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A Nova Lei de Adoção e a contribuição do Assistente Social Judiciário

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF

POLO UNIVERSITÁRIO DE RIO DAS OSTRAS – PURO

DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS – RIR CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

PRISCILA DE CARVALHO GONÇALVES

A NOVA LEI DA ADOÇÃO E A CONTRIBUIÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL JUDICIÁRIO

Orientadora: Profª. Msª. Paula Martins Sirelli

Rio das Ostras 2014

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PRISCILA DE CARVALHO GONÇALVES

A NOVA LEI DE ADOÇÃO E A CONTRIBUIÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL JUDICIÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense – Polo Universitário de Rio das Ostras.

Orientadora: Profª. Msª. Paula Martins Sirelli

Rio das Ostras 2014

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PRISCILA DE CARVALHO GONÇALVES

A NOVA LEI DE ADOÇÃO E A CONTRIBUIÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL JUDICIÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado e aprovado como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Serviço Social

pela Universidade Federal

Fluminense – Polo Universitário de Rio das Ostras.

Monografia aprovada em ____/____/_____.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ Prof.ª. Msª. Paula Martins Sirelli

Orientadora

Universidade Federal Fluminense

____________________________________________ Prof.ª Msª. Lúcia Maria da Silva Soares

Examinadora

Universidade Federal Fluminense

____________________________________________ Prof.ª Pollyana Luz Mello Macedo

Examinadora

Universidade Federal Fluminense

Rio das Ostras 2014

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Dedico este trabalho ao meu filho

Davi que me proporcionou

experimentar a mais pura e doce

forma de amor. Te amo

incondicionalmente e agradeço por você ser exatamente como é. Filho é por você e para você.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me conceder a oportunidade de viver momentos inesquecíveis durante esta jornada; agradeço por terminar esta etapa de minha vida com muita fé e saúde.

Agradeço a ELA, dona M.M, por me conceder uma nova chance de escrever a minha história.

Agradeço a minha mãe Waldemira por ser exemplo de uma grande mulher e mãe, e sobre tudo pelo amor incondicional que sempre me foi confiado, fato pelo qual, hoje, deu-me forças para terminar essa jornada.

Agradeço a minha irmã Daisy, por ser minha companheira e sempre fazer o melhor para que eu viva um ótimo presente e tenha um grande futuro.

Aos meus queridos sobrinhos Bê e Duda pelos momentos de diversão e carinho.

Ao meu amado primo Álvaro por não permitir que eu desistisse jamais, me direcionando pelos caminhos da vida, colocando reticencias onde eu já tinha colocado ponto final.

Aos meus amigos que, na prática, são poucos, mas muito valiosos, em especial ao Bruno e Fernanda verdadeiros amigos que dividiram comigo momentos de muita risada mas principalmente dividiram comigo minhas angústias na construção este trabalho... Consegui “cacildis”!!

Agradeço as Prof.ª Cristina Brites, Paula Kapp e Lúcia Soares por em certo momento da minha vida mostrarem que eu era capaz de fazer melhor. Agradeço à minha orientadora pelo tempo dedicado, por ter sido mais otimista do que eu mesma e por não ter desistido de mim.

Onde quer que estejam, minha eterna gratidão a todas as pessoas que, em algum momento da minha trajetória de vida, me incentivaram, me apoiaram e, acima de tudo, souberam acreditar em mim.

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MÃE POR ADOÇÃO

Eu não posso fazer o tempo voltar, mas prometo meus dias lhe dedicar. Eu não posso fingir que abusos você não sofreu, mas prometo amenizar tudo o que mais doeu.

Eu não posso toda angústia que

sentiu anular,

mas prometo ficar ao seu lado neste recomeçar.

Eu não posso conter as lágrimas que tanto derramou, mas prometo que, na alegria ou dor, com você estou. Eu não posso seus piores pesadelos evitar, mas prometo seus melhores sonhos alimentar.

Eu não posso eliminar sua rejeição vivida, mas prometo que será a melhor parte da minha vida.

Eu não posso modificar a mãe que tanto machucou, mas prometo ser a mãe que mais lhe amou.

Marta Wiering Yamaoka

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RESUMO

A relevância do Serviço Social no processo que envolve a adoção é fato reconhecido por todas as partes englobadas neste contexto. O desejo de não só pertencer, mas sim, de ser uma família faz parte do anseio do ser humano e, através do reconhecimento desta necessidade o assistente social pauta sua atuação dentro do processo de adoção. Assim como novas concepções são atribuídas ao conceito família, a adoção também percorreu o mesmo caminho, desfazendo o velho conceito onde família estava totalmente atrelada a laços consanguíneos. Numa visão quase que poética, a figura do assistente social traz consigo o desenho de uma nova família, sendo capaz de contribuir significativamente para a reformulação do conceito de adoção, proporcionando uma transformação social e consagrando-se, portanto dentro do Poder Judiciário como uma ferramenta fundamental no complexo universo da adoção.

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ABSTRACT

The relevance of social work in process that involves the adoption is acknowledged by all parties encompassed in this context. The desire to not only belong, but, to be part of a family of human yearning, and by recognizing this need the social worker guides its action within the adoption process. As new concepts are assigned to the family concept, adoption also traveled the same path, undoing the old concept where family was totally tied to by blood ties. In an almost poetic vision, the figure of the social worker brings the design of a new family, being able to contribute significantly to the reformulation of the concept of adoption, providing a social transformation and consecrating themselves therefore within the judiciary as a tool fundamental in the complex world of adoption.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 09

1 - ASPECTOS EM GERAL SOBRE A ADOÇÃO... 12

1.1As transformações societárias e as novas configurações familiares... 12

1.2 Adoção em seus diferentes momentos históricos... 21

1.3 As legislações... 27

1.4 O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei 12.010/09 – Nova Lei da Adoção... 33

2 – A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL JUDICIÁRIO FRENTE À ADOÇÃO... 49

2.1 O Poder Judiciário... 49

2.2 A atuação do assistente social no processo de adoção... 53

2.2.1 Um breve resgate histórico sobre o Serviço Social Brasileiro... 53

2.2.2 Um breve resgate histórico do Serviço Social no Poder Judiciário... 55

2.2.3 O assistente social no processo de adoção... 59

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 63

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INTRODUÇÃO

Muito tem se falado sobre adoção, principalmente em novelas que ainda são o ápice de audiência das emissoras de televisão. Porém a temática é abordada superficialmente às vezes até banalizando um assunto tão sério e não explanam profundamente o assunto, deixando de debater aspectos importantes como principalmente as Leis específicas que regem a adoção no Brasil.

A mais recente Lei sobre a adoção no Brasil é a Lei 12.010/09, a Nova Lei da Adoção. Assim, o objetivo do presente trabalho é discorrer sobre as alterações feitas pela Nova Lei da Adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente que foi a primeira Lei no Brasil a reconhecer a criança e o adolescente como sujeitos de direitos e tem a finalidade garanti-los, bem como compreender como se dá a atuação do Assistente Social no processo de adoção.

Para a elaboração deste trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre a temática da adoção e suas legislações, consultando livros, artigos, monografias, buscando compreender onde teve início a adoção, quais foram as primeiras leis e principalmente a intervenção do assistente social nesse processo.

A internet também foi de grande ajuda na construção deste trabalho, disponibilizando sites e blogs sobre o Serviço Social e especificamente sobre a temática aqui apresentada.

Para elaboração deste trabalho não foi possível realizar uma pesquisa de campo com uma assistente social, vez que a assistente social que atua no Fórum de Rio das Ostras além de não atuar especificamente com essa temática, é apenas uma profissional para todos os processos que necessitam de um parecer social, ou seja, esta profissional atua em todos os assuntos de processos que da sua intervenção necessitem. Cabe ressaltar ainda que esta mesma profissional atua tanto no Fórum de Rio das Ostras quanto em outros municípios como Casimiro de Abreu, Silva Jardim, Quissamã, entre outros, ficando assim muitas vezes sobrecarregada.

Diante de toda leitura feita durante a pesquisa, constatamos que não podemos falar em adoção sem falar em família, vez que um está atrelado ao

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outro. Logo, abrimos nosso trabalho no Capítulo 1 discorrendo sobre a família e seus múltiplos conceitos na sociedade brasileira.

A família não pode ser considerada como algo natural, mas sim como uma construção histórica social que está sempre em processo de transformação. Nessa primeira parte do Capitulo 1, constatamos que existiram quatro tipos de famílias até chegarmos a formação que temos hoje. Para discorremos sobre esses modelos de família baseamo-nos em Bruschini (2000) que vai citar autores como Poster (1979) e Donzelot (1979). Ainda nessa primeira parte do Capitulo 1, vamos falamos também sobre o conceito de famílias para as vertentes como a marxista, a sociologia, a antropologia e a psicologia, bem como sobre as funções da família como a função econômica, socializadora e de reprodução ideológica e ainda sobre as formações de famílias citando Freitas (2010).

Finalizando a primeira parte do Capitulo 1, discorremos a respeito das transformações ocorridas na família brasileira tendo por base as transformações citadas por Alencar (2004), bem como a família no que tange as políticas sociais.

Já na segunda parte do Capitulo 1 discorremos sobre a adoção e como ela surgiu no Brasil. Tomamos como ponto de partida a antiguidade onde a adoção existia para eternizar uma determinada família, ou seja, uma casal que não teve filhos adotava para manter o sobrenome da família. No Brasil, a adoção surgiu como uma solução do Estado para crianças e adolescentes abandonadas, vez que esse número era consideravelmente elevado. Assim inicialmente numa tentativa de conter esse aumento no número de acrianças e adolescentes abandonados, o Brasil importou a Roda dos Expostos ou Roda dos Enjeitados que consistia num sistema de uma espécie de gaveta nos muros de instituições como Casas de Misericórdia, onde a pessoa girava e o bebe ou criança já um pouco crescida aparecia dentro da instituição e era cuidada por amas de leite ou amas secas caso as crianças já fossem maiores ou desmamassem dentro da instituição. Para discorrermos sobre esse essa questão do abandono e da Roda, nos fundamentamos em Venâncio (1999). Discorremos ainda sobre o tabu que cerca a adoção, no que tange o receio que algumas pessoas têm de adotar e a criança desenvolver características na sua personalidade adotar bem como dos pais adotivos perderem o amor de seus

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filhos para os pais biológicos tendo como base textos de Rampazzo e Mative (2010). Finalizando a segunda parte do Capitulo 1, temos as legislações que cercaram a adoção em diferentes momentos históricos. A primeira Lei sobre adoção no Brasil foi em 1828, depois tivemos o Código Civil de 1916, posteriormente adveio a Lei nº 3.133/1957, seguida pela Lei nº 4.655 de 1965 e finalizando os Códigos Civis de 1979 e 2002, ainda vigente.

Na última parte do primeiro capítulo discorremos sobre o Estatuto da Criança e Adolescente que foi a primeira Lei que tratou as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e tem como objetivo assegurá-los. Nessa parte, explanamos sobre os artigos do ECA que tratam da adoção bem como as alterações feitas nos referidos artigos pela Lei 12.010/09 chamada de A Nova Lei da Adoção através de quadros comparativos para uma melhor compreensão dessas alterações, onde também utilizamos Rampazzo e Mative (2010).

No segundo e último capítulo do presente trabalho abordamos a atuação do assistente social judiciário frente à adoção. Para tal, na primeira parte deste segundo capitulo, contextualizamos o Poder Judiciário que é o campo de atuação do assistente social judiciário. Já na segunda parte do Capítulo 2 baseados em Iamamoto (2000), discorremos também ainda que de forma breve, sobre o Serviço Social no Brasil bem como a inserção do Serviço Social no judiciário. Finalizando o Capitulo II, explanamos fundamentados principalmente em Martins (2001), sobre a atuação do assistente social frente ao processo de adoção, sobre qual é de fato a sua intervenção nesse processo.

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1. ASPECTOS EM GERAL SOBRE A ADOÇÃO

1.1 As transformações societárias e as novas configurações familiares

Família! Família! Papai, mamãe, titia Família! Família! Almoça junto todo dia Nunca perde essa mania (Família, Titãs).

Para podermos falar de adoção, tomaremos como ponto de partida, o que se entende por família, suas formações na sociedade e suas transformações em diversos contextos históricos.

A instituição família não pode ser tratada como algo natural, mas sim como uma construção histórica social que está sempre em movimento, inserida em processo de transformação. Em cada época e em cada sociedade, existia uma concepção de família.

Portanto é um equívoco ter uma concepção universal e imutável de família. Em seu texto Bruschini (2000) cita Mark Poster (1979), onde ele parte do princípio que a historicidade da família é “descontínua, linear e não-homogênea” 1

. Para exemplificar tal teoria, ele trabalha com quatro tipos de família. A primeira é a família aristocrática em que não era atribuído valor algum à privacidade, assim como à domesticidade, cuidados maternos. Não existia uma relação emocional entre pais e filhos.

Já na família camponesa, que é o segundo tipo de família, haviam traços da família aristocrática embora sua organização fosse diferente: não era o espaço privado o privilegiado, tudo era compartilhado com a aldeia. Os laços emocionais se estendiam para fora dela, de modo que a dependência das crianças não recaía inteiramente nos pais, mas principalmente na comunidade. Como exemplo de terceira família temos a proletária que teve sua origem através da família camponesa. Poster (1979) relata que a família proletária não era totalmente doméstica. Com condições extremamente precárias, todos os membros desta família se viam obrigados a trabalhar. Com o trabalho nas

1

POSTER, Mark. Teoria Crítica da Família. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 apud. BRUSCHINI, Cristina. Teoria Crítica da FamíliaSão Paulo: Cortez, 2000, p. 52.

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fábricas, as crianças e adolescentes se socializavam e garantiam independência com relação a seus pais. As mulheres por sua vez, além de trabalharem nas fábricas ainda tinham os afazeres domésticos. A família proletária então se muda para o subúrbio, o que desfaz vínculos com a comunidade, tornando-a assim mais parecida com o modelo de família burguesa.

Bruschini (2000) cita ainda Donzelot (1979) que relata o nascimento no séc. XVIII na Europa, do quarto tipo de família, a família burguesa, criando novos padrões de relacionamento familiar, rompendo assim com qualquer modelo de relação familiar que existia 2.

O autor relata ainda que no início do séc. XIX, os padrões trazidos pelo surgimento desse novo modelo de família já estavam totalmente estabelecidos, uma vez que a família tinha o lar como espaço de expor suas emoções, rompendo com o modelo da família proletária onde o lar não era de cunho doméstico ocorrendo uma rigorosa divisão de papéis sexuais, e os filhos são totalmente dependentes dos pais. Para Donzelot (1979), os padrões da família burguesa são dominantes, padrões estes que estarão em constantes conflitos com as gerações futuras. Justamente pela sua não universalidade e mutabilidade que estudiosos pesquisam a diversidade de conceitos de família nas diversas áreas. Ainda em Bruschini (2000) podemos observar algumas áreas que conceituam a família. Na literatura sociológica, a reflexão sobre família predomina na teoria funcionalista. Para Parsons (1970), apud, Bruschini (2000) estudioso dessa corrente de pensamento “a família é, sobretudo uma agência socializadora, cujas funções concentram-se na personalidade dos indivíduos” (Parsons 1970, apud, Bruschini 2000, p.54).

Na literatura marxista, Engels (1981) tem como fator determinante da história a produção e reprodução da vida imediata, onde se inclui tanto a produção dos meios de subsistência, quanto à reprodução da espécie. Engels (1981)ainda vai além ao dizer quer, “a evolução da família no decorrer dos tempos consistiria numa redução da comunidade conjugal entre os sexos. Progressivamente iriam se excluindo tanto os parentes próximos como os

2 DONZELOT Jacques. A polícia das famílias. Rio de Janeiro: Zahar, 1979, apud, BRUSCHINI,

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distantes restando apenas o casal”3

. Na sociedade idealizada por ele, que viria com o passar do tempo e por consequência suas transformações, pouco a pouco imperariam relações sexuais mais livres e o amor sexual individual.

Marx em O Manifesto do Partido Comunista (1848), aborda que o capitalismo destruía os vínculos familiares, se referindo ao ambiente proletário onde todos os membros da família tinham que trabalhar (incluindo mulheres e jovens), o que acarretava no fim da família extensa vista como uma comunidade4.

Já na vertente da sociologia, a família era considerada como uma agência socializadora e formadora da personalidade dos indivíduos, porém desenvolve uma reflexão oposta ao funcionalismo. Nela predomina a dominação e submissão na autoridade do pai sobre o filho. Nessa concepção de família, a criança aprende a respeitar a autoridade pela figura paterna (BRUSCHINI, 2000).

Já para a antropologia afirma Bruschini (2000), a de se pensar na “variabilidade, desnaturalização e desuniversalização da família”. Para esta ciência, “a família é um grupo de procriação e de consumo, lugar privilegiado onde incide a divisão sexual do trabalho” determinando assim, o quão as mulheres serão autônomas ou subordinadas. Sua principal teoria é de que a divisão sexual do trabalho está presente em todas as sociedades, destinando as mulheres para o trabalho doméstico e os homens para a vida social.

No campo da psicologia, a família é fundamental para as teorias de Freud. Seu principio básico “é que a mente humana se forma na infância, através de um longo processo de formação da personalidade e de estabelecimento de vínculos afetivos e emocionais, que ocorrem dentro da estrutura familiar”. (BRUSCHINI, 2000, p. 62)

Toda essa diversidade de definições sobre família nos remete a pensar quais seriam de fato suas reais funções ao grupo familiar.

Ainda em Bruschini (2000), a autora nos revela que seriam três essas funções: econômica, socializadora e reprodução ideológica.

3 ENGELS, F. A origem da família, da propriedade e do Estado. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira,

1981 apud, BRUSCHINI, Cristina. Teoria Crítica da FamíliaSão Paulo: Cortez, 2000, p.53.

4 MARX, Karl. O Manifesto do Partido Comunista. 1848 apud, BRUSCHINI, Cristina. Teoria Crítica

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A função econômica, antes do início do capitalismo, baseava apenas na produção propriamente dita. Com as transformações ocorridas com a chegada da industrialização, surgem duas esferas distintas: de um lado a unidade doméstica, de outro a unidade de produção. À mulher coube o papel de realizar as tarefas do lar obviamente sem remuneração, enquanto ao homem coube o trabalho fora do lar, provavelmente nas indústrias onde passou a ser remunerado. Nesse aspecto, cabe ressaltar que a família agora não mais produz o que precisa para sobreviver, ela agora compra no mercado o que for necessário, logo a família se torna uma unidade de consumo. (BRUSCHINI, 2000).

Na função socializadora a família tem como principal função a formação de personalidade do indivíduo e a socialização das crianças. O que nos remete as linhas de pensamento como funcionalismo, na sociologia e os de Freud na psicologia. Bruschini (2000) ressalta ainda, que “ao exercer ação socializadora, a família atua também como agência de transmissão de ideologia” (2000, p.66). Já na função de reprodução ideológica a família tem por função transmitir costumes, hábitos, valores padrões de comportamento, o que faz parte do processo de amadurecimento dos indivíduos que compõem a família.

É fundamental considerar que a maior importância atribuída a uma ou a outra das funções da família não significa que as demais estejam sendo descartadas. O estudo da família deve, necessariamente, levar em conta que todas essas funções – econômica, socializadora e reprodutora de ideologia – fazem parte do cotidiano familiar. Por isso, uma definição abrangente e criteriosa de família deve ser capaz de articular o plano econômico ao cultural e ao psicológico. (BRUSCHINI, 2000, p.67)

Com o constante processo de mudança da configuração familiar, com a família brasileira não seria diferente. Tomemos como ponto de partida os anos 1990, baseando-se no texto de Alencar (2004) onde a autora discorre que ocorreram transformações econômicas e políticas, acarretando um novo cenário social que entre as antigas e as novas bases de formação, reproduz fortemente a destituição social, da pobreza e de qualquer outra forma de precariedade, ocasionando drásticas alterações na organização da reprodução social dos trabalhadores e consequentemente de suas famílias. Logo, se a desqualificação do trabalho, o desemprego e remuneração baixa, constituem esse cenário caótico, é na família que essas ações refletem materializando a

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pobreza do cotidiano familiar. Em suma, podemos dizer que devido a estas condições tanto sociais quanto econômicas atualmente no nosso país, é na família que o indivíduo se refugia buscando soluções que minimizem esta precariedade.

Cabe aqui salientar, ainda em Alencar (2004), que no Brasil a família sempre funcionou como um porto seguro diante da ausência do Estado (que tenta remeter à família a obrigação de reprodução social) no que diz respeito às políticas públicas para com as famílias. No entanto, na última década, a família se tornou um dos eixos centrais das políticas sociais. Penso que se faz necessário aqui resgatar que a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) “considera como objetivo a proteção à família, e determina como um dos focos de atenção da política de assistência social” (ALENCAR, 2004, p. 63).

Em SOUZA (2013) a autora cita Gueiros (2002), salientando as mudanças que ocorreram no Brasil, a partir da segunda metade do século XIX, que geraram um questionamento sobre o modelo de família vigente, fazendo com que surja um novo modelo a “família conjugal moderna”.5

Ainda em Souza (2013), podemos ver que dentre os vários acontecimentos que contribuíram para o surgimento de uma nova concepção de família brasileira, o primeiro acontecimento a ser destacado pela autora é o surgimento da pílula anticoncepcional, que contribuiu muito para que as mulheres passassem a poder escolher quantos filhos queriam ter e quando isso aconteceria. Logo, a configuração familiar mais uma vez sofre alteração, vez que se diminuiu o número de filhos. Outro ponto salientado pela autora foi o divórcio, que também foi um acontecimento que provocou uma grande mudança na configuração da família brasileira. Ele desfez a união conjugal definitivamente, fazendo com que as novas famílias fossem chefiadas apenas por um dos pais, surgindo assim as chamadas “famílias monoparentais”.

Durante as leituras de textos sobre família foi comum encontrarmos referências ao fato de que a posição das mulheres na sociedade e dentro da própria família se alterou significativamente, uma vez que as mulheres estão

5GUEIROS, Dalva Azevedo. “Família e proteção social: questões atuais e limites da

solidariedade familiar”. Serviço Social & Sociedade n.71, ano XXIII, set. 2002 apud

SOUZA,Fabiana Helena do Rosário. O direito à convivência familiar: pensando as contradições, limites e potencialidades dos processos de adoção de adolescentes brasileiros após a implementação da Lei nº 12.010/2009.Rio das Ostras, UFF, 2013, p 16.

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cada vez mais legitimando seus espaços nas esferas públicas, trabalhando mais e estudando mais (o que podemos perceber no nosso cotidiano), mesmo que isso ainda não tenha trazido transformações mais amplas nas relações de gênero, não se pode negar que muitas coisas mudaram. Em Freitas (2010) a autora enfatiza que se “as mulheres estão mais no mundo público não significa dizer que algum dia elas tenham estado ausente. Na verdade, as mulheres – especialmente as mulheres pobres – sempre trabalharam.” A ideia de emancipação através do trabalho é mais uma realidade das camadas médias.

Ainda em Freitas (2010) a autora discorre que a legislação sobre família também sofreu alterações o casamento não é mais o único mecanismo de reconhecimento legal das relações familiares. Nossa constituição prevê como família a comunidade formada por qualquer um dos cônjuges e seus descendentes (artigo 226), a união estável entre um homem e uma mulher, a família monoparental e caminhamos para o reconhecimento homoafetivo.

Para a autora, hoje temos uma “diversidade familiar”. Casais sem filhos, famílias chefiadas só pela mãe ou só pelo pai, às vezes duas, três famílias que dividem a mesma casa. Ainda temos as famílias que são formadas a partir de segundas uniões (as chamadas “famílias recombinadas”), juntando dentro da mesma casa os filhos das outras uniões. Outro fator relevante que a autora chama atenção é que é impossível pensar a família brasileira sem atentar para a importância dos parentes e da vizinhança na vida dessas pessoas – uma realidade, diga-se de passagem, mais próxima das mulheres do que dos homens. Muitas das vezes se cria uma relação tão forte com vizinhos e amigos quanto com a própria família.

Após identificarmos o conceito de família em diversas áreas, se faz necessário pensar a importância da família no que tange as políticas sociais. Em Castro (2008), a autora debate justamente esse aspecto, tendo como ponto de partida o conceito de Mioto (1997) que define a família como:

(...) núcleo de pessoas que estabelecem certa convivência em um lugar determinado, por um lapso de tempo mais ou menos longo e, que se encontram unidas (ou não) por laços sanguíneos. A tarefa primordial da família é o cuidado e a proteção de seus membros. (MIOTO6 1997, apud, CASTRO 2008, p.113).

6

MIOTO, Regina. Família e Serviço Social: contribuições para o debate. Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, nº 55 p. 114-130.1997.

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A autora ressalta ainda que não se pode desvincular a análise da família da conjuntura social a qual se insere, uma vez que essa não estabelece relações sociais apenas entre si, mas com diversas esferas da sociedade (CASTRO, 2008).

Logo, a autora nos remete ao início deste trabalho, onde conceituamos família não como um fenômeno natural, mas sim como uma construção histórica social que está sempre em movimento, inserida em processo de transformação. Em cada época e em cada sociedade, existia uma concepção de família, onde seria grande engano dizer que a família é algo imutável e possui um modelo universal.

De acordo com Castro (2008), o debate sobre família no que tange a política social, se deu de forma secundária, tendo esse cenário alterado nos anos de 1970, com a crise do Welfare State que gerou um questionamento “fazendo com que a família fosse re-descoberta, tanto como instância de proteção, como também quanto possibilidade de “recuperação e sustentação” de uma sociabilidade solidária” 7

(MIOTO 2008, apud, CASTRO 2008, p.111). Mas o que se entende por política social?

Castro (2008) baseia-se em Iamamoto8 (2001) para conceituar a política social. Ou seja, para Castro (2008) política social, define-se como:

(...) uma resposta do estado às manifestações da questão social. Esta sendo entendida como parte constitutiva das relações sociais capitalistas, como expressão ampliada das desigualdades sociais, e das disparidades econômicas, políticas e culturais das classes sociais; sendo inerente também ao processo de conscientização e luta dos trabalhadores por seus direitos sociais e políticos (2008, p.112).

Cabe ressaltar que quando falamos de política social, nos remetemos à proteção social que consiste em

(...) uma ação coletiva de proteger indivíduos contra os riscos inerentes à vida humana e/ou assistir necessidades geradas em diferentes momentos históricos (VIANA e LECCOVITZ9, 2005, apud, CASTRO 2008).

7

MIOTO, Regina. Família e políticas sociais. São Paulo: Cortez, 2008.

8

IAMAMOTO, Marilda Vilela. A questão social no Capitalismo, In: Temporalis – Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS. Ano 2, nº 3. Brasília, 2001 p.09-32

9

VIANA, A. L; LEVCOVITZ, E. Proteção Social: introduzindo o debate. VIANA, A. L. D; 15-57, 2005, apud CASTRO, Mariana Monteiro de Castro e. Políticas Sociais e Famílias. Libertas, Juiz de Fora, p.111-128.2008.

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Como já vimos, o capitalismo refletiu-se significativamente sobre a família e sua formação, vez que separou a casa da rua, dividindo os papéis, onde os homens trabalhavam unicamente para sustento familiar e a mulher se dedicava ao lar.

Nesse contexto histórico, ressalta Castro (2008), não haviam políticas sociais por parte do Estado, que por sua vez via a família como meio natural de proteção social ligado a sua participação no mercado através da compra e prestação de serviços inerentes a sua subsistência.

O grau de valorização da família vai aumentando até chegar a ser colocada como instância primordial da sociedade (...)Enfim, na formação capitalista sob a égide do liberalismo, a família se conforma com o espaço privado por excelência, e como espaço privado deve responder pela proteção social de seus membros (MIOTO10, 2008,

apud, CASTRO, 2008 p.114).

Porém, Pereira (2008) ressalta que a “redescoberta” da família, não tornou possível a elaboração de conhecimentos e métodos capazes de captar a realidade e descartar falsas ideias nas políticas sociais para famílias. A autora aponta que ainda prevalece uma visão ideal de família que prega que estadeve ser uma fonte privada de proteção social. Tal afirmação da autora se dá por que ela sinaliza que para inserir as famílias nas políticas sociais, deve-se “analisar o lado contraditório da família, ponderando que o núcleo familiar não é uma ilha de virtudes e consensos, devendo ser encarada como uma unidade simultaneamente forte e fraca” (2008, p.26)

A referida autora finaliza dizendo que o intuito das políticas sociais não deve ser o de sobrecarregar a família com responsabilidades que vão além de sua capacidade, mas sim oferecer meios para que a mesma se insira como cidadã. “Para tanto, o Estado deve ser tornar partícipe naquilo que só ele tem como prerrogativa ou monopólio a garantia de direitos” (2008, p.29).

Particularmente, minha visão sobre o conceito de família não poderia ser diferente do que já vimos neste trabalho. Família não pode ser definida como

10

MIOTO, Regina. Novas propostas e velhos princípios: a assistência às famílias no contexto de programas de orientação e apoio sociofamiliar, In SALES, M et al (orgs). Política social

família e juventude – uma questão de direitos. 3ª ed. São Paulo: Cortez, p, 43-59, 2008b, apud

CASTRO, Mariana Monteiro de Castro e. Políticas Sociais e Famílias. Libertas, Juiz de Fora, p.111-128.2008.

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fenômeno natural, universal e imutável. Pode ser formada por vários indivíduos com laços sanguíneos ou não, porém não devemos ter a ilusão de que é um núcleo de pessoas que seguem o mesmo estilo de vida, que estão sempre de acordo em tudo que fazem. Pelo contrário, podemos ser parecidos, mas não iguais uns aos outros.

Como iremos abordar a adoção e esta temática envolve o âmbito jurídico, penso ser relevante aqui, ressaltar como os juristas e estudiosos do Direito, definem a família.

Ainda de acordo com Pereira (2007), família em sentido genérico e biológico “é o conjunto de pessoas que descendem de tronco ancestral comum; em senso estrito, a família se restringe ao grupo formado pelos pais e filhos; e em sentido universal é considerada a célula social por excelência”. (2007, p. 19)

No que concerne à família, Rodrigues (2004)num conceito mais amplo, diz ser “a formação por todas aquelas pessoas ligadas por vínculo de sangue, ou seja, todas aquelas pessoas provindas de um tronco ancestral comum, o que inclui, dentro da órbita da família, todos os parentes consanguíneos.” O autor ressalta ainda que “num sentido mais estrito, constitui a família o conjunto de pessoas compreendido pelos pais e sua prole” (2004, p. 4).

Já Diniz (2007) discorre sobre família no sentido amplo como “todos os indivíduos que estiverem ligados pelo vínculo da consanguinidade ou da afinidade, chegando a incluir estranhos.” Já num sentido restrito, o autor diz que “é o conjunto de pessoas unidas pelos laços do matrimônio e da filiação, ou seja, unicamente os cônjuges e a prole” (2007, p. 9).

Fiúza (2008), considera família como sendo “uma reunião de pessoas descendentes de um tronco ancestral comum, incluídas aí também as pessoas ligadas pelo casamento ou pela união estável, juntamente com seus parentes sucessíveis, ainda que não descendentes”, como também define em modo dizendo que: “família é uma reunião de pai, mãe e filhos, ou apenas um dos pais com seus filhos” (2008, p. 939).

Segundo Nader (2006), família consiste em "uma instituição social, composta por mais de uma pessoa física, que se irmanam no propósito de desenvolver, entre si, a solidariedade nos planos assistencial e da convivência

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ou simplesmente descendem uma da outra ou de um tronco comum" (2006, p.3).

Sintetizando a conceituação de família, Venosa (2005), assevera que a família em um conceito amplo, “é o conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar", em conceito restrito, “compreende somente o núcleo formado por pais e filhos que vivem sob o pátrio poder”(2005, p.18).

Monteiro (2004) ainda menciona que, enquanto a família num sentido restrito, abrange tão somente o casal e a prole, num sentido mais largo, cinge a todas as pessoas ligadas pelo vínculo da consanguinidade, cujo alcance é mais dilatado, ou mais circunscrito.

Gonçalves (2007) traz família de uma forma abrangente como “todas as pessoas ligadas por vínculo de sangue e que procedem, portanto, de um tronco ancestral comum, bem como unidas pela afinidade e pela adoção” (2007, p.1).

1.2 A adoção e seus diferentes momentos históricos

Nas diferentes épocas da história, a adoção teve vários objetivos, conforme explicam Paiva (2004) e Weber (1999). Os autores relatam que esse instituto teve desde cunho religioso até político, em algumas épocas valorizadas, em outras caindo em desuso e em sua maioria, beneficiando apenas o adotante. (PAIVA, 2004; WEBER, 1999 apud MAUX; DUTRA, 2010).

11

A adoção teve seu início na antiguidade como forma de eternizar o culto doméstico, ou seja, era concedida a família a adoção como último recurso para escapar à desgraça tão temida da extinção (MARTINS, 2001).

Em Silva (2011), a autora relata que a adoção era amplamente utilizada entre os povos orientais, como se verifica junto aos antigos Códigos de Manu e o de Hamurabi, este último especialmente em seu art. 185, que preceitua: “se

um homem adotar uma criança e der seu nome a ela como filho, criando-o, este filho crescido não

poderá ser reclamado por outrem". Também há indícios, continua Silva (2011),

11

WEBER, L. N. D. Aspectos psicológicos da Adoção. Curitiba: Juruá, 1999, apudMAUX Ana Andréa Barbosa. DUTRA, Elza; A adoção no Brasil: algumas reflexões. Rio de Janeiro. 2010, p.(356-372).

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de sua aplicação junto a Bíblia pelos hebreus através da estória de Moisés, um menino israelita recém-nascido que para nãos ser morto, foi colocado pela mãe em um cesto e esse colocado em um rio, onde foi boiando até ser achado pela filha de Faraó que o criou como filho. Moisés anos depois, veio a ser tornar um herói para os hebreus. Porém foi no Direito Romano que o instituto amadureceu e expandiu-se, em forma de Lei, através do qual um chefe de família sem herdeiros poderia adotar como filho um menino de outra família.

Nesse contexto histórico, entendia-se que a adoção não era de uma única pessoa, mas sim da família, ou seja, a adoção era daquele núcleo, envolvendo, portanto esposa, filhos, escravos, animais, etc. O adotado deveria receber o nome do adotante e herdar seus bens. O princípio básico da adoção na antiguidade que foi absorvido pelo direito civil contemporâneo era o de que a adoção não poderia se afastar da filiação natural.

Verifica-se ainda em Silva (2011), que na da Idade Média através da influência do Direito Canônico que tinha por entendimento que família cristã era apenas aquela formada pelo sacramento matrimonial, a adoção foi gradativamente se tornando menos realizada até desaparecer completamente, vez que a Igreja Católica via na adoção uma forma de legitimar filhos gerados por incesto ou adultério. Nessa época o adotante propositadamente precisaria ter no mínimo 50 anos e a maioria dos adotados já era adulta, porque assim o numero de herdeiros era cada vez menor e a herança do adotante ficaria para a Igreja. Foi na Revolução Francesa que a adoção voltou a ser comum entre as famílias, e posteriormente, foi incluída no Código de Napoleão de 1804.

Weber (2003) discursa sobre a importância do Código de Napoleão para adoção, relatando que através dele, a adoção começa a caminhar para efetivação dos direitos dos adotados.

“(...) podemos dizer que graças ao código de Napoleão, a adoção começava a engatinhar para um novo rumo, no atendimento dos interesses do adotado, ou seja, das crianças que não têm uma família. Nas palavras de Napoleão, a adoção é, antes de tudo, uma instituição de beneficência, e o efeito mais feliz será dar crianças àqueles que não as têm de dar um pai a crianças órfãs, de lugar, enfim, a infância à velhice e à idade viril. Para Napoleão, a adoção

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deveria imitar a natureza”. (WEBER, 2003 apud SANTOS, 2009, p.94)12.

Isso porque nesta época a adoção beneficiava mais o adotante do que à criança ou adolescente que estava sendo adotado, como explana Weber (2003):

“A adoção na antiguidade atendia aos anseios de ordem religiosa, pois as civilizações primitivas acreditavam que os vivos eram protegidos pelos mortos. A religião só podia propagar-se pela geração. O pai transmitia vida ao filho e, ao mesmo tempo, a sua crença, o seu culto, o direito de manter o lar, de oferecer o repasto fúnebre, de pronunciar as fórmulas da oração. Assim, adotar um filho era, portanto, garantir a perpetuidade da religião doméstica, era a salvação do lar pela continuação das oferendas fúnebres pelo repouso dos antepassados. Não havia sequer a preocupação com os laços afetivos entre adotante e adotado” (WEBER, 2003, apud, SANTOS, 2009, p.94).

A legislação francesa influenciou diversas culturas, inclusive a brasileira. A adoção no Brasil percorreu um longo caminho até adquirir o aspecto atual. Temos como ponto de partida para tal discussão, o abandono de crianças. A questão do abandono de crianças ganhou importância, devido ao aumento de infanticídios que ele provocava. Em Santos (2009) o autor discorre sobre a criação da Roda dos Expostos ou Enjeitados, na Idade Média, relatando que não se tinha uma definição de abandono, na forma que conhecemos hoje, vez que o termo usado “criança enjeitada”. O ato de enjeitar13 nessa época era um tanto que compreensível pela população, no que diz respeito a como essa criança seria criada e de que forma foi gerada. No entanto, para os costumes da Igreja Católica, o ato em si representava uma forma de desrespeito aos mandamentos de Cristo e, portanto, nenhum cristão poderia praticar tal ato.

Assim sendo, o Brasil colonizado por Portugal, importa a Roda dos Expostos, ou Roda dos Enjeitados. A Roda consistia num sistema em que a pessoa colocava o bebê numa gaveta construída nos muros das instituições, na sua maioria nas Casas de Misericórdia e girava, fazendo com que o bebe aparecesse dentro da instituição, sem que a pessoa que o abandonou na

12

WEBER, L. N. D. Aspectos psicológicos da Adoção. Curitiba: Juruá, 1999, apud SANTOS, Edilson. Filhos do coração: família e adoção em uma perspectiva histórica – Lei Nacional da

Adoção.Paraná,2009.

13

Enjeitar: v.t. Recusar, rejeitar, não aceitar, desprezar, abandonar. Disponível em http://www.dicionariodoaurelio.com/Enjeitar.html

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maioria das vezes por pobreza ou por gravidez indesejada, fosse identificada (RAMPAZZO,MATIVE,2010,p.3).

Venâncio (1999) relata que a Roda dos Enjeitados foi uma saída encontrada pelo Estado devido ao aumento de gastos com as crianças que eram deixadas em praças públicas ou na porta de famílias, vez que era de responsabilidade do Estado de contratar funcionários para recolherem as crianças que eram abandonadas e acolherem em suas residências. Após esse recolhimento, o nome da criança era enviado ao presidente da Câmara que por sua vez inscreveria este nome no Livro de Matrícula dos Expostos para depois esta criança ser inscrita no Juizado dos Órfãos. O referido autor relata ainda que após esses procedimentos, as crianças que tinham sido abandonadas, eram encaminhadas a tutores ou responsáveis pela criação dos mesmos. O Estado contratava amas-de-leite para amamentarem as crianças pequenas num período máximo de até 3 anos, e passado esse período, a criança era desmamada e permanecia na casa da ama que era então contratada, agora como ama-seca dos “enjeitados” até os 7 anos. Ao chegarem nessa idade, as crianças “enjeitadas” eram entregues a pessoas que quisessem usar da sua mão de obra: as meninas para os serviços domésticos e os meninos para os serviços do campo.

Ainda em Venâncio (1999), vemos que o autor realizou uma pesquisa sobre abandono de crianças nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador, no período que vai do século XVIII ao XIX, e com isso, observou que as despesas com todo esse processo de contratação e recolhimento dessas crianças abandonadas, geravam uma pequena fortuna, o que fez o governo na cidade do Rio de Janeiro em 1.730 entrar em estado de alerta com tal fato:

“Com efeito, a despesa com enjeitados, nos mencionados anos, demandou uma pequena fortuna, o equivalente ao preço de sete ou oito escravos em idade adulta; daí o recuo do governador Luiz Vahia Monteiro diante da retórica de seu antecessor, Antonio Paes de Sande. Apesar de reconhecer a importância do socorro aos desvalidos, o governador achava necessário criar algum meio de inibir pais e mães de procurar o auxílio. Esse ‘meio’ há muito existia no mundo europeu e consistia na instalação de Roda dos expostos em hospitais” (VENÂNCIO, 1999, p.27).

O referido autor afirma ainda que naquela época, “expor” ou “enjeitar”, possuíam realidades diferentes:

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“Toda mulher que, no meio da noite, deixasse o filho recém-nascido em um terreno baldio estava expondo-o à morte, ao passo que os familiares, ao procurarem hospitais, conventos e domicílios dispostos a aceitar o pequerrucho, estavam tentando protegê-lo. No primeiro caso, os bebês quase sempre eram encontrados mortos de fome, sede, frio, ou então em virtude de ferimentos provocados por cães e porcos que perambulavam pelo passeio público. No segundo, a intenção era claramente salvar a criança. A visão de corpos de recém-nascidos dilacerados chocava a todos. Inclusive os governadores portugueses, tão alheios aos sofrimentos da população colonial, indignavam-se diante desse estado de coisas. A descoberta a cada manhã de frágeis corpinhos mutilados, que serviam de ‘pasto a cães e outros bichos’, tornou-se sinônimo de barbárie. Para muitos, o verdadeiro escândalo consistia no fato de os bebês morrerem antes de receber o batismo, prática que tendeu a aumentar durante o século XVIII, em razão do crescimento da população livre e pobre”. (VENÂNCIO, 1999, p.23-24).

Percebe-se então, de acordo com Venâncio (1999), que a Roda Dos Enjeitados, tinha dupla função, sendo estas puramente cristãs: evitava um número maior de morte de crianças por consequência do abandono e possibilitava que alguns cristãos cumprissem os ensinamentos católicos que pregava o amor e caridade para com os órfãos. Porém, mesmo assim era absurdo e constante o aumento do número de falecimento de bebês. A maioria vinha a óbito antes mesmo de completar um ano de idade e muitos já chegavam mortos ao local.

Para Venâncio (1999), a história de abandono e consequentemente da Roda dos Enjeitados no Brasil, é uma história de sofrimento porque nada superava o seio familiar e sem contar que o número de óbitos era maior que o número de crianças deixadas nas Rodas.

Observamos ainda que no texto de Venâncio (1999) que, assim que a criança era recebida na instituição, ela era entregue a uma ama-de-leite que seria responsável por ela até por volta dos três anos. Essas amas, em sua maioria eram mulheres pobres com pouquíssima ou nenhuma instrução que recebiam uma ajuda de custo como se fosse um pequeno salário pela prestação dos seus serviços. Essa ajuda, no entanto, dava oportunidade para diferentes tipos de fraudes, como por exemplo, mulheres paupérrimas ou prostitutas que não tinham condição financeira de criarem seus filhos, os colocavam na Roda e elas mesmas se ofereciam para serem amas de leite dos seus próprios filhos, assim garantiam uma “ajuda” do Governo para sustentarem seus filhos. Conforme essas crianças iam crescendo, as

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instituições rapidamente as empregavam em fábricas ou residências, evitando assim mais gastos, onde os meninos trabalhavam como aprendizes e as meninas nos afazeres domésticos.

As crianças que se negavam a serem empregadas se rebelavam contra a instituição causando assim nas instituições de acolhimento no Brasil uma vulnerabilidade e incerteza no que diz respeito ao destino das mesmas. Para tentar sanar essa questão, foi prolongado o tempo de permanência dessas crianças nas instituições, onde de lá só saiam quando fossem maiores de idade ou para constituir laços matrimoniais.

Vale ressaltar que o nosso país mesmo com toda sua tentativa de modernização, ainda possui uma cultura muito enraizada no que tange à adoção.

Ao fazer uma reflexão sobre o que cerca a adoção, Maux e Dutra (2010) vão relatar que os pais adotivos têm medo de perderem seus filhos, fazendo com que se crie uma grande dificuldade para revelar aos mesmos sua história de vida e principalmente no modo de criação, uma vez que esses pais se tornam bastante permissivos.

As autoras revelam ainda que os pais adotivos sentem uma insegurança em relação ao vínculo afetivo com o filho, criando a ilusão de que ao contarem a verdade os filhos irão querer conhecer a família biológica e que eles optem por querer morar com os primeiros pais.

Schetinini14 (1998) entende que esta insegurança significa para os pais como se eles tivessem interferindo no fluxo natural da vida do filho adotivo.

Exemplo disso relatam as autoras, é que uma mãe proibiu a família inteira de comentar sobre a adoção de uma criança.

Esta, com idade aproximadamente de 10 anos, ao voltar da escola acompanhada pela mãe adotiva, foi surpreendida por uma mulher, que se apresentou como sendo sua mãe, a tomou pela mão e a levou embora, deixando para trás uma mãe adotiva surpresa e paralisada diante da situação. A referida senhora justifica seu entorpecimento diante da cena de ver seu filho sendo levado por outra mulher dizendo que nada poderia fazer porque “ela era mãe dele” (SHETININI apud MAUX; DUTRA, 2010, p. 368).

14

SCHETINNI FILHO, L. Compreendendo os pais adotivos. Recife: Bagaço, 1998, apud MAUX Ana Andréa Barbosa; DUTRA, Elza;. A adoção no Brasil: algumas reflexões. Rio de Janeiro. 2010, p.(356-372).

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Com todo esse medo de que os filhos os deixem, os abandonem, os pais adotivos encontram dificuldades de impor limites aos filhos, gerando uma falta de autoridade. Esse é o fator que faz com que a adoção pareça para uns como uma problemática, vez que faz parecer que o filho adotivo seja sinônimo de criança problemática, rebelde, quando na verdade é a criação permissiva dos pais adotivos que os tornam assim.

Ainda em Maux e Dutra (2010), no que tange ao filho adotivo saber sua real história de vida, a opinião entre teóricos, estudiosos desta temática assim como profissionais que trabalham com adoção é uma só. A história da criança deve ser inserida no dia a dia dessa família, evitando qualquer tipo de segredo entre os membros desta, fazendo com que a relação entre eles seja sempre a mais natural possível. “Quando a criança tem a sensação de sempre ter sabido, evita-se o caráter imponente e traumático do desvelamento de um segredo.” (LEVIZON, 2004 apud, MAUX; DUTRA, 2010)15

.

Cabe ressaltar ainda que ao se discutir o modo de criação dos pais adotivos para com os filhos, seus receios, suas dificuldades de revelar a real história do filho, não podemos generalizar. Pelo contrário, existem pais que têm uma visão totalmente diferente no que diz respeito a revelar ao filho que o mesmo foi adotado por eles, porém não o faz diferente do restante da família.

Hoje em dia, aparentemente não existe mais a Roda dos Enjeitados, entretanto, segundo Souza (2010), temos muitas instituições de internamento de crianças, chamadas de “Unidades de Abrigo”, um modelo parecido ao da Roda, onde as crianças e adolescentes permanecem por um longo período, o que vai na contramão do artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA que diz: “Toda criança tem o direito à convivência familiar e comunitária”, e isso não tem trazido a solução para a crise do abandono infantil em nosso país. Crianças ainda são abandonadas em diferentes lugares e muitas vezes até abandonadas nas ruas.

Porém, antes de chegarmos ao ECA, penso que se faz necessário explanar as legislações que se encontravam em torno da adoção nas diversas épocas da história.

15

LEVIZON, G.K. Adoção. São Paulo: Casa do Psicólogo Coleção clínica psicanalítica,2004,apud MAUX Ana Andréa Barbosa; DUTRA, Elza. A adoção no Brasil:

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1.3 As legislações

Estudos sobre a temática afirmam que os primeiros indícios sobre as legislações do país que tratavam sobre a adoção ocorreram em 1828, como a Lei de 22 de setembro do referido ano, que consistia em transferir o poder de expedir a carta de perfilhamento do Desembargador da época, para os juízes de primeira instância conforme art.217 da referida Lei: “Aos juízes de primeira instancia compete conceder cartas de legitimação aos filhos sacrílegos, adulterinos ou incestuosos e confirmar as adoções, procedendo as necessárias informações e audiências dos interessados, havendo-os” (MAUX; DUTRA, 2010, p.359).

Porém, efetivamente o instituto da adoção só foi incorporado no nosso país, com o advento do Código Civil de 1916, (Lei nº 3.071/1916), através dos artigos 363 e seguinte. Neste Código, a adoção era legalizada por Escritura Pública, conforme preza o art. 375 do referido Código: "A adoção far-se-á por escritura pública, em que se não admite condição, nem termo". Essa Escritura era feita de modo que na Certidão constassem apenas os novos dados da criança, não podendo conter informações sobre o estado anterior do adotado. Era denominada adoção simples pelos efeitos que gerava. Em Fernandes (2008), o autor relata que o Código Civil de 1916, permitia a dissolução da adoção, que nessa época tinha por objetivo dar filhos a quem não pudesse ter, porém sem cunho assistencial, vez que o referido Código assim como já relatamos aqui anteriormente, continuava a visar somente os adotantes como explanou Weber (2003) em sua citação anteriormente relatada.

Ainda sobre o Código Civil de 1916, Fernandes (2008) relata ainda que constava no referido Código que o adotante deveria ter mais de 50 anos de idade e a diferença mínima entre o adotante e o adotado tinha que ser de 18 anos. Nessa época, continua Fernandes (2008), o filho adotivo não necessariamente rompia o vínculo com sua família biológica, onde podia até continuar com o nome que lhe fora dado pela referida família e os direitos dos filhos perante os pais biológicos assim como os deveres dos pais biológicos para com os filhos permaneciam.

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No Código Civil de 1916, os artigos que abordavam a adoção, iam do 363 ao 378. Conforme Silva (2001), os referidos artigos tratavam dos os trâmites legais incluindo o que era permitido e o que não era permitido para que se fizesse a adoção.

Dentre todos esses artigos acima citados, o mais relevante era o art.368, impossibilitava a adoção por menores de 30 anos e havia uma exigência que os adotantes que fossem casados há mais de 5 anos. Conforme verificamos no artigo 368 do referido Código: “Art. 368 - Só os maiores de 30 (trinta) anos podem adotar. Parágrafo único - Ninguém pode adotar, sendo casado, senão decorridos 5 (cinco) anos após o casamento”. (BRASIL, 1916, apud, SILVA 2001, p.13).

Façamos aqui um adendo de que o Código Civil em vigor nos dias atuais já compreende que a adoção pode ser realizada por casais que possuam união estável, e que a união entre casais homoafetivos já está sendo reconhecida, quebrando assim qualquer paradigma que tenha sido imposta pelo Código Civil de 1916. Porém cabe ressaltar que esta decisão vai de acordo com entendimento de cada juiz, vez que nem todos os tribunais entendem como legalizada a união homoafetiva. (LOTUFO, 2002).

A adoção do Código Civil antigo continuou aplicável para quem tivesse mais de 18 anos. A Constituição Federal de 1988 revogou o art. 377, igualando aos filhos independentemente de sua natureza no que diz respeito a herança, benefícios entre outros (SILVA, 2011).

Venosa (2005) relata que um fato importante que merece atenção, era a de naquela época, no Código Civil de 1916 em seu art. 372, havia a possibilidade de adotar um nascituro, ou seja, um bebe ainda na barriga da mãe. O referido autor relata ainda que a possibilidade de adoção de um nascituro ter sido revogada, não somente pelo que preza Constituição de 1988, como também pelo fato do ECA, como veremos mais a frente, estabelecer exigências particulares no que tange a adoção de menores, onde esta só pode ser realizada judicialmente. (VENOSA, 2005).

A adoção, no Código Civil de 1916, visava primordialmente à pessoa dos adotantes, ficando o adotando em segundo plano, fator que já não é admitido na legislação atual (FERNANDES, 2008).

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Martins (2001) observa que esse fator não era visto com bons olhos para aqueles que viam a adoção de outro ponto de vista, e prova disso é que o assunto foi levado a debate na Primeira Semana de Estudos sobre Família, realizada em 1951, pela Confederação das Famílias Cristãs. A autora relata ainda que a pedido desta Confederação Esther de Figueiredo Ferraz16, formulou um Projeto de Lei, modificando as regras da adoção, porém alterações só foram feitas em 1957.

Este Código ficou em vigência por longos anos, aproximadamente 40 anos, ou pelo menos não se tem dados históricos de qualquer outra legislação ou alteração na referida lei durante este período.

Posteriormente, adveio a Lei nº 3.133/1957, para alterar o Código Civil de 1916, reduzindo a idade mínima do adotante de 50 anos para 30 anos. Neste momento, a adoção passou a apresentar caráter filantrópico, pois permitia quem já tivesse filhos naturais realizar adoção, embora não reconhecendo direito hereditário se os adotantes possuíssem filhos legítimos, legitimados ou reconhecidos, o que foi abolido com a Constituição de 1988. Com isso, foi diminuída a diferença de idade entre o adotante e o adotado de 18 anos para 16 anos. Essa permissão da referida de Lei, de quem já tivesse filho pudesse adotar, mesmo que este não tivesse direito integral a herança, foi de suma importância porque começa a surgir de fato um interesse no bem estar do adotado, no sentido de dar amparo e proteção (RAMPAZZO; MATIVE, 2010, p.4).

Para Rodrigues (1996), foi a partir dessa Lei que se passou a considerar a adoção sob a perspectiva assistencial, tendo em foco a condição do adotado, representando, na realidade, uma nova adoção, distante daquela disciplinada pelo legislador no início do século.

Já em 1965, foi publicada a Lei nº 4.655, que legitimou a adoção aos menores de até 5 anos que encontravam-se em situação irregular, com a finalidade de conferir direitos iguais ao adotado com os demais filhos do adotante.

16

Esther de Figueiredo Ferraz (São Paulo, 6 de fevereiro de 1915 — 23 de setembro de 2008) foi uma advogada e professora brasileira, Secretária de Estado em São Paulo, e a primeira mulher Ministra de Estado no Brasil. Disponivel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Esther_de_Figueiredo_Ferraz.

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Ainda em 1965, ressaltam Maux e Dutra (2010), passaram ater também o direito de adotar os desquitados e viúvas. As autoras fazem ainda uma observação de que até 40 anos atrás, somente casais podiam ter filhos adotivos.

Martins (2001) ressalta que perante esta Lei, a adoção era irrevogável e eram desfeitos quaisquer laços entre o adotando e sua família biológica. A autora relata ainda que só podiam ser adotados crianças ou adolescentes de pais desconhecidos ou que tivessem sido abandonadas pelos mesmos cujo os pais tivessem sidos destituídos do pátrio poder.

Para Pereira (1996), apud, Fernandes (2008), o pátrio poder é: “o complexo de direitos e deveres quanto à pessoa e bens do filho, exercidos pelos pais na mais estreita colaboração, e em igualdade de condições". (PEREIRA 1996 apud FERNANDES,2008)

Atualmente o Código Civil entender que o “pátrio poder” justamente por ser exercido por ambos os pais, deve chamar-se “poder familiar”. As normas são impostas pelo Estado e este espera um bom desempenho por parte dos pais. É irrenunciável, indelegável – os pais não podem passar este poder à outra pessoa, e imprescritível. A única exceção está prevista no art. 166 do ECA, realizada em juízo, onde há o pedido de colocação da criança em família substituta, de o juiz vai analisar o pedido de adoção e obviamente transferir o pátrio poder (FERNANDES, 2008) .

Fazendo uma comparação, o Código Civil de 1916 e, seu art. 380, configurava apenas o pai como responsável pelo “pátrio poder”, deixando a mulher em segundo plano, numa função de colaboradora, o que hoje como já vimos, não está mais em vigência, conforme preceitua o art. 21 do ECA (FERNANDES, 2008).

Cabe ressaltar que em caso de divórcio não se altera a responsabilidade pelo “poder familiar conforme o Código Civil vigente em seu art. 381, salvo a guarda, onde um dos pais fica com o “poder familiar”, porém garante ao outro o direito de visitação bem como de fiscalizar o exercício do “poder familiar” concedido ao outro” (FERNANDES, 2008, p.24).

A adoção de crianças e adolescentes, como já vimos inicialmente foi regulamentada de fato pelo Código Civil de 1916, passando posteriormente a ter sua regulamentação pautada no Código de Menores, em 1979. Deste, teve

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seu respaldo através do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, Lei n. 8.069/90, conforme ressalta Fiuza (1999). O ECA está vigente até os dias atuais, ou seja, há 23 anos porém com ratificações advindas com a Nova Lei de Adoção, Lei 12.010 de 2009, conforme começaremos a observar mais adiante.

Posterior ao Código Civil de 1916, temos o Código de Menores que surgiu através da Lei 6.697, de 10 de outubro de 1979, instituindo a Adoção Plena e corrigindo as lacunas da legitimação adotiva admitindo a Adoção Simples, regulada pelo Código Civil, com as transformações advindas com o referido Código e permanecendo a adoção civil.

Em Lotufo (2002), observamos que através da Adoção Simples, poderiam ser adotadas as crianças de até sete anos de idade em situação regular e os maiores de sete anos indiferentemente da situação e para os menores de sete anos, mas em situação irregular, era realizada a Adoção Plena que era regulamentada pelo art. 28, que consistia em que “dependeria sempre de autorização judicial, mediante requerimento por parte do interessado, os quais deveriam constar do alvará do juiz e da escritura de adoção.” (LOTUFO, 2002, p. 225).

A adoção civil ou comum era regulamentada pelos artigos. 368 a 378. Os referidos artigos continuaram em vigor para aquelas adoção que não foram regulamentadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (VENOSA, 2005).

Pereira (1996) observa, que a adoção legitimada pelo Código Civil de 1916, não podia unicamente impor suas regras, já que a Constituição Federal de 1988 em seu art. 226, § 5°, preceitua que a adoção será assistida pelo Poder Público, não fazendo distinção entre os modelos de adoção. Conclui o autor: “Ato público que é, embora não subordinado a provimento jurisdicional, estará sujeito à homologação judicial, em processo de jurisdição graciosa, com audiência do Ministério Público, como pré-requisito para sua inscrição no Registro Civil” (PEREIRA, 1996, p. 229).

Essa visão continua Pereira (1996), era polêmica. O autor vai analisar e comparar os referidos Códigos. Segundo ele, a adoção pelo Código Civil de 1916, estava mesmo predestinada ao desuso e, por isso, não mereceu maiores discussões na esfera judicial. O art. 368, do antigo Código, que "os maiores de 30 (trinta) anos podem adotar". Essa alteração, como vimos, foi feita pela Lei n°

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3.133/ 57, pois no Código de 1916 a idade mínima era de 50 anos. “A intenção do legislador foi somente permitir a adoção de pessoas que já tivessem atingido determinado grau de maturidade, diminuindo-se o risco de adoções prematuras ou levianas.” (PEREIRA, 1996,p.230).

O solteiro, com mais de 30 anos, estava habilitado a adotar, enquanto o casado, com a mesma idade, teria de aguardar cinco anos de duração do matrimônio (parágrafo único do art. 368 do Código Civil de 1916).

Como vimos em Silva (2011), o art. 370 do Código Civil de 1916 dispunha que somente o casal unido pelo matrimônio podia adotar em conjunto. No entanto, a Lei nº 3.133 de 1957, alterou este artigo permitindo que o homem ou a mulher que fosse casado pudessem adotar separadamente, preceito este que continua vigente com o Código Civil de 2002com adendo de que a mesma regra valesse para casais com união estável. “O mais intrigante da legislação anterior era justamente vedar que ninguém poderia adotar se não configurasse uma família, constituída por marido e mulher” (FERNANDES, 2008, p. 21).

Porém os Códigos Civis de 1979 e 2002, ao permitirem a adoção isolada, não exigem o consentimento do outro cônjuge, o que pode causar uma certa instabilidade do seio familiar, vez que uma criança ou adolescente pode ser inserido sem a aprovação do outro, gerando grandes e graves consequências para esta família como a não aceitação da criança ou adolescente por parte do outro e assim o seu repúdio. Uma vez que a lei não preceitua nenhum tipo de restrição quanto a esta questão, ninguém nem mesmo uma autoridade judicial como um juiz, por exemplo, poderá fazer qualquer tipo de intervenção. Conforme observa Viana17 (1998), apud, Fernandes (2008):

que há quem sustente que o consentimento é indispensável em nome da paz e harmonia familiar e da vida conjugal, pois um estranho é introduzido no ambiente doméstico. Há também reflexos patrimoniais alimentícios e sucessórios. Porém, em face do Direito Positivo, não há como se impor esse consentimento.

Os laços dessa adoção eram tênues na imitação da família biológica, porque o adotado não se desprendia totalmente de sua família originária, mantendo o parentesco, podendo manter o nome primitivo,

17

VIANA, Marco Aurélio S. Alimentos, ação de investigação de paternidade e maternidade. Belo Horizonte: Del Rey, 1998.

Referências

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