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Redução do uso de medicamentos na pecuária leiteira por meio das boas práticas para o bem-estar animal

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Academic year: 2021

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Redução do uso de

medicamentos na

pecuária leiteira por

meio das boas práticas

para o bem-estar animal

Novembro 2019

Elaboração:

Lívia Carolina

Magalhães Silva Antunes

Faculdades Associadas

de Uberaba (Fazu) – Uberaba/MG

Revisão técnica:

Lizie Pereira Buss

MAPA

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Título do Projeto: Alinhamento da estratégia nacional de bem-estar dos animais de produção, adotando o conceito proposto pela OIE (“one world, one health, one welfare”)

Código do Projeto: AGRI0117E Designação do relatório: Final

Autor: Lívia Carolina Magalhães Silva Antunes Revisão técnica: Lizie Pereira Buss

Data do relatório: 19/11/2019

Projeto implementado por:

Aviso Legal: As opiniões expressas nesta publicação são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando necessariamente o ponto

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SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS E ATIVIDADES EM DESENVOLVIMENTO NO BRASIL 2. DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DO USO DE ANTIMICROBIANOS NA PECUÁRIA LEITEIRA BRASILEIRA NO ÂMBITO DO PROGRAMA “LEITE SAUDÁVEL”

3. FOMENTO A SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS MAIS SUSTENTÁVEIS

3.1. CRIAÇÃO DE BEZERROS LEITEIROS: UMA PRÁTICA QUE REQUER ATENÇÃO 3.2. BOAS PRÁTICAS DE MANEJO DURANTE A FASE DE ALEITAMENTO

3.3. BOAS PRÁTICAS DE MANEJO DURANTE A MOCHAÇÃO DOS BEZERROS 3.4. BOAS PRÁTICAS NO MANEJO DE NOVILHAS: COMO REDUZIR O ESTRESSE DURANTE A PRIMEIRA ORDENHA

3.5. BOAS PRÁTICAS NO MANEJO VACAS EM LACTAÇÃO

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 5. AGRADECIMENTOS 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 47 48 54 62 65 66 23 21 68 70 73

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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS E ATIVIDADES

EM DESENVOLVIMENTO NO BRASIL

Frente a uma demanda de mercado de alguns laticínios, impulsionada pelo novo olhar dos consumidores sob os produtos lácteos, um forte movimento de promoção do bem-estar animal na cadeia produtiva do leite surge no Brasil, desde meados do ano de 2015. E junto com ele, a ampliação da adoção das boas práticas de manejo em fazendas leiteiras. Empresas do segmento têm incluído as boas práticas em seus guias regulatórios de produção de leite, e com isso, a busca por maior qualidade na produção de leite passou a se tornar uma realidade na produção leiteira. De fato, essa demanda por alimentos oriundos de sistemas sustentáveis e eticamente corretos é decorrente também de uma maior preocupação dos consumidores às condições em que os animais são mantidos nas fazendas.

Diante desse cenário, o passo inicial para se alcançar êxito na aceitação dos produtores de leite quanto a essa nova demanda foi mitigar ações de manejo que causassem forte sofrimento aos animais e que pudessem contribuir negativamente na imagem do produto. De forma prática, as ações de desenvolvimento de projetos de bem-estar de bovinos leiteiros no Brasil se iniciaram com a difusão de conceitos e técnicas de aplicações das boas práticas de manejo nas fazendas com ênfase na redução de perdas por falhas de manejo, tendo foco nos seguintes processos: a) minimizar a aplicação de ocitocina exógena durante a ordenha de vacas; b) padronizar manejos de colostragem e aleitamento dos bezerros e c) utilizar anestesia e analgesia antes de qualquer procedimento doloroso, como a mochação dos bezerros.

Quando pensamos em facilidade de manejo, de imediato somos remetidos às dificuldades na realização de determinado processo dentro da fazenda e qual estratégia de manejo iremos adotar para solucionar tais problemas, que por sua vez podem afetar a produtividade da fazenda e o bem-estar dos animais. Se tratarmos de manejo de ordenha de vacas primíparas zebuínas ou oriundas de seus cruzamentos essa reflexão torna-se ainda mais importante. Para o caso de vacas primíparas devemos saber que enquanto novilhas o manejo com esta categoria merece atenção, pois muitas vezes elas são renegadas a manejos pontuais, sendo muito deles considerados aversivos para o animal como vacinação e tratamentos de doenças. Esta rotina de manejo pontual e aversiva gera dificuldades de manejo futuro na sala de ordenha, uma vez que o animal não tem uma associação positiva com o ser humano. Logo, prestar mais atenção e melhorar o manejo destes animais implica em melhorias no bem-estar beneficiando seus índices produtivos, uma vez que estes são considerados um importante investimento financeiro nas fazendas. Quando a primeira ordenha da primípara torna-se estressante

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(relutância em entrar na sala de ordenha, presença de gritos e agressão física do manejador contra o animal) os estímulos para a descida do leite acabam sendo comprometidos dando lugar à atuação do hormônio adrenalina, que possui ação contrária à ocitocina, ou seja, a presença da adrenalina inibe a liberação de ocitocina e consequentemente a descida do leite. Como forma de solucionar este problema vários produtores têm aplicado ocitocina exógena em vacas para estimular a descida do leite durante a ordenha. Esta prática se tornou rotineira em muitos rebanhos leiteiros, sem qualquer preocupação com os riscos inerentes a aplicação de medicamentos intravenosos. No Brasil essa prática ainda prevalece em muitos rebanhos leiteiros, apesar dos riscos de transmissão de doenças infectocontagiosas (p.ex. tripanossomose, leucose e brucelose) entre as vacas do rebanho, além de ocorrências de processos inflamatórios nas veias mamárias (flebites). O risco de transmissão de doença está geralmente associado ao uso de seringas e agulhas de forma compartilhada, que deveriam ser descartadas após cada aplicação. Vale a pena ressaltar que ações como esta também tem impacto negativo em toda a cadeia produtiva do leite, uma vez que esta prática não é bem aceita pelos consumidores. Foi com base no conhecimento gerado por experiências práticas a campo, respaldadas em técnicas científicas comprovadas, que a adoção conjunta de boas práticas de manejo, tanto na preparação de novilhas Girolando para a primeira ordenha quanto na rotina da ordenha, facilitou a adaptação das vacas aos manejos da fazenda. A experiência da Fazenda Boa Fé/Ma Shou Tao (Grupo Araunah), localizada em Conquista-MG, tem sido um bom exemplo na prática em como preparar os animais para a primeira ordenha. A partir de técnicas baseadas em maior interação positiva entre novilha e manejador foi possível obter comportamentos desejáveis como maior docilidade dos animais, facilidade ao ensiná-las a entrar na ordenha e primíparas mais calmas e zelosas com suas crias, reduzindo até o último ano (2018) em 75% da aplicação de ocitocinas em vacas durante a ordenha, e agora em 2019 eliminou completamente este uso. Práticas como estas são encorajadas devido à relação humano-animal afetar positivamente o bem-estar, a saúde e a produtividade de animais leiteiros e a qualidade de vida dos trabalhadores.

Quando tratamos de manejo de bezerros leiteiros a importância da interação positiva entre o tratador e o animal não é diferente. Os impactos de ações como falhas na colostragem e no fornecimento de leite aos bezerros, bem como a diminuição de sofrimento em processos de mochação, também interferem negativamente no grau de bem-estar dos animais e consequentemente na imagem positiva da produção leiteira. Estudos conduzidos pelo Grupo ETCO da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV-UNESP), Campus de Jaboticabal-SP, têm mostrado que quanto mais cedo acontecem os contatos positivos com os animais, melhores são as respostas referentes à docilidade dos mesmos, no futuro. A partir de utilização de boas práticas de manejo (melhoria nas instalações e no sistema de aleitamento e melhor interação

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humano-animal) foi observada redução de 50% na mortalidade dos bezerros durante a fase de aleitamento. Associado a isto, o novo manejo implicou também na redução significativa na ocorrência de doenças, em particular da diarréia, cuja ocorrência reduziu de 76,9% para 13,3% dos bezerros avaliados, e da mesma forma, a porcentagem de animais com quadro clínico de desidratação, que foi reduzida de 28,2% para 10,8% (Figura 1).

Figura 1. Frequência de mortalidade, diarreia e desidratação de bezerros leiteiros,

de acordo com o estudo de caso Magalhães Silva et al. 2007.

A proximidade com o homem favorece a observação prévia de sinais clínicos de doenças como diarreia, pneumonia e miíase (bicheira), por exemplo. O quanto antes esses problemas forem identificados, mais barato e eficaz será o tratamento. Latícinios encorajados pela Instrução Normativa nº 77 de 2019, passaram a adotar as boas práticas de manejo em suas políticas e diretrizes.

Esta mudança é muito importante para proporcionar maior visibilidade na questão dos benefícios da adoção das boas práticas de manejo e para estimular os demais produtores a também adotarem tais técnicas, a fim de juntos promoverem a imagem da cadeia produtiva do leite.

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2. DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DO USO

DE ANTIMICROBIANOS NA PECUÁRIA

LEITEIRA BRASILEIRA NO ÂMBITO DO

PROGRAMA “LEITE SAUDÁVEL”

O estabelecimento do diagnóstico da situação do uso de antimicrobianos na pecuária leiteira brasileira no âmbito do “Programa Leite Saudável” teve como objetivo identificar os pontos críticos que podem aumentar o uso destes medicamentos na produção leiteira do Brasil, e a partir das informações obtidas fomentar ações de manejo assertivas que possam contribuir com a minimização do uso de antimicrobianos nesta atividade.

No período de novembro de 2018 a maio de 2019 foram aplicados questionários para 196 técnicos (Figura 2) e 176 produtores de leite das regiões Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Nordeste do país (Figura 3). As perguntas destes questionários tinham como propósito obter informações sobre os conhecimentos, atitudes e práticas de produtores leiteiros e técnicos no Brasil sobre o uso de antibióticos na atividade e resistência microbiana aos antibióticos e embasar programas visando alcançar o uso prudente de antibióticos na atividade leiteira.

Figura 2. Distribuição do número de

questionários aplicados ao produtores de leite para o diagnóstico da situação do uso de antimicrobianos nos diversoss estados do Brasil. (MG = Minas Gerais, SP= São Paulo, PR = Paraná, RS = Rio Grande do Sul, SC = Santa

Catarina, GO = Goiás, PE = Pernambuco).

Figura 3. Distribuição do número de

questionários aplicados ao produtores de leite para o diagnóstico da situação do uso de antimicrobianos nos diversoss estados do Brasil. (MG = Minas Gerais, SP= São Paulo, PR = Paraná, RS = Rio Grande do Sul, SC = Santa

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Houve uma grande variação de respostas dos produtores entre os anos de experiência com produção leiteira, os quais apresentaram em sua maioria (51,7%) 16 anos ou mais (Figura 4). Sobre o tipo de trabalho empregado nota-se uma melhor distribuição quando se compara a trabalhadores excluivamente familiar (40,2%), parcialmente familiar e contratada (37,5%) e exclusivamente contratada (22,3%) (Figura 5). A raça predominante no rebanho foi o Holandês, seguido do Girolando e Jersey (Figura 6) e o dois tipos de sistemas de criação utilizado para as vacas em lactação foram o semi-confinado seguido do sistema a pasto (Figura 7).

Figura 4. Distribuição da porcentagem de

respostas dos produtores de leite quanto aos anos de experiência na atividade leiteira.

Figura 6. Distribuição da porcentagem de

respostas dos produtores de leite quanto a raça predominante nos rebanhos avaliados.

Figura 5. Distribuição da porcentagem de

respostas dos produtores de leite quanto ao tipo de mão-de-obra utilizada na atividade

leiteira.

Figura 7. Distribuição da porcentagem de

respostas dos produtores de leite quanto ao tipo de sistema de criação das vacas em

lactação.

Do total dos produtores de leite respondentes nota-se que 72% deles participam diretamente do manejo de ordenha e que 93% têm autonomia nas decisões quanto ao tipo de medicamento utilizado no tratamento de doenças de vacas e bezerros.

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Em umas das questões foi solicitado ao produtor que apresentasse as três doenças mais comuns que acometem os animais na fazenda, e de acordo com as respostas elas foram: mastite, problemas digestivos com os bezerros e problemas reprodutivos de novilhas e vacas (Figura 8).

Figura 8. Distribuição em porcentagem das doenças mais comuns que acometem os animais nas

propriedades leiteiras na opinião dos produtores de leite.

A falta de um protocolo preventivo para evitar os tratamentos medicamentosos nos animais foi um ponto de grande relevância nos questionários aplicados. As respostas foram que 58% dos produtores tinham protocolos preventivos para mastites, principalmente quanto ao tratamento de vacas secas com antibióticos como medida preventiva, 23% deles não têm nenhum protocolo preventivo para qualquer tratamento com os animais, 18% possuem para tratamentos reprodutivos e 4% para problemas de cascos.

Quanto a realização do teste Californian Matitis Test (CMT) como medida preventiva no controle de mastites das vacas em lactação verificamos que apenas 43,8% dos produtores avaliaram o CMT nos últimos sete dias, apontando que este tipo de estratégia de manejo ainda não é uma prioridade para muitos dos produtores.

Outra estratégia de manejo avaliada foi a de estabelecimento de protocolos para o descarte de leite para vacas em lactação tratadas com antibióticos, para este dado confrontamos as respostas de técnicos e produtores de leite (Tabela 1). Nota-se um pouco de discordância quanto a frequência de resposta para cada tipo de destinação, entretanto pode-se afirmar que a grande maioria das propriedades leiteiras fornecem este tipo de leite de descarte para os bezerros em fase de aleitamento.

Tabela 1. Frequência de respostas de técnicos de campo versus produtores de leite quanto ao

destino do leite de descartes nas fazendas leiteiras avaliadas.

Técnicos (%) Produtores (%) Destinação do leite de descarte 50 84 É fornecido para as bezerras

73 43 É fornecido a outros animais domésticos (cães, gatos, suínos...) 72 30 É fornecido para os bezerros machos

12 18 É despejado em fossas ou lagoas de tratamento 20 8 É despejado ao chão

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De acordo com os produtores, as causas mais comuns para o uso de antibióticos nas propriedades leiteiras são: casos de mastites (clínicas ou subclínicas), terapia de vaca seca, problemas digestivos em bezerros, problemas de cascos, problemas respiratórios de bezerros e problemas reprodutivos (Figura 9).

Figura 9. Causas mais comuns para o uso de antibióticos nas propriedades leiteiras avaliadas.

Para a tomada de decisão quanto ao tratamento e indicação de antibiótico a ser aplicado para cada um desses casos clínicos, de acordo com as respostas dos produtores nota-se que:

1º Segue a recomendação do médico(a) veterinário(a) particular; 2º Usa medicamentos que já conhece e sabe que funcionam; 3º Em caso de mastite escolhe pelo período de carência;

4º Segue a recomendação do atendente da loja agropecuária; 5º Segue a recomendação de técnicos da cooperativa;

6º Usa medicamentos que outro produtor experiente recomendou.

Quando a mesma questão foi direcionada aos técnicos de campo obtivemos a seguinte sequência de respostas:

1º Usa medicamentos que já conhece e sabe que funcionam; 2º Segue a recomendação do atendente da loja agropecuária; 3º Em caso de mastite escolhe pelo período de carência;

4º Segue a recomendação do médico(a) veterinário(a) particular; 5º Usa medicamentos que outro produtor experiente recomendou; 6º Segue a recomendação de técnicos da cooperativa.

Como os produtores escolhem a dose de antibióticos a ser aplicado em cada caso clínico que necessite deste tipo de tratamento também foi avaliada, e da mesma forma como abordado anteriormente verifica-se uma discrepância quanto as respostas dos produtores e dos técnicos de campo para a mesma questão (Tabela 2). Contudo, pode-se notar que a grande maioria dos produtores de leite consultam um médico veterinário para a recomendação de tratamentos com antibióticos para os animais de suas propriedades.

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Tabela 2 Frequência de respostas de técnicos de campo versus produtores de leite quanto a

escolha da dose de antibiótico a ser aplicada em cada caso clínico das propriedades avaliadas.

Técnicos (%) Produtores (%) Escolha da dose de antibiótico

51 70 Segue a recomendação do médico(a) veterinário(a) 47 38 Segue a recomendação da bula do medicamento 53 6 Segue a recomendação do atendente da loja agropecuária 24 6 Segue a recomendação de técnicos da cooperativa

Em relação a efetividade da ação do antibiótico para a cura de tratamentos poucos produtores (26,8%) e técnicos (5,6%) afirmaram que o uso de antibiótico sempre funciona para o tratamento de casos de mastites, ou seja, ambos reconhecem que há algum problema na escolha do antibiótico e da dosagem aplicadada, quer seja na esolha errada do medicamento, na super ou sub-dosagem ou até mesmo relacionam os casos a resistência ao uso de antimicrobianos.

Esse dado é de extrema relevância para este diagnóstico, pois denota a falta de conhecimento tanto de técnicos como de produtores sobre o uso errado de antibióticos nos tratamentos clínicos dos animais, principalmente quando se trato de casos de mastite. Para a promoção das boas práticas no uso de antimicrobianos em proporiedades leiteiras é fundamental saber sobre o conhecimento do funcionamento e do uso de antibióticos e sua relação com a resistência bacteriana, logo, foram apresentadas algumas informações corretas e incorretas sobre este assunto e solicitado, tanto aos técnicos como os produtores, que respondessem quanto a cada afirmação (Tabela 3).

Tabela 3. Frequência de respostas de técnicos e produtores que erraram ou que não sabiam

sobre cada afirmação referente a conhecimentos sobre o funcionamento e uso de antibióticos em propriedades leiteiras.

Técnicos

19% Os antibióticos são efetivos para resfriados em seres humanos

47% Os animais podem desenvolver imunidade contra antibióticos quando mal-usados 50% Os animais ficam resistentes aos antibióticos que são usados muito frequentemente

Produtores

5% As bactérias podem desenvolver resistência contra os antibióticos quando mal-usados 28% Os antibióticos são efetivos para resfriados em seres humanos

30% Antibióticos servem para tratar doenças causadas por vírus 36% Antibióticos servem somente para tratar doenças causadas por bactérias

76% Os antibióticos devem ser usados até pararem os sintomas da doença

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As respostas obtidas mediante a este questionamento corrobora com uma série de trabalhos científicos publicados sobre este assunto (Carter et al. 2016, Gualano et al. 2015, Eurobaromenter, 2009), os quais concluem o baixo conhecimento sobre os mecanismos de ação dos antibióticos, a sua relação com a resistência antibacteriana e ainda, reforçam a importância desse conhecimento no fomento de programas de boas práticas de manejo.

Um outro resultado interessante foi que a maior parte dos técnicos (91,5%) e de produtores (75,9%) já ouviram falar sobre o uso prudente de antibióticos ou programas de controle de resitência bacteriana na produção animal. Os veículos utilizados para a obtenção destas informações foram palestras ou cursos (46,5%) e ambientes online (21,1%) para os técnicos. Para os produtores, orientações por médico veterinário e técnicos (41,5%) e em palestras ou cursos (26,7%). Entretanto, a opinião sobre a efetividade desses programa aponta como sendo de 79% dos produtores dispostos a colaborar com a redução dos uso de antibióticos e 53% dos técnicos dispostos a colaborar com a redução do uso de antibióticos nas fazendas. Nesse sentido, os técnicos precisam ter atitudes mais positivas em relação às intenções e abertura para mudanças de práticas adotadas pelos produtores, caso contrário podem desmotivar o produtor e trabalhadores da atividade. E ainda, torna-se de responsabilidade técnica fomentar as boas práticas como um todo, ao invés de atuar pontualmente remediando problemas existentes.

A partir do exposto, podemos concluir que caso clínicos como mastites, problemas dos cascos, problemas reprodutivos das vacas e de saúde do bezerro são altamente relacionadas com o uso de antibióticos. A adoção de boas práticas de manejo quanto ao uso de antibióticos em propriedades leiteiras deve ter como foco a ampliação de protocolos preventivos, o que é precário e ausente em muitas propriedades avaliadas. Um dos temas abordados neste questionário foi sobre os métodos de criação de bezerros, pois a adoção das boas práticas de manejo nesta fase promove o bem-estar dos animais, e consequentemente o desenvolvimento de animais sadios e mais bem preparados imunologicamente para a fase adulta.

Quando os produtores foram questionados sobre a existência de banco de colostro na propriedade leiteira, principalmente para casos de emergência, 71,6% afirmaram não ter nenhum tipo de banco de colostro e que a maioria deles (50,6%) deixam os bezerros ao pé da vaca para mamarem o colostro sozinhos. Esta estratégia de permitir ao bezerro permanecer com a vaca nas primeiras 24 horas de vida, sem monitoramento por parte do tratador, faz com que pelo menos 1/3 dos bezerros não consigam mamar o colostro satisfatóriamente nas primeiras 6 horas de vida (Edwards & Broom, 1982). O resultando é falha na imunidade passiva dos animais e consequentemente aumento da incidência de doenças e de mortalidade no rebanho (Beaver, et al. 2019).

Ainda na fase de aleitamento, outro problema identificado na crição de bezerros foi a baixa quantidade de leite, ou substituto do leite, fornecido

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diariamente (Figura 10). Observa-se que a maioria dos produtores (44,3%) fornecem em média 4 litros de leite por dia aos bezerros. De Paula Vieira et al. 2018 e demais experiências práticas nas fazendas apontam que os bezerros devem receber, no mínimo, 6 litros de leite por dia, e que a promoção de um melhor ganho de peso nesta fase aumentam as chances de melhores índices produtivos no futuro, como melhor ganho de peso ao desmame, diminuição de ocorrências de doenças no pós-desmame e menor idade na apresentação do primeiro cio.

Figura 10. Frequência de produtores de leite versus a quantidade

de leite ou substituto de leite diária fornecida aos bezerros.

De acordo com os produtores avaliados, as duas maiores causas de mortes dos bezerros na fase de aleitamento são diarreia (58%) e doenças respiratórias (17%). Estes dados corroboram com as respostas anteriores obtidas quando foi identificado falha na transferência de imunidade passiva dos bezerros, baixa ingestão de leite diária e ainda a baixa qualidade do leite a ser fornecido, uma vez que 84% dos produtores oferecem o leite de descarte para as suas bezerras (Tabela 2).

Os resultados obtidos com este diagnóstico nos permitu identificar os pontos críticos que estão relacionados com o aumento do uso de medicamentos na produção leiteira da Brasil. Observamos que além da maior difusão de protocolos preventivos para doenças recorrentes e uma série de prodecimento de manejo, também são necessárias ações como: o melhor controle sobre a venda e a prescrição de medicamentos e aprimorar o conhecimento dos produtores (e parte dos técnicos) a respeito do funcionamento dos antibióticos e mecanismos de desenvolvimento da resitência bascteriana. Estas ações podem estar contempladas em nas boas práticas de manejo que devem ser adotadas por técnicos e produtores de leite. A adoção de boas práticas, além da promoção do bem-estar dos animais, minimiza perdas, reduz o riscos de acidentes e principalmente, tem efeito substancial na saúde dos animais.

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3. FOMENTO A SISTEMAS DE PRODUÇÃO

DE ALIMENTOS MAIS SUSTENTÁVEIS

3.1. CRIAÇÃO DE BEZERROS LEITEIROS: UMA PRÁTICA QUE REQUER

ATENÇÃO

A criação de bezerros leiteiros exige muita atenção aos detalhes e a adoção de boas práticas de manejo do nascimento até o desaleitamento. A falta de atenção e de cuidados durante o manejo resulta, invariavelmente, em altas taxas de morbidade e mortalidade. Nos Estados Unidos, Canadá e União Europeia a taxa de mortalidade de bezerros leiteiros oscila entre 2 e 8% (Bleul, 2011; Raboisson et al., 2013; Ortiz-Pelaez et al., 2008), enquanto no Brasil esta taxa varia entre 10,3 a 34,0%, (Matta, 1973; Leite e Lima, 1982, Frois et. al., 1994, Botteon et al., 2001). Entretanto, nenhum desses estudos tratou de identificar as causas das mortes dos bezerros. Embora não se tenha estabelecido o que pudesse ser considerado como taxa normal de mortalidade, dos pontos de vista produtivo, ético e econômico, assume-se que o valor ideal dessa taxa seja zero (Paranhos da Costa e Cromberg, 1998).

Geralmente, no caso de bezerros leiteiros, a alta taxa de mortalidade está associada à alta ocorrência de diarreia, durante o período de aleitamento (Davis e Drackley, 1998, NAHMS, 2007), com relatos de prevalência da doença em até 50% dos rebanhos leiteiros dos EUA (USDA, 2010), atingindo por volta de 20% dos animais do rebanho desse país (Bartels et al., 2010, Windeyer et al, 2014). No Brasil, em rebanhos avaliados no vale do Paraíba, foi encontrado uma prevalência de diarreia entre 18,2 e 24,2% dos rebanhos leiteiros (Campbell et al., 2008).

Na tentativa de diminuir riscos de mortes por doenças, o sistema de criação individualizado (p. ex. casinhas tropicais) é adotado em grande parte das fazendas produtoras de leite do Brasil. Acredita-se que este tipo de instalação atende às condições básicas para o alojamento eficiente de bezerros em fase de aleitamento, levando em consideração as características de nosso clima tropical e a redução na incidência de pneumonias e diarreias (doenças comuns em bezerros criados em ambientes mal arejados e úmidos). Entretanto, nessas condições de criação os bezerros são mantidos em isolamento social, o que pode causar estresse uma vez que os bovinos são animais gregários, havendo evidências que o alojamento de bezerros em grupo é favorável à promoção do bem-estar dos animais (Bouissou et. al., 2001). Assim, a prática de criação de bezerros leiteiros em grupos pode trazer vantagens, dentre elas oferece a possibilidade de interação social precoce, muito importante para o desenvolvimento do comportamento social dos bezerros, além da maior disponibilidade de espaço físico para os animais, quando comparado aos bezerros criados de forma individualizada (Chua et al., 2002, de Vries

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et al., 2015). Por outro lado, há quem entenda que esta prática pode trazer alguns riscos, dentre eles a maior dificuldade no controle de doenças, o que aumenta o risco de morte dos animais.

Apesar da preocupação com o sistema de criação dos bezerros leiteiros (isolado ou em grupo) é evidente o papel de outros fatores no sucesso da criação desses animais. Por exemplo, com a adoção de estratégias de manejo positivas, que aumentem o relacionamento positivo dos bezerros com os manejadores, pode-se obter animais com respostas comportamentais mais desejáveis, apresentando, por exemplo, menor resposta de medo em relação aos humanos (de Passillé et al., 1996, Rushen et al., 1999; Jensen e Larsen, 2014). Outra potencial fonte de estresse para os bezerros leiteiros é a desmama, que geralmente é feita de forma brusca, submetendo-os ao mesmo tempo à mudanças de dieta, do local de criação e de tratadores, além da formação de novos grupos sociais. Por conta disto, é comum ocorrer perda de peso e queda na resposta imune dos bezerros, tornando-os mais susceptíveis a doenças (Burt, 1968; Anderson et al., 1987; Heinrichs et al., 1990). Há evidências de que com a adoção o procedimento de desmama progressivo em sistemas de criação em grupos tende a minimizar esses problemas (Khan et al., 2007, Sweeney et al., 2010).

O gupo de pesquisa ETCO das Faculdades de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV-UNESP), Campus de Jaboticabal-SP tem desenvolvido uma série de estudos com foco nos cuidados com os bezerros leiteiros. Os resultados mostraram que a adoção de um conjunto de boas práticas de manejo, caracterizado pelas condutas: de correta cura de umbigo; de oferta de colostro de boa qualidade e em até 3 horas após o nascimento do bezerro; de aleitamento em baldes com bicos; da adoção do desmame progressivo e aumento de interações positivas entre tratador e bezerro; melhoraram consideravelmente o bem-estar de bezerros leiteiros, com reflexos positivos na saúde e no crescimento dos bezerros. Foi observado, por exemplo, redução de mais de 70% na mortalidade dos bezerros (de 4,95 para 1,42 mortes de bezerros/mês, em uma fazenda com média de 20 nascimentos mensais) e redução de 54% nos tratamentos com antibióticos, de 35,25 para 16,30 tratamentos com antibióticos/mês (Magalhães Silva et al., 2007). Resultados de estudos mais recentes têm confirmado esta tendência, com redução nas ocorrências de doenças (diarreia e pneumonia) e melhor ganho de peso nos bezerros que foram submetidos as boas práticas de manejo.

Diante disso, é importante ressaltar que a boa criação de bezerros leiteiros é o primeiro passo para obter animais adultos saudáveis no futuro. Logo, como forma de mitigar o uso de antimicrobianos na produção de leite no Brasil, a adoção de boas práticas de manejo deve ser encorajada desde o primeiro dia de nascimento do bezerro até o final de sua vida produtiva na fazenda.

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VIDA DE BEZERROS LEITEIROS

O cuidado com os bezerros começa desde o pré-parto, caracterizado pelos últimos 30 dias de gestação da vaca. Geralmente neste período, vacas e novilhas são apartadas de seu rebanho original e passam a formar o lote de animais no final da gestação. Estes lotes devem ser mantidos em ambiente limpos e arejados, assegurando livre acesso a alimentos e água de boa qualidade, além de boas condições em termos de conforto térmico; no caso de sistemas confinados é recomendado o uso de camas, de preferência com palhas ou capim seco. Em ambos os casos, nas pastagens e no confinamento, os animais devem ficar em condições de fácil visualização pelos trabalhadores, de forma a facilitar o monitoramento do trabalho de parto, bem como identificar dificuldades durante o parto ou situações de aborto. Essas condições irão proporcionar maior conforto para as vacas e novilhas, além de condições mais favoráveis para o nascimento dos bezerros.

É nas primeiras horas de vida que devemos dar mais atenção aos bezerros, isto porque muitos dos problemas de saúde em bezerros leiteiros são decorrentes de falhas na cura do umbigo e na ingestão do colostro, resultando em aumento na taxa de mortalidade e na incidência de doenças (principalmente diarreia e pneumonia). Logo, a sobrevivência e vigor dos bezerros no primeiro mês de vida é diretamente dependente do que ocorre nas suas primeiras 24 horas de vida, como detalhado a seguir.

a) Cura de umbigo

Imediatamente após o parto deve-se realizar a cura do umbigo do bezerro. O responsável deve estar com as mãos devidamente higienizadas e, de preferência, usar luvas (também limpas). Não é recomendado o corte do cordão umbilical, quando este apresenta o comprimento que não traga riscos para os bezerros (pisar sobre o umbigo, por exemplo). Na prática são aceitáveis umbigos com o comprimento de até 20 cm (Figura 11), mas ainda sim, é importante o monitoramento. Para os casos que são necessários os cortes de umbigos, recomenda-se primeiro fazer a desinfecção do umbigo, e posteriormente fazer o corte com tesoura limpa. Para uma tesoura limpa é necessário que ela seja fervida em água por pelo menos 20 minutos.

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Figura 11. Tamanho de umbigo de bezerro recém nascido aceitável, de aproximadamente 15 cm

de comprimento, que não precisou de corte e que ainda não foi curado.

Figura 12. Procedimento de cura de umbigo por imersão

do cordão umbilical em solução de iodo a 10%.

Para uma cura de umbigo eficiente todo o cordão umbilical deve ser imerso em solução de iodo a 10%, inclusive a sua base. Mantenha o umbigo imerso nesta solução por pelo menos 10 segundos. Este procedimento deve ser realizado o quanto antes, logo após o nascimento. É recomendado usar um recipiente anti-retorno (o mesmo utilizado para o pré-dipping das vacas em ordenha), trocando o iodo a cada nova cura de umbigo (Figura 12), e também o uso de luvas descartáveis pelo tratador com o objetivo de diminuir contaminações e riscos de queimaduras na pele.

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É importante que durante o primeiro dia, o umbigo seja curado pelo menos por duas vezes. Assim, aproveite os momentos de mamada do bezerro para realizar as curas de umbigo subsequentes e para monitorar o bezerro quanto às condições de saúde e principalmente se o bezerro apresenta sinais de fome, com comportamentos de sugar ou procurar os tetos, isto pode ser um sinal de que ele não se alimentou satisfatoriamente.

b) Primeira oferta de colostro

É imprescindível que o colostro seja oferecido logo nas primeiras horas de vida do bezerro. Isto porque é nesse período que se obtém a maior eficiência na absorção de imunoglobulinas, que conferem a capacidade de resistência a doenças. Ao nascer os bezerros não têm o sistema imune completamente desenvolvido e, além disso, a placenta impede a passagem de proteínas séricas (células encontradas no plasma sanguíneo), dentre elas as imunoglobulinas, que tem o papel de conferir imunidade aos animais. Por conta disto, todas as imunoglobulinas são transferidas aos bezerros pela ingestão do colostro, produzido pela vaca recém-parida, por este motivo a imunidade do neonato é chamada de passiva.

Sendo assim, a transferência de imunidade passiva é dependente de vários fatores: ligados à vaca (número de crias, conformidade do úbere, habilidade materna e qualidade de colostro), ao bezerro (peso ao nascimento, realizar a mamada com sucesso) e ao tratador (monitorar a eficiência da primeira mamada).

Quanto aos fatores ligados à vaca, é importante sabermos que vacas inexperientes (primíparas) necessitam de mais atenção quanto ao sucesso da primeira mamada do bezerro. A habilidade materna juntamente com a conformação e sensibilidade do úbere podem provocar maior resistência por partes desses animais, dificultando a primeira mamada. Logo, essas situações requerem mais atenção e cuidados do tratador, pois certamente são bezerros que necessitarão de ajuda nas primeiras horas de vida.

No entanto, somente verificar se o bezerro mamou na vaca ou não, não nos ajuda a solucionar todos os problemas. Primeiramente devemos saber a viabilidade do colostro quanto a sua ação imunológica no bezerro. Há estudos demonstrando que as falhas na colostragem podem estar relacionadas à qualidade do colostro produzido pela vaca. Sendo assim, como podemos garantir uma boa oferta de colostro aos bezerros?

A primeira ação a ser realizada é verificar a qualidade do colostro produzido pela vaca após o parto. A qualidade do colostro pode ser avaliada de várias formas, no entanto uma medida de campo e de fácil utilização é obtida a partir do uso do colostrometro (Figura 13) ou do refratômetro de brix (Figura 14).

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Figura 13. Classificaçao do colostro utilizando o colostrômetro.

Figura 14. Colostro de boa qualidade (faixa verde), avaliado no colostrômetro.

O colostrômetro consiste em um aparelho graduado que a partir da densidade do colostro nos indica sua qualidade por meio de três faixas sinalizadoras: verde (colostro de boa qualidade), amarelo (colostro de qualidade intermediária) e vermelho (colostro de baixa qualidade) (Figura 14). No entanto, existe uma faixa de temperatura adequada para o teste ser realizado, (20 a 25ºC), que nem sempre é seguida. Se a temperatura do colostro a ser avaliado estiver abaixo desta faixa, a leitura superestimará a quantidade de imunoglobulinas, indicando erroneamente ser um colostro de alta qualidade; quando a temperatura for maior que esta faixa, a leitura será subestimada, indicando erroneamente ser um colostro de baixa qualidade.

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Outra maneira de medir a qualidade do colostro, que independe da temperatura do mesmo, é através do refratômetro de brix (Figura 15). A porcentagem de brix é uma medida da concentração de sacarose em líquidos como suco de frutas, melaço e vinho. Quando utilizado em líquidos que não contém sacarose, há uma alta correlação entre a porcentagem de brix e o teor de sólidos totais do líquido. A porcentagem de brix pode ser correlacionada com a concentração de IgG do colostro e o valor limite que indica que o colostro é de alta qualidade (> 50 mg de Ig/mL) é 21% de brix.

Figura 15. Refratômetro de brix óptico.

Sempre priorize utilizar o colostro de alta qualidade nas primeiras mamadas do bezerro. Colostro de qualidade intermediária e baixa pode ser oferecido para bezerros a partir de 2 dias de idade, uma vez que este é um alimento de grande valor nutricional e energético. Deste modo, para fazendas produtoras que almejam melhorar seus sistemas de cria, essa prática deve ser adotada como manejo de rotina da fazenda.

Após conferida a qualidade do colostro é o momento deste ser fornecido ao bezerro. A primeira mamada deve ocorrer o mais rápido possível após o nascimento, pois, a absorção das imunoglobulinas pelo intestino do bezerro é dependente do tempo em que este demora em realizar a primeira ingestão de colostro. Vários trabalhos reportam a importância de realizar a primeira mamada de colostro em até 12 horas após o nascimento; no entanto, resultados do nosso grupo de pesquisa mostraram que os bezerros que tiveram a primeira mamada de colostro garantida em até 3 horas após o parto, apresentaram maior vigor, melhores condições de saúde e maior chance de sobrevivência quando comparados àqueles que tiveram a primeira ingestão de colostro em até 6 horas após o parto (Schmidek et al., 2008).

Assim, é importante considerar a opção de ajudar os bezerros a mamar em busca assegurar a oferta do colostro no momento mais propício para a absorção das imunoglobulinas, além de garantir a oferta de um colostro de alta qualidade e na quantidade correta. A seguir são resumidas as

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recomendações (na forma de passo a passo) para a administração do colostro:

1) Ordenhe a vaca e verifique a qualidade do colostro.

2) Forneça pelo menos 4 litros de colostro de boa qualidade ao bezerro nas primeiras horas de vida do bezerro. Para estimular a ingestão vountária forneça 2 litros de colostro em até 3 horas após o nascimento e os outros 2 litros em até 6 horas de vida. Use mamadeiras ou baldes com bicos para o bezerro sugar e mantenha a calma durante o aleitamento, o bezerro pode demorar algum tempo antes de pegar o bico.

3) Aproveite essa oportunidade para interagir positivamente com os bezerros. Essa ação promeve laços e intensifica as interações positivas com os animais, facilitando o manejo na vida futura. Para uma boa interação com os bezerros, enquanto fornece o colostro, aproveite a oportunidade para acariciá-lo com as mãos e conversar calmamente com ele. Ações como esta promovem o relaxamento nos bezerros e aumenta as chances dele aproximar-se do tratador nas próximas interações.

É muito importante que o tratador saiba manejar bem os animais nas primeiras horas após o parto. Evite usar qualquer estímulo aversivo (gritos, movimentos bruscos, agressões, etc), pois eles podem prejudicar o comportamento materno das vacas e, consequentemente, o vigor do bezerro. Lembre-se, logo após o parto as vacas estão muito sensíveis, e em certas situações podem até abandonar seus bezerros. Além disso, o manejo aversivo resulta em medo dos humanos, causando maior dificuldade para realizar manejos futuros.

Neste sentido, aproveite as oportunidades do manejo diário para interagir positivamente com os animais. No caso do bezerro, a cada aproximação tente tocá-lo gentilmente, faça uma massagem com as mãos em todo o corpo do bezerro. É importante que esta estimulação ocorra pelo menos uma vez durante os primeiros dias de vida do bezerro. Por praticidade, pode-se aproveitar o momento da mamada para realizar esta ação. Caso a vaca também permita esta aproximação, realize este contato positivo com ela, para que associe a aproximação humana com algo positivo e não uma ameaça (Figura 16).

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Estudos mostram que a estimulação tátil durante a infância aumenta a capacidade dos animais em enfrentar situações de estresse, mesmo em idades posteriores (Liu et al., 1997; Francis et al., 1999), além disso ela tem um papel reforçador, atuando positivamente na formação de laços dos bezerros com os humanos. Assim, além de tornar o manejo futuro mais fácil, a estimulação tátil tem efeitos positivos na saúde e no desempenho de bezerros leiteiros.

3.2 BOAS PRÁTICAS DE MANEJO DURANTE A FASE DE ALEITAMENTO

Durante muito tempo, a questão do bem-estar dos animais de produção ficou literalmente esquecida, talvez pela busca focada em melhorar os índices zootécnicos. Desde a década de 60, vários países da Europa, por meio de iniciativas da própria sociedade, passaram a reconhecer a necessidade de mudanças nos sistemas de produção animal e a exigirem a adoção de atitudes humanitárias na criação e no abate de animais para consumo. A partir dessas iniciativas, houve aumento no interesse de conhecer melhor como se dá o relacionamento entre humanos e animais e, desde então, muitos estudos têm sido realizados em busca do entendimento das relações entre comportamento, produtividade e bem-estar animal.

O aumento na utilização de sistemas intensivos de produção é um dos elementos que mais tem levado à pressões do público sobre a questão do bem-estar dos animais de produção. Associado a isto, é também objeto de preocupação a utilização de tecnologias que apesar de reduzirem o esforço de trabalho, a exemplo de comedouros automáticos e ordenhadeiras mecânicas, promovem expressiva redução nas oportunidades de interações

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ser representadas por atividades cotidianas, como: reposição de alimento no cocho, ordenha e aleitamento.

A relação homem-animal é muito importante na produção leiteira, afetando tanto o bem-estar na fazenda, aqui definido pela combinação das condições de bem-estar dos animais e dos trabalhadores, quanto às respostas produtivas com impacto econômico direto. Nesse cenário, a formação de laços entre humanos e bovinos leiteiros geralmente tem inicio nos primeiros dias de vida do bezerro, em particular nas fazendas que adotam a separação dos bezerros de suas mães poucas horas após o nascimento, pois todos os cuidados passam a ser de total responsabilidade dos tratadores.

Assim, é pertinente perguntar quais prejuízos podem ocorrer quando a interação entre humanos e animais passa ser marcantemente aversiva? No caso de bezerros leiteiros, é possível melhorar a interação humano-animal? Qual seria o melhor momento para se interagir com eles? Deve-se reconhecer que a criação de bezerros, principalmente na fase inicial da vida até o desmame, exige a aplicação de boas práticas de manejo e muita atenção a detalhes. Sendo que na infância os bezerros são muito sensíveis às experiências vividas e, portanto, se caracteriza como um momento muito importante para promover associações positivas com eles.

Estudos conduzidos pelo Grupo ETCO da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV-UNESP), Campus de Jaboticabal-SP, têm mostrado que quanto mais cedo acontecem os contatos positivos com os animais, melhores são as respostas referentes à docilidade dos mesmos, no futuro.

Além disso, a partir de utilização de boas práticas de manejo (melhoria nas instalações e no sistema de aleitamento e melhor interação humano-animal) foi observada redução de 50% na mortalidade dos bezerros durante a fase de aleitamento, associado a isto o novo manejo implicou também na redução significativa na ocorrência de doenças, em particular da diarréia, cuja ocorrência reduziu de 76,9 para 13,3% dos bezerros avaliados, da mesma forma para a porcentagem de animais com quadro clínico de desidratação, que foi reduzida de 28,2 para 10,8%.

Deste modo, neste item iremos abordar como adotar as boas práticas de manejo nos sistemas de aleitamento dos bezerros, sendo compostas por aleitamento em baldes com bico, desmama gradual e interação positiva humano-animal.

Muitas vezes, após separação da vaca, os bezerros são conduzidos para instalações próprias, onde permanecem durante todo o período de aleitamento. Assim, todos os cuidados com os animais, como alimentação, limpeza e tratamentos veterinários passam a ser de responsabilidade do trabalhador. Ensinar os bezerros a tomarem leite em baldes convencionais não é uma tarefa fácil, e nestes primeiros dias de aprendizagem geralmente eles não conseguem tomar todo o leite oferecido, culminando em problemas como inapetência e fraqueza, que podem deixar os bezerros mais susceptíveis as doenças.

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Pesquisas recentes, realizadas pelo nosso grupo de pesquisas (Grupo ETCO) encontrou que os bezerros têm mais facilidade para aprender a tomar leite quando são ensinados a mamar em baldes com bicos. Este balde tem como finalidade facilitar o aleitamento, pois permite que o bezerro expresse seu comportamento natural de sucção e aumenta a eficiência da mamada. Também os riscos de falsa via diminuem muito, pelo fato de ingerir leite lentamente e em pequenas quantidades, o que também auxilia a melhorar a digestibilidade do leite.

Outro fator positivo decorrente do uso de baldes com bicos é a diminuição no comportamento de sugar a instalação e os outros bezerros. O comportamento de sugar é inato, ou seja, nasce com o bezerro, portanto ele precisa sugar. Senão for por meio da mamada será por outros meios, com sucção de partes das instalações, dos corpos de outros bezerros e dos bebedouros de água. Ao utilizar o balde com bico para o aleitamento temos observado a diminuição deste comportamento de sucção, principalmente em outros bezerros, sendo positivo já que este pode ser um meio de transmissão de doenças (Figura 17).

Figura 17. Aleitamento em baldes com bicos proporcionando aos

bezerros expressarem seu comportamento inato de sugar o leite.

A altura para se posicionar o balde deve ser de 45 cm, entre o bico e o chão, similar a do úbere da vaca. Deste modo, iremos permitir que o bezerro se posicione corretamente para mamar, assim como se estivesse mamando em sua mãe.

Ao utilizar os baldes com bicos, é importante que alguns cuidados sejam tomados, dentre eles:

- Desinfetar os bicos a cada troca de bezerro, isto irá prevenir quanto aos contágios de doenças. Utilize borrifadores contendo solução clorada e depois seque cada bico com papel toalha descartável.

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- Ordem de aleitamento: primeiramente aleite os bezerros mais novos e que não apresentem sinais de doenças, depois os animais mais velhos e saudáveis, finalize o aleitamento com os animais doentes.

Além de todos estes pontos abordados, é muito importante que durante o aleitamento haja uma interação positiva trabalhador-bezerro. Estudos mostram a importância desta interação com reflexos positivos no desenvolvimento do animal (ganho de peso e menor ocorrência de doenças, por exemplo) e na obtenção de respostas comportamentais desejáveis, ou seja, animais manejados positivamente tornam-se mais dóceis e quando estes tem a presença sistemática desta interação positiva desde a infância, permite a manutenção da docilidade até a vida adulta. Fator de grande relevância, pois é desejável ter animais mais fáceis de manejar durante a pesagem e ordenha, por exemplo.

Esta interação torna-se mais intensa quando ocorre junto ao aleitamento, pois o leite reforça positivamente esta interação. Assim, é recomendado que pelo menos uma vez ao dia, durante o aleitamento, se estimule a interação positiva como os bezerros, o que pode ser feito com a escovação diária dos animais, assemelhando as lambidas da mãe enquanto ele mama. Partes como costado, inserção de cauda, períneo e virilha devem ser priorizadas durante a escovação, que pode durar entre 1 a 2 minutos em cada animal. Se houver possibilidade, realize em todos os bezerros que estão em fase de aleitamento, caso contrário, faça a escovação preferencialmente nos bezerros mais jovens, com até 30 dias de idade. Isto porque, de acordo com nossos estudos, este período é caracterizado como o de maior aprendizado por parte dos bezerros. Lembrando que, quanto mais tempo se interage positivamente com o animal mais se aumenta a chance dele manter boas respostas comportamentais a longo prazo.

A interação positiva dos tratadores com os bezerros, além de estreitar os laços, permite realizar um manejo mais cuidadoso, observando e verificando os animais de forma individual. Por exemplo, quando sugerimos que o tratador escove ou acaricie os bezerros diariamente e de forma individual, além de propormos uma interação positiva, criamos a oportunidade para um contato mais íntimo, que facilita a identificação de problemas de saúde em fase inicial como, por exemplo, em relação à infestação de carrapatos, miíases, problemas com umbigo e princípio de casos como diarréia e pneumonia e também avaliar o desenvolvimento do bezerro (Figura 18). Ou seja, se temos uma boa interação e tratadores capacitados para solucionar pequenos problemas como estes (pois conhecem sua biologia, nutrição e sanidade) seguramente teremos uma boa eficiência na criação.

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Figura 18. Tratadora aproveitando a oportunidade

durante o manejo de aleitamento para pesar o bezerro.

Assim, é evidente que os bezerros submetidos às boas práticas de manejo apresentarão melhores condições de saúde, sendo notado também melhor desenvolvimento e expressão mais frequente de comportamentos desejáveis como, por exemplo, a redução da distância de fuga e maior docilidade dos animais durante o manejo. Quando o trabalhador conhece cada um dos animais sob seus cuidados ele tende a reconhecer mais facilmente as suas necessidades e consegue supri-las com maior eficiência.

De maneira geral, a implantação das boas práticas de manejo tem o objetivo de desenvolver o bem-estar na fazenda, oferecendo melhores condições de vida para todos que nela vivem e trabalham. No caso específico do manejo de bezerros leiteiros, os manejos devem ser conduzidos com muito cuidado, sendo que qualquer falha de manejo pode resultar, em casos extremos, na morte dos animais. Com base nestas informações, pode-se perceber a importância das atividades desenvolvidas na criação de bovinos leiteiros, pois para alcançar bons resultados é necessário cuidado e dedicação dos trabalhadores. Assim, dê especial atenção ao manejo dos bezerros leiteiros e se beneficie com os resultados, melhorando o bem-estar dos animais melhoramos também sua saúde e seu desempenho.

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3.3 BOAS PRÁTICAS DE MANEJO DURANTE A MOCHAÇÃO DOS

BEZERROS

Como forma de minimizar o estresse e fomentar sistemas produtivos mais éticos e sustentáveis a adoção das boas práticas de manejo na mochação dos bezerros é uma estratégia de manejo fundamental para alcançar estes objetivos. Abaixo segue um procedimento operacional padrão para a execução dessa estratégia de manejo.

a) Objetivo:

Organizar e garantir qualidade no manejo de mochação dos bezerros minimizando o sofrimento dos animais.

b) Etapas do processo de mochação:

Envolve identificar os bezerros aptos para mochar, com idade entre 30 e 35 dias, conter o animal, aplicar anestesia e a primeira dose de analgésico, realizar a mochação, aplicar a pomada cicatrizantes nos locais mochados e continuar com a aplicação de analgésico por pelo menos 3 dias consecutivos.

c) Alertas:

Realize o procedimento de mochação nos horários mais frescos do dia. Evite realizar a mochação próximo aos horários de aleitamento, evitando desconforto e associação negativa com o momento de mamada.

d) Equipe e recursos necessários:

- 1 tratador experiente e 1 médico veterinário responsável pelo treinamento desse tratador.

- Procedimento e dosagem para a aplicação de anestésicos e analgésicos prescito pelo médico veterinário.

- materiais necessários: i) 2 cordas limpas para contenção do bezerro, ii) luvas descartáveis,iii) seringas de 5ml descartáveis, iv) agulhas 40x8 descartáveis, v) anestésico injetável (lidocaína 2%), vi) mochador reto de ferro côncavo pouco cortante, vii) aquecedor para o mochador, viii) pasta cicatrizante.

e) Descrição detalhada dos manejos e responsabilidades:

1) Prepare todo o material antes de conter os bezerros. 2) Coloque o ferro mochador para aquecer.

3) Aproxime-se calmamente do bezerro. Contenha o bezerro segurando-o pelo pescoço e com a outra mão segure na prega da virilha. Posicione sua perna mais próxima da parte traseira do animal para frente, fazendo com que ele perca o equilíbrio e gentilmente deslize-o sob sua perna e o acomode no chão.

4) Passe a corda primeiramente nas patas traseiras e depois junte com as dianteiras. Prenda bem com um nó, mas não aperte muito para não

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machucar o bezerro.

5) Assim que o bezerro estiver contido, coloque o par de luvas, acople as agulhas (40x8) em cada seringa e as deixem preparadas uma com analgésico e outra com o anestésico local.

6) Aplique no bezerro a dose recomendada de um analgésico conforme a orientação da bula quanto à dose e a via de administração.

7) Prepare o anestésico local (lidocaína 2%), tendo a dosagem e a via de aplicação conforme orientação da bula.

8) Assim que o bezerro estiver contido aplique o anestésico local, no nervo corneal, em cada um dos cornos, de acordo com a dose recomendada pelo fabricante. Importante! Assegure-se que nenhum vaso sanguíneo seja atingido, para isto antes de injetar o anestésico, puxar o embulo da seringa para verificar se nenhum vaso foi atingido.

9) Permita que o anestésico faça efeito dando o tempo de espera recomendado pela bula.

10) Pegue o ferro mochador que já deve estar candente, aproxime-se lentamente do bezerro. Se agache bem próximo à cabeça do bezerro. Posicione o bezerro de lado, com uma mão segure a cabeça do bezerro e com a outra o ferro mochador.

11) Pressione o ferro mochador sobre o botão córneo, movimentando a haste do ferro mochador cuidadosamente, em movimentos de pequenos círculos, para evitar que a pele seja queimada.

12) Ao constatar que o botão está queimado e se soltando da cabeça do bezerro, corte a parte queimada com o próprio ferro quente, em seguida queime o local novamente com o ferro mochador, para deixar o botão córneo inativo. Importante! Não deve haver sangramento durante esta ação, sob nenhuma hipótese.

13) Ao finalizar a mochação do primeiro corno, coloque o ferro mochador para aquecer novamente. Enquanto isso prepare o bezerro para a mochação do segundo corno.

14) Mantenha o bezerro na mesma posição lateral. Pegue a outra corda limpa, faça um cabresto e prenda gentilmente a cabeça do bezerro, de forma que o próximo corno a ser mochado fique exposto e apontando para cima.

15) Verifique se o ferro mochador voltou a ficar candente e repita a operação no segundo corno.

16) Coloque o ferro mochador para aquecer novamente caso tenha outro bezerro para mochar.

17) Passe uma camada grossa de pasta cicatrizante (p. ex. pasta de unguento), de pelo menos 3 cm, nas áreas queimadas.

18) Desamarre o bezerro e repita os mesmos procedimentos para os outros bezerros já contidos, conforme descritos neste Procedimento Operacional Padrão (POP).

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por pelo menos 3 dias consecutivos, respeitando o intervalo de reaplicação do produto conforme orientação da bula.

f) Indicadores de bem-estar animal para avaliação de dor e/ou desconforto pós-procedimento:

1) Frequência de vocalização;

2) Comportamento de esfregar o local mochado em objetos e em outros bezerros;

3) Perda de apetite; 4) Febre;

5) Esquiva do tratador toda vez que ele tenta uma aproximação com o bezerro. Esses indicadores quando em alta frequência podem significar que o bezerro está sentindo dor e desconforto decorrente da falha em algum dos processos de mochar os animais. Nessas situações especiais é importante consultar um médico veterinário para que ele recomende um protocolo medicamentoso para amenizar a febre e a dor do animal no local da mochação.

3.4 BOAS PRÁTICAS NO MANEJO DE NOVILHAS: COMO REDUZIR O

ESTRESSE NA PRIMEIRA ORDENHA

Quando pensamos em facilidade de manejo, de imediato somos remetidos às dificuldades na realização de determinado processo dentro da fazenda e qual estratégia de manejo iremos adotar para solucionar tais problemas, que por sua vez podem afetar a produtividade da fazenda e o bem-estar dos animais. Se tratarmos de manejo de ordenha de vacas primíparas zebuínas (por exemplo, o Gir Leiteiro) ou oriundas de seus cruzamentos (por exemplo, Girolando) essa reflexão torna-se ainda mais importante. E neste momento, devemos pensar: o manejo que estou adotando em minha fazenda foi escolhido com base no que é melhor para mim (produtor, trabalhador e etc) ou com base no que é melhor para o animal que está recebendo o manejo?

Para o caso de vacas primíparas, devemos saber que enquanto novilhas, o manejo com esta categoria merece atenção, pois muitas vezes elas são renegadas a manejos pontuais sendo muito deles considerados aversivos para o animal como vacinação e tratamentos de doenças. Logo, prestar mais atenção e melhorar o manejo destes animais implica em melhorias no bem-estar beneficiando seus índices produtivos, uma vez que estes são considerados um importante investimento financeiro nas fazendas. O número total de novilhas de primeira cria produzido por ano no rebanho de reposição tem grande influência na rentabilidade da fazenda leiteira, portanto estas irão garantir o ciclo reprodutivo e produtivo de uma propriedade.

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novilhas em primeira lactação são expostas a novas experiências associadas ao processo de ordenha, e frequentemente é um dos primeiros contatos que estes animais têm com pessoas e com a rotina da fazenda. Essa mudança no manejo pode gerar estresse, aumento dos batimentos cardíacos, maior liberação de cortisol e, consequentemente, menor ejeção do leite. Isso impede a completa expressão do potencial produtivo desses animais e resulta em baixa produtividade.

As primeiras semanas de ordenha de uma primípara parece ser a fase mais difícil para o animal e para o manejador. A rotina desses animais é totalmente alterada, pois são conduzidos a lugares diferentes, por pessoas desconhecidas, onde muitas vezes o manejo torna-se agressivo em resposta a reatividade dos animais frente a esta nova situação, e é neste momento que a falta de preparo dos animais junto à dos manejadores acarreta em riscos de acidentes para ambos e perda de produção de leite por estresse.

Sabemos que a descida do leite durante a ordenha é dependente de estímulos, como o barulho da máquina de ordenha, a pré-ordenha da vaca (massagem e preparo do úbere para a fixação das teteiras) e a visão do bezerro pela mãe, principalmente para animais com componentes zebuínos em seus cruzamentos genéticos. Todos estes estímulos são necessários para que a vaca possa liberar a ocitocina, hormônio responsável pela descida do leite (Figura 19).

Figura 19. Reflexo de ejeção do leite quando a vaca é estimulada pelo toque no úbere, som do

equipamento de ordenha e/ou pela visão do bezerro. Estes estímulos geram impulsos nervosos que passam pelo hipotálamo no cérebro. O hipotálamo estimula a glândula pituitária posterior

a liberar ocitocina. O sangue carrega esse hormônio às células mioepiteliais do úbere que circundam o alvéolo. A contração das células mioepiteliais força o leite para dentro do sistema de

ductos e da cisterna da glândula mamária.

Assim, quando a primeira ordenha da primípara torna-se estressante (relutância em entrar na sala de ordenha, presença de gritos e agressão física do manejador contra o animal) os estímulos para a descida do leite acabam sendo comprometidos dando lugar à atuação do hormônio adrenalina que possui ação antagônica a ocitocina, ou seja, a presença da adrenalina inibe

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a liberação de ocitocina e consequentemente a descida do leite.

Muitas vezes, a dificuldade de adaptação das vacas para a ordenha sem bezerro ao pé, pode resultar em falhas na descida do leite, com implicações negativas no bem-estar das vacas e na eficiência da ordenha. Como forma de solucionar este problema vários produtores têm aplicado ocitocina exógena para estimular a descida do leite durante a ordenha. Esta prática se tornou rotineira em muitos rebanhos leiteiros, sem qualquer preocupação com os riscos inerentes a aplicação de medicamentos intravenosos. Por exemplo, pelas avaliações comportamentais que fizemos em alguns rebanhos comerciais notamos que a aplicação deste hormônio não se dá de forma controlada, cabendo ao retireiro decidir pelo uso ou não.

Nestes casos geralmente não é levado em conta a questão da retenção do leite. A decisão pelo uso aparentemente está embasada na suposta facilidade de realizar a ordenha, decorrente da imediata descida do leite por indução da injeção de ocitocina, sem que o retireiro tenha que fazer qualquer esforço, como preparação dos animais para a primeira ordenha e massagem no úbere prévia a ordenha, que estimule a descida do leite de forma natural.

No Brasil essa prática ainda prevalece em muitos rebanhos leiteiros, apesar dos riscos de transmissão de doenças infectocontagiosas (p.ex. tripanossomose, leucose e brucelose) entre as vacas do rebanho, além de ocorrências de processos inflamatórios nas veias mamárias (flebites). O risco de transmissão de doença está geralmente associado ao uso de seringas e agulhas de forma compartilhada, que deveriam ser descartadas após cada aplicação. Vale a pena ressaltar que ações como esta também tem impacto negativo em toda a cadeia produtiva do leite, uma vez que esta prática não é bem aceita pelos consumidores.

Assim, com base no conhecimento gerado pelos nossos estudos, recomendamos a adoção conjunta de boas práticas de manejo, tanto na preparação de novilhas Girolando para a primeira ordenha quanto na rotina da ordenha, de forma a facilitar a adaptação das vacas aos manejos da fazenda. A partir daí ressaltamos a importância da primeira ordenha da primípara ser tranquila, baseada em interações positivas entre manejador e animal. Para isso podemos utilizar estratégias de manejo a fim de facilitar este processo. Animais mais fáceis de serem manejados são resultantes de bons manejos desde a fase de cria, quando a latência para o aprendizado é mais forte. Assim, aproveite as oportunidades durante todo o período de cria e recria para interagir positivamente com os animais.

Para os casos de novilhas prenhes algumas práticas podem ajudar a facilitar o manejo, assim um bom período para iniciar a aplicação de boas práticas de manejo é a partir do sétimo mês de gestação, isso além de permitir um bom desenvolvimento do bezerro e de colostro de qualidade é um período aconselhável para manejar estes animais.

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manejador pode estar presente quando o alimento for fornecido, assim ele pode chamar os animais até o cocho, andar por eles enquanto comem, tentando se aproximar e acariciá-las quando possível. Isto fará com que as novilhas sintam menos medo frente à presença de humanos. Caso seja possível, dedique um manejador somente para esta ação, assim ele pode fazer o manejo individual com os animais permitindo reconhecer àquelas que são mais reativas e que irão necessitar de mais de atenção durante o manejo preparatório.

A experiência da Fazenda Boa Fé (produtora Itambé), localizada em Conquista-MG, criadora de animais da raça Girolando, tem sido um bom exemplo na prática em como preparar os animais para a primeira ordenha. A partir de técnicas baseadas em maior interação positiva entre novilha e manejador puderam obter comportamentos desejáveis como maior docilidade dos animais, facilidade ao ensiná-las a entrar na ordenha e primíparas mais calmas e zelosas com suas crias.

Práticas como estas são encorajadas devido à relação humano-animal afetar positivamente o bem-estar, a saúde e a produtividade de animais leiteiros, pois as respostas a este manejo preparatório são vacas mais calmas durante a ordenha. Boas interações entre manejador e animal resultam em maior produção de leite, teores mais elevados de gordura e proteína, animais mais calmos no período de 24 horas após o parto, além de minimizar (ou até mesmo banir) o uso de ocitocina exógena nas vacas durante a lactação.

3.5 BOAS PRÁTICAS NO MANEJO DE VACAS EM LACTAÇÃO

a) Objetivo:

Obter melhores condições ambientais, a fim de minimizar o estresse térmico e promover o conforto dos animais, e consequentemente melhorar a resposta de saúde dos animais.

b) Alertas e cuidados:

O conforto dos animais é influenciado pelo ambiente físico e social e se aplica a diversos tipos de instalações, seja ela a pasto, semi-intensivo ou um confinamento (ex: free-stall, compost barn). Para garantir um ambiente confortável, esteja atento ao excesso de ruídos no ambiente, altas temperaturas, falta de ventilação, pisos lisos ou abrasivos, ou com obstáculos que podem causar acidentes e ferimento nos cascos, como pedras e buracos pelo caminho.

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3.5.1 PROCEDIMENTOS DE MANEJOS REALIZADOS TODOS OS DIAS

NA FAZENDA E ASPECTOS IMPORTANTES A SEREM CONSIDERADOS

PARA A PROMOÇÃO DO BEM-ESTAR ANIMAL

a) Manutenção e limpeza de equipamentos e instalações:

1. As instalações devem estar limpas e em boas condições de manutenção; 2. A periodicidade de limpeza e desinfecção deve ocorrer de acordo com a frequência de uso, número de animais e condições ambientais do dia. Em dias de chuva, a atenção com a manutenção e limpeza do local de descanso dos animais deve ser redobrada. Nessa situação especial, a frequência de limpeza do local deve ser maior. Para instalação do tipo compost-barn, a frequência de escarificação da cama em dias de chuva deve ser maior. Caso a fazenda tenha disponibilidade, considerar mudar o local de descanso dos animais, transferindo-os para áreas mais secas e sem acúmulos de lama e fezes;

3. Higiene na área de permanência das vacas e dos bezerros: deve-se evitar o acúmulo de lama, barro e esterco na área de alojamento. Sempre que possível, desinfetar o local com produtos químicos próprios e com recomendação para uso em animais. Cada categoria animal (bezerros, novilhas, vacas secas e em lactação) requer um produto específico para uma boa higienização e desinfecção. Consulte um técnico especialista no assunto para obter a recomendação mais apropriada;

4. Limpeza da sala de ordenha: o local de ordenha deve ser de fácil limpeza, boa drenagem de efluentes e com boa iluminação;

5. Higiene do ordenhador e dos tratadores de bezerros: devem estar com roupas limpas (a utilização do avental ajuda na manutenção da limpeza da vestimenta), boa higiene pessoal e principalmente das mãos.

b) Cuidados especiais com as áreas de descanso:

1. No piquete, manter as áreas de descanso secas e confortáveis para as vacas deitarem;

2. Próximo aos cochos e bebedouros, fazer a raspagem e retirada da lama frequentemente, sempre que notar o acúmulo de lama e dejetos;

3. No estábulo, disponibilizar camas limpas, secas e em número suficiente para todos os animais;

4. Quanto ao material das camas, as vacas preferem deitar em superfícies macias e frescas. Proporcione camas com altura de pelo menos 15 cm, em quantidade em que não exponha o piso com as movimentaçãos dos animais. Outra forma de avaliar o conforto da cama é posicionar-se de joelhos sobre ela e verificar se é possível permanecer nesta posição por pelo menos três minutos consecutivos.

5. Atentar para o dimensionamento adequado das baias. No caso de baias para a instalação do tipo free-stall, observar se as vacas possuem

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espaço para deitar e levantar normalmente, sem dificuldades (sem bater contra a instalação). Para que o dimensionamento seja adequado, o projeto deve considerar o tamanho médio dos animais a serem alojados e o seu peso vivo. Disponibilizar uma baia com cama para cada animal alojado no free-stall;

6. Para instalações do tipo compost-barn, deve-se respeitar as recomendações contidas no desenho projetado para a fazenda, pois o tamanho de área recomendado por animal varia muito de acordo com a raça e o peso vivo do animal. Como recomendação padrão, é importante o cuidado com a cama, estabelecendo rotinas quanto ao número de vezes/dia que se deve escarificá-la, bem como a reposição do material e o funcionamento dos ventiladores;

b) Como reduzir o estresse térmico:

Existem várias medidas que podem melhorar as condições de conforto térmico de um rebanho. Dentre elas, tem-se o uso de ventiladores, aspersores e nebulizadores, além da oferta de sombra (natural ou artificial) nas pastagens e nos confinamentos.

1. Observar se as vacas estão em conforto térmico. Caso perceba sinais de estresse por calor ou pelo frio, atuar modificando o ambiente em busca de torná-lo mais ameno. Este estresse, quando causado por calor, pode ser identificado por sinais de ofegação nos animais (boca aberta, língua exposta, excessiva salivação e redução de ingestão de alimento e, por consequência, redução na taxa de ruminação). O estresse por frio é menos impactante e pode ser observado quando os animais permanecem muito tempo parados, aglomerados e se esquivando de correntes de vento;

2. Sombreamento: deve ser considerado independentemente do sistema de produção adotado, da raça ou da idade do animal. Fornecer sombra em quantidade suficiente para que todas as vacas possam utilizá-la simultaneamente. Para cada animal adulto, disponibilizar ao menos 2 m² de área de sombra (natural ou artificial);

3. Ventilação: Utilizar de forma eficiente a ventilação natural do ambiente. Salas de ordenha e galpões devem ter o pé direito alto (pelo menos 3m nas laterais) e lanternins que permitem a saída de ar quente localizado no cume do telhado do galpão. Utilizar ventiladores em locais estratégicos das salas de espera, de ordenha e nos estábulos;

4. Nebulização e aspersão: Antes de adotar esta tecnologia, avaliar as necessidades dos animais durante as estações do ano, o impacto do resfriamento sobre as condições ambientais, bem como sua relação custo-benefício. Tanto a nebulização quanto a aspersão podem ser contínuas ou intermitentes e, quando bem utilizadas, contribuem muito com o conforto térmico dos animais em dias muito quentes. No piquete, manter as áreas de descanso secas e confortáveis para as vacas deitarem;

Referências

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