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O envelhecer de homens e mulheres e a dança que baila suas vidas

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

O ENVELHECER DE HOMENS E MULHERES

E A DANÇA QUE BAILA SUAS VIDAS

JANIELE TAMIOZZO

Ijuí – RS 2014

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JANIELE TAMIOZZO

O ENVELHECER DE HOMENS E MULHERES

E A DANÇA QUE BAILA SUAS VIDAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Bacharelado e Licenciatura em Educação Física, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharelado e Licenciatura em Educação Física.

Orientadora: Lisiane Goettems

Ijuí – RS 2014

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A quem dedico:

À minha querida nona Eva (in memorian). Foi-se embora um anjo, fonte de luz e sabedoria. Ficam as lições e a eterna saudade. À minha mãe Marilene, pela dedicação e força em todos os momentos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela luz que faz guiar e iluminar minha trajetória. “Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito de baixo do céu: Há tempo de nascer, e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de colher o que plantou” (Ec. 3: 1-2). Aos meus pais, pelo apoio, por acreditarem em meus sonhos e escolhas. Em especial à minha mãe, Marilene, pela intensa dedicação à minha família nos momentos ausentes.

Agradeço, em especial a um anjinho, chamado Lucas. Filho querido, que é minha fonte de inspiração e vontade de seguir adiante. Amor incondicional. Foram tantos momentos distantes, mas acredito que não foram em vão.

Ao meu marido, esposo, namorado e companheiro Fabrício, por dez anos de caminhada juntos, pela força, ajuda e compreensão em todos os momentos. Sei que foi difícil esta caminhada, mas o que prevalece é o amor.

À grande mestre Lisiane, por ter me acompanhado nesta trajetória, ter guiado meus passos e pelas palavras sempre de motivação. Meu muito obrigada. Aos demais professores do Curso de Educação Física, pela aprendizagem e troca de saber, são grandes mestres.

Por fim, a todos aqueles que de uma maneira ou outra ajudaram e estiveram ao meu lado.

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“Renda-se como eu me rendi, mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.

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RESUMO

Nos dias de hoje falamos e percebemos muitos modos de ser e estar idoso, pois estes são os atores da nossa sociedade e cultura, num crescente contingente de pessoas pertencentes ao grupo, pois conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), considera idoso todo individuo com 65 anos de idade, ou mais em países desenvolvidos e com 60 anos, ou mais, os residentes em países em desenvolvimento. Como diz Goldfarb (1998, p. 2) “falando de todas as velhices (dos outros) sempre falamos de uma velhice (a nossa) e dos muitos velhos que podemos chegar a ser. Da velhice que desejamos e da que tememos. Cada sujeito tem sua velhice singular”. Neste sentido, esta pesquisa tem como objetivo investigar idosos que participam do “Clube Viver a Vida para ser Feliz”. Procura-se responder as seguintes questões: Qual a relação que os idosos têm com o ato de dançar e a sua vida? O que a dança proporciona a eles? Por que buscam a dança em suas vidas? Há uma mudança na vida desses idosos que dançam? Para tentar responder tais questões foi necessário verificar o que mostra a opinião dos idosos participantes desse estudo e a literatura a respeito do tema. A pesquisa caracterizou-se como pesquisa de campo de cunho etnográfico, com análise qualitativa, com recortes das narrativas dos sujeitos da pesquisa. Para tal, essa pesquisa foi desenvolvida em vários momentos. No primeiro momento, realizamos uma busca teórica acerca do assunto da pesquisa. Na qual no primeiro capítulo há um referencial teórico destacando alguns pontos como a fenomenologia do envelhecer, o significado do envelhecer no olhar do idoso, corpo: sentido e significado e por último a dança na vida dos idosos. O segundo capítulo tratará sobre os processos da pesquisa, onde optamos por conhecer e pesquisar o baile realizado pelo “Clube Viver a Vida para ser Feliz”, localizado no Bairro Modelo de Ijuí – RS. Os dados foram obtidos nos períodos de 05 de setembro a 10 de outubro de 2013, num total de seis encontros, os quais foram registrados em um diário de campo e por meio de entrevistas gravadas com quatro participantes. Os sujeitos da pesquisa foram três mulheres e um homem, com faixa etária de 62 a 78 anos. Para a análise foram realizados recortes das narrativas dos entrevistados, tendo embasamento teórico para fundamentação. Os dados coletados indicam que os idosos sentem prazer em dançar, que buscam a dança como uma forma de dar sentido às suas vidas. A dança para os entrevistados do “Clube Viver a Vida para ser Feliz” do Bairro Modelo ultrapassa as formalidades e coreografias. Conforme Geraldi (1997, p. 29) “em dança não existe o antes, nem o depois: só o durante”.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 7

1 REVISÃO DA LITERATURA ... 9

1.1 FENOMENOLOGIA DO ENVELHECER ... 9

1.2 O SIGNIFICADO DO ENVELHECER NO OLHAR DO IDOSO ... 11

1.3 CORPO: SENTIDO E SIGNIFICADO ... 13

1.4 A DANÇA NA VIDA DOS IDOSOS ... 17

2 TRILHAR METODOLÓGICO ... 20

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ... 20

2.2 PROCEDIMENTOS ... 20

2.3 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ... 21

2.4 ASPECTOS ÉTICOS... 21

2.5 ANÁLISE DOS DADOS ... 22

2.6 O CAMPO DA PESQUISA ... 22

2.6.1 O Baile ... 22

2.6.2 “Clube Viver a Vida para ser Feliz” ... 22

2.7 SOBRE OS ENTREVISTADOS ... 23 2.7.1 João ... 23 2.7.2 Maria ... 23 2.7.3 Ana... 24 2.7.4 Tereza ... 24 3 RECORTANDO AS NARRATIVAS ... 25 3.1 O CORPO E O ENVELHECER ... 25

3.2 MOTIVOS QUE LEVAM À DANÇA ... 26

3.3 DANÇA, AS SENSAÇÕES QUE O BAILE PROPORCIONA ... 29

3.4 VENDO-OS DANÇAR ... 30

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 32

REFERÊNCIAS ... 34

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INTRODUÇÃO

Hoje as pessoas estão vivendo cada vez mais. No Brasil o processo de envelhecimento populacional se dá em um ritmo sem precedentes. Considerando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 1999 e 2009 a proporção de idosos (60 anos ou mais), no Brasil aumentou de 9,1% para 11,3%. Segundo o órgão, a população com essa faixa etária deve passar de 14,9 milhões (7,4% do total) em 2013 e para 58,4 milhões (26,7% do total) em 2060. No período, a expectativa média de vida do brasileiro deve aumentar dos atuais 75 anos para 81 anos. De acordo com o IBGE, as mulheres continuarão vivendo mais do que os homens. Em 2060, a expectativa de vida delas será de 84,4 anos, contra 78,03 dos homens.

O tema envelhecer está presente na nossa contemporaneidade atual e o olhar sobre a velhice vem sendo mudado ao longo dos tempos. Compreende-se que a velhice sim, pode ser um período de descobertas, de ir em busca de suas concretizações de sonhos e aprendizagens. Enfim tempo para viver, reinventar-se e ser feliz. Neste conjunto de possibilidades a dança pode ser um dos encontros ou reencontros vividos pelos idosos, seja para uma forma de relacionar e conhecer o mundo, seja para conhecer-se mais. A dança para o idoso encontra caminhos para a sua busca da afirmação enquanto sujeito de uma sociedade, ou sujeito que continua imerso em espaços sociais públicos.

Neste sentido, esta pesquisa tem como objetivo investigar idosos que participam do “Clube Viver a Vida para ser Feliz”. Procura-se responder as seguintes questões: Qual a relação que os idosos têm com o ato de dançar e a sua vida? O que a dança proporciona a eles? Por que buscam a dança em suas vidas? Há uma mudança na vida desses idosos que dançam?

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O ponto de partida inicial desta pesquisa se deu por experiências na área da terceira idade por muitos anos e a participação com grupos de idosos e em bailes. A dança e o idoso possuem um universo mágico, onde o idoso se (re)conhece enquanto sujeito.

O que vemos muitas vezes é um idoso calado, doente, vendo os anos passar. O olhar sobre a velhice vem sendo mudado. Segundo Silva (2007, p. 110) “a velhice está sendo um tempo de descobertas e vivência de novas possibilidades”. A dança como uma das possibilidades que o idoso busca, sendo que através da dança ele (idoso) descobre-se, começa a se sentir, a atribuir significado à sua vida, pois sente-se útil e tem prazer em viver. Esta pesquisa poderá incluir mais idosos a esta prática que é a dança.

A presente pesquisa será organizada em três capítulos. O primeiro capítulo fará uma revisão da literatura sobre o assunto da pesquisa, que tem como itens, a fenomenologia do envelhecer, o significado de envelhecer no olhar do idoso, o corpo: sentido e significado e por último a dança na vida dos idosos. O segundo capítulo abordará o percurso metodológico da pesquisa, a sua caracterização, os procedimentos e coleta de dados, os aspectos éticos, análise dos dados, o campo da pesquisa e um pouco sobre a história de vida dos entrevistados. No último capítulo realizamos os recortes das narrativas dos entrevistados que foram agrupadas por categorias para posterior análise e discussão.

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1 REVISÃO DA LITERATURA

1.1 FENOMENOLOGIA DO ENVELHECER

Este primeiro item, fenomenologia do envelhecer, aborda a compreensão do idoso por meio da abordagem fenomenológica que Okuma (1998) apresenta em seu livro. A autora propõe que devemos primeiro compreender duas estruturas que são: o ser-no-mundo e o ser-com o outro para poder compreender a si mesmo.

Fenomenologia segundo Okuma (1998, p. 24) constitui-se de duas palavras: fenômeno e logos. Sendo fenômeno, como algo que se revela, o que mostra em si mesmo. A autora aborda o fenômeno entendido como a vivência, o questionamento e a compreensão. E logos como “o modo determinado de deixar e fazer ver”.

A fenomenologia é um método que possibilitará uma maior aproximação e compreensão do fenômeno, o idoso que dança.

Merleau-Ponty (apud OKUMA, 1998) propõe que quanto mais compreendemos a subjetividade, mais compreendemos a própria experiência, que é através da percepção do homem que compreendemo-los. E esta percepção está relacionada a uma intenção, a qual é direcionada pela consciência. Segundo Okuma (1998, p. 25):

[...] a consciência é a consciência de alguma coisa, sendo esta intencional. Esta intencionalidade é trazida como “o ato de atribuir sentido”, é o que atribui significados e sentidos as coisas. Por meio da intencionalidade, ele se abre para o mundo que tem significação para si.

Conforme Okuma (1998) o homem percebe o mundo que está ligado àquilo que ele se envolve. Para muitos idosos, o dia a dia passa despercebido, os seus significados/sentidos são vividos sem preocupação, agindo mecanicamente, apenas reproduzindo o que é nos transmitido. Distanciando daquilo que é próprio do ser e do viver.

O idoso muitas vezes vê o envelhecimento como algo negativo, ligado somente a perdas e o aparecimento de doenças. Os idosos não conseguem se perceber e se sentir, que continua sendo um ser, um indivíduo normal, que apenas está passando por mais uma etapa de sua vida. As mudanças são muitas nesta fase

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de vida e deve ser encarada com realidade, e que o idoso busque sua significação, seu encontro em si mesmo.

Heidegger (apud OKUMA, 1998) aponta que para captar nossas vivências temos que entender as estruturas que compõem a existência humana, que são: ser-no mundo e o ser-com. O ser-ser-no-mundo para Okuma (1998, p. 26) é a estrutura fundamental que constitui o ser. Segundo ela:

[...] é na experiência cotidiana imediata em que se desenvolvem todas as atividades que o ser no mundo se constitui. Ser no mundo não significa colocar “ser” e “mundo” juntos, [...], mas significa que o ser é, antes de tudo, uma entidade que já está no mundo.

O mundo em que se referem não é o planeta terra, nem ao conjunto de casas ou países, mas está se referindo as possibilidades de ser. Okuma (1998, p. 27) compreende que “é o ser-no-mundo quem possibilita essas conjunturas, essas referências e a abertura para o mundo”.

Conforme Okuma (1998) sabemos da nossa própria existência a partir do outro. Heidegger (apud OKUMA, 1998) aponta dois modos: o modo com a preocupação e o modo da ocupação. Okuma (1998) relaciona estes modos com o outro. Em nosso cotidiano primeiro tentamos dominar o outro, perdendo autonomia fazendo tudo para o outro, restringindo suas possibilidades de ser. E o segundo modo apontado por Okuma (1998, p. 31) é colocar lado a lado do outro:

dando-lhe a possibilidade de ser, de abrir seus próprios caminhos, amadurecendo, crescendo, autoconhecendo-se, de forma que tenha autonomia, sinta-se livre, independente, sobretudo, seja responsável por cada um de seus atos.

Para compreender o idoso temos que primeiro desvelar o ser-no-mundo e que este no-mundo sempre é compartilhado com algo ou alguém, seria o ser-com. Para isso acontecer o corpo torna-se elemento que situa esse idoso. Corpo este que possibilita o idoso ser, mas para isso o idoso deve desvelar este corpo, que muitas vezes está encoberto por ele mesmo. Seus significados e sentidos estão esquecidos.

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1.2 O SIGNIFICADO DO ENVELHECER NO OLHAR DO IDOSO

“Falta pouco”

Falta pouco para acabar o uso desta mesa pela manhã o hábito de chegar à janela da esquerda aberta sobre enxugadores de roupa. Falta pouco para acabar a própria obrigação de roupa a obrigação de fazer barba a consulta a dicionários a conversa com amigos pelo telefone. Falta pouco para acabar o recebimento de cartas as sempre adiadas respostas o pagamento de impostos ao país, à cidade as novidades sangrentas do mundo a música dos intervalos. Falta pouco para o mundo acabar sem explosão sem outro ruído além do que escapa da garganta com falta de ar. Agora que ele estava principiando a confessar na bruma seu semblante e melodia. (Carlos Drummond de Andrade)

O significado do envelhecer no olhar do idoso reflete em diferentes possibilidades. Freitas et al. (2009) compreendem que os idosos se veem de diferentes formas.

Goldfarb (1998, p. 9) aborda que “a velhice não consiste somente num estado, mas um constante e sempre inacabado processo de subjetivação, pois na maioria do tempo não existe um ser velho, mas um ser envelhecendo”.

Goldfarb (1998) aborda que nas sociedades tradicionais os idosos/velhos representavam sabedoria, valores e culturas aos demais. Sendo um elemento na sociedade.

Já com a revolução do século XVIII houve mudanças nos valores. Passando a ter valor naquilo que se produz. Então o idoso como não é mais “produtivo”, passando a não ter mais um valor, indo ao encontro de uma sociedade mais individualista e seletiva. Para Goldfarb (1998, p. 11) “a velhice passando então a ser associados a inutilidade e a decrepitude”.

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Conforme Almeida (2004) os idosos passam por alterações durante suas vidas, que viver esta etapa da vida, a velhice com plenitude e serenidade, ou estar aprisionado em amarguras, queixas e ressentimentos.

Segundo Fernandes e Garcia (2010) há uma dicotomia vivida no processo de envelhecimento. De um lado a aceitação, do outro a negação, o desejável e o não desejável. Conforme Fernandes e Garcia (2010, p. 777) “a experiência da velhice se configura como um misto de alegria e preocupação”. A alegria a autora sugere como o de ter vivido muitos anos e a preocupação com o fim, a morte.

Conforme Freitas et al. (2009, p. 410):

para alguns idosos a velhice favorece o rememorar momentos considerados relevantes de suas vidas. Mesclam sentimentos de alegria e tristeza. Para outros idosos a velhice significa a interrupção de atividades que exerciam, e que gostariam de continuar a exercer.

Conforme Goldfarb (1998, p. 74):

todos conhecemos velhos que não se resignam às perdas, que persistem numa atitude de reivindicação como adolescentes narcísicos, que se afundam numa raiva constante, machucam-se na depressão, ou isolam-se na demência. Mas conhecemos também velhos felizes, aqueles que tendo conseguido levar uma vida rica em prazeres, produtiva ou apaixonada, resignam-se a uma despedida com a tranquilidade da missão cumprida, e com um íntimo contato com as boas lembranças através da reminiscência; são estes os que envelhecem serenamente.

Marrano (2006) em sua pesquisa com idosos propõe o envelhecimento como algo natural, sendo um processo natural da vida. Já para outros a velhice significa como algo negativo, a solidão, as perdas e a morte. E para outros idosos o envelhecer significa um conhecimento da vida, sabedoria, experiência de vida e muitos retratam como sendo algo a ser lembrado.

Silva (2007) sugere as possibilidades do ser no envelhecimento, que são: vivendo a vida, a finitude, a espiritualidade e a convivência com a família. Vivendo a vida, as pessoas não se sentem envelhecendo, mas continuando a viver um outro momento de sua existência.

Segundo Marrano (2006) o olhar sobre a velhice vem sendo mudada. A velhice sim, pode ser um período de potencial, de ir em busca de suas concretizações, de sonhos, liberdades, enfim tempo para viver e ser feliz. Segundo

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Silva (2007, p. 110) “a velhice está sendo um tempo de descobertas e vivência de novas possibilidades”.

Okuma (1998) sugere que olhar para a velhice somente no aspecto negativo, é olhar com parcialidade para o envelhecer. Conforme Freitas et al. (2009, p. 410) “os modos de revelar o significado da velhice e processo de envelhecer para os idosos dependerão de como viveu essa pessoa e como fazem as adaptações e enfrentamentos cotidianos”.

1.3 CORPO: SENTIDO E SIGNIFICADO

“Retrato”

“Eu não tinha este rosto de hoje, assim, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: Em que espelho ficou perdida a minha face?” (Cecília Meireles)

A nossa sociedade contemporânea é demarcada pelo culto ao corpo, a juventude e a padrões de beleza. Silva e Xavier (2012) ressaltam que na atualidade a uma valorização do corpo, sendo este ligado a autoestima. Percebe-se que as imagens dos sujeitos das diversas idades encontram-se misturadas, confusas, ao passo que todos podem ter acesso aos mecanismos e produtos para “não envelhecer”.

Há uma obsessão pelo corpo jovem, conforme Silva e Xavier (2012, p. 211) na tentativa de “apagar ou corrigir os marcos da temporalidade inserida no corpo, podem significar desejo de evitar ou a vontade de camuflar a dor da finitude”.

Hoje, é notável a influência da mídia, no processo do envelhecer. É através dos “corpos velhos”, que a mídia busca introduzir fontes de rejuvenescimento, intitulando padrões de beleza, fazendo com que os idosos não se enxergam como são. Ocultando muitas vezes quem é esse idoso, ocultando este processo do envelhecimento que é um processo no qual todos nós um dia chegaremos.

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O que percebemos hoje é uma indústria midiática em torno dos idosos, fazendo com que estes remodelem suas vidas, seus corpos. Conforme Bezerra (2006) em algumas pesquisas nas décadas de 70 e 80, a imagem do idoso era tida como algo negativo, a perdas. E com o passar dos anos esta imagem, estes corpos, começou a ser modificada. Conforme Bezerra (2006, p. 3) “no espaço midiático, o velho é incitado a adquirir novos hábitos e produtos para manter o corpo saudável e espírito jovem”.

A mídia nos mostra uma série de produtos destinados a este público idoso, fazendo com que este consuma cada vez mais. Esta indústria de consumo segundo Silva e Xavier (2012, p. 210) passa a enxergar nestes sujeitos idosos, uma maneira de otimizar seus lucros, investindo em produtos e tratamentos que “reduzam a distância entre velhos e jovens”.

A mídia muitas vezes compara o idoso com o jovem, negando sua identidade e visando somente em fórmulas para a juventude. Conforme Silva e Xavier (2012, p. 209) a mídia tanto pode contribuir para “formação quanto para a deformação de identidades”. O discurso difundido pela mídia não pode ser visto como uma verdade absoluta.

Muitas vezes o idoso acaba não somente consumindo os produtos, mas consumindo um modelo de sujeito. O idoso deve (re)aprender a refletir sobre si, rompendo com esse modo tradicional de olhar para seu corpo, vendo-o como algo distinto de si.

Caradec (apud GOLDENBERG, 2011) aborda a experiência de envelhecer sob dois elementos. O elemento “interior” e o elemento “exterior”. O primeiro elemento ele retrata que em muitos países, a aposentadoria é um fato que chega com o avanço da idade. Os papéis sociais já não são os mesmos. Muitas são as campanhas públicas para a faixa etária acima de 60 anos, um exemplo é as campanhas de vacinação para este público.

Segundo Caradec (apud GOLDENBERG, 2011, p. 24) “o existencialismo sartreano transformou o olhar do outro em verdadeiro agente do sentimento do envelhecendo”, pois o idoso muitas vezes se sente “velho”, por meio dos outros, conforme o outro, sem ter “vivenciado mutações graves”.

O envelhecimento também é vivenciado do “interior” como o autor aborda, por meio de manifestações corporais. Faz a abordagem do envelhecimento corporal por meio de três registros que são: corpo orgânico, da aparência e da energia.

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O primeiro, o corpo orgânico, refere-se às boas capacidades físicas e conservadas que muitos idosos mantêm nesta fase da vida. O registro da aparência está relacionado às “dimensões práticas do corpo” (GOLDENBERG, 2011, p. 25). É inevitável, é visível os sinais, as rugas. Para isso, o autor chama de “sinais possíveis do envelhecimento corporal”. Sendo uma preocupação de “ordem estética”.

Esta preocupação estética não deve estar ligada somente ao rosto, limita-se também a “postura, a movimentação, como quando a gente dança” (GOLDENBERG, 2011, p. 26).

O último registro abordado pelo autor refere-se à energia que está vinculada à vitalidade do corpo. Onde o fato do idoso se sentir bem, estar com sensação de boa forma, se opõem à fadiga, à fraqueza. Conforme Caradec (apud GOLDENBERG, 2011, p. 40):

o sentimento de envelhecer não vem apenas de fora, não é apenas produto do olhar do outro, mas envolve também uma percepção dos sinais corporais, ingerem nos diferentes registros do corpo orgânico, aparência e energia.

Diante destes sinais corporais, as pessoas que envelhecem realizam um trabalho tanto prático quanto simbólico, a fim de diminuir e manter a velhice distante.

Para Blessmann (2003, p. 101) é no envelhecimento que o corpo assume um papel importante, “pois é nele que se dão as mudanças, não só na aparência, como nas suas funções, o que faz com que a velhice seja temida”. Para o autor o nosso corpo tem dupla capacidade “ver e ser visto”. Este último mencionado pelo autor faz com que muitos idosos temam a velhice e a aceitação de si.

Segundo Almeida (2004, p. 87) “é a partir do corpo que conhecemos nossa verdade e a forma de envelhecermos”.

Conforme Blessmann (2003, p. 102) os sinais são evidentes e não podem ser negados, a pele, cabelos brancos, enfim algumas características desta etapa da vida.

Marrano (2006, p. 19) aborda que “o corpo é a totalidade daquilo que o homem percebe, sente e vive. É o conjunto de significados daquilo que já viveu e está vivendo”. Okuma (1998) ressalta que não é o envelhecimento que produz as perdas que os idosos trazem em seu discurso, mas a perda de contato com o corpo, o abandono que se auto-impõe ao longo da vida.

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Devido a vários fatores, a não aceitação de si mesmo, os preconceitos estereotipados da sociedade, o preconceito da própria família, a cultura onde está inserido também contribui. O idoso deixa de criar possibilidades de ser e passa somente a esperar a morte e ocupar-se, como Okuma (1998) aborda.

Segundo Oliveira et al. (2010) a maioria das pessoas não sabe definir seu corpo, pois o enxerga como algo externo, separando o corpo em partes. Segundo Marrano (2006, p. 13) de certa forma a sociedade enxerga negativamente pelo corpo, o que é velho.

Marrano (2006) aborda que:

[...] o corpo velho não é visto como corpo, mas também como um pacote de atributos estigmatizante a respeito da personalidade, do papel social, econômico e cultural do que é ser velho. Esta categoria angustiante da velhice impõe a não aceitação e abominação do próprio corpo, forçando-o ao distanciamento, buscando arduamente um corpo perfeito [...]. Não aceitar o corpo, não valorizá-lo da maneira que ele se apresenta é estar também desprovido do presente, é viver perdido entre a memória de situações passadas, que busca referência.

Conforme Oliveira et al. (2010) a aceitação do corpo em sua totalidade faz com que o idoso possa viver com mais felicidade, sendo assim influencia em sua saúde, seja ela física ou mental.

Conforme Almeida (2004, p. 97):

estar em contato consigo mesmo e perceber o mundo interior conectado com o meio externo traz ao idoso a luz que lhes permite refletir sobre uma nova possibilidade de vida, com sensações adormecidas há algum tempo.

Marrano (2006, p. 36) compreende que pensar em cuidar do corpo, realizar caminhadas, fazer ginástica, participar de jogos, dançar, não significa pensar somente em maior aptidão física ou desempenho motor, beleza ou força, mas vai além disso. Segundo o autor “é uma preocupação que faz parte de nós, como estrutura existencial, cuidar do corpo é um constituinte da preocupação com o ser, fazendo parte de um modo próprio de nos envolvermos com ele”.

Conforme Delfim (2006) hoje o corpo apresenta-se como sendo uma necessidade à vida. Aborda que o corpo em movimento não só constitui em atender as necessidades vitais como as sociais em relação à autoimagem, ao outro, na busca de sua identidade do “eu existencial”.

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Delfim (2006, p. 36) sugere que “a vivência e o poder sobre o corpo vão sendo adquiridos pela sobreposição de atividades físicas”.

1.4 A DANÇA NA VIDA DOS IDOSOS

A dança sempre esteve presente em nossas vidas. Conforme Barreto (2004, p. 76) “o sentido da dança é a própria existência humana”. Por isso, só é possível compreender este sentido na experiência. E são múltiplos os papéis que a dança pode assumir, em diferentes situações da vida e da história da humanidade. A dança, assim como outras expressões artísticas, sofreu e vem sofrendo influências, surgindo novos estilos, ritmos, novas formas de se dançar. A dança nos faz movimentar-se e através dela expressamos nossa cultura e nossa história. É um instrumento de aproximação consigo, com o outro e com o mundo que nos cerca.

A dança tem grande aceitação e procura por idosos, pois esta prática possibilita uma maior aceitação nesta fase da vida. Possibilita um viver melhor, resgate social, uma forma de superar limites, vivenciar grandes emoções, amores, resgatar história e lembranças de tempos anteriores.

Nanni (apud DELFIM, 2006) aponta a dança como linguagem corporal, simboliza as alegrias, tristezas, vida e morte, para celebrar o amor, a guerra, a paz, ou seja, ela representa diversos aspectos da vida humana.

Para Garaudy (apud DELFIM, 2006, p. 38) a dança mostra-se como um modo de existir, pois esta possibilita a ressignificação do cotidiano e dos hábitos do corpo.

Segundo Figueiredo (2013, p. 147) os nossos significados estão vinculados ao nosso organismo/ambiente. Os significados são construídos constantemente, depende das experiências, da integração do nosso corpo, mente e ambiente. Conforme o autor “a construção de significados na dança dar-se-á através do encontro corporal com o mundo, bem como os nossos sentimentos e pensamentos”.

Johnson (apud FIGUEIREDO, 2013, p. 148) aborda que “a construção da significação não se restringe ao movimento, posto que a visão, o tato e a audição também participam deste processo”. Na dança há trocas de experiências com as outras pessoas ao nos movermos, pois conforme Johnson (apud FIGUEIREDO, 2013, p. 149) “habitamos um mundo compartilhado, na qual dividimos significados”.

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Okuma (1998) aborda um outro olhar da atividade física para o idoso. A autora sugere a atividade física com um significado maior, sendo o caminho para a descoberta do idoso, que vai além da aptidão física, da capacidade funcional, do preenchimento do tempo livre, há mudanças a nível pessoal, repercutindo na sua dimensão existencial.

Okuma (1998) aponta que a atividade física deve ser compreendida como uma ocupação do ser idoso, possibilitando abertura de si. É através da atividade física que o idoso transforma e desvela o seu modo ser-no-mundo e também com o outro. Esta abertura leva aos idosos a perceber-se como são, percebendo seus valores e compreendendo-se.

Fonseca et al. (2012, p. 205) compreendem a importância de olhar a dança “como uma expressão dos sentimentos, por meio do corpo ao embalar da música”. Okuma (1998) propõe a dança como uma opção para os idosos, pois a dança integra, supera limites, livra das angústias incertezas e medos.

Nanni (apud DELFIM, 2006, p. 36) sugere a dança enquanto atividade física e comunicação não verbal que vem ao encontro das necessidades do homem contemporâneo com a finalidade de proporcionar as referências de si mesmo através da percepção da retomada de consciência de sua imagem corporal, em relação aos outros, ao ambiente.

Delfim (2006, p. 36) aborda a dança como uma atividade completa do ser humano, pois esta “promove a manifestação de emoções, sentimentos e desejos pessoais”.

Ribeiro (2003, p. 20) aborda que na dança não só os anseios, os sentimentos são colocados para fora, mas as angústias, as frustrações revelam-se na dança. “Que os sentidos e os papéis assumidos pela dança, constroem identidade postura de interação com o mundo” (RIBEIRO, 2003).

Conforme Ribeiro (2003) a dança como forma de conhecimento, que não existe idade para se dançar. Sendo a dança como forma de relacionar e conhecer o mundo e conhecer-se também.

Conforme Figueiredo (apud PINTO, 2008, p. 37) “cada pessoa tem o direito de fazer e escrever a sua história através da dança”.

Conforme Leal e Haas (2006) a dança tem boa aceitação pelos idosos, sendo que a idade não é obstáculo para se dançar. Marrano (2006, p. 37) “propõe a dança, os bailes, como um lugar de vivências novas, experiências com o amor, a

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amizade, a beleza, a sexualidade”. E para Leal e Haas (2006) a dança proporciona sensações de prazer, felicidade, satisfação e diversão.

Conforme Leal e Haas (2006, p. 66):

a dança como sociabilizadora e motivadora; seja em par ou sozinho, seja velho ou criança, seja homem ou mulher, dançando todos nos sentimos bem. É uma prática para toda a vida, que nos desperta sentimentos e desenvolve capacidades anteriormente inimagináveis.

Conforme Martins (2010, p. 12) a dança consegue “resgatar a expressão da sensibilidade do indivíduo, pois faz vir à tona os sentimentos de forma concreta e harmônica”.

Conforme Martins (2010) a dança desenvolve vários valores, sejam eles: valor físico, valor mental, valor cultural, valor social, valor moral e valor recreativo. O autor aborda como valor físico, o desenvolvimento ao ritmo, a resistência, o equilíbrio, a flexibilidade, melhorando funções vitais. Já no valor mental, desenvolve a atenção ao sujeito, a sua memória, sua imaginação e seu individualismo.

No valor cultural, Martins (2010) propõe que a dança representa os costumes, as histórias e as tradições. O valor social está relacionado a novas amizades, o respeito e o companheirismo. Através da dança, o valor moral também está presente, na cooperação, na iniciativa, na gentileza e na perseverança. O valor recreativo ajuda na satisfação e maior equilíbrio emocional e alivia o stress diário.

Leal e Haas (2006) compreendem a dança na terceira idade positiva, seja nos aspectos físicos, sociais ou psicológicos.

Mas o dançar, também se refere ao outro, ao companheiro. Segundo Fonseca et al. (2012, p. 205) a dança está relacionada ao outro, pois esta é dançada a dois. “A dança a dois, torna necessário que esse corpo individualizado troque sentimentos, a fim de construir uma única linguagem corporal”.

Para finalizar a dança para o idoso é muito mais que uma atividade física, é uma busca de sua própria identidade, de seus valores e sentimentos. É um momento de experiência e resgatar sentimentos que às vezes são esquecidos por eles mesmos.

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2 TRILHAR METODOLÓGICO

Neste capítulo apresentaremos o percurso metodológico e o campo da pesquisa, na qual buscamos mostrar o que a dança proporciona aos idosos pertencentes ao “Clube Viver a Vida para ser Feliz” do Bairro Modelo do município de Ijuí – RS e algumas histórias de vida desses idosos que frequentam o baile deste grupo citado.

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Esta pesquisa caracteriza-se como sendo uma pesquisa de campo de cunho etnográfico que busca também a história dos participantes da pesquisa. A pesquisa sendo desenvolvida em duas etapas. A primeira etapa da pesquisa caracterizou-se por um referencial teórico embasado na problemática da pesquisa. E a segunda, como uma pesquisa de campo etnográfico de análise qualitativa, com entrevistas e gravações dos encontros.

A etnografia busca compreender os significados aderidos pelos sujeitos em seu contexto e sua cultura. Sendo assim, a pesquisa etnográfica tem sido um campo de investigação dos fenômenos sociais, partindo de que o pesquisador se torne ativo no universo a ser pesquisado. Segundo Gil (2010, p. 40) “a pesquisa etnográfica tem como propósito o estudo das pessoas em seu próprio ambiente mediante a utilização de procedimentos como entrevistas e observação”.

2.2 PROCEDIMENTOS

Para o desenvolvimento desta pesquisa, inicialmente foi realizado um movimento exploratório, com a finalidade de identificar o espaço para a realização da pesquisa. Num primeiro momento identificamos alguns idosos que participavam do grupo “Alegria” que realizava encontros e baile com idosos, mas o grupo não existe mais. Realizamos conversas informais com alguns idosos e frequentadores de bailes no município, onde chegamos ao nosso campo da pesquisa, o “Clube Viver a Vida para ser Feliz” do Bairro Modelo de Ijuí por ser um dos mais antigos do município com mais de 19 anos de convivência com idosos.

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Após a identificação do espaço da pesquisa realizamos visitas ao grupo para apresentação da pesquisa. Os dados para a pesquisa foram coletados por meio de entrevista semiaberta aplicada a alguns participantes do clube, relatório de campo e observações realizadas nos encontros. Para a participação das entrevistas foram levados em conta alguns critérios, como ter mais de 60 anos de idade, ser de ambos os sexos, estar participando do clube há mais de dois anos.

No local da pesquisa observamos seis encontros, no período de 05 de setembro a 10 de outubro de 2013 e também convidamos os sujeitos para participar da entrevista. Dos quatro convites realizados para a entrevista todos foram aceitos. As entrevistas foram realizadas no próprio clube.

2.3 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Na primeira etapa da pesquisa os dados foram coletados durante a visita ao “Clube Viver a Vida para ser Feliz”, com conversa inicialmente com os presidentes e coordenadores do grupo.

Já na segunda etapa os dados foram obtidos com a observação de seis encontros/bailes, os quais foram registrados os fatos mais importantes em diário de campo e também por meio das quatro entrevistas realizadas com os participantes. As entrevistas foram gravadas no celular para facilitar a pesquisa e sua análise posteriormente.

As entrevistas foram norteadas por algumas perguntas, separadas por blocos e constam como ANEXO A desta pesquisa.

2.4 ASPECTOS ÉTICOS

Inicialmente, na condução das entrevistas, foi explicado aos idosos os objetivos da pesquisa. Após o esclarecimento sobre o caráter livre e voluntário da participação foi requerido a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, como consta no ANEXO B.

Garantindo os aspectos éticos do anonimato, a identificação dos relatos foi feita, com nomes fictícios, para dificultar a identificação dos entrevistados.

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2.5 ANÁLISE DOS DADOS

As entrevistas foram analisadas uma a uma, em seguida agrupamos os recortes das narrativas em categorias, extraídas dos blocos que norteou as entrevistas. Na análise buscou-se entrelaçar as interpretações dos discursos dos entrevistados com teorias sobre os temas pesquisados, as quais permitiram a ampliação do estudo do conteúdo das entrevistas.

2.6 O CAMPO DA PESQUISA

2.6.1 O Baile

O baile foi um dos componentes para a realização desta pesquisa. No município de Ijuí têm cerca de doze bailes em toda a cidade, alguns são organizados por grupos, já outros por algumas instituições/clubes privados, visando lucro. Os grupos de bailes realizam além da dança atividades turísticas, passeios, almoço e jantares durante o ano. Os bailes estabelecem algumas normas para a entrada e conduta. Entre as normas não podem usar roupas curtas ou decotadas, não pode fumar dentro do salão, é proibida a entrada de pessoas com menos de 45 anos. Também é cobrado o valor da entrada.

No ambiente dos bailes se apresenta uma banda que é contratada, mesas ao redor da pista e bebidas alcoólicas para a consumação.

2.6.2 “Clube Viver a Vida para ser Feliz”

O Clube de Terceira Idade “Viver a Vida para ser Feliz” de Ijuí – RS1 não possui sede própria, onde o local de encontro é a sede do CTG Avô Maragato, onde pagam aluguel todo mês. O clube existe há mais de 18 anos. É independente, não recebe ajuda financeira nenhuma.

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O município de Ijuí está localizado no Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Ijuí, conhecida como Terra das Culturas Diversificadas, pela mistura de várias etnias que a compõem. Conforme dados do IBGE (2007) conta com uma população de aproximadamente 78.915 habitantes. Desta, mais de 11.115 são idosos. Composta por mais mulheres do que homens.

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Os bailes ocorrem todas as quintas-feiras no período da tarde, tendo início às 15 hs e 30 min e término às 21 hs. É cobrada a entrada de R$ 7,00 por pessoa. A média de participantes por baile varia em torno de 100 a 180 pessoas. No clube são instituídas algumas regras, como não é permitida a entrada de pessoas com menos de 45 anos, as vestimentas também não podem ser curtas e nem decotadas. O baile é promovido por uma equipe, presidente e vice, juntamente com colaboradores que ajudam voluntariamente. O baile promovido por este clube nos parece ser um ponto de encontro de amigos de muito tempo. Nas observações e nas idas ao clube nota-se que muitos frequentadores são assíduos, marcando prenota-sença toda quinta-feira.

Ir a campo nos bailes para a realização desta pesquisa me intrigou bastante, pois não sabia como seria a reação e a aceitação da mesma. Em função da minha diferença de idade era impossível não chamar a atenção. Quando entrava no salão e me sentava logo se aproximavam para saber do motivo de uma moça jovem no meio deles. As perguntas eram inúmeras, mas essa aproximação deles só veio a colaborar com esta pesquisa. Apesar de estar receosa encontrei um lugar muito receptivo, alegre e descontraído, algo que contagiava quando eles se aproximavam do local onde estava.

2.7 SOBRE OS ENTREVISTADOS

2.7.1 João

Homem, 79 anos, natural de Ijuí. É separado há mais de 15 anos. Casou-se novamente faz 10 anos, mas moram em casas separadas, ela mora em Santa Rosa. É motorista aposentado. Gosta muito de dirigir, passear. Encontrou sua companheira em um baile. Frequenta os bailes há mais de 17 anos. Participa todas as quintas-feiras, sozinho ou na companhia de sua esposa. O que mais gosta de fazer é ir aos bailes, ter um momento só para ele, descontrair com seus amigos dos velhos tempos. Ressalta ainda, que gosta de sair da rotina e de fazer coisas novas sempre.

2.7.2 Maria

Mulher, natural de Ijuí. Tem 63 anos, é viúva há mais de 10 anos. Gosta de namorar, é pensionista aposentada. Trabalhava fora, mas depois que se casou não

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trabalhou mais, devido a um problema de saúde e também porque seu marido não gostava. Tem apenas uma filha. Mora sozinha, mas ajuda a cuidar do neto que tem três aninhos. Gosta muito de dançar, começou a dançar depois que uma amiga a convidou. E dança há mais de cinco anos. Para ela a dança sempre esteve presente em seu coração, desde pequena gostava da dança. Mas seu pai era muito rude quando adolescente e não deixava dançar. Depois que se casou seu marido também não gostava que ela dançasse. Somente após a morte de seu marido que ela resgatou a dança em sua vida.

2.7.3 Ana

Mulher, 72 anos, viúva há mais de 40 anos. É do lar, nunca trabalhou fora. Teve um outro relacionamento de 14 anos, mas não deu certo. Atualmente tem namorado. Com a morte precoce de seu marido teve que criar seus dois filhos que ainda hoje moram com ela. Gosta de fazer trabalhos manuais e artesanato. A dança sempre esteve presente em sua vida, descobriu a dança há mais de 18 anos. Se sente bem em participar do clube e de dançar. Sua saúde melhorou após sua participação nos bailes. Se sente bem, gosta de sair com as amigas, tomar umas cervejinhas, paquerar. Gosta de viver a vida, pois segundo ela “a vida é curta demais para ter depressão”.

2.7.4 Tereza

Mulher, natural de Ajuricaba, está em Ijuí há mais de 20 anos. É agricultora aposentada. Tem 78 anos, viúva há mais de 17 anos, tem dois filhos. É independente, realiza todas as atividades da casa, gosta de trabalhar na horta, de visitar os vizinhos e netos e adora dançar. Gosta muito de viajar, já foi para o exterior com a família. A dança lhe dá prazer, pois para ela relembra os bons tempos. Começou a ir aos bailes devido ao convite de sua amiga. Relatou que seu falecido marido gostava muito de dançar, que os dois seguidamente participavam de bailes. Após a partida de seu esposo foi difícil para ela continuar, mas depois foi indo aos poucos, até que hoje participa todas as quintas-feiras. Ela adora dançar com suas amigas.

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3 RECORTANDO AS NARRATIVAS

Neste capítulo realizo os recortes das narrativas, de forma que foram agrupadas em categorias – o corpo e o envelhecer, motivos que levam a dançar; a dança e as sensações que o baile proporciona, as quais são apresentadas a seguir.

3.1 O CORPO E O ENVELHECER

Para Tereza o envelhecer é uma fase da vida, que sofre mudanças, mas, no entanto, não parece muito lhe incomodar.

O que eu vou dizer sobre o envelhecer, sobre o meu envelhecer. Aparentemente muda, o nosso corpo muda. A gente tem consciência que tá ficando velho, mas não sinto muito, não. Eu sei que nós passamos por ali (se referindo a velhice). A gente vai mudando também, o corpo muda. Os dentes não seguram mais, se termina as gengivas, os cabelos branquinhos, branquinhos. Mas a vida é assim, uns vão indo, morrendo, outros nascendo

(Tereza, 78 anos).

Semelhante a Tereza, Maria retrata que o envelhecer também está ligado a algumas mudanças na aparência basicamente, mas que isso faz parte deste processo.

O envelhecer pode ser bom ou não. Isso depende de nós não é? Uma pessoa com a mente fraca, espírito fraco, sente-se velha. Pois olha, para mim a gente tem que ser feliz [...]. Apesar das rugas me sinto bem. A gente sabe, que o corpo, a nossa carne, muda com o tempo, mas o meu “eu” é que vai dizer quem realmente sou, e como eu estou. Quando me olho no espelho, me sinto bonita, não sou recalcada com nada, não. Gosto de me maquiar, usar vestido, colocar um saltinho também. Gosto de me sentir bem, tô de bem com meu corpo, assim me sinto feliz (Maria, 63 anos).

Para Ana o envelhecer é um misto de sensações. É a fase onde se pode desfrutar de tudo, fazer o que mais gosta, que é o dançar.

Olha eu me sinto envelhecendo sim, mas isso não atrapalha muito. Claro que a gente fica às vezes meia triste com os passar dos anos. Mas por outro lado, a gente pode fazer aquilo que a gente quer e gosta, como dançar. Antes eu não podia, mas agora, ninguém me segura. Não precisa dar muita satisfação pra ninguém [...]. Sinto o meu corpo mudando. Os cabelos estão ficando brancos, mas eu pinto eles todo mês. As rugas, os pés de galinhas, mas isso é de nossa natureza. A gente tem que gostar de

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si. Deus quis assim, agradeço a ele todos os dias pelo dom da minha vida (,

Ana, 72 anos).

Para João o envelhecer está também na aparência, mas acima do corpo está a sabedoria, a experiência única que a vida lhe dá com o passar dos anos.

O envelhecer para mim é primeiro uma experiência de vida. Para outros pode ser outra coisa. Isso vai depender de como você chega na velhice. Para outros pode ser ruim chegar ao 7.9, mas para mim é só felicidade. Eu acho que a gente muda, nosso corpo, nossa cabeça também. A gente começa também na fase do tô com dor aqui, dor ali, nas nada como vim no baile, dar uma dançadinha (risos). É só começar a dançar que me esqueço das dores, pareço um guri de 20 anos (João, 79 anos)

Nota-se nas narrativas dos entrevistados que eles denunciam as marcas do envelhecimento em seus corpos. Os sinais são evidentes e não podem ser negados.

Blessmann (2003) aborda que o corpo no processo de envelhecer assume um papel importante, pois é nele que as mudanças ocorrem, principalmente as visíveis. No que se refere às visibilidades, este assume uma dupla capacidade: ver e ser visto.

Hoje é difícil assumir e/ou aceitar uma imagem envelhecida, em uma sociedade que tem como referência padrões de beleza e o culto ao corpo. Conforme Vargas (2009, p. 21) “a discriminação aos velhos é resultado dos valores típicos de uma sociedade de consumo e a mercantilização das relações, que valoriza a juventude e subestima a experiência acumulada dos idosos”.

Blessmann (2003) refere-se que não é possível pensar o corpo sem adentrar a evolução do mundo dos produtos e consumo. Conforme a fala de uma das entrevistadas, a beleza faz parte dos cuidados do seu corpo, o pintar o cabelo, o se maquiar está relacionado a um padrão/cultura.

Nas narrativas há uma grande preocupação com o cuidado do corpo, da aparência. Isso mostra que apesar da idade a vaidade ainda permanece neste corpo, fazendo com que estas mulheres idosas se sintam felizes e atraentes.

3.2 MOTIVOS QUE LEVAM À DANÇA

Inicialmente Tereza fala que sempre gostou de dançar. Que resgatou a dança após anos e hoje dança todas as quintas-feiras.

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Olha, eu sempre gostei de dançar. Desde garotinha isso me encantava. Logo que casei eu e meu marido sempre íamos nas reuniões dançantes. O marido gostava da dança, ele era o puxador da dança, não perdíamos um baile se quer. Meu marido veio a falecer, logo que viemos morar em Ijuí né. Depois que ele se foi, foi difícil pra mim continuar. A gente se sentia sozinha, sem a companhia dele parecia não ter graça. Não era a mesma coisa. Mas aos poucos, fui colocando na cabeça que seria bom voltar a dançar, seria bom lembrar dos bons tempos, apesar dele não tá mais comigo. A minha vizinha que me ajudou muito, após a morte de meu esposo, que me convidou a vim aqui no baile. Desde então, sabe, eu venho com ela e com o marido dela, a gente dança eu e ela, eu e o marido dela. A dança me faz bem assim (Tereza, 78 anos).

Para Maria a dança sempre esteve presente em sua vida. Adora dançar, não perde uma música se quer.

A dança eu descobri desde moça. Meu falecido marido não gostava de dançar. Eu sempre respeite, mas algo em mim mexia quando passava por perto de algum salão. Eu e meu falecido marido nunca dançamos juntos, nunca saímos pra dançar sabe, antigamente era difícil com meu marido. Depois que ele faleceu foi difícil pra mim, mas foi daí que descobri a dança novamente em minha vida. Aos poucos comecei a vim nos bailes, aos poucos comecei a viver novamente (Maria, 63 anos).

Eu gostava de dançar desde meninota, mas meu pai não deixava nos sair. Logo me casei, e meu marido não gostava de ir em baile, de dançar, de sair. Eu fiquei viúva cedo, com dois filhos pra criar, cuidava da casa, quase não saia, quando vi estava com depressão. Tomei por muitos anos muitos remédios, até um dia uma amiga me convidou pra vim aqui no clube. Fiquei com o pé atrás, pensei que não tinha mais idade pra sair. Foi quando resolvi vim, nos primeiros bailes fiquei meia ansiosa, não sabia muito como ia ser, sabe. Mas logo eu e me minha amiga saímos dançando, me senti bem. E tô até hoje aqui no clube (Ana, 72 anos).

Eu frequento o clube há mais de 17, 18 anos. Sempre venho aqui, só quando não estou em Ijuí. Olha, depois que me separei da minha ex-mulher, venho sempre. Ás vezes trago minha nova companheira também. Ela deixa eu vim sozinho, não tem problemas (risos). No começo minha família não aceitava muito não. Mas tudo é difícil no começo, mas depois foi melhorando. E não vem dizer que tudo são rosas, pois tem espinhos também. Tudo tem os dois lados. Eu não dou muita importância muito pro que os filhos achavam de eu vim nos bailes. Pois sabe, os filhos eu já criei, não dependo deles. E se tem baile eu vou a semana inteira, adoro dançar me dá muito prazer. Muitas vezes a gente acaba esquecendo da gente mesmo, por causa dos outros. Hoje comigo não tem isso. Se eu me sinto bem aqui no clube, é aqui que eu venho (João, 79 anos).

Nas narrativas percebe-se que todos sempre gostaram de dançar, que foi algo marcante e de algumas lembranças em suas vidas. E que a viuvez também se relaciona com a dança. Das mulheres entrevistadas a viuvez fez com que a dança

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voltasse para suas vidas, desabrochando seus corpos adormecidos. O relato de Maria nos leva a acreditar que após a morte de seu esposo a dança surgiu como uma oportunidade de recomeçar a viver e ser feliz.

Conforme Baldin e Fortes (2008, p. 48) “as perdas são contínuas ao longo da vida, ainda que a saudade permaneça, ficam as lembranças inesquecíveis, que ajudam a refazer o amanhã”.

Todos os entrevistados possuem histórias de vida que de certa forma remetem a momentos de ganhos e perdas. Onde estes sujeitos conseguem lidar com todo tipo de situação e emoção com personalidade e muita serenidade. Blessmann (2003, p. 35) aborda que “o que cada um tem dentro de si, é o que torna único, é a personalidade e esta não muda com a velhice”.

O relato de Maria nos leva a acreditar que após a morte de seu esposo a dança surgiu como uma oportunidade de recomeçar a viver e ser feliz. Sendo assim, Torres (2006) aborda que por outro lado, a viuvez denota aspectos positivos ao significar para o indivíduo autonomia e liberdade.

Já para Ana a viuvez veio cedo, fazendo com que ela assumisse todas as responsabilidades da casa e dos filhos. Conforme Torres (2006, p. 13) a condição de viuvez pode fazer com que as pessoas após anos de convivência enfrentem um momento de solidão, processo profundamente sofrido, não só pela perda do marido ou esposa, mas pelas dificuldades em administrar a casa e os filhos na falta do chefe da família.

Os grupos são lugares onde os idosos tecem relações de proximidade, onde os idosos se sentem reconhecidos socialmente. A participação dos idosos nos grupos contribui para a construção de laços de amizades entre os participantes. Como visto, essa prática de sociabilidade no grupo de convivência é fonte de prazer.

Monteiro (2005) destaca que por meio das relações estabelecidas nos bailes é permitido que os idosos continuem agregando significados à construção de suas identidades corporais, porque descobrimos nosso corpo pela observação dos corpos dos outros.

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3.3 DANÇA, AS SENSAÇÕES QUE O BAILE PROPORCIONA

A dança modifica e faz florir sensações aos idosos possibilitando um viver melhor. Ela não só proporciona movimentos e deslocamentos corporais, mas vivencia emoções, superando barreiras do seu cotidiano.

Para a entrevistada Maria a dança (re)descobre novas sensações.

A dança, a música, a vinda para o baile, para mim faz parte da minha vida, da minha alma. Eu me desligo do mundo, eu fico assim, como se eu fosse um pássaro, livre, como se eu não tivesse preocupação, eu me perco no tempo aqui. Sabe depois da dor, veio a liberdade, sem pensar em compromisso. O dançar para mim faz libertar tudo que guardo no meu coração. Tenho que pensar no dia de hoje. Depois que saio daqui e vou pra casa, me sinto leve, parece que estou voando, me sinto bem, alegre e feliz, não tem palavras pra dizer de como é bom dançar. Só quem dança sabe o prazer que ela nos dá. Para mim vir aqui é meu maior prazer, ainda mais quando sou convidada a dançar (Maria, 63 anos).

Para mim a dança me faz bem. É também um exercício, uma terapia. Me faz relembrar dos tempos com o marido. Das coisas boas que vivemos. Me faz me senti bem. A dança traz muita coisa boa pra vida da gente. Ás vezes danço com as amigas, às vezes com os amigos, mas não importa. O que vale mesmo é estar aqui, poder sair de casa, ver pessoas novas, rever os amigos, tomar uma cervejinha. A dança é bom pra vida da gente. A gente nunca dança sozinho, sempre temos com quem dançar, não importa se a gente conhece ou não, não é. O que vale é a gente dançar com a nossa alma (Tereza, 78 anos).

Quando entro no salão me sinto uma moçinha de 20 anos. Eu me sinto com o coração renovado. Depois que comecei a vim aqui, me sinto mais forte, aqui é só alegria. É uma sensação maravilhosa. Como é bom encontrar os amigos, ser paquerada, sempre tem aquela troca de olhares (risos) (Ana, 72

anos).

Olha antes de começar a vim aqui no clube, eu tomava um punhado de remédios, até pra depressão. A minha separação não foi fácil. A família não entendia. Mas eu busquei uma força maior em mim, que dizia, que eu não podia abaixar a cabeça [...]. Quando eu danço, meu alto astral é contagiante. Eu gosto de brincar com as gurias, todas já me conhecem. Mesmo quando venho sem minha companheira eu danço, ela gosta que eu danço. As amizades aqui não tem preço. Sempre temos assunto pra conversar (João, 79 anos).

Barreto (2004, p. 1) aborda a dança como um dos “maiores prazeres que o ser humano pode desfrutar”. Para esta autora a dança é “uma ação que traz uma sensação de alegria, de poder, de euforia e superação de limites dos seus movimentos”.

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A dança também proporciona um contato com o próprio corpo e com o do parceiro, a dança parece trazer uma aceitação do corpo, o indivíduo que se aceita e consegue deixar ser tocado e expressar-se melhor na dança.

Conforme Figueiredo (2010, p. 148):

a dança amplia e recria os sentidos dos nossos gestos, ações corporais, interações com objetos e ordenamentos do corpo no espaço pode desestabilizar alguns significados e construir outras significações para nossa maneira de pensar e viver.

A dança fala de si mesmo, pois não dançamos somente com o corpo, mas no corpo segundo Barreto (2004).

3.4 VENDO-OS DANÇAR

Neste item abordarei um pouco dos entrevistados ao dançar. Este item foi realizado no diário de campo, onde realizamos anotações decorrentes das observações dos encontros.

Nas idas e vindas, durante a pesquisa, no salão e na pista de dança encontramos um novo idoso, um novo envelhecer, pois a dança faz resgatar e oportunizar a convivência com outras pessoas, de se relacionar, de conhecer-se e aceitar-se.

A dança, o baile, neste clube é um elemento que sociabiliza os idosos a buscarem sentido à suas vidas.

Vendo-os dançar, durante este período, em especial os entrevistados desta pesquisa, percebemos que “corpo velho” que muitos falam não é somente visto como perdas, algo negativo decadente, mas como algo de felicidade, de realização e satisfação em fazer aquilo que se gosta, que é o dançar.

Na pista todos dançam, desde os mais habilidosos aos mais lentos. Cada um tem seu ritmo, seus embalos, respeitando suas limitações. Alguns pedem um pouco de farinha na pista, para dar leveza e deslizar.

Alguns ficam só na espera, trocando olhares para a próxima música. Outras já são mais ousadas, não tem vergonha de se levantar e tirar um homem para dançar.

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E as formas de dançar são inúmeras, alguns dançam com o corpo mais próximo, rosto coladinho, já outros mais afastados. Uns com o braço para o alto, já outros braços nos ombros. E é neste embalo que a pista de dança do “Clube Viver a Vida para ser Feliz” realiza todas as quintas-feiras um encontro de amigos, onde ser feliz é o que importa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dança vem demarcando presença na sociedade atual, principalmente nos bailes da Terceira Idade. São várias as definições no envolto da dança com idosos. Onde todos tendem para a questão existencial do idoso. Há uma nova transição para esses idosos. Hoje os idosos estão buscando novos espaços, cidadania e inclusão, mostrando à sociedade que apesar das transformações biológicas e na aparência serem inerentes a etapa da vida, é possível sim envelhecer e ter potencialidades e fazer aquilo que se gosta, o dançar.

No “Clube Viver a Vida para ser Feliz”, local da pesquisa, percebemos que é um local de encontros de velhos amigos, que possuem muitas histórias para contar e relembrar, um lugar acolhedor, agradável e respeitoso.

Para estes entrevistados o envelhecer é um misto de sensações, há ganhos e também algumas perdas. Freitas et al. (2009, p. 409) sugerem que:

os idosos precisam acreditar em si mesmos e assumirem as mudanças decorrentes do processo de envelhecimento, devem aceitar as perdas, e compreendê-las, fazendo com que estas possibilidades de se desenvolverem e de se resgatarem experimentarem novas situações.

Há uma preocupação com os corpos que envelhecem dos entrevistados, mas isso não parece implicar muito na forma como eles dão significado e sentido para suas vidas. É através de seu corpo que o idoso transpassa sua história de vida, sua bagagem, suas marcas e sua identidade. Muitas vezes tudo isso está obscuro em sua vida. O idoso não consegue se desvelar conforme Okuma (1998).

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A dança para esses idosos deixa o corpo expressar-se, dando bem-estar e felicidade. A dança para estes entrevistados ultrapassa as formalidades e coreografias. Para ele há satisfação em fazer aquilo que se gosta. A dança para eles é uma forma de convivência e de aproximação, de contato com os corpos que dançam. E a dança vem demarcando novas experiências a esses idosos, possibilitando também movimento a estes corpos, dando movimento a vida, resgatando sensações que já estavam esquecidas. Assumindo um papel importante na vida desses idosos, seja social, de valorização e de aceitação de si. Em uma sociedade que preconiza o culto ao corpo jovem. Conforme Goldenberg (2011, p. 83) “as rugas constituem uma afronta a tironia da pele lisa sob qual vivemos”. Nas entrevistas verificou-se sim uma.

Para finalizar, as idas aos bailes do “Clube Viver a Vida para ser Feliz” do Bairro Modelo serviu para abandonarmos alguns preconceitos que temos sobre o envelhecer. Fez construir novos olhares, que apesar da idade avançada e dos sinais do tempo eles não envelhecem sua alma e seus corações. São pessoas felizes, saudáveis, que buscam novas formas de viver o envelhecer.

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REFERÊNCIAS

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de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, p. 86-98, jan./jun. 2004.

BALDIN, C. B.; FORTES, V. F. Viuvez feminina: a fala de um grupo de idosas. RBCEH, Passo Fundo, v. 5, n. 1, p. 43-54, jan./jun. 2008.

BARRETO, D. Dança... ensino, sentidos e possibilidades na escola. São Paulo: Autores Associados, 2004.

DELFIM, A. K. O idoso frente a depressão e a dança: intervenção terapêutica. 2006. Monografia de Especialização em Dança Educacional na Universidade do Estado de Santa Catarina, Santa Catarina, 2006.

BLESSMANN, E. J. Corporeidade e envelhecimento: o significado do corpo na velhice. Dissertação de Mestrado em Ciências do movimento humano. Universidade Federeal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2003.

FERNANDES, M. G.; GARCIA, L. G. O sentido da velhice para homens e mulheres idosas. Revista Saúde Soc., São Paulo, v. 19, n. 4, p. 771-783, 2010.

FONSECA, C. C. et al. A influência da dança de salão na percepção corporal.

Revista Motriz, Rio Claro, v. 18, n. 1, p. 200-207, jan./mar. 2012.

FREITAS, M. C. et al. O significado da velhice e da experiência de envelhecer para os idosos. Revista Esc. Enferm. USP, 44(2):407-12, 2009. Disponível em: <www.ee.usp.br/reeusp>.

FURASTÉ, P. A. Normas técnicas para o trabalho científico: explicitação das normas da ABNT. 16. ed. Porto Alegre: Dáctilo Plus, 2013.

GOLDENBERG, M. Corpo, envelhecimento e felicidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

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ANEXO A – Questionário 1) DADOS PESSOAIS a) Nome: b) Idade: c) Gênero: d) Estado civil: e) Mora com quem:

f) Como é sua relação com as pessoas que te cercam: família, amigos, vizinhos? g) Quais são suas atividades cotidianas?

h) Possui problemas de saúde? Quais? E como você lida com isso?

2) O ENVELHECER NO OLHAR DO IDOSO

a) O que é envelhecer para você? b) Como se sente nesta fase da vida? c) Que expectativas têm para sua vida?

3) CORPO E SEU SIGNIFICADO

a) Houve mudanças no seu corpo com o envelhecer? Quais? b) Como você sente/percebe seu corpo hoje?

c) Como você cuida do seu corpo?

4) DANÇA

a) Como você (re)descobriu a dança em sua vida? Quando foi sua primeira dança/baile?

b) O que significa dançar para ti? c) O que a dança te proporciona?

d) Quando adentra nos salões para dançar o que você sente? e) O que sua família acha de você participar dos bailes/dança? f) O que você busca na dança? (amores, sentimentos, prazer...) g) O que mudou em sua vida depois que começou a dançar?

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ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Prezado(a) Senhor(a):

Estou desenvolvendo uma pesquisa denominada “Envelhecer e a Dança”. Este trabalho é parte do componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), sendo desenvolvido pela acadêmica Janiele Tamiozzo do Curso de Educação Física da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), sob orientação da professora Lisiane Goettems. Esta pesquisa tem como objetivos investigar e compreender o que levam os idosos a buscarem a dança em suas vidas e o que a dança lhes proporciona.

Sendo assim, você está sendo convidado para participar deste trabalho, no qual a sua participação tem como objetivo fornecer informações para esta pesquisa. Os dados serão coletados através de entrevista gravada, realizada conforme a disponibilidade do sujeito da pesquisa.

O seu anonimato está assegurado e suas informações/relatos serão tratados com sigilo absoluto, podendo você ter acesso a elas e realizar qualquer modificação no seu conteúdo, se julgar necessário. Você tem liberdade para recusar a participar da pesquisa ou afastar-se dela, em qualquer etapa, sem que isso implique em dados pessoais. Está garantido que você não terá nenhum tipo de despesa material ou financeira durante o desenvolvimento da pesquisa, como também, nenhum constrangimento moral decorrente dela.

Eu, ________________________________________________, ciente das informações recebidas concordo em participar da pesquisa, concedendo entrevista à pesquisadora Janiele Tamiozzo, autorizando-a a utilizar as informações, sem restrições de prazos ou citações, a partir da presente data, desde que seja garantido o sigilo e anonimato.

_________________________ _________________________ Nome do entrevistado Assinatura do entrevistado

_________________________ _________________________ Nome do entrevistador Assinatura do entrevistador

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