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Para que seja válida, a decisão judicial deve ser congruente (BRAGA; DIDIER JÚNIOR; OLIVEIRA, 2016, p. 406). Nesse sentido, partindo da premissa de que a decisão judicial deve apreciar todos os pedidos formulados (inclusive os implícitos) e que apenas tais pedidos devem ser apreciados, é de se destacar o que dispõem os artigos 141 e 492 do Código de Processo Civil:

Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte. Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado (BRASIL, 2015).

Com isso posto, Braga, Didier Júnior e Oliveira (2016, p. 407) esclarecem que “a atividade cognitiva do juiz tem por escopo acumular fundamento suficiente para que ele possa resolver uma demanda que lhe foi dirigida”, quer seja de ordem principal, incidental ou recursal. Motivo pelo qual afirmam que a decisão judicial é essencialmente relacionada com a demanda que lhe deu causa, havendo entre elas um nexo de referibilidade.

Nesse contexto, esses autores sustentam que os artigos 141 e 492 do Código de Processo Civil estabelecem verdadeiro limite ao exercício da jurisdição, ao definir que, para ser valida, a decisão judicial deve ser congruente aos pedidos formulados pelo autor.

As lições de Donizetti (2018, p. 423), como se pode perceber, seguem no mesmo sentido, na medida em que esse autor acentua:

O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte (art. 141). Sendo assim, é vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado (art. 492). O limite da sentença é o pedido, com a sua fundamentação. É o que a doutrina denomina de princípio da adstrição, princípio da congruência ou da conformidade, que é desdobramento do princípio do dispositivo (art. 2º). O afastamento desse limite caracteriza as sentenças citra petita, ultra petita e extra

petita, o que constitui vícios e, portanto, acarreta a nulidade do ato decisório.

Gonçalves (2017, p. 680), ademais, assevera que a falta de correlação entre os pedidos e o que se decidiu torna a sentença viciada, registrando, assim, que o juiz “fica adstrito

a julgar as pretensões postas em juízo, observados os fundamentos de fato indicados na inicial e respeitadas as partes”. Nessa acepção, arremata frisando que poderá haver nulidade se a sentença não mantiver tal correlação, podendo ser citra petita, ultra petita ou extra petita.

2.3.1 Sentença citra petita

Sentença citra petita, conforme lição de Donizetti (2018, p. 423) é “aquela que não examina em toda a sua amplitude o pedido formulado na inicial (com a sua fundamentação) ou a defesa do réu. Para melhor compreensão do tema, o autor expõe seguintes exemplos:

(1) o autor pediu indenização por danos emergentes e lucros cessantes. O juiz julgou procedente o pedido com relação aos danos emergentes, mas não fez qualquer referência aos lucros cessantes; (2) por meio de mandado de segurança, o funcionário pleiteou a nulidade do ato punitivo sob a alegação de que não cometeu a falta disciplinar e que não lhe foi dada oportunidade de defesa. O juiz denegou a segurança ao fundamento de que a análise da falta disciplinar envolve matéria fática insuscetível de discussão no âmbito da segurança, e não apreciou o segundo fundamento; (3) na ação reivindicatória, o réu se defende, arguindo prescrição aquisitiva. O juiz aprecia os fundamentos do pedido, mas se esquece da usucapião.

Lunardi (2016, p. 527), de sua vez, é mais sucinto quando afirma que citra petita a é sentença que não examina um dos pedidos dirigidos ao juiz. E que, nessa hipótese, a falta de apreciação de um dos pedidos inquina de nulidade a decisão.

Ademais, Streck e Delfino (2016, p. 694) acentuam que a falta de correlação entre pedido e decisão implica três tipos diversos de vícios, dentre os quais aquele que vicia a sentença citra (ou infra) petita, isto é, a sentença que deixa de apreciar o pedido ou um dos pedidos cumulados pela parte.

2.3.2 Sentença ultra petita

Braga, Didier Júnior e Oliveira (2016, p. 410), versando sobre a sentença ultra petita, sustentam que se trata de decisão em que se o “analisa o pedido da parte ou os fatos essenciais debatidos nos autos”, indo, no entanto, além deles, “concedendo um provimento ou um bem da vida não pleiteado, ou ainda analisando outros fatos, também essenciais, não postos pelas partes” (BRAGA; DIDIER JÚNIOR; OLIVEIRA, 2016, p. 410)

Sobre a sentença ultra petita, Gonçalves (2017, p. 681) assevera que consiste na decisão “em que o juiz julga a pretensão posta em juízo, mas condena o réu em quantidade superior ao pedido”, medida essa vedada pelo artigo 492 do Código de Processo Civil. Ainda

destaca que, nesse caso, o juiz profere sentença da mesma natureza do pedido e concede o objeto postulado. Contudo, o faz em quantidade superior; fato que, na hipótese de interposição de recurso, permite ao tribunal reduzir a condenação ao limite do que fora realmente pedido (2017, p. 681).

Nesse mesmo sentir, Donizetti (2018, p. 424) esclarece que na sentença ultra petita o juiz vai além do pedido formulado pelo autor, dando mais do que fora pedido. A sentença ultra petita, com isso em mente, pode ser reformada pelo tribunal, a fim de reduzir a condenação aos limites estabelecidos pelo pedido, em vez de ser declarada nula.

2.3.3 Sentença extra petita

Sobre as sentenças extra petita, Theodoro Júnior (2018, p. 1.099) leciona que tais decisões solucionam causa diversa da que proposta pelo autor. E, nesse sentido, que há julgamento para além do pedido quando o juiz defere prestação diversa da que postula o autor, ou quando defere prestação postulada, no entanto, com base em fundamentação de direito não suscitado como motivo da propositura da ação e, portanto, como causa do pedido.

Esse autor, em complemento, destaca:

É, ainda, extra petita, em face do art. 141, a sentença que acolhe, contra o pedido,

exceção não constante da defesa do demandado, salvo se a matéria for daquelas cujo

conhecimento de ofício pelo juiz seja autorizado por lei (exemplo: art. 485, § 3º). A propósito, é bom ressaltar que o Código de Processo Civil não faculta ao juiz apreciar, de ofício, as questões pertinentes às condições da ação e aos pressupostos, mas impõe- lhe, na verdade, o dever de assim proceder (art. 485, § 3º).

Donizetti (2018, p. 424), de sua vez, entende que a setença extra petita ocorre “quando a providência jurisdicional deferida é diversa da que foi postulada; quando o juiz defere a prestação pedida com base em fundamento não invocado; quando o juiz acolhe defesa não arguida pelo réu, a menos que haja previsão legal para o conhecimento de ofício”.

Braga, Didier Júnior e Oliveira (apud OLIVEIRA, 2016, p. 409), indo além, entendem que as sentenças extra petita violam os princípios do contraditório, a inafastabilidade do controle jurisdicional e o devido processo legal. Afinal, o juiz, nessas hipóteses, deixa de analisar algo que deveria ser apreciado e examina outra coisa em seu lugar.

Nesse contexto, concluem sustentando que a sentença extra petita difere da ultra petita porque nesta o juiz, ao apreciar o pedido ou fundamento de fato, vai além do que postula a parte; enquanto naquela (sentença extra petita) o juiz não analisa o pedido ou o fundamento invocado pela parte – apreciando, em verdade, pedido ou fundamento não suscitado.

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