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Curso de Sustentabilidade em Projetos Culturais.

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Academic year: 2021

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Curso de Sustentabilidade em Projetos Culturais.

Sustentabilidade em Projetos Culturais: Criação e Dinamização de Redes e Mobilização de Recursos para a Cultura.1

Diogo Reyes da Costa Silva. 2

Apresentação:

Esse texto foi desenvolvido a partir da exposição de abertura do curso Sustentabilidade em Projetos Culturais: Criação e Dinamização de Redes e Mobilização de Recursos para a Cultura, da Casa Via Magia.

Com o objetivo de apresentar alguns dos conceitos guias dessa atividade de formação, cuja proposta geral é estruturar um espaço de diálogo, uma possibilidade de compartilhar conhecimento na área da cultura e suas transversalidades, com objetivo de instrumentalização para o trabalho com projetos dessa natureza. Por sua vez articulando os temas gerais presentes nos subtítulos do curso, Criação e Dinamização de Redes e Mobilização de

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- Texto elaborado como material didático de apoio para o módulo I do curso Sustentabilidade em Projetos Culturais: Criação e Dinamização de Redes e Mobilização de Recursos para a Cultura.

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- Gestor de projetos no Instituto Cultural Casa Via Magia. Sociólogo, especialista em sociologias cultural, da educação e urbana. Doutorando em Sociologia pela Universidade Federal da Bahia e Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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Recursos para a Cultura, aspectos que consideramos importantes na experiência da Casa Via Magia e essencial na forma de trabalho que foi desenvolvida na entidade.

Dessa forma, a idéia é abordar esses temas a partir desta experiência, um fio condutor apresentado através de perspectivas de pessoas diferentes. Sejam membros da equipe atual, outros que trabalharam na instituição mas estão agora em outros lugares, outros que foram parceiros, que realizaram estudos de caso, ou mesmo mais de uma dessas coisas ao mesmo tempo. Mas que servirão para dialogar como com as experiências e perspectivas dos participantes e convidados, em uma reflexão de mão dupla.

Assim, é muito importante dizer que o objetivo aqui não é entregar um conhecimento pronto, estático e muito menos definitivo. A nossa experiência nos indica que não existem saídas únicas ou estratégias universais, que não existe “mapa da mina” que garanta o sucesso de um trabalho nesse campo. Por isso mesmo, um objetivo essencial dessa empreitada é também pensar esses temas conjuntamente, construir reflexões a partir dos diálogos das muitas experiências presentes. Acreditamos que esse é um dos maiores recursos que podemos dispor e compartilhar. Considerando a variedade de experiências como algo que possibilita uma reflexão complementar e construtiva, sejam de propostas, estratégias de atuação e organização de projetos e redes, ou outras.

Passando para a estrutura geral desse trabalho, a organização de assuntos foi pensada de maneira que a primeira metade se concentra mais na identidade, filosofia de atuação, relacionamento, posicionamento e proposta dos projetos. Já a segunda voltada para questões mais técnicas, práticas, referentes às formas e organização.

É importante destacar que a metodologia pedagógica utilizada se baseia na própria metodologia desenvolvida pela Escola Via Magia, com ênfase na participação e reflexão crítica. Assim, sempre que possível iremos cumprir alguns princípios que, consideramos, atuam nesse sentido: Visão histórica, do conhecimento e dos acontecimentos, entendendo-os como construções que são fruto de uma história processual. Interdisciplinaridade, refletir conjugando diversos conhecimentos – inclusive a arte – de forma não excludente. Flexibilidade/Abertura, não encarar de forma absoluta ou excludente os pontos de vista para tomadas de posição. E Reflexão, referente a debater, polemizar e

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elaborar coletivamente, levando em conta as diferenças de perspectiva.

Também é interessante fazer uma breve explicação sobre os conceitos principais do curso presentes no título, como os entendemos e de que forma representam a proposta e como abordaremos os temas. Tais concepções também norteiam a filosofia de trabalho da Casa, e aqui elas serão discutidas sem a intenção de encontrar uma definição única.

A noção de projetos em cultura é bastante vasta, se tomarmos de forma generalizada, qualquer vontade ou ação de cunho cultural pode ser chamado de projeto cultural. Mas o conceito de “projetos” que utilizamos para elaborar a proposta do curso e também na atuação da Casa, se refere prioritariamente à trabalhos com intenções a longo prazo, e que de alguma forma visualizem um ganho coletivo. Claro que o ideal é conseguir também sucesso no âmbito do mercado, mas na maioria das vezes discutiremos projetos que tem como um de seus objetivos principais oferecer algo para a sociedade, como por exemplo, facilitar o acesso a arte, valorização de patrimônios culturais, desenvolvimento em alguma esfera, etc. Por esse motivo utilizamos a palavra projetos e não, por exemplo, eventos, que costumamos relacionar a intervenções mais efêmeras.

No trabalho do IVM, gostamos de pensar que essa noção está vinculada a atuação sistêmica e em múltiplos aspectos, entendendo a cultura em suas transversalidades. A proposta de sustentabilidade aqui aparece para reforçar essa idéia, essa vontade de conseguir uma maior longevidade para um projeto, e assim alcançar objetivos que necessitam de um longo ou médio prazo.

De forma nenhuma defendemos que essa é a única maneira “correta” de abordar a questão, existem infinitas configurações de projetos, mas aqui no curso nos concentraremos mais sistematicamente em idéias de atuação a longo prazo. O que, por sua vez, não impossibilita o uso do conhecimento para outras configurações de projetos, como aqueles mais ocasionais, ou mesmo aqueles mais voltados para o sucesso comercial.

A próprias noções de cultura e identidade que partimos para conceber esse curso estão diretamente ligada a concepções que encaram esses conceitos de forma multifacetada, dinâmica e presente no cotidiano das pessoas, conectadas a visão de mundo e sentido que atribuímos às coisas que vivemos.

Incluem-se aqui as questões referentes à mobilização de recursos, que se refere à gestão, a administração estratégica de recursos de diversas naturezas

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– incluindo informações, práticas, tecnologias, conhecimento, contatos e materiais – com vistas a um determinado objetivo ou, por que não, cadeia de objetivos. Pode ser interessante pensar por que usamos essa palavra mobilização e não, por exemplo, investimento neste subtítulo. De alguma forma essas duas intenções prevêem alguma forma de retorno, de resultado, algum ganho. Mas enquanto o investimento remete mais à noção de lucro, de um retorno mais individualizado, ou para um grupo de pessoas, enquanto a mobilização aponta para algo que é posto em movimento, que necessita de vários atores, mais coletivo.

As atuações e articulações em rede permeiam todo o conteúdo abordado ao longo desse projeto. Essa questão é proeminente não apenas na atuação e gestão dos projetos culturais do Instituto Casa Via Magia, mas também como objetivo de suas ações, buscando o fortalecimento, dinamização e expansão das redes de sociabilidade dos atores envolvidos e/ou beneficiados por um projeto cultural, considerando que as redes podem oferecer poderosos instrumentalizadores de sua atuação nesse e em outros campos.

Partindo assim de uma visão sociológica de que as redes de relações são um elemento intrínseco à sociedade, essencial da vida coletiva, fundamentada e reforçada pela interdependência que existe entre todos nós. Presentes em vários níveis da sociedade, e em várias formas significativamente diferentes, como redes de sociabilidade em um bairro, ou uma rede institucionalizada de cooperação de profissionais. Assim, podem ser formalizadas como associações ou similares, ou informais, baseadas na sociabilidade cotidiana.

De forma geral, os cientistas sociais destacam que as redes podem ter efeitos de auxiliar nas ações de indivíduos e grupos, possibilitando o acesso a recursos que facilitem chegar a determinados objetivos. Dessa idéia surge o conceito de capital social, que traduz o potencial, a “energia” contida nas ligações de uma determinada rede, ou seja, o quanto ela pode oferecer do que diz respeito a instrumentalizar a ação e atuação das pessoas que participam dela.

A elaboração de Pierre Bourdieu sobre esse tema é frutífera para ser usada como guia para pensarmos a questão. Esse sociólogo que, apesar de ter uma obra relativamente recente, é considerado um clássico em vários temas, entre eles a cultura, tem como parte do seu mérito conseguir trabalhar com transversalidade, tecendo diálogo entre perspectivas que costumavam ser

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consideradas opostas, ou pelo menos incompatíveis.

Na sua análise, Bourdieu considera que as redes sociais e o capital social surgem sempre que se faz parte de algum grupo de pessoas, ou se relaciona constantemente com outros indivíduos ou grupos. Assim, o autor define o capital social como o agregado dos recursos reais ou potenciais que são vinculados a posse de redes duráveis de relação social e de reciprocidade, sejam informais ou institucionalizadas. O volume de capital possuído por algum agente ou grupo depende da gama de conexões nas redes que ele consegue mobilizar e nos volumes de recursos e capital (material ou imaterial) disponível. Dessa forma, esse fenômeno encontra-se presente no cotidiano dos indivíduos, grupos e instituições, significância que se aprofunda através de sua relação com as outras formas de capital, uma vez que apresentam possibilidades de serem intercambiados e tem propriedades multiplicadoras uns sobre os outros.

Ainda, a reprodução e o acúmulo do capital social pressupõem um crescente esforço de socialização, reciprocidade, series contínuas de trocas, onde o reconhecimento é (re)afirmado de diversas formas e em muitas situações diferentes. Por isso ele assume também várias formas e contém em seu fluxo diversas potencialidades distintas. Assim, essa forma de capital pode ser reforçada por estratégias de gestão e atuação nas e das redes.

Ao pensarmos nas potencialidades contidas nas redes, alguns trabalhos sobre o tema apontam que um dos recursos mais valiosos que circulam por elas é a informação em suas várias modalidades, sejam na forma de práticas e tecnologias de atuação, conhecimento, dados, ou outras. Dessa forma, a mobilização da rede e o fluxo das trocas também influenciam o tipo e qualidade de informação à qual os indivíduos têm acesso.

Ao revisarmos estudos nesse sentido, algumas características das redes são comumente apontadas como benéficas a essas propriedades intrumentalizadoras do capital social. Para a atuação em projetos culturais podemos considerar essas características como parâmetros para a gestão e mobilização das nossas redes, com intenção de aumentar o fluxo e a qualidade de recursos disponíveis. Sendo elas:

Abrangência: Quanto maior a rede mais possibilidades de recursos potenciais, dessa forma é interessante expandi-la em direções distintas. Por outro lado, é importante atentar que esse aumento de dimensão pode dificultar

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o fluxo destes recursos, e nesse sentido pode ser uma dificuldade, ter um recurso potencial, mas que apresenta tem barreiras ou pouca agilidade para acessar.

Constância dos fluxos: A capitalização das redes também é reforçada com a constância de suas trocas, segundo os estudos, as interrupções minam a confiança na rede e tendem diminuir ainda mais o fluxo.

Heterogeneidade: Na medida em que existe uma maior variedade de agentes, contextos e instituições presentes no âmbito na rede, com diferentes perfis e recursos, maior a possibilidade de recursos de propriedades diversificadas, em oposição aos redundantes e/ou excedentes.

Solidez: A consolidação das redes pode influenciar, na medida em que existe mais reciprocidade, confianças nos vínculos e subjetivação no compartilhamento de recursos. O tempo de existência pode ser um fator importante nesse sentido.

Ainda assim é importante salientar e alertar que esse recurso, essa possibilidade de mobilização e potencialização da atuação que pode se transformar em um discurso que enfraquece a atuação dos projetos culturais. Não é incomum ver determinados setores da sociedade defendendo que a existência do capital social é um motivo para deixar os projetos sócio-culturais e movimentos sociais à própria sorte. Argumentando que eles podem contar apenas com o capital social, apenas com trabalho voluntário, e que por isso não necessitam de recursos financeiros ou similares. Dessa forma, é importante ter cuidado com essa questão, lutar para que o capital social seja um acessório, um recurso facilitador e difusor. E não um precarizador dessas iniciativas, substituto para o trabalho profissional ou remuneração digna de quem trabalha nelas.

Finalizando, essas são algumas da idéias gerais que guiaram na formulação e planejamento do processo de formação proposto, de forma alguma é possível dar conta de todas nessa pequena introdução. Apesar disso, essa introdução pode servir para formar uma base com o intuito de instigar a discussão e reflexão dos temas que estão por vir dos demais momentos desse

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curso Sustentabilidade em Projetos Culturais.

Referências:

BOURDIEU, Pierre. The Forms of Capital. In: A.H. Halsey et al.(orgs). Education, Globalization and Social Change. New York, NY: Oxford University Press, 2006.

COLEMAN, James S. Foundations of Social Theory. Capítulo 12: Social Capital. Pg. 300-323.Harvard University Press, 1990

PORTES, Alejandro. Capital Social: Sus orígenes y aplicaciones en la sociología moderna.. In: J.Carpio y I. Novacovsky (compiladores), De Igual a Igual. El desafío del Estado ante los nuevos problemas sociales,”. Fondo de Cultura Económica, Buenos Aires: 1999.

PUTNAM, Robert D. Bowling Alone: The collapse and revival of american community. New York: Simon e Schuster, 1999.

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