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A procura pelas ervas: um estudo sobre as representações que incidem sobre o corpo, a doença e a cura entre os erveiros.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

PRÓ-REITORIA PARA ASSUNTOS DO INTERIOR

CENTRO DE HUMANIDADES

MESTRADO EM SOCIOLOGIA RURAL

A PROCURA PELAS ERVAS-.

\Jm estuco sobre 3s representações que incidem sobre o corpo,

3 4oenç3 e 3 cur3 entre os erveiros.

XÊNIA FERNANDES HILUEY

Campina Grande

1999

(2)

A Procura pelas Ervas:

Um estudo sobre as representações que incidem sobre o

corpo, a doença e a cura entre os erveiros.

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Sociologia da

Universidade Federal da Paraíba, em

cumprimento às i exigências para

obtenção do grau de mestre.

Orientadora: Maria Cristina de Melo Marin

* 1 1 >

Campina Grande

1999

(3)

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Catalográfica

H 641p c

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Hiluey. Xênia Fernandes 1960

-A Procura pelas Ervas: um estudo sobre as representações que incidem sobre o corpo, a doença e a cura entre os erveiros. Campina Grande: UFPB, 1999. 112p

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Dissertação (Mestrado) - UFPB

1. Antropologia cultural. 2. Representação social 3. Corpo 4. Doença 5. Cura

(4)

A Procura pelas Ervas: U m estudo sobre a s representações que incidem sobre o corpo, a d o e n ç a e a cura entre os erveiros.

Dissertação apresentada em: / /

C o m i s s ã o examinadora:

Profa. Maria Cristina de Melo Marin Orientadora

Profa. Dra. Maria Aparecida de Morais Silva Examinadora

Profa. Dra. Marilda Aparecida de M e n e z e s Examinadora

Profa. Dra. Maristela Oliveira de Andrade Examinadora

C a m p i n a Grande 1999

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A PROCURA PELAS ERVAS:

Um estudo sobre as representações que incidem sobre o

- corpo, a doença e a cura entre os erveiros

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A mistura matutina Receita popular

Jurubcba é para o fígado O mastruz limpa o pulmão

Chá de alface c calmante Efaz bem pro coração

Para a febre o sabugueiro Prisão de ventre o mamão

O alho è para a gripe Misturado com limão

.\ fel de abelha é pra garganta L nido ao agrião Beterraba serenada Diminui a secreção

Quixaba e urtiga branca ('uram males uterinos Chá do olho da goiaba E bom para o intestino

I assourinha de botão

A casca de jatobá Semente de gergelim Malva rosa e alecrim Capim santo, ena cidreira

Caluaba, espirradeira i m bocadinho tomar Com paciência esperar Que o bom Deus vai ajudar

Sua doença curar "

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Dedico este trabalho aos meus filhos: L i z . Eduardo. Jade e Sofia Razão do meu afeto mais puro.

A memória do meu pai Walber Stepple Hiluey. que me ensinou que a morte é apenas uma passagem, não um fato consumado.

A minha irmã Carla Hiluey. cuja sensibilidade e capacidade a \ ida não conseguiu suplantar.

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A g r a d e ç o sinceramente a M a r i a C r i s t i n a de Melo M a r i n , a m i g a e o r i e n t a d o r a desta d i s s e r t a ç ã o , a q u e m devo o e n s i n a m e n t o de percorrer o c a m i n h o do c o n h e c i m e n t o , u s a n d o as p r ó p r i a s pernas.

M i n h a t a m b é m sincera g r a t i d ã o aos colegas do Mestrado c m Sociologia, pelo c o m p a n h e i r i s m o : C o n c e i ç ã o , L u c i r a , M ô n i c a , C é l i a , C h a r l i n h o s , Cidoval, Luiz H e n r i q u e , E m m a n u e l , R o s á r i o , Kalina e Nerize. A amizade de v o c ê s sempre me fez mais feliz do que n a t u r a l m e n t e s o u .

Aos f u n c i o n á r i o s do Mestrado e m Sociologia: J o ã o z i n h o , V e r i n h a e R i n a l d o . Sou c a r i n h o s a m e n t e grata pela r e c e p ç ã o sempre calorosa a m i m dedicada.

Sou especialmente grata a m i n h a m ã e , D o n a Marlene, cujo apoio e generosidade de m ã e me e s t i m u l a r a m a prosseguir neste grande projeto, que é a v i d a .

Gostaria a i n d a de expressar m i n h a p r o f u n d a g r a t i d ã o aos professores: U b i r a c y Braga, que c o m d e d i c a ç ã o e generosidade e n c a m i n h o u -me p a r a fontes b i b l i o g r á f i c a s , forneceu--me livros e l e u a p r i m e i r a v e r s ã o ; a M a r i a A p a r e c i d a M o r a i s , cuja sensibilidade i n t e l e c t u a l i l u m i n o u m e u e n t e n d i m e n t o , ensinando-me c o m toques essenciais e m á g i c o s que t u d o pode ser apenas u m a q u e s t ã o de " u m g r a m p o desprendido do papel". E l a sabe do que estou falando. Obrigada!

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Quero a i n d a expressar m e u agradecimento a Jorge, m e u c o m p a n h e i r o n a v i d a , n ã o apenas pela l e i t u r a dos m a n u s c r i t o s , ma s p r i n c i p a l m e n t e pela p a c i ê n c i a , generosidade e c a r i n h o dedicados i n c o n d i c i o n a l m e n t e a m i m nas difíceis horas da e x e c u ç ã o deste t r a b a l h o .

T a m b é m n ã o poderia deixar de expressar m e u s agradecimentos à C o o r d e n a ç ã o de A p e r f e i ç o a m e n t o do Pessoal do E n s i n o S u p e r i o r (CAPES) pela c o n c e s s ã o d a bolsa de estudo que me p r o p o r c i o n o u , por a l g u m t e m p o , c o n d i ç õ e s que p o s s i b i l i t a r a m a r e a l i z a ç ã o deste t r a b a l h o .

F i n a l m e n t e , m a s n ã o por ú l t i m o , a g r a d e ç o p r o f u n d a m e n t e aos erveiros (vendedores de ervas medicinais e agentes mediadores de cura) pelas s á b i a s i n f o r m a ç õ e s , cujo c o n t e ú d o rico de beleza e n c a n t o u m i n h a sensibilidade n a c o m p o s i ç ã o deste estudo.

Portanto, devo acrescentar que este t r a b a l h o é u m a c r i a ç ã o coletiva, s e n ã o nas ideias, pelas quais a s s u m o a t o t a l responsabilidade, pelo menos u m a c r i a ç ã o coletiva de c a r i n h o , que u n e todos n ó s , pessoas que m e n c i o n e i a q u i . O u t r o s que n ã o citei e s t ã o g u a r d a d o s no fundo do m e u c o r a ç ã o e se sabem m e u s amigos, por isso mesmo p e r d o a m m i n h a falha de m e m ó r i a .

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R E S U M O R E S U M E

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I - E R V A S E CRENÇAS: A TRAJETÓRIA DE UM ^ S A B E R - F A Z E R " NUMA C I D A D E NORDESTINA

1. A P R E N D E N D O A L I D A R C O M AS E R V A S

2. R E C O N H E C E N D O OS E R V E I R O S NAS PRÁTICAS P O P U L A R E S DE CURA

3. A T E R R I T O R I A L I D A D E DA PESQUISA

CAPÍTULO II - A DOENÇA

1. A DOENÇA: NOS MOLDES DAS MEDICINAS CIENTÍFICA E POPULAR

2. UM M O D E L O PARA COMPREENSÃO DA REPRESENTAÇÃO DA DOENÇA

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L A EXPERIÊNCIA DO C O R P O INSTITUI O S E N T I D O DA DOENÇA E DA C U R A 62

2. AS E R V A S E AS E S Q U I S I T I C E S DO C O R P O FEMININO 69

3. OS ESPAÇOS DO C O R P O : O VISÍVEL E O INVISÍVEL, O PROFANO E O

S A G R A D O 73 CAPÍTULO IV - A CURA 1. NO ESPAÇO DA C U R A : ESTRATÉGIAS E P O S S I B I L I D A D E S 77 CONSIDERAÇÕES FINAIS 96 B I B L I O G R A F I A 101 A N E X O S 108

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ervas m e d i c i n a i s ao m e s m o tempo agentes mediadores da c u r a . Estes s i t u a d o s n a l ó g i c a d a c h a m a d a m e d i c i n a p o p u l a r e s i g n i f i c a t i v a m e n t e inseridos no c o n t e x t o d a c u l t u r a p o p u l a r b r a s i l e i r a .

Para este e m p r e e n d i m e n t o científico realizou-se pesquisa de c a m p o , que se desenvolveu entre os meses de agosto e setembro de 1997, e m dois locais d i s t i n t o s : Feira C e n t r a l e Centro C o m e r c i a l , a m b o s localizados n a cidade de C a m p i n a G r a n d e , agreste da P a r a í b a , r e g i ã o Nordeste do B r a s i l . Nestes, e n c o n t r a m - s e i n s t a l a d o s u m a q u a n t i d a d e expressiva de b a n c a s de ervas m e d i c i n a i s - local onde as ervas s ã o expostas à venda pelos erveiros.

Para efeito m e t o d o l ó g i c o elegeu-se o m é t o d o q u a l i t a t i v o , operacionalizado por entrevistas centradas cujo roteiro foi p r e v i a m e n t e elaborado. A t é c n i c a de o b s e r v a ç ã o p a r t i c i p a n t e s u b s i d i a d a p o r u m d i á r i o de registro de c a m p o , t a m b é m foi largamente u t i l i z a d a . A i n d a como i n s t r u m e n t o de registro operacionalizou-se o r e c u r s o fotográfico p a r a a c a p t a ç ã o d a i m a g e m e s t á t i c a do local onde se realizou a pesquisa.

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U m n ú m e r o de 18 entrevistas f o r a m realizadas entre 8 h o m e n s e 10 m u l h e r e s erveiras. Estes, c o m idades que v a r i a m entre 24 a 68 anos.

F u n d a m e n t a l m e n t e , a a n á l i s e dos dados e i n f o r m a ç õ e s c e n t r o u -se no recorte dos d e p o i m e n t o s e n a r r a t i v a s , -segundo t e m a t i z a ç ã o das falas a g r u p a d a s d a seguinte forma: d o e n ç a e corpo; d o e n ç a e c u r a ; c u r a e corpo. Estas mediadas pela perspectiva d a e f i c á c i a s i m b ó l i c a e ancoradas n a r e l a ç ã o representacional entre elementos a m a l g a m a d o s como: o d o m , a fé e o segredo.

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v e n d e u r s d l i e r b e s m é d i c i n a l e s , en m ê m e temps qu'agents m é d i a t e u r s de la g u é r i s o n . Ces v e n d e u r s se s i t u e n t d a n s la logique de l a n o m m é e " m é d e c i n e p o p u l a i r e " et sont, de f a ç o n significative, d a n s le contexte general de la c u l t u r e p o p u l a i r e b r é s i l i e n n e .

Pour cette entreprise scientifique, on a r é a l i s é u n e recherche de t e r r a i n d a n s le mois d ' a o ú t et de septembre 1997 en d e u x l i e u x d i s t i n c t s : la foire centrale et le centre c o m m e r c i a l de la ville de C a m p i n a Grande, r é g i o n de 1'agreste de la P a r a í b a , nord-est d u B r é s i l . D a n s ces e n d r o i t s , o n t r o u v e u n e q u a n t i t é expressive de kiosques de vente d'herbes m é d i c i n a l e s (endroits o u les herbes sont e x p o s é e s à la vente p a r les "erveiros").

D u p o i n t de vue m é t h o d o l o g i q u e , o n a c h o i s i la m é t h o d e q u a l i t a t i v e , m i s en oeuvre par des entretiens a x é s s u r u n g u i d e

p r é a l a b l e m e n t elabore. La t e c h n i q u e de 1'observation p a r t i c i p a n t e , a p p u y é e p a r u n cahier de t e r r a i n , a a u s s i é t é l a r g e m e n t u t i l i s é e . E n t a n t q u ' i n s t r u m e n t d'enregistrement, o n a é g a l e m e n t u t i l i s é des ressources de

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p h o t o g r a p h i e afin de c a p t e r 1'image statique des l i e u x o ú s'est r é a l i s é l a recherche.

D i x - h u i t e n t r e t i e n s o n t é t é r é a l i s é s avec d i x femmes et h u i t h o m m e s "erveiros", avec 1'âge entre 24 et 6 8 a n s .

L'analyse des d o n n é e s et i n f o r m a t i o n s s'est f o n d a m e n t a l e m e n t c e n t r a l i s é e s u r le d é c o u p a g e des t é m o i g n a g e s et r é c i t s , selon u n e t h é m a t i s a t i o n des d i s c o u r s e n : maladie et corps, maladie et g u é r i s o n , g u é r i s o n et corps. Ces t h é m a t i s a t i o n s sont m é d i a t i s é e s p a r la perspective d'efficace s y m b o l i q u e et a n c r é e s s u r le r a p p o r t des r e p r é s e n t a t i o n s entre des é l é m e n t s amalgames c o m m e : le d o n , la croyance et le secret.

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e i n e s t i m á v e l . Este fato, que moveu-me a t é a q u i , s u r g i u a p a r t i r de u m a i m p o r t a n t e e x p e r i ê n c i a de t r a b a l h o , q u a n d o e m 1990 p a r t i c i p e i como s o c i ó l o g a , j u n t o c o m o u t r o s profissionais, do l e v a n t a m e n t o das formas t r a d i c i o n a i s e a t u a i s de a p r o p r i a ç ã o do e s p a ç o e e x p l o r a ç ã o dos recursos a m b i e n t a i s de B a r r a de M a m a n g u a p e , c o m u n i d a d e r i b e i r i n h a , localizada no l i t o r a l p a r a i b a n o , r e g i ã o nordeste do B r a s i l . Este T r a b a l h o foi desenvolvido a t r a v é s do "PROJETO D E P R E S E R V A Ç Ã O DO PE1XE-BOI M A R I N H O " , apoiado pelo I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de Meio A m b i e n t e IBAMA -e p-elo "Programa d-e P-esquisa -e C o n s -e r v a ç ã o d-e Á r -e a s Ú m i d a s do B r a s i l " da USP.

Naquela o p o r t u n i d a d e , tive o prazer de conviver d u r a n t e a l g u m t e m p o c o m u m a gente fascinante, r i c a de sabedoria p o p u l a r e que, m e s m o d e s p r o v i d a de q u a l q u e r tipo de a s s i s t ê n c i a m é d i c a oficial, c r i a v a e s t r a t é g i a s de c u r a entre os seus c o m os recursos que a p r ó p r i a n a t u r e z a e o c o n h e c i m e n t o p o p u l a r lhe p e r m i t i a m . Sobre t a l realidade, o que m a i s

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a g u ç o u a m i n h a c u r i o s i d a d e foi j u s t a m e n t e a f o r m a como se c o n s t i t u í a a l ó g i c a d a e f i c á c i a que orientava todo aquele processo das p r á t i c a s de c u r a que a l i se realizava, e que se efetivava basicamente a t r a v é s de m e s i n h a s , l a m b e d o u r o s , garrafadas, cataplasmas, u n g u e n t o s , p u r g a n t e s , v o m i t ó r i o s , s u a d o u r o s e b a n h o s de limpeza; todos feitos à base de ervas n a t i v a s e de s u b s t â n c i a s derivadas de a n i m a i s . Era, n a verdade, u m m o d o de "fazer" e de saber "fazer" que n ã o a d m i t i a n e n h u m j u l g a m e n t o de valor, p o r q u e efetivamente se c o n s t i t u í a n u m p a t r i m ô n i o criado e recriado, i n c o r p o r a d o e c o t i d i a n i z a d o n a v i d a daquela c o m u n i d a d e .

As coisas que v i e vivenciei j u n t o à p o p u l a ç ã o de B a r r a de M a m a n g u a p e f i c a r a m presentes em m i n h a m e m ó r i a a t é hoje, c o m o algo que me faz a c r e d i t a r que a vida das pessoas, e m q u a l q u e r l u g a r , p o s s u i r a z õ e s e significados m u i t o mais profundos do que as p r i m e i r a s a p a r ê n c i a s s ã o capazes de revelar.

Passado a l g u m tempo, desde e n t ã o , ingressei no M e s t r a d o e m Sociologia da Universidade Federal da P a r a í b a . C o n d u z i d a por essa o p o r t u n i d a d e , m i n h a curiosidade i n q u i e t a n t e , e m b o r a t í m i d a , e m entender a l ó g i c a que c o m a n d a o uso de ervas m e d i c i n a i s no t r a t o das d o e n ç a s e m d e t e r m i n a d o s contextos sociais, t o r n o u - s e de ato u m a realidade, agora c o n d u z i d a por novos q u e s t i o n a m e n t o s .

Devo dizer que n ã o foi fácil o c a m i n h o p e r c o r r i d o a t é a q u i . V á r i o s f o r a m os p e r c a l ç o s nesses quase q u a t r o anos, desde que ingressei

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no M e s t r a d o . Pari u m a filha e, logo depois, s u b m e t i - m e a u m a c i r u r g i a de u r g ê n c i a . A d o r m e c i i n ú m e r a s vezes sobre m a m a d e i r a s , fraldas e livros, sem c o n t a r c o m os dolorosos m o m e n t o s de t o t a l falta de i n s p i r a ç ã o p a r a escrever. Por v á r i a s vezes, pensei que n ã o i r i a conseguir. No e n t a n t o , a q u i estou apresentando o m e u m a i s novo e t r a b a l h o s o rebento, c o m a c o n v i c ç ã o de que e m p e n h e i toda m i n h a energia p a r a o seu n a s c i m e n t o .

P e ç o desculpas, se for o caso, pelo longo p r e â m b u l o que acabo de fazer, antes de e n t r a r no tema p r o p r i a m e n t e d i t o d a d i s s e r t a ç ã o e que, a t é agora, n ã o a n u n c i e i e m n e n h u m m o m e n t o . Isto porque acredito que q u a n d o se i m p õ e a u m a pessoa a tarefa e a p o s s i b i l i d a d e de dizer o que pensa, a t r i b u i - s e ao m a i s í n t i m o do seu ser a l i b e r d a d e de s e n t i r o que diz.

- A s s i m , a u x i l i a d a por diversas l e i t u r a s que t r a t a m das v á r i a s e x p r e s s õ e s que c o m p õ e m a m e d i c i n a p o p u l a r no B r a s i l e e m o u t r o s p a í s e s , consegui finalmente e n c o n t r a r u m c a m i n h o que me c o n d u z i u a b u s c a r nos erveiros a real i n s p i r a ç ã o desta d i s s e r t a ç ã o , a q u a l se i n t i t u l a "A PROCURA PELAS ERVAS": u m estudo sobre as c o n c e p ç õ e s que i n c i d e m sobre o corpo, a d o e n ç a e a c u r a entre os erveiros""

Sendo este, p o r t a n t o , u m estudo que antes m e s m o de se c o n s t i t u i r n u m registro a c a d é m i c o de pesquisa, n u m d o c u m e n t o posto à a v a l i a ç ã o i n e x o r á v e l do leitor, é u m artefato, f r u t o de u m t r a b a l h o de pesquisa p a u t a d o , sobretudo, n a sensibilidade que b u s c a observar, i n t e r p r e t a r e compreender os "fazeres" e os "ditos" de u m g r u p o social

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e s p e c í f i c o , i n s e r i d o n u m a realidade p a r t i c u l a r , sob a q u a l a r e l a ç ã o i n t e r s u b j e t i v a entre pesquisador e i n f o r m a n t e se realizou, c o n s t i t u i n d o - s e n u m processo efetivo de c o m u n i c a ç ã o , onde saberes e afetos f o r a m c o m p a r t i l h a d o s .

Nessa i n t r o d u ç ã o , e n t ã o , é apresentado o c a m i n h o p e r c o r r i d o n a b u s c a de dados e i n f o r m a ç õ e s sobre o t e m a a q u i proposto: a p e s q u i s a de c a m p o ; a d e f i n i ç ã o d a metodologia a p l i c a d a e os r e c u r s o s t é c n i c o s operacionalizados, b e m como a categoria de r e p r e s e n t a ç ã o social, a t r a v é s da q u a l foi p o s s í v e l a j u s t a r a lente do o l h a r a n t r o p o l ó g i c o sobre u m aspecto d a realidade que se e s t r u t u r a c o m base n u m sistema s i m b ó l i c o . A s s i m , a categoria de r e p r e s e n t a ç ã o social prestou-se a q u i a dissolver a realidade colada à realidade i m e d i a t a , t r a n s f o r m a n d o e m aspectos significativos o modo pelo q u a l as r e p r e s e n t a ç õ e s do corpo, da d o e n ç a e d a c u r a s ã o e s t r u t u r a d a s pelos erveiros.

A d e n o m i n a ç ã o "erveiros" é u t i l i z a d a neste e s t u d o p a r a designar os vendedores de ervas m e d i c i n a i s que c o m b i n a m a a t i v i d a d e de comerciantes c o m a de agentes mediadores de c u r a , u m a vez que eles, no ato d a c o m e r c i a l i z a ç ã o das ervas, d o m i n a m u m "saber" e u m "saber-fazer" p r o d u z i d o s no seu g r u p o p a r t i c u l a r e t r a n s m i t i d o s n a r e l a ç ã o de c o m p r a e venda das ervas p a r a o c o n j u n t o de s u a clientela, o que p e r m i t e s i t u á - l o s n a l ó g i c a da c h a m a d a m e d i c i n a p o p u l a r , b e m como t o m á - l o s como objeto deste e s t u d o por e x c e l ê n c i a .

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A s s i m , e m agosto de 1997 i n i c i e i a pesquisa de c a m p o que se desenvolveu d u r a n t e dois meses, entre dois locais d i s t i n t o s : Feira C e n t r a l e C e n t r o C o m e r c i a l , ambos localizados n a cidade de C a m p i n a G r a n d e , agreste d a P a r a í b a , r e g i ã o Nordeste do B r a s i l .

A escolha d a Feira C e n t r a l deveuse ao fato de a l i c o n c e n t r a r -se o m a i o r n ú m e r o de erveiros da cidade, i n c l u s i v e c o m a p a r t i c u l a r i d a d e d a e x i s t ê n c i a de u m a r u a d e n o m i n a d a M a n o e l Pereira de A r a ú j o , p o p u l a r m e n t e conhecida como " r u a dos c a b a r é s " , "feira de g a l i n h a s " e "feira de r a í z e s " . Nesta r u a encontram-se i n s t a l a d a s bancas de ervas1 e m q u a n t i d a d e significativa. O Centro C o m e r c i a l foi t a m b é m i n c l u í d o como loco d a pesquisa, devido ao fato do c o m é r c i o de ervas se estender d i f u s a m e n t e naquele local, embora e m m e n o r i n t e n s i d a d e que n a Feira C e n t r a l .

Para a s e l e ç ã o dos i n f o r m a n t e s , p r o c u r e i adotar o c r i t é r i o que privilegiou o g r u p o de erveiros que realiza c o n s u l t a s t e r a p ê u t i c a s j u n t o à clientela e d o m i n a u m expressivo r e c e i t u á r i o de c o m o , por que e q u a n d o u s a r d e t e r m i n a d a erva. Esse c r i t é r i o p o s s i b i l i t o u d i s t i n g u i r os erveiros que se c a r a c t e r i z a m como agentes mediadores de c u r a dos que s ã o , apenas, vendedores de ervas m e d i c i n a i s .

1

Banca é a denominação popular utilizada para designar o local onde as ervas

(21)

6

No que concerne à o p e r a c i o n a l i z a ç ã o d a coleta de dados e i n f o r m a ç õ e s , elegi a t é c n i c a de "entrevista c e n t r a d a "2 como p r i n c i p a l i n s t r u m e n t o a t r a v é s do q u a l foi p o s s í v e l o registro de todas as e x p r e s s õ e s orais dos i n f o r m a n t e s . Esta t é c n i c a , e m b o r a t e n h a sido a m a i s valiosa no que concerne à o b t e n ç ã o de dados e i n f o r m a ç õ e s , n ã o p o s s u i a v a n t a g e m de r e g i s t r a r as e x p r e s s õ e s gestuais como p o s t u r a s e c o m p o r t a m e n t o s , consideravelmente i m p o r t a n t e s à c a p t a ç ã o do f e n ó m e n o investigado; por este m o t i v o , a t é c n i c a de " o b s e r v a ç ã o p a r t i c i p a n t e "3 t a m b é m foi u t i l i z a d a . S i m u l t a n e a m e n t e , foram operacionalizados o u t r o s recursos como: u m d i á r i o de campo, no q u a l foram a n o t a d a s todas as o b s e r v a ç õ e s p o s s í v e i s e recursos fotográficos, objetivando i l u s t r a r c o m imagens e s t á t i c a s o local onde se realizou a pesquisa.

I n i c i a l m e n t e , foram contatados v i n t e erveiros. Desses, apenas dois se negaram a p a r t i c i p a r da pesquisa: u m alegando "timidez" e o u t r o , "falta de tempo". Por isto, foram entrevistados dezoito erveiros, c o m p r e e n d e n d o u m n ú m e r o s a t i s f a t ó r i o n a o b t e n ç ã o de i n f o r m a ç õ e s , u m a vez q u e a t e n d e r a m plenamente à s q u e s t õ e s c i r c u n s c r i t a s ao t e m a estudado, do que c o n c l u í que u m n ú m e r o s u p e r i o r de entrevistas v i r i a

2

Utilizou-se a técnica entrevista centrada na forma indicada por Michel Thiollet

(1985:35); "na qual dentro de hipóteses e de certos temas, o entrevistador deixa o entrevistado

descrever livremente a sua experiência pessoal a respeito do assunto investigado".

3

Para fins desse estudo, a técnica da observação participante foi utilizada,

conforme definida por Haguette, M. Teresa Frota. Metodologias Qualitativas na Sociologia.

Petrópolis: Vozes, 1995, p. 86: "como um processo de interação social entre duas pessoas na qual

uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a detenção de informações por parte do outro, o

entrevistado".

(22)

apenas c o n f i r m a r u m a s a t u r a ç ã o de i n f o r m a ç õ e s , que pouco acrescentaria a u m a pesquisa q u a l i t a t i v a .

Dos dezoito erveiros entrevistados, oito s ã o do sexo m a s c u l i n o e dez do sexo f e m i n i n o , como m o s t r a a tabela abaixo:

Entrevistados Feira Central Centro Comercial Quantidade

HOMENS 06 02 08

MULHERES 06 04 10

TOTAL 12 06 18

Esses dados catalogados n a pesquisa, que d e m o n s t r a m a p r e d o m i n â n c i a de m u l h e r e s , n ã o significam que haja p r e d o m i n â n c i a sobre o n ú m e r o de h o m e n s exercendo a m e s m a atividade. Isso p o r q u e , no u n i v e r s o dos erveiros, a q u a n t i d a d e de h o m e n s e m u l h e r e s se e q u i v a l e m . Além disso, para a m b o s , essa atividade d e t é m o mesmo valor e c o n ó m i c o e social. E c o n o m i c a m e n t e , a atividade se configura como p r i n c i p a l fonte de renda p a r a o s u s t e n t o da família e r a r a m e n t e se apresenta como c o m p l e m e n t a ç ã o do o r ç a m e n t o familiar. Socialmente, h o m e n s e m u l h e r e s s ã o reconhecidos pela clientela como detentores de saberes, o u p r o p r i a m e n t e como agentes mediadores d a c u r a .

U m o u t r o dado que merece ser a q u i r e a l ç a d o diz respeito à faixa e t á r i a do g r u p o pesquisado. De acordo c o m a tabela abaixo, as idades v a r i a m entre 2 4 a 68 anos:

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8

Faixa etária Quantidade

24 -37 08

37 - 50 06

5 0 - 6 8 04

TOTAL 18

DISTRIBUIÇÃO DOS ERVEIROS POR IDADE

A p a r t i r de dados como esses, é visível que u m n ú m e r o c o n s i d e r á v e l de pessoas jovens se e n c o n t r a m exercendo a a t i v i d a d e de erveiro, o que tende a d i s m i s t i f i c a r a ideia d i f u n d i d a no senso c o m u m que relaciona os p r a t i c a n t e s de c u r a s populares a pessoas idosas. Esta c o n c e p ç ã o provavelmente e s t á f u n d a m e n t a d a n a "origem r u r a l " dessas p r á t i c a s de c u r a , haja vista que t r a d i c i o n a l m e n t e , no m u n d o r u r a l , o c u r a n d e i r o , o rezador, o erveiro é sempre o m a i s idoso d a c o m u n i d a d e ; p o s s u i d o r de u m "dom" que e s t á envolto a saberes e segredos a d q u i r i d o s a t r a v é s d a e x p e r i ê n c i a que j á fora t r a n s m i t i d a p o r o u t r o que d e t i n h a a m e s m a base de c o n h e c i m e n t o . Segundo E l d a Rizzo de Oliveira (1985, p. 22): "nas c o m u n i d a d e s r u r a i s , de u m modo o u de o u t r o , as p l a n t a s e r a m classificadas e selecionadas para as d o e n ç a s e s i n t o m a s m a i s c o m u n s (...). A l g u n s ervateiros e raizeiros p r e p a r a v a m garrafadas, c u i d a v a m de

f e r i m e n t o s e m o r d e d u r a s de cobra e o u t r o s a n i m a i s . E r a u m a m e d i c i n a c r i a d a como resposta à s suas necessidades concretas de d o e n ç a e sofrimento".

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A s s i m , devido à especificidade do objeto de e s t u d o que exigiu u m contato m a i s d i r e t o e constante, optei metodologicamente pelo m é t o d o q u a l i t a t i v o . E s t a n d o esta vertente ancorada, entre o u t r o s a u t o r e s , n a perspectiva de B o g d a n , R e B i k l e n , S. K., a q u a l :

"A pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos informantes. "

(Apud: Marli E. D .a André e Ludke. Menga, 1986, p. 13)

Esses a u t o r e s d i s c u t e m o conceito de pesquisa q u a l i t a t i v a , c h a m a n d o a a t e n ç ã o p a r a que o pesquisador atente p a r a o m a i o r n ú m e r o p o s s í v e l de elementos presentes n a s i t u a ç ã o e s t u d a d a . Pois, segundo eles, u m aspecto s u p o s t a m e n t e t r i v i a l pode ser essencial p a r a m e l h o r c o m p r e e n s ã o do f e n ó m e n o que e s t á sendo investigado. A c r e s c e n t a m a i n d a que, ao c o n s i d e r a r os diferentes pontos de vista dos p a r t i c i p a n t e s , os estudos q u a l i t a t i v o s p o s s i b i l i t a m i l u m i n a r o d i n a m i s m o i n t e r n o das s i t u a ç õ e s , geralmente i n a c e s s í v e i s ao observador externo.

Nessa perspectiva, c o n v é m a l u d i r o que observa R u t h Cardoso de Oliveira (1986:102):

"A interpretação que constrói sobre análises qualitativas não está isolada das condições em que o entrevistador e o entrevistado se encontram. A coleta de material não é apenas um momento de acumulação de informações, mas se combina com a reformulação de hipóteses, com a descoberta de pis/as novas que são elaboradas em novas entrevistas. Nestas investigações, o pesquisador é o mediador entre a análise e a produção da informação, não apenas como transmissor, porque não são fases sucessivas, mas como elo necessário. "

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10

Dessa forma, a a n á l i s e baseada no m é t o d o q u a l i t a t i v o r e a f i r m a o r e c o n h e c i m e n t o da subjetividade do pesquisador q u a n t o ao seu papel e l u g a r n a o b s e r v a ç ã o de pessoas e m seus p r ó p r i o s t e r r i t ó r i o s , e m seus termos l e g í t i m o s , o que significa dizer que a subjetividade é, antes de t u d o , u m a f o r m a de o l h a r ; algo que se c u m p r e e n t e n d e r a p a r t i r do o u t r o .

C o n t u d o , ao a s s u m i r a p o s t u r a s u b j e t i v a do o l h a r , o observador depara-se c o m o p r o b l e m a abordado p o r Clifford Geertz, p a r a q u e m "as nossas a p r e e n s õ e s do real t e n d e m a ser l i m i t a d a s e delas s ó temos q u a n d o m u i t o , r e p r e s e n t a ç õ e s i n d i r e t a s o u de s e g u n d a m ã o " (1989, p. 44). A p a r t i r desse ponto de v i s t a , Geertz d i s c u t e o papel do pesquisador frente aos dados obtidos a r g u m e n t a n d o que a l e i t u r a do real é u m a r e c o n s t r u ç ã o da realidade e n ã o a realidade e m s i . A s s i m , os f e n ó m e n o s c u l t u r a i s e sociais devem ser e n t e n d i d o s como formas s i m b ó l i c a s que se c o n f i g u r a m e m p e n s a m e n t o s , s e n t i m e n t o s e c o m p o r t a m e n t o s , isto é, em mensagens significantes t a n t o para os sujeitos sociais que c o m p õ e m o contexto e s p e c í f i c o onde o f e n ó m e n o ocorre, e que r o t i n e i r a m e n t e as i n t e r p r e t a m no c u r s o de suas vidas d i á r i a s , q u a n t o p a r a o pesquisador que b u s c a compreender as c a r a c t e r í s t i c a s significantes do que j á é c o n s t a n t e m e n t e descrito e i n t e r p r e t a d o .

Nesse sentido, para m e l h o r c o m p r e e n s ã o do f e n ó m e n o investigado, preferi eleger a categoria de r e p r e s e n t a ç ã o s o c i a l como

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p r i n c i p a l i n s t r u m e n t o na a n á l i s e das c o n c e p ç õ e s de corpo, d o e n ç a e c u r a entre os erveiros. A p a r t i r desta escolha t e n t e i estabelecer u m a r e l a ç ã o de sentido e de concretude ao c o n j u n t o dessas r e p r e s e n t a ç õ e s c o m p a r t i l h a d a s pelos erveiros, como parte de u m processo ativo e a r t i c u l a d o de ideias, valores e a s s o c i a ç õ e s .

Na t r a d i ç ã o s o c i o l ó g i c a , o conceito de r e p r e s e n t a ç ã o social é e n u n c i a d o pela p r i m e i r a vez por Emile D u r k h e i m como " r e p r e s e n t a ç õ e s coletivas". Para este s o c i ó l o g o f r a n c ê s , o conceito de " r e p r e s e n t a ç ã o coletiva" e s t á f u n d a m e n t a d o n a sua c o n c e p ç ã o de sociedade e de i n d i v í d u o , no q u a l a sociedade é concebida c o m o " u m a realidade s u i generis", com caracteres p r ó p r i o s que n ã o se r e e n c o n t r a m sob a m e s m a forma no resto do universo, e n q u a n t o que o i n d i v í d u o apresenta u m a n a t u r e z a d u p l a , c o n s t i t u í d a por u m s e r i n d i v i d u a l , cuja a ç ã o se e n c o n t r a l i m i t a d a à sua base o r g â n i c a , e u m s e r s o c i a l , que representa a realidade na o r d e m m o r a l e i n t e l e c t u a l , isto é, a sociedade.

Nesse sentido, D u r k h e i m c o n s t r ó i o conceito de " r e p r e s e n t a ç õ e s coletivas" como sendo:

"O produto de uma imensa cooperação que se estende não apenas no espaço, mas no (empo; para fazê-lo, uma multidão de espíritos diversos associaram, misturaram, combinaram suas ideias e sentimentos; longas séries de gerações acumularam aqui sua experiência e saber. " (1978, p. 216)

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O que i m p o r t a , p o r t a n t o , n a perspectiva d u r k h e i m i a n a é o e n t e n d i m e n t o de que as " r e p r e s e n t a ç õ e s coletivas" s ã o categorias de pensamento, a t r a v é s das q u a i s d e t e r m i n a d a sociedade elabora e expressa s u a realidade e m t e r m o s de e x p e r i ê n c i a e saber. Portanto, a s s i m c o m o as i n s t i t u i ç õ e s e e s t r u t u r a s , elas p o ss u em as c a r a c t e r í s t i c a s do fato social, tais como: exterioridade e m r e l a ç ã o à s c o n s c i ê n c i a s i n d i v i d u a i s e o poder de exercer coercitividade sobre essas c o n s c i ê n c i a s i n d i v i d u a i s . Dessa forma, p ara D u r k h e i m , as r e p r e s e n t a ç õ e s coletivas s ã o t o m a d a s como entidades explicativas absolutas, i r r e d u t í v e i s por q u a l q u e r a n á l i s e posterior, ou a i n d a :

"As representações coletivas traduzem a maneira como o grupo se pensa nas relações com os objetos que os afeiam. Para compreender como a sociedade se representa a si própria e ao mundo que a rodeia, precisamos considerar a

natureza da sociedade e não a dos indivíduos. Os símbolos com que ela pensa mudam de acordo com sua natureza. "

(DURKHEIM, 1978. p. 79)

Segundo Robert M . Farr (Apud: G u a r e s c h i . P. J o v c h e l o v i t c h . Sandra, 1997, p. 31), baseando-se no conceito de " r e p r e s e n t a ç ã o coletiva" de D u r k h e i m e c o m p r o p ó s i t o de redefinir os p r o b l e m a s e conceitos da psicologia social, Serge Moscovici i n a u g u r o u o t e r m o " r e p r e s e n t a ç õ e s

s o c i a i s " , formalizando o conceito e a teoria n a o b r a i n t i t u l a d a "La

ps3rchanalyse, son image et p u b l i c " (1961). Nesta o b r a , Moscovici reconhece a e x t e n s ã o e x p l i c a t i v a do conceito de " r e p r e s e n t a ç õ e s coletivas" e m D u r k h e i m que, n a verdade, parecia suficiente à sociedade o c i d e n t a l do i n í c i o do s é c u l o , d a d a a r e l a t i v a integridade das r e l i g i õ e s e de o u t r o s

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"sistemas unificadores", pelo q u a l D u r k h e i m p r o c u r a v a d a r c o n t a e m termos de c o n h e c i m e n t o s inerentes à sociedade. C o n t u d o , p a r a Moscovici, e x i s t i r i a nas sociedades c o n t e m p o r â n e a s u m a o u t r a o r d e m de f e n ó m e n o s que exigiria u m o u t r o t i p o de conceito m a i s globalizante, pois as sociedades m o d e r n a s s ã o d i n â m i c a s e f l u í d a s , diferentemente do modelo de sociedade e s t á t i c a e t r a d i c i o n a l que v i s l u m b r a r a D u r k h e i m .

A esse respeito, esclarece Moscovici:

"As representações em que estou interessado não são as de sociedades primitivas, nem as reminiscências, no subsolo de nossa cultura, de épocas remotas; são aquelas da nossa sociedade presente, do nosso solo politico, cientifico e humano, que nem sempre tiveram tempo suficiente para permitir a sedimentação que as tomasse tradições imutáveis.

/ . . . / " (1984, p. 18)

N ã o p o r o u t r a r a z ã o , o t e r m o " r e p r e s e n t a ç ã o social" i n a u g u r a d o por Moscovici, i m p l i c a r i a no estabelecimento de u m modelo t e ó r i c o - c o n c e i t u a l , que o d i s t a n c i a r i a decisivamente do seu p r i m e i r o abrigo c o n c e i t u a i , e desse m o d o se a f i r m a n d o como:

"Um conjunto de conceitos, proposições e explicações originados da vida coiidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade, dos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; podem também ser vistas como a versão contemporânea do

senso comum."

( M O S C O V I C I , 1979, p. 48)

A rigor, essa parece ser a p r i n c i p a l d i f e r e n ç a entre o conceito de r e p r e s e n t a ç ã o coletiva defendido p o r D u r k h e i m e o conceito de

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r e p r e s e n t a ç ã o social f o r m u l a d o por Moscovici. E n t r e t a n t o , o p r o b l e m a n ã o reside apenas e m p o n t u a r t a l d i f e r e n ç a , mas s i m trazer ao cerne da d i s c u s s ã o u m a d e f i n i ç ã o c l a r a e consistente do conceito de r e p r e s e n t a ç ã o social a q u i u t i l i z a d o .

Para essa e m p r e i t a d a , p o r é m , deve-se c o n s i d e r a r que as r e p r e s e n t a ç õ e s sociais e n c o n t r a m a s u a base n a realidade social e s u a p r o d u ç ã o se estabelece nas i n s t i t u i ç õ e s sociais, nos meios de c o m u n i c a ç ã o de massa, nos m o v i m e n t o s sociais, nos atos de r e s i s t ê n c i a e e m u m a s é r i e de lugares sociais. S ã o formadas, p o r t a n t o , q u a n d o as pessoas se e n c o n t r a m p a r a d i s c u t i r o c o t i d i a n o , o u q u a n d o e s t ã o expostas à s i n s t i t u i ç õ e s , aos meios de c o m u n i c a ç ã o , aos m i t o s e à h e r a n ç a h i s t ó r i c o - s o c i a l de suas sociedades.

Ademais, é i m p r e s c i n d í v e l p a r a d e f i n i ç ã o clara do conceito a c o m p r e e n s ã o p r o p o r c i o n a d a por Denise Jodelet, p r i n c i p a l c o l a b o r a d a de

Moscovici, para q u e m as r e p r e s e n t a ç õ e s sociais s ã o " u m a forma de c o n h e c i m e n t o , socialmente elaborada e p a r t i l h a d a , tendo u m a v i s ã o p r á t i c a e concorrendo p a r a a c o n s t r u ç ã o de u m a realidade c o m u m a u m c o n j u n t o social." (JODELET, 1989, p. 32)

Nesse entender, Jodelet esclarece que as " r e p r e s e n t a ç õ e s sociais" d e n o t a m u m a m a n e i r a e s p e c í f i c a de c o n h e c i m e n t o , o saber do senso c o m u m , como modalidades de p e n s a m e n t o p r á t i c o , o r i e n t a d a s p a r a a c o m u n i c a ç ã o , a c o m p r e e n s ã o e o d o m í n i o do a m b i e n t e social, m a t e r i a l e

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ideal. Para a a u t o r a , a r e p r e s e n t a ç ã o é u m ato do p e n s a m e n t o por m e i o do q u a l o sujeito se relaciona c o m o objeto, o que i m p l i c a sempre n u m c o n t e ú d o m e n t a l que r e s t i t u i s i m b o l i c a m e n t e algo ausente o u a p r o x i m a algo l o n g í n q u o .

De fato, segundo Moscovici, o ato de representar transfere o que é e s t r a n h o , p e r t u r b a d o r , do universo exterior p a r a o i n t e r i o r ; coloca-o e m u m a categoria e contexto conhecidos, o u seja, a f u n ç ã o das r e p r e s e n t a ç õ e s sociais é t o r n a r familiar o n ã o f a m i l i a r , a s s i m como:

"Representar um objeto, é ao mesmo tempo, conferir-lhe o status de um signo, é conhecê-lo, tornando-o significante. De um modo particular, dominamo-lo e interiorizamo-lo, fazemo-lo nosso. E verdadeiramente um modo particular, porque culmina em que Iodas as coisas, são representações

de alguma coisa. " (1978: p. 63)

C o m e n t a n d o tal a r g u m e n t a ç ã o , Neuza M a r i a de F á t i m a G u a r e s c h i (1995) observa que para Moscovici a r e p r e s e n t a ç ã o e x p r i m e u m a r e l a ç ã o de sujeito com objeto, tendo n a s u a o r i g e m dois aspectos f u n d a m e n t a i s : o p e r c e p t i v o , que i m p l i c a n a p r e s e n ç a do objeto, e o

c o n c e i t u a i , que consiste na a u s ê n c i a do objeto. Segundo ele, "temos a

p r o p e n s ã o p a r a d a r u m a e x i s t ê n c i a conosco à q u i l o que t i n h a u m a e x i s t ê n c i a sem n ó s , p a r a nos fazermos presentes onde estamos a u s e n t e s e familiares n a q u i l o que nos é estranho." (Apud: SPINK, 1995, p . 216)

Portanto, o estudo das r e p r e s e n t a ç õ e s sociais, t a l c o m o foi desenvolvido no modelo t e ó r i c o de Moscovici, mostra-se c o m o u m

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referencial valioso p a r a a c o m p r e e n s ã o das c o n c e p ç õ e s de corpo, d o e n ç a e c u r a , c o m p a r t i l h a d a s socialmente pelos erveiros como u m a e s p e c í f i c a f o r m a de c o m p r e e n s ã o e sentido, pelas q u a i s se procede à i n t e r p r e t a ç ã o e c o n s t r u ç ã o da realidade social, engendradas pelos sujeitos sociais como "verdadeiras teorias" que se erguem como u m ato de s i g n i f i c a ç ã o s i m b ó l i c a , de c o n h e c i m e n t o e de afeto no e m p e n h o de e n t e n d e r e d a r sentido ao m u n d o .

A s s i m sendo, este t r a b a l h o e s t á organizado e m q u a t r o c a p í t u l o s . O p r i m e i r o , ERVAS E C R E N Ç A S : A T R A J E T Ó R I A D E U M "SABER FAZER" NUMA C I D A D E NORDESTINA, compreende u m breve r e s u m o da u t i l i z a ç ã o das ervas m e d i c i n a i s nas p r á t i c a s de c u r a ao longo das c u l t u r a s h u m a n a s como forma de "saber-fazer". Tentei a s s i m , c o m p r e e n d e r como se e s t r u t u r a l este "saber-fazer" entre os erveiros, segundo a m a n e i r a pela q u a l eles a p r e n d e r a m a l i d a r c o m as ervas m e d i c i n a i s e de q u e m a s s i m i l a r a m este c o n h e c i m e n t o . Nessa perspectiva, os erveiros foram situados neste estudo d e n t r o d a l ó g i c a da c h a m a d a m e d i c i n a p o p u l a r e reconhecidos como mediadores de c u r a nas p r á t i c a s p o p u l a r e s .

No segundo c a p í t u l o , A D O E N Ç A , r e t r a t o i n i c i a l m e n t e , a c o n c e p ç ã o de d o e n ç a entre dois moldes de c o n h e c i m e n t o s d i s t i n t o s : n a m e d i c i n a c i e n t í f i c a e n a m e d i c i n a p o p u l a r , p a r a e m seguida s i t u a r as r e p r e s e n t a ç õ e s que os erveiros edificam sobre a d o e n ç a n u m desses moldes. C o m base e m u m modelo m e t o d o l ó g i c o c o n s t r u í d o p o r F r a n ç o i s

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L a p l a n t i n e , foi p o s s í v e l compreender as r e p r e s e n t a ç õ e s e n d ó g e n a s e e x ó g e n a s d a c a u s a l i d a d e das d o e n ç a s elaboradas pelos erveiros, b e m como a d e f i n i ç ã o e d i s t i n ç ã o destas como d o e n ç a s m a t e r i a i s e e s p i r i t u a i s .

No segundo c a p í t u l o , O CORPO, p r o c u r e i destacar o corpo como categoria social, sob o q u a l r e p o u s a m diversos significados dependendo d a c u l t u r a n a q u a l ele e s t á i n s e r i d o . Sobre as r e p r e s e n t a ç õ e s que s ã o edificadas pelos erveiros, o corpo é a p r e e n d i d o a p a r t i r das c o n c e p ç õ e s de d o e n ç a e de c u r a , posto que o corpo s ó a d q u i r e sentido a t r a v é s d a a ç ã o que se realiza sobre ele n a forma de d o e n ç a o u de c u r a .

F i n a l m e n t e , no q u a r t o c a p í t u l o , A CURA, observo a l ó g i c a que recobre a eficácia nos processos de c u r a mediados pelos erveiros, percebendo o s i m b o l i s m o presente na a r t i c u l a ç ã o de t r ê s elementos f u n d a m e n t a i s nesses processos de c u r a , como: a fé, o segredo e o d o m . Neste contexto, a r e l a ç ã o social entre erveiro e clientela foi s u b l i n h a d a , c o n s i d e r a n d o o c o m p a r t i l h a r de saberes e i n f o r t ú n i o s entre aqueles que c u r a m e os que b u s c a m a c u r a .

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CAPÍTULO I

Ervas e Crenças: a trajetoría de um

"saber-fazer" numa cidade nordestina.

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"As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender. "

(Paulinho da Viola)

A c r e n ç a n o poder p r o t e t o r e c u r a d o r das ervas e s t á i n s c r i t a na h i s t ó r i a de todas as c u l t u r a s h u m a n a s , sendo u m a p r á t i c a que c a m i n h a n a h i s t ó r i a , m o v i d a p o r u m saber nascido das r e l a ç õ e s entre os h o m e n s , como u m m o d o p a r t i c u l a r e e s p e c í f i c o de p r o d u z i r c u r a e prevenir d o e n ç a s .

A l i t e r a t u r a existente sobre essa t e m á t i c a a p o n t a i n d í c i o s sobre a u t i l i z a ç ã o de ervas m e d i c i n a i s que d a t a m de m a i s de cinco m i l anos, n a é p o c a dos antigos sumerianos.* T a m b é m é certo que os r e m é d i o s à base de ervas s ã o u m s u s t e n t á c u l o n a m e d i c i n a p o p u l a r chinesa, n a q u a l se e n c o n t r a o m a i s antigo l i v r o sobre ervas que se t e m c o n h e c i m e n t o , i n t i t u l a d o T e n - t s ' a o " , escrito pelo I m p e r a d o r S h e n - n u n g ( 3 7 3 7 - 2 6 9 7 a . C ) ; nele e s t ã o registrados m a i s de trezentos preparados ( r e m é d i o s ) à base de

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ervas m e d i c i n a i s . (Gerina D u n w a h , 1992: p. 9 9 ) . Isto m o s t r a que a c u r a a t r a v é s do uso de ervas m e d i c i n a i s foi rito i m p o r t a n t e e m v á r i a s r e l i g i õ e s p r é - c r i s t ã s .

E n t r e t a n t o , n a Idade M é d i a , q u a n d o a Igreja C r i s t ã g a n h o u m a i s s t a t u s e poder, as deidades de n a t u r e z a p a c í f i c a das r e l i g i õ e s p r i m i t i v a s e os elementos u t i l i z a d o s e m seus rituais f o r a m t r a n s f o r m a d o s em s o r t i l é g i o s d a nova religião, e m u i t a s ervas u t i l i z a d a s e m r i t u a i s de c u r a e m a g i a foram associados aos p a g ã o s , p a s s a n d o a s s i m a ser consideradas "ervas do diabo", recebendo apelidos depreciativos como: o e s t r a g ã o ( a r t e m í s i a - d r a c ú n c u l o ) , d e n o m i n a d a de "erva do d r a g ã o " o u "pequeno d r a g ã o " ; a a r r u d a ( r u t a graveoleu), b a s t a n t e c o n h e c i d a c o m o a "erva d a g r a ç a " o u da " p r o t e ç ã o " ; e o m a n j e r i c ã o ( o c i m u n b a s i l i u m ) consagrada como a "erva do amor". P o r é m , à m e d i d a que a q u í m i c a e a c i ê n c i a m é d i c a se desenvolveram nos s é c u l o s X V I I I e X I X , o uso de ervas como p r i n c i p a l elementos t e r a p ê u t i c o da m e d i c i n a religiosa e p o p u l a r foi, e m parte, s u b s t i t u í d o por drogas q u í m i c a s ativas e pela p r á t i c a da q u i m i o t e r a p i a , referendadas pela m e d i c i n a c i e n t í f i c a .

Todavia, a t u a l m e n t e , no m u n d o i n t e i r o , o uso de ervas m e d i c i n a i s v e m o c u p a n d o u m l u g a r expressivo no t r a t a m e n t o e p r e v e n ç ã o de d o e n ç a s , embora, e n q u a n t o p r á t i c a social, a i n d a p e r m a n e ç a r e l a t i v a m e n t e m a r g i n a l i z a d a , percebida a l g u m a s vezes, como u m r e s í d u o c u l t u r a l que p r o d u z apenas placebos. Isto representa u m a f o r m a d i s t o r c i d a de enxergar a realidade que a c o m p a n h a a p r á t i c a do uso de

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ervas, j á que a s u a u t i l i z a ç ã o , entre as v á r i a s e x p r e s s õ e s que c o m p õ e m a m e d i c i n a p o p u l a r , consiste n u m a realidade d i n â m i c a , que resiste p o l í t i c a e c u l t u r a l m e n t e como u m modo p a r t i c u l a r e secular de "saber-fazer", localizado n u m contexto d e t e r m i n a d o da c u l t u r a onde especificamente se p r o d u z e se r e p r o d u z c o t i d i a n a m e n t e .

Portanto, u m dos p r o p ó s i t o s desse c a p í t u l o consiste e m t e n t a r compreender como se e s t r u t u r a este "saber-fazer" que se c o n s t i t u i entre os erveiros n u m modo p a r t i c u l a r de t r a t a r a d o e n ç a e p r o d u z i r c u r a , a d q u i r i d o fora do processo da d i v i s ã o social do t r a b a l h o .

Para t a n t o , c o n v é m observar o que r e l a t a m os erveiros q u a n d o solicitados a falar sobre a m a n e i r a pela q u a l a p r e n d e r a m a l i d a r c o m as ervas m e d i c i n a i s e de q u e m a s s i m i l a r a m t a l c o n h e c i m e n t o . Verifica-se que a l g u n s entrevistados falaram c o m e n t u s i a s m o sobre a f o r m a como se deu seu processo de aprendizagem: u m a e s p é c i e de h i s t ó r i a de v i d a , c o n t a d a c o m ê n f a s e em "causos" de curas, a l g u n s c o m sentido milagroso e f a n t á s t i c o , mas que revelam i m p o r t a n t e s elementos como o "dom", o "segredo", e a "fé", como pode ser observado nos trechos e x t r a í d o s das entrevistas:

"Foi com minha mãe...Desde eu criança, ela fazia e

explicava

tudinho... As qualidade e as quantidade. Desde o tempo do pai dela, que ela trabalha com isso... Ixi no Sertão, tinha um menino pequeno, que desde que nasceu era fraco dos ossos e franzino do corpo; não segurava nada no estorno e nem andava, nem nada... dai minha mãe rezou ele por mais de vez e deu prá ele tomar um preparado de mastruz, pau-d'arco e semente de sucupira... Oi! Ele ficou bonzinho. Hoje,

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é honrem feito, anda pra tudo que é canto... Graças a Deus primeiramente!... E a esse preparo... "

(Erveiro - Feira Central)

"o que eu seio, seio porque aprendi dos segredos da minha mãe... que já sabia pela minha vó... 0/7 Prá prepara uma garrafada, tem que saber direito como é que faz, senão, não tem efeito pra curar... A fé em Deus, também é importante, depois nas plantas que ele deixou no mundo pra curar... "

(Erveira - Feira Central)

A proeza desses relatos e s t á e m p e r m i t i r c o m p r e e n d e r o f u n d a m e n t o do aprendizado do erveiro, que por v i a de regra é t r a n s m i t i d o a t r a v é s da f a m í l i a o u da v i z i n h a n ç a , m e d i a n t e u m processo de a c ú m u l o de saberes que se enriquecem no decorrer de sua e x p e r i ê n c i a , c o n s t i t u i n d o -se n u m a diversidade de habilidades que corresponde à capacidade de i d e n t i f i c a r e m a n i p u l a r as ervas, c o n s t a t a n d o suas benesses p a r a o t r a t a m e n t o de determinadas enfermidades. Esta h a b i l i d a d e , a l i a d a à capacidade de promover o d i a g n ó s t i c o das d o e n ç a s , r e s u l t a no estabelecimento do "dom", que i m p l i c a n a h a b i l i d a d e de i d e n t i f i c a r a t r a v é s dos s i n t o m a s do corpo e do e s p í r i t o das pessoas o tipo de m a l que as afligem. O "dom", p o r é m , n ã o se apresenta como u m saber a c e s s í v e l a todos que desejam a d q u i r i - l o , pois corresponde a u m p ri vi lé gi o a sua d i s t r i b u i ç ã o . O "dom" t a m b é m n ã o é h o m o g ê n i o entre aqueles que o p o s s u e m , u m a vez que u n s possuem m a i s os a t r i b u t o s do " d o m " do que o u t r o s . E n t r e t a n t o , é i n q u e s t i o n á v e l o fato de ser u m a d o t a ç ã o de D e u s a posse do "dom", o que faz c o m que a l g u n s e m d e t r i m e n t o de o u t r o s sejam eleitos pela divindade par a o p o s s u í r e m e conhecerem a c u r a das d o e n ç a s ;

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como relata u m erveiro q u a n d o indagado sobre seu processo de a p r e n d i z a d o :

"Eu aprendi a conhecer os beneficio das prantas com os povo veio, aprendi com um, com outro (...) saber prá que serve eu sei, mas dizer das doença, descobrir mermo do que tem um vivente doente, eu seio, não. Isso é coisa prá quem tem o dom de saber, e esse só quem dá é aquele lá de cima, não é mermo? ".

O u a i n d a , como relata esta o u t r a erveira:

"minha vó era uma veia parteira de mão cheia. Nunca perdeu um vivente na mão dela. Ela rezava oiado de criança

também. Tudinho com pronta, com pau e erva do mato. Eu sempre que via ela prepara os preparo... No mato, lá não tem muito que apelar pra médico, não... A gente se curava de tudo quanto é mísera de doença, com planta e reza forte... Mas, ói! Tem que ler fé em Deus primeiramente... E no resto,

é tomar e fazer os preparo certo... Isso foi um dom que Deus deu, pra uns, e pra outros, não. Porque, eu acho que minha vó tinha mais o dom de saber, que eu tenho. Ela sabia mesmo. Eu só faço é saber da molesta que dá no corpo e da planta que vai pra cura. "

No que parece, o reconhecimento do "dom", p o r ser u m a d o t a ç ã o d i v i n a , é a prerrogativa que seu p o r t a d o r v i v ê n c i a e n t r e o h o m e m e o sagrado, a t r a v é s do d o m í n i o de u m saber que e s t á envolto a segredos e que se c o m p õ e m de u m misto de f ó r m u l a s e p r o c e d i m e n t o s r i t u a l i z a d o s , a r r e g i m e n t a d o s por u m sistema s i m b ó l i c o de c r e n ç a s . A l é m d i s t o , o r e c o n h e c i m e n t o do "dom", por n ã o se t r a t a r de u m fato isolado no contexto social dos erveiros, i m p l i c a , entre o u t r a s coisas, n a d e n o m i n a ç ã o o u n ã o de " c u r a n d e i r o " , o que de certa m a n e i r a c o n t r i b u i p a r a d e t e r m i n a r a f o r m a como o g r u p o pesquisado se pensa socialmente:

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"Aqui, nós é conhecedor de pranto, que serve prá doença de muitas qualidade... Tem vez, que a pessoa vem aqui porque o médico desenganou e tudo mais... Eu aqui, não engano ninguém. Quando posso, curo mermo... Quando não é pra curar, só Deus dá jeiro... Eu acho que isso é ser curandeira também, né!"

(Erveira - Feira Central)

"OU Quando os povo pergunta o que eu faço, eu digo logo que trabaio com ervas, com pau de mato prá remédio... Ai, todo mundo sabe que sou raizeiro... Mas, tem gente que acha que eu sou curandeiro... e termina sendo, né mermo!"

(Erveiro - Centro Comercial)

"Tem curandeiro nesse mundo, eu sei que tem. Eu só não sei, se é que nem eu... (Erveiro - Centro da cidade)

Eu não quero dizer que sou curandeiro mermo, porque curandeiro mermo, tem saber de reza forte, tira inté mandiga... Mas, raizeiro também pode ser curandeiro... porque num cura com o saber das plantas? "

(Erveiro - Feira Central)

Nas falas coligidas, observa-se, p o r t a n t o , que todos os entrevistados d e m o n s t r a m dificuldades em se a u t o d e n o m i n a r socialmente. Apesar de v a c i l a r e m entre raizeiro e c u r a n d e i r o , quase todos a l m e j a m ser reconhecidos por parte da sua clientela, ou mesmo da c o m u n i d a d e como u m todo, como c u r a n d e i r o ; isto lhes conferiria, de certo, u m s t a t u s m a i s elevado n a h i e r a r q u i a v a l o r a t i v a do m u n d o de c u r a s populares, onde se realizam as diferentes modalidades de m e d i c i n a p o p u l a r .

Por o u t r o lado, c o n v é m s u b l i n h a r que a d e n o m i n a ç ã o de c u r a n d e i r o frente à m e d i c i n a c i e n t í f i c a r e a l ç a a r e l a ç ã o conflitante existente entre m é d i c o s e c u r a n d e i r o s n a arena d a sociedade, onde estas d u a s formas diferenciadas de saber coexistem, tornando-se evidente a i m p o s s i b i l i d a d e

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da c i ê n c i a se c o n c i l i a r c o m u m a f o r m a de c u r a que é p r o d u z i d a fora dos seus d o m í n i o s legais. O que significa dizer que se a d e n o m i n a ç ã o de c u r a n d e i r o , d e n t r o do contexto de c u r a s populares, consiste n u m a r e p r e s e n t a ç ã o social de s t a t u s m a i s elevado, no exterior desse c o n t e x t o , no e n t a n t o , aparece como elemento de conflito entre m é d i c o s e c u r a n d e i r o s , q u a n d o estes p r i m e i r o s t e n t a m d e l i m i t a r ideologicamente o ofício do c u r a n d e i r o como u m a p r á t i c a i l e g í t i m a de c u r a . A f i n a l , " n ã o s ã o os profissionais p o p u l a r e s de c u r a que definem o u a f i r m a m p o l i t i c a m e n t e , n a sociedade, o que eles mesmo s ã o e o que eles fazem (...), a s u a i d e n t i d a d e é v i v i d a de d e n t r o da sua c u l t u r a , e, m a i s p a r t i c u l a r m e n t e , da s u a categoria p r o f i s s i o n a l , mas é a f i r m a d a p o l i t i c a m e n t e de fora". A f i r m a Elda Rizzo de Oliveira (1985:63).

L a n ç a r u m o l h a r para os erveiros, objetivando c o m p r e e n d e r as r e p r e s e n t a ç õ e s que i n c i d e m sobre o corpo, a d o e n ç a e a c u r a entre eles, i m p l i c a e m s i t u á - l o s n a lógica da c h a m a d a " m e d i c i n a p o p u l a r " . P o r é m , p a r a que o t e r m o m e d i c i n a p o p u l a r seja a q u i u t i l i z a d o , é sugestivo antes esclarecer q u a l a d e s i g n a ç ã o que ele apresenta no â m b i t o d a sociedade c o n t e m p o r â n e a .

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A s s i m , u m a das d e f i n i ç õ e s m a i s esclarecedoras do conceito de m e d i c i n a p o p u l a r se e n c o n t r a s i t u a d a no conceito de " c u l t u r a p o p u l a r " . Este, frequentemente pensado sob a ó t i c a da p o l a r i z a ç ã o entre c u l t u r a p o p u l a r versus c u l t u r a e r u d i t a , n a q u a l a c u l t u r a p o p u l a r é e n t e n d i d a como todas as m a n i f e s t a ç õ e s c u l t u r a i s que e s t ã o fora do c o n t r o l e das classes d o m i n a n t e s e que n ã o se i n s c r e v e m n a l ó g i c a das suas i n s t i t u i ç õ e s , se c o n t r a p o n d o a u m u n i v e r s o de l e g i t i m i d a d e , expressas pelo saber e r u d i t o . Nesse sentido, a c u l t u r a p o p u l a r e s t á ligada à m a n u t e n ç ã o de c o n c e p ç õ e s e formas de o r g a n i z a ç õ e s de v i d a , a s s i m como à t r a n s f o r m a ç ã o destas.

M a r i l e n a C h a u í (1989), ao d i s c u t i r sobre o conceito de " c u l t u r a popular", desenvolve u m a c r í t i c a b a s t a n t e p e r t i n e n t e a este t e r m o . Segundo ela, o termo revela u m a d u p l a i n t e r p r e t a ç ã o , u m a vez que t a n t o pode representar a c u l t u r a gerada o u m a n i p u l a d a pelo povo, como a c u l t u r a que é i m p o s t a de cima para baixo, como a " c u l t u r a de massa".

Nesse sentido, o termo " c u l t u r a do povo" parece m a i s abrangente, posto que a " c u l t u r a do povo" diz respeito n ã o apenas à c u l t u r a que pertence ao povo, mas que é p r o d u z i d a por ele. Sobre isso, acrescenta L u i z Gonzaga de Melo (1983:480):

"Esta colocação sugere que, apesar de dominado, o povo tem uma forma própria de sentir, de ver e interpretar o mundo que o cerca. Imaginar uma cultura popular completamente dominada pela cúpula é aceitar um povo completamente passivo que se compraz em receber a cu/lura sem nenhum senso critico, o que não parece verdade "

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C o m base nesta perspectiva, Elda Rizzo de Oliveira define m e d i c i n a p o p u l a r como sendo: "Um conjunto de práticas de cura baseadas

num saber nascido dentro da cultura popular, como parte da compreensão que seus sujeitos têm da vida, do mundo e de suas necessidades, frente à

doença." (1985: p . 43)

Percebida dessa m a n e i r a , a m e d i c i n a p o p u l a r se c o n s t i t u i como parte de u m processo d i n â m i c o e a t u a l , que se caracteriza por diferentes etapas de desenvolvimento e por v á r i a s r e p r e s e n t a ç õ e s ; a l é m de apresentar u m a m u l t i p l i c i d a d e de p r á t i c a s , c o n s t i t u i n d o i n ú m e r o s significados, diferentemente da m e d i c i n a e r u d i t a que se caracteriza por ser a s í n t e s e , o resultado concreto da s i s t e m a t i z a ç ã o , da c o d i f i c a ç ã o c i e n t í f i c a de u m d e t e r m i n a d o tipo de c o n h e c i m e n t o , p r o d u z i d o no â m b i t o das i n s t i t u i ç õ e s r e g u l a m e n t a d a s pelo Estado.

A n c o r a d a nessa d i f e r e n c i a ç ã o , Oliveira observa que a m e d i c i n a p o p u l a r se i m p õ e como u m a r e s i s t ê n c i a p o l í t i c a e c u l t u r a l . Política, na m e d i d a e m que expressa as varias formas de c u r a e c o n c e p ç õ e s de m u n d o , diferentes e a l t e r n a t i v a s à m e d i c i n a e r u d i t a . C u l t u r a l , porque consegue c o n f r o n t a r seus saberes e a c u l t u r a n a q u a l e s t á i n s e r i d a aos conhecimentos m e t ó d i c o s da m e d i c i n a e r u d i t a , l e g i t i m a d a pela c i ê n c i a a c a d é m i c a , c o n s o r c i a d a à elite c u l t u r a l n a sociedade o c i d e n t a l .

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F r a n ç o i s L a p l a n t i n e e Paul-Louis Rabeyron, ao a b o r d a r e m a a t u a l s i t u a ç ã o das m e d i c i n a s a l t e r n a t i v a s no m u n d o c o n t e m p o r â n e o , p a r t i c u l a r m e n t e n a F r a n ç a , a p r e s e n t a m u m a e l u c i d a t i v a d e f i n i ç ã o do conceito de m e d i c i n a p o p u l a r . Para estes a u t o r e s , a m e d i c i n a p o p u l a r se c o n s t i t u i de p r á t i c a s suficientemente h o m o g é n e a s , podendo ser a g r u p a d a s n u m mesmo conceito, o u seja:

"a medicina popular é inicialmente, uma medicina tradicional. Jsso não significa que seja imutável, porém, designa certo modo de transmissão essencialmente oral e gestual, por ouvir-falar e ver-fazer, que não se comunica através da instituição médica, mas por intermédio da família ou da vizinhança. " (1989: p. 51)

Na verdade, para estes a u t o r e s , a m e d i c i n a p o p u l a r e s t á f u n d a m e n t a d a n u m a v i s ã o coerente do h o m e m e do cosmo, que se c o n s t i t u e m no fornecimento de "respostas integrais" a u m a g a m a de i n s a t i s f a ç õ e s vividas pelos i n d i v í d u o s , que n ã o se l i m i t a m apenas à s de o r d e m s o m á t i c a s , mas p s i c o l ó g i c a s , sociais, e s p i r i t u a i s e existenciais, o que a faz, mais u m a vez, d i s t i n t a da m e d i c i n a c i e n t í f i c a , que fornece e x p l i c a ç õ e s e x p e r i m e n t a i s sobre a d o e n ç a e os meios eficazes de t r a t á - l a .

A q u i , p o r t a n t o , tomando-se como referencial o p o n t o de i n t e r s e ç ã o das abordagens que t e n t a m e l u c i d a r o conceito de m e d i c i n a p o p u l a r , considerou-se i m p o r t a n t e defini-lo como todas as r e p r e s e n t a ç õ e s e p r á t i c a s relativas à d o e n ç a e à c u r a , que se m a n i f e s t a m revestidas de i n ú m e r a s formas, dotadas de d i n â m i c a e de lógica p r ó p r i a s , que p o s s i b i l i t a m sua c r i a ç ã o e r e c r i a ç ã o em contextos c u l t u r a i s e s p e c í f i c o s ,

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sendo, sobretudo, p r á t i c a s sociais engendradas pelos h o m e n s e p a r a os h o m e n s , que refletem u m a r e l a ç ã o p e c u l i a r de i n f l u i r sobre a n a t u r e z a , v i s a n d o e x t r a i r dela os recursos que c o n s o l i d a m s u a p r á t i c a .

I m b u i n d o - s e de c o n s i d e r a ç õ e s de o r d e m c o n c e i t u a i s e m e t o d o l ó g i c a s , c o m u m roteiro de entrevistas elaborado a n t e c i p a d a m e n t e , p a r t i u - s e f i n a l m e n t e pa r a o p r i m e i r o c o n t a t o c o m os erveiros. De m a n e i r a geral, a r e a l i z a ç ã o das entrevistas se d e u de f o r m a ágil, e m b o r a , e m a l g u m a s bancas, t e n h a sido n e c e s s á r i a u m a longa conversa c o m o erveiro sobre a pesquisa que se p r e t e n d i a desenvolver, i n c l u s i v e p o r q u e , por v á r i a s vezes, a pesquisadora foi c o n f u n d i d a c o m o u t r o s profissionais, como por exemplo assistente social d a Prefeitura, agente fiscalizador da Secretaria de S a ú d e P ú b l i c a do M u n i c í p i o e a i n d a como j o r n a l i s t a em b u s c a de n o t í c i a para e x i b i r na i m p r e n s a . P o r é m , esclarecidas as d ú v i d a s desse p r i m e i r o m o m e n t o , os erveiros se m o s t r a r a m receptivos à e n t r e v i s t a , c o l a b o r a n d o plena e satisfatoriamente, i n c l u s i v e p e r m i t i n d o a p r e s e n ç a d a pesquisadora n a b a n c a de ervas por a l g u m a s h o r a s d i á r i a s , p o s s i b i l i t a n d o a s s i m a o b s e r v a ç ã o p a r t i c i p a n t e do processo de t r a b a l h o nas b a n c a s de c o m p r a e venda das ervas.

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C o m r e f e r ê n c i a ao aspecto "físico" das b a n c a s de ervas, verificou-se que o p a d r ã o p r e d o m i n a n t e se caracteriza por e s t r u t u r a s i m p r o v i s a d a s , feitas de m a d e i r a tosca e folhas de zinco c o m c o b e r t u r a de l o n a o u p l á s t i c o ; p o r se t r a t a r de u m c o m é r c i o c o m c a r a c t e r í s t i c a a m b u l a n t e , as b a n c a s s ã o m o n t a d a s e d e s m o n t a d a s d i a r i a m e n t e , e n q u a n t o que as ervas s ã o a c o n d i c i o n a d a s e m sacos p l á s t i c o s , caixas de p a p e l ã o , latas, o u envolvidas n a p r ó p r i a l o n a que cobre a banca, como b e m i l u s t r a o m a t e r i a l fotográfico a seguir:

Banca de ervas (Feira Central) (Foto 2)

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T a m b é m é visível que, a l é m das ervas e garrafadas expostas à venda, o u t r o s p r o d u t o s s ã o comercializados, e m b o r a e m m e n o r fluxo, como: escorredores de p r a t o s , espanadores, colheres de p a u , g a l i n h a s , peixe-seco, abanos, temperos caseiros, panelas, vassouras e q u a d r o s c o m imagens representativas do s i n c r e t i s m o religioso e de a r t i s t a s televisivos.

Banca de ervas (Feira Central) (Foto 2)

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T a m b é m é visível que, a l é m das ervas e garrafadas expostas à venda, o u t r o s p r o d u t o s s ã o comercializados, e m b o r a e m m e n o r fluxo, como: escorredores de p r a t o s , espanadores, colheres de p a u , g a l i n h a s , peixe-seco, abanos, temperos caseiros, panelas, vassouras e q u a d r o s c o m i m a g e n s representativas do s i n c r e t i s m o religioso e de a r t i s t a s televisivos.

Banca de ervas (Feira Central) (Foto 2)

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E m a l g u m a s b a n c a s s i t u a d a s n a F e i r a C e n t r a l , observou-se que as ervas e s t ã o dispostas u m a s sobre as o u t r a s , de t a l m a n e i r a que f o r m a m u m a d i v i s ó r i a entre a r u a e a p a r t e i n t e r n a d a b a n c a . Neste e s p a ç o , o erveiro c o s t u m a realizar c o n s u l t a s m a i s e s p e c í f i c a s que exigem u m a m a i o r p r o x i m i d a d e entre ele e seu cliente.

Banca de ervas (Feira Central) (Foto 5)

Nesse a m b i e n t e , e n t ã o , reside a l ó g i c a do c o n h e c i m e n t o p o p u l a r que se a s s e n h o r a de u m u n i v e r s o d i n â m i c o mesclado de p r á t i c a s , c r e n ç a s , saberes, feitiços e religiosidade. Nele, a d o e n ç a , a c u r a e o corpo s ã o pensados, vividos e representados como elementos que c o m p õ e m u m a ú n i c a realidade, a realidade das c u r a s p o p u l a r e s .

Referências

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