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Prevalência de anemia em portadores de diabetes mellitus

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Academic year: 2021

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Jornal Brasileiro de Ciência da Saúde

Prevalência de anemia em portadores de diabetes mellitus

Artigo Original

RESUMO:

A prevalência de anemia em pacientes com diabetes mellitus pode ser significativamente mais alta do que na população geral. O dano renal é o principal fator responsável pela alteração dos níveis de hemoglobina nestes pacientes, resultante da diminuição da síntese de eritropoetina sérica. A redução de eritropoetina disponível reflete em anemia, do tipo normocítica normocrômica geralmente, pois há quantidades normais de componentes do grupamento heme e formadores de DNA. O presente estudo tem como objetivo investigar anemia em portadores de diabetes mellitus tipo 2; determinar a sua prevalência em portadores de diabetes mellitus; detectar os tipos mais frequentes de anemia; e a associação entre doença renal e anemia. Trata-se de um estudo epidemiológico do tipo transversal e retrospectivo com caráter quali-quantitativo. Os pacientes foram avaliados segundo o seu estado de compensação diabética. Os dados foram coletados por meio da análise do banco de dados do laboratório Alto Padrão, no período de 15/03/2013 a 31/12/2013. A prevalência de anemia em portadores de diabetes mellitus foi de 28%; a anemia normocítica normocrômica foi o tipo mais prevalente. A presença de anemia piora o prognóstico dos pacientes com diabetes e um diagnóstico preciso e a abordagem terapêutica precoce são cruciais para evitar os efeitos deletérios da anemia e a progressão da doença renal nos pacientes com diabetes.

Palavras-chave: anemia, diabetes mellitus, doença renal crônica.

ABSTRACT:

The prevalence of anemia in patients with diabetes mellitus may be significantly higher than in the general population. Renal damage is the main factor responsible for changes in hemoglobin levels in these patients, resulting in a decrease on synthesis of serum erythropoietin. The reduction reflects the available erythropoietin in anemia. It causes commonly normocytic and normochromic anemia, which is characterized by normal amounts of heme components of DNA. Objectives: To investigate anemia in patients with type 2 diabetes mellitus; to determine its prevalence in patients with diabetes mellitus; to detect the most common types of anemia; and to determine the association between kidney disease and anemia. Epidemiological study retrospective and cross-sectional study with qualitative and quantitative analysis. Patients were evaluated according to their state of diabetic compensation. Data were collected by analyzing the database lab Alto Padrão during the period between15/03/2013 to 31/12/2013. The prevalence of anemia in patients with diabetes mellitus was 28%; normocytic normochromic anemia was type the most prevalent. The presence of anemia worsens the prognosis of patients with diabetes end on accurate and early diagnosis is a crucial therapeutic approach to avoid the deleterious effects of anemia and the progression of renal disease in patients with diabetes.

Keywords: anemia, diabetes mellitus, chronic renal disease.

2015, v.1, n.1, pp.1-5.

Prevalence of anemia in diabetes mellitus patients

Nelson Rodrigues Soares Filho1, Mirna Poliana Furtado de Oliveira1,2 1 Centro Universitário do Distrito Federal UDF, Brasília, DF

2 Universidade de Brasília, Brasília - DF

Contato:

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INTRODUÇÃO

O diabetes mellitus (DM) é uma doença complexa cuja etiologia é determinada por fatores genéticos e ambientais. Trata-se de uma doença crônica que pode evoluir com neuropatia autonômica e danos das regiões intersticiais e glomerulares dos rins, levando ao que se conhece por nefropatia diabética1, que pode provocar diminuição na produção de eritropoetina (EPO), uma glicoproteína produzida principalmente pelos fibroblastos peritubulares do córtex renal em resposta ao estímulo de hipóxia. A EPO tem como função principal regular a eritropoiese, sempre que o organismo exige uma necessidade maior de oxigênio2. Muitos pacientes diabéticos apresentam resistência à insulina e Síndrome Metabólica - SM antes mesmo do diagnóstico de diabetes. Vários estudos demonstraram uma forte associação entre a SM e o risco de desenvolvimento de diabetes3.

Outra complicação importante para os pacientes com DM são os produtos finais da glicação avançada (AGE —

advanced glycation end products) e a

interação com seus receptores (RAGE —

receptor for advanced glycation end products), imunoglobulinas presentes na

superfície de algumas células como fibroblastos, macrófagos, células do endotélio vascular e do tecido periodontal, considerados um dos grandes responsáveis pelas complicações crônicas em pacientes diabéticos4.

A formação dos AGE está relacionada ao tempo em que o organismo ficou exposto à hiperglicemia. Portanto,

quanto mais persistente o diabetes e pior o controle glicêmico, maior será a quantidade desses produtos circulando e acumulados nos tecidos4.

Assim, a importância do conhecimento do DM está além do fato de esta ser uma doença endocrinometabólica de alta morbimortalidade no Brasil, com grande impacto na saúde pública do país, mas também em decorrência das complicações dessa doença, como a anemia, que deve ser pesquisada precocemente em diabéticos, devido à possível piora do prognóstico desse paciente quando acometido com as duas morbidades5.

Nesse contexto, este estudo objetiva investigar e descrever a anemia e correlacioná-la com a doença renal em portadores de diabetes mellitus tipo 2.

MATERIAIS E MÉTODOS

Amostra

Trata-se de uma amostra populacional obtida a partir do banco de dados do Laboratório Alto Padrão, constituída por 250 pacientes com diabetes mellitus atendidos no período de março a dezembro de 2013. A amostra foi rastreada no período de julho e agosto de 2014 com a finalidade de selecionar os pacientes que atendiam os critérios de inclusão da pesquisa.

Foram incluídos na pesquisa pacientes de ambos os sexos, maiores de 18 anos, portadores de diabetes mellitus tipo 2. Foram excluídos da pesquisa pacientes menores de 18 anos e pacientes sem diabetes mellitus.

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Desenho experimental

Estudo epidemiológico do tipo transversal e retrospectivo com caráter quali-quantitativo realizado com pacientes clientes do Laboratório Alto Padrão localizado na cidade de Morrinhos, Goiás.

Análises estatísticas

Para avaliação dos dados das amostras utilizou-se média ± desvio padrão, conforme sua distribuição. As médias foram comparadas entre os grupos com e sem anemia por meio do teste t para amostras independentes. A partir do resultado desses testes foram feitas correlações através do coeficiente de Pearson (p <0,05) para resultados considerados significativos. O programa SPSS 20.0 foi utilizado para a análise dos dados. Todos os aspectos éticos da

investigação científica foram observados em conformidade com a Resolução CNS nº 466/2012. O protocolo da pesquisa foi submetido e aprovado no Comitê de Ética da Universidade de Brasília (UnB).

RESULTADOS

A prevalência de anemia entre os 250 pacientes com diabetes (sendo 163 mulheres e 87 homens) foi de 28% (n = 69). Ao analisar a prevalência de acordo com o sexo observou-se uma maior prevalência em homens. Ao analisar a influência da idade dos diabéticos na ocorrência ou não de anemia, verificou-se que os idosos representam a maior prevalência. E o tipo mais frequente de anemia em ambos os sexos foi a normocítica normocrômica, Não houve relação estatisticamente significativa.

Tabela 1: Características laboratoriais estratificados segundo a ocorrência ou não de anemia.

Fator Anemia n Média Desvio Padrão P

Glicemia de Jejum sim 69 158,97 85,19 0,19

não 181 136,44 56,04

Glicemia Pós-Prandial sim 29 243,90 108,43 0,54

não 61 177,46 91,57

Dosagem HbA1c sim 69 8,18 2,23 0,17

não 181 7,38 1,73

Dosagem de Ureia sim 69 46,84 24,38 0, 04*

não 181 32,46 10,02

Dosagem de Creatinina sim 69 1,34 1,00 0,02*

não 181 0,95 0,21 Hemácias sim 69 4,09 0,48 0,06 não 181 4,79 0,43 Hematócritos sim 69 35,31 3,91 0,09 não 181 41,42 4,46 Hemoglobina sim 69 11,76 1,32 0,01* não 181 14,79 1,27

* teste One Way ANOVA e Independent Samples Test.

DISCUSSÃO

Os pacientes diabéticos constituem um grupo que exige maiores cuidados de

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saúde e monitoramento mais rigoroso, pois

frequentemente são acometidos por doença renal. A coexistência de anemia nesses pacientes determina a piora do quadro clínico, maior morbidade e maiores custos com assistência à saúde. Os resultados deste estudo mostraram uma prevalência de anemia de 28% entre os pacientes com diabetes mellitus.

A frequência encontrada neste estudo foi semelhante ao descrito por Frezza e col.6 em estudos realizados em 2009. Em seus achados, encontraram uma prevalência de anemia de 35%, sendo de 39% e 32%, em homens e mulheres, respectivamente.

Tanto no estudo conduzido por Frezza e col.6 quanto no presente estudo teve um percentual ligeiramente superior de pacientes com anemia do gênero masculino. Possivelmente, o maior número de homens se deve ao fato de que eles se preocupam menos com cuidados de saúde5.

Já Calcutt et. al.,4 apontaram que existe uma forte relação entre a prevalência de anemia em portadores de DM 2, doença renal e anemia. Segundo os pesquisadores o processo de glicação não enzimática de proteínas, tem um importante papel na patogênese das complicações crônicas no diabetes mellitus, pois as altas taxas de açúcar no sangue provocam doença renal e os AGE provocam tanto a doença renal quanto danos no fígado e pâncreas, o que pode levar a uma diminuição da produção de insulina e uma piora do quadro diabético, desenvolvendo, com isso, a progressão de muitas doenças, inclusive a anemia.

Além disso, Calcutt e col.4 apresentaram resultados de estudo como diagnosticar e tratar anemia no idoso, realizado em 2010, e apontaram uma relação entre idade do portador de diabetes mellitus e prevalência de anemia de 64% para o grupo de idosos.

Em nosso estudo, a amostra foi dividida também em dos grupos (idosos e não idosos) a fim de se verificar a influência da idade dos diabéticos na ocorrência ou não da anemia. Pela análise feita 78% dos anêmicos eram do grupo dos idosos, o que ratifica a tendência de aumento nos resultados desse grupo.

Achados ainda mostraram uma elevação dos níveis de ureia em pacientes idosos, evidenciando a perda de função renal com o avanço da idade. Além disso, foi encontrada relação significativa entre presença de anemia e alterações nos níveis de ureia e creatinina.

De acordo com os resultados observados o tipo de anemia mais prevalente foi a normocítica normocrômica. A relação entre a anemia normocítica normocrômica pode ser justificada pelo mecanismo que envolve a perda das funções regulatórias, excretórias e endócrinas dos rins caracteriza-se insuficiência renal7. E na presença de insuficiência renal crônica, com a redução da síntese de eritropoetina, a medula óssea não é adequadamente estimulada a produzir eritrócitos gerando um quadro de anemia7,8. Nesse sentido, o estudo apontou uma prevalência de 96% de anemia normocítica normocrômica entre os pacientes com diabetes mellitus.

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Assim, os pacientes diabéticos

constituem um grupo que merece um cuidado maior, visto que desenvolvem anemia mais grave e frequente que os pacientes com outras causas de DRC9.

Os resultados deste estudo têm como principais limitações o tamanho reduzido da amostra, o período de acompanhamento dos dados relativamente curto e a limitação do estudo a uma determinada localidade geográfica.

CONCLUSÃO

Pelo estudo foi possível observar uma relação positiva entre anemia e disfunção renal em pacientes diabéticos além da influência da idade e gênero. A redução da função renal é o determinante mais importante dos níveis de Hb em pacientes diabéticos. A anemia normocítica normocrômica foi o tipo mais prevalente, devido a perda das funções regulatórias, excretórias e endócrinas dos rins, o que caracteriza-se insuficiência renal.

O diagnóstico preciso e a abordagem terapêutica precoce são cruciais para evitar os efeitos deletérios da anemia e a progressão da doença renal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Dikow R et al. How should we manage anemia in patients with diabetes? Nephrology Dialysis Transplantations, v. 17, s 1, p. 67-72, 2012.

2. Mercer KW, Densmore JJ Hematologic disorders in the athlete. Clin Sports Med. 2005 Jul; 24(3):599-621, ix.

3. Meigs JB, et al. Body mass index, metabolic syndrome, and risk of type 2 diabetes or cardiovascular disease. J Clin Endocrinol Metab. 2013; 91(8):2906-12.

4. Calcutt NA, et al,. Como diagnosticar e tratar anemia em idosos. Nature Reviews Drug, 2009, 8(May): 417-430

.

5. Cawood TJ, et. al., Prevalência de anemia em pacientes com Diabetes Mellitus. Irish Journal of Medical Science Abril- Junho 2012; 175 (2): 25-7.

6. Frezza JS, et. al., Anaemia and Diabetes: possible implications in the interpretation of glycemic control assessed by glycated hemoglobin (HbA1c) levels. UFRGS. Programa de pós-graduação em Ciências Médicas: Endocrinologia; 2009.

7. McArdle WD; Wilmore, F.I.; Katch, V.L. 2008. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

8. McArdle WD; et al., Effects of glucose on matrix metalloproteinase and plasmine activities in mesangial cells possible role in diabetic nephropathy. Kidney International, v. 58, s. 77, p. 81-87, 2011.

9. Thomas MC, et. Al., Unrecognized anemia in patients with diabetes: a cross-sectional survey. Diabetes Care 2013; 26:1164-9.

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