a b a l h a r n o D e p a r t a m e n t o C u l t u r a l d o I t a ma r a t y. D o i s a c o n t e c i me n t o s i mp o r t a n t e s o c o r r e m e m 1 9 5 5 : o n a s c i me n t o d e s u a f i l h a I s a b e l e o r e c e b i m e n t o d o P r ê mi o O l a v o B i l a c d a A c a d e m i a B r a s i l e i r a d e L e t r a s . A E d i t o r a J o s é O l ymp i o p u b l i c a , e m 1 9 5 6 , D u a s á g u a s , volume que reúne seus livros anteriores e os inéditos: Morte e vida Severina, P a i s a g e n s c om f i g u r a s e U m a f a c a s ó l â m i n a . R e mo v i d o p a r a B a r c e l o n a , c o mo c ô n s u l a d j u n t o , v a i c o m a m i s s ã o d e f a z e r p e s q u i s a s h i s t ó r i c a s n o Arquivo das Índias de Sevilha, onde passa a residir. E m 1 9 5 8 é r e mo v i d o p a r a o C o ns u l a d o G e r a l e m M a r s e l h a . R e c e b e o prêmio de melhor autor no Festival de Teatro do Estudante, realizado no R e c i f e . P u b l i c a e m L i s b o a s e u l i v r o Q u a d e r n a , e m 1 9 6 0 . É r e mo v i d o p a r a M a d r i , c o mo p r i m e i r o s e c r e t á r i o d a e mb a i x a d a . P u b l i c a , e m M a d r i , D o i s parlamentos. E m 1 9 6 1 é n o me a d o c h e f e d e g a b i n e t e d o m i n i s t r o d a A g r i c u l t u r a , R o me r o C a b r a l d a C o s t a , e p a s s a a r es i d i r e m B r a s í l i a . C o m o f i m d o g o v e r n o J â n i o Q u a d r o s , p o u c o s me s e s d e p o i s , é r e mo v i d o o u t r a v e z p a r a a e mb a i x a d a em Madri. A Editora do Autor, de Rubem Braga e Fernando Sabino, publica Terceira feira, livro que reúne Quaderna e Dois parlamentos. C o m a mu d a n ç a d o c o n s u l a d o b r a s i l e i r o d e C á d i z p a r a S e v i l h a , J o ã o C a b r a l mu d a - s e p a r a e s s a c i d a d e , o n d e r e s i d e p e l a s e g u n d a v e z . C o n t i n u a n d o s e u p e r c u r s o p e l o mu n d o , e m 1 9 6 4 é r e mo v i d o c o mo c o n s e l h e i r o p a r a a D e l e g a ç ã o d o B r as i l j u n t o à s N a ç õ e s U n i d a s , e m G e n e b r a . N e s s e a n o n a s c e seu quinto filho, João..

(25) 25. C o mo mi n i s t r o c o n s e l h e i r o , e m 1 9 6 6 , mu d a - s e p a r a B e r n a . O T e a t r o d a Universidade Católica de São Paulo produz o auto Morte e Vida Severina, c o m mú s i c a d e C h i c o B u a r q u e d e H o l a n d a . F o i p r i me i r o e n c e n a d o e m v á r i a s c i d a d e s b r a s i l e i r a s e d e p o i s n o F es t i v a l d e N a n c y, n o T h é a t r e d e s N a t i o n s , e m P a r i s e , p os t e r i o r me n t e , e m L i s b o a , C o i mb r a e P o r t o . E m N a n c y r e c e b e o p r ê m i o d e M e l h o r A u t o r V i v o d o F es t i v a l . P u b l i c a A e d u c a ç ã o p e l a p e d r a , q u e r e c e b e os p r ê mi o s J a b u t i , d a U n i ã o d e E s c r i t o r e s d e S ã o P a u l o ; L u i s a C l á u d i o d e S o u z a , d o P e n C l u b ; e o p r ê mi o d o I ns t i t u t o N a c i o n a l d o L i v r o . O a n o d e 1 9 6 7 m a r c a s u a v o l t a a B a r c e l o n a , c o mo c ô ns u l g e r a l . N o a n o s e g u i n t e é p u b l i c a d a a p r i me i r a e d i ç ã o d e P o e s i a s c o m p l e t a s . É e l e i t o , e m 1 5 d e a g o s t o d e 1 9 6 8 , p a r a a A c a d e mi a B r a s i l e i r a d e L e t r a s n a v a g a d e A s s i s C h a t e a u b r i a n d . É r e c e b i d o e m s e s s ã o s o l e n e p e l a A s s e mb l é i a L e g i s l a t i v a d e P e r n a mb u c o c o mo me m b r o d o C o ns e l h o D e l i b e r a t i v o d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a de Autores Teatrais (SBAT). T o m a p os s e n a A c a d e mi a e m 0 6 d e ma i o d e 1 9 6 9 , n a c a d e i r a n ú me r o 6 , s e n d o r e c e b i d o p o r J o s é A mé r i c o d e A l me i d a . A C o mp a n h i a P a u l o A u t r a n e n c e n a M o r t e e v i d a S e v e r i n a e m d i v e r s a s c i d a d e s d o B r a s i l . É r e mo v i d o p a r a a e mb a i x a d a d e A s s u n ç ã o , n o P a r a g u a i , c o mo mi n i s t r o c o n s e l h e i r o . T o r n a - s e me m b r o d a H i s p a n i a S o c i e t y o f A m e r i c a e r e c e b e a c o me n d a d a O r d e m d o M é r i t o P e r n a mb u c a n o . A p ó s t r ê s a n o s e m A s s u n ç ã o , é n o me a d o e mb a i x a d o r e m D a c a r , n o Senegal,. c a r g o q u e e x e r c e c u mu l a t i v a me n t e c o m o d e e mb a i x a d o r. da. Mauritânia e do Mali. Em 1974 é agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Rio B r a n c o . N o a n o s e g u i n t e p u b l i c a M u s e u d e T u d o , q u e r e c e b e o G r a n d e P r ê mi o de Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte. É agraciado com a M e d a l h a d e H u ma n i d a d e s d o N o r d e s t e ..

(26) 26. Em 1976 é condecorado Grande Oficial da Ordem do Mérito do Senegal e , e m 1 9 7 9 , c o mo G r a n d e O f i c i a l d a O r d e m d o L e ã o d o S e n e g a l . É n o me a d o e mb a i x a d o r e m Q u i t o , E q u a d o r , e p u b l i c a A e s c o l a d as f a c a s , e m 1 9 8 0 . A c o n v i t e d o g o v e r n a d o r d e P e r n a mb u c o , J o s é d e M o u r a C a v a l c a n t i , vem a Recife (em 1980) para fazer o discurso inaugural da Ordem do Mérito d o s G u a r a r a p e s , s e n d o c o n d e c o r a d o c o m a G r ã - C r u z d a O r d e m. A l i é i n a u g u r a d a u ma e x p o s i ç ã o b i b l i o g r á f i c a d e s u a o b r a , n o P a l á c i o d o G o v e r n o d e P e r n a mb u c o , o r g a n i z a d a p o r Z i l a M a me d e . R e c e b e a C o me n d a d o M é r i t o Aeronáutico e a Grã-Cruz do Equador. No ano seguinte vai para Honduras, c o mo e mb a i x a d o r . P u b l i c a a a n t o l o g i a P o e s i a c r í t i c a . Em 1982 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Vai para a cidade do Porto, e m P o r t u g a l , c o mo c ô n s u l g e r a l . R e c e b e o P r ê mi o G o l f i n h o d e O u r o d o Estado do Rio de Janeiro. Publica, em 1984, Auto do frade, escrito em Tegucigalpa. Ainda em 1 9 8 4 g a n h a o P r ê mi o M o i n h o R e c i f e , e , n o a n o s e g u i n t e , p u b l i c a os p o e ma s d e A g r e s t e s . N es s e l i v r o h á u ma s es s ã o d e d i c a d a à mo r t e ( "A i n d e s e j a d a d a s gentes"). Em 1986 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d e P e r n a mb u c o . S u a e s p o s a , S t e l l a M a r i a , f a l e c e n o R i o d e J a n e i r o . J o ã o C a b r a l r e a s s u me o C o ns u l a d o G e r a l n o P o r t o . C a s a - s e em segundas núpcias com a poeta Marly de Oliveira. Em 1987 publica Crime na Calle Relator, poemas narrativos. Recebe o p r ê m i o d a U n i ã o B r a s i l e i r a d e E s c r i t o r e s . É r e mo v i d o p a r a o R i o d e J a n e i r o . Em. Recife,. no. ano. de. 1988,. lança. sua. antologia. Poemas. p e r n a m b u c a n o s . P u b l i c a , t a mb é m, o s e g u n d o v o l u me d e p o e s i a s c o mp l e t a s :.

(27) 27. M u s e u d e t u d o e d e p o i s . R e c e b e o P r ê mi o d a B i e n a l N es t l é d e L i t e r a t u r a p e l o c o n j u n t o d a o b r a , e o P r ê mi o L i l y d e C a r v a l h o d a A B C L , R i o d e J a n e i r o . A p o s e n t a - s e c o mo e mb a i x a d o r e m 1 9 9 0 e p u b l i c a , n o a n o a n t e r i o r , S e v i l h a a n d a n d o . É e l e i t o p a r a a A c a d e mi a P e r n a mb u c a n a d e L e t r a s , d a q u a l h a v i a r e c e b i d o , a n o s a n t e s , a me d a l h a C a r n e i r o V i l e l a . R e c e b e os s e g u i n t e s p r ê m i o s : C r i a d o r e s d e C u l t u r a d a P r e f e i t u r a d o R e c i f e , L u i s d e C a mõ e s (concedido conjuntamente pelos governos de Portugal e do Brasil), em Lisboa. É condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Judiciário e do Trabalho. A Faculdade Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro publica Primeiros Poemas. Em 1992 João Cabral recebe prêmio Neustadt International Prize for Literature,. da. Universidade. de. O k l a h o ma .. Em. decorrência. de. alguns. a g r a c i a d o s d e s s a p r e m i a ç ã o t a mb é m g a n h a r e m o N o b e l d e L i t e r a t u r a , a i mp r e n s a p a s s a a c o g i t a r a p o s s i b i l i d a d e d o b r a s i l e i r o v i r a g a n h a r o ma i s cobiçado. e. i mp o r t a n t e. dos. prêmios. literários.. Viaja. a. Sevilha. para. r e p r e s e n t a r o p r e s i d e n t e d a R e p ú b l i c a n a s c o me mo r a ç õ e s d o d i a 7 d e S e t e mb r o , q u e t i v e r a m l u g a r n a E x p o s i ç ã o d o I V C e n t e n á r i o d a D e s c o b e r t a d a A mé r i c a . N o P a v i l h ã o d o B r a s i l , f o i d i s t r i b u í d a s u a a n t o l o g i a P o e m a s sevilhanos, em edição especial. No Rio de Janeiro, na Casa da Espanha, r e c e b e d o e mb a i x a d o r e s p a n h o l a G r ã - C r u z d a O r d e m d e I s a b e l , a C a t ó l i c a . E m 1 9 9 3 r e c e b e o P r ê mi o J a b u t i , i n s t i t u í d o p e l a C â m a r a B r a s i l e i r a d o L i v r o . J o ã o C a b r a l e r a a t o r me n t a d o p o r u ma d o r d e c a b e ç a q u e n ã o o d e i x a v a de. f o r ma. a l g u ma .. Ao. saber,. anos. atrás,. que. sofria. de. u ma. doença. d e g e n e r a t i v a i n c u r á v e l , q u e f a r i a s u a v i s ã o d e s a p a r e c e r a os p o u c o s , o p o e t a a n u n c i o u q u e i a p a r a r d e e s c r e v e r . P o r é m, a i n d a p u b l i c o u o u t r o s l i v r o s . J á e m 1 9 9 0 , c o m a f i n a l i d a d e d e aj u d á - l o a v e n c e r o s ma l e s f í s i c o s e a d e p r e s s ã o , M a r l y d e O l i v e i r a , s u a s e g u n d a e s p o s a , p a s s a a es c r e v e r a l g u n s t e x t o s t i d o s c o mo d e a u t o r i a d e C a b r a l ( C A S T E L L O , 2 0 0 6 , p . 1 6 6 ) . F o i a s s i m.

(28) 28. q u a n d o d o r e c e b i m e n t o d o P r ê m i o L u i s d e C a mõ e s , c o n s i d e r a d o o ma i s i mp o r t a n t e p r ê mi o c o n c e d i d o a e s c r i t o r e s d a l í n g u a p o r t u g u e s a , e n t r e o u t r o s . P r a t i c a me n t e c e g o e d e p r i mi d o mo r r e e m 0 9 d e o u t u b r o d e 1 9 9 9 , n a c i d a d e do Rio de Janeiro. D e p o i s d e s s a a p r e s e n t a ç ã o b i o g r á f i c a d e J o ã o C a b r a l , o p r ó x i mo p a s s o procura apresentar o estilo antilírico presente na poesia de João Cabral de M e l o N e t o a t r a v é s d o c o me n t á r i o c r í t i c o a c e r c a d e s e us l i v r o s d e p o e s i a publicados.. O m o d e r n i s m o an t i l í r i c o n a p o e s i a d e J o ã o C ab r a l E m me a d o s d o s é c u l o X X a c e n a l i t e r á r i a b r a s i l e i r a d e p o i s d e t e r c o n s a g r a d o o s p a r a d i g ma s , s ej a d o p r i me i r o mo d e r n i s m o c o m o i d e á r i o d e Oswald de Andrade (1890-1954) e Mário de Andrade (1893-1945), seja o do s e g u n d o mo d e r n i s mo c o m a v i r a d a q u e o r o ma n c e d e 3 0 h a v i a e s t a b e l e c i d o a c a b o u p o r a s s i s t i r a u ma n o v a p a s s a g e m e s t é t i c a , t e n d o c o mo a t o r e s ma i s p r o e m i n e n t e s os r o ma n c i s t a s C l a r i c e L i s p e c t o r ( 1 9 2 0 - 1 9 7 7 ) e G u i ma r ã e s R o s a ( 1 9 0 8 - 1 9 6 7 ) e o p o e t a J o ã o C a b r a l d e M e l o N e t o (N U N E S , 1 9 7 1 , p p . 25-34). N a q u i l o q u e r e s p e i t a e s p e c i f i c a me n t e a o c a s o d a p o e s i a , p o d e mo s d i z e r q u e n o s a n o s q u a r e n t a d o s é c u l o X X t e mo s a e me r g ê n c i a d e u m f a z e r p o é t i c o a n t i l í r i c o , n a l i n g u a g e m d e L u i z C o s t a L i ma ( 1 9 9 5 ) , s e n d o s e u ma i s i mp o r t a n t e r e p r e s e n t a n t e o p e r n a mb u c a n o J o ã o C a b r a l d e M e l o N e t o . T a l ruptura se caracteriza por um distanciamento do eu lírico (subjetivo) que e s t á e v i d e n t e n a o b r a d o p r i n c i p a l p o e t a d a r e n o v a ç ã o mo d e r n i s t a d o s a n o s v i n t e q u e é M a n u e l B a n d e i r a . N o l u g a r d es s a s u b j e t i v i d a d e t r a n s b o r d a n t e , João. Cabral. vai. construir. um. traçado. poético. que. retira. quase. que. c o mp l e t a m e n t e a e x p r e s s ã o d e u m e u s u b j e t i v o e s e a s s e n t a n u ma b u s c a p e r e n e e i n c i s i v a n a c o n q u i s t a d e u ma e s t é t i c a r a c i o n a l e o bj e t i v a ..

(29) 29. E m L i r a e A n t i l i r a , L u i z C os t a L i ma , a o r e a l i z a r u m b a l a n ç o c r í t i c o d a p o e s i a mo d e r n i s t a , e s t a b e l e c e u ma l i n h a e v o l u t i v a q u e v a i d e B a n d e i r a a C a b r a l . O a u t o r c e n t r a s u a a n á l i s e n a d i f e r e n ç a d e e s t i l o s q u e ma r c a c a d a u m d e s s e s p o e t a s q u e , me s m o p a r t i l h a n d o o i d e á r i o f o r ma l d o mo d e r n i s mo , f o r a m c a p a z e s d e i mp r i mi r q u e b r a s f o r ma i s e m s u a s p r o p os t a s i n d i v i d u a i s . T e n d o M a n u e l B a n d e i r a c o mo p o n t o d e p a r t i d a e r e p r e s e n t a n t e ma i o r d a e x p r e s s ã o s u b j e t i v a , a t e s e d e L i ma é a d e q u e q u a n t o ma i s a v a n ç a o mo d e r n i s m o ma i s p r ó x i mo f i c a d e u ma p o é t i c a o b j e t i v a e a t i n g e s e u á p i c e e sua radicalidade na poesia cabralina.. Surrealismo construtivista J o ã o C a b r a l c o me ç o u a s e a r r i s c a r n a p o e s i a p o r v o l t a d os d e z e s s e t e a n o s , v i n d o a p u b l i c a r s e u p r i me i r o l i v r o d e p o e ma s e m 1 9 4 2 , a o s 2 2 a n o s , a n o e m q u e p a s s a a mo r a r n o R i o d e J a n e i r o . O l i v r o f o i d e n o mi n a d o d e P e d r a d o S o n o e t i n h a c o mo l u g a r d e p u b l i c a ç ã o P e r n a mb u c o e n ã o a c i d a d e d o R e c i f e c o mo é d e c o s t u me 3 . F o i u ma e d i ç ã o d e a p e n a s t r e z e n t o s e x e mp l a r e s e q u e t r a z i a n a c a p a u ma i l u s t r a ç ã o d e V i c e n t e d o R e g o M o n t e i r o , c o n t e n d o v i n t e e n o v e p o e ma s . P e d r a d o S o n o t r a z i a u ma d e d i c a t ó r i a a o s p a i s d o p o e t a , b e m c o mo d u a s o u t r a s p a r a W i l l y L e w i n q u e t a mb é m as s i n a v a o c u r t o p r e f á c i o e p a r a D r u mm o n d q u e j á t i v e r a a o p o r t u n i d a d e d e c o n h e c e r e c o n v i v e r n o R i o d e J a n e i r o . A c r e s c e n t e - s e , f i n a l m e n t e , q u e o l i v r o t r a z c o mo e p í g r a f e , o v e r s o d e M a l l a r m é , “ S o l i t u d e , r é c i f , é t o i l e ” , e x t r a í d o d o ú l t i mo t e r c e t o d o s o n e t o “Salut” (MELO NETO, 1994, p. 42).. 3. Em carta a Zila Mamede, o poeta afirma que Pernambuco compunha melhor, esteticamente, do que Recife. Mamede, Zila. Civil geometria: bibliografia crítica, analítica e anotada de João Cabral de Melo Neto (1942-1982). São Paulo: Edusp, 1987. p. 3..

(30) 30. No. mencionado. prefácio,. Lewin,. além. de. referir. as. leituras. de. M a l l a r mé e d e V a l é r y q u e J o ã o C a b r a l f a z i a n e s s e t e mp o , a n o t a a r g u t a me n t e a convergência entre esse livro e as idéias expressas pelo poeta na c o n f e r ê n c i a “ C o n s i d e r a ç õ e s s o b r e o p o e t a d o r mi n d o ” , l i d a n o C o n g r e s s o d e P o e s i a d o R e c i f e e m 1 9 4 1 . N a s p a l a v r a s d e L e w i n : “ A l é m d as p a l a v r a s , J o ã o C a b r a l t e m p e n s a d o mu i t o t a mb é m – s o b r e t u d o a p a r t i r d e s u a o r i g i n a l í s s i m a contribuição ao Congresso de Poesia do Recife – na escuridão e na ausência d e f o r ma s d o s o n o ” . ( L E W I N , 1 9 4 2 a p u d M A M E D E , 1 9 8 7 , p . 3 5 8 ) . S e , d e u m l a d o , a p r e d o m i n â n c i a d o l i v r o é d e i ma g e n s o n í r i c a s q u e , por certo, revela a presença de traços surrealistas na obra, sobretudo os vindos de um permanente contato com as artes plásticas, é o tratamento dado a es s a s me s ma s i ma g e n s , d e o u t r o l a d o , q u e s i n g u l a r i z a a p o é t i c a p r a t i c a d a então por ele.. R e a l me n t e , o q u e me l h o r c a r a c t e r i z a o s p o e ma s d es s e p r i me i r o l i v r o é a relação entre uma pesquisa dos estados oníricos e um sentido para a própria c o n s t r u ç ã o d o p o e ma , p o r o n d e p a s s a q u e r a v a l o r i z a ç ã o d a i ma g e m e m s u a plasticidade (dado que, sem dúvida, o jovem poeta aprendera com a leitura d e M u r i l o M e n d e s ) , q u e r o r e c u r s o à me m ó r i a , ma s u ma “ me mó r i a c h e i a d e p a l a v r a s ” , c o mo e s t á d i t o n o p o e ma “ N o t u r n o ” , o q u e , s e m d ú v i d a , e l e a p r e n d e r a c o m a l e i t u r a d os l i v r o s i n i c i a i s d e D r u m mo n d , A l g u m a P o e s i a , d e 1930, e Brejos das Almas, de 1934. E n t r e d o i s p o e t a s b r a s i l e i r o s , M u r i l o M e n d e s e D r u mm o n d , e a presença. constante. de. dois. franceses,. M a l l a r mé. e. V a l é r y,. c o mo. foi. assinalado desde cedo por Willy Lewin, João Cabral afinava os seus i n s t r u m e n t o s s o b o s i g n o d a r e c u s a e d a n e g a t i v i d a d e , as s u mi n d o a b e r t a me n t e a f r a t u r a mo d e r n a e n t r e e x p r e s s ã o e c o mp o s i ç ã o . E m 1 9 5 2 , o p o e t a i r i a t r a t a r d o t e ma e m c o n f e r ê n c i a p r o n u n c i a d a n a B i b l i o t e c a M u n i c i p a l d e S ã o P a u l o , s o b o t í t u l o “ P o e s i a e C o mp o s i ç ã o ” ..

(31) 31. E , e mb o r a o t í t u l o d o l i v r o s e j a e x t r a í d o d o n o me d e u ma p e q u e n a c i d a d e d o i n t e r i o r d e P e r n a mb u c o , c o n f o r m e e x p l i c a L e w i n , b e m q u e s e r v e c o mo me t á f o r a p a r a r e c o b r i - l o : c o n t r a a e v a n e s c ê n c i a d o s o n o e d o s o n h o , está a resistência da pedra, que, traduzindo o trabalho com a poesia (coisa q u e e l e t a mb é m a p r e n d e r a n o D r u mm o n d d o p o e m a f a mo s o “ N o M e i o d o Caminho”,. de. Alguma. Poesia),. será,. daí. por. diante,. u ma. recorrência. s i mb ó l i c a e m s u a o b r a 4 . A p r e s e n ç a d o g r a n d e p o e t a d e M i n a s a i n d a v a i d o mi n a r o s e u s e g u n d o l i v r o . O s T r ês M a l - A m a d os , d e 1 9 4 3 , q u e f o i p u b l i c a d o o r i g i n a r i a me n t e n a R e v i s t a d o B r a s i l , t r a z e n d o n o t í t u l o o n u me r a l a r á b i c o ( q u e s o me n t e s e r á substituído pela grafia por extenso na publicação dos Poemas Reunidos) (Barbosa,. 1975,. p.. 36),. é. u ma. dramatização,. em. prosa,. do. poema. “ Q u a d r i l h a ” , t a mb é m d o p r i me i r o l i v r o d e D r u mm o n d , e m q u e c o mp a r e c e m t r ê s d as p e r s o n a g e n s d r u mm o n d i a n a s (J o ã o , R a i mu n d o e J o a q u i m) e d u a s o u t r a s , M a r i a e T e r e s a , f u n c i o n a m c o mo r e f e r ê n c i a s p r i n c i p a i s d e a l g u m a s falas. A s t r ê s p e r s o n a g e n s m a s c u l i n a s s u r g e m n a me s m a o r d e m e m q u e e s t ã o n o p o e m a d e D r u m mo n d , e s o me n t e a t e r c e i r a , J o a q u i m, é es v a z i a d a d e s u a c o n t r a p a r t e , L i l i , d a q u e l e p o e ma , s u b s t i t u í d a p e l a p r ó p r i a a ç ã o d o a mo r hipertrofiado que a tudo devora. D u a s c a r a c t e r í s t i c a s d o l i v r o s ã o i mp o r t a n t e s p a r a a c o mp r e e n s ã o d a o b r a d o p o e t a : s e r u m t e x t o e m p r o s a e s e r u ma e x p e r i ê n c i a d r a má t i c a . A p r i m e i r a v i n h a r e v e l a r a a p r e n d i z a g e m d e u ma d i c ç ã o q u e , s e o p o n d o à d a p o e s i a d e “ d a d os s u t i l í s s i m o s ” , q u e o p r ó p r i o p o e t a j á o b s e r v a r a e m c e r t a. 4. Dentre a vasta literatura que se dedica ao estudo do sentido da pedra na poética cabralina, vale destacar o trabalho de Lauro Escorel, A pedra e o rio. São Paulo: Duas cidades, 1973. O autor se investe de um arsenal teórico de base junguiana para interpretar a poesia de Cabral..

(32) 32. p o e s i a d a é p o c a 5 e q u e , ma i s t a r d e , i r á e x p a n d i r n a p r o s a “ e m g r o s s o t e a r ” d o p o e m a O R i o , ma r c a v a u ma r e t o ma d a d e a l g u n s t r a ç o s mo d e r n i s t a s d a d i c ç ã o d r u m mo n d i a n a , s o b r e t u d o a q u e l a d e A l g u m a P o e s i a ( N U N E S , 1 9 7 1 , p . 3 6 ) . A s e g u n d a , d a d a a s u a e s t r u t u r a d i a l ó g i c a , n ã o s o me n t e f a z i a p r e v e r a s r e a l i z a ç õ e s d r a má t i c a s q u e , ma i s t a r d e , s e e x p l i c i t a r ã o e m o b r a s c o mo M o r t e e V i d a S e v e r i n a e , mu i t o ma i s t a r d e , n o A u t o d o F r a d e , ma s c r i a v a a i n d a o e s p a ç o p a r a a q u e l a s t e n s õ e s e n t r e u m a p o es i a d e e x p r e s s ã o e o u t r a d e c o n s t r u ç ã o c o m q u e a mp l i a v a e p r o b l e ma t i z a v a a t o n a l i d a d e d e s i l u d i d a e i r ô n i c a d o p o e ma d e D r u m mo n d . D e s s e mo d o , p r o s a e d r a m a c o n v e r g e m p a r a a c e n t u a ç ã o d e u ma p o é t i c a d e r e c u s a q u e , p o r u m l a d o , p r i v i l e g i a “ a f o l h a e m b r a n c o , b ar r e i r a o p o s t a ao. rio. impreciso. que. corre. em. regiões. de. alguma. parte. de. nós. m e s m o s ” (M E L O N E T O , 1 9 9 4 , p . 6 3 ) , c o mo e s t á n u ma d a s ú l t i ma s f a l a s d e R a i mu n d o , e , p o r o u t r o , é c a p a z d e e n u m e r a r “ e s s a s c o i s a s d e q u e e u d e s e s p e r a v a p o r n ã o s a b e r f a l a r d e l a s e m v e r s o ” , c o mo e s t á n u m a d as f a l a s d e J o a q u i m: O a m o r c o m e u m e u E s t a d o e m i n h a c i d a d e . [ . . .] Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso6. M a s u ma q u e s t ã o s e i mp u n h a : c o mo r e a l i z a r a p a s s a g e m e n t r e “ e s s a s coisas”. e. o. p o e ma. pensado. e. construído. com. o. prurido. d os. “dados. s u t i l í s s i m o s ” ? A r e s p o s t a , n a v e r d a d e u ma p r o c u r a d e r e s p os t a , v a i s e r p e r s e g u i d a c o m a p u b l i c a ç ã o , e m 1 9 4 5 , d o v o l u me O E n g e n h e i r o , r e u n i ã o d e. 5. A referência de João Cabral se dirige aos poetas da denominada Geração 45, que eram tidos por parnasianos. No texto “Geração 45”, incluído em sua Obra completa, 1994, p. 752, ele diz: “trata-se de uma poesia feita de sobrerealidades... e o fim dela é comunicar dados sutilíssimos”. 6 Todas as citações da poesia de João Cabral, neste capítulo, foram extraídas de Melo Neto, João Cabral. Obra completa, Nova Aguilar, 1994..

(33) 33. 2 2 p o e m a s , d e d i c a d o a D r u mm o n d e t r a z e n d o u ma e p í g r a f e d o a r q u i t e t o L e C o r b u s i e r , “ . . .m a c h i n e à e m o u v o i r . . . ” . J o ã o A l e x a n d r e B a r b o s a n os d i z q u e e x i s t e m d o i s b l o c o s d i f e r e n t e s d e questões propostas pelos dois livros anteriores e tratadas no terceiro (2001, p . 3 3 ) . E m p r i me i r o l u g a r , a q u e l e q u e s e r e f e r e à p r ó p r i a c o n s t r u ç ã o d a i m a g e m c o mo e l e me n t o i n s t r u m e n t a l d o p o e ma ( d a d o f u n d a me n t a l e m P e d r a d o S o n o ) e , e m s e g u n d o , a q u e l e q u e e n v o l v e a p r o b l e ma t i z a ç ã o d a p o es i a , a a mp l i a ç ã o d a s a f i r ma ç õ e s d e s u a i mp o s s i b i l i d a d e e a b u s c a d e u m a me d i a ç ã o e n t r e o p o e ma e a r e a l i d a d e p e s s o a l e c i r c u n s t a n c i a l ( t e n s ã o s u s t e n t a d a p e l a p o l i f o n i a d e O s T r ês M a l - A m a d os ) . O que singulariza esse livro é que tais questões são agora propostas de ma n e i r a. ma i s. clara. e. o bj e t i v a ,. optando-se. por. um. estrito. senso. de. c o mp o s i ç ã o , s e m p r ej u í z o d e a l g u n s e l e m e n t o s q u e , v i n d o d a s p e s q u i s a s sobre o sono e o sonho do primeiro livro, são integrados pela consciência e construção de que o poeta não perde o controle. N e s s e s e n t i d o , s e h á a q u i , d e f a t o , o r e a p a r e c i me n t o d e u m r e p e r t ó r i o s u r r e a l i s t a , a t r a v é s d a p r e s e n ç a d o s o n o , d o s o n h o , d e u ma v i s ã o c o l h i d a e e l a b o r a d a p e l o s s e n t i d o s , p o r o u t r o l a d o a d i r e ç ã o a s s u mi d a p e l o p o e ma f a z c o m q u e h a j a u ma d es mo n t a g e m c o n t í n u a d a c a d e i a d e i ma g e n s p r o p o s t a s desde o início do texto. É q u e , e m r e l a ç ã o à q u e l a s q u e s t õ e s p r o p os t a s p e l a s o b r a s a n t e r i o r e s , a n o v i d a d e e s t á n a a r t i c u l a ç ã o q u e p a s s a a e x i s t i r e n t r e a s d u a s , o u s ej a , o t r a t a me n t o d a i ma g e m p o é t i c a p as s a a s e r a e s t r a t é g i a p e l a q u a l o p o e t a p r o b l e ma t i z a realidade.. o. p o e ma. enquanto. e l e me n t o. d e me d i a ç ã o. entre. ele e a.

Referências

Documentos relacionados

lá não se aprende a pedra: lá a pedra, uma pedra de nascença, entranha a alma. MELO NETO, João Cabral de. João Cabral de Melo Neto é considerado um dos mais importantes poetas

O valor da FA é calculado por (4), onde: (i) a primeira parcela se refere ao tempo total de atuação da proteção considerando a aplicação de diferentes faltas; (ii) a segunda

contemplados neste registro (Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte). Outros questionamentos também se fizeram pertinentes: de que maneira o Mamulengo pode se

6 - Sistema de Gestão de Mercado Cambial 7 - Sistema de Gestão de Mercados de Activos (entrou em produção em 11 de Janeiro de 2008).. A terceira limitação refere-se ao facto de

(“Banco”), as quais compreendem o Balanço em 31 de Dezembro de 2011, (que evidencia um total de 61.524.447 mAOA e um total de fundos próprios de 7.895.957 mAOA, incluindo um

A escola Municipal Poeta João Cabral de Melo Neto, está aprendendo junto com a comunidade a trabalhar de uma forma inovadora está se encaminhando para a construção de

(Raquel Rolnik).. conjuntos do Programa Minha Casa Minha Vida da faixa 1 em Codó. A partir do qual foi possível alcançar os seguintes objetivos específicos: abordar o histórico

Seu nome ficou consagrado com o auto Morte e vida severina, publicado em 1956 e com montagem de sucesso na inauguração do Teatro da Universidade Católica (TUCA) de São Paulo,