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6111ictcca / FE U$P 46385

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MARIA CECÍLIA RAIKEL DE GÓES ANA LUIZA BUSTAMAM'E SMOLKA(aRaS.)

A qlrlhTTnTri A rR A r\ NTrlq naDA /aria Er\TTr= A rHTflia A TC l x x\ z ,J v llvbJ LfLJlrl.\x-\.rLJ A.Jx/ /\ Jx\ \.rllJLILJ

INTERAÇAO SOCIAL E SUBJETl\AÇAO

COLEÇÃO

FORMAÇÃO E TmALHO PEDAGÓGICO MAGISTÉRIO

Esta coleçào que ora alwesentanlos üsa reunir o melhor dopensamen-to teóHco e cHtico sobre a formação do educador e sobre sal trabalho, acf)onda através da diwvsidade de oq)erüncias dos atltol'es qu.e acta partici-pam ttln leque de qtlestões de grande retwânciapara o debak nacionalsobre. aEdu.cação.

DEDALUS-Acervo-FE

Trabalhando apartar de duas Dementes básicas-- ntagblêd(Vjorma-ção p'ofissi(mal e magistéüo/trabalho pedagógico -- os uárbs autores en/ocam diferentes ângulos da problemática educacional, tais como: a

oHentação napré-escola, a escola de I' grau: cuwícu.lo e en.sino, a escola tto meio nirat, a práticapedagógica e o cotidiano da escola, estágio sti4)embto nado, didática do ensino superar etc.

20500063014

Espelantos assim contribuirpara a reflexão dos pro$nsionab da área de edl.tcação e dopúblico leitor em geral, testo que neste campo o qtiestiana-lnet'tto é oprim'Mropmso na direção da melboda da qualidade do ensino, o qm afeta a todos nós e aopaís.

llma P. Alencastro Meiga

Coordenadora P

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nEI)EGAARD, M. (1990) "The zona of proximal development as bases for instruction". /n: LC. Moll (org.), yygors&y a/zd educariam.

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ESBOço DE UMA PERSPECri\K TEORICO-METODOLÓGICA NO ESTUDO DE PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO

2

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À.na Luiza Bustamante Smotka+

Introdução V'iG(ytSKX, L.S. (\918à Mina in society-- The development ofhigher

psycÀo/ogíca/processos. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press. [Trad. brasileira: .A formação social da me/z-fe. São Paulo: Martins Fontes, 1984.]

Em nossos pr(fetos de pesquisa temos tematizado a questão da

construção do conhecimento numa perspectiva histórico-cu]tura], assu-mindo o pressuposto de que os processos psicológicos emergem relacio-nados aos modos de vida dos indivíduos em interação. Isso implica

assumir a natureza sociaVsemiótica da atividade mental, o que demanda a pmblematização de aspectos concementes aos processos de significação, à questão da linguagem e à constituição da subjetividade.

(1987) Proa/ems ofgenera/psycÀo/o©. The Collected

Works of LS. Vygotsky. Nova York: Plenum Press, v. l. WE:RISCA, l.v. (.1985) Vygotsky and the social formation of mind.

Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press. +

Universidade Estadual de Campinas; e-mai/: asmolka@turing.unicamp.br

Este trabalho contou com o auxílio da Fapesp -- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, e do Faep -- Fundo de Apoio à Pesquisa/Unicamp.

(3)

Com base no pressuposto explicitado destacamos como um dos

objetivos primordiais da 'nossa investigação identificar, analisar e

discutir a emergência

e o funcionamento

cognitivo/discursivo

em

crianças pré-escolares, procurando caracterizar, na trama dos proces'

sos enunciativos produzidos no contexto da instrução formal, as

relações sociais/textuais e as condições de produção que os consti-tueme

O aprofundamento das questões relacionadas aos processos de construção de conhecimentos, ao longo das nossas investigações, levou-nos à retomada e à reconsideração de conceitos e concepções que foram emergindo como fundamentais, nucleares, sobretudo no que concerne aos estudos de processos discursivos -- sujeito e lin-guagem. E, ao tematizarmos os processos discursivos, fomos desdo-brando outras indagações que passaram a exigir enfrentamento:.sobre a própria noção de sujeito; sobre os modos de geração, circulação e

distribuição de saberes e sentidos no espaço institucional; sobre o

pré-construído embutido na língua/linguagem, na(s) prática(s) coti-diana(s).

Tomando como pontos de partida e referência os construtos

teóricos de mediação semiótica (Vygotsky 1984; 1987) e.o princípio dialógico (Bakhtin 1981; 1984) -- construtos que trazem imbricadas, consistente e inextricavelmente, duas noções fundamentais: a produ-ção do signo e a participaprodu-ção do.outro ., procujlamos expandir e discutir as possibilidades e a pertinência de trabalharmos, teõnca e metodologicamente, articulando aspectos da análise etnográfica (Ez paleta e Rockwel1 1986; Erickson 1984), da análise microgenética

(Wertsch e Hickmann 1987), perspectivas .de .teorias. da enunciação (Bakhtin 1981), e questionamentos a partir da análise do discurso (Pêcheux 1988, 1990; Orlandi 1987), com.o objetivo .decontribuir para a consideração e o dimensionamento do Zoctzs da linguagem na psicologia do desenvolvimento humano.

Dada a importância que o signo adquire nas construções teóri

cas de Vygotsky e Bakhtin e, em especial, o lugar privilegiado da

palavra/verbo na constituição da atividade mental -- necessariamente

partilhada, social -- escolhemos focalizar o discurso como .objeto e lugar'de investigação dos processos de elaboração de conhecimentos. Assim, ao nos perguntar sobre os modos de elaboração de conheci-mentos e os modos de produção de sentidos num contexto institucio-nal específico, de instrução formal, buscamos compreender como se configuram e se instauram, no e pelo discurso, sujeitos e objetos .de

conhecimento. No trabalho com o material empírico procuramos

identificar, então, indícios da diversidade de configurações de objetos

de conhecimento, da dinâmica de constituição de sujeitos e da multi-plicidade de produção de sentidos na dinâmica interativa (Smolka ef

«/. 1994).

Nos estudos das relações discurso/sujeito vimos como é neces-sário distinguir e destacar algumas concepções diferenciadas de "enunciação", características de tendências atuais que marcam as

diversas "análises do discurso" (Maingueneau 1986): concepções

relacionadas aos trabalhos de inspiração pragmática, que se referem

ao sujeito psicológico dos aros de fala, provido de intenções como

sujeito falante (Austin 1970); concepções que relacionam a instância enunciativa à constituição da subjetividade (Benveniste 1976);

con-cepções que destacam a constituição de sujeitos numa relação de

intersubjetividade, em condições sociais específicas (Bakhtin 1981, 1984); concepções marcadas pela Análise do Discurso (AD) francesa, que formula as "instâncias de enunciação" com base em formações discursivas (Foucault 1986), em termos de posições sociais e lugares enunciativos a serem ocupados por sqeitos interpelados como tais (Althusser 1983; Pêcheux 1988).

Nessa discussão víamos como crucial a questão do sujeito:

num pólo, sua autonomia na e/ou pela linguagem; no outro, seu

assujeitamento às condições de produção e às determinações do dis-curso. Para nós, coloca-se então a tarefa de trabalhar conceitualmen-te, epistemologicamenconceitualmen-te, as noções de sujeito, de subjetividade, de

intersubjetividade... Permanece o problema de conceituar o

movi-mento de desindividualização do sentido relacionado ao processo de singularização do sujeito.

(4)

E nessa linha de indagações que desenvolvemos aqui nossa reflexão. Iniciamos por uma discussão do caráter difuso do concei-to/concepção de sujeito, pontuando aspectos da configuração históri-co-culturaldessa concepção.

Subjacente, a idéia de homem como valor, ser moral, ser livre,

independente, autónomo. E, no entanto, não uno ou uniforme. mas

apresentado em uma miríade de aspectos, nuanças, formulações: o "eu" conturbado e enigmático de Montaigne; o "eu" pensante, trans-parente, de Descartes; o homem bom e livre, de Rousseau; o suj.eito transcendental de Kant; o indivíduo extremadamente cristão de

Kier-kegaard...

Concepções de sujeito: Apontamentos

A que/quem nos referimos quando falamos (do) sujeito, então? Merleau-Ponty comenta que os filósofos construíram a noção de subjetividade e que, "uma vez introduzido em filosofia, o pensamento do subjetivo não mais se deixa ignorar..." Aquilo que é tomado como "verdadeiro, por mais construído que seja, torna-se tão sólido quanto

um fato, e o pensamento do subjetivo é um desses sólidos que a filosofia deverá digerir" (1989, p. 180). Nesse sentido, a "descoberta

da subjetividade" está intrinsecamente relacionada a um processo de

conhecimento, a um modo de conhecer, à elaboração histórica da

consciência. Na história das concepções de sujeito, então, "não só o

indivíduo, mas a própria categoria da individualidade é um produto

da sociedade" (Adorno-Horkheimer, apzzd Canevacci 1987, p. 8). Começamos por afirmar que a concepção de "sujeito" não é

única nem homogênea. São diversas as idéias e noções que compõem concepções mais ou menos explícitas de "sujeito", as quais permetam atualmente as várias ciências (tanto humanas quanto exatas e

biológi-cas...), e estão, de uma forma ou de outra, implicadas no senso

comum, nas práticas cotidianas.

Canevacci(]-987), ao editar e apresentar a coletânea de textos

que compõem o volume l)iaZéflca do 1lzdívíauo, comenta que o desen-volvimento histórico-cultural da humanidade apresenta-se como um contraditório processo de individualização- Numa breve análise das relações de produção, da relação dos homens com a propriedade, do desenvolvimento das sociedades urbanas, dos movimentos de exclu-são, ele vai esboçando a emergência das individualidades autónomas:

Nesse movimento de produção, profundamente enraizado nas condições concretas de vida e de trocas materiais e simbólicas, o homem "singular", mas ao mesmo tempo "universal" e generalizado,

vai sendo conceituado e referido de diferentes maneiras, sendo que os

próprios modos de referir vão exigindo especificações: grosso modo, a concepção de "indivíduos' refere-se principalmente à esfera

:psico-lógico-sensitiva; a de "sujeito" abrange,. em geral, .categorias

trans-cendentais do ser e do conhecimento, categorias lógicas ou

ético-políticas; a de "pessoa" aparece relacionada ao sujeito jurídico, titular de direitos (Canevacci 1987). E podemos falar ainda em "ego" -- consciência de si; em se/H caracterizado pelo humanismo norte-americano...

Instaura-se uma dialética entre a autoconsciência do indivíduo e a autoconsciência social, que pemiite ao indivíduo tomar consciência de si tão-somente em relação a um outro indivíduo... (1987, P 9)

Na dinâmica transformação histórico-cultural, algumas

condi-ções "não só deram ao indivíduo a tarefa de.sua construção,.mas fizeram surgir o sujeito como sujeito individual" (Celas 1993, p. 178)-E somente a partir do Renascimento que o termo indivíduo assume o significado de homem singular que

E na passagem do século XIX para o século XX que se produz um questionamento radical sobre o "sujeito". Na base desse questio-namento, as idéias de Marx, Nietzsche e Freud, deslocando,

descon-certando, problematizando o "sujeito" como "senhor de si" para se diferencia dos interesses e das metas alheias, faz-se substância em

si mesmo, instaura como nomla sua própria autoconservação e seu próprio desenvolvimento. (Canevacci 1987, p 9)

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informação, bem como tendências que integram pressupostos e

pro-cedimentos de caráter antropológico, interacionista ou ecológico,

acabam por configurar uma forte reação ao marco estritamente empi-ricista-condutista (que desloca ou apaga componentes de subjetivida-de como personalidasubjetivida-de, consciência etc.).

Considerando que temos privilegiado em nossos estudos os proces-sos de construção de conhecimento, vamos nos restringir ao escopo da psicologia cognitiva, que circunscreve e tematiza essa questão.

Concepções de sujeito no escapo da psicologia:

A colzfrüulção de T5'gofsXy

Riviêre (1987) é um dos poucos autores que, recentemente, têm problematizado a questão do sujeito no âmbito da psicologia, numa abordagem crítica que discute, de maneira interessante, posições, contribuições e limites de teorias cognitivistas como as de Fodor, Chomsky, Piaget e Vygotsky. No contexto desses trabalhos, não se trata tanto (ou mais) de examinar ou estabelecer relações entre

even-tos e condutas externas dos indivíduos, ou desses eveneven-tos e condutas

com processos fisiológicos subjacentes a funções mentaisi trata-se, sim, de enfocar estruturas e processos mentais, e de privilegiar

ope-rações ou esquemas do sujeito individual na explicação do

conheci-mento. Busca-se regularidades nas formas de organização "interna", na arquitetura e na competência funcionais do sujeito, que emerge e se configura como "cognitivo"

ças significativas.

Com base em autores como Levine, Bruner e Piaget, procuran-do caracterizar o sujeito cognitivo -- que realiza operações lógicas e processa informação; constrói conceitos claros mediante estratégias ativas de formação e comprovação de hipóteses, cuja evolução se poderia descrever em termos de estruturas cada vez mais poderosas e

reversíveis --, Riviêre comenta que

q

esse sujeito tem .se transformado tanto que resulta praticamente

irreconhecível -. A medida que os estudos se expandem, o sujeito da psicologia cognitiva tem se tornado menos lógico, mais difícil de formalizar, talvez mais imprevisível e mais divertido também.(1987, P 28)

Ou seja, na busca de construir modelos da arquitetura funcional -- fixa ou móvel; de caráter mais formal ou mais racionalista;

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apoia-do numa lógica imanente, inatista ou construtivista, que implica ou

não uma consciência --, na tentativa de elaborar esquemas explicati-vos cada vez mais gerais, que dêem conta do sujeito do conhecimento e de suas ações, sobra sempre algo que desregula, que não se conse-gue formalizar. A psicologia tem sistematicamente ignorado e

descar-tado aquilo que desregula e, nisso, acaba . também.eliminando .do

escopo de suas análises o que destaca, distingue e constitui(os modos

de agir e pensar do) o homem: a linguagem, a cultura.

Aqui se encontra a contribuição específica de Vygotsky,. que nos fala do homem produzido nas relações sociais, situado histórica e culturalmente, definido pela emergência do signo e por uma consciên-cia que se caracteriza pela natureza semiótica, forjada necessariamen-te na e pela linguagem.

O "sujeito" (cognitivo) de que nos fala Vygotsky é eminente-mente semiótica, cultural, constituído nas relações com os outros. E se Vygotsky se preocupa sobretudo com a questão do controle e da vontade -- que configura o sujeito uno, homogêneo (poderoso e tão criticado) da psicologia --, ele aponta para a diversidade e a incom-pletude desse sujeito numa construção sul generls que. implica a linguagem. O "sqeito" na perspectiva de Vygotsky só pode ser com-preendido na sua relação com o signo e, mais especificamente, com a linguagem. Para compreender alguns aspectos da constituição desse

"sujeito", vale comentar brevemente a concepção de linguagem na

proposta vygotskiana.

.assim como a interação social é impossível sem o signo, é também impossíve] sem o significado... A interação social pressupõe a gene-ralização e o desenvolvimento do significado verbal; a genegene-ralização torna-se possível somente com o desenvolvimento da interação so-cial. (Vygotsky 1987, p. 48)

Do nosso ponto de vista, as elaborações de Vygotsky vão além

da questão instrumental. Anunciam outras possibilidades de conceber

a linguagem, o que traz para o centro das discussões a questão do seu caráter constitutivo. O caráter constitutivo da palavra vai adquirindo relevância para Vygotsky e é problematizado no último capítulo de Pe/zsamen/o e /i/zguagem, quando ele explora as ralações entre pensa-mento e linguagem e indaga, por exemplo: "0 que distingue a palavra de outros objetos? Como a palavra representa os objetos na consciên-cia? O que faz da palavra uma palavra?" (Vygotsky 1987, p. 24'7).

Perguntamos, então: O que diferencia a linguagem de outros

instrumentos? O que diferencia a linguagem de outras ações? E ainda:

Encontramos resposta para isso no próprio Vygotsky ou temos de sair

do escapo de seus trabalhos para elaborar soluções (ou outras

propo-sições)? O. que significa ou em que consiste o caráter "constitutivo"

da linguagem?

Se os pressupostos de natureza marxista sustentam a

proposi-ção da linguagem como instrumento, especial destaque deve ser

atribuído ao:'processo de significação, ou seja, ao processo de produ-ção de signos e sentidos, com base mesmo no movimento dialético produção/produto. Parece ser esse movimento dialético de produção de significação que, incluindo o aspecto instrumental, possibilita

transcenda-lo. Se a noção de instrumento aparece como fundamental,

ela não é de modo algum suficiente para dar conta da complexidade, da dinamicidade e das peculiaridades da linguagem.

Linguagem e sujeito: Algumas considera çõee

Estudos que assumem a perspectiva histórico-cultural e consi-deram o papel do signo/palavra na constituição do funcionamento mental, geralmente, derivam das formulações de Vygotsky da

concep-ção de linguagem como instrumento. No manuscrito de 1929, Vygotsky problematiza o .17omo

.Dtz-pZex, aquele que tem a possibilidade de se desdobrar

pelo signo

(eu/mim, eu/outro) e, pela linguagem, controlar e ser controlado,

experienciando o drama das relações interpessoais; busca compreen-der o funcionamento do signo na atividade mental, na formação do que ele chama "personalidade", e pergunta:

Nos desdobramentos dessas formulações, no entanto, temos

visto que essa forma de conceber a linguagem -- como instrumento -- corre o risco de negligenciar o aspecto constitutivo, que transpare' ce em afirmações de Vygotsky tais como:

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O que é o homem? Para Hege], e]e é um sujeito lógico. Para Pavlov, é um soma, um organismo. Para nós, o homem é uma pessoa social = um agregado de relações sociais, corporificado num indivíduo. (Vygotsky 1989, p. 66)

As discussões sobre concepções de sujeito e linguagem aborda-das anteriormente trazem embutiaborda-das importantes questões metodoló-gicas, relacionadas às possibilidades de investigação dos processos de elaboração do conhecimento. Assumir teoricamente essa condição do

homem, que contraditoriamente se constitui/é constituído sujeito

na/pela linguagem, e somente pela linguagem conhece o mundo e se (re)conhece, tem implicações que merecem consideração especial. Para o homem, pessoa social, "é impossível relacionar-se

direta-mente consigo mesmo. Indiretadireta-mente é possível"(Ibid). Esse "indireta-mente" pressupõe o signo, o outro, a dimensão social. Suas concepçoes das relações signo/palavra/pessoa(ele não usa o termo "sujeito")

aproximam-se da uma visão benvenistiana(Benveniste 1976) -- a linguagem possibi-lita e instaura a subjetividade, a reflexividade.

Retomando e resumindo as colocações poderíamos perguntar: Como se coadunam ou podem se coadunar concepções diferenciadas de sujeito, ou seja, uma concepção (em psicologia, em lingüística, por exemplo) que remete ao indivíduo em sua unicidade, em seu domínio e em sua autonomia, dono de seu pensar, de seu agir, de seu dizer, e uma concepção (na análise de discurso, na psicanálise, por exemplo)

que desaloja esse sujeito individual e instaura uma outra forma de

pensar o sujeito -- como lugar teórico, como função -- inescapavel-mente submetido ao inconsciente, à linguagem, à ideologia? É

possí-vel trabalhar teoricamente na articulação dessas contribuições

teóricas? Como pensar, pois, as relações

discurso/sujeito/conheci-mento no imbricadiscurso/sujeito/conheci-mento dessas concepções?

Podemos depreender daí uma concepção de homem não como (sujeito) uno, mas (pelo menos) duplo, na luta/tensão constante --social, mental -- entre autonomia/submissão; homem capaz de, expe-rienciando e condensando diversas posições/papéis sociais, controlar

(o outro, a si próprio) e resistir. Nessa concepção, o homem não é

simplesmente produto das circunstâncias, mas (agente que) transfor-ma as circunstâncias e se transfortransfor-ma (se produz) nessa atividade.

Hoje, de maneira talvez mais pertinente, dizemos que o homem

produz.linguagem e se produz simultaneamente na/pela linguagem.

Nesse trabalho social e simbólico de produção de signos e sentidosca linguagem não é só meio e modo de (inter/opor)ação, é também produto histórico, objetivado; é constitutiva/constituidora do homem como sujeito da e na linguagem (Smolka, no prelo).

Se a idéia de um sujeito autónomo e dono de si, origem de seu

dizer e de seu saber, torna-se cada vez menos sustentável, a negação radical da idéia de(sse) sujeito leva a uma ontologização das estrutu-ras (sociais, lingüísticas), que acabam aparecendo como realidades

autónomas.

Processos discursivos: Ideologia, conhecimento, subjetividade

Para nós, o importante é pensar o movimento dinâmico de

constituição que envolve e faz emergir sujeito/discurso/conhecimen-to/sentido, o que implica considerar a dimensão histórico-cultural

--que tem lugar somente no terreno interindividual -- e indagar sobre

suas condições de produção.

O estudo de processos de construção do conhecimento no

con-texto institucional de educação formal levou-nos a privilegiar os

processos discursivos e remeteu-nos, particularmente, a indagações

sobre ideologia e subjetividade: sobre ideologia, na medida em que lidamos com idéias, noções, concepções produzidas e trabalhadas na dinâmica histórico-cultural, que supõe necessariamente a linguagem;

sobre subjetividade, porque lidamos com relações de ensino que

circunscrevem e promovem sujeitos individuais, que falam, pensam, agem, aprendem, conhecem, optam, decidem, resistem...

Para efeitos de problematização, tomamos como base empíri-ca um material gravado em vídeo em sala de aula, destaempíri-cando uma instância de interlocução registrada quando de uma atividade cole-tiva conduzida pela professora na pré-escola. Vários aspectos dessa

mesma instância foram analisados anteriormente (Smolka ef aZ.

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objetos de conhecimento e a composição dinâmica de "sujeitos" e "outros" no jogo de imagens, posições e referências. Agora, conti-nuamos a explorar múltiplas possibilidades de análise, buscando articular as dimensões pragmática e ideológica na interpretação do acontecimento discursivo. Vamos nos deter em um fragmento da

dinâmica interlocutiva que propicia, de maneira exemplar, uma

discussão sobre as questões aqui tematizadas -- linguagem/sujeito, ideologia/subjetividade.

outros: Felipe não é Fernando, não é Carlos, não é Paulo, não é Joana, não é Poliana... E importante que ele (e cada um), como "sujeito", saiba (aprenda a) colocar-se, definir, conceituar. Seu «dizer" é tomado como indicador de sua capacidade, de seu aprendizado, de seu conho. cimento.

O trabalho pedagógico se delineia, assim, na direção da

indivi-dualização, e aparece com uma intencionalidade ideologicamente configurada. PedagogiFamente, trabalha-se conhecimentos, concei-tuações e valores histórica e coletivamente produzidos. Mas se o conceito de mentira é colocado em evidência e discussão, o que dizem ou podem dizer os sujeitos, individualmente, nessa situação? Quais

são as condições de possibilidade do dizer ou como o dizer de

professora e alunos se inscreve no ou se distinguem do historicamente estabilizado, "já dito"?

E 31 de março, véspera de lg de abril, dia da mentira. Profes-sora e crianças estão sentadas no chão, em roda, e conversam sobre a mentira, a partir de uma manchete de jornal. Recorda-mos para análise a seguinte seqüência=

7 8 9

Prosa: Agora, ezl voei perFIz/z/ar pra cada um, os outros escutam. Eu queria saber do Felipe o que é uma mentira. Feh: ... é que tem uma piscina, o outro fala que num tem-. Pior'\ Ah! Qualtdo você lata que tem uma piscina, o outro diz que você não tem? Quem está mentindo, você ou o

Fera: O ozifro/

Prof': O outro? Por qüe? Você [em uma piscina!? Feli: (balança afirmativamente a cabeça)

Prof': Você alguma vez falou alguma merltira ?

Feli: (balança negativamente a cabeça) Prosa: .Nunca ?

Feli: (balança negativamente a cabeça)

?lo'P: Ué, aqui no jornal tá escrito que todo mundo já men,tiu!

Crianças reagem: Ezi /zão/ E /zão/ Eu /zão/

No encaminhamento de questões como essas, é interessante

explorar, nos turnos 17/18, a intrincada relação sqeito/discurso/co-nhecimento. Diante do lugar de autoridade da professora, de sua

menção/remissão

a uma voz de autoridade

inscrita na escrita do

jornal, e da afirmação

de que "todo mundo já mentiu", as crianças

reagem, enunciando enfaticamente "eu não" 10 11 12 13 14 15. 16. 17. 18.

Uma primeira apmximação pode ser inicialmente delineada com base em um comentário de Ducrot sobre l)a szzbyer/vldade na

/ingzzagem, de Benveniste:

O que é digno de observação no pronome "eu" não é somente o fato de constituir ele um meio abreviado para falar da gente mesmo; é sobretudo o fato de que obriga aquele que faia a designar-se com a mesma palavra que seu interlocutor também utilizará para designar a si mesmo. O emprego do "eu" constitui, portanto, um aprendizado e um exercício constante da reciproç.idade... E isso que Benveniste resume quando diz que os pronomes pessoais marcam, no interior da própria língua, a presença da intersubjetividade. (1983, p. ll) Começamos por destacar o modo de enunciar da professora

(turno 7), que instaura e conduz, de determinada maneira, o processo

de interlocução. Aqui podemos identificar, no espaço institucional,

um modo de operar da ideologia. Nessa interlocução, "a voz de cada um" aparece como valor: é importante que cada um diga o que pensa,

o que circunscreve e realça a noção de sujeito individual, distinto dos

Mas não é só isso que se apresenta para análise no contexto de nossas discussões.'.S» Q dizer "eu" já traz inscrita a intersubjetividade (ponto, aliás, criticável em Benveniste, dada a autonomia atribuída ao

(9)

sujeito na linguagem), podemos apontar que as crianças não só enun-ciam "eu", sendo capazes, ao mesmo tempo, de auto-referência e de reciprocidade, mas aparecem como núcleos de resistência explícita:

"eu não" (minto) demarca um espaço simbólico e configura um

sujeito que explicitamente se opõe a outros; além disso, "eu não" traz

implícito como pré-construído o conhecimento de uma norma não

enunciada no momento, mas contida e afirmada na possibilidade

mesma de sua contestação.

específicos na constituição da subjetividade relevam, de maneira consistente, a polifonia. Isso merece ser ainda mais bem explorado.

As discussões e análises aqui apresentadas configuram e procu-ram esclarecer alguns pontos de referência que têm sustentado nossas incursões teórico-metodológicas na investigação dos processos de construção do conhecimento. Várias indagações persistem, novas questões se colocam e muitas são ainda as possibilidades de desdo-bramentos concernentes à problematização e à formulação de aspec-tos aparentemente contraditórios, mas intrinsecamente constitutivos. como a autonomia do sujeito e o pré-construído na língua/linguagem,

modos de operar da ideologia e constituição da subjetividade no

espaço institucional. O enfrentamento dessas questões nos parece crucial para a compreensão da constituição social do conhecimento a partir de uma perspectiva histórico-cultural.

Essa resistência explícita delineia o caráter dramático da enun-ciação: ó próprio movimento de circunscrição e resistência do.sujeito, na/pela linguagem,.insere-se no "conjunto de regras anónimas" (Fou-cault 1986), deixando ecoar uma voz generalizada, normativa, estabi-lizada. Ou seja, ao pretender se distinguir, na sua individualidade, de "todo mundo (que) já mentiu", as crianças se indistinguém, na medida em que reiteram, quase que em uníssono, uma mesma voz que pres' creve e homogeniza normas de conduta na cultura, e que diz que não se deve mentir. l.Jm modo de preservação, de manutenção -- do

sujeito e da norma -- diante da (possibilidade de) transgressão;

movimento de tensão e interconstituição ideologia/subjetividade.

Bibliografia

A voz forte, disseminada e dominante, que catalisa e se inscre-ve no dizer das crianças, caracteriza a polifonia -- conceitualizada por Bakhtin (1981, 1984) e especificada por Ducrot (1984) -- como um construto de base. No encontro de vozes, na gestão dos saberes, os ecos de pré-construídos, produzindo múltiplos efeitos, múltiplos

sentidos: B4E ÇRunciações "eu não", diversos posicionamentos das criançpsu.Ê.ainda muitas possibilidades de "verdades" ou "mentiras"

(que podem ser interpretadas como ates, como fatos, como efeitos

discursivos).

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Essa análise da dinâmica discursiva indica o caráter polissêmi-co, mii destaca, fundamentalmente, o caráter polifónico na constitui-ção do saber, na elaboraconstitui-ção do conhecimento. Vale ressaltar que se,

em vários de nossos trabalhos anteriores, a ênfase nas análises foi

colocada na produção de sentidos, o que apontava sistematicamente para a polissemia no discurso, a. problematização e o enfoque mais

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Referências

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