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A decisão judicial e o dever de fundamentação no direito processual civil brasileiro

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Academic year: 2021

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MATEUS SPRICIGO PAES

A DECISÃO JUDICIAL E O DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO

Tubarão 2018

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MATEUS SPRICIGO PAES

A DECISÃO JUDICIAL E O DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade.

Orientador: Prof. Narbal Antônio de Mendonça Fileti, Me.

Tubarão 2018

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Dedico este trabalho a todos que, de certa forma, contribuíram para minha formação acadêmica e profissional, especialmente meus pais, Ana Tereza Spricigo Paes e Carlos Roberto Paes.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, aos meus pais, Ana Tereza Spricigo Paes e Carlos Roberto Paes, pelo incentivo e por todo esforço dedicado em prol de minha formação acadêmica e profissional. Sem vocês nada do que conquistei até hoje seria possível. Espero, um dia, poder recompensá-los por tudo isso.

Agradeço a Moraes & Gonçalves Advogados, na pessoa dos sócios Alexandre Santos Moraes, Guilherme Gonçalves Pereira e Diego Santos Vieira. Não há preço que pague os conhecimentos práticos e teóricos obtidos durante os anos em que pude trabalhar com vocês. Agradeço, também, aos demais colegas de trabalho, com quem muito pude aprender, e aos meus amigos, que me acompanharam nesta jornada e forneceram todo o apoio necessário à conclusão do curso e desta pesquisa.

Agradeço, por fim, ao meu orientador, Narbal Antônio de Mendonça Fileti, por abrir exceção e permitir que fosse seu orientando. Os ensinamentos passados foram, certamente, de grande valia para minha formação acadêmica.

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RESUMO

Esta monografia tem como objetivo geral analisar o que estabelece o Código de Processo Civil, em vigor desde 18 de março de 2016, sobre o dever de fundamentação, considerando o que dispõe o artigo 489, § 1º, em todos os seus incisos. No que refere à metodologia, quanto ao nível, a pesquisa acadêmica foi exploratória; quanto à abordagem, foi qualitativa; quanto ao procedimento de coleta de dados foi bibliográfica. Dito isso, tem-se que alcançando o propósito da pesquisa e concluídos todos os objetivos de antemão alinhavados. Afinal, analisado o dever de fundamentação no direito processual civil brasileiro, sobretudo quando abordados individualmente os incisos do § 1º do artigo 489. Concluiu-se, assim, que as decisões judiciais, diante do dever de fundamentação e das inovações perpetradas pelo artigo 489, § 1º, do Código de Processo Civil, devem contemplar as pretensões deduzidas pelas partes, apreciando as questões suscitadas e externando os motivos pelos quais acolhidos ou não os pedidos formulados. Isso tudo a fim de que sejam congruentes, controláveis e racionais, e que sejam evitadas eventuais nulidades resultantes da falta de motivação. Vale consignar, por fim, que essa pesquisa não exauriu o tema, o qual pode ser melhor analisado em pesquisa acadêmica mais aprofundada, considerando sua complexidade e a variedade de posicionamentos, judiciais e doutrinários, sobre o dever de fundamentação.

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ABSTRACT

This monograph aims to analyze what is established in the Civil Procedure Code, in force since March 18, 2016, on the duty to state reasons, considering what is provided in article 489, first paragraph, in all his subsections. Referring to the methodology, regarding the level, the academic research was exploratory; the approach was qualitative; regarding the data collection procedure was bibliographical. That said, it had been achieved the research purpose and complete all the goals beforehand. After all, it was analyzed the duty of justification in Brazilian civil procedural law, especially when individually addressed the subsection of first paragraph of article 489. It was therefore concluded that judicial decisions, given the duty to state reasons and innovations perpetrated by article 489, first paragraph, of the Civil Procedure Code, must contemplate the claims made by the parties, assessing the issues raised and setting out the reasons why the requests formulated. This is so that they are congruent, controllable and rational, and that any nullities resulting from lack of motivation are avoided. Finally, it should be pointed out that this research did not exhaust the theme, which can be better analyzed in more advanced academic research, considering its complexity and the variety of legal and doctrinal positions on the duty to state reasons.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 10

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ... 10

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 13

1.3 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS ... 13

1.4 JUSTIFICATIVA ... 14

1.5 OBJETIVOS ... 15

1.5.1 Objetivo geral ... 16

1.5.2 Objetivos específicos ... 16

1.6 DELINEAMENTO METODOLÓGICO ... 16

1.7 ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS... 17

2 DECISÃO JUDICIAL ... 18 2.1 NOÇÕES GERAIS ... 18 2.1.1 Disposições legais ... 18 2.1.2 Concepções doutrinárias... 20 2.1.2.1 Sentença ... 20 2.1.2.1.1 Sentença terminativa ... 21 2.1.2.1.2 Sentença definitiva ... 22 2.1.2.2 Decisão interlocutória ... 23 2.1.2.3 Acórdão ... 24

2.1.2.4 Decisão singular proferida pelo relator ... 25

2.2 ELEMENTOS ... 26

2.2.1 Relatório ... 27

2.2.2 Fundamentos... 28

2.2.3 Dispositivo ... 30

2.3 REQUISITOS ... 32

2.3.1 Sentença citra petita ... 33

2.3.2 Sentença ultra petita ... 33

2.3.3 Sentença extra petita ... 34

2.4 INTERPRETAÇÃO ... 35

3 DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO ... 37

3.1 NOÇÕES GERAIS ... 37

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3.2.1 Controlabilidade ... 38

3.2.2 Racionalidade ... 39

3.3 DECISÃO NÃO FUNDAMENTADA ... 40

3.3.1 Indicação, reprodução ou párafrase de ato normativo ... 41

3.3.2 Conceitos jurídicos indeterminados ... 42

3.3.3 Motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão ... 44

3.3.4 Argumentos deduzidos pelas partes ... 45

3.3.5 Invocação de precedente ou enunciado de súmula ... 47

3.3.6 Enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte ... 49

3.4 CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO ... 50

4 REFLEXOS PROCESSUAIS ... 53

4.1 VIAS DE IMPUGNAÇÃO ... 53

4.2 TEORIA DA CAUSA MADURA ... 55

5 CONCLUSÃO ... 59

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1 INTRODUÇÃO

Esta pequisa monográfica tem por objeto a análise do dever de fundamentação no Direito Processual Civil brasileiro. Neste primeiro capítulo, pretende-se delimitar o tema do trabalho, descrevendo a situação e formulando o problema, definindo conceitos operacionais e expondo os motivos pelos quais será realizada a pesquisa.

Além disso, serão apresentados os objetivos geral e espefícos da pesquisa, seu delinemento metodológico e a estruturação dos capítulos.

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

O Código de Processo Civil que entrou em vigor no dia 18 de março de 2016 apresentou inúmeras inovações em relação ao revogado (Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973). Entre tais inovações, desponta o que dispõe o artigo 489, § 1º, em todos os seus incisos:

Art. 489. São elementos essenciais da sentença: […]

§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento (BRASIL, 2015).

Diante dessa inovadora disposição, indagam os profissionais do direito o que estabelece o Código de Processo Civil, por meio dos incisos do § 1º do artigo 489, sobre fundamentação das decisões judiciais, considerando o que dispõe artigo 93, inciso IX, da Constituição da República Federativa do Brasil:

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Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

[…]

IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;

[…] (BRASIL, 1988).

Com efeito, são vários os questionamentos que, ainda hoje, pendem de reposta quando em pauta o tema fundamentação das decisões judiciais. Referidos questionamentos, de forma majoritária, dizem respeito ao dever de enfrentamento, em tese, atribuído ao juízes pelos legisladores atuantes na elaboração do Código de Processo Civil.

Não são raras as discussões doutrinárias e jurisprudenciais, por exemplo, acerca do inciso IV, do artigo 489, do Código de Processo Civil – que impõe ao juiz o dever de se manifestar sobre todos os argumentos deduzidos pelas partes – e sua aplicabilidade no âmbito do Poder Judiciário brasileiro, sobretudo nos juízos de primeira instância.

Salienta-se, a propósito, que o entendimento jurisprudencial majoritário – firmado na vigência do Código de Processo Civil revogado em 18 de março de 2016 – faculta ao juiz o dever de manifestação sobre todas as alegações formuladas durante o processo, desde que solucione de modo integral a controvérsia, expondo os motivos que levaram ao teor da decisão e por que procedente, ou não, os pedidos que lhe foram dirigidos.

Para melhor descrever a situação, destacam-se recentes acórdãos proferidos, na devida ordem, pelas Segunda e Terceiras Turmas do Superior Tribunal de Justiça, que expressam entendimentos diversos sobre o dispositivo legal em questão:

ADMINISTRATIVO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO ART. 1.022 DO CPC/2015. INEXISTÊNCIA. PRETENSÃO DE REEXAME FÁTICO-PROBATORIO. INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA DO STJ. ANÁLISE DA DIVERGÊNCIA PREJUDICADA. I - No que concerne à alegação de contrariedade ao art. 1.022, II, § único, II, c/c art. 489, § 1º, incisos IV e VI, ambos do CPC de 2015, suscitada no apelo nobre, sem razão o recorrente quanto a essa irresignação, pois o Tribunal a quo decidiu a matéria de forma fundamentada, tendo analisado as questões que entendeu necessárias para a solução da lide, não se podendo confundir decisão contrária ao interesse da parte como sendo negativa de prestação jurisdicional […]. IV - Tem-se, ainda, que o julgador não está

obrigado a rebater, um a um, todos os argumentos invocados pelas partes quando, por outros meios que lhes sirvam de convicção, tenha encontrado motivação satisfatória para dirimir o litígio. As proposições poderão ou não ser explicitamente

dissecadas pelo magistrado, que só estará obrigado a examinar a contenda nos limites da demanda, fundamentando o seu proceder de acordo com o seu livre convencimento, baseado nos aspectos pertinentes à hipótese sub judice e com a legislação que entender aplicável ao caso concreto. V - Descaracterizada a alegada omissão, se tem de rigor o

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afastamento da suposta violação do art. 1022, II, do CPC/2015. […]. X - Agravo interno improvido. (BRASIL, 2018a, grifo meu).

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. IMPUGNAÇÃO ACOLHIDA. APELAÇÃO. QUESTÕES PERTINENTES E RELEVANTES NÃO APRECIADAS. AGRAVO INTERNO. REPRODUÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA. ACÓRDÃO NÃO FUNDAMENTADO. VIOLAÇÃO DO ART. 489, § 1º, IV, DO CPC/15. […]. 3. Cinge-se a controvérsia a decidir sobre a invalidade do julgamento proferido, por ausência de fundamentação, a caracterizar violação do art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015. 4. Conquanto o julgador não esteja obrigado a rebater, com minúcias, cada um dos argumentos deduzidos pelas partes, o

novo Código de Processo Civil, exaltando os princípios da cooperação e do contraditório, lhe impõe o dever, dentre outros, de enfrentar todas as questões pertinentes e relevantes, capazes de, por si sós e em tese, infirmar a sua conclusão sobre os pedidos formulados, sob pena de se reputar não fundamentada a decisão

proferida. 5. Na hipótese, mostra-se deficiente a fundamentação do acórdão, no qual é confirmado o indeferimento da gratuidade de justiça, sem a apreciação das questões suscitadas no recurso, as quais indicam que a recorrente – diferentemente dos recorridos, que foram agraciados com o benefício – não possui recursos suficientes para arcar com as despesas do processo e honorários advocatícios. 6. É vedado ao relator limitar-se a reproduzir a decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno. Recurso especial conhecido e provido. (BRASIL, 2016, grifo meu).

Da jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, possível colher acórdão proferido em sede de embargos de declaração pelo Grupo de Câmaras de Direito Civil, mutatis mutandis, no sentido da decisão acima:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA. REDISCUSSÃO DO JULGADO. IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE CONTRADIÇÃO, OMISSÃO OU OBSCURIDADE. ACÓRDÃO DEVIDAMENTE CLARO E FUNDAMENTADO. EXEGESE DO ART. 1.022 DO CPC/2015. REJEIÇÃO. I - Em regra, não têm os embargos de declaração por objetivo a alteração ou a invalidação do julgado, mas apenas o seu esclarecimento ou complementação, razão pela qual deve ser desprovido porque objetiva rediscutir matéria já decidida. II - É cediço que o julgado somente pode ser considerado obscuro quando faltar-lhe clareza em sua redação, prejudicando a adequada compreensão da questão decidida, e omisso quando não enfrentar todos os argumentos deduzidos pela parte que sejam capazes de, por si sós e em tese, alterar a conclusão adotada pelo julgador, vícios não constatados no acórdão embargado. III - Ainda que para fins de prequestionamento, necessária se faz a ocorrência de pelo menos um dos vícios elencados no art. 1.022 do novo Código de Processo Civil para o acolhimento dos embargos de declaração opostos, o que não ficou demonstrado no caso em exame. (SANTA CATARINA, 2017a).

Nessa orientação, acentuam Braga, Didier Júnior e Oliveira:

[…] se houver cumulação de fundamentos e apenas um deles for suficiente para o acolhimento do pedido (no caso de cumulação de causas de pedir, isto é, de concurso próprio de direitos) ou para seu não acolhimento (no caso de cumulação de causae

excipiendi, ou seja, causas de defesa), bastará que o julgador analise o motivo

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Em complemento, afirmam:

[…] para acolher o pedido do autor, o juiz não precisa analisar todos os fundamentos da demanda, mas necessariamente precisa analisar todos os fundamentos de defesa do réu; já para negar o pedido do autor, o magistrado não precisa analisar todos os fundamentos da defesa, mas precisa analisar todos os fundamentos da demanda. (2016, p. 380).

Costa, todavia, pondera que o "juiz não está obrigado a enfrentar todos os argumentos trazidos pelas partes, mas apenas aqueles capazes de infirmar a conclusão por ele adotada” (2016, p. 594), de modo que não necessita reprisar os argumentos constitutivos de sua conclusão.

Nesses termos e considerando as divergências doutrinárias e jurisprudenciais sobre a matéria, descrita a situação problema e delimitado, ainda que de forma sucinta, o tema desta pesquisa monográfica, que pretende apresentar análise das decisões judiciais e do dever de fundamentação no Direito Processual Civil brasileiro.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

O que estabelece o Código de Processo Civil, em vigor desde 18 de março de 2016, sobre o dever de fundamentação?

1.3 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS

Decisão judicial: nesta pesquisa monográfica, a expressão decisão judicial designa sentenças e decisões interlocutórias, sejam de mérito ou não, acórdãos e decisões singulares proferidas pelo relator. Nesse sentido, a pesquisa tratará do que estabelece o Código de Processo Civil sobre as decisões judiciais elencadas em seus artigos 203, §§ 1º e 2º, e 204:

Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos.

§ 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. § 2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no § 1º.

[…].

Art. 204. Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais (BRASIL, 2015).

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Dever de fundamentação: nesta pesquisa monográfica, a expressão dever de fundamentação designa a imposição legal atribuída pelo Código de Processo Civil aos juízes, de motivação das decisões judiciais e enfrentamento efetivo das questões suscitadas.

1.4 JUSTIFICATIVA

A análise do dever de fundamentação no Direito Processual Civil brasileiro, considerando as inovadoras disposições apresentadas pelo Código de Processo Civil, é pressuposto da melhor aplicação da lei aos casos concretos e à resolução de demandas permeadas por nulidades processuais resultantes da falta de motivação.

Afinal, não custa reprisar, que são muitas as dúvidas alusivas ao artigo 489, § 1º, do Código de Processo Civil, pendentes de solução pelos doutrinadores e pelo Poder Judiciário, especialmente quando invocadas as disposições constitucionais pertinentes à matéria. Nesse contexto, fácil perceber as divergências sobre o tema que remanescem tanto na literatura quanto na jurisprudência dos tribunais superiores e intermediários.

Com efeito, Wambier e Talamini (2016, p. 434), ponderando que o contraditório é o direito das partes de plena participação em todos os atos e fases do processo, esclarecem que de nada adiantaria assegurá-las a oportunidade de influenciar a convicção do julgador, “se a este último não fosse imposto o dever de enfrentar todas as alegações pertinentes deduzidas no processo”, ao comentar o inovador dispositivo do código de ritos civis.

Streck (2016, p. 685), em semelhante conclusão, aponta que a manifestação do juiz sobre todos argumentos deduzidos no processo “trata-se do direito fundamental que a parte tem de ver todos os seus argumentos examinados e rebatidos (ou aceitos) pelo órgão julgador”. Nesse sentido, complementa salientando que, não enfrentando todos as questões formuladas pelas partes, seria inquinada de nulidade a decisão judicial, em face do que dispõe o artigo 489, § 1º, inciso IV, do Código de Processo Civil.

Theodoro Júnior (2018, p. 1.079), ademais, ressalta que “o juiz tem o dever de enfrentar as alegações das partes e confrontá-las com o caso concreto e a legislação, principalmente aquelas que levariam a uma conclusão diversa”. Por essa perspectiva, conclui que “os argumentos deduzidos pelas partes que, em tese, poderiam ser contrapostos à conclusão adotada devem, obrigatoriamente, ser apreciados e respondidos pelo órgão julgador, sob pena de se apresentar incompleto e nulo o ato judicial”.

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Braga, Didier Júnior e Oliveira (2016, p. 381), por fim, asseveram que “se a decisão não analisa todos os fundamentos da tese derrotada, seja ela invocada pelo autor ou pelo réu, será invalidada por falta de fundamentação”. Isso porque, nessa hipótese, o pronunciamento judicial teria o condão de contrariar o princípio do contraditório e, por decorrência lógica, não seria motivado, pela ótica do devido processo legal substancial.

Contudo, em que pesem as lições acima destacadas, consolidada a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que não é nulo o acórdão que, “mesmo sem ter examinado individualmente cada um dos argumentos trazidos pelo vencido, adota fundamentação suficiente para decidir de modo integral a controvérsia” (BRASIL, 2017).

Da jurisprudência do tribunal da cidadania, ainda se colhe que “o julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já tenha encontrado motivo suficiente para proferir a decisão” (BRASIL, 2016b), e que “o órgão julgador não necessita construir textos individuados para cada um dos casos analisados, quando é possível aferir, sem qualquer esforço, que a fundamentação não é genérica (BRASIL, 2016a).

Nessa acepção, da jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, extrai-se que “cediço o entendimento de que o magistrado não é obrigado a enfrentar todos os argumentos suscitados pelas partes, quando, por um outro fundamento, puder decidir escorreitamente a lide” (SANTA CATARINA, 2017b). Destaca-se, ainda, da jurisprudência desse tribunal, que “não há necessidade de que o juiz rebata todos os argumentos invocados, desde que já tenha encontrado motivos suficientes para decidir e que as assertivas sejam incapazes de infirmar a decisão alcançada” (SANTA CATARINA, 2018).

Isso posto, considerando-se as divergências doutrinárias e jurisprudenciais, bem assim o dissenso entre a literatura especializada e o contumaz entendimento dos tribunais superiores e intermediários, acerca das inovadoras disposições do artigo 489, § 1º, do Código de Processo Civil, justifica-se a pesquisa jurídica relativa à fundamentação das decisões judiciais e o dever de enfrentamento no âmbito do processo civil nacional.

1.5 OBJETIVOS

“Os objetivos de uma pesquisa dividem-se em objetivo geral (a resposta final a que se deseja chegar) e objetivos específicos (o conjunto de aspectos que se tenha que atingir ou envolver para alcançar o objetivo geral” (LEONEL; MARCOMIM, 2015, p. 35). Nesse sentido, os objetivos desta pesquisa consistem nas seguintes ações.

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1.5.1 Objetivo geral

Analisar o que estabelece o Código de Processo Civil, em vigor desde 18 de março de 2016, sobre o dever de fundamentação, considerando o que dispõe o artigo 489, § 1º, em todos os seus incisos.

1.5.2 Objetivos específicos

Analisar os dispositivos constantes do Código de Processo Civil e da Constituição da República Federativa do Brasil que versam sobre decisões judiciais e o dever e fundamentação.

Conceituar as decisões judiciais objeto da pesquisa e demonstrar seus principais aspectos e peculiaridades.

Analisar a doutrina que versa sobre direito processual civil e como aborda o tema decisões judiciais e o dever de fundamentação.

Verificar os efeitos decorrentes da decisão judicial não fundamentada, considerando o que dispõe o artigo 489, § 1º, do Código de Processo Civil.

1.6 DELINEAMENTO METODOLÓGICO

No que refere à natureza, a pesquisa, (i) quanto ao nível, será exploratória, (ii) quanto à abordagem, será qualitativa, (iii) quanto ao procedimento de coleta de dados, será bibliográfica.

A pesquisa será (i) exploratória porque visará “aproximar o pesquisador de um problema pouco conhecido ou sobre o qual se tenha pouca familiaridade” (MARCOMIM; LEONEL, 2015, p. 12), uma vez que se deseja analisar o que estabelece o Código de Processo Civil sobre decisões judiciais e o dever de fundamentação (previsto no artigo 489, § 1º).

Será (ii) qualitativa porque trabalhará “o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes” (MINAYO apud LEONEL; MARCOMIM, 2015, p. 28), eis que realizada mediante análise da doutrina especializada em direito processual civil, com auxílio de acórdãos pertinentes ao tema, proferidos pelos tribunais, superiores e intermediários, convenientemente destacados.

Nesse sentido, será (iii) bibliográfica, pois se pretende fazer levantamento bibliográfico sobre o tema, especialmente na doutrina especializada em direito processual civil.

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Ademais, o processo de coleta de dados será efetuado por meio da leitura dos livros selecionados, de modo que sejam expostas as correntes que mais se adéquem à solução do problema e ao cumprimento dos objetivos gerais e específicos da pesquisa.

1.7 ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS

Esta pesquisa monográfica, dentre outros objetivos, pretende analisar o dever de fundamentação no Direito Processual Civil brasileiro. Diante disso, serão desenvolvidos cinco capítulos e utilizado o método dedutivo de abordagem.

O primeiro capítulo é a introdução ora desenvolvida.

O segundo capítulo tratará das decisões judiciais previstas no Código de Processo Civil, apresentando conceitos e noções gerais sobre o tema, além de seus aspectos mais relevantes e das peculiaridades pertinentes à pesquisa.

O terceiro capítulo, por sua vez, será dedicado ao tema dever de fundamentação e nele serão apresentados os entendimentos doutrinários sobre a matéria. Nesse capítulo, por oportuno, os incisos do § 1º, do artigo 489, do Código de Processo Civil serão analisados individualmente.

Em seguida, o quarto capítulo versará sobre os reflexos processuais decorrentes da decisão não fundamentada, assim entendidas aquelas proferidas em dissonância ao artigo 489, § 1º, do Código de Processo Civil. Nesse capítulo, serão examinadas as vias impugnação cabíveis contra tais decisões e o instituto da teoria da causa madura.

O quinto e último capítulo, ao final, apresentará a conclusão da pesquisa monográfica e os resultados a partir dela obtidos.

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2 DECISÃO JUDICIAL

Neste capítulo, pretende-se analisar as decisões judiciais previstas no Código de Processo Civil, apresentando disposições legais e conceitos, além de seus elementos, requisitos e, ao final, como devem ser interpretadas.

2.1 NOÇÕES GERAIS

O tema decisões judicais é objeto da Seção IV (Dos Pronunciamentos do Juiz), do Capítulo I (Da Forma dos Atos Processuais), do Título I (Da Forma, do Tempo e do Lugar dos Atos Processuais), do Livro IV (Dos Atos Processuais), do Código de Processo Civil que entrou em vigor no dia 18 de março de 2016.

Nesse contexto, o Código de Processo Civil trata da decisões judiciais, que são alvo desta pesquisa, ao estabelecer o que se entende por pronuciamentos do juiz, precisamente no artigo 203, §§ 1º e 2º e, como se demonstrará, no artigo 204.

Isso posto, para melhor compreensão do tema, cabe destacar o que define o Código de Processo Civil sobre decisões judiciais e conceituá-las, o que se passa a fazer.

2.1.1 Disposições legais

O artigo 203 do Código de Processo Civil dispõe que os “pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos” (BRASIL, 2015). O § 1º desse artigo, ao conceituar sentença e ressalvando os procedimentos especiais, por sua vez, dispõe que “sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos artigos 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução”.

Na sequência, o § 2º do mencionado dispositivo conceitua decisão interlocutória, delineando que consiste em “todo pronunciamento judicial de natureza decisão que não se enquadre no § 1º”. Os artigos 485 e 487, a propósito, dispõem:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I - indeferir a petição inicial;

II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;

IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;

V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;

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VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência;

VIII - homologar a desistência da ação;

IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e

X - nos demais casos prescritos neste Código. [...] (BRASIL, 2015).

Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:

I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção;

II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição;

III - homologar:

a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção; b) a transação;

c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção. [...] (BRASIL, 2015).

Sobre as decisões interlocutórias, vale ainda destacar o que dispõe o artigo 356 do Código de Processo Civil, que trata do julgamento antecipado parcial de mérito e, nessa acepção, das decisões interlocutórias proferidas com base nos dispositivos acima:

Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles:

I - mostrar-se incontroverso;

II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.

Os despachos, ademais, são “todos os demais pronunciamento do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte”, a teor do § 3º do artigo 203. Os despachos, como se pode perceber, não comportam carga decisória e, portanto, não serão objeto desta pesquisa, que pretende analisar o tema dever de fundamentação.

O acórdão, de sua vez, “é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais”, conforme disposição do artigo 204 do Código de Processo Civil, e, como se demonstrará, demanda as mesmas formalidades das sentenças e decisões interlocutórias, de mérito ou não, objeto desta pesquisa monográfica.

Dito isso, sem esquecer as decisões proferidas em julgamento colegiado e as decisões singulares proferidas pelo relator, possível dizer que o Código de Processo Civil estabelece que são decisões judiciais as sentenças e as decisões interlocutórias, e, a fim de que sejam examinados seus aspectos e principais particularidades, a próxima seção deste trabalho será destinada aos entendimentos doutrinários sobre o tema.

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2.1.2 Concepções doutrinárias

Nesta seção as decisões judiciais definidas pelo artigo 203 do Código de Processo Civil, que são objeto desta pesquisa, serão conceituadas a partir do que entendem os doutrinadores que versam sobre Direito Processual Civil.

2.1.2.1 Sentença

Tratando das sentenças, Streck e Delfino (2016, p. 323) asseveram que o Código de Processo Civil segue linha mais técnica do que a que fora adotada pelo código revogado em 18 de março de 2016 (Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973), para definir o conceito dessas decisões judiciais. Nesse sentido, sustentam:

[...] sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 (hipóteses em que o juiz não resolverá o mérito) e 487 (hipóteses em que o juiz resolverá o mérito), põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução, ressalvadas disposições expressas em procedi-mentos especiais (2016, p. 323).

Salientam, além disso, que “sentenças não têm caráter decisório necessariamente mais relevante do que o das decisões interlocutórias, não sendo, portanto, essa a forma ideal de diferenciá-las”, resumindo que “para aquisição do status de sentença exige-se mais que o conteúdo de sentença, sendo essencial também o preenchimento da função que a lei processual atribuiu a esse pronunciamento judicial” (STRECK; DELFINO, 2016, p. 323).

Theodoro Júnior não diverge quando afirma:

Há, como se vê, no sitema do Código, sentenças que solucionam o litígio, apresentando à parte a prestação jurisdicional postulada, e sentenças que encerram o processo pela declaração de inadmissibilidade da tutela jurisdicional, tendo em conta as circunstâncias em que a prestação foi deduzida em juízo (2018, p. 520).

Esse autor (apud DE MIRANDA, 2018, p. 519), em complemento, esclarece que sentença é a prestação emitida pelo Estado “em virtude da obrigação assumida na relação jurídico-processual (processo), quando a parte ou as partes vierem a juízo, isto é, exercerem a pretensão à tutela jurídica”.

Ribeiro (2015), da mesma forma, entende que sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz decide com fundamento nos artigos 485 e 487 do Código de Processo Civil, com aptidão para encerrar processos ou procedimentos. E mais:

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No sentido do texto, estabelece o parágrafo primeiro do citado artigo 203 do NCPC, em sua parte final, que a sentença, para além da fundamentação consubstanciada nos artigos 485 e 487, deve ter também aptidão para encerrar a fase cognitiva do procedimento comum, bem como extinguir a execução.

Braga, Didier Júnior e Oliveira (2016, p. 346), ademais, acentuam que sentença é o pronunciamento do juízo singular que põe fim a fase cognitiva do procedimento comum ou extingue a execução, com fundamento nos mencionados artigos 485 e 487. Dizem, em arremate, que os acórdãos e decisões proferidas pelo relator podem também ser fundados nos artigos 485 e 487 (regra que, por decorrência da lei, também vale às decisões interlocutórias).

Também merecem destaque, as lições de Donizetti (2018, p. 178) acerca das alterações realizadas pelo Código de Processo Civil relativas ao conceito de sentença:

Ao elaborar o novo conceito de sentença, o legislador procurou corrigir o equívoco da conceituação trazida pelo CPC/1973, que trata da sentença como o ato do juiz que implica extinção do processo com ou sem resolução do mérito. É que, como na primeira hipótese (ato que resolve o mérito) a sentença não coloca fim ao processo, mas apenas à fase de conhecimento, o processo prossegue normalmente com a fase de liquidação e o cumprimento de sentença, para somente então ser encerrado. Existem ainda outras hipóteses de atos que, embora resolvam o mérito (ainda que parcialmente), não põem fim ao processo (exemplos: decisão que rejeitava um dos pedidos cumulados; decisão que homologava reconhecimento da procedência de um dos pedidos etc.). Por tais razões é que o legislador abandonou a definição de sentença que levava em consideração apenas o seu conteúdo, para elaborar um novo conceito que se adéqua, concomitantemente, às consequências precípuas desse ato judicial: resolver ou não o mérito, colocando fim à fase cognitiva do procedimento comum (critério finalístico) ou extinguindo a execução (2018, p. 178).

Donizetti (2018, p. 413), tal como faz parte considerável da doutrina especializada, classifica as sentenças em terminativas e definitiva. À essa classificação e os significados dessas sentenças, as seções seguintes serão destinados.

2.1.2.1.1 Sentença terminativa

Partindo da premissa que o mérito é a pretensão posta em juízo, Gonçalves (2017, p. 674) esclarece que em determinados casos “o processo há de ser extinto sem que o juiz a aprecie”. Nessa hipótese, salienta esse autor, o juíz se limita a pôr fim ao processo, sem examinar a pretensão propriamente dita, proferindo sentença terminativa (2017, p. 674).

Wambier e Talamini (2016, p. 420), sobre sentenças terminativas, não divergem quando afirmam que se trata de sentenças meramente processuais, que não resolvem o mérito

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da causa. “Nelas, o juiz limita-se a fundamentadamente consignar a impossibilidade de julgar o mérito”, condenando, salvo exceções, o autor ao pagamento de verbas sucumbenciais.

Na mesma linha de raciocínio, Lunardi (2016, p. 446) salienta que caso “o juiz verifique que estão presentes uma ou mais causas de extinção do processo sem resolução do mérito, previstas no art. 485 do Novo CPC, deverá proferir sentença terminativa”. Esse autor ainda assevera que será “terminativa a sentença que não contém resolução de mérito” (2016, p. 524). Daí por que se limita à coisa julgada formal.

2.1.2.1.2 Sentença definitiva

Com as concepções de sentença terminativa acima delineados em mente, é fácil presumir o que entendem os autores que versam sobre Direito Processual Civil acerca das sentenças definitivas e de suas particularidades.

Wambier e Talamini (2016, p. 420), nesse sentido, sustentam que as sentenças definitiva, tambem conhecidas como sentenças de mérito, são aquelas “cujo conteúdo enquadra-se nas hipóteses previstas no art. 487. Tais sentenças apenas podem ser proferidas se presentes os pressupostos de admissibilidade de exame de mérito”, isto é, as condições de ação e os pressupostos processuais.

Em arremate, esses autores concluem:

Tais sentenças veiculam a resolução do conflito; definem as normas que incidiram no caso; dizem quem tem razão, reconhecendo-lhe o bem jurídico que faz jus; e, se for o caso, ditam as providências destinadas a concretamente transformar a realidade para adequá-la a tal reconhecimento (2016, p. 428).

Braga, Didier Júnior e Oliveira (2016, p. 449), ademais, destacam que “quanto à chamada sentença definitiva, deve-se ver que nem toda decisão que aplica o art. 487 do CPC é sentença em sentido estrito”. Afinal, há acórdãos que, em sede de recursos ou em ações de competência originária dos tribunais, acolhem ou rejeitam a pretensão autoral, e decisões interlocutórias que reconhecem a prescrição ou decadência em relação a apenas um dos pedidos cumulados na petição inicial (o que não extinguiria o processo por completo).

Não destoa Theodoro Júnior (2018, p. 1.070), a propósito, quando afirma que a sentença definitiva (sentença em sentido estrito) exaure a instância ou o primeiro grau de jurisdição no processo de conhecimento, solucionando o litígio, fazendo-o mediante o acolhimento ou rejeição (total ou parcial) do pedido formulado pelo autor.

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2.1.2.2 Decisão interlocutória

Pontuadas as concepções sobre as sentenças, bem assim acerca das concepções de sentença terminativa e definitiva, passa-se às noções de decisão interlocutória, para além daquela prevista no artigo 489, inciso II, do Código de Processo Civil.

Braga, Didier Júnior e Oliveira (2016, p. 348), nessa acepção, ressaltam que as decisões interlocutórias consistem no “pronunciamento judicial com conteúdo decisório que não põe fim à fase do procedimento em primeira instância”. Em complemento, afirmam que, tal como ocorre com as sentenças, as decisões interlocutórias podem ser baseadas nos artigos 485 e 487 do Código de Processo Civil, desde que não encerrem uma das fases do processo (cognitiva ou executiva).

Theodoro Júnior (2018, p. 516) salienta que as decisões interlocutórias remontam ao Direito Romano e à contraposição entre sentenças e interlocuções. Com efeito, enquanto “aquelas resolviam o mérito [...], as interlocuções abrangiam todos os demais pronunciamentos do juiz, emitidos no curso do processo, sem solucionar o litígio”.

Theodoro Júnior (2018, p. 517), nesse sentir, esclarece que “só ocorre a decisão interlocutória quando a solução da questão incidente não leva ao encerramento do feito ou de alguma de suas fases principais”. Daí por que a decisão será interlocutória e não sentença, quando o “objeto da fase de conhecimento ou de execução (isto é, o pedido) não for exaurido pelo pronunciamento incidental”, mesmo que enfrente uma questão de mérito.

Donizetti (2018, p. 178) não diverge quando afirma que as decisões interlocutórias são definidas como todo pronunciamento do juiz que, a despeito de seu cunho decisório, não se confundem com sentença e nem põe fim ao processo ou a suas fases. E mais:

Ressalte-se que, na vigência do Código de 1973, o critério utilizado para saber se o ato se caracterizava como sentença ou decisão interlocutória era o recurso cabível. Sabe-se que da sentença cabia e cabe apelação e, das decisões interlocutórias, a exemplo daquela que indefere o pedido de tutela antecipatória, igualmente cabia agravo de instrumento. Ocorre que, com a opção do legislador pelo processo sincrético, o enquadramento da natureza do ato pelo recurso cabível tornou-se impreciso. Basta lembrar que a decisão que julga a liquidação é agravável (art. 1.015, parágrafo único), embora implique resolução do mérito (Donizetti, 2018, p. 178).

Streck e Delfino, por sua vez, resumem que “o que não for sentença, e possuir conteúdo decisório, é decisão interlocutória. Sustentam, assim:

Hoje há decisões interlocutórias que não se prestam apenas a resolver questões incidentes e preparar o feito para o julgamento final, indo além, seja para tratarem do

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mérito ainda que de forma provisória (exemplos: tutelas antecipadas de urgência e de evidência), seja para enfrentarem definitivamente o mérito da causa (exemplos: julgamento da fase de liquidação de sentença – art. 1.015, parágrafo único, CPC; julgamento parcial de mérito – art. 356, CPC) (2016, p. 685).

Esses autores, ademais, acentuam que a distinção entre sentença e decisões interlocutórias é, no contexto prático, de fundamental relevância, porque define qual recurso deverá ser manejado pela parte interessada (2016, p. 324).

Sobre decisões interlocutórias, vale ainda destacar as lições de Bandeira de Melo:

[...] decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de conteúdo decisório que, por exclusão, não se enquadre no conceito de sentença. Por conseguinte, o Novo Código desvincula a decisão interlocutória da ideia de provimento que resolve questão incidente.O NCPC atribuiu grande importância às decisões interlocutórias ao optar pela disciplina das decisões parciais definitivas no curso do processo.[...] O advento da decisão interlocutória de mérito possibilitou a evolução no sistema processual ao estabelecer a ideia da coisa julgada progressiva. Em termos práticos, isso possibilita a execução definitiva da decisão parcial de mérito em momentos diferenciados do processo (art. 356), com evidentes reflexos na eficácia das decisões judiciais. (2016, p. 282).

Com isso em mente, expostas as concepções doutrinárias que dizem respeito às sentenças e decisões interlocutórias, vale analisar as decisões proferidas pelos tribunais, em grau recursal ou em processos de competência originária.

2.1.2.3 Acórdão

Asseveram Streck e Delfino (2016, p. 325) que não há “nenhuma dificuldade em saber o conceito de acórdão, já introjetado no senso comum e no imaginário dos juristas”.

Para esses autores, acordar, “no sentido constante do art. 204, significa concordância ou acordo, mesmo que seja construída apenas uma maioria”, enquanto acordão denota “toda e qualquer decisão proferida como resultado da atividade cognitiva proferida por órgão colegiado do tribunal, câmaras, turmas, seções, órgãos especiais, plenário, etc”.

Donizetti, de sua vez, esclarece:

Recebe a denominação “acórdão” o julgamento proferido pelos órgãos colegiados (turma, câmara, seção, órgão especial, plenário, entre outros previstos em regimento interno) dos tribunais. Acórdão, na verdade, constitui a conclusão dos votos proferidos no julgamento pelos juízes (juiz, desembargador ou ministro) integrantes do órgão do tribunal ao qual competir o julgamento do recurso ou da ação de competência originária (por exemplo, ação rescisória e mandado de segurança) (2018, p. 179).

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Sobre o tema, não destoa Theodoro Júnior (2018, p. 315) ao dizer que acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais, com papel de sentença ou decisão interlocutória. E ainda, quando ressalta as decisões colegiadas proferidas pelos tribunais, que tratam de questões incidentais ou julgam o mérito a fim de encerrar o procedimento de cognição ou execução, serão denominadas “acórdãos”.

Braga, Didier Júnior e Oliveira (2016, p. 349), nessa mesma linha de raciocínio, sustentam que o acórdão é a decisão proferida por órgão colegiado, seja tribunal ou turma recursal, tomada a partir da vontade dos vários membros que compõem o órgão. Esses autores, tal como Theodoro Júnior (2018, p. 315), registram que os acórdãos podem encerrar o procedimento que tramita no tribunal (finais) ou não (interlocutórios).

2.1.2.4 Decisão singular proferida pelo relator

A lei ou regimento interno dos tribunais, eventualmente, conferem a um dos membros do colegiado a competência para análise de determinadas questões e prolação de decisões unipessoais (ou singular, ou monocrática), conforme lecionam Braga, Didier Júnior e Oliveira (2016, p. 350). Com isso em mente, esses autores acentuam que a decisão unipessoal proferida pelo relator, poderá ser interlocutória ou final. E complementam:

Haverá decisão unipessoal final do relator quando o pronunciamento, à semelhança do que ocorre com a sentença, tiver aptidão para, se não for atacado por recurso no momento próprio, pôr fim ao procedimento naquela instância [...]. Haverá decisão

unipessoal interlocutória do relator quando o pronunciamento não tiver aptidão para

pôr fim ao processo naquela instância. É o que se dá, por exemplo, com a decisão que aprecia de pedido de tutela provisória nos recursos [...].

Gonçalves (2017, p. 1.076), versando sobre os poderes do relator, acentua que lhe cabe “o juízo de admissibilidade do recurso, não conhecendo, em decisão monocrática, daqueles que forem inadmissíveis, prejudicados ou que não tenham impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida”. Além disso, poderá o relator, também por decisão monocrática, examinar o mérito dos recursos, negando-lhes provimento nos casos previstos no artigo 932, incisos IV e V, do Código de Processo Civil (GONÇALVES, 2017. 1.076).

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2.2 ELEMENTOS

O artigo 489 do Código de Processo Civil dispõe que a sentença será composta pelo relatório, pela fundamentação e por sua parte dipositiva:

Art. 489. São elementos essenciais da sentença:

I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo;

II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;

III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem (BRASIL, 2015).

Gonçalves (2017, p. 675), nesse sentir, esclarece que a “sentença, seja a de extinção sem resolução de mérito, seja a que resolve o mérito, deve observar requisitos essenciais, enumerados no art. 489 do CPC”.

Braga, Didier Júnior e Oliveira (2016, p. 354), nada obstante, sustentam que, embora o dispositivo faça menção à sentença, os elementos relacionados são essenciais a todos os tipos de decisão judicial, de modo que, nesse contexto, sentença seria genêro.

Na mesma linha de raciocínio, Lunardi (2016, p. 506) descreve que as decisões judiciais devem ser compostas pelos elementos relacionados no artigo 489 do Código de Processo Civil e, a despeito da menção à sentença, referidos elementos são também aplicáveis aos acórdãos.

Streck (2016, p. 682), Donizetti (2018, p. 418) e Theodoro Júnior (2018, p. 1.075) sobre o tema não divergem. Este último autor, ademais, salienta que a inobservância de um dos elementos relacionados no artigo 489 do Código de Processo Civil inquina de nulidade a decisão judicial.

Da jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, para melhor compreensão, é possível colher acórdãos relativos ao tema, a saber:

[...] REQUISITOS DA SENTENÇA, NOS TERMOS DO INCISO III DO ARTIGO 458 DO CPC, DEVIDAMENTE ATENDIDOS. A legislação processual civil prevê como requisitos essenciais da sentença o relatório, o fundamento e o dispositivo. Este último resolve a lide com a rejeição ou o acolhimento do pedido. É no fundamento que o julgador analisa as questões de fato e de direito. A sentença recorrida, ainda que sucinta, obedeceu a todos exigências normativas, motivo pelo qual afasta-se o pleito de anulação do decisium. [...] (SANTA CATARINA, 2013).

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO OBRIGATÓRIO. CONTRADIÇÃO ENTRE A FUNDAMENTAÇÃO E O DISPOSITIVO DA SENTENÇA. DECRETAÇÃO DA NULIDADE DE OFÍCIO. PROVIMENTO JURISDICIONAL ANULADO. RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM. RECURSO

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PREJUDICADO. Diante da flagrante incongruência entre os essenciais elementos da sentença elencados no artigo 458 do Código de Processo Civil, impõe-se decretar, de ofício, a nulidade do decisum (SANTA CATARINA, 2015).

Nesse ponto, registra-se que ambos os acórdãos acima fazem menção ao artigo 458 do Código de Processo Civil instituído em 11 de janeiro de 1973. E que, todavia, não houve alteração no texto desse dispositivo em relação ao artigo 489 do Código de Processo Civil que vigora desde 18 de março de 2016, conforme lição de Streck (2016, p. 682).

Dito isso, passa-se a conceituar os elementos das decisões de forma individualizada.

2.2.1 Relatório

Lunardi (2016, p. 507), versando sobre os elementos das decisões judiciais, salienta que o relatório é a síntese do processo e que nele deverão constar “os nomes das partes, a identificação do caso, a suma do pedido e da contestação, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo”. Em complemento, esclarece:

O relatório serve para demonstrar que o julgador leu e compreendeu o processo. Também deve possibilitar que o leitor compreenda exatamente a demanda e a tese de- fensiva, bem como saiba o que aconteceu no processo. Do ponto de vista da técnica redacional, o juiz deve, no relatório, narrar os acontecimentos em ordem cronológica, utilizar o mesmo tempo verbal, evitar o uso de adjetivos, não mencionar a validade ou invalidade dos atos (ex.: “devidamente citado”). Também não deve, no relatório, consignar comando decisório, tampouco fazer juízo de valor.

Streck (2016, p. 682) não difere quando afirma que o relatório deve “conter os nomes das partes, a identificação do caso objeto da ação e os eventos ocorridos durante o andamento do processo” e, da mesma forma, quando acrescenta:

No relatório, o juiz deve reconstruir a história institucional do caso em julgamento, demonstrando que estará cotejando as teses opostas em seus mínimos detalhes e que, de fato, compreendeu o que está sendo demandado. As partes têm o direito de ver todos os seus argumentos enfrentados, o que no direito alemão [...] se denomina Recht

auf Berücksichtigung von Äußerungen, direito da parte-dever do juiz de não apenas

tomar conhecimento das razões apresentadas (Kenntnisnahmepflicht), como também o de considerá-las séria e detidamente (Erwägungspflicht).

Gonçalves (2017, p. 675), de sua vez, esclarece que o relatório “deverá conter os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo”, e que será feito pelo

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juiz antes de passar à exposição dos fundamentos e à decisão propriamente dita. Esse autor, ainda sobre o relatório, salienta que se trata “de exigência que visa assegurar que ele (o juiz) tenha tomado conhecimento do que há de relevante para o julgamento, de garantia do devido processo legal, que deverá ser observada, sob pena de nulidade” (2017, p. 675).

Nesse mesmo sentido, Donizetti (2018, p. 418) sustenta:

O relatório consiste numa exposição circunstanciada, um histórico de toda a marcha do procedimento. Constitui demonstração, por parte do juiz, de que entendeu a lide que lhe foi submetida. Deve identificar os elementos da causa (partes, pedido e causa de pedir), bem como as principais ocorrências do processo. Tudo de forma sucinta e objetiva.

Theodoro Júnior (2018, p. 1.077), em acréscimo, destaca que, ao confeccionar o relatório, o juiz deve lembrar que a decisão não poderá ser de natureza diversa da pretensão autoral e que, sem o relatório, não se pode “aquilatar se o juiz se deparou com todas as questões propostas, se as abordou adequada e suficientemente, nem se avaliou convincentemente todas as provas constantes dos autos”.

Posto isso, há analisar o que dispõe o artigo 489, inciso II, do Código de Processo Civil, e o que entende a doutrina especializada sobre os fundamentos das decisões judiciais.

2.2.2 Fundamentos

O tema fundamentos das decisões judiciais será tratado de forma mais aprofundada no terceiro capítulo desta pesquisa monográfica, que tem por objeto o tema dever de fundamentação no Direito Processual Civil brasileiro.

É necessário, não obstante, tecer alguns esclarecimentos prévios sobre o tema já neste momento da pesquisa, sobretudo considerando sua relevância e, a teor do artigo 489, inciso II, do Código de Processo Civil, que se trata de elemento essencial à existência das decisões judiciais.

Dito isso, sobre os fundamentos das decisões judiciais, de início, cabe destacar o que lecionam Braga, Didier Júnior e Oliveira:

A garantia da motivação das decisões judiciais possui natureza de direito fundamental do jurisdicionado. A próprio Constituição Federal, em seu art. 93, IX, estabelece que toda decisão judicial deve ser motiviada e, fugindo um pouco à sua linha, prescreve norma sancionadora, cominando pena de nulidade paras decisões desmotivadas (apud NERY JUNIOR, 2016, p. 357).

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Daí por que entendem que a motivação das decisões judiciais, que deve ser realizada durante a exposição dos fundamentos do juiz, tem dupla função, ora endoprocessual, permitindo às partes analisar de forma apurada a causa, ora exoprocessual, pela qual torna viável o controle dos pronunciamentos do juiz, “pela via difusa da democracia participativa, exercida pelo povo em cujo nome a sentença é pronunciada” (2016, p. 357). E mais:

Perceber essa dupla função da motivação é fundamental. Assim será mais fácil compreender porque a decisão judicial é um duplo discurso: um discurso para solução do caso, dirigido às partes, e um discurso para a formação do precedente, dirigido À coletividade [...] (apud MITIDIERO, 2016, p. 358).

Donizetti (2018, p. 418), que trata do tema de forma mais sucinta, esclarece que na “fundamentação ou motivação, o juiz expõe as razões do convencimento, os motivos pelos quais vai dirimir a lidade desta ou daquela forma”. Ressalta, em complemento, que “sentença sem motivação é, por preceito constitucional, nula” e que, para “explicitar o dever constitucional de fundamentação das decisões judiciais (art. 93, IX, da CF), o novo CPC enumerou as hipóteses em que não se atenderá tal dispositivo” (objeto do próximo capítulo).

Theodoro Júnior (2018, p. 1.078) acrescenta:

O relatório prepara o processo para o julgamento. Contudo, antes de declarar a vontade concreta da lei diante do caso dos autos, cumpre ao juiz motivar sua decisão. Daí a ncessidade de expor os fundamentos de fato e de direito que geraram sua convicção (NCPC, arts. 371 e 489, II).

Esse autor (apud MARQUES, 2018, p. 1.078), nessa acepção, entende que na segunda etapa da sentença o juiz, examinando questões fáticas e jurídicas, constrói as bases lógicas do provimento jurisdicional e da parte dispositiva da decisão. Trata-se, assim, de “operação delicada e complexa em que o juiz fixa as premissas da decisão” (THEDORO JÚNIOR apud MARQUES, 2018, p. 1.078), após analisar as alegações formuladas pelas partes e enquadrar o litígio nas normas legais aplicáveis ao caso concreto.

Streck (2016, p. 682), ademais, acentua que nos fundamentos das decisões o juiz deve analisar as questões de fato e direito e que esse elemento, outrora denominado motivação, caracteriza o dever de fundamentar, previsto no artigo 93, inciso IX, da Constituição da República Federativa do Brasil. Sobre fundamentação e apreciação de questões fáticas e jurídicas, o autor complementa:

[...] é impossível distinguir uma questão de fato de uma questão de direito, porque, quando vislumbramos o fato, ele já nos aparece juridicizado, uma vez que o direito é

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a condição de possibilidade do intérprete-juiz dizer o fenômeno. Se acreditássemos, efetivamente, na cisão entre fato e direito, teríamos que, fatalmente, crer que primeiro nos deparamos com os conceitos das coisas para, só depois, acoplarmos aos fatos brutos, desnudos. De todo modo, devem as partes exigir que haja uma descrição detalhada, porque até mesmo uma descrição de um fato já é, sempre, um modo de prescrição. Dito de outro modo: a descrição do fato, ao tempo em que reduz a termo as percepções de mundo do intérprete, submetendo suas convicções ao necessário constrangimento epistemológico, também nos remete a uma série de convocações, feitas para aproximar o texto da realidade descrita Streck (2016, p. 682).

A propósito, não custa destacar o que diz Lunardi acerca dos fundamentos das decisões judiciais:

Fundamentar é descrever os motivos da convicção, é apresentar todos os fatores que formaram o convencimento. A motivação das decisões judicial é um imperativo constitucional (art. 93, inc. IX, CF). No processo civil contemporâneo, a fundamentação é um fator de legitimação da atividade jurisdicional, pois o juiz se legitima ato a ato pelo seu argumento. Por tal razão, ainda que a decisão tenha um eminente caráter criativo, na fundamentação, os seus parâmetros devem ser o direito objetivo, pois é nisso que se funda a legitimidade judicial (2016, p. 507).

Tal como entendem Braga, Didier Júnior e Oliveira (apud NERY JUNIOR, 2016, p. 357), Lunardi concebe que a fundamentação tem funções endo e exoprocessuais. Isso porque, na devida ordem, permite que as partes saibam as razões que conduziram o julgamento e serve para o povo fiscalizar o poder decisório exercido pelo julgador (2016, p. 507).

Com isso em mente, passa-se a tratar da parte dispositiva das decisões judiciais.

2.2.3 Dispositivo

Como visto, o último elemento da sentença é o dispositivo, assim compreendido o momento no qual o juiz deve resolver as questões principais que as partes lhe submeterem, conforme disposição do artigo 489, inciso III, do Código de Processo Civil.

Nesse sentido, Gonçalves (2017, p. 677) esclarece que é a parte da decisão judicial em que se acolhe, rejeita o pedido ou se extingue o processo, sem examiná-lo. Em outras palavras, Gonçalves acentua que se trata da conclusão do silogismo judicial, istó é, do exame da pretensão deduzida pelo autor. No dispositivo, dessa maneira, o juiz decide se pode ou não apreciar a pretensão autoral e, em caso afirmativo, se há de ser acolhida ou não.

Em complemento, esse autor, acentua:

Todos os pedidos formulados na petição inicial (e na contestação, nos casos de ação dúplice ou na reconvenção) devem ser examinados pelo juiz, sob pena de a sentença ser citra petita. Se houver mais de uma ação, embora único o processo, a sentença,

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também única, deverá examinar todas as pretensões formuladas. É o que ocorrerá havendo reconvenção e denunciação da lide, por exemplo (2017, p. 677).

Donizetti (2018, p. 418), de sua vez, sustenta que no dispositivo “o juiz resolve as questões principais que as partes lhe submeteram, acolhendo ou rejeitando o pedido do autor na sentença definitiva, ou extinguindo o processo sem resolução do mérito, na sentença terminativa”. Em acréscimo, Donizetti destaca que a “ausência de dispositivo vicia de tal forma a sentença, que leva à inexistência do ato”.

Não diverge Lunardi quando afirma que “o dispositivo é a parte do provimento jurisdicional que contém o conteúdo decisório, o comando estatal. É a conclusão, o elemento nuclear de todo ato jurisdicional com conteúdo decisório”. E ainda, quando ressalta que o dispositivo é a parte da sentença em que opera a coisa julgada e que, tal como entende Donizetti (2018, p. 418), que sua falta é um vício de inexistência.

Ademais, sobre o dispositivo, salienta Streck:

O terceiro elemento é o lugar em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem. Parece evidente que o dispositivo não é tão somente a parte física final do texto sentencial. É certo que é o dispositivo que faz coisa julgada material. Mas isso abarca o pedido e a causa de pedir. Isso é o que se chama de coisa julgada (2016, p. 683).

Nesse contexto, esse autor (2016, p. 683) assevera que a parte dispositiva deve ser compreensível e detectável “a partir de todos os momentos da sentença em que o julgador deu solução às questões que integram a causa de pedir, seja da demanda do autor, seja da defesa do réu”. Com isso em mente, conclui dizendo que “o conceito de ‘dispositivo’ deve ser entendido substancialmente e não apenas formalisticamente”, eis que “ligado umbilicalmente à fundamentação, pela simples razão de que esta é condição de possibilidade para aquele”.

Vale ainda o destaque às lições de Theodoro Júnior:

Dispositivo ou conclusão é o fecho da sentença. Nele se contém a decisão da causa. Trata-se do “elemento substancial do julgado”, no dizer de Afonso Fraga. Sua falta acarreta mais do que a nulidade da decisão, pois “sentença sem dispositivo é ato inexistente – deixou de haver sentença”. No dispositivo, o juiz poderá, conforme o caso: anular o processo (falta de pressuposto processual), declarar sua extinção (variadas razões de direito material e processual), julgar o autor carecedor da ação (ilegitimidade ad causam), ou julgar o pedido procedente ou improcedente. O dispositivo, finalmente, pode ser: (i) direto, quando específica a prestação imposta ao vencido (ex.: pagar o réu a importância X ao autor); (ii) indireto, quando o juiz apenas se reporta ao pedido do autor para julgá-lo procedente ou improcedente (2018, p. 1.083).

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Isso posto, apreciados todos os elementos das decisões judiciais, neste momento passa-se a tratar de seus requisitos, suas particularidades e principais aspectos.

2.3 REQUISITOS

Para que seja válida, a decisão judicial deve ser congruente (BRAGA; DIDIER JÚNIOR; OLIVEIRA, 2016, p. 406). Nesse sentido, partindo da premissa de que a decisão judicial deve apreciar todos os pedidos formulados (inclusive os implícitos) e que apenas tais pedidos devem ser apreciados, é de se destacar o que dispõem os artigos 141 e 492 do Código de Processo Civil:

Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte. Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado (BRASIL, 2015).

Com isso posto, Braga, Didier Júnior e Oliveira (2016, p. 407) esclarecem que “a atividade cognitiva do juiz tem por escopo acumular fundamento suficiente para que ele possa resolver uma demanda que lhe foi dirigida”, quer seja de ordem principal, incidental ou recursal. Motivo pelo qual afirmam que a decisão judicial é essencialmente relacionada com a demanda que lhe deu causa, havendo entre elas um nexo de referibilidade.

Nesse contexto, esses autores sustentam que os artigos 141 e 492 do Código de Processo Civil estabelecem verdadeiro limite ao exercício da jurisdição, ao definir que, para ser valida, a decisão judicial deve ser congruente aos pedidos formulados pelo autor.

As lições de Donizetti (2018, p. 423), como se pode perceber, seguem no mesmo sentido, na medida em que esse autor acentua:

O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte (art. 141). Sendo assim, é vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado (art. 492). O limite da sentença é o pedido, com a sua fundamentação. É o que a doutrina denomina de princípio da adstrição, princípio da congruência ou da conformidade, que é desdobramento do princípio do dispositivo (art. 2º). O afastamento desse limite caracteriza as sentenças citra petita, ultra petita e extra

petita, o que constitui vícios e, portanto, acarreta a nulidade do ato decisório.

Gonçalves (2017, p. 680), ademais, assevera que a falta de correlação entre os pedidos e o que se decidiu torna a sentença viciada, registrando, assim, que o juiz “fica adstrito

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a julgar as pretensões postas em juízo, observados os fundamentos de fato indicados na inicial e respeitadas as partes”. Nessa acepção, arremata frisando que poderá haver nulidade se a sentença não mantiver tal correlação, podendo ser citra petita, ultra petita ou extra petita.

2.3.1 Sentença citra petita

Sentença citra petita, conforme lição de Donizetti (2018, p. 423) é “aquela que não examina em toda a sua amplitude o pedido formulado na inicial (com a sua fundamentação) ou a defesa do réu. Para melhor compreensão do tema, o autor expõe seguintes exemplos:

(1) o autor pediu indenização por danos emergentes e lucros cessantes. O juiz julgou procedente o pedido com relação aos danos emergentes, mas não fez qualquer referência aos lucros cessantes; (2) por meio de mandado de segurança, o funcionário pleiteou a nulidade do ato punitivo sob a alegação de que não cometeu a falta disciplinar e que não lhe foi dada oportunidade de defesa. O juiz denegou a segurança ao fundamento de que a análise da falta disciplinar envolve matéria fática insuscetível de discussão no âmbito da segurança, e não apreciou o segundo fundamento; (3) na ação reivindicatória, o réu se defende, arguindo prescrição aquisitiva. O juiz aprecia os fundamentos do pedido, mas se esquece da usucapião.

Lunardi (2016, p. 527), de sua vez, é mais sucinto quando afirma que citra petita a é sentença que não examina um dos pedidos dirigidos ao juiz. E que, nessa hipótese, a falta de apreciação de um dos pedidos inquina de nulidade a decisão.

Ademais, Streck e Delfino (2016, p. 694) acentuam que a falta de correlação entre pedido e decisão implica três tipos diversos de vícios, dentre os quais aquele que vicia a sentença citra (ou infra) petita, isto é, a sentença que deixa de apreciar o pedido ou um dos pedidos cumulados pela parte.

2.3.2 Sentença ultra petita

Braga, Didier Júnior e Oliveira (2016, p. 410), versando sobre a sentença ultra petita, sustentam que se trata de decisão em que se o “analisa o pedido da parte ou os fatos essenciais debatidos nos autos”, indo, no entanto, além deles, “concedendo um provimento ou um bem da vida não pleiteado, ou ainda analisando outros fatos, também essenciais, não postos pelas partes” (BRAGA; DIDIER JÚNIOR; OLIVEIRA, 2016, p. 410)

Sobre a sentença ultra petita, Gonçalves (2017, p. 681) assevera que consiste na decisão “em que o juiz julga a pretensão posta em juízo, mas condena o réu em quantidade superior ao pedido”, medida essa vedada pelo artigo 492 do Código de Processo Civil. Ainda

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