EDITOR CIENTÍFICO
Paulo Sérgio de Sena UNIFATEA, Brasil
EDITOR GERENTE
Maria Cristina Marcelino Bento
REVISORES
Bianca Siqueira Martins Domingos UNIFATEA Maria Cristina Marcelino Bento UNIFATEA Paulo Sérgio de Sena UNIFATEA
DIAGRAMAÇÃO e PROJETO GRÁFICO
Lucas Placer Gonçalves
CONTATO
Maria Cristina Marcelino Bento Centro Universitário Teresa D’Ávila UNIFATEA - Núcleo de Publicações Av. Peixoto de Castro, 539, Vila Celeste 12606-580 - Lorena - SP Brasil
TELEFONE: (12) 2124-2817 E-MAIL: PEDAGOGIA@FATEA.BR CONTATO DE SUPORTE
Paulo Sérgio de Sena
Telefone: (12) 2124-2928 E-mail: pssena@gmail.com
CONSELHO EDITORIAL Ana Maria Di Grado Hessel
PUC/SP, Brasil
Giana Raqule Rosa
Universidade Federal de Alagoas
Lucio Mauro da Cruz Tunisse
UNIFATEA, Brasil
José Luiz de Miranda Alves
UNIFATEA, Brasil
Luiz Eduardo Correa Lima
UNIFATEA, Brasil
Marco Aurélio Tupinambá Viana Filho
UNIFATEA, Brasil
Neide Aparecida Arruda de Oliveira
UNIFATEA, Brasil
Ricardo Mendonça Neves dos Santos
UNIFATEA, Brasil
Wellington de Oliveira
UNIFATEA, Brasil
Política de Acesso Livre
Esta revista oferece acesso livre imediato ao seu conteúdo, seguindo o princípio de que disponibilizar gratuitamente o conhecimento
científico ao público proporciona maior democratização mundial do conhecimento.
Estudos Interdisciplinares em Educação | Centro Universitário Teresa D’Ávila. - Vol. 2, n. 5 (2019) - Lorena SP:
Semestral ISSN 2594-7567
1. Estudos Interdisciplinares em Educação - Periódicos.2.
Foc
o e Esc
opo
E
studos Interdisciplinares em Educação é uma revista semestral, que tem como finalidade socializar resultados e con-tribuições de pesquisas sobre práticas educativas interdisciplinares, composta por es-tudos inovadores para a educação, mediado pelo diálogo com a historicidade local e global tangen-ciada pela produção acadêmica dos grupos de pesquisa institucional e interinstitucional.
Acessibilidade artístico-literária por meio de uma proposta
interdisciplinar factível: “água funda”, de Ruth Guimarães, em
cordel ...6
Alana Diniz Vieira
João Gabriel Hajar Ribeiro Alves Deise Aparecida Carelli Reis de Oliveira José Augusto dos Santos Diniz
A potencialidade do uso de jogos educacionais tipo rpg no
desenvolvimento da educação escolar ...16
Alessandro Patrocínio da Silva Hiroshi kuwahara
Miguel Adilson de Oliveira Júnior
Educomunicação científica: interseções entre rádio,
popularização das ciências e cidadania. ...24
Alessandro Augusto de Barros Façanha Ana Gabriela Nunes Portela
Entre saberes e fazeres do Campo, a identidade Geraizeira: a
construção e o desenvolvimento de um projeto de trabalho
interdisciplinar em escolas do Campo no Norte de Minas
Gerais ...36
Adrielle Ferreira da Silva Álida Angélica Alves Leal Rafael Rabelo Arcanjo Ravi José Duarte Herzog
Fungos micorrizícos arbusculares: abordagem no Ensino de
biologia ...54
Paulo Sérgio dos Santos Junior Franciane Diniz Cogo
Lucíola Lucena de Sousa
Música, história e direitos humanos: ensino e aprendizado na
busca pela igualdade ...64
Diego L. R. de Almeida Ravila de Melo Costa Rafaela Dantas Sobrinho Rosa Maria Tenório Farias
Ferramenta Maslach Burnout Inventory (mbi) para a Gestão da
Atividade Docente em Sala de Aula ...79
Ariane Gervazio Clemente Letícia Maria João
Paulo Sergio de Sena
Expositor para divulgação dos riscos à saúde pública associados
ao pombo doméstico Columba Livia ... 86
Daniel Gomes Salomão
Larissa Renata do Prado Maciel Stephanie Chrispim
Ricardo Mendonça
Claudio Donato de Oliveira Santos
Suporte aos professores com dificuldades para lecionar ...97
Acessibilidade artístico-literária
por meio de uma proposta
interdisciplinar factível: “água
funda”, de Ruth Guimarães, em
cordel
Alana Diniz Vieira
graduanda em Letras (Português/Inglês) pelo Centro Universitário Teresa D’Ávila
(UNIFATEA). Atua como professora na rede Poliedro de educação. Integrante do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID).
João Gabriel Hajar Ribeiro Alves
graduando em Letras (Português/Inglês) pelo Centro Universitário Teresa D’ Ávila (UNIFATEA). Atuou como professor do projeto de extensão universitária da Faculdade da Terceira Idade (FATI). Interessa-se por literatura e estudos sistêmicos da Língua Portuguesa.
Deise Aparecida Carelli Reis de Oliveira
Mestre em design tecnologia e inovação pelo centro universitário teresa d´ávila - unifatea, lorena, sp. (2017). Artista plástica, desde 1989 participa de exposições individuais e coletivas. Atua como professora dos cursos de graduação e pós-graduação no UNIFATEA.
José Augusto dos Santos Diniz
Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté (2019). Advogado. Graduado em Direito pelo Centro Universitário Salesiano São Paulo (2013), graduado em Letras com habilitação em inglês pelas Faculdades Integradas Teresa D’Ávila (2015). Atualmente é professor no UNIFATEA.
Resumo
Palavras-chave:
A presente pesquisa trata de um trabalho interdisciplinar entre dois
cursos (Design e Letras) de uma instituição privada localizada no Vale
do Paraíba, interior de São Paulo. Para sua realização, trabalhou-se
acessibilidade da literatura regional, especificamente da obra Água
Funda, de Ruth Guimarães, por meio da arte de xilogravura. A
abor-dagem é de cunho descritivo e qualitativo. Por fim, é apresentado um
produto da junção disciplinar, visando apresentar a acessibilidade
ar-tístico-literária por intermédio de um trabalho factível.
Abstract
Key-words:
The present research deals with an interdisciplinary work between
two courses (Design and Letters) of a private institution located in
Vale do Paraíba, in the interior of São Paulo. For its accomplishment,
work was done accessibility of the regional literature, specifically of
the work DeepWater, of Ruth Guimarães, through the art of woodcut.
The approach is descriptive and qualitative. Finally, a product of the
disciplinary junction is presented, aiming to present artistic-literary
accessibility through workable work.
8
Intr
oduç
ão
A
presente pesquisa discorre sobre um trabalho interdisciplinar fruto de uma parceria entre os Cursos de Design e de Letras de uma Instituição privada localizada no Vale do Paraíba, interior de São Paulo. Para sua realização, visou-se à acessi-bilidade da literatura regional por meio da arte de xilogravura e da adaptação em cordel.A temática para elaboração dos cordéis foi a obra Água Funda (1946) da escritora vale-parai-bana Ruth Guimarães. Posteriormente, os cor-déis foram confeccionados em formato de li-vretos com ilustração em xilogravura.
Do ponto de vista teórico, para tratar da es-critora Ruth Guimarães e de sua obra Água Funda, o trabalho fundamentou-se em análises de Cândido (2003) e Antônio (2015). Para tratar da xilogravura, embasou-se em Costella (2006) e em Maxado (1982) e, para tratar da literatura de cordel, baseou-se em Marinho (2012).
A poesia de cordel é um importante meio de comunicação e expressão, compõe-se de frases, de linearidade e de um discurso temporal e ri-mas de palavras para narrar um fato ou contar uma história. Da mesma forma, a xilogravura consiste em um meio de comunicação, no en-tanto se dá por meio da reprodução de imagens feitas sobre uma prancha de madeira e com o auxílio de goivas.
Assim, atento a essas formas de comunica-ção e a necessidade de difusão artística, o pre-sente trabalho justifica-se acadêmica e social-mente. Isso porque traz contribuições para a Academia, ao colocar à disposição uma abor-dagem interdisciplinar, e para a sociedade, ao propiciar um relato de disseminação artística viável.
Por fim, quanto aos objetivos deste artigo, cumpre ressaltar que a pesquisa teve por esco-po descrever a confecção de um produto da ex-periência compartilhada entre os cursos men-cionados. Especificamente, buscou-se apre-sentar um trabalho factível de acessibilidade artístico-literária.
9
R
ef
er
encial
teóric
o
A Literatura
A
literatura consiste em registros de povos em diversos períodos da his-tória, que caracterizam e marcam o espaço-tempo em que viveram. Em uma entrevista concedida a estudantes da pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Bosi (2012) disse sobre a autonomia literária: (...) não há nada que seja específico, tudo tem relação com o outro, que é um outro que o transcende. (BOSI. 2012, s/d)Segundo Bosi (2012) o exercício no campo da literatura, assim como na arte, vai além de suas funções específicas (individuais) ao en-contro de ações de formação e representação da cultura de um povo.
Assim, como muitas formas de expressão humana, a literatura reflete a sociedade em que está inserida. Para Cândido (2006, p. 31): “A atuação dos fatores sociais varia conforme a arte considerada e a orientação geral a que obedecem as obras. Estas — de um ponto de vista sociológico — podem dividir-se em dois grupos, dando lugar ao que chamaríamos dois tipos de arte, sobretudo de literatura.”
Dentro da literatura regionalista, Guimarães faz, como alguns autores modernistas, a ex-posição da identidade cultural de sua re-gião, nesse caso, a cultura caipira. Em uma entrevista ao jornal da União Brasileira de Escritores (UBE), a autora discorre:
A minha literatura é regionalista, porque eu sou caipira. O escritor regionalista tem que ser uma pessoa do povo, que vive o que o povo vive, e que tenha burilado sua linguagem a ponto de ser capaz de transmitir com fidelidade e apuro linguístico a maneira de pensar e de viver do homem do povo. Eu sou caipira. Eu vivi a cul-tura da cidade pequena, e contei uma história (no romance Água funda, de 1946) que respei-ta o pensamento e a linguagem caipira. E não só isso, mas respeitando a maneira do caipira de contar uma história, a sua maneira de pôr a linguagem (GUIMARÃES, 2013, p. 14).
10
Ruth Guimarães – autora
de Água Funda (1946)
Ruth Guimarães Botelho, filha de Cristino Guimarães e Maria Botelho, nasceu em Cachoeira Paulista – SP, no dia 13 de junho de 1920. Estudou nas cidades de Cachoeira Paulista, Lorena, São Paulo, Guaratinguetá e formou-se em Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Trabalhou em diversas editoras como revisora, tradutora, escreveu artigos, crônicas e críticas literárias para jornais e revistas. Segundo Antônio (2015, p. 4):
Uma das mais expressivas dualidades pode ser assim apresentada: de um lado, a romancista de Água Funda (1946) [...] autora que se reconhece e reitera sua identidade no pertencimento à li-teratura regionalista, à cultura caipira do Vale do Paraíba; de outro lado, a tradutora erudita, a latinista que faz uma admirada tradução de O asno de ouro, de Apuleio, estudada em diver-sas universidades, tradutora também de autores clássicos franceses, como Balzac e Daudet, as-sim como autora de um dicionário de mitologia grega, adotado em muitas faculdades.
Foi discípula de Mário de Andrade que a in-fluenciou nos estudos sobre folclore e literatura popular. Em 1946, Guimarães publicou sua pri-meira obra pela Editora da Livraria Globo, cha-mada Água Funda. Esta obra recebeu bastantes elogios. Segundo Candido (2003, p.7), “exprime bem o equipamento cultural e a visão de mun-do de Ruth Guimarães, prosamun-dora de qualida-de e conhecedora profunda da cultura popular brasileira”.
Em Água Funda, tem-se o cenário de uma típica cidade pequena do sul de Minas sofrendo com as mudanças da vindoura globalização do século XX, ou seja, com pessoas sendo substituídas por máquinas, carroças e cavalos por carros e cami-nhões, dentre outras circunstâncias desta nova era; porém, dentre estes acontecimentos temos os personagens e seus problemas e angústias.
Contexto regional
O Vale do Paraíba é rico em seu complexo de conhecimentos, crenças, arte, costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos devido à pre-sença do colonizador, do índio e da influência africana (MAIA, 2001). Essas presenças de acor-do com Maia (2001, p. 31) “tiveram, como resul-tado, uma rica cultura ligada à maneira de sen-tir, de pensar, de viver e de agir de seu povo.” Há na literatura de Ruth Guimarães a valorização da cultura regional vale-paraibana por meio do caipira, seus mitos, crenças e fala. Desta forma, “podemos sentir, assim, a realidade viva de uma região, com sua natureza, os seus costumes, os seus tipos humanos e também a magia insinuan-te dos mistérios que a mitologia popular expri-me” (CÂNDIDO, 2003, p.9).
A literatura de cordel
Ascendente da cultura portuguesa, o cordel bra-sileiro constrói-se na virada do século XIX. Nesse período, um contexto rural, precário e excludente movimenta homens nordestinos para as grandes cidades. Inicialmente, não se classifica como um gênero literário reconhecido. Apenas, depois é reco-nhecido, sendo divulgado pela classe média para os não-letrados. Para Marinho (2012, p.19), “no Brasil, [...] os folhetos eram consumidos coletivamente” e produzidos pela massa de migrantes da classe po-bre. Tal necessidade de uma produção popular se faz à medida que o universo de experiências passa transpor para o papel a história de um povo que car-rega consigo não só seu sofrimento, mas, também, as influências de sua identidade cultural.
A xilogravura
A xilogravura é uma técnica milenar de re-produção de imagem iniciada durante a Idade Média. Consiste em gravar sobre uma prancha de madeira um desenho em relevo com auxílio de goivas (COSTELLA, 2003).
As xilogravuras são feitas pela impressão (so-bre o papel ou outro suporte) de uma matriz entalhada em madeira. Por sua aparente
sim-11
plicidade, a xilogravura é a mais espontânea das técnicas gráficas. Da simplicidade, porém, ela permite nascer uma formidável riqueza em arte, dotada de encantos sem fim. (COSTELLA, 2003, p.9.)
Depois de anos de altos e baixos dentro de nossa cultura, a xilogravura voltou a ganhar notorieda-de com o paraibano Francisco Firmino notorieda-de Paulo, conhecido como Rufino, que, ajudado por sua família, imprimiu folhetos ilustrados. Isso ge-rou uma maior visibilidade e gradativamente a xilogravura passou a ganhar força novamente e a cada vez mais fazer parte daquela cultura
nor-destina. Entre os maiores pesquisadores desta técnica tem-se Franklin Maxado, que se aprofun-dou em toda a história que envolve este método de ilustração e formulou questões, trouxe res-postas e documentou tudo o que descobriu em suas pesquisas, permitindo uma visualização do quão grande é esta cultura milenar, este modo de expressão artística.
A ilustração pode narrar, representar, explicar, acompanhar, interpretar um texto, ou seja, é um meio de linguagem, o qual pode apropriar-se de diversos estilos para atender a um objetivo co-municacional. Mas dificilmente possui uma úni-ca função.
Met
odologia
O
presente artigo é de cunho biblio-gráfico e de abordagem qualitati-va. Assim, foi feita uma descrição de como se deu a confecção do po-ema de cordel, bem como da ilustração e do livreto.12
R
esult
ados e
discussões
A
obra de Ruth Guimarães, “Água Funda” (1946) reflete na contempo-raneidade o surgimento de varia-ções baseadas na constituição de um discurso já elaborado, embebido de conceitos histórico-sociais.Já o veículo de apresentação do poema, o livreto de cordel, apresentou a xilogravura como capa. A imagem criada acompanha de forma poética o texto verbal e amplia a experiência estética, tão necessária ao aprendizado.
O Cordel
CORDEL DUPRA apresenta: “SINHÁ LADEIRA ABAIXO” De sinhá Carolina vou te contá,
feita madame, rica! Pra seu fim, fo-se apaixuná.
Sua fremosura, encantou o desavisado. Foi assim que sucedeu:
- O sinhô não sabe nada! Entendeu-se por amado. O enlace dos pombinho,
começara com fuguete. Uma semana de festança,
muita comilança. Acabara além-porrete.
Muié, quarque servia. O sinhô, na farra noite e dia. Deu-se cara co’a Porca de sete leitões, pois andava atrais de quanta saia aparecia.
Um presságio foi sonhado, triste fim do desgraçado. Mas ‘bem feito’ ao mulherengo, na pirambera estava de pescoço quebrado
13
O distino da dondoca, custurado já estava. Aprumada ela descia, a ladeira que afundava.
Sinhazinha sua cria, boba não havia de sê. A fruta do quintal do vizinho,
o capataz quis comê. Dura que nem pedra, que nem água não moleceu.
Ficou rainha solitária, esquecida naquele breu.
Expulso de outra terra, o moço se apresentô. Olhos de cobra e fivelas de prata.
Pela riqueza ela se apaixonô. A dona deu tudo de si;
Pro moço se entregô. Enfiou sua vida na mala, e de Olhos D’água seus passo levo
Nesta vida tudo passa, nossa sinhá também passô. Como canoa em água funda nossa história se findô.”
Vieira e Hajar (2018)
O cordel Sinhá Ladeira Abaixo pretende fo-mentar a leitura por meio da literatura popu-lar, tornando cognoscível “Água Funda” (RUTH GUIMARÃES, 1946). Entretanto, o prazer da lei-tura pelos textos populares não direciona a “uma tendência [...] de cultivar a facilitação, de elimi-nar o esforço pessoal, o trabalho de compreen-são”, afirma Marinho e Pinheiro (2012, p. 128). Ou seja, o cordel em questão não banaliza o processo da leitura da fonte de adaptação, mas divulga e cria uma relação entre gêneros textuais (roman-ce em prosa e cordel em verso). Mantendo-se no
campo literário, a adaptação expõe ao público possibilidades de leitura. Tal processo atua como mecanismo de acessibilidade.
Na contemporaneidade, o cenário do público leitor no Brasil alimenta uma das formas de di-vulgação e estímulo alternativo à literatura, a adaptação. Segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), cerca de três em cada dez bra-sileiros (entre 15 e 64 anos) podem ser conside-rados alfabetizados funcionalmente. A partir da respectiva carência da compreensão de textos complexos e também de obras literárias, mobi-liza-se o processo de acessibilidade no campo da leitura. “As adaptações para versos – em folhetos ou em livros – vêm ganhando força neste início de século XXI.” (MARINHO; PINHEIRO, 2012, p. 116), apontando de certa forma que esse viável caminho de disseminar a leitura será uma cres-cente metodologia. Em relação ao cordel adap-tado, o direito e o interesse de leitor aproximam abordagens de avaliar a obra original.
Ruth Guimarães em sua obra “Água Funda” (1946) revela um cenário rural no qual o indiví-duo de seu contexto é protagonista. A seleção da obra para adaptação parte da reaproximação dos ascendentes da cultura caipira a sua identidade. Por conseguinte, o cordel “Sinhá ladeira a baixo” constrói-se na divulgação de outra metodologia atrativa, a linguagem popular de núcleo caipira e a alçada aos meios humorísticos. Sempre pre-servando a narrativa original do romance, o tex-to adaptado em verso dá visibilidade ao drama da personagem Sinhá Carolina. O trabalho em questão não segue os padrões normativos gerais do cordel, ou seja, em vez de sextilha (estrofes com seis versos) e redondilha maior (sete síla-bas poéticas) com rimas no segundo, quarto e sexto verso; a produção do cordel projetou-se aos moldes conceituais de rima toada, conteúdo e fa-miliarização de sabedoria e histórias populares.
A Ilustração de Capa em
Xilogravura e o livreto
A linguagem da xilogravura é um importante meio de comunicação e expressão, assim como a poesia de cordel, sendo uma das facetas nas ilustrações (MAXADO, 1982).
14
O procedimento iniciou-se com a interpretação de texto e, a partir disso, a organização de ideias para interpretar os poemas por meio de ilustra-ções. O desenho criado no papel foi passado para a madeira e com o auxílio de ferramentas cortan-tes, as goivas, foram retiradas as áreas em nega-tivo formando depressões e fissuras destacando, em alto relevo, o desenho a ser impresso, como demonstrado na figura 1.
Figura 1 - Processo de esboço, entalhamento e impressão. Fonte: Cartier, 2018.
Diante da história da personagem, a ilustração criada coloca em primeiro plano a protagonista com uma lágrima escorrendo em seu rosto, jus-tificando sua tristeza motivada por abandono, falta de amor e incertezas em uma terra que se modificava. Na figura 2, pode-se observar que as pontas dos cabelos transformam-se em um rio sobre o qual uma canoa carregando uma mu-lher em seu interior boia, ilustrando a metafóri-ca “água funda” que é a vida da personagem e a vida em um todo. Abaixo, há a representação da fazenda Olhos D’Água com a estrada em destaque para dar a sensação de movimento, saída. Atrás do desenho de Sinhá Carolina tem-se um homem que representa ao mesmo tempo os homens que passaram por sua vida e a influenciaram.
Figura 2 - xilogravura. Fonte: Cartier, 2018.
Quanto ao livreto, apresentado a seguir na fi-gura 3, foi feito em formato de dobradura sanfo-na, transformando-se em um pequeno livro de fácil abertura por meio de dobras. A impressão foi realizada em papel sulfite de 75g comum, as-sim como é feito comumente em cordéis e com uma diagramação igualmente simples feita pela fonte Adobe Devanagari Regular, tamanho 6,3 e no software Illustrator , da Adobe. A capa feita originalmente em uma folha A3 foi escaneada e redimensionada para o tamanho do livreto, sen-do colasen-do num pedaço de mdf para seu suporte, sendo este mdf o suporte de todo o livreto o qual é simples, rústico e inova o formato do cordel tradicional, como exibe a figura 4.
Figura 3 - livreto pronto. Fonte: Cartier, 2018 Figura 4 - livreto pronto.
15
C
onsider
aç
ões
finais
R
ef
er
ências
E
ste trabalho possibilitou um diálogo entre duas disciplinas de cursos distin-tos, tendo como resultado o desenvol-vimento de um produto único, o qual propiciou diferentes experiências. Somado a isso, evidenciou-se a acessibilidade factível a obras de cunho artístico-literário.Espera-se que a prática pedagógica apresentada possa motivar o surgimento de outras que via-bilizem o acesso aos bens artísticos e culturais, contribuindo, assim, para a difusão de obras, so-bretudo as regionais.
ANTÔNIO, S.. Ruth Guimarães: Uma Voz de Muitas Vozes. In: Revista Mulheres e Literatura, v. 15, 2º sem. 2015. Acesso em: 9 fev. 2018.
BOSI, A. Ler com a alma. [abril, 2012]. Rascunho. Entrevista concedida a Eduardo Rosal, Heleine Domingues, Luiz Guilherme Barbosa, Marcos Pasche, Mayara Guimarães, Priscila Castro, Roberto Lota e Wellington Silva. Disponível em: <http://rascunho.com.br/ler-com-a-alma/>. Acesso em: 19 set. 2018.
BOTELHO, J. M. G.. Ruth Guimarães, da Palavra Franca. In: Ângulo: Cadernos do Centro Cultural Teresa D´Ávila, Lorena, v. 1, n. 137, p.6–8, Jun. 2014. Trimestral. Acesso em: 12 fev. 2017.
BARBOSA, A. M. L. Ruth Guimarães: entrevista. In: Jornal Lince. Aparecida, ano 2, nº 21. set 2008. Acesso em: 9 fev. 2018.
COSTELLA, A. F. Breve história ilustrada da xilogravura. Campos do Jordão: Mantiqueira,2003. ______. Introdução à gravura e à sua história. Campos do Jordão: Editora Mantiqueira, 2006. LIBOS, H. Reportagem Cordel a toda corda. In: D.O. Leitura. Julho, 2001, p. 41 a 50.
GUIMARÃES, R. Poemas, in Revista Ângulo/Cadernos do Centro Cultural Teresa D’Ávila, Lorena, SP, nº 137.
MARINHO, A. C. O cordel no cotidiano escolar. São Paulo: Cortez, 2012.
MAXADO, Franklin. Cordel Xilogravura e Ilustrações. Rio de Janeiro. Codecri 1982. (Coleção Edições do Pasquim; v. 140)
OBEID, César. O que é a Literatura de Cordel [2013]. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=80eX1e0NVzw>. Acesso em: 22. set. 2018.