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Maceió na guerra: política, cotidiano e a força expedicionária brasileira na capital alagoana (1940-1945)

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS SERTÃO CURSO DE HISTÓRIA. GIGLIELE PEREIRA FONTES. MACEIÓ NA GUERRA: POLÍTICA, COTIDIANO E A FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA NA CAPITAL ALAGOANA (1940-1945). DELMIRO GOUVEIA/ AL 2019.

(2) GIGLIELE PEREIRA FONTES. MACEIÓ NA GUERRA: POLÍTICA, COTIDIANO E A FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA NA CAPITAL ALAGOANA (1940-1945). Artigo apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Licenciada em História pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Orientador: Prof. Dr. Eltern Campina Vale.. DELMIRO GOUVEIA-AL 2019.

(3) Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas Biblioteca do Campus Sertão Sede Delmiro Gouveia Bibliotecária responsável: Renata Oliveira de Souza – CRB-4/2209 F683m. Fontes, Gigliele Pereira Maceió na guerra: política, cotidiano e a força expedicionária brasileira na capital alagoana (1940-1945) / Gigliele Pereira Fontes. – 2019. 51 f. : il. Orientação: Prof. Dr. Eltern Campina Vale. Artigo monográfico (Licenciatura em História) – Universidade Federal de Alagoas. Curso de História. Delmiro Gouveia, 2019. 1. História - Brasil. 2. História - Alagoas. 3. Maceió – Alagoas, 1940-1945. 4. Guerra Mundial, 1935-1945. 5. Força Aérea Brasileira I. Título. CDU: 981(813.5).

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(5) A minha mãe pelo amor, zelo e dedicação incondicionais. Aos meus irmãos pelo carinho e incentivo. A meu sobrinho, o pequeno Anthony,. por. alegrar. memoriam do meu pai.. nossas. vidas.. In.

(6) AGRADECIMENTOS. Hoje, entendo porque os agradecimentos devem ser feitos por último, é preciso rememorar aqueles que contribuíram para minha formação pessoal, profissional e acadêmica. Foram quase cinco anos de estudos, projetos e pesquisas e muitas pessoas a agradecer. A primeira delas é a minha mãe, Albertina, pelo amor, dedicação e incentivo de sempre. A meu pai, José, que partiu cedo, mas que nos deixou boas lembranças. As minhas irmãs, Gisele e Gigliane pelo apoio, a meu irmão Jeandson pelo carinho e ao meu pequeno sobrinho Anthony, pelo dom de nos alegrar sempre. As amizades que a Universidade me proporcionou, em especial a Claudielly Vilar e Lizandra Silva pelo companheirismo e carinho, fazendo com que essa jornada fosse menos árdua e desgastante. Aos meus colegas de turma pela parceria e ajuda mútua. Aos colegas de trabalho pela paciência. Aos meus professores do Ensino Fundamental e Médio, pela dedicação e empenho. Aos professores da graduação. As professoras Edvane Bandeira, Clecia Rodrigues, Sheyla Farias, Carla Taciane, Ana Margarida, Sara Angélica e Ana Cristina pela inspiração e ensinamentos. Ao meu orientador, professor Eltern Campina Vale, pelas discussões e colocações sempre tão pontuais, pelo seu empenho, paciência, amizade e disponibilidade de sempre. Ao querido professor, Vladimir Dantas, pela compreensão, pelo auxílio ao longo da pesquisa, assim como pela amizade e boas conversas. Ao professor, Anderson da Silva Almeida, pela humildade, fazendo-nos enxergar a vida de forma leve e simples. Ao professor, Gustavo Gomes, pela dedicação, ensinamentos e carinho emanados ao longo das aulas. Ao grupo de cultura negra do sertão alagoano, Abi Axé Egbé, por (re)existir e acolher todos de braços abertos sempre. Ao Arquivo Público de Alagoas, ao Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e a Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, Secção Alagoas pela disponibilidade de materiais e incentivo à pesquisas. A Deus pelo início, meio e fim..

(7) FONTES, Gigliele Pereira. Maceió na guerra: política, cotidiano e a força expedicionária brasileira na capital alagoana (1940-1945). 2019, 48 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura em História) – Universidade Federal de Alagoas/UFAL, Campus do Sertão/Delmiro Gouveia, 2019.. MACEIÓ NA GUERRA: POLÍTICA, COTIDIANO E A FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA NA CAPITAL ALAGOANA (1940-1945). RESUMO O presente trabalho tem como objetivo discutir alguns aspectos e desdobramentos da Segunda Guerra Mundial, na capital Maceió, em Alagoas. Parte-se do entendimento da cultura política da Interventoria Góis Monteiro e de suas estratégias frente à guerra até os impactos e transformações no cotidiano de Maceió, a partir do carnaval, blackout, afundamento do navio mercante Itapagé, da vigilância em torno dos imigrantes e no processo de convocação de alagoanos para a composição da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Entendemos, aqui, que a leitura destes impactos da guerra será realizada a partir da visão “dos de baixo” em seus diversos espaços de experiência na capital. Assim sendo, esta pesquisa tem como aporte documental, principalmente, jornais (em especial nas Hemerotecas do Arquivo Público e do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas), livros de memória militar e Relatórios produzidos pela Interventoria Góis Monteiro. Do diálogo historiográfico, há mediação com produções da História Social Cultural, da História Política e História Militar. Palavras-Chave: Segunda Guerra Mundial. FEB. Maceió. Cotidiano..

(8) FONTES, Gigliele Pereira. Maceió na guerra: política, cotidiano e a força expedicionária brasileira na capital alagoana (1940-1945). 2019, 48 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura em História) – Universidade Federal de Alagoas/UFAL, Campus do Sertão/Delmiro Gouveia, 2019.. MACEIÓ IN THE WAR: POLITICAL, EVERYDAY AND THE BRAZILIAN EXPEDITIONARY FORCE IN THE ALAGOAN CAPITAL (1940-1945). ABSTRACT The present work aims to discuss some aspects and developments of the Second World War, in the capital Maceió, in Alagoas. It is based on the understanding of the political culture of the Góis Monteiro Interventory and its strategies against the war until the impacts and transformations in the daily life of Maceió, starting from the carnival, blackout, sinking of the merchant ship Itapagé, the vigilance around the immigrants and in the process of summoning Alagoas for the composition of the Brazilian Expeditionary Force (BEF). We understand, here, that the reading of these impacts of the war will be realized from the vision "of the bottom" in its diverse spaces of experience in the capital. Therefore, this research has as documentary contribution, mainly, newspapers (especially in the Hemerotecas of the Public Archive and of the Historical and Geographical Institute of Alagoas), military memory books and Reports produced by the Góis Monteiro Interventory. From the historiographical dialogue, there is mediation with productions of Cultural Social History, Political History and Military History. Keywords: World War II. BEF. Maceió. Daily..

(9) SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9 1. O BRASIL NO CONTEXTO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1940-1945) . 11 1.1. GOVERNO VARGAS E A CONJUNTURA MUNDIAL DA SEGUNDA GUERRA ............................................................................................................................ 11 1.2. INTERVENTORIA ALAGOANA: A CULTURA POLÍTICA FAMILIAR DOS GÓIS MONTEIRO ............................................................................................................. 17 2. O COTIDIANO DE MACEIÓ NA GUERRA ............................................................ 25 2.1. A GUERRA E A COBERTURA NOS JORNAIS DA CAPITAL ........................... 25 2.2. MACEIÓ SEM LUZ: O BLACKOUT COMO EFEITO DA GUERRA ................. 27 2.3. O CARNAVAL EM TEMPOS DE GUERRA......................................................... 30 2.4. A GUERRA CHEGOU: O TORPEDEAMENTO DO ITAPAGÉ NO LITORAL ALAGOANO ....................................................................................................................... 33 2.5. GUERRA E VIGILÂNCIA: A PRESENÇA DE ESTRANGEIROS ALEMÃES E ITALIANOS NA CAPITAL .............................................................................................. 37 2.6. ALAGOANOS VÃO À GUERRA: DA CONVOCAÇÃO AO ALISTAMENTO PARA A FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA.................................................. 40 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 46.

(10) 9. INTRODUÇÃO O trabalho aqui apresentado tem como objetivo discutir alguns aspectos e desdobramentos da Segunda Guerra Mundial, na capital Maceió, em Alagoas. Verifica-se, a princípio a conjuntura mundial frente ao conflito e, de como o Governo de Getúlio Vargas, irá se posicionar perante as questões políticas, econômicas e sociais emanadas pela guerra. Para tal, o século XX é marcado por variados conflitos militares, entre eles, um dos mais definidores: a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O conflito, a princípio europeu, acabou por envolver um grande número de países do mundo e o Brasil foi um deles. Faz-se importante entender a conjuntura histórica, política e econômica, entre os anos 1918-1939. Em 1929, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, os países sofrem uma drástica recessão econômica, obrigando-os a buscar medidas protetivas quanto à crise. O reflexo da economia ganha impactos no mundo da política. Os anos 1930 viram surgir os governos autoritários ganhando força, tendo como principais exemplos, Alemanha, Itália, Espanha e Portugal. No Brasil, a década de 1930 é marcada por uma reconfiguração no quadro político nacional, tendo como centralidade a chegada de Getúlio Vargas ao poder, em outubro de 1930, e a inserção de novos agentes políticos no meio político e social. Com a eclosão da guerra, em 01 de setembro de 1939, o governo Vargas sofre demasiada pressão sobre quem deverá apoiar no conflito. Parte da ala governista – Góes Monteiro e Gaspar Dutra –, tinham afeição ao modelo político alemão e a outra ao modo de vida estadunidense – Osvaldo Aranha. Apesar dos acordos comerciais firmados com a Alemanha e com a Itália ao longo dos anos trinta, o Brasil acaba declarando solidariedade aos Estados Unidos, após o ataque japonês à base de Pearl Harbor, em 07 de dezembro de 1941. Em agosto de 1942, seis embarcações nacionais são torpedeadas ao longo das costas sergipana e baiana. Constata-se, que os ataques foram realizados por submarinos alemães, como represália à decisão brasileira de declarar solidariedade aos norte-americanos. A partir da Interventoria Góis Monteiro, verificamos a inserção de Alagoas na guerra e, de como a capital, Maceió, sofrerá com algumas transformações no seu cotidiano. Presenciando por vezes blackouts, tendo as festas de rua comprometidas e o medo enquanto imperativo social, aprofundado com o torpedeamento do navio Itapagé, em 1943, em suas imediações. A fúria popular e a vigilância sobre os estrangeiros, em especial os alemães, torna-se intensa. Verifica-se pois, que o momento vivido seria de tensionamentos. Acrescente-.

(11) 10. se a isso a criação e envio da Força Expedicionária Brasileira (doravante FEB) para a Europa, contando com cerca de vinte e cinco mil homens e mulheres, dentre eles, 148 alagoanos. O presente artigo tem como fontes de pesquisa, principalmente, jornais (em especial nas Hemerotecas do Arquivo Público e do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, do ano de 1943, uma vez que estes evidenciam o contexto nacional e estadual emanados perante a guerra), livros de memória militar e Relatórios produzidos pela Interventoria Góis Monteiro. O documento-jornal como fonte histórica é, permeado de desconfiança, como elucida a historiadora, Maria Helena Rolim Capelato (1988). Este, para alguns pesquisadores, implica parcialidade quanto ao tema pesquisado, uma vez que é carregado de subjetividade. Apesar dessas questões, esta fonte não deve ser descartada, pois aliada a análise historiográfica, esta é capaz de preencher lacunas. A metodologia utilizada baseia-se na análise documental das fontes e no cruzamento de dados, relacionados com extenso referencial bibliográfico, que buscou analisar a inserção de Alagoas durante a Segunda Guerra Mundial. As questões dispostas nesta introdução serão desenvolvidas em dois capítulos. No primeiro, “O Brasil no contexto da Segunda Guerra Mundial (1940-1945)”, será analisado o contexto mundial frente a guerra, o governo Varguista e a Interventoria alagoana ao longo dos anos 1940. O segundo capítulo, “O cotidiano de Maceió na guerra”, analisa as transformações ocorridas na capital ao decorrer do conflito. De tal maneira, temos festas populares, como o carnaval sendo alteradas e/ou discutidas quanto a sua realização; o blackout como medida preventiva; o medo como imperativo social, reforçado após o afundamento do navio mercante Itapagé; a constante vigilância em torno dos imigrantes e o processo de convocação de alagoanos para a composição da Força Expedicionária Brasileira (FEB)..

(12) 11. 1. O BRASIL NO CONTEXTO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1940-1945). No primeiro capítulo será analisado a conjuntura mundial perante a Segunda Guerra Mundial, o Governo Vargas e a inserção de Alagoas no conflito. Partindo-se da Interventoria Góis Monteiro, será possível verificar o esforço empreendido pelo Estado para alinhar-se as necessidades da guerra.. 1.1. GOVERNO VARGAS E A CONJUNTURA MUNDIAL DA SEGUNDA GUERRA. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) pode ser compreendida como um dos conflitos de maior impacto no século XX, pelas suas particularidades e especificidades 1 . Neste conflito as potências mundiais se dividiram em dois blocos antagônicos: países do Eixo2 e Aliados3. Para tanto, tem-se um crescente desenvolvimento da indústria bélica4, assim como amplia-se o contingente humano mobilizado, seja para as indústrias, seja para compor as fileiras de seus respectivos Exércitos Nacionais. Durante a guerra, milhões de vidas foram ceifadas: nos campos de batalhas, nos campos de concentração, no ar e no mar.5 Para o historiador britânico Eric Hobsbawm, a guerra se configurara em um único evento, estendido por trinta e um anos. Portanto, esse evento eclodiu aos 28 de julho de 1914 com o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando e findou-se aos 14 de agosto de 1945, com a rendição incondicional do Japão, após os ataques das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki.6 Por questões de leitura histórica adota-se aqui a conceituação usual de referir-se à Primeira Guerra Mundial como um período distinto da Segunda Guerra Mundial (cada uma. HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914 – 1991). 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 30-31. 2 Os países do Eixo configuram uma aliança estabelecida entre Alemanha, Itália e Japão. O acordo data de 1936, com a relação da Alemanha e Japão na luta anticomunista. A Itália adere a causa em 1937. A partir de 1939, a aliança configura-se num acordo militar. 3 Já os Aliados correspondem à aliança entre França, Inglaterra, Estados Unidos e posteriormente União Soviética. 4 Esse período pode ser caracterizado pela ampliação e desenvolvimento armamentista, de modo que os Exércitos buscam implementar novas tecnologias. Tendo sido apresentado ao mundo armas poderosas: como os tanques de guerra, os submarinos e as bombas atômicas. 5 No que tange ao número de mortos ao longo da guerra, não há um consenso de dados (as informações variam numa estimativa de 47 a 85 milhões), mas convergem ao informar que a maioria das mortes correspondiam a civis. Disponível em: <https://www.suapesquisa.com/segundaguerra/curiosidades.htm> Acesso em: 23 abr. 2019. Disponível em: <https://segundaguerra.net/os-mortos-na-segunda-guerra-mundial/> Acesso em: 23 abr. 2019. Para maiores informações quanto aos mortos brasileiros em alto mar, ver SANDER, Roberto. O Brasil na mira de Hitler: a história do afundamento de navios brasileiros pelos nazistas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011 e Agressão – documentário dos fatos que levaram o Brasil à Guerra. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943. 6 HOBSBAWM, Eric. op. cit., p. 30-31. 1.

(13) 12. referenciada dentro do seu tempo e espaço). A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi umas das causas da Segunda Guerra, de modo que “envolveu todas as grandes potências e, na verdade, todos os Estados europeus, com exceção da Espanha, os Países Baixos, os três países da Escandinávia e a Suíça.”7 Ao final da Primeira Guerra, os países vencidos. 8. sofreram diversas sanções. econômicas e militares. Nesse período foi celebrado o chamado Tratado de Versalhes, que baseia-se em cinco pontos: 1- conter a Revolução Russa (1917); 2- controlar a Alemanha; 3redefinir o mapa europeu (objetivando enfraquecer o Estado alemão, assim como preencher os espaços deixados pelos Impérios Russo, Habsburgo e Otomano); 4- tratar dos interesses dos países vencedores, em especial Grã-Bretanha, França e Estados Unidos; e 5- criar um acordo de paz, que evitasse que uma guerra como essa voltasse a acontecer9. Como se sabe, o Tratado falhou. Com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, a economia dos países capitalistas será afetada, uma vez que muitos deles deviam fortunas aos Estados Unidos, como por exemplo, no caso dos países europeus, que fizeram empréstimos para se reestruturarem no pós-guerra. A crise gera uma grande preocupação, de modo que os países afetados buscaram formas de proteção e ampliação de sua economia. Para o historiador Sérgio Conceição, “[...] o papel do Estado, na vida econômica, mudaria consideravelmente. Parte do pensamento liberal seria aos poucos reformado por uma política de intervencionismo direto do poder público. Foi assim com os Estados Unidos, a Inglaterra, a França e com a Alemanha e a Itália.”10 Um plano de ação foi colocado em prática, o New Deal. De caráter político, econômico e estratégico, esse plano interferia diretamente na produção agrícola e industrial, e buscou combater o desemprego exorbitante. As medidas surtiram grande efeito, No caso de alguns países europeus, utilizou-se de mecanismos políticos de natureza autoritária para sair da crise. A Alemanha e a Itália são os dois maiores exemplos. Economias frágeis, mas com governos dispostos a enfrentar os limites demarcados pelo imperialismo do século XIX, como a falta de mercado externo por conta da sua tardia consolidação enquanto. 7. Ibid. p. 30-31 O país que mais sofreu com o Tratado de Versalhes foi sem dúvida a Alemanha. De tal forma, fora levada a assinar um contrato comprometendo-se a pagar um valor vultuoso aos países vencedores, assim como perdeu parte de seus territórios, o poder de seu Exército foi limitado. Somado a isso, temos o nacionalismo alemão ferido. Esses elementos constituem, uma verdadeira bomba prestes a explodir, e que resultará em um estrago maior que o anterior. Data desse período a ascensão do nazismo na Alemanha e a chegada de Hitler ao poder. Em 1929, com a quebra da bolsa de valores, a frágil economia alemã sofre um grande abalo e o Reich aproveita bem a situação para disseminar seus ideais totalitários. 9 HOBSBAWM, Eric. op. cit., p. 30-31. 10 CONCEIÇÃO, Sérgio Lima. Em guerra que cobra fuma, alagoano é convocado. Dissertação (Mestrado em História) Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 2015. p. 26. 8.

(14) 13. Estado, os prejuízos obtidos por conta da Primeira Guerra Mundial, a onda de desemprego e da queda econômica da pequena burguesia, somada à falta de perspectiva de amplos setores sociais, acabaram solidificando a ideia de um governo forte, dirigido por um partido também forte, como único remédio contra a crise e com condições de bloquear a influência socialista soviética, pesadelo maior das democracias liberais.11. A crise que se instaura em 1929 afeta a maioria dos países capitalistas, de modo que a Segunda Guerra Mundial eclodirá como a consequência de um sistema imperialista em colapso. Ao longo dos anos 1920-1940, o cenário político brasileiro passa por um novo momento, quando “[...] em outubro de 1930, um movimento armado conduz o gaúcho Getúlio Dornelles Vargas à Presidência da República. A Primeira República conhece seu ocaso e tem início a Era de Vargas.”12 A chegada de Getúlio Vargas ao poder configura uma ruptura com o sistema político existente, uma vez que até então predominava a chamada política do “café com leite”, onde havia um “revezamento” de governantes, que ora eram de São Paulo – produtor de café – ora de Minas Gerais – produtor de leite. A alternância de Presidentes por apenas esses dois Estados fez com que houvesse grande descontentamento por parte dos demais, culminando consequentemente na deposição do presidente Washington Luís e no protagonismo de novas figuras políticas no cenário nacional (Getúlio Vargas, Osvaldo Aranha, Góis Monteiro, Eurico Gaspar Dutra, Juarez Tavóra e José Américo de Almeida).13 O governo não contou com mudanças radicais e/ou revolucionárias, como fez pensar a princípio; na verdade, preconizou as questões políticas, de forma que a democracia e a anistia aos presos políticos ganharam destaque. Quanto ao primeiro14, três pontos foram buscados: inserir o voto secreto, erradicar as fraudes eleitorais e formular uma nova Constituição. No que tange ao segundo, a questão é ambígua, pois alguns presos políticos foram libertados, contudo, posteriormente, novas prisões foram realizadas15. Com a crise de 1929, o Brasil vê-se numa situação crítica. A exportação do café declina vertiginosamente, colocando em risco toda a economia nacional. Sem muitas opções, o governo opta por comprar as plantações cafeeiras e após a colheita queimar o produto. 11 CONCEIÇÃO, op. cit., p. 26-27. 12 SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. O Brasil de Getúlio Vargas e a formação dos blocos, 1930-1942: o processo de envolvimento brasileiro na II Guerra Mundial. São Paulo: Ed. Nacional; (Brasília): INL, Fundação Nacional Pró-Memória, 1985. p. 1. O governo Vargas é comumente dividido em três períodos: Governo Provisório (1930-1934); Governo Constitucionalista (1934-1937) e Estado Novo (1937-1945). Por estarmos tratando do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial nos ateremos ao último período e portanto, algumas de suas características devem ser pontuadas, como por exemplo, a intervenção estatal, o autoritarismo, o combate aos comunistas e a centralização do poder pelo Presidente. 13 Id., 1985. p. 27-35. 14 SEITENFUS, Ricardo. O Brasil vai à guerra: o processo do envolvimento brasileiro na Segunda Guerra Mundial. 3. ed. Barueri, SP: Manole, 2003. p. 1-5. 15 Ibid., p. 1-5..

(15) 14. Como registra Ricardo Seitenfus, “queimam-se assim, durante os dois últimos meses de 1929 e nos anos seguintes, quase cinco milhões de toneladas de café, o que representa três anos do consumo mundial.”16 A monocultura17 representa um grande risco à economia e o governo verifica que depender do estrangeiro para o suprimento de bens industriais não é uma boa ideia. A partir deste momento, “a implantação de um complexo siderúrgico tornou-se um dos elementos-chave do programa getulista, condicionando a atitude brasileira em relação à Alemanha e aos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.”18 Durante os anos 1930, o Brasil mantém relações comerciais com Alemanha, Itália e Estados Unidos. No quadro abaixo é possível verificar a evolução das importações brasileiras ao longo da década de 1930.. Quadro 1: Evolução do valor das importações brasileiras (1934-1938) País Alemanha Estados Unidos Itália. 1934. 1935. 1936. 1937. 1938. 3.569.309. 5.608.220. 7.065.065. 9.697.139. 8.975.651. 6.027.001. 6.406.277. 6.651.129. 9.336.999. 8.694.768. 884.091. 684.401. 531.210. 603.585. 645.932. Fonte: MRE, Boletim, n. 23, junho de 1939, p. 19 (valores expressos em libra-ouro). In: SEITENFUS, Ricardo. O Brasil vai à guerra: o processo do envolvimento brasileiro na Segunda Guerra Mundial. 3. ed. – Barueri, SP: Manole, 2003. p. 42.. A aproximação com a Alemanha verifica-se no meio político, policial, militar e diplomático,19 sendo resultante de acordos comerciais firmados, convergência de pensamentos quanto à luta anticomunista e o crescente nazi-germanismo no país. Já no quadro abaixo, observa-se o crescente desenvolvimento do comércio brasileiro com a Alemanha.. Quadro 2: Comércio brasileiro com a Alemanha (1933-1937) Ano. Exportação. Importação. Crescimento (%). 1933. 228.920. 262.887. 100. 1934. 453.579. 350.763. 163,55. 1935. 679.504. 799.732. 300,77. 16 SEITENFUS, Ricardo. op. cit., p. 09-10. 17 Data desse período a fuga da monocultura e portanto, a diversificação agrícola. Para tanto se têm o aumento na produção e exportação algodoeira. SEITENFUS, Ricardo. op. cit., p. 4. 18 SEITENFUS, Ricardo. op. cit. p. 04-05. 19 SEITENFUS, Ricardo. O Brasil vai à guerra: o processo do envolvimento brasileiro na Segunda Guerra Mundial. 3. ed. – Barueri, SP: Manole, 2003. p. 10-11..

(16) 15. 1936. 645.639. 1.002.597. 335,14. 1937. 871.741. 1.270.348. 435,55. Fonte: Ministério das Relações Exteriores, Boletim, n. 11, junho de 1940, p. 17 (em milhares de cruzeiros) In: SEITENFUS, Ricardo. op. cit., p. 21.. Esse estreitamento de laços faz surgir no governo dos Estados Unidos certa desconfiança e a necessidade de uma maior aproximação com o Brasil e os demais países latinos. O Presidente norte-americano, Franklin Roosevelt, estabelece a chamada política de boa vizinhança, que consiste na cooperação mútua dos países americanos, consistindo numa estratégia política, econômica e militar, que visa tanto ampliar os acordos comerciais, como barrar a influência europeia nas Américas20. Ao longo dos anos, o Presidente Getúlio Vargas é pressionado por ambos os lados e este buscará barganhar seu poder de influência na América do Sul em troca de financiamento para a construção da siderúrgica nacional, assim como rearmar o Exército brasileiro. Apesar da pressão política, Getúlio Vargas mostra-se reservado e segue não demonstrando seu posicionamento, tanto que quando “[...] visita Blumenau, importante centro de imigração alemã, ele enfatiza que o ‘Brasil não é inglês nem alemão. É um país soberano, que faz respeitar suas leis e defende seus interesses. O Brasil é brasileiro’.” 21 Em 1936, na Conferência de Buenos Aires, é apresentado o projeto de defesa continental, que consiste na recomendação de que o ataque a um Estado americano corresponde a um ato de agressão aos demais 22 . Nas reuniões que se seguiram, a recomendação foi ratificada. Vejamos: “A I Reunião de Consulta das Repúblicas Americanas foi realizada no Panamá, em 1939”23, sendo acordada na ocasião a neutralidade americana frente ao conflito europeu. Já na Conferência de Havana em 1940, foi determinado “que qualquer tentativa de um Estado não-americano contra a integridade ou inviolabilidade do território, soberania ou independência política de um Estado americano seria tomada como. 20. Para maiores informações, consultar SEITENFUS, Ricardo. O Brasil vai à guerra: o processo do envolvimento brasileiro na Segunda Guerra Mundial. 3. Ed. Barueri, SP: Manole, 2003 e Disponível em:<https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/RelacoesInternacionais/BoaVizinhanca> Acesso em: 22 jun. 2019. 21 SEITENFUS, Ricardo. O Brasil vai à guerra: o processo do envolvimento brasileiro na Segunda Guerra Mundial. 3. ed. – Barueri, SP: Manole, 2003, p. 207. Disponível em:<https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos3037/RelacoesInternacionais/BoaVizinhanca> Acesso em 22 de jun. de 2019. 22 SEITENFUS, Ricardo. op. cit., p. 187. 23 A ERA Vargas: dos anos 20 a 1945. CPDOC. Disponível em: <https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/RelacoesInternacionais/BoaVizinhanca> Acesso em: 22 jun. 2019..

(17) 16. uma agressão a todos os demais.”24 Em dezembro de 1941, a base americana de Pearl Harbor é atacada e os Estados Unidos entram na guerra. No ano seguinte, ocorre a III Reunião dos Chanceleres no Rio de Janeiro, e o governo norte-americano cobra o cumprimento dos acordos de solidariedade assinados anteriormente. Neste sentido, o Brasil manifesta apoio aos Estados Unidos, rompendo relações com o Eixo25. Contudo, este ameaça “caso o Brasil, ou qualquer outro Estado latino-americano, venha romper relações diplomáticas e comerciais com o Eixo, seguir-se-ia a eclosão da guerra efetiva.”26 A represália é certa. Entre os dias 15 e 19 de agosto de 1942, seis embarcações nacionais são torpedeadas em pleno mar territorial brasileiro 27 . Os navios Baependí, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba, Arará e a barcaça Jacira são afundados ao longo das costas sergipana e baiana28 e, a autoria dos ataques é atribuído à Alemanha29. Com o torpedeamento dos navios, vários corpos (entre eles homens, mulheres, crianças e idosos) boiaram e amontoaram-se nas praias, o que gerou terror e espanto na população, pois “652 brasileiros”30 morreram nos afundamentos dos mercantes. Em virtude de tal ataque ter se efetuado muito próximo da costa sergipana, corpos, além de pertences e destroços das embarcações torpedeadas, eram levados às praias, como a Praia do Saco e a de Atalaia por exemplo, pelas ondas. Muitos corpos já se encontravam em avançado estado de putrefação quando chegaram à “terra firme”, e os moradores próximos àquelas regiões presenciavam a tudo, sem saberem dá uma explicação para tal cena digna de um filme de terror. 31. 24. A ERA Vargas: dos anos 20 a 1945. CPDOC. Disponível em: <https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos3745/AGuerraNoBrasil/ConferenciasInteramericanas> Acesso em 22 de jun. de 2019. 25 BONET, Fernanda dos Santos. O discurso oficial brasileiro durante a II Guerra Mundial. Vestígios do passado: a história e suas fontes. ANPUH, Rio Grande do Sul, 2008. Disponível em: <http://eeh2008.anpuhrs.org.br/resources/content/anais/1209067969_ARQUIVO_OdiscursooficialbrasileiroduranteaIIGuerraMundial.p df> Acesso em: 5 abr. 2017.: 26 SEITENFUS, Ricardo. op. cit. p. 267. 27 Agressão - Documentário dos fatos que levaram o Brasil à Guerra. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943. 28 Ibid., p. 17-19. 29 No artigo intitulado Submarinos alemães ou norte-americanos nos malafogados de Sergipe (1942-1945)?, os autores evidenciam a desconfiança gerada quanto a autoria dos ataques aos navios nacionais. Uma parcela da população sergipana crê que os ataques se devem aos norte-americanos ou ingleses, para forçar a entrada do Brasil na guerra. A mentira alimentada configura dois pontos: o primeiro diz respeito à admiração que parte desses apoiadores tinham com relação à ideologia nazista e, negavam a todo custo que os alemães fossem capazes de tamanha barbárie e, o segundo corresponde aos opositores do governo varguista, que atacando a imagem carismática do Presidente, buscariam desestabilizar as bases do governo. CRUZ, Luíz Antônio Pinto e ARAS, Lina Maria Brandão de. Submarinos alemães ou norte-americanos nos malafogados de Sergipe (19421945)? Revista Navigator, 2013. Disponível em: <http://www.revistanavigator.com.br/navig17/dossie/N17_dossie5.pdf> Acesso em 04 de jun. de 2019. 30 Agressão - Documentário dos fatos que levaram o Brasil à Guerra. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943. 31 BARROS, Maria Luiza Pérola Dantas. Segunda Guerra, Cultura e Cotidiano: os torpedeamentos na costa brasileira em 1942 e o caso de Nelson de Rubina. Boletim Historiar, n. 16, jul./ago. 2016, p. 16-25..

(18) 17. A guerra marítima que teve como palco o litoral nordestino se mostrou terrível e devastadora. Frente aos ataques realizados, diversos grupos sociais se mobilizam em solidariedade aos náufragos. Assim, cobrando uma atitude imediata do governo, A destruição dos navios [...] põe em xeque as últimas resistências dos defensores da neutralidade. Vargas, até então mantido a uma certa distância dos acontecimentos, vê-se na obrigação de reagir. A 22 de agosto, o Gabinete se reúne e decide reconhecer a existência de um estado de beligerância com a Alemanha e Itália. Tal tomada de posição havia sido precedida, na véspera, de correspondência expedida pelo Itamaraty a Berlim e a Roma, em que o Brasil declara que, em virtude dos múltiplos ataques sofridos pelos navios mercantes e de passageiros brasileiros, existe “uma situação de beligerância, que somos forçados a reconhecer na defesa da nossa dignidade, da nossa soberania e da nossa segurança e a da América. A 31 de agosto, a beligerância se transforma em estado de guerra entre o Brasil, a Alemanha e a Itália.32. Após a declaração de guerra, outros navios nacionais foram afundados ao longo de sua costa 33 . Data desse período a perseguição aos estrangeiros alemães, italianos e japoneses. Sendo estes muitas vezes apontados enquanto supostos “traidores da Pátria” 34 e tendo por vezes suas casas ou lojas comerciais depredadas e suas famílias ameaçadas. A guerra faz surgir um medo coletivo, que por vezes eclode na fúria popular contra os estrangeiros35. No tópico a seguir falaremos acerca da Interventoria Góis Monteiro em Alagoas, fazendo uma breve retrospectiva quanto ao papel da família no Estado e de como a guerra é tratada pelo Interventor Federal Ismar de Góes Monteiro durante sua administração.. 1.2. INTERVENTORIA ALAGOANA: A CULTURA POLÍTICA FAMILIAR DOS GÓIS MONTEIRO. A família Góis Monteiro se instituiu em Alagoas em finais do século XIX, através da união matrimonial do médico sanitarista Pedro Aureliano Monteiro e de Constança Cavalcanti de Góis, filha de senhor de engenho (seu tio Joaquim Cavalcante, foi o fundador da cidade de São Luís do Quitunde36). Ele, portanto, pertencente a uma elite urbana e letrada, e ela a uma. 32 SEITENFUS, Ricardo. op. cit., p. 298-299. 33 CANSANÇÃO, Elza. E foi assim que a cobra fumou. Rio de Janeiro: Imago, 1987. p. 20. SANDER, Roberto. O Brasil na mira de Hitler: a história do afundamento de navios brasileiros pelos nazistas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. 34 Agressão - Documentário dos fatos que levaram o Brasil à Guerra. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943. 35 CRUZ, Luiz Antônio Pinto. “A guerra já chegou entre nós”! O cotidiano de Aracaju durante a guerra submarina (1942 – 1945). Dissertação (Mestrado em História). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2012. 36 Em 1870, Manoel Cavalcante, Senhor de Engenho, doa parte de suas terras a seu filho Joaquim Cavalcante. Este instala na localidade conhecida por Gavião um povoado. Em pouco mais de um ano, esse espaço conta com “98 casas, com 59 delas cobertas por telhas cerâmicas. Seus 900 habitantes contavam também com algumas.

(19) 18. aristocracia rural e açucareira. O casal teve nove filhos, sendo duas mulheres e sete homens. São eles: Pedro Aurélio de Góis Monteiro, Manuel César de Góis Monteiro, Cícero Augusto de Góis Monteiro, Durval de Góis Monteiro, Silvestre Péricles de Góis Monteiro, Edgar de Góis Monteiro, Ismar de Góis Monteiro, Rosa de Góis Monteiro e Conceição de Góis Monteiro37. A maioria dos filhos do casal teve formação militar e obteve destaque no meio político, tanto estadual como nacional. O exemplo mais nítido é do primogênito, Pedro Aurélio de Góis Monteiro, que ainda jovem ingressa no meio militar e teve papel importante na política nacional durante sua existência (participando desde a instalação de Vargas no poder, em 1930, assim como de sua deposição em 1945). Merece destaque dizer que “Em 1930, assumiu o comando militar do movimento revolucionário articulado para depor o presidente Washington Luís.”38 Em 1931, chega à patente de general e já em 1934 é nomeado por Vargas para Ministro da Guerra. Em 1937, assume a presidência do Clube Militar e o comando do Estado-Maior do Exército (EME). “Em 1939, foi enviado aos EUA em missão militar, que objetivava promover uma maior integração entre os dois países no momento em que se iniciava a Segunda Guerra Mundial.”39 Em 1945, reassume o Ministério da Guerra e em 1947 se elege senador por Alagoas pelo Partido Social Democrático (PSD): “Em 1950, recusou convite de Vargas para ocupar o posto de vice-presidente em sua chapa, na eleição presidencial daquele ano. Nesse mesmo ano, não conseguiu obter sua reeleição ao Senado.” Em 1952, é indicado chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA).. casas comerciais.” A nova povoação desenvolve-se nos entornos do engenho Quitunde, com a finalidade de “afastar a população existente nos arredores do engenho Castanho Grande.” Contratado por Joaquim Cavalcante, coube ao engenheiro alemão, Carlos Von Bolterstern, projetar o povoado. Surge, assim, a primeira povoação planejada em Alagoas, marcada pelo rápido desenvolvimento. Em 1878, “foi fundado o Comício Agrícola de Quitunde e Jetituba, sendo esta a primeira associação de agricultores criada no Brasil” e em 27 de março de 1893, inaugura-se uma estação telegráfica na vila. Em 23 de junho de 1879, o território eleva-se à categoria de vila e aos 16 de maio de 1892 erige-se à condição de cidade. A cidade foi denominada São Luís do Quitunde em homenagem a São Luís, rei da França. Enquanto “Quitunde é uma palavra de origem africana, que deu o nome a um peixe que vive nos rios da região. Uma derivação de “Condunda” ou “Condunde.” Disponível em: <https://www.historiadealagoas.com.br/sao-luiz-do-quitunde-a-primeira-cidade-projetada-de-alagoas.html> Acesso em: 23 abr. 2019. Disponível em: <https://saoluisdoquitunde.al.gov.br/historia> Acesso em: 23 abr. 2019. Disponível em: <https://www.historiadealagoas.com.br/familias-na-politica-alagoana-do-seculo-xx-iiigois-monteiro.html> Acesso em: 23 de abr. de 2019. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Volume 47, Maceió, 2009. p. 188-190. 37 FAMÍLIAS na política alagoana no século XX(III): Góis Monteiro. História de Alagoas. Disponível em: <https://www.historiadealagoas.com.br/familias-na-politica-alagoana-do-seculo-xx-iii-gois-monteiro.html> Acesso em: 23 abr. 2019. 38 GÓES Monteiro. CPDOC. Disponível em: <https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/biografias/goes_monteiro> Acesso em: 23 abr. 2019. 39 Id., 2019..

(20) 19. Em 1912, Manuel César de Góis Monteiro, o segundo filho do casal, forma-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia 40 : “Em fevereiro de 1913, ingressou por concurso no Corpo de Saúde do Exército, recebendo a patente de primeiro-tenente.” 41 Ao longo dos anos e devido à sua prestação de serviços públicos, obteve a patente de major. Ainda em 1935, é eleito senador em Alagoas e, em 1938, já na reserva de suas funções militares, segue carreira diplomática como ministro de segunda classe (sendo designado para a representação cumulativa do Brasil na Guatemala, São Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá, com sede na cidade da Guatemala).42 Pouco se encontrou acerca de Cícero Augusto de Góis Monteiro. Sabe-se, apenas, que este seguiu carreira militar (sendo integrante do 9º Regimento de Infantaria de Pelotas)43 e que foi morto durante a Revolução Constitucionalista de 1932, com os estilhaços de uma granada que explodira. Com relação a Durval, Rosa e Conceição de Góis Monteiro, muito pouco foi encontrado acerca destes ao longo da pesquisa. Evidenciam-se, portanto, algumas lacunas que permeiam a história alagoana e de seus personagens. Uma das poucas referências que aludem à vida de Durval de Góis Monteiro corresponde a logradouros espalhados pela capital alagoana que carregam o seu nome44. Já no caso das irmãs, verifica-se apenas uma rápida citação45. Silvestre Péricles de Góis Monteiro diplomou-se em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito do Recife e em ciências comerciais pela Academia de Comércio de Porto Alegre46. Político e poeta, foi uma figura marcante na história do Estado47. Em 1926, foi. 40. MANUEL César de Góis Monteiro. FGV. Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/monteiro-manuel-cesar-de-gois-1> Acesso em: 10 mai. 2019. 41 Id., 2019. 42 MANUEL César de Góis Monteiro. FGV. Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/monteiro-manuel-cesar-de-gois-1> Acesso em: 10 mai. 2019. 43 CÍCERO Augusto de Góis Monteiro. Wikipédia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%ADcero_Augusto_de_G%C3%B3es_Monteiro> Acesso em: 10 mai. 2019. Ver também, Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Volume 47, Maceió, 2009. p. 188190. 44 ENDEREÇO. Buscacep. Disponível em: <http://www.buscacep.correios.com.br/sistemas/buscacep/resultadoBuscaCepEndereco.cfm?t> Acesso em: 10 mai. 2019. 45 FAMÍLIAS na política alagoana no século XX(III): Góis Monteiro. História de Alagoas Disponível em: <https://www.historiadealagoas.com.br/familias-na-politica-alagoana-do-seculo-xx-iii-gois-monteiro.html> Acesso em: 23 abr. 2019. 46 SILVESTRE Péricles de Góis Monteiro. FGV. Disponível em: <http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/dicionarios/verbete-biografico/monteiro-silvestre-pericles-de-gois> Acesso em: 12 mai. 2019. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Volume 47, Maceió, 2009. p. 187-195 e p. 244-245..

(21) 20. nomeado auditor de Guerra (o primeiro no Brasil) e, em 1945, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte por Alagoas 48 . Em 1947, lança-se candidato pelo PSD (Partido Social Democrático) para disputar o governo do Estado e elege-se. Sua estada no governo é marcada por disputas políticas, perseguições49, intrigas e mortes50. O episódio de Mata Grande, com quatro mortes e vários feridos, inclusive o Senador Ismar de Goes Monteiro, converteu-se, de momento, em acontecimento que agitou a opinião pública nacional, com extraordinários reflexos na grande imprensa brasileira, por ter sido o único caso em todo o Brasil, durante o pleito eleitoral de 3 de outubro de 1950, com derramamento de sangue e assassinatos. Só em Alagoas, só em Mata Grande houve morticínios e tragédia, enlutando lares, dividindo famílias, numa incompreensível luta de caciquismo, desde há muito condenada, ultrapassada, no regime popular.51 O problema da violência política em Alagoas leva-nos a refletir sobre um dos aspectos mais antigos e de contundente atualidade: o modo de se fazer política em vastas áreas do interior do Brasil em total descompromisso com os direitos individuais e de cidadania. É um capítulo da sociologia da violência, pondo-a num estilo chocante das relações de poder, da prática política e da herança cultural. O que acontece não é a simples disputa partidária, mas o impacto sangrento entre clãs familiares que se entredevoram para manter a hegemonia nas áreas que dominam.52. Constata-se, portanto, que sua carreira política é assinalada por fortes acontecimentos e que, por vezes, o privado se sobrepõe ao público53.. Para Luiz Nogueira Barros, Silvestre Pericles é “um enigma mal decifrado, sendo temido e odiado por uns e lembrado e admirado por outros.” Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Volume 47, Maceió, 2009. p. 188-190 e LIMA, Mario de Carvalho. Sururu Apimentado. Apontamentos para a história política de Alagoas. Maceió, EDUFAL, 1979. 48 SILVESTRE Péricles de Góis Monteiro. FGV. Disponível em: <http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/dicionarios/verbete-biografico/monteiro-silvestre-pericles-de-gois> Acesso em: 12 mai. 2019. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Volume 47, Maceió, 2009. p. 244-245. 49 “Infelizmente, foi bem efêmero o período de harmonia e sossêgo no nosso campo político. Silvestre não escondia o seu firme propósito de luta sem quartel aos comunistas, e em constantes declarações a respeito do assunto, juntou também aos comunistas, os deputados da U.D.N., que lhe faziam oposição. Anunciou mesmo estar organizando um exército alagoano anti-comunista para o que der e vier.” LIMA, Mario de Carvalho. Sururu Apimentado. Apontamentos para a história política de Alagoas. Maceió, EDUFAL, 1979, p. 45. 50 Os casos mais notáveis referem-se à morte de João Cardoso, pai do deputado Oséas Cardoso e das mortes na tragédia de Mata Grande. TENÓRIO, Douglas Apratto. A tragédia do populismo: o impeachment de Muniz Falcão. 2. ed – Maceió: EDUFAL, 2007, p. 104-105. LIMA, Mario de Carvalho. Sururu Apimentado. Apontamentos para a história política de Alagoas. Maceió, EDUFAL, 1979, p. 231. 51 LIMA, Mario de Carvalho. Sururu Apimentado. Apontamentos para a história política de Alagoas. Maceió, EDUFAL, 1979. 52 TENÓRIO, Douglas Apratto. A tragédia do populismo: o impeachment de Muniz Falcão. 2. ed – Maceió: EDUFAL, 2007, p. 85. 53 Na obra Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda realiza uma análise acerca da formação do Brasil e do brasileiro e suas heranças ibéricas. Para José Carlos Reis a obra é erudita, conceitual, documental, interpretativa, artística. Neste sentido, o autor utiliza da psicologia para compreender a formação do país, apontando para a plasticidade do português, assim como para o neoportuguês, que é regido pelos sentimentos e não pela razão. Ao trazer o conceito de homem cordial, o autor aponta para o vínculo sentimental do homem, que poderá ser amável 47.

(22) 21. Edgar de Góis Monteiro iniciou sua carreira política em 1933 como prefeito do município de União dos Palmares/AL e, em 1934, torna-se prefeito de Maceió54. Ao longo de sua vida, exerceu diversos cargos públicos (Chefe de Polícia, Secretário do Interior de Alagoas, Interventor federal, Diretor do Banco de Crédito Real de Minas Gerais). Em 1945, sucede a seu irmão Ismar de Góis Monteiro na interventoria alagoana 55. No ano seguinte, deixa a mesma para assumir a diretoria do Banco Mineiro e, em 1948, assume a presidência do Instituto do Álcool e Açúcar (IAA). Ao longo dos anos 1930, o Governo Provisório de Getúlio Vargas buscou fortalecer o mercado interno nacional. Para tal, uma costura política e econômica era necessária. Com a Revolução de 1932, e sob os preceitos de uma nova política, o Estado passou a atuar fortemente, buscando centralizar o poder na esfera federal. Na região Nordeste, o governo passou a incentivar a produção do açúcar e do cacau, por exemplo, e seus líderes regionais viam na ação do Estado uma possível ascensão política56. [...] o alinhamento dos setores produtivos do Nordeste, através dos Institutos e de políticas de fomento aos produtos nordestinos, levou as elites políticas locais para as bases políticas de Getúlio Vargas de modo quase inconteste, graças à posse dos revolucionários do aparato estatal com as interventorias e ao seu desprendimento relativo do jogo de favores dos grupos oligárquicos locais.57. Data desse período o aumento populacional nas capitais e nos centros urbanos nordestinos58. Entre os anos 1931-1935, os Interventores nordestinos eram em sua maioria militares, sendo que:. ao mesmo que violento, hostil. Esse homem cordial invade o espaço público, no qual este deveria ser impessoal, burocrático, efetivo tornando-se na verdade uma extensão do espaço privado, familiar. Através da sociologia compreensiva de Weber, Sérgio Buarque de Holanda verifica esses fatores da identidade do homem cordial, relacionando-a com o seu espaço, uma vez que aponta para uma sociedade rural, patriarcal e de cunho religioso, ora o autor não faz generalizações, mas analisa as singularidades da colonização e suas marcas, estas para ele devem ser superadas. Para o autor faz-se necessário ter uma redescoberta da identidade/formação nacional e para esta acontecer é preciso romper com as raízes ibéricas, neste sentido aponta para uma revolução gradual. Sérgio Buarque de Holanda não estipula datas ou mesmo quem seriam efetivamente os sujeitos responsáveis pelas mudanças. Sua obra busca lançar questionamentos, mas nem sempre traz respostas. Para uma melhor compreensão ler: HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 1995. LIMA, Mario de Carvalho. Sururu Apimentado. Apontamentos para a história política de Alagoas. Maceió, EDUFAL, 1979. REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999. 54 EDGAR de Góis Monteiro. FGV. Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbetebiografico/monteiro-edgar-de-gois> Acesso em 12 de maio de 2019. 55 Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Volume 47, Maceió, 2009, p. 243. 56 NETO, Martinho Guedes dos Santos. Nos domínios da política estatal: O poder desterritorializado e as bases de sustentação política de Getúlio Vargas (1930-1934). Tese de Doutorado em História. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2014, p. 147-174. 57 Ibid., p. 164. 58 Ibid., p. 150..

(23) 22. [...] estando organizadas em uma linha militarizada, as interventorias se constituíram lócus de uma ação centralista e de alinhamento bem definido para o poder de Getúlio Vargas. A recondução da administração estatal foi, portanto, um eixo de ajustamento entre o Nordeste e o poder central. Militarmente organizado e tendo suas reivindicações diretamente apresentadas ao Chefe do Governo Provisório, o Nordeste assumiu uma posição de destaque, na medida em que os aparatos estaduais foram transformados pelos interventores. Essa foi uma atuação percebida em todas as interventorias por causa das inúmeras ações cujos fins promoveram uma completa centralização e estatização de todos os setores administrativos nos estados59.. Já Ismar de Góis Monteiro possui formação militar e obteve a patente de General de Brigada60. Assim como seus irmãos, possui amplo legado na política estadual e, aos 19 de fevereiro de 1941, é nomeado pelo presidente Vargas para o cargo de Interventor Federal de Alagoas61. Segue abaixo seu pronunciamento ao assumir o cargo: Não tenho muito o que dizer, porque tenho muito mais o que fazer. Já não é mais o tempo dos programas pomposos e falsos, dos homens cheios de si, de promessas nunca cumpridas. O programa do Estado Nacional, somente êle, atende às solicitações das realidades brasileiras. É preciso que Alagoas se integre definitivamente no Novo Regime. É preciso que o seu engrandecimento e a sua prosperidade sejam o fruto do trabalho de todos os homens capazes e honestos.62. Verifica-se a busca de integração de Alagoas perante o plano nacional do Estado Novo e de como será a atuação do interventor. Suas medidas de governo baseiam-se em práticas efetivas para combater os altos índices de violência, repressão ao porte de armas 63 , organização dos setores de trabalho, preocupação com o menor abandonado, criação da granja Conceição (objetivando baixar os preços dos víveres alimentícios), assim como o combate aos quinta-coluna 64 . Além da contratação de pessoal especializado de fora do estado para lhe. 59. Ibid., p. 189-190. ISMAR de Góis Monteiro. FGV. Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbetebiografico/monteiro-ismar-de-gois> Acesso em 13 de maio de 2019. 61 Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Volume 47, Maceió, 2009, p. 242-243. 62 Ordem e Trabalho: Síntese das realizações do governo Ismar de Góes Monteiro (1941-1943). Divulgação n. 1 – Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda. Maceió – 1943. 63 “No intuito de colocar Alagoas em perfeita ordem, a Secretaria do Interior promoveu a campanha do desarmamento em todo o Estado, sem exceção, apreendendo, em apenas quatro meses, nada menos de 18.587 armas.” Ordem e Trabalho: Síntese das realizações do governo Ismar de Góes Monteiro (1941-1943). Divulgação n. 1. Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda. Maceió, 1943, p. 9. 64 “A ameaça do ‘inimigo interno’ nasceu na Espanha, no tempo da Guerra Civil (1936-1939), atribuída aos simpatizantes do general Franco que residiam no interior da cidade de Madri. Em direção a ela, marchavam ‘quatro colunas’, alimentando a expectativa de um intenso confronto dentro da capital hispânica. No entanto, as tropas fascistas tinham uma arma secreta contra seus opositores: os madrilenos que os apoiavam como ‘quintacoluna’.” CRUZ, Luiz Antônio Pinto. “A guerra já chegou entre nós!”: o cotidiano de Aracaju durante a guerra submarina (1942/1945). Dissertação (Mestrado em História). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2012, p. 116. 60.

(24) 23. auxiliar. Para Douglas Apratto Tenório, a escolha do Interventor alagoano foi bem planejada e assertiva: O irmão mais novo dos Góis Monteiro, Ismar, foi escolhido interventor em 1941, por estar longe dos acontecimentos e ter bom relacionamento com os dois grupos litigantes. Sua meta principal era esfriar o tórrido clima político e combater, sem tréguas, a violência. Para atingir esse objetivo administrativo, trouxe alguns auxiliares de fora, inclusive Muniz Falcão, para aplicar a legislação trabalhista tão repudiada pelos poderosos e para assumir a Secretaria do Interior e Segurança Pública, Ari Boto Pitombo, delegado de polícia do Rio de Janeiro, que reduziu a violência a níveis normais, acabando, como fizera Costa Rego, com a impunidade e os privilégios, fonte do quisto maligno. 65. Ainda durante sua administração, Ficaram célebres suas constantes blitzen nas quais eram tomadas milhares de facas peixeiras, revólveres, rifles e punhais, desestimulando, com prisão, os infratores. Pitombo agiu com dureza contra os criminosos, e para combater os constantes boatos que se espalhavam todos os dias pela cidade, visando à autoridade do interventor, criou a Galeria dos Boateiros, no centro de Maceió, onde se imaginava ficar a central de boatos, próximo ao Bar Colombo e ao Diário Oficial. Os boateiros, apanhados com a mão na massa, eram presos; tinham suas cabeças raspadas e suas fotos emolduradas na Galeria, para curiosidade e delírio dos passantes da rua principal do comércio maceioense.66. Por se situar num período de guerra, medidas cautelares são necessárias para manter a segurança do Estado. A título de exemplo, tem-se a criação do Serviço de Estatística Militar pelo decreto-lei n. 2.748, de 22 de abril de 1942, que tem “como atribuições a realização de pesquisas e elaborações estatísticas no campo das atividades civis que interessarem ou estiverem vinculadas à Defesa Nacional”. 67. ; tendo como um de seus objetivos, o. “levantamento de estoque de material bélico para fins de requisição militar.”68 Em relação ao porto, este foi alvo de cuidados, uma vez que nele desembarcavam pessoas e mercadorias, ao passo que havia uma crise de transportes decorrente da guerra69. Com a circulação de soldados norte-americanos70 no litoral, o governo busca conter o risco de propagação de doenças venéreas71. Cabendo, pois, à administração estadual cuidar dos civis.. 65 TENÓRIO, Douglas Apratto. A tragédia do populismo: o impeachment de Muniz Falcão. 2. ed. Maceió: EDUFAL, 2007, p. 103. 66 Id., 2007, p. 103. 67 Relatório do Interventor de Alagoas Ismar de Góes Monteiro de 1942. p. 25. (Fonte: IHGAL) 68 Relatório do Interventor de Alagoas Ismar de Góes Monteiro de 1942. p. 26. (Fonte: IHGAL) 69 CONCEICAO, Sérgio Lima. Em guerra que cobra fuma, alagoano é convocado. (Dissertação de Mestrado em História) Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 2015. 70 SEITENFUS, Ricardo. O Brasil vai à guerra: o processo do envolvimento brasileiro na Segunda Guerra Mundial. 3. ed. – Barueri, SP: Manole, 2003. p. 281. 71 Ordem e Trabalho: Síntese das realizações do govêrno Ismar de Góes Monteiro (1941-1943). Divulgação n. 1 – Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda. Maceió – 1943. p. 14-15..

(25) 24. A tensão da guerra nos leva a verificar diversas situações cotidianas sendo alteradas. Para tanto, as populações litorâneas sofrem com o constante medo de invasões inimigas e consequentemente cria-se um receio do mar, afinal, este é um amigo ou inimigo disfarçado72? O consumo das famílias é radicalmente alterado, por vezes, faltam-se diversos gêneros de primeira necessidade, como pão, feijão, açúcar e carne verde 73 ; assim como peças de vestuário (sapatos), faltam também gasolina e empregadas domésticas.74. Imagem 1: A mobilização de Alagoas frente à guerra.. Fonte: Como Alagoas vem contribuindo para o esforço de guerra do Brasil. Jornal de Alagoas – Domingo, 22 de agosto de 1943. Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL).. Os estrangeiros dos países do Eixo passam a ser vigiados de perto e se cria um clima hostil para com estes (em especial os alemães). Tanto que, para viajarem pelo país, obrigatoriamente deveriam apresentar o salvo-conduto e o renovar a cada viagem.75 O combate aos “quinta-colunas” e aos inimigos do regime vem sendo feito com muita energia por parte das autoridades alagoanas. Basta acentuar que. CRUZ, Luiz Antônio Pinto. “A guerra já chegou entre nós!”: o cotidiano de Aracaju durante a guerra submarina (1942/1945). Dissertação (Mestrado em História). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2012. 73 CYTRYNOWICZ, Roney. Guerra sem Guerra: a mobilização e o cotidiano em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial. 2. ed. São Paulo: Geração Editorial, 2002; e MOUTINHO, Augusto Cesar Machado. A Bahia na Guerra: o medo e a sobrevivência em Morro de São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial. Dissertação (Mestrado em História). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2002. 74 CYTRYNOWICZ, Roney. Guerra sem Guerra: a mobilização e o cotidiano em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial. 2. ed. São Paulo: Geração Editorial, 2002. 75 Id., 2002, p. 137. 72.

(26) 25. Alagoas foi o primeiro Estado do Brasil a empregar súditos dos países do Eixo em trabalhos forçados, logo após o afundamento dos nossos navios. Foram, ainda, promovidas pela Secretaria do Interior, e realizadas por todo o interior do Estado, conferências sôbre sabotagem, afim de prevenir as populações contra as atividades solertes dos agentes totalitários. Por tudo isso, Alagoas desfruta, hoje, uma situação privilegiada, graças à ação enérgica e decisiva da Secretaria do Interior, contra os inimigos da lei e da sociedade. 76. Na historiografia alagoana existem lacunas em torno de contributos sobre a presença alemã, italiana e japonesa neste período. Vale ressaltar que os relatórios produzidos e enviados ao Presidente tinham como objetivo mostrar que Alagoas estava engajada na guerra e o Interventor faria o que fosse necessário para alcançar este objetivo. A seguir, abordaremos a cobertura da guerra através dos jornais da capital alagoana e discorreremos sobre como o documento-jornal ainda é visto com receio pelos historiadores do período estado-novista.. 2. O COTIDIANO DE MACEIÓ NA GUERRA. Nesse capítulo, será abordado as transformações sociais, ocorridas na capital ao. decorrer da Segunda Guerra Mundial. Festas populares, como o carnaval passam por alterações, assim como medidas de segurança passam a fazer parte do cotidiano local. O afundamento do navio Itapagé, faz reacender a tensão social e a vigilância sobre os imigrantes. Também será abordado o processo de convocação de alagoanos para a composição da Força Expedicionária Brasileira (FEB).. 2.1. A GUERRA E A COBERTURA NOS JORNAIS DA CAPITAL. Por muito tempo o jornal foi visto com desconfiança pelos historiadores, de modo que sua utilização enquanto fonte histórica não era bem vista, pois implicaria parcialidade quanto ao assunto pesquisado. Como assinala Maria Helena Rolim Capelato (1988, p. 21), “Até a primeira metade deste século, os historiadores brasileiros assumiam duas posturas distintas com relação ao documento-jornal: o desprezo por considerá-lo fonte suspeita, ou o enaltecimento por encará-lo como repositório da verdade.” No entanto, é preciso mais, pois. 76. Ordem e Trabalho: Síntese das realizações do governo Ismar de Góes Monteiro (1941-1943). Divulgação n. 1 – Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda. Maceió – 1943. p. 10..

(27) 26. como Marc Bloch77 nos induz é preciso compreender o contexto social dos acontecimentos, afinal, “o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça.”78 Ao longo de 1943, os jornais alagoanos, em especial o Jornal de Alagoas e a Gazeta de Alagoas, trazem em suas manchetes notícias diversas sobre a guerra, desde notícias que acompanham o desenrolar da guerra na Europa (libertação de territórios invadidos, bombardeios aéreos, sátiras ao governante nazista), como questões de cunho nacional, por exemplo, a defesa nacional, a Batalha da Produção, o bônus de guerra, o incentivo à extração de borracha e plantação da mangabeira em Alagoas, o papel das mulheres diante da guerra, os encontros políticos do Interventor alagoano com o Presidente, a vigilância em torno dos estrangeiros, o blackout na capital, o perigo dos submarinos, o carnaval, o torpedeamento de navios e a convocação para a FEB. Mesmo verificando que as publicações se davam mediante autorização do governo, através do DIP 79 (Departamento de Imprensa e Propaganda), é preciso examinar os documentos. Afinal o país está em guerra e seus cidadãos buscam informações acerca do conflito. De acordo com Capelato (1988, p. 21), “O jornal não é um transmissor imparcial e neutro dos acontecimentos e tampouco uma fonte desprezível porque permeada pela subjetividade.”80 Neste sentido, mesmo sendo uma produção dentro do molde governamental estadonovista, o jornal traz em suas entrelinhas diversas informações quanto ao cotidiano da guerra. Um ponto a ser destacado, é justamente a necessidade do governo em defender a entrada do país na guerra, mesmo este não tendo condições econômicas, militares, sociais e psicológicas para isso81. No próximo tópico trataremos dos blackouts e de como estes foram sentidos pela população brasileira, verificando-se que diversas capitais nordestinas utilizaram a prática como medida preventiva.. 77. O historiador francês descontrói a ideia da História como sendo uma ciência que estuda o passado. Para ele, o principal objeto de estudo da História é o homem e suas ações no tempo. Para uma melhor compreensão, ler BLOCH, Marc. Apologia da História, ou O ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. 78 Id., 2002, p. 54. 79 O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) foi um órgão oficial do governo Varguista, criado em 1939, a fim de controlar/estabelecer o que deveria ou não ser publicado. Este contava com sedes espalhadas por cada Estado brasileiro, os chamados DEIP – Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda, o que corroborava para seu monopólio. 80 CAPELATO, Maria Helena Rolim. A imprensa na história do Brasil. São Paulo: Contexto/ EDUSP, 1988. p.21. 81 FERRAZ, Francisco César Alves. A guerra que não acabou: a reintegração social dos veteranos da Força Expedicionária Brasileira (1945-2000). Londrina: Eduel, 2012. p. 55-56..

(28) 27. 2.2. MACEIÓ SEM LUZ: O BLACKOUT COMO EFEITO DA GUERRA. A nota de jornal abaixo corresponde aos reflexos da guerra no cotidiano da capital alagoana, no decorrer da Segunda Guerra Mundial e de como os órgãos de segurança pública deveriam atuar em determinadas situações. Durante duas horas, Maceió esteve sob rigoros <<black-out>> A’s 20 horas de ontem, toda Maceió ficou em “black-out”. 19 sirenes, colocadas em diferentes pontos da capital, deram o sinal de “perigo”. Imediatamente, foram mobilizados os serviços da Diretoria Regional de Defesa Civil Anti-Aérea que se distribuiram no centro da cidade e pelos bairros, de acordo com as instruções para os casos dessa natureza. Patrulhas do 20º B. C., do 22º B. C., do II 4º RAM, do NPOR, da Força Policial e da Guarda Civil começaram, então, a percorrer as ruas executando as ordens recebidas das autoridades responsáveis pela nossa segurança contra bombardeios.82. Vale assinalar que a matéria jornalística aponta para um treinamento, de modo que o perigo, nesse caso, é simulado. Contudo, os moradores devem entendê-lo como real e efetivo, buscando proteção e abrigo o mais rápido possível. Assim assinala o Jornal de Alagoas, em publicação do dia 19 de junho de 1943: Merece registro especial o comportamento da população durante todo o “black-out”. Nas casas de residencia, as familias obedeceram rigorosamente ás instruções, e os que se achavam nas ruas procuraram, incontinenti, abrigar-se nos lugares mais próximos, deitando-se de bruços como se estivessem em verdade sob o fogo da aviação inimiga. Um ou outro é que foram chamados á atenção, logo assumindo a conduta devida.83. Ao longo da guerra, os blackouts tornaram-se comuns, tanto que diversas regiões brasileiras aderiram ao treinamento defensivo, como maneira de se certificar que os cidadãos estavam preparados, caso uma invasão inimiga se consolidasse. Imagem 2: Blackout em Maceió.. 82. Durante duas horas, Maceió esteve sob rigoroso black-out. Jornal de Alagoas. Maceió, Sábado, 19 de junho de 1943 (Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas). O treinamento é tido pela Polícia local como logrado de grande êxito, contando apenas com uma alteração: “A única alteração que temos a assinalar é a atitude do dr. Eduardo Paranhos, residente em Mangabeiras, não querendo, quando solicitado a procurar abrigar-se, nas imediações da praça Sinimbú, atender ao que lhe pediam as autoridades. Em vista disso, o dr. Eduardo Paranhos foi detido na Delegacia, sendo posto em liberdade após o exercício.” Durante duas horas, Maceió esteve sob rigoros black-out. Jornal de Alagoas – Maceió, Sábado, 19 de junho de 1943 (Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas). 83.

(29) 28. Fonte: Durante duas horas, Maceió esteve sob rigoroso black-out. Jornal de Alagoas. Maceió, Sábado, 19 de junho de 1943. Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL).. Em alguns lugares, passou-se do treinamento eventual para uma medida efetiva e corriqueira. 84 Os torpedeamentos de mercantes nacionais, em 1942, no mar territorial brasileiro, fizeram surgir nas populações litorâneas um medo que advinha do mar, afinal, este é imprevisível e incontrolável. Imagem 3: Navios brasileiros torpedeados durante a Segunda Guerra Mundial.. Fonte: CANSANÇÃO, Elza. E foi assim que a cobra fumou. Rio de Janeiro: Imago, 1987. p. 20.. 84. FILHO, Camões. O canto do vento: a história de prisioneiros alemães nos campos de concentração brasileiros. São Paulo: Scritta, 1995. p. 57. MOUTINHO, Augusto Cesar Machado. A Bahia na Guerra: o medo e a sobrevivência em Morro de São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial. Dissertação (Mestrado em História). Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2002. p. 142..

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