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Como mencionado, para melhor compreender as disposições do § 1º do 489 do Código de Processo Civil, é válido o esclarecimento acerca da controlabilidade e racionalidade das decisões judiciais. É o que se pretende neste momento da pesquisa.

3.2.1 Controlabilidade

Os fundamentos das decisões judiciais, conforme lição de Câmara (2017, p. 245), podem ser entendidos como os elementos que permitem aferir a legitimidade constitucional e democrática dos pronunicamentos do juiz. O controle das decisões judiciais, na visão desse autor, é uma das características essenciais de um Estado Democrático de Direito e, por lógica, da democracia. Pela fundamentação, vale dizer, são viáveis dois tipos de controle:

(a) o controle forte, aquele exercido por órgãos superiores ao que tenha proferido a decisão, e que permite, através de mecanismos destinados a promover o reexame das decisões (como os recursos, a remessa necessária e as demandas autônomas deimpugnação), a cassação de decisões erradas; e (b) o controle fraco, isto é, o controle que não pode levar à cassação de atos, mas que, sendo exercido de forma difusa pela sociedade, permite que se debata acerca da correção das decisões judiciais, de modo a contribuir para a melhoria constante da qualidade dos pronunciamentos jurisdicionais (CÂMARA, 2017, p. 245).

Braga, Didier Júnior e Oliveira (2016, p. 359) não divergem quando afirmam que a fundamentação das decisões judiciais deve ser caracterizada por sua controlabilidade. Para tanto, salientam esses autores (2016, p. 361), a motivação dos pronunciamentos do juiz deve ser compreensível, pública e acessível, a fim de que seja passível de controle interno – realizado pelas partes, advogados e órgãos do Poder Judicário – e, sobretudo, de controle externo e difuso

– que diz respeito à opinião pública e que exige que os fundamentados sejam de compreensão geral (não se deve utilizar estritamente a linguagem técnico-jurídica).

Theodoro Júnior (2015, p. 117), nesse sentido, assevera que a motivação das decisões judiciais permite que os julgadores controlem o comportamento do juiz por meio dos mecanismos próprios do duplo grau de jurisdição. Esse autor, não custa destacar, sustenta que “a motivação vai além da garantia endoprocessual, em benefício das partes, funcionando como uma garantia política de existência e manutenção da própria jurisidição, no que diz respeito ao controle do seu exercício”.

Gonçalves (2017, p. 109), que trata do controle das decisões judiciais quando versa sobre o princípio da publicidade, acentua que a controlabilidade depende da publicização do pronunciamentos do juiz. De tal forma, a sociedade tem o direito de conhecer o teor das decisões judiciais, fiscalizando os juízes e tribunais.

Donizetti (2018, p. 34), adota o mesmo entendimento e também relaciona o controle das decisões judiciais à publicidade, a qual considera garantia jurídica do cidadão. Ainda versando sobre o tema, no entanto, ressalta que, além da observância do princípio da publicidade, os pronunciamentos do juiz devem ser fundamentados, com intuito de viabilizar seu controle pelos indivíduos que integram a sociedade.

Karam (apud THEODORO JÚNIOR et al, 2015, p. 244), indo além, salienta que o “controle das decisões judiciais, ao abarcar os problemas relativos à intepretação e aplicação do Direito, constitui o principal ponto de contato entre a hermenêutica e a jurisprudência”. No que diz respeito ao controle das decisões judiciais, esse autor enumera inovações apresentadas pelo Código de Processo Civil dentre as quais se pode destacar: (i) a concepção dinâmica do contraditório e proibição de decisão surpresa (artigo 10 do Código de Processo Civil), (ii) o julgamento dos processos deverá seguir o critério cronológio (artigo 12) e (iii) a uniformização da jurisprudência por meio de incidente de resolução de demandas repetitivas (artigo 976).

3.2.2 Racionalidade

Braga, Didier Júnior e Oliveira (2016, p. 359) sustentam que a motivação das decisões judiciais, para além da controlabilidade, também deve ser caracterizada por sua racionalidade. Sobre esse atributo, por oportuno, esclarecem esse autores:

No que diz respeito à racionalidade, pode-se dizer que se trata da exigência de que a fundamentação da decisão seja um discurso justificativo, que deve partir de cânones racionais comumente aceitos e reconhecidos no contexto da cultura média daquele

tempo e daquele lugar em que se atua [...] O que se espera é que atenda às regras de validade da argumentação e do raciocínio jurídico, bem como aos princípios racionais do conhecimento empírico – o que é típico do direito e se dá no estilo da ética e das ciências sociais.

A motivação racional, nessa acepção, pode ser entendida como “forma de controle do poder que é dado ao juiz de avaliar a prova, os fatos e os argumentos, forçando-o a explicar suas próprias escolhas” (BRAGA; DIDIER JÚNIOR; OLIVEIRA, 2016, p. 359). Tem como objetivo principal permitir o controle, inclusive racional, dessa justificativa, obstando a produção de discursos superficiais e vazios, aos quais se filia por emoção.

Kochem (2015, p. 5), seguindo mesma linha de raciocínio, pondera que “a racionalidade das decisões judiciais é entendida como a possibilidade de realizar uma recognição analítica da decisão”, reconhecendo as operações realizadas pelo intérprete e, considerando o método adotado para cada um dessas operação, verificando sua correção.

Daí por que, avalia esse autor, “a exigência constitucional de motivação das decisões judiciais deve ser lida como verdadeira exigência de fundamentação jurídica”, que se pode entender como o dever de “justificação racional da determinação dos fatos e da interpretação e aplicação da norma jurídica ao caso. Somente dessa forma a imputação de consequências jurídicas por meio do processo pode ser tida como não arbitrária”.

Com isso em mente, agora sim, passa-se à analise dos incisos do § 1º do artigo 489 do Código de Processo Civil e do que dispõem acerca do dever de fundamentação.

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