• Nenhum resultado encontrado

2.1 – RIO DAS OSTRAS E A RELAÇÃO CIDADE MERCADORIA

O município de Rio das Ostras é um balneário geograficamente situado a 170 km do estado do Rio de Janeiro, cidade turística com uma variedade de atrações, “praias, lagoas um circuito eco rural recheado de delícias da culinária da “roça”. Por

possuir um litoral de 28 quilômetros de extensão, tinha como principal atividade a pesca sendo esta desenvolvida até hoje. Possuindo eventos culturais o município tem em seu calendário anual, atrações permanentes como o encontro de motoqueiros, Festival de Blues e Jazz. Festival Frutos do Mar como também outros eventos.

Na década de 1970 Rio das Ostras converteu-se em o terceiro distrito de Casimiro de Abreu, mas a cidade teve um crescimento acelerado com um grande fluxo turístico. A posteriori foi feito um plebiscito para a emancipação da cidade que se deu em 10 de abril de 1992, levada a categoria de município, quando se desmembrou da cidade de Casimiro de Abreu.

Plebiscito/Eleições de 1993 No início do século XX, Rio das Ostras era carinhosamente chamada de Terra dos Peixes, uma simples aldeia de pescadores com abundante pesca no rio e mar, segundo depoimentos dos antigos moradores que foram reunidos em um livro de mesmo título, primeiro exemplar do Projeto Memória da Fundação Rio das Ostras de Cultura, publicadoem1997. (Cabo Frio News. 05/06/2012)

A emancipação político-administrativa aconteceu devido ao acelerado crescimento, tanto populacional quanto econômico, que o então distrito vivenciou; não justificando mais sua categoria de distrito.

O município de Rio das Ostras conforme o Censo em 2010 sua população era constituída de 105.676 habitantes e estimado no ano de 20156 em 131.976 habitantes,

com espaço de territorial de (Km²) 229,044, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

A realidade do cotidiano do município se transforma com o rápido crescimento populacional como vemos no gráfico abaixo, sendo, pois Rio das Ostras situada nas proximidades do município de Macaé, no qual se instalaram inúmeras empresas voltadas a produção de petróleo, tendo a Petrobras como a principal empresa de produção de petróleo, contribuindo para a vinda de inúmeras pessoas para morar em Rio das Ostras, pois um dos facilitadores é a rodovia Amaral Peixoto que atravessa o município desde da década de 1950 (um dos fatores também do desenvolvimento da cidade) e estes vem em busca de uma oportunidade de trabalho na área de petróleo.

Como citado acima devido a sua proximidade com a cidade de Macaé o município de Rio das Ostras pode ser considerado cidade dormitório, pois uma parcela das pessoas que trabalham e estudam em Macaé preferem morar em Rio das Ostras, como Castro no relata:

[…]Rio das Ostras é, por assim dizer, “o vizinho mais bonito” de Macaé.

Rio das Ostras é uma cidade de pousadas, restaurantes, locais de diversão para turistas e casas de veraneio. Suas praias são agradáveis e relativamente bonitas. Já Macaé sempre foi uma cidade feia, quente e com um litoral sem nenhum atrativo. A consequência é que boa parte dos que trabalham durante a semana em Macaé preferem morar em Rio das Ostras. Isso provoca um aumento da demanda por residência em Rio das Ostras e um intenso fluxo de tráfego diário entre as duas cidades[…]” (CASTRO, 2003, p. 14).

Vale destacar que Castro frisa um seguimento de migração envolvendo Rio das Ostras, isto é, o público com recursos para desfrutar das praias, dos restaurantes, dos locais de diversão e dos atrativos de um balneário. No entanto, emerge a indagação: novos moradores de Rio das Ostras em seu conjunto compunham esse seguimento sócio-econômico?

Desses migrantes de outras regiões que se instalaram no município de Rio das Ostras, conforme o Censo de 2000 “[…] o rápido crescimento dos últimos anos, a população de Rio das Ostras era de 36 mil habitantes. Nove anos depois, o número de pessoas morando no município cresceu para a impressionante marca de 265%, chegando aos atuais 96 mil” conforme dados do jornal eletrotônico, em comparativo ao último censo de 2010 o número de habitantes teve um aumento de 69.257 pessoas (IBGE), mais muitos destes indivíduos, por não possuírem qualificação profissional o mercado de trabalho não os absorve.

De modo que, Rio das Ostras também recebeu um contingente expressivo de elementos possuidor de força de trabalho não qualificada, sendo assim, não somente o público frequentador dos locais de diversão e entretenimentos pagos na cidade, mas setores vulneráveis da sociedade.

Tendo em vista este crescimento populacional em Rio das Ostras, o CREAS do município realizou em seus atendimentos um levantamento do perfil dos usuários atendidos pela instituição no ano de 2014 sobre a questão ocupação profissional na cidade.

Tabela 1 – Empregos em Rio das Ostras CREAS – 2014

Conforme os dados apresentados no gráfico acima observamos que 57% são de desempregados, trabalhadores autônomos são de 6%, o trabalho informal de 15%, o trabalho formal de 3%, os aposentados sem dados e os não informados 19%, assim sendo os indicadores demonstram que a cidade já não comporta a força de trabalho que aqui se instalou. Posteriormente no ano de 2015 com grandes demissões e baixo índice empregatício a situação piorou. Muitos começam a tentar trabalho como

56,89% 5,69% 15,27% 2,69% 19,46% SITUAÇÃO PROFISSIONAL Desempregados Autônomo Trabalho Informal Trabalho Formal Aposentado Não Informado

autônomo, free lance, etc. para tentar garantir o sustento de sua família. Segundo Poggian sobre a crise financeira atual:

A crise, atinge em cheio a nossa cidade; sobretudo o comércio, por conta das muitas demissões realizadas pelas empresas sediadas em Macaé. A construção civil, que era uma das alavancas da economia da cidade, também já passa por dificuldades, fruto da elevação do índice de desemprego na região. Neste momento de dificuldades é importante que o nosso comerciante invista mais na gestão do seu negócio e use a criatividade para driblar a crise, (Jornal Expresso on Line, 02/09/2015)

Outro elemento atual sobre o desemprego são os dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em 2015 segundo o Jornal Intertv as cidades da região tiveram uma significativa queda no número de empregos, como Macaé que fechou o ano de 2015 com menos 12168 postos de emprego e menos 7570 de serviços. Diferente do ano de 2014 que o saldo foi positivo: na época fechou o ano com mais 758 vagas de trabalho. Em Rio das Ostras o déficit em 2015 foi de 1969 postos de emprego fechados. Em 2014 a cidade fechou o ano no saldo positivo de 1761 vagas de trabalho. (INTER TV – Ministério do Trabalho divulga o balanço dos empregos formais em 2015 no interior do Rio – 21/01/2016)

Subsequentemente segundo a instituição CREAS na cidade de Rio das Ostras, a população em situação de rua, os sem tetos, cresce no município segundo os dados recentes, pois no período de agosto de 2013 até novembro de 2014, a população em situação de rua foi de 197 pessoas, sendo que 137 são migrantes, de um total de 334 atendimentos realizados pelo Creas de Rio das Ostras. (CREAS – RIO DA OSTRAS, 2014).

58,98%

41,02% População em

Situação de Rua Migrantes

FONTE: CREAS RIO DAS OSTRAS DADOS POPULACIONAIS

Neste sentido a cidade de Rio das Ostras teve em 2014, 59% dos usuários atendidos pelo CREAS – RIO DAS OSTRAS em situação de rua e 41% de migrantes. Desta forma, o município com o crescimento populacional, a taxa de desemprego, a migração e a população em situação de rua nos leva a pensar no seu processo de urbanização tanto quanto o espaço populacional trabalhado para a espetacularização.

Nota-se que dos novos moradores do município são de seguimento sócio- econômico remunerado, mas também contingente de trabalhadores sem qualificação, precarizados e sem ocupação definida.

Com eventos tradicionais que ocorrem na cidade com as datas permanentes marcadas no calendário municipal e no seu processo de urbanização, tem levado ao incentivo do crescimento imobiliário, sendo assim, o espaço urbano transforma-se em mercadoria, ou seja, uma forma de cidade mercadoria.

A cidade mercadoria, inserida no processo de reprodução capitalista é motivada pelo fetiche espetaculoso, no qual o valor de troca sejam efetuados conforme as estratégias mercadológicas para atrair o público-alvo e a publicização de seus produtos e sua imagem. Na conformação de cidade mercadoria, segundo Carlos Vainer (2011) “[…] o mais importante mesmo é que cidade seja um atrativo de serviços especializados, com estrutura adequada que possibilite ao investidor, o retorno garantido”.

Uma vez que, muitos que aqui fixam residência vêm para o município em busca de melhores condições de vida, devido a propaganda que se faz da cidade: melhor cidade para se morar e investir. Contudo os fatos sociais demonstrados acima que exprimem as desigualdades sociais, ou seja, expressões da questão social, vividas pela população do município não condiz com a publicização da cidade.

As cidades são alvos de investimentos e competição, onde tentam desenvolver capacidades para criação de atrativos melhores que as outras. Caráter este, de empresa, pois na corrida de mercado, ganha quem tem mais inovação e tecnologia.

Por conseguinte, como afirma Vainer (2011), a identidade política. “[…] o espaço da cidade não é mais pensado no plano político senão em termos de gestão; não é mais construído como território de exercício da democracia local”, ou seja, o vínculo do Estado com a sociedade nas últimas décadas é a relação da despolitização. (Dreyfuss&Marchand apud Vainer 2011, p.90)

Deste modo, em Rio das Ostras na gestão administrativa de Carlos Augusto inaugurou-se a “Zona Especial de Negócios (ZEN) em 2007, foi construída em uma área com um milhão de metros quadrados, possui 29 empresas em atividade”, visando grandes investimentos com a participação do Estado, dessa maneira, a cidade empresa – Rio das Ostras é lucrativa dando um direcionamento ao planejamento estratégico da cidade.

Portanto esta estratégia de planejamento cria uma grande especulação imobiliária no município, espaço social urbano marcado por grandes contradições, enquanto observa-se grandes construções de condomínios como “Alphaville Rio Costa do Sol, um empreendimento que oferece um condomínio fechado com espaços planejados próximo de Macaé e do centro de Rio das Ostras”. Outro exemplo e também de grande porte é o Viverde Residencial, que nos parâmetros o Alphaville constitui seu projeto como:

Um empreendimento que traz uma nova perspectiva à Região do Lagos. Inovador e completo, o Viverde foi elaborado seguindo os mais altos padrões da construção civil. Com projeto paisagístico assinado pelo escritório Burle Marx, o empreendimento cria uma conexão surpreendente com a natureza. São bosques e ruas arborizadas, que completam o ar bucólico e agradável do lugar.

São terrenos a partir de 440m², com áreas de lazer exclusivas e bosque privativo. O Viverde é o primeiro bairro planejado de Rio das Ostras, oferecendo aos seus futuros habitantes um novo estilo de viver.

O Viverde é mais que um empreendimento, é o primeiro bairro planejado de Rio das Ostras, oferecendo conveniências em um centro comercial anexo ao empreendimento e uma estrutura completa de segurança, garantindo a tranquilidade dos moradores.

(http://www.viverderesidencial.com.br/projeto)

Estes empreendimentos são direcionados para um público específico, ou seja, uma minoria, como grandes empresários, pessoas de com poder aquisitivo elevado, investidores, entre outros que veem em Rio das Ostras uma perspectivava lucrativa de crescimento e rentabilidade e retorno concreto. Logo a maioria da população, trabalhadores sem qualificação, tem como locais de moradia a periferia da cidade e muitas vezes em casas simples e até mesmo aluguéis, em espaços que ocorrem enchentes e alagamentos, pois no município a drenagem é deficitária.

Desta forma, verificamos que mesmo com ações de implementação do Programa do governo Minha Casa Minha Vida no município, este não alcança a maioria da população, sendo que os trabalhadores de baixa renda não alcançam o teto exigido por este programa, pois é muito difícil conseguir ser contemplado, devido a renda mínima ser de R$ 1.600,00 conforme descrito abaixo:

Poderão se inscrever no Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV, os candidatos que preencherem todos os requisitos abaixo:

a) Possuir renda bruta familiar mensal de até R$1.600,00 (hum mil e seiscentos

reais);

b)Não ser proprietário ou possuidor de imóvel urbano ou rural; c) Não haver sido contemplado com outro imóvel em programas habitacionais,

nacionais, estaduais ou municipais;

d)Estar de acordo com a prestação de no máximo 5% (cinco por cento) da

renda familiar que corresponde a R$ 80,00 (oitenta reais) ou valor mínimo de R$25,00 (vinte e cinco reais) mensais, conforme Decreto Presidencial nº 7.795,

de 24/08/2012;

e)Ter idade mínima de 18 anos ou ser emancipado.

(http://www.riodasostras.rj.gov.br/habitacao/)

Desta maneira o trabalhador assalariado fica inviável de adquirir o imóvel, pois há a necessidade de comprovação de renda, sendo um dos requisitos para a inscrição

no programa, entre outras exigências. Como podemos exemplificar os trabalhadores informais (ambulantes diversos e autônomos), tendo estes a dificuldade de comprovante de renda mensal, assim sendo, são inúmeras barreiras para aquisição da casa própria. Vale destacar também que o programa Minha Casa Minha Vida não vem desenvolvendo as considerações acerca da “Questão de Gênero” nos critérios de inclusão no financiamento.

Consequentemente muitos tem de esperar a parceria da Prefeitura com o Governo Federal para se cadastrar no Programa Minha Casa Minha Vida, uma política mercantil existente nos programas de governo federal. As inscrições são feitas através de editais com local e data predeterminados.

Nesta concepção Rio das Ostras cidade mercadoria/negócio "A mercadotecnia da cidade, vender a cidade, converteu-se [...] em Uma das funções básicas dos governos locais..." (Borja & Forn, 1996, p. 33 – grifo do autor), ocorre também com os eventos e/ou mega eventos como já citado Festival Jazz e Blues, Festival Gastronômico, Feira OFFshore, etc, que atrai visitante todos os anos com intuito de serem absorvidas pelo mercado de trabalho, ou seja, fazer a roda do capital girar, são as chamadas demandas solváveis, porém quem aqui chega, não quer mais ir embora, porém como já citado acima não há empregos para todos no município.

Diante do exposto neste item pode-se concluir que a processualidade urbana desenvolvida em Rio das Ostras a faz como cidade mercadoria inserida na região próxima a Macaé, tendo a sua constituição de valor e produto no mercado os aspectos de “cidade bonita”, litorânea com atrativos naturais e de diversão para um público com grande poder aquisitivo. No entanto, essa cidade mercadoria não tem enfrentado o crescimento da pobreza e tampouco tem considerado as questões de gênero nesse processo.

Documentos relacionados