3 – A QUESTÃO DE GÊNERO NA GUARDA MUNICIPAL

Neste capítulo o objetivo é analisar as entrevistas realizadas com as Guardas

Municipais, que foram feitas como forma de coleta de dados para se identificar. Neste

contexto, de relações sociais de diferenças e competitividade, a essência da realidade

das Guardas Municipais de Rio das Ostras, bem como o perfil destas profissionais, se

há conflitos pelas mesmas vividos em seu cotidiano profissional e ao mesmo tempo a

existência ou não de traços machistas pelos colegas homens, enfim sua história como

mulher, cidadã de Rio das Ostras.

Na Guarda Municipal de Rio das Ostras a receptividade foi boa, para contribuir

com o trabalho proposto sobre Gênero na corporação. Fui apresenta por uma amiga

que é guarda municipal a chefe da guarda municipal de Rio das ostras, desta maneira

ao me apresentar e expor meu trabalho que ali gostaria de desenvolver, de imediato a

superior se pôs a contribuir no que fosse necessário, e assim foi feito.

Sob essa perspectiva este trabalho coletou as visões das mulheres Guardas

Municipais, sendo que a corporação da Guarda em Rio das Ostras é comandada por

uma guarda mulher. Daí surgem as indagações. Como é o cotidiano de trabalho entre

tantos homens? Ocorre machismo? Há tensão no local de trabalho? Ser mulher dificulta

de alguma maneira alguma atividade no cotidiano de trabalho?

Para a realização de nossa coleta de dados, foi possível entrevistar cinco

guardas municipais femininas durante reunião com o superior na hierarquia da Guarda

Municipal.

Foi perguntado na primeira questão: O que levou você a escolher a profissão de

Guarda Municipal de Rio das Ostras? Obteve-se como respostas ‘estabilidade

financeira, vocação e facilidade de acesso ao concurso público.

Verifica-se a partir das respostas que o ponto central percebido e a estabilidade

financeira possibilitada pela profissão, visto que ao se ingressar a partir de um concurso

público, permite maior segurança no emprego e garantia salarial. Em síntese, a

empregabilidade no serviço público é bem considerada socialmente para essas

trabalhadoras.

Tais relações favorecem o desenvolvimento da realização das necessidades e

do reconhecimento, na medida em que permite a adesão de mulheres na esfera pública

do município.

Na segunda pegunta foi questionado: se houve alguma resistência de algum

membro de sua família por sua opção profissional? A resposta foi negativa. Desse

modo, nota-se que há reconhecimento positivo por parte de familiares, ou seja, valoriza-

se a empregabilidade via concurso e a estabilidade no serviço público municipal.

Em relação a terceira questão: na sua vida pessoal você se sente apoiada pelo

seu companheiro? (marido, namorado). Observa-se que recebeu apoio de seus

companheiros, sendo que dois são guardas municipais. Outra referência positiva é que

o companheiro entende que “o trabalho é importante”.

Na quarta pergunta: no seu cotidiano de trabalho na instituição da Guarda

Municipal como é a abordagem dos seus colegas masculinos? Todas as cinco

respostas informam que é respeitoso. Pode-se observar que não apareceu no

questionário relações de conflito, de fato não sabemos se há acontecimentos a

discriminação de gênero; talvez a entrevista no interior da Guarda Municipal e próximo

a hierarquia não tenha favorecido uma resposta aberta. No entanto, é importante

registrar um comentário à resposta “Na área de segurança, assim como em todas as

outras a mulher tem se impor profissionalmente e mostrar sua competência. E caso

falte o respeito, é só ensiná-lo como passar a tê-lo”.

Desta forma, embora não tenha aparecido discriminação de gênero, a escrita

sugere a necessidade da mulher se impor profissionalmente “e caso falte respeito, é só

ensiná-lo a tê-lo”. O que deixa nas entrelinhas a possibilidade de ocorrência.

Quanto a quinta questão foi perguntado: Se você tem conhecimento da

existência de algum fato no exercício da função de Guarda Municipal do município de

discriminação de gênero? A totalidade foi negativa não dispondo de elementos para a

análise nesse item.

Sobre a sexta pergunta: Como você define sua rotina de trabalho? A resposta

obtida foi que quatro guardas consideram sua rotina de trabalho tranquila e somente

uma respondeu exaustiva.

A rotina profissional depende o lugar que se é designando a exercer sua

função, isto influencia no cotidiano profissional permeado por funções diversificadas da

guarda municipal.

Em relação a sétima pergunta: Dentro das atividades distributivas de trabalho

na instituição Guarda Municipal você percebe discriminação? Como respostas se

obteve a negativa de que não existe na divisão de tarefas a discriminação por todas as

entrevistadas. Sendo assim não há dados para serem analisados neste inciso.

Contudo, é importante observar o silêncio, não diz que há discriminação, nem atesta

medidas da corporação no sentido de combater a discriminação por gênero.

Com referência a oitava indagação: Q

Com referência a oitava indagação: Qual a sua postura diante de uma situação de constrangimento no desempenho da sua função? Houve diversas respostas entre as Houve diversas respostas entre as cinco entrevistadas como “com uma boa conversa se resolve tudo”, “chamo a

cinco entrevistadas como “com uma boa conversa se resolve tudo”, “chamo a

autoridade maior”, “dependendo da situação, assumo diferentes posicionamentos como

denunciar para que o chefe imediato tome as medidas cabíveis”, “falo sobre a lei e tento

agir com justiça” e finalmente “ainda não passei por este tipo de situação e raramente

algo me constrange”.

Conforme as respostas acima observa-se que na realidade nenhuma guarda

municipal passou por situações de constrangimentos, fica demonstrado que as guardas

têm a ação de procurar agir na sua defesa como mulher e profissional caso haja a

ocorrência de uma situação que as constranja no ambiente profissional. Além disso,

uma das respostas informa que “raramente algo me constrange”, mas não pontua

acerca de que é o constrangimento, ou se esse constrangimento ocorre no local de

trabalho, ou na corporação, ou em outro lugar.

Na nona questão: C

Na nona questão: Como você entende que a questão de gênero pode ser considera pela corporação? As guardas entrevistadas consideram a questão de gênero na corporação como “tem de ser considerada com mais igualdade”, “hoje deve ser levadas em conta as peculariedades de cada pessoa, mas no trabalho desempenhamos as mesmas funções que os homens, mas cada caso é um caso diferente”, “sem distinção”, duas não responderam. Nota-se uma certa incompreensão quanto à questão de gênero, pois traz o problema para o sentido pessoal. Verifica-se a

necessidade de se trabalhar a problemática da questão de gênero na instituição, na medida em que torna-se importante a compreensão dos temas relacionado a gênero numa visão histórica, social e cultural.

Na décima questão em relação à questão de gênero na Guarda Municipal de Rio das Ostras, você gostaria de escrever algo que não perguntamos? Não houve nenhuma resposta.

Nas respostas das guardas municipais observarmos que é relevante que essas profissionais reflitam na sua própria identidade, estimulando-se dentro da própria instituição debates sobre gênero, um reexame da realidade social institucional, pois em sua maioria a corporação da guarda municipal é composta por homens.

CONCLUSÃO

Como descrito no trabalho, gênero é uma categoria historicamente construída para designar a classificação culturalmente de feminino e masculino. Pois gênero é uma forma de construção social para diferenciar a sexualidade física dos indivíduos, ou seja, estabelece significados distintos para as diferenças corporais, os órgãos genitais. Portanto gênero não é uma designação natural é algo construído com o desenvolvimento social, ou seja, o comportamento dos sujeitos e os processos sociais.

Desta forma a categoria gênero e o papel da mulher na sociedade estão interligados, porém ainda na contemporaneidade a mulher tem uma posição social inferior à do homem nesta relação social, visto que na produção de capitalista a força de trabalho feminina é extremamente desvalorizada, com salários inferiores à dos homens. Uma associação de gênero com o trabalho assalariado, como também neste contexto vemos a mulher casada, mãe com dupla jornada de trabalho e sob o julgo de marido machista.

Por estes aspectos diferenciados entre homem e mulher ficou demonstrado neste trabalho, que as construções sociais no percurso da história e da cultura fazem com que a mulher seja uma figura em constante busca por sua identidade, para romper com a condição de encarceramento e de subalternidade num meio predominantemente machista, pois o homem foi educado como um ser individualista e um ser superior a mulher, fruto das relações sociais, que resultou na opressão das mulheres pelos homens ao longo da história.

Posteriormente surgiu o feminismo, no qual as mulheres através da luta coletiva se conscientizam de seus direitos, como a igualde política e o respeito por sua integridade física, ou seja, a não agressão por parte de seus companheiros. Entretanto há muito ainda se conquistar nesta sociedade machista, uma vez que são raros os homens, que compartilham com suas companheiras a divisão das tarefas domésticas e também a educação dos filhos, entre tantas outras multitarefas que são designadas femininas.

Apesar de a mulher ter conquistado mais espaço na sociedade contemporânea, a figura feminina ainda não tem equiparação salarial ao do homem, a sobrecarga da jornada dupla permanece, dado que a cultura machista, paternalista permanece enraizada na socialmente.

Também foi analisado no município de Rio das Ostras suas peculariedades de cidade mercadoria, e percebemos que houve no município um grande crescimento urbano quanto populacional, ao qual a cidade não estava preparada para enfrentar.

Neste processo de desenvolvimento multifacetado das relações cotidianas do município, ficou o destaque da violência de gênero, no qual surge o “Movimento Chega de Estupro” chamando a sociedade local para que juntos possam enfrentar esta violência e cobrar ações das autoridades municipais competentes para coibir esse tipo de crime.

Em relação ao que foi mencionado sobre gênero e sua historicidade até os dias atuais, sendo que a proposta deste trabalho foi analisar as questões de gênero na Guarda Municipal de Rio das Ostras, ação realizada através de entrevistas, percebemos que mesmo na análise das respostas não tenha demonstrado discriminação de gênero, o cotidiano profissional da guarda municipal perpassa por uma hierarquia de comando, este modelo de organização de trabalho muitas das vezes limita o profissional de se expressar, através de normas e condutas, o que pode ter influenciado na fala destas profissionais.

Vale mencionar que observa-se mulher ocupando posto de importância no interior da Guarda Municipal de Rio das Ostras, no entanto, esse espaço não esteve vinculado às questões de discussão de gênero, mas a outros fatores aflorado no interior da instituição. Deve-se mencionar o esforço das mulheres no interior desse processo que conseguem evoluções nessa carrera, que ascendem com muitos méritos.

Entretanto, deve-se chamar a atenção para o fato de se ter uma Guarda Municipal, com mulheres na instituição em diferentes posições de comando, mas o município de Rio das Ostras vivencia o aumento de caso de estupros e de violência de gênero. Sendo assim, percebe-se indícios de que se deveria aprofundar a discussão

dos temas relacionados a gênero e a questão da mulher nas instâncias de segurança pública da cidade.

Diante do exposto referente a questão de discriminação de gênero, este trabalho abre novas expectativas para pesquisas futuras sobre as novas percepções da categoria gênero em outros contextos institucionais, observando-se se há ou não discriminação nestes espaços a serem pesquisados.

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WEBGRAFIA

No documento A Guarda Municipal de Rio das Ostras/RJ e os desafios das questões de gênero (páginas 51-64)