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A Guarda Municipal de Rio das Ostras/RJ e os desafios das questões de gênero

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OSTRAS DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

FRANCISCA CRISTINA ZACHARSKI DA SILVA SANTOS

A GUARDA MUNICIPAL DE RIO DAS OSTRAS/RJ E OS DESAFIOS DAS QUESTÕES DE GÊNERO

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OSTRAS DEPARTAMENTO INTERDISCIPLINAR DE RIO DAS OSTRAS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

FRANCISCA CRISTINA ZACHARSKI DA SILVA SANTOS

A GUARDA MUNICIPAL DE RIO DAS OSTRAS/RJ E OS DESAFIOS DAS QUESTÕES DE GÊNERO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense – Polo Universitário de Rio das Ostras. Orientador: Prof. Wanderson Fábio de Melo

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A GUARDA MUNICIPAL DE RIO DAS OSTRAS/RJ E OS DESAFIOS DAS QUESTÕES DE GÊNERO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado e aprovado como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense

Polo Universitário de Rio das Ostras.

Monografia aprovada em ____/____/____

Banca Examinadora

____________________________________ Prof. Dr. Wanderson Fábio de Melo

Orientador

Universidade Federal Fluminense

____________________________________ Profª. Dr. Bruno Ferreira Teixeira

Examinador

Universidade Federal Fluminense

____________________________________ Assistente Social

Aline da Silva Praxedes Vieira Consoli Lima Cress 16218

Examinadora

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e é por isso que eu preciso ser, à força e a esmo, inabalável.” Augusto Branco

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Primeiramente agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade de concluir com êxito a minha formação acadêmica, não permitindo que eu desistisse nos momentos mais difíceis, de desanimo e me fortificando para seguir em frente.

As pessoas especiais de minha vida, meu esposo e meu filho me apoiando sempre com paciência nas situações tensas, passando confiança e carinho. Obrigado por tudo.

Nesta trajetória acadêmica, a vida agregou novas amigas irmãs, que ficarão eternizadas em meu coração, sempre unidas se ajudando mutuamente, como nos trabalhos acadêmicos, estudando para as avaliações, trocando conhecimento, vínculos de amizade fortalecidos para sempre.

A um amigo especial Luís Augusto Morgado e sua família pela confraternização que realizou para mim no início da minha trajetória acadêmica, com palavras de incentivo e carinho. Meu muito obrigada.

Aos meus pais "in memorian" (Manoel e Zofia) sou muito grata pela educação e pelos valores que me proporcionaram ao longo de minha vida. Agradeço pelo esforço e determinação que fizeram para o meu crescimento como ser humano, pelos ensinamentos e pela minha instrução.

Meu muito obrigada especial a minha supervisora de estágio, Aline da Silva Praxedes Vieira Consoli Lima, a qual sou muito grata pelos ensinamentos transmitidos. Pela sua acolhida no primeiro dia de estágio, o qual jamais esquecerei.

A instituição Centro de Referência de Assistência Social Central de Rio das Ostras, agradeço por permitir a minha admissão como estagiária a fim de concluir o meu estágio curricular da formação acadêmica do curso de Serviço Social.

A posteriori agradeço a Leila Nacif da Guarda Municipal de Rio das Ostras pelo seu gentil acolhimento para comigo. Sempre disponível aos meus questionamentos e cooperando para a realização do meu trabalho de conclusão de curso de Serviço Social.

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pelos conhecimentos transmitidos me capacitando para formação profissional. Ao Professor Wanderson Fábio de Melo, meu orientador de TCC I e TCC II agradeço por sua orientação e paciência.

Finalmente aos componentes da banca examinadora que contribuíram em prol da concretização da minha formação.

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INTRODUÇÃO...10

1 – GÊNERO, HISTÓRIA DA MULHER E SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO E O FEMINISMO...12

1.2 – HISTÓRIA DAS MULHERES...20

1.2.1 – A MULHER E SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO...25

1.3 - FEMINISMO...28

2 – RIO DAS OSTRAS: SUA FORMAÇÃO E OS IMPACTOS NAS RELAÇÕES DE GÊNERO...35

2.1 – RIO DAS OSTRAS E A RELAÇÃO CIDADE MERCADORIA...35

2.2 – VIOLÊNCIA NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS...43

2.3 – GUARDA MUNICIPAL PARA A PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO...47

3 – A QUESTÃO DE GÊNERO NA GUARDA MUNICIPAL...51

CONCLUSÃO...55

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O objetivo deste trabalho é analisar as relações de gênero, a partir da contextualização histórica da mulher e sua relação com o trabalho, em diferentes contextos históricos, o feminismo até a contemporaneidade. O estudo se realizará na Guarda Municipal de Rio das Ostras, sendo desenvolvida com intuito de analisar aspectos da relação de gênero inseridos na corporação, estratégia importante para mapear a ocorrência desses fatos e os rebatimentos na vida dessas mulheres. Deste modo esta reflexão e de suma importância para os questionamentos referentes a relação de gênero (construção da mulher como sujeito histórico), demostrando em que grau isso ocorre na sociedade atual.

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The objective of this study is to analyze gender relations, from the historical background of women and their relationship to work in different historical contexts, from feminism to contemporary. The study will take place at Rio das Ostras Municipal Guard, being developed in order to analyze aspects of gender relations inserted in the corporation, an important strategy to map the occurrence of these events and the repercussions on the lives of these women. Thus the discussion and of paramount importance to the questions regarding gender ratio (woman building as a historical subject), showing what extent this occurs in today's society with greater social visibility.

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INTRODUÇÃO

Muito se tem discutido recentemente acerca de gênero, o meu interesse pelo tema surgiu ao longo de minha trajetória acadêmica no curso de Serviço Social, mas precisamente na disciplina de “Família, Relações de Gênero e Questão” Social”, quando foi discutido o trabalho feminino e a questão de gênero.

O tema do presente TCC é a Questão de Gênero na Guarda Municipal de Rio das Ostras. A pesquisa de desdobrou sobre a historicidade das relações de gênero, a relação de gênero numa cidade mercadoria e a segurança pública e a Guarda Municipal de Rio das Ostras.

A problemática esteve articulada com as peguntas: Como se processou as relações de gênero na história? Em que medida a questão de gênero aparece na cidade mercadoria na especificidade de Rio das Ostras? Como as guardas municipais vêem a questão de gênero no interior da hierarquia?

Como referências utilizou-se acerca da questão de gênero as reflexões da autora Joan Scott, que compreende a questão de gênero formada na relação social e historicamente, portanto, não restrito ao viés biológico, mas no processo sócio-histórico. Sobre o papel da mulher na história e a divisão sexual do trabalho constituída socialmente, reconheceu-se a reflexão de Helien Saffioti. Acerca do estudos da questão urbana utilizou-se o conceito de cidade mercadoria, conforme Carlos Vainer, bem como nos debruçamos e apanhar a especificidade do processo constituído em Rio das Ostras. Essas conceituações ajudaram na contextualização para a compreensão de um modo de segurança e as implicações na questão de gênero numa instituição de segurança pública e em um município da baixada litorânea.

Como materiais de análise, utilizou-se as considerações das respostas das guardas municipais de Rio das Ostras a partir de um questionário preenchido por cinco guardas municipais do sexo feminino. Além disso, como fontes foram utilizadas imprensa do município, como MUNICÍPIOS EM DESTAQUE. Nº 73 – Rio das Ostras – RJ. Edição Especial. Ano XVIII, webgrafia e site do movimento chega de estupro.

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No primeiro capítulo foi desenvolvido a parte histórica sobre a categoria gênero, a historicidade da mulher e sua correlação com o trabalho e o feminismo que se articula para romper com o domínio patriarcal, sendo estes temas centrais nas relações sociais até os dias atuais, ou seja, cada período com suas características próprias, contextualizando-se historicamente a relação dos papéis definidos do homem e mulher construídos pela sociedade e suas culturas até a contemporaneidade.

No segundo capítulo, analisa-se os aspectos do município de Rio das Ostras, sua formação particular de cidade mercadoria e os impactos nas relações de gênero.

Finalizando o terceiro e último capítulo considerando as entrevistas com as guardas municipais de Rio das Ostras, com um questionário de perguntas abertas com o propósito de conhecer a realidade destas mulheres. Com os resultados obtidos vamos compreender a relação de gênero proposta por esta trabalho de conclusão.

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1 – GÊNERO, HISTÓRIA DA MULHER E SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO E O FEMINISMO

Neste primeiro capítulo dissertar-se sobre o contexto histórico de gênero, história das mulheres, a mulher e sua relação com o trabalho e o feminismo, em qual contexto histórico estes se inserem até a contemporaneidade para entendermos de que maneira se constitui a relação de gênero e o trabalho exercido pelas mulheres na guarda municipal de Rio das Ostras – RJ.

Desse modo, deu-se uma visão ampla sobre as representações sociais de gênero e toda sua complexidade histórica, os papéis exercidos do homem e da mulher nos processos históricos pelos quais perpassam relações de poder e dominação. Uma vez que culturalmente se constrói normas e condutas comportamentais para o homem e a mulher designando o entendimento de gênero levando assim aos papéis definidos para cada um, naturalizando-se assim o comportamento do ser humano e o modo de conduta de cada sexo. Então constitui-se desta maneira que as demandas de gênero estão conectadas com organização comportamental e valores socialmente construídos com a sexualidade.

Subsequentemente a historicidade da mulher e toda sua complexidade, os movimentos feministas que lutam para conquistar espaço na sociedade, romper com domínio patriarcal e melhores condições de trabalho e salário que vem atravessando décadas até os dias atuais, ou seja, rever as conexões desde o passado da figura feminina.

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1.1 – GÊNERO: RELAÇÕES SOCIAIS E HISTORICAMENTE CONSTITUÍDAS DO FEMININO E DO MASCULINO

Neste capítulo analisar-se a constituição da categoria gênero para os estudos relacionados à questão da mulher e, sobretudo, em relação do trabalho das guardas municipais de Rio das Ostras. A concepção de gênero perpassa historicamente pela família, o trabalho, religião com diferenças de padrões morais e culturais, onde neste contexto as mulheres vêm se posicionado para romper com a invisibilidade, o isolamento ao qual é submetida secularmente.

Por conseguinte esta reflexão e de suma importância para os questionamentos referentes a relação de gênero, isto é, construção da mulher como sujeito histórico no mundo do trabalho, demostrando em que grau essa relação ocorre na sociedade atual, dando maior visibilidade social aos profissionais do Serviço Social, como também os dados coletados servirão para reflexão sobre o tema, priorizando o desenvolvimento de Programas com intuito de promover a equidade nas relações de trabalho, tentando-se romper com os parâmetros culturais de uma sociedade machista.

Dessa forma, ambos os pontos inseridos no tema “Gênero” será articulado por esferas muito heterogêneas, nais quais observaremos diversas épocas e grupos sociais, em que se poderá colher dados de forma ampla e divulgar de forma crítica. Sendo assim nos levando a entender de que modo se realiza as relações sociais constituídas neste meandro de informações.

É na essência do desenvolvimento de “Gênero” que demostraremos os lugares sociais distintos ocupados por essas mulheres e compreender a construção de sua identidade em sua analogia de categoria versus gênero, assim poderemos mensurar as desigualdades de gênero tal como perfeitamente possível, desde que as desigualdades sejam transformadas.

As relações de gênero categoria historicamente construída dão-se a partir do feminino e masculino. O homem e mulher traduz esta relação. Desse modo, o estudo de gênero delineará essas relações.

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Nos desdobramentos históricos sobre a relevância do tema será através dos movimentos feministas a longo da história numa busca constante pela o reconhecimento de seus direitos, na qual a autora Joan Scott1 revolucionou o estudo

sobre gênero em seu artigo “gênero: uma categoria útil para análise histórica” (1995), publicado originalmente em 1986, na qual a mesma nos fala “ inicia o texto chamando atenção para o que ela considera os usos descritivos de gênero: quando apenas se olham para questões envolvendo mulheres e homens sem que se vá muito além”.

Joan Scott (Ainda, a autora retoma as ideias de Michel Foucault) e afirma que:

Gênero é a organização social da diferença sexual percebida. O que não significa que gênero reflita ou implemente diferenças físicas e naturais entre homens e mulheres, mas sim que gênero é o saber que estabelece significados para as diferenças corporais. (SCOTT, 1994, p. 13)

Segundo a autora relata a historicidade gramatical da palavra gênero como: Por exemplo, a utilização proposta pelo Dicionário da Língua Francesa de 1876, era: “Não se sabe qual é o seu gênero, se é macho ou fêmea, fala-se de um homem muito retraído, cujos sentimentos são desconhecidos”. E Gladstone fazia esta distinção em 1878: “Atena não tinha nada do sexo, a não ser gênero, nada de mulher a não ser forma”. (WILLIANS apud SCOTT, 1994, p.2)

Estas designações passam a configurar na “enciclopédia das ciências sociais”, onde gramaticalmente tem-se a palavra gênero no sentido pontual em sua significação, de maneira “explícita, porque o uso gramatical implica regras formais que decorrem da designação de masculino ou feminino; cheia de possibilidades inexploradas, porque em vários idiomas indo europeus existe uma terceira categoria – o sexo indefinido ou neutro.” (SCOTT, 1989. p.2).

Posteriormente através do pensamento de Nathalie Davis que disse em 1975: “Eu acho que deveríamos nos interessar pela história tanto dos homens quanto das mulheres, e que não deveríamos trabalhar unicamente sobre o sexo oprimido, do

1 Joan Scott é professora da Escola de ciências Sociais do Instituto de altos Estudos de Princeton, Nova

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mesmo jeito que um historiador das classes não pode fixar seu olhar unicamente sobre os camponeses. Nosso objetivo é entender a importância de gênero no passado histórico. Nosso objetivo é descobrir a amplitude dos papéis sexuais e do simbolismo sexual nas várias sociedades e épocas, achar qual o seu sentido e como funcionavam para manter a ordem social e para mudá-la”. (DAVIS apud SCOTT, 1989, p.3).

As autoras feministas já indicavam a importância dos estudos sobre gênero e “uma reavaliação crítica das premissas e critérios do trabalho científico existente”, ou seja, o estudo sobre gênero com uma nova releitura como categoria de análise, com intuito de transmutar os paradigmas do apreendido tradicional.

Ao se analisar categorias temos: classe, raça e gênero, não qual estas categorias eram descritos conforme Scott fala:

[…] o compromisso do (a) pesquisador(a) com a história que incluía a fala dos(as) oprimidos(as) e com uma análise do sentido e da natureza de sua opressão: assinalava também que esses(as) pesquisadores(as) levavam cientificamente em consideração o fato de que as desigualdades de poder estão organizadas segundo, no mínimo, estes três eixo.” (SCOTT, 1989, p.4).

A literata Scott relata que “classe, raça e gênero” sugere uma paridade entre os três termos que na realidade não existe. Portanto já era notório no enunciado da história a inclusão dos oprimidos, para a investigação da raiz da arbitrariedade sofrida pelos mesmos.

No seu uso descritivo o “gênero” é portanto um conceito associado ao estudo das coisas relativas às mulheres. O “gênero” é um novo tema, novo campo de pesquisas históricas, mas ele não tem a força de análise suficiente para interrogar (e mudar) os paradigmas históricos existentes. […] Alguns(mas) historiadores(as) estavam, naturalmente, conscientes desse problema; daí os esforços para empregar teorias que possam explicar o conceito de gênero e explicar a mudança histórica. […]Como, frequentemente, as teorias que inspiraram os(as) historiadores(as) não foram claramente articuladas em todas as suas implicações, parece digno de interesse empregar algum tempo nesse exame. É unicamente através de tal exercício que se pode avaliar a utilidade dessas teorias e talvez articular uma abordagem teórica mais poderosa. (SCOTT, 1989, p.8).

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Por conseguinte, Scott de um modo mais amplo expõe utilizar a palavra gênero, para ambos indivíduos homem e mulher acerca de suas variadas ligações e hierarquia. Segundo a autora “gênero inclui as mulheres sem as nomear, e parece assim não se constituir em uma ameaça crítica”. (SCOTT, 1989, p.6).

Como Joan Scott sustenta a relação das três teorias sobre os estudos de gênero. A autora nos explica a primeira abordagem sobre o tema a partir da visão de algumas feministas sobre o entendimento da origem do patriarcado; a segunda se posiciona numa tradição marxista tendo o engajamento com “a crítica feminista;” e por conseguinte a terceira “se divide entre o pós-estruturalismo francês e as teorias de relação do objeto, inspira-se em diversas escolas da psicanálise para explicar a produção e a reprodução da identidade de gênero do sujeito.” (SCOTT, 1989, p.9).

Na contemporaneidade as historiadoras feministas como Scott nos fala a maneira diferente de se abordar as pesquisas sobre a mulher rompendo-se com a tradicionalismo literário sobre as mesmas. Agora as feministas se preocupam em resgatar a participação feminina na trajetória da história e os fundamentos da opressão patriarcal. A posteriori já na década de 1970 as historiadoras têm um distanciamento do campo político, neste momento as feministas são mais questionadoras e há divergências entre os próprios (as) intelectuais que se referem a este tema.

A partir da década de 1980 ocorre o afastamento irrevogável com a política, com a expressão gênero emergindo num discurso admitindo neutralidade sem um ideal repentino: “A emergência da história das mulheres como um campo de estudo envolve, nesta interpretação, uma evolução do feminismo para as mulheres e daí para o gênero; ou seja, da política para a história especializada e daí para a análise”. (SCOTT, 1992, pp.64-650).

Conforme Scott nesta leitura, as pesquisas de gênero na historicidade das mulheres tem como significado de “despolitização”, ou de “neutralidade”, assim sendo é importante se refletir sobre o enunciado por ser um tema de alta complexidade, pois historicamente não tem-se uma explicação contundente da história das mulheres e suas relações.

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Dando seguimento a “história das mulheres”, Scott nos fala que mesmo no contexto universitário esta tema era visto como assunto exclusivo feminino ou num foco mais inserido no íntimo familiar, da procriação e sexual, sem o direcionamento principal da história em si. Assim temas do nosso cotidiano como a política, economia, os conflitos entre outros não evidenciariam nenhuma similaridade com gênero e seus argumentos.

A autora descreve sob olhar da psicanálise, uma teoria de identidade subjetiva com diferentes conceitos de gênero e debates conforme “as origens nacionais dos seus fundadores ou da maioria daqueles e daquelas que os aplicam” (SCOTT, 1989, p.13), apesar de Scott não dar muita credibilidade a este consenso universal. Dese modo, Scott relata que preliminarmente os historiadores em suas pesquisas sobre o tema, devem ir buscar na raiz como as relações de gênero são estruturadas e assim articular os resultados obtidos com o momento histórico vivido.

De acordo com Scott, o estudo de gênero é a percepção das relações para além do que vemos e ir buscar na sua essência outro referencial que permita desvendar as desigualdades e valores construídos do universo masculino e feminino, nos quais ambos os indivíduos são limitados pela história, com o comprometido de liberta-se. Scott nos fala em seu texto:

Só podemos escrever a história desse processo se reconhecermos que “homem” e “mulher” são ao mesmo tempo categorias vazias e transbordantes; vazias porque elas não tem nenhum significado definitivo e transcendente; transbordantes porque mesmo quando parecem fixadas, elas contém ainda dentro delas definições alternativas negadas ou reprimidas. (SCOTT, 1989, p.28)

Desta maneira, segundo Scott este pensamento do que é ser homem e mulher é não romper com preconceitos “uma identidade à qual mulheres e homens não são convidados a intervir”, pois ao a definição de gênero vemos continuamente uma hierarquia de poder. Não apenas entender o que faz com que homens e mulheres

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sejam vistos como essencialmente diferentes, mas porque esta diferença constitui uma hierarquização onde o masculino se impõe como superior ao feminino.

Concomitante a este processo no velho continente o controle social era desenvolvido conforme Carol Gilligan “explica os diferentes modos de desenvolvimento moral dos meninos e das meninas, em termos de diferenças de “experiências” (de realidade vivida)”. Sendo assim, Scott cita a autora Gilligan se contradiz em suas teorias: “a-histórica definindo a categoria mulher/homem como uma oposição binária que se autorreprodução, percorrendo assim como as outras feministas em suas teorias “dados históricos e nos resultados mais heterogêneos sobre o sexo e o raciocínio moral para sublinhar a diferença sexual” contradizem o que as mesmas buscam questionar. (SCOTT, 1989, p.18)

Como foi visto a cultura de povo com suas particularidades definem os comportamentos de homens e mulheres como “devem recalcar para serem reconhecidos como homem e mulher”. Sendo assim há uma polaridade entre o feminino e masculino, na qual o primeiro representa uma intimidação à heterossexualidade do homem e no segundo a masculinidade e impede à mulher de ser ela mesma como indivíduo, pois no mundo masculino a mulher representa um ultraje a natureza. Conforme Scott cita “O princípio de masculinidade baseia-se na repressão necessária dos aspectos femininos – do potencial bissexual do sujeito – e introduz o conflito na oposição entre o masculino e o feminino”. (SCOTT, 1989, p.16)

Como resultado deste processo histórico segundo Scott, é primordial falar do papel do Estado e as mudanças nas relações de gênero de acordo com as conveniências do mesmo. Como exemplificado pelos argumentos de “Louis de Bonaud em 1816, sobre as razões pelas quais a legislação da Revolução Francesa sobre o divórcio devia ser revogada:

Da mesma forma que a democracia política “permite ao povo, parte fraca da sociedade política, se rebelar contra o poder estabelecido”, da mesma forma o divórcio “verdadeira democracia doméstica”, permite à esposa, “parte mais fraca, se rebelar contra a autoridade do marido”… “a fim de manter o Estado

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fora do alcance do povo, é necessário manter a família fora do alcance das esposas e das crianças” (51). (SCOTT, 1989, p.25)

Portanto, Loui de Bonaud descreve uma trajetória histórica onde o papel feminino é subjugado pela leis instauradas pelo Estado, como o remanejamento da relação matrimonial. Tantos outros escritores contemporâneos como vemos no texto “ gostariam de fazer passar toda uma série de leis sobre a organização e o comportamento da família, que modificariam as práticas atuais”. Posto estes fatos ocorridos na história até a atualidade fica bem marcado o lugar das mulheres na vida política citado no texto “poder soberano identificando-os ao masculino (os inimigos, os “outsiders”, os subversivos e a fraqueza eram identificados ao feminino), e traduziram literalmente esse código em leis que colocam as mulheres no seu lugar “proibindo sua participação na vida política”, de acordo com Scott “Em certo sentido a história política foi encenada no terreno do gênero. É um terreno que parece fixado, mas cujo sentido é contestado e flutuante”.

Ao resgatarmos alguns fatos históricos do desenvolvimento de gênero, onde estes fatos oferecem as bases de compreensão entre a constante divergência entre o masculino e feminino é essencial sairmos do terreno do já conhecido debate “contexto concreto”, tal qual Scott faz um questionamento:

Qual é a relação entre as leis sobre as mulheres e o poder do Estado? Por que (e desde quando) as mulheres são invisíveis como sujeitos históricos, quando sabemos que elas participaram dos grandes e pequenos eventos da história humana? O gênero legitimou a emergência de carreiras pBerkeley Calif 1985. Esta questão é abordada por Jeffrey Weeks…rofissionais? Para citar o título de um artigo recente da feminista francesa Luce Irigaray, o sujeito da ciência é sexuado? Qual é a relação entre a política do Estado e da descoberta do crime de homossexualidade? Como as instituições sociais têm incorporado o gênero nos seus pressupostos e na sua organização? Já ouve conceitos de gênero realmente igualitários sobre os quais foram projetados ou mesmo baseados sistemas políticos? (SCOTT, 1989, p.29)

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Segundo Scott ao se dar respostas a estas perguntas dará uma identidade a uma nova história e novas respostas a questões antigas, “ como por exemplo, é imposto o poder político, qual é o impacto da guerra sobre a sociedade”, novas deliberações como “a família e a sexualidade no estudo da economia e da guerra”. Enfim, uma nova configuração histórica dando visibilidade a mulher e novos caminhos para as autoras feministas, pois esta nova historicidade de acordo com Scott vai sugerir “que o gênero tem que ser redefinido e reestruturado em conjunção com a visão de igualdade política e social que inclui não só o sexo, mas também a classe e a raça”.

Em síntese, pode-se afirmar que a utilização de gênero enquanto categoria de análise permite compreender a constituição de identidade em relação ao masculino e feminino, portanto, essa relação não é natural biológico, mas social e historicamente construída. Nesse sentido reflete-se a importância das considerações acerca de gênero para instituir, por meio do Estado, de igualdade política e social.

1.2 – HISTÓRIA DAS MULHERES

A historicidade da mulher e gênero estão interligados, partindo-se do pressuposto de que as mulheres são um grupo social e sua história nos leva a compreender a respeito dos eventos ocorridos no passado.

A datar dos primórdios da civilização, o trabalho feminino está presente em todos as áreas, desde os afazeres domésticos, arando o campo, sendo mãe, enfermeira e esta jornada de trabalho atravessou a história até a contemporaneidade, na qual a mulher continua com sua dupla jornada de trabalho. Como cita Miles trabalhos aviltantes que as mulheres desempenhavam no Ártico “tinham a função de mastigar a pele crua de pássaros mortos para, dessa maneira, amaciá- la e transformá-la em botas, roupas e tendas para toda a tribo” (MILES, 1989; p.177).

Baseando-se em diferentes períodos históricos destaco a Idade Média XIV, as relações de vassalagem e suserania. Assuntos ligados a política, economia e jurídicas concentravam-se nas mãos dos senhores feudais, donos de terra. Este elo entre a

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nobreza e o vassalo, estava vinculada à escassez de recursos, devido ao baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas. O trabalho neste período era desenvolvido pelas mulheres, homens e as crianças em cooperação mútua, “nos campos e nas minas, nas manufaturas e lojas, nos mercados e estradas, bem como nas oficinas e em casa, as mulheres viviam ocupadas ajudando seus homens, substituindo-os em caso de ausência ou morte, ou contribuindo com sua labuta para a renda familiar” (MILES, 1989, p.177).

No período medieval a mulher tinha uma forte presença no meio de sobrevivência, muito além de suas responsabilidades familiares como também vida econômica. Embora tendo este destaque na sociedade da época, a mulher ficava sob o julgo do poder masculino “as mulheres eram subordinadas aos homens, quer fosse ele pai, quer fosse ele marido, quer fosse ele irmão” (MILES, 1989; BAUER, 2001).

Na Idade Média, mesmo tendo mínimos direitos as mulheres não são contempladas economicamente, sendo submissas ao poder paterno, no casamento ao marido, sendo reclusas ao lar, como cita Bauer (2001),

Em meados do século XIV, devido a uma grave crise econômica, a mulher foi banida do mundo do trabalho e reclusa ao lar. A subordinação feminina era quase que total. Elas foram excluídas de atividades que desde tempos remotos, realizavam, como, por exemplo, a Enfermagem. As universidades, instituições criados no século XIII, Também foram proibidas as mulheres. 2

Nesse sentido, por conter parcos direitos, segundo Engels,

O primeiro passo para emancipação – e não o último - seria a incorporação da mulher no trabalho social produtivo. Para Engels (e para Marx) “a emancipação da mulher e sua equiparação ao homem são e continuarão sendo impossíveis, enquanto ela permanecer excluída do trabalho produtivo social e confinada ao trabalho doméstico, que é um trabalho privado. A emancipação da mulher só se torna possível quando ela pode participar em grande escala, em escala social, da produção, e quando o trabalho doméstico lhe toma apenas um tempo insignificante” (ENGELS, 1974:182)

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Então no século XIV temos o começo da era moderna e final da Idade Média, no qual as transformações ocorridas neste âmbito ideológico, econômico e social, surge o capitalismo industrial e a configuração da sociedade de classes. Por conseguinte já pelos meados do século XVIII para o século XIX, assinalam a transição das antigas civilizações para a contemporânea. O capitalismo tem como mola propulsora o lucro através da produção de mercadorias, transforma a natureza com suas novas tecnologias e inova o modo de produção com novas atividades laborais

No século XIX o capitalismo, o fenômeno do pauperismo afetava principalmente a classe trabalhadora no período da industrialização, pois a sociedade capitalista tem uma lógica exploradora e desigual, como também uma estrutura que possibilitou a se apossar da riqueza social e dos meios de produção, criando uma relação assalariada, onde o indivíduo vende sua força de trabalho em troca do salário. Enquanto o trabalho é coletivo, executado pelo conjunto da sociedade, a apropriação é privada, sendo apropriada por uma parcela da população: a classe burguesa, gerando um aumento imensurável da miséria. Marx (1998, p.67) reconhece este momento como sendo o “período que se caracterizara especialmente pelo incremento acelerado do capital, de um lado, e pelo pauperismo, do outro”.

Uma das causas principais do aumento do capital durante a guerra estava nos maiores esforços e talvez nas maiores privações das classes trabalhadoras, as mais numerosas em toda a sociedade. Mais crianças e mulheres foram forçadas, por sua situação de indigência, a se entregar a ocupações árduas, e aqueles que antes já eram trabalhadores foram compelidos, pela mesma razão ao aumento da produção. (MARX, 1998, p.601)

Nas famílias tanto o homem como a mulher trabalham fora do lar, o que resulta a ausência de cuidados com as crianças ficando fechadas nas habitações entregues aos cuidados de outras pessoas. Neste momento é que as mulheres começam a ser exploradas pelo trabalho se ausentando do lar e dos cuidados com os filhos.

A fragilidade com o desemprego, a fome e consequentemente a falta de estrutura econômica trouxe para a mulher outras situações, como Miles (1989, p.201) afirma:

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As mulheres enfrentavam uma carga dupla a de aguentar o choque do novo e ainda manter juntos os trapos e cacos do velho; enquanto um braço levantado saudava a nova aurora, o outro ainda carregava uma criança ou capinava um campo; e até mesmo no meio de uma revolução era preciso que houvesse comida, amor, calor, abrigo, luz e vida, ou, pelo menos, o máximo de cada um destes que uma mulher lutando no front doméstico pudesse reunir. O trabalho doméstico não se tornava empecilho para a mulher dedicar-se a causa revolucionária, tanto na guerra, como no trabalho, era impressionante o quanto as mulheres eram capazes de fazer e quão pouco eram perturbadas por noções de fraqueza corporal ou incapacidade mental.

Como já foi visto o papel da mulher socialmente, basicamente está na sua responsabilidade de cuidar do lar e da criação dos filhos, dando uma margem de desvantagem em relação ao homem no mercado de trabalho. Este paradigma de submissão feminina deu ao modelo burguês o retrato de mulher educada, amável e generosa, ou seja, estrutura do lar.

Deste modo a mulher como sujeito social inserido em contextos históricos diferenciados, consequentemente esta interligada com a família, na qual ocorre mudanças em sua formação como Mioto aponta:

a família monogâmica constituída naturalmente (pai, mãe), transmissão hereditária aos filhos como cita a autora “virada histórica na humanidade”, pois se pôde firmar a noção de família e propriedade com a possibilidade de transmissão de bens os certos e legítimos. (MIOTO, 2000, p. 107)

As famílias se diversificaram com as mudanças ao longo do tempo, e o estudo de gênero e de família estão interligados, de acordo com Pinnelli (2004, p. 56) "sendo as mudanças em um ligadas às mudanças na outra, e estando ambos sujeitos à força das mudanças sociais". Dessa forma, além do gênero podemos estudar a estrutura familiar e suas mudanças na compreensão das mesmas e suas multideterminações como a hierarquização existe neste universo, explicando como estes mecanismos atuam e se configuram nas relações familiares.

Importante admitir que, embora haja solidariedade, existe ainda hierarquia citado acima o que significa reconhecer a ocorrência de conflito e violência intra familiar. Por último, é necessário assimilar a existência de uma forte permeabilidade da família ao âmbito público, pois se borram, cada vez mais, as fronteiras entre o público e o

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privado, e a família, nesse contexto, vem se tornando objeto de intervenção das políticas públicas.

Por conseguinte, Mioto nos descreve na contemporaneidade as mudanças e transformações societárias na década de 1990 no Brasil “na segunda metade do século XX” conforme cita o texto, o modelo padrão de família se modifica há redução da fecundidade, ou seja, a redução de números de filhos como pesquisa do IBGE em média 2,5 filhos, aumento de adolescentes grávidas, uniões consensuais, produção independente, famílias monoparentais – famílias chefiadas por mulheres resultado de transformações culturais, sociais e econômicas. O desenvolvimento de novas tecnologias como os anticoncepcionais, a internet mudou a formação familiar e o conviver entre gerações diferentes. Surgem também famílias homoafetivas, inserem-se na sociedade novos arranjos familiares.

Com as transformações da formação familiar despontam várias novas situações sociais, como a “vulnerabilidade da família no contexto social”, com a mudança da posição da mulher socialmente: solteira ou separada com filhos e na maioria das vezes são responsáveis pela educação dos filhos onde a figura paterna de ausenta de suas responsabilidades, aquela que pode ser casada e coabitando com companheiro e filhos, entre tantas outras situações.

Como afirma Mioto esta metamorfose familiar no modelo econômico vigente são ameaçadas pela política do mesmo:

Em vez de tal política assegurar condições mínimas (renda, emprego, segurança, serviços públicos de qualidade) de sustentação das famílias, ela vem desencadeando situações (migrações, desemprego, ausência de serviços públicos) que são fontes geradoras de estresse familiar. (MIOTO, 2000, p.121)

A evolução pela qual as famílias passaram, modificou a sociedade brasileira e com relevância mudou-se a ótica da intervenção do Serviço Social que deixa de ver o usuário como único (indivíduo) e passa a ver a família como um todo, neste momento Mioto nos traz a nova perspectiva para o Serviço Social:

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[…] propostas que interferem na vida familiar e podem ser articulados em três pilares, a saber: as políticas sociais, o modelo assistencial vigente nos espaços instrucionais, as demandas específicas de cada grupo familiar. Sob a égide desses pilares, é que serão discutidos os processos de atenção á família, relacionando os diretamente á intervenção profissional. (MIOTO, 2000, p. 123) Assim, entende-se que o espaço familiar constitui uma rede proteção social desenvolvida ao longo dos processos históricos, e que mesmo possuindo diferentes configurações, ela é contínua sendo uma unidade de articulação para garantia de melhor qualidade de vida e a defesa da cidadania.

[…] o trabalho com famílias seja veículo de mudanças efetivas no Serviço Social, é necessário refletir sobre os modelos assistenciais dentro do trabalho de desenvolve. Isto para avançar de uma posição de tutela para uma condição de parceria e cidadanização das famílias. (MIOTO, 2000, p. 128)

Consequentemente nas relações estabelecidas na sociedade moderna entre os gêneros, principalmente em relação ao trabalho, a mulher ainda ocupa um lugar inferior se comparado ao homem. Porém, na interioridade da família, na economia, normas e leis, na educação, é importante a participação prioritária da mulher, sendo esta mãe e trabalhadora.

1.2.1 – A MULHER E SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO

A categoria trabalho se manifesta no ser humano como uma forma para este se desenvolver. É através do trabalho que o homem se transforma em ser social e interfere na natureza, retirando da mesma meios para sua sobrevivência. O trabalho é uma categoria ontológica que desenvolve no homem as capacidades humano-genéricas de sociabilidade, universalidade, liberdade e consciência. Como afirma Barroco “Para Marx, o trabalho é o fundamento ontológico-social3 do ser social; é ele que permite o

3 “Quando, nesse contexto, atribuímos ao trabalho e às suas consequências – imediatas e mediatas –

uma prioridade com relação a outras formas de atividade, isso deve ser entendido num sentido puramente ontológico, ou seja, o trabalho é antes de mais nada, em termos genéricos, o ponto de partida da humanização do homem, do refinamento de suas faculdades, processo do qual não se deve esquecer o domínio sobre si mesmo” (LUKÁCS, 1979: 87).

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desenvolvimento de mediações que instituem a diferencialidade do ser social em face de outros seres da natureza”. (BARROCO, 2010, p. 26)

É então a partir do trabalho que o homem passa a idealizar seus projetos antes de desempenhá-los. Ou seja, o homem passa a agir teleologicamente.

Historicamente o homem vem se aprimorando nas atividades de trabalho por ele desempenhadas. Neste contexto, podemos também pensar no “papel da mulher”, sendo necessário observar os momentos históricos. Para isto, os argumentos apresentados são baseados nas contribuições dos autores HIRATA e KERGOAT (2007).

Tratado num contexto francês, as autoras HIRATA e KERGOAT (2007) nos traz o termo “divisão sexual do trabalho” em termos de desigualdades e outra visão e buscar nas raízes de onde vêm estas desigualdades históricas, pois numa sociedade capitalista com empregos instáveis, má distribuição de renda nos leva a uma reflexão que teve início nos anos 70, na quais mulheres começam a questionar o sexo e gênero diante de seu trabalho invisível, tendo também neste período o aumento do número de famílias chefiadas por mulheres, da violência sexual entre outros.

Na França na década de 1970, as mulheres tomam consciência de sua submissão, vão para as ruas – movimento feminista de que o trabalho exercido por elas (trabalho doméstico), que não é reconhecido nem remunerado. As autoras chamam atenção para as “relações sociais do sexo”. (HIRATA e KERGOAT,2007, p.598)

Na atualidade, o termo divisão sexual do trabalho, nas ciências humanas, é muito utilizado apenas para apontar as desigualdades, esvaziando a crítica contra a atual sociedade salarial.

As autoras colocam seu referencial teórico de análise:

A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais entre os sexos; mais do que isso, é um fator prioritário para a sobrevivência da relação social entre os sexos. Essa forma é modulada histórica e socialmente. Tem como características a designação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apropriação pelos homens das funções com maior valor social adicionado (políticos, religiosos, militares etc.). (HIRATA e KERGOAT, 2007, p.598)

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Chama-se a atenção no texto a essa separação e hierarquia submetida o trabalho, que e naturaliza o mesmo como se fossem inerentes à biologia da espécie humana. A forma de separação e hierarquia acontecem nas diferentes sociedades, o que aparece como estável (não imutável) e é a distância entre os sexos.

Segundo Hirata e Kergoat, uma das novas configurações da divisão sexual do trabalho é o aparecimento de “nomadismos sexuados”, que seria a exploração de tempo de trabalho da mulher, e para os homens seria a flexibilização do espaço de trabalho, ao invés do tempo. Assinala-se o corte de classe entre as mulheres, pois as mesmas que ocupam cargos de nível superior (este quase dobrou) tem interesses opostos as que têm seu tempo de trabalho social explorado e, portanto, sofrem mais com a precariedade. Como será posteriormente abordado sobre o trabalho das Guardas Municipais no município de Rio das Ostras.

Com isso, o que se tem é uma concorrência entre as mulheres, todas são precarizadas, mas de maneiras diferentes. Temos uma relação de gênero/raça/étnica, onde as relações de sexismo e racismo se relacionam. Muitas mulheres são duplamente oprimidas e exploradas, se contrapondo as mulheres mais abandonadas. Como ressaltam as autoras: […] atenuação das tensões nos casais burgueses, de um lado, e acentuação das clivagens objetivas entre mulheres […] (HIRATA e KERGOAT, 2007, p. 603)

Assim sendo, Hirata e Kergoat nos mostra que neste sistema de produção capitalista as mulheres têm sua inserção subordinada no mercado de trabalho, por ser mão de obra mais barata que a masculina, o homem sendo mais valorizado – século XXI, como divulgado recentemente em 16/08/2015, sobre a diferença salarial entre homens e mulheres:

Mulheres vão levar 80 anos para ter salário igual aos homens, diz pesquisa Brasil ficou entre os últimos colocados em ranking mundial que analisou a desigualdade de salários em 142 países.

Uma situação injusta vai levar muito tempo para ser corrigida: a diferença de salários entre homens e mulheres. Uma pesquisa mostrou que vai demorar 80 anos para elas ganharem o mesmo que eles. Igualdade de salários só em 2095. […] Num ranking mundial que analisou a desigualdade de salários em 142 países: o Brasil ficou entre os últimos colocados: na posição 124. http://glo.bo/1Jc1a2Y

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O capitalismo utiliza a opressão feminina para nivelar por baixo o valor da força de trabalho, o que em tempos de crise se manifesta nas mulheres serem as primeiras demitidas – relação de gênero relacionada com a esfera do trabalho – trabalho assalariado.

O Estado capitalista não possui interesse em promover a dignidade humana, pois para começar esse processo teria que se ter o fim da propriedade privada. Democratizar os meios de produção, tendo-se o entendimento que com a superação de classes se terá a igualdade de gênero, pois como sabemos o capitalismo apenas se apropriou das formas de opressão e contradições existentes. Dessa forma a importância de luta de gênero continuar atrelada a luta pelo fim da divisão da sociedade de classes, onde todos os seres sociais possam ter os mesmos direitos e serem iguais de fato.

1.3 - FEMINISMO

A expressão “feminismo” surgiu a partir de 1848 em Nova Iorque “convenção de direitos da mulher”, numa dinâmica revolucionária:

Realizou-se a primeira convenção dos direitos da mulher em Seneca Falls, Nova York em 1848. Também em Nova York.

Em 1857, aconteceu o movimento grevista feminino que, reprimido pela polícia, resultou num incêndio que ocasionou a morte de 129 operárias, justamente no dia 8 de Março (Dia Internacional da Mulher). (Arquivo do COMDIM/POA – 2000 CEDIM/RJ-1996).

Dentre tantas revoluções podemos citar a Revolução Francesa, na qual as mulheres reivindicavam direitos igualitários, como os direitos sociais e políticos. Exemplificando neste período a mulher conquista o direito ao divórcio. Neste processo de construção de identidade social, estes movimentos feministas são construídos por intelectuais e teóricos que tentam a desnaturalização da concepção da diferença entre

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os gêneros, sendo que num contexto mundial as diferenças de gênero são naturalizadas culturalmente.

Neste contexto de mudanças Simone de Beauvoir4 traz sua contribuição com o

seu livro “O segundo sexo”, em 1949 cita que “não se nasce mulher, torna-se mulher”, expressou a ideia básica do feminismo: a desnaturalização do ser mulher”, ou seja, uma identidade compartilhada.

Posteriormente, a autora Sarti nos traz um relato sobre o movimento feminista no Brasil na década de 1970, sendo que a mesma cita a existência do movimento feminista no Brasil anteriormente com grandes conquistas para as mulheres como voto “sufrágio”, nos primórdios do século passado.

O movimento feminista no Brasil em 1970 esteve permeado por uma efervescência política, “autoritarismo político” imposto pelo “golpe empresarial militar de 1964”, sob alguma influência dos resultados obtidos das mulheres “europeias” e “norte-americanas”, no Brasil este movimento de revindicação na década de 1970 tem seu diferencial pela resistência da política instaurada no país. De acordo com SARTI, (2004, p.26) “Uma parte expressiva dos grupos feministas estava articulada a organizações de influência marxista, clandestinas à época, e fortemente comprometida com a oposição à ditadura militar, o que imprimiu ao movimento características próprias.”

Concernente a estes fatos o feminismo neste período foi de grande importância para as gerações futuras, no qual transformou o modo comportamental destas mulheres, nos projetos institucionais “sociais” e “políticos”. A mulher ocupa seu espaço na sociedade de modo contestador, impactando toda “sociedade brasileira”.

Num período censurado e restrito de direitos e conflitos, o movimento feminista resistiu na defesa de suas reivindicações, quando a datar de 1970 surgiu com todo vigor.

Evidencia-se então na ditadura militar, que fazem inúmeras vítimas com seu radicalismo político, no qual o “feminismo brasileiro foi gestado” sob aquela experiência.

4 Simone de Beauvoir (1908-1986) nasceu em Paris, França, no dia 9 de janeiro de 1908, foi uma das

escritoras mais influentes do ocidente. Suas ideias tratavam de questões ligadas à independência feminina e o papel da mulher na sociedade. Sua obra refletia também a luta feminina e as mudanças de papéis estabelecidos, assim como a participação nos movimentos sociais. O livro que melhor condensa suas experiências é “O Segundo Sexo” (1949).

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(SARTI, 2004, p.37). A autora cita Betty Friedan em “ A mística feminina, que inaugurou o movimento feminista norte-americano na década de 1960”, pois inicialmente estes movimentos tinham conotações depreciativas antifemininas. (SARTI, 2004, p.37).

Nos períodos das décadas de 1960 e 1970 no Brasil, as feministas começam a romper com certos padrões instituídos pela sociedade conservadora. As mulheres pegam em armas, questionam a virgindade, o casamento, assim sendo, equiparando-se comportamentalmente aos homens.

São estas mudanças que os relatos subsequentes expõem, “a igualdade entre homens e mulheres era apenas retórica, fazendo a questão de gênero eclodir em suas contradições com o projeto de emancipação militante” (COSTA, 1980. apud SARTI, 2004, p.38).

Dando seguimento, após três décadas do movimento feminista no Brasil, é feita uma reflexão das experiências conflituosas vivenciadas por estas mulheres no passado, com relatos de ex-militantes do período ditatorial no seminário em 1996 “A revolução possível: homenagem às vítimas do regime militar”.5

Neste evento houve a abertura da academia com o foco político sobre as violências no período ditatorial militar no Brasil, onde o debate deu-se a partir das experiências vividas pelas mulheres neste período. Em seu relatos estas mulheres expuseram a que violências específicas foram submetidas, como o corpo feminino foi violado e a “manipulação do vínculo entre mãe e filhos, uma vez que esse vínculo torna a mulher particularmente vulnerável e suscetível à dor.” (SARTI, 2004, p.38)

Com isso, impulsionado pelo movimento feminista, no ano de 1975 a Organizações das Nações Unidas (ONU) declarou o “Ano Internacional da Mulher”, pois no cenário internacional “explicitamente naquele momento se fazia sentir do feminismo europeu e norte-americano”. O movimento feminista no Brasil nesta conjuntura política é uma importante oportunidade para as diversidades de partidos políticos, que nesta época estavam na clandestinidade começa a se atricular na tentativa de uma melhor estratégia de se organizarem, ou seja, mesmo sob a ameaça da repressão da ditadura

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militar, como “o Brasil Mulher, o Nós Mulheres, o Movimento Feminino pela Anistia, para citar apenas os de São Paulo”. (SARTI, 2004, p.39)

Esses questionamentos do movimento feminista expandiu-se e construíram características próprias, como enfrentamento a “resistência da Igreja Católica a respeito do aborto” “sexualidade e o planejamento familiar” entre tantas outras que ocorriam no espaço privado.

Nos grandes centros urbanos a organização dos movimentos sociais da época iam as periferias para se inter-relacionar com o cotidiano desta localidade, assim observavam as demandas locais e as encaminhavam “ao Estado como promotor de bem-estar social”. É na periferia que os movimentos sociais ganharam rosto, caracterizando-se pela “identificação destas mulheres nestas localidades” identificação social da mulher, na qual estas mulheres passaram a atuar fora de seu ambiente doméstico, ou seja, “propiciou a emergência de um novo sujeito político, ao questionar, de diferentes maneiras, a condição da mulher e pôr em discussão a identidade de gênero”. (Céli Regina Pinto e Eleonora Menicucci de Oliveira, apud SARTI, 2004, p.40)

Assim, no ano de 1970 com a abertura política a discussão sobre gênero ganhou destaque neste período, com o apoio de grupos que se diziam feministas e debates sobre o novo modelo das “políticas públicas”, como também um momento para situar “o lugar social da mulher” desconstruindo a concepção de gênero como designação de análise.

Posteriormente no ano de 1980 recém-decretada a anistia em 1979, as mulheres exiladas neste momento retornam ao país, consolidando um momento marcante para o fortalecimento do movimento das mulheres brasileiras, pois algumas “exiladas” trouxeram experiências políticas anteriores, segundo Sarti:

[…] influência de um movimento feminista atuante, sobretudo na Europa. Além disso, a própria experiência de vida no exterior, com uma organização doméstica distinta dos tradicionais padrões patriarcais da sociedade brasileira, repercutiu decisivamente tanto em sua vida pessoal quanto em sua atuação política. (Sarti, 2004, p.42)

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Manifesta-se então por toda a sociedade a novidade alcançando os “associações profissionais, partidos, sindicatos, legitimando a mulher como sujeito social particular”.

O movimento feminista se organizavam tecnicamente e articulavam-se em “organizações não-governamentais (ONGs)”, para influenciar as políticas públicas em áreas específicas utilizando-se de canais inconstitucionais, como “a saúde da mulher”, que causaram impactos na área médica, entre os quais a dos “direitos reprodutivos” que sob a visão feminista faz indagações da “concepção e os usos sociais do corpo feminino”, ou seja, uma medicina voltada ao público feminino “(ginecologia e obstetrícia), em torno das tecnologias reprodutivas”. (SARTI, 2004, p.43)

Neste momento as ONGs começam a estar a frente de temas polêmicos, como o aborto, no qual o movimento feminista contestava a discriminação, pois sendo um tema forte este era evitado por outras instituições.

Depois em 1988 temos a promulgação da Constituição, na qual “ se extinguiu a tutela masculina na sociedade conjugal”, para os padrões patriarcais de nossa sociedade foi uma grande conquista para as mulheres.

Passado o autoritarismo dos anos de 1970, sendo um movimento que rompia com a unidade exigida pela política de aliança, percebeu-se ao longo desta trajetória das feministas que “a ideologia feminista, como proposta de construção de uma nova subjetividade feminina e masculina, defrontava-se com conflitos e tensões nas relações que não se resolviam tão facilmente como se desejava, por incidir sobre questões de ordem inconsciente”, segundo Pierre Bourdieu “violência simbólica”, ou seja, a internalização (inconsciente) do discurso do dominador pelo dominado, que o faz cúmplice de sua própria dominação”. Estas questões de violência feminina, sendo a mulher (objeto de opressão), segundo (SARTI, 2004, p,44).

Por conseguinte as autoras nos expõe que a violência é um “mecanismo relacional” tornando-se um ponto importante a ser trabalhado “ a vítima quanto o agressor”, tal qual a violência doméstica cometida contra crianças e adolescentes, que a partir de 1990 com o Estatuto da Criança e do Adolescente, dão a visibilidade de que “tanto homens como mulheres aparecem como agressores”, demonstrando assim primordialidade que os estudos de gênero deve constituir-se nas “identidades das

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relações”, sobretudo na “sociedade brasileira marcada por profundas desigualdades sociais”.

Podemos perceber que com todas estas mudanças o modelo de feminismo foi marcado socialmente, com movimentos na formação universitária das feministas, as quais vinham de uma classe social inseridas no cotidiano da cidade unidas também as experiências adquiridas no exterior com o exílio imposto pela ditadura militar no Brasil. Neste contexto de uma sociedade paternalista, machista, que são pontos fortes na cultura brasileira sobre a questão na relação homem e mulher, pois há diferenças na conjunção de oportunidades de trabalho, até mesmo no interior da própria família instaurando-se assim no movimento feminista a busca por benefícios sociais da mulher.

Assim no Brasil como afirma Sarti o feminismo teve uma “natureza híbrida”, mesmo possuindo parâmetros culturais diversificados, as “mulheres” não eram composta de uma categoria universal a não ser pelos referenciais culturais. Dessa forma o estudo do feminismo não pode ser separado do enredo que lhe do significado.

Por conseguinte o feminismo trouxe uma nova visão para as mulheres, sendo este construído coletivamente com base de “politização do mundo privado”. Sarti nos traz em seu trabalho outros autores que mostram trabalhos de comparação em relação o “que é ser mulher” em outras sociedades, como:

Louis Dumont sobre o sistema de castas na Índia. Este e outros trabalhos do autor foram referências fundamentais, na antropologia, para uma visão crítica do etnocentrismo do pensamento ocidental, que institui a entidade atomizada do indivíduo como paradigma epistemológico para pensar a pessoa, ignorando os contextos hierárquicos em que inexiste essa entidade autônoma, com significação em si. No que se refere à análise de gênero, o trabalho de Marilyn Strathern foi um marco na exploração da dicotomia entre “eles” e “nós”, comparando as diferenças entre o pensamento ocidental, antropológico e feminista, e as formas de pensar na sociedade melanésia, seu campo de estudos. (DUMONT, Louis.Homo hierarchicus. Paris: Gallimard, 1966) (STRATHERN, Marilyn. The Gender of Gift: Problems with Women and

Problems with Society in Melanesia. Berkeley/Los Angeles: University of

California Press, 1988.)

Logo, a expressão gênero nos traz a evidência de um debate feminista de compreensão e diferenciação da organização sexual, que é construída socialmente.

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Diferentemente da categoria sexo, que representa mais uma relação biológica, do que social, que tenta igualar sexo e gênero, causando um debate reducional.

Eis porque o machismo não constitui privilégio de homens, sendo a maioria das mulheres também suas portadoras. Não basta que um dos gêneros conheça e pratique atribuições que lhes são conferidas pela sociedade, é imprescindível que cada gênero conheça as responsabilidades do outro gênero. (SAFFIOTTI, 1992, p. 10).

A construção dos gêneros se dá através da dinâmica das relações sociais. Os seres humanos só se constroem como tal em relação com os outros. (SAFFIOTTI, 1992, p. 210)

Gênero assim, constitui uma categoria particular e existencial – faz parte do ser social, que ajuda a dar a luz às análises da complexidade das relações sociais. Diz-se que é uma categoria histórica, pois a partir dela se apontam algumas tendências que não são naturais, e sim, socialmente construídas no bojo das relações sociais ao longo dos séculos, como modelos culturais , comportamentais, valores e potencialidades das relações entre os seres humanos. Assim, na perspectiva feminista na experiência compartilhada, há uma identificação da superestrutura dos fenômenos de gênero.

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2 – RIO DAS OSTRAS: SUA FORMAÇÃO E OS IMPACTOS NAS RELAÇÕES DE GÊNERO

O tema deste capítulo é o estudo de aspectos da cidade de Rio das Ostras que permite percebê-la na sua formação e os impactos das relações de gênero, em especial, na consideração sobre a guarda municipal. Neste passo, utiliza-se o conceito “cidade mercadoria” mencionados pelo autor Carlos Vainer.

A problemática se relaciona nas repostas das questões: Qual a forma específica de “cidade mercadoria” que se efetivou na cidade de Rio das Ostras? Como os seus elementos condicionam a ação da guarda municipal?

Os materiais que sevem de base para a relação do presente capítulo são dados oficiais do senso sobre o município, a imprensa que circula na região e informações das redes sociais, em especial, os materiais do Movimento Chega de Estupro.

2.1 – RIO DAS OSTRAS E A RELAÇÃO CIDADE MERCADORIA

O município de Rio das Ostras é um balneário geograficamente situado a 170 km do estado do Rio de Janeiro, cidade turística com uma variedade de atrações, “praias, lagoas um circuito eco rural recheado de delícias da culinária da “roça”. Por

possuir um litoral de 28 quilômetros de extensão, tinha como principal atividade a pesca sendo esta desenvolvida até hoje. Possuindo eventos culturais o município tem em seu calendário anual, atrações permanentes como o encontro de motoqueiros, Festival de Blues e Jazz. Festival Frutos do Mar como também outros eventos.

Na década de 1970 Rio das Ostras converteu-se em o terceiro distrito de Casimiro de Abreu, mas a cidade teve um crescimento acelerado com um grande fluxo turístico. A posteriori foi feito um plebiscito para a emancipação da cidade que se deu em 10 de abril de 1992, levada a categoria de município, quando se desmembrou da cidade de Casimiro de Abreu.

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Plebiscito/Eleições de 1993 No início do século XX, Rio das Ostras era carinhosamente chamada de Terra dos Peixes, uma simples aldeia de pescadores com abundante pesca no rio e mar, segundo depoimentos dos antigos moradores que foram reunidos em um livro de mesmo título, primeiro exemplar do Projeto Memória da Fundação Rio das Ostras de Cultura, publicadoem1997. (Cabo Frio News. 05/06/2012)

A emancipação político-administrativa aconteceu devido ao acelerado crescimento, tanto populacional quanto econômico, que o então distrito vivenciou; não justificando mais sua categoria de distrito.

O município de Rio das Ostras conforme o Censo em 2010 sua população era constituída de 105.676 habitantes e estimado no ano de 20156 em 131.976 habitantes,

com espaço de territorial de (Km²) 229,044, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

A realidade do cotidiano do município se transforma com o rápido crescimento populacional como vemos no gráfico abaixo, sendo, pois Rio das Ostras situada nas proximidades do município de Macaé, no qual se instalaram inúmeras empresas voltadas a produção de petróleo, tendo a Petrobras como a principal empresa de produção de petróleo, contribuindo para a vinda de inúmeras pessoas para morar em Rio das Ostras, pois um dos facilitadores é a rodovia Amaral Peixoto que atravessa o município desde da década de 1950 (um dos fatores também do desenvolvimento da cidade) e estes vem em busca de uma oportunidade de trabalho na área de petróleo.

Como citado acima devido a sua proximidade com a cidade de Macaé o município de Rio das Ostras pode ser considerado cidade dormitório, pois uma parcela das pessoas que trabalham e estudam em Macaé preferem morar em Rio das Ostras, como Castro no relata:

[…]Rio das Ostras é, por assim dizer, “o vizinho mais bonito” de Macaé.

Rio das Ostras é uma cidade de pousadas, restaurantes, locais de diversão para turistas e casas de veraneio. Suas praias são agradáveis e relativamente bonitas. Já Macaé sempre foi uma cidade feia, quente e com um litoral sem nenhum atrativo. A consequência é que boa parte dos que trabalham durante a semana em Macaé preferem morar em Rio das Ostras. Isso provoca um aumento da demanda por residência em Rio das Ostras e um intenso fluxo de tráfego diário entre as duas cidades[…]” (CASTRO, 2003, p. 14).

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Vale destacar que Castro frisa um seguimento de migração envolvendo Rio das Ostras, isto é, o público com recursos para desfrutar das praias, dos restaurantes, dos locais de diversão e dos atrativos de um balneário. No entanto, emerge a indagação: novos moradores de Rio das Ostras em seu conjunto compunham esse seguimento sócio-econômico?

Desses migrantes de outras regiões que se instalaram no município de Rio das Ostras, conforme o Censo de 2000 “[…] o rápido crescimento dos últimos anos, a população de Rio das Ostras era de 36 mil habitantes. Nove anos depois, o número de pessoas morando no município cresceu para a impressionante marca de 265%, chegando aos atuais 96 mil” conforme dados do jornal eletrotônico, em comparativo ao último censo de 2010 o número de habitantes teve um aumento de 69.257 pessoas (IBGE), mais muitos destes indivíduos, por não possuírem qualificação profissional o mercado de trabalho não os absorve.

De modo que, Rio das Ostras também recebeu um contingente expressivo de elementos possuidor de força de trabalho não qualificada, sendo assim, não somente o público frequentador dos locais de diversão e entretenimentos pagos na cidade, mas setores vulneráveis da sociedade.

Tendo em vista este crescimento populacional em Rio das Ostras, o CREAS do município realizou em seus atendimentos um levantamento do perfil dos usuários atendidos pela instituição no ano de 2014 sobre a questão ocupação profissional na cidade.

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Tabela 1 – Empregos em Rio das Ostras CREAS – 2014

Conforme os dados apresentados no gráfico acima observamos que 57% são de desempregados, trabalhadores autônomos são de 6%, o trabalho informal de 15%, o trabalho formal de 3%, os aposentados sem dados e os não informados 19%, assim sendo os indicadores demonstram que a cidade já não comporta a força de trabalho que aqui se instalou. Posteriormente no ano de 2015 com grandes demissões e baixo índice empregatício a situação piorou. Muitos começam a tentar trabalho como

56,89% 5,69% 15,27% 2,69% 19,46% SITUAÇÃO PROFISSIONAL Desempregados Autônomo Trabalho Informal Trabalho Formal Aposentado Não Informado

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autônomo, free lance, etc. para tentar garantir o sustento de sua família. Segundo Poggian sobre a crise financeira atual:

A crise, atinge em cheio a nossa cidade; sobretudo o comércio, por conta das muitas demissões realizadas pelas empresas sediadas em Macaé. A construção civil, que era uma das alavancas da economia da cidade, também já passa por dificuldades, fruto da elevação do índice de desemprego na região. Neste momento de dificuldades é importante que o nosso comerciante invista mais na gestão do seu negócio e use a criatividade para driblar a crise, (Jornal Expresso on Line, 02/09/2015)

Outro elemento atual sobre o desemprego são os dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em 2015 segundo o Jornal Intertv as cidades da região tiveram uma significativa queda no número de empregos, como Macaé que fechou o ano de 2015 com menos 12168 postos de emprego e menos 7570 de serviços. Diferente do ano de 2014 que o saldo foi positivo: na época fechou o ano com mais 758 vagas de trabalho. Em Rio das Ostras o déficit em 2015 foi de 1969 postos de emprego fechados. Em 2014 a cidade fechou o ano no saldo positivo de 1761 vagas de trabalho. (INTER TV – Ministério do Trabalho divulga o balanço dos empregos formais em 2015 no interior do Rio – 21/01/2016)

Subsequentemente segundo a instituição CREAS na cidade de Rio das Ostras, a população em situação de rua, os sem tetos, cresce no município segundo os dados recentes, pois no período de agosto de 2013 até novembro de 2014, a população em situação de rua foi de 197 pessoas, sendo que 137 são migrantes, de um total de 334 atendimentos realizados pelo Creas de Rio das Ostras. (CREAS – RIO DA OSTRAS, 2014).

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58,98%

41,02% População em

Situação de Rua Migrantes

FONTE: CREAS RIO DAS OSTRAS DADOS POPULACIONAIS

Neste sentido a cidade de Rio das Ostras teve em 2014, 59% dos usuários atendidos pelo CREAS – RIO DAS OSTRAS em situação de rua e 41% de migrantes. Desta forma, o município com o crescimento populacional, a taxa de desemprego, a migração e a população em situação de rua nos leva a pensar no seu processo de urbanização tanto quanto o espaço populacional trabalhado para a espetacularização.

Nota-se que dos novos moradores do município são de seguimento sócio-econômico remunerado, mas também contingente de trabalhadores sem qualificação, precarizados e sem ocupação definida.

Com eventos tradicionais que ocorrem na cidade com as datas permanentes marcadas no calendário municipal e no seu processo de urbanização, tem levado ao incentivo do crescimento imobiliário, sendo assim, o espaço urbano transforma-se em mercadoria, ou seja, uma forma de cidade mercadoria.

A cidade mercadoria, inserida no processo de reprodução capitalista é motivada pelo fetiche espetaculoso, no qual o valor de troca sejam efetuados conforme as estratégias mercadológicas para atrair o público-alvo e a publicização de seus produtos e sua imagem. Na conformação de cidade mercadoria, segundo Carlos Vainer (2011) “[…] o mais importante mesmo é que cidade seja um atrativo de serviços especializados, com estrutura adequada que possibilite ao investidor, o retorno garantido”.

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