EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO 25º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E DAS RELAÇÕES DE CONSUMO DA CAPITAL – ESTADO DE PERNAMBUCO
Parte Autora: REINILDA DE SOUZA FREIRE FILHA Processo n.º 0011046-51.2015.8.17.8201
BANCO ITAU SEGUROS S.A., pessoa jurídica de direito privado, inscrito no CNPJ/MF sob o nº 61.557.039/0001-07, com sede na Praça Alfredo Egydio de Souza Aranha nº 100, Torre Alfredo Egydio, 12º Andar, Jabaquara, São Paulo/SP, por seus advogados que esta subscrevem (doc. atos constitutivos e procuração), vem apresentar CONTESTAÇÃO nos autos do processo em epígrafe, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos.
RESUMO DA DEFESA
-A cobrança de tarifas observam os requisitos estabelecidos pelo STJ nos REsp´s Repetitivos REsp 1.251.331 - RS e 1.255.573 – RS;
SÍNTESE DOS FATOS
A autora firmou com o Banco Réu contrato de financiamento para pagamento em parcelas mensais.
Pretende-se na presente ação o afastamento das tarifas/ressarcimentos cobradas(os) em virtude deste
contrato, com consequente devolução em dobro dos valores.
No entanto, as cobranças são legítimas, nos termos do recurso repetitivo REsp 1.251.331/RS e 1.255.573/RS, conforme será demonstrado.
PREJUDICIAL DE MÉRITO PRESCRIÇÃO
O pedido de restituição decorrente da cobrança das tarifas está prescrito, pois a pretensão de reparação civil decorrente de responsabilidade extracontratual, prescreve em 3 anos, nos termos do art. 206, § 3º, V, do Código Civil, sendo que a contratação ocorreu em 18/11/2011 e o AJUIZAMENTO SÓ SE DEU APÓS MAIS DE 4 ANOS, em 19/03/2015.
O que se tem em discussão é a suposta cobrança de valores indevidos por parte do fornecedor, sendo que o CDC é omisso em relação ao prazo prescricional para esta pretensão.
Nesse sentido, tem sido o entendimento do STJ (nº 1.113.403-RJ, Min. Rel. Teori Albino Zavascki. 1ª Seção do STJ. 09/09/2009 e REsp nº1.094.270 – PR, Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma. 19/12/2008).
Feitos esses esclarecimentos, restou claro a não aplicação do CDC (art. 27) para a cômputo da prescrição, uma vez que não se trata de reparação por danos causados com relação ao produto ou ao serviço.
Requer o acolhimento da prescrição e extinção do feito nos art. 269, IV do CPC.
MÉRITO
LEGALIDADE DA COBRANÇA DE TARIFAS
O Superior Tribunal de Justiça, em sede de Recurso Repetitivo REsp 1.251.331/RS e 1.255.573/RS, consolidou entendimento pela legalidade da cobrança das Tarifas de Abertura de Crédito (TAC), Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e Tarifa de Cadastrado (TC), fixando as seguintes teses.
“(...) 1ª TESE
Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN 2.303/96) era válida a
pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o
mesmo fato gerador, ressalvado o exame de abusividade em cada caso concreto.
2ª TESE
Com a vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pela autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo legal a contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador. Permanece
válida a Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição
financeira.” (REsp 1.251.331 – RS - Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJ 28/08/13). (grifos nossos)
No v. acórdão do recurso repetitivo, ainda ficou decidido que os fundamentos expostos deveriam servir de parâmetros para a apreciação de outras discussões sobre a cobrança de tarifas bancárias e ressarcimentos de terceiros.
“As demais matérias tratadas nas manifestações juntadas aos autos, como valores cobrados para ressarcir serviços de terceiros e tarifas por serviços não cogitados nestes autos, não estão sujeitas a julgamento e, portanto, escapam ao objeto do recurso repetitivo, embora os fundamentos adiante expostos devam servir de
premissas para o exame de questionamentos acerca da generalidade das tarifas bancárias.” (REsp 1.251.331 – RS - Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJ 28/08/13). (grifos nossos)
Destaca-se, que após o repetitivo a discussão foi novamente levada ao STJ, que ratificou o seu posicionamento:
“Registre-se que, desde a Resolução 3.518/2007 (art. 5ª, inciso V), constava autorização expressa para a cobrança de tarifa referente à avaliação, reavaliação e substituição de bens recebidos em garantia.
Conforme será demostrado nos tópicos a seguir, no caso concreto foram observados todos os critérios estabelecidos no repetitivo e confirmados nas decisões pós repetitivo (Rcls. 14.696 – RJ e 14.799 – RJ), de relatoria da Min. Maria Isabel Gallotti, considerando a cobrança da(s) tarifa(s)/ressarcimento(s) devidas, vez que encontravam-se presentes: a existência de regulamentação do Conselho Monetário Nacional (CMN), a correspondência a serviços efetivamente prestados e a previsão clara e expressa em contrato, devendo ser reconhecida a regularidade dos atos praticados.
“(...)
2. Conforme estabelecido no RESP nº 1.251.331/RS, o exame da legalidade das tarifas bancárias deve partir da
observância da legislação, notadamente as resoluções das autoridades monetárias vigentes à época de cada contrato questionado. Deve-se verificar a data do contrato bancário; a legislação de regência do pacto, as
circunstâncias do caso concreto e os parâmetros de mercado.” (Reclamação 14.696/RJ - DJ 26/03/14). (grifos
nossos)
AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE
No julgamento dos Recursos Repetitivos REsp 1.251.331/RS e 1.255.573/RS, o Superior Tribunal de Justiça esgota a questão acerca da abusividade:
“Reafirmo o entendimento acima exposto, no sentido da legalidade das tarifas bancárias, desde pactuadas de forma clara no contrato e atendida a regulamentação expedida pelo Conselho Monetário Nacional e pelo Banco Central, ressalvado abuso devidamente comprovado, caso a caso, em comparação com os preços cobrados no mercado.
Esse abuso há de ser objetivamente demonstrado, por meio da invocação de parâmetros objetivos de mercado e circunstâncias do caso concreto, não bastando a mera remissão a conceitos jurídicos abstratos ou à convicção subjetiva do magistrado." (grifos nossos)
Observa-se que não existe nos autos comprovação objetiva quanto à abusividade nos valores cobrados pelo réu em comparação com os parâmetros de mercado, tampouco evidências que denotem o desalinhamento de procedimento ou pratica abusiva realizada pelo requerido.
O Superior Tribunal de Justiça, reiterou o seu posicionamento em discussões novamente levadas à sua apreciação, pós repetitivo:
“(...)
Deve, necessariamente, a sentença observar a data do contrato, a resolução de regência, as tarifas pactuadas e as efetivamente cobradas e seus respectivos valores, em comparação com os cobrados pelas instituições
financeiras congêneres, no mesmo seguimento de mercado (financiamento de veículos), para cada tipo de serviço. (Reclamação 14.696/RJ - DJ 26/03/14). (grifos nossos)
A previsão clara e expressa no contrato do custo efetivo total - CET da operação (que contempla todos os encargos remuneratórios do contrato, o imposto sobre operações financeiras – IOF, bem como as tarifas e eventuais ressarcimentos de serviços de terceiros), permitiu à parte autora, no momento da contratação, comparar as condições do contrato firmado com as de outras instituições financeiras do mercado e optar pela mais conveniente.
Assim, resta demonstrado que a operação realizada cumpriu todas as determinações legais aplicáveis, não sendo irregular ou abusiva, reiterando o Réu os termos da defesa apresentada, devendo a ação ser julgada totalmente improcedente.
TARIFA DE CADASTRO
A Tarifa de Cadastro está expressamente prevista no contrato, bem como no demonstrativo financeiro do Custo Efetivo Total, todos firmados pelo cliente.
Sua cobrança é expressamente permitida pela Res. CMN 3.919/10, como já ocorria com a Res. CMN 3.518/07 e c/c Circ. BACEN 3371/07, e remunera o serviço de pesquisa de regularidade das informações cadastrais do cliente. A cobrança só é realizada no início da relação para interessado que não possua relação comercial ativa com a unidade de negócio (não é cliente).
TARIFA DE AVALIAÇÃO DE BENS
A Tarifa de Avaliação de Bens está expressamente prevista no contrato, bem como no demonstrativo financeiro do Custo Efetivo Total, todos firmados pelo cliente. Sua cobrança é expressamente permitida pela Res. CMN 3.919/10, como já ocorria com a Res. CMN 3.518/07 e c/c Circ. BACEN 3371/07. Remunera os serviços de avaliação do bem dado em garantia e pesquisa da regularidade documental do veículo (confirmação junto ao Detran; de débitos referentes a IPVA e multas).
DOS RESSARCIMENTOS
As Res. CMN 3.517/07 e 3.518/07 (art.1º, §1°, III) previam expressamente a possibilidade de ocorrer ressarcimentos de custos pelo cliente à instituição quando houvesse serviços prestados por terceiros vinculados à operação, desde que expressamente autorizado pelo cliente – o que, conforme demostrado a seguir, ocorreu no contrato objeto da demanda. Nesses casos, o valor ressarcido corresponde exatamente ao montante pago ao terceiro por conta do serviço prestado.
RESSARCIMENTO DE SERVIÇOS DE TERCEIROS
O Ressarcimento de Serviços de Terceiros está expressamente previsto no contrato, bem como no demonstrativo financeiro do Custo Efetivo Total. Sua razão é reembolsar o Banco requerido dos custos incorridos com a comissão devida à concessionária por conta dos serviços de intermediação da operação.
Tais serviços consistem na realização de cotações em diversos bancos e nas providências para fechamento do negócio juntamente com a venda do veículo, inclusive fora do expediente bancário. Tais serviços dispensam o consumidor de ter que comparecer a diversas agências bancárias para cotação e simulação da melhor taxa e agiliza a conclusão do negócio.
TARIFA DE EMISSÃO DE CARNÊ
A Tarifa de Cobrança Bancária está prevista no sumário executivo do contrato, assinado pela Autora, e era, à época da contratação, regulada pela Res. CMN 2.303/96, não se enquadrando nas vedações ali existentes. Sua cobrança remunera o serviço de disponibilizar ao cliente, a pedido expresso desse, boleto bancário liquidável em qualquer banco. Lembre-se que o cliente dispunha de outras formas de pagamento de suas obrigações, que não lhe acarretavam ônus adicionais.
SEGURO PROTEÇÃO FINANCEIRA E SUA REGULARIDADE
Discorda a autora da contratação do Seguro Proteção Financeira. No entanto, sua contratação resta expressa no contrato conforme pode se depreender em análise contratual, o referido seguro está previsto no contrato. Não há, assim, qualquer dúvida quanto à vontade específica do cliente de contratar o seguro. Tampouco pode-se
O seguro proteção financeira cobre a perda de emprego, incapacidade física, invalidez ou morte, garantindo o pagamento do financiamento. Não existe, portanto, qualquer ilegalidade ou irregularidade com relação à sua contratação.
DANO MORAL
Requer a autora reparação por danos morais por conta da cobrança das tarifas ora discutidas, porém não há que se falar em dano moral, tendo em vista que a cobrança de tarifa não causa transtornos psicológicos, abalo à sua honra ou mesmo angústia e mal-estar.
Ademais, conforme já demonstrado, todas as cobranças impugnadas encontram previsão regulatória e contratual. Em nenhum caso foi a requerente surpreendida pela tarifa ou ressarcimento. Pelo contrário. Concordou expressamente com a sua incidência e com o seu valor. Assim, deve ser julgado improcedente o pedido de reparação por danos morais.
RESSARCIMENTO DE GRAVAME ELETRÔNICO
O Ressarcimento de Gravame Eletrônico está expressamente previsto no contrato, bem como no demonstrativo financeiro do Custo Efetivo Total. O ressarcimento refere-se a valores pagos por conta da realização eletrônica do gravame sobre o veículo. Essa inclusão equivale a prenotação da garantia, e assegura o sucesso da operação de crédito.
DEVOLUÇÃO EM DOBRO
Incabível a devolução do valor em dobro, uma vez que há previsão regulatória e contratual para cobrança das tarifas. Além disso, não há má-fé do Requerido nas cobranças, requisito necessário para a devolução em dobro: “a devolução em dobro dos valores pagos pelo consumidor somente é possível quando demonstrada a má-fé do credor” (Recl 4892-PR, j. 27/04/2011). Assim, requer o Requerido a improcedência deste pedido.
PEDIDOS
As ponderações da Ré demonstram claramente que a parte autora carece de qualquer razão e que seus argumentos não têm o condão de elidir a sua responsabilidade.
Diante do exposto, requer a improcedência dos pedidos da inicial, condenando a autora nas custas, despesas processuais, honorários advocatícios e demais cominações legais.
Requer ainda, a produção de todos os meios de prova em direito admitidas.
Requer, outrossim, que todas as publicações e intimações sejam feitas em nome de Isabel Moura (OAB/PE 32.840) na Rua da Hora 692, Espinheiro, Recife/PE, o qual deverá ser anotado na contracapa dos autos.
Nestes termos, pede deferimento.
Recife, 09 de novembro de 2015.
Isabel Moura Bruno Novaes Bezerra Cavalcanti