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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE MANAUS ESTADO DO AMAZONAS

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE MANAUS ESTADO DO AMAZONAS

Processo nº 0734079-75.2020.8.04.0001

JOSÉ RICARDO WENDLING, já qualificado nos autos do

processo em epígrafe, por suas Procuradoras e Procurador, mandato junto, tempestivamente, vem apresentar CONTRARRAZÕES ao RECURSO

INOMINADO, requerendo a Vossa Excelência regular processamento e

consequente remessa à Egrégia Turma Recursal.

Requer ainda juntada de procuração atualizada.

Nestes termos. Pede deferimento.

Manaus, 17 de agosto de 2021.

NAYLEIDE ARAÚJO DA SILVA OAB/AM Nº 10.901

MÁRCIA SILVA DIAS OAB/AM Nº 7.520

JOSÉ DE OLIVEIRA BARRONCAS

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EGRÉGIA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS

Processo nº 0734079-75.2020.8.04.0001.

RECORRENTE: LUIS ALBERTO SALDANHA NICOLAU. RECORRIDO: JOSÉ RICARDO WENDLING.

ÍNCLITOS JULGADORES ILUSTRE RELATOR

De início, se faz necessário esclarecer que o Recorrido, apesar de não reconhecer a plausibilidade do direito do Recorrente, de não concordar com a decisão do douto Juízo A Quo, por entender que houve erro no julgamento – especialmente por deixar de analisar no caso a liberdade de expressão ampliada conferida constitucionalmente (art. 53 CRFB) para o exercício livre da função fiscalizatória do Poder Legislativo -, a ela resignou, deixou de apresentar resistência pela via recursal. Assim o fez com o objetivo de pôr fim a uma lide que iniciou há quase um ano, em sua opinião desnecessária, que poderia ser resolvida administrativamente se houvesse por parte do Recorrente ânimo conciliatório.

Entende o Recorrido, que não há nenhum sentido em desperdiçar tempo e ocupar o Judiciário com questões rasas que poderiam ter sido exauridas na seara extrajudicial, particularmente se seguido o rito legal do direito de resposta.

No caso há aberta ausência de dano moral diante da

liberdade de expressão ampliada conferida constitucionalmente ao Requerido

(art. 53 CRFB) que não foi observada no decisum. Assim sendo, o máximo que deve acontecer no caso, é a manutenção da respeitável Sentença e consequentemente, desprovido o presente Recurso Inominado.

I. RESUMO DA LIDE

O Recorrente ajuizou Ação de Indenização por Danos Morais com pedido de Direito de Resposta e Tutela Antecipada no plantão judiciário, em face do Recorrido por publicação de um vídeo no seu veículo de

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comunicação social facebook, no endereço

https://www.facebook.com/ZeRicardoAM/videos/3311938165520798/, em que faz comentário e emite opinião sobre denúncia da agência de notícias The Intercept Brasil1, que demonstra grande discrepância entre os números

apresentados pela da FVS e os dados do Sivep-Gripe2, com quantidade de

óbitos por covid-19 muito superior àqueles oficialmente publicados, em Manaus, no ano passado.

O Juiz plantonista concedeu a tutela de urgência liminarmente, sustentando-se na Lei nº 13.188/2015 e nos seguintes termos:

Diante do exposto, para manter o direito à liberdade de expressão, ao menos por ora, e conceder o direito de resposta, para evitar dano irreparável, DEFIRO PARCIALMENTE A TUTELA DE URGÊNCIA para no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, oferte o direito de resposta para a parte autora no mesmo veículo de comunicação, seu perfil na rede social Facebook, fazendo publicar a íntegra do que a parte autora disponibilizou em link de nuvem compartilhada na exordial sob o seguinte endereço: https://we.tl/t-lXWFrr1M5l

O não cumprimento desta liminar ensejará nas astreintes de R$ 5.000,00 por dia de descumprimento, limitada a 10 dias-multa.

INTIME-SE a parte ré via Oficial de Justiça Plantonista.

Cumpra-se COM URGÊNCIA”.

No julgamento do mérito, o pedido do Recorrente foi parcialmente acatado pelo Juiz A quo, o qual condenou o Recorrido ao pagamento de R$5.000,00, a título de indenização por danos morais, com acréscimo de juros de 1% ao mês e correção monetária INPC desde a data do arbitramento, por entender que as afirmações do Recorrido configuraram ofensa ao Recorrente.

O Recorrido, como antes registrado, mesmo discordando, resignou à decisão com o objetivo de pôr fim à lide. Contudo, o espírito altamente belicoso do Recorrente se insurge novamente, agora contra a decisão do Juízo A Quo, requerendo a ampliação da condenação em danos morais para R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) a ser destinada à instituição de

1 https://theintercept.com/2020/10/05/governo-erro-numero-mortes-coronavirus-manaus/?s=08 2 levantamento exclusivo feito para o Intercept pelo epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz

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4 caridade, aplicação de multa sob a acusação de descumprimento de liminar e ainda condenação em honorários e verbas sucumbenciais.

Entretanto os pedidos não merecem atendimento, pois no caso concreto, sequer há legitimidade do Recorrente como parte para a ação; conforme fundamentos a seguir explicitados não há ocorrência de dano

moral e assim, nesse contexto fático-jurídico, o valor da condenação se mostra

condizente com o caráter reparador e pedagógico da medida.

Outrossim, não há que se falar em aplicação de multa cominatória ao caso, tendo em vista a exposição reiterada nos autos, por parte do Recorrido, de que o cumprimento da decisão liminar em tempo hábil, se tornou impossível não por recalcitrância, mas por razões alheias à sua vontade, diante da impossibilidade de acesso ao processo, protocolado em segredo de justiça – que se espera não tenha sido má-fé processual (por não se enquadrar nos requisitos da exceção) –, bem como em razão da disponibilização de link de vídeo de resposta corrompido, tanto no mandado de citação quanto na petição inicial, conforme imagem que comprova à fl. 78.

II. DAS CONTRARRAZÕES RECURSAIS

Reitere-se que não merece prosperar o pedido de aumento do valor da condenação por inexistência de dano moral contra o

Recorrente por ser parte ilegítima nesta ação cuja decisão ele impugna.

Ademais, conforme fundamentos a seguir explicitados inexiste dano moral por não ter o Recorrido afirmado que a fala do Recorrente foi a causa para tomada de decisões do Governo do Estado e Prefeitura, havendo claro desvirtuamento da fala do Recorrido em interpretação que levou ao Judiciário um entendimento distorcido.

Não existe dano moral sobretudo, em razão de estar

o Recorrido no exercício da função parlamentar, e nessa condição, suas opiniões, palavras e votos estão protegidas pela imunidade material conferida pela Constituição Federal.

É também incabível dano moral e direito de resposta na mesma ação, devido a incompatibilidade de ritos legalmente estabelecidos.

Outrossim, não há que se falar em aplicação de multa cominatória ao caso, tendo em vista a exposição reiterada nos autos, por parte do Recorrido, de que o cumprimento da decisão liminar em tempo hábil, se tornou impossível não por recalcitrância, mas por razões alheias à sua vontade, diante da impossibilidade de acesso ao processo, protocolado em segredo de justiça e disponibilização de link de vídeo de resposta corrompido, tanto no mandado de citação quanto na petição inicial, conforme imagem que comprova

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5 à fl. 78. Condenar em multa o Recorrido que por esse motivo já foi penalizado no seu direito de defesa pleno, seria achincalhar com o devido processo legal – o processo justo – garantido na Constituição Federal e absorvido pelo Processo Civil, além de flagrante injustiça para com o Recorrido.

A) INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL. ILEGITIMIDADE DE PARTE DO RECORRENTE. AUSÊNCIA DE IMPUTAÇÃO DE ATOS À PESSOA FÍSICA

Recorda-se que o presente recurso resulta da demanda que teve como ponto de partida uma denúncia feita pela agência de notícia The Intercept Brasil (TIB), em outubro de 2020, sobre a discrepância de informações entre os dados oficiais da Fundação de Vigilância em Saúde - FVS e dados obtidos por estudos independentes, Sivep-Gripe3, acerca do índice de

mortalidade e número de óbitos decorrentes da pandemia de Covid-19, em Manaus.

Ante ao fato de que foram os números da FVS reconhecidos como errados - que subsidiaram as decisões do Poder Público para o afrouxamento das medidas preventivas contra o coronavírus, a decisão de retorno às aulas na rede pública, mesmo diante do aumento contínuo do número de casos da covid-19 e dos alertas dos cientistas quanto a iminência do segundo surto, o Recorrido, no exercício da função fiscalizatória de Parlamentar, manifestou-se acerca da denúncia feita pelo The Intercept Brasil (TIB) e teceu comentários por meio de vídeo, reproduzindo os trechos correspondentes aos vídeos contidos no próprio veículo de imprensa.

Conforme é possível verificar, o primeiro a aparecer no referido vídeo é o diretor da SAMEL, anunciado o fim da covid-19 em Manaus e em seguida o Governador afirmando que não houve mortes nos dias por ele apontados, regozijando-se pela possibilidade de retorno às aulas das crianças do ensino fundamental.

Destarte, nota-se que o Recorrido dá repercussão ao vídeo publicado pelo The Intercept Brasil e depois denuncia que decisões estão sendo tomadas em cima de dados falsos, dados que não são verdadeiros.

E, a menção que faz é a pessoa jurídica SAMEL, na condição de delegatária do serviço público de saúde - atuando no plano privado - e também investida diretamente na função pública, por meio de Termo de doação de serviços sem encargos com o Município de Manaus, no hospital de campanha. É nesse sentido que se manifesta conforme excerto que se destaca:

3 levantamento exclusivo feito para o Intercept pelo epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz

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6 (...) quer dizer, desde o mês de julho, uma empresa privada que teve uma parceria com a Prefeitura, que administrou o hospital de campanha, que ninguém sabe quanto custou isso, ela anunciou que o covid tinha acabado. E logo na sequência o Governo do Estado toma também decisões em relação a questão de liberar escolas mas também várias outras atividades (...).

Mesmo estando claro em todo o vídeo a referência a pessoa jurídica e não à pessoa física, na sentença condenatória o Juízo A Quo não acatou a ilegitimidade do Recorrido porque o réu expressamente se refere ao autor em seu vídeo, afirmando ser ele o emissor da afirmação acerca do fim da pandemia.

E de fato se refere na literalidade seguinte:

(...) Se um diz que acabou, um médico, de um hospital particular (...)

Constata-se novamente que sua manifestação corresponde à Pessoa jurídica e quando menciona o nome do Recorrido é na condição de representante legal da mesma, pois na situação não há como falar da Empresa sem falar de quem a representa. Assim a argumentação para afastar a ilegitimidade de parte do Recorrente é inidônea pois tendo em vista que a crítica política do Parlamentar não foi dirigida à sua pessoa, mas à Empresa que ele representa, patente está que este é parte ilegítima na presente lide e assim

inexiste dano moral para quem não possui legitimidade para constar no polo ativo da demanda.

Nota-se que o próprio Recorrente desde a petição inicial reconhece que a manifestação do Recorrido se dirigiu à SAMEL e não ao senhor LUIS ALBERTO SALDANHA NICOLAU, conforme trechos que se destaca:

O intuito do Requerido foi unicamente de atentar contra a boa reputação da Samel

(...) a empresa Samel não possui qualquer participação/responsabilidade direta, inclusive, nem poderia, por ser uma empresa privada e que não presta assessoria ao governo neste aspecto

Contudo, mesmo depois de confirmar que o Parlamentar se referiu à SAMEL e não a figura do Recorrente, contraditoriamente o pedido de indenização por dano moral é feito em favor do representante da Empresa.

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7 Possivelmente isso está ocorrendo em razão da postura altamente beligerante do Recorrido que se constata nas diferentes notícias jornalísticas que o estampam comumente em conflito, em briga com algum adversário, quando assim entende:

Fonte: https://amazonasatual.com.br/apos-parceria-samel-e-prefeitura-de-manaus-brigam-por-equipamentos-de-hospital-de-campanha/

Fonte: https://www.estadopolitico.com.br/samel-briga-com-prefeitura-e-cobra-equipamentos-que-doou-para-hospital/

E sua belicosidade utiliza como instrumento especial o Poder Judiciário, pois com seu poder econômico se impõe contra todo aquele que questiona suas ações como representante institucional...

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8 Fonte: https://www.portaltucuma.com.br/vou-provar-que-e- ladrao-dispara-presidente-da-samel-a-arthur-neto-apos-ameaca-de-processo/ Fonte: https://amazonas1.com.br/beto-e-arthur-se-acusam-sobre-desvios-em-hospital-de-campanha-2/

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Fonte: https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo- azevedo/2020/11/19/intercept-brasil-um-caso-surrealista-de-censura-a-imprensa-no-amazonas.htm

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Fonte: https://www.portaldoholanda.com.br/bastidores-da- politica/juiz-do-amazonas-impoe-censura-previa-ao-portal-do-holanda

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Fonte: https://pleno.news/brasil/cidades/juiz-manda-que-globo-tire-do-ar-materias-contra-proxalutamida.html

Assim, foi a mesma postura beligerante que levou o Recorrente a se imiscuir no polo ativo desta lide mesmo sendo parte ilegítima -e qu-e s-e mostra no pr-es-ent-e r-ecurso, pois m-esmo s-endo vitorioso parcialm-ent-e

quer “brigar” ainda mais.

Contudo, reitere-se que, pela escuta atenta do vídeo publicado pelo Recorrido ou pela leitura dos trechos destacado é possível constatar que ele nunca se dirigiu à pessoa física do Recorrente per si, mas ao Hospital particular que ele representa. Portanto, frise-se que o Recorrido não é

parte legítima na presente lide e inexiste dano moral para quem não possui legitimidade processual para constar no polo ativo da demanda e em

consequência não há possibilidade de majoração da condenação para quem

sequer tem legitimidade para receber reparação por danos morais.

B) INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL. DESVIRTUAMENTO DA FALA DO

RECORRIDO. DELEGATÁRIA DO SERVIÇO PÚBLICO. DEVER

PARLAMENTAR DE FISCALIZAÇÃO.

Desde a inicial e neste recurso, o Recorrente alega que o Recorrido o associou diretamente ao aumento de casos de covid-19 e de mortes provocada por este vírus, responsável pelo afrouxamento das medidas sanitárias impostas pelo Governo do Estado do Amazonas

Entretanto, quem assiste ao vídeo, verifica que essas afirmações não procedem. Literalmente nenhuma dessas afirmações foram feitas quanto à pessoa do Recorrente e, para se processar alguém é indispensável se ater à expressão ipsis literis do manifestante - tendo em vista a consequência da condenação. É inadmissível a interpretação subjetiva, desvirtuada, alimentada pelo espírito de beligerância do Recorrente, que coloca

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13 palavras na boca da outra pessoa de acordo com sua interpretação, a partir da formação psíquica pessoal.

E, é ainda mais inadmissível, especialmente quando cotejados aos princípios processuais – em particular da boa-fé processual, processo justo - levar ao Judiciário uma interpretação desvirtuada, criada pela Parte, daquilo que deseja que seja entendido, sem respeitar a literalidade do que foi manifestado. Infelizmente o Juízo A Quo recepcionou a versão desvirtuada do Recorrente em sua decisão.

Para esclarecer o desvirtuamento da fala do Recorrido é essencial recordar que a presente demanda teve como ponto de partida a denúncia feita pelo The Intercept Brasil (TIB), sobre a divergência nos números de óbitos decorrentes da pandemia da Covid-19 em Manaus, comparados os dados oficiais da Fundação de Vigilância em Saúde - FVS e dados obtidos por estudos independentes, Sivep-Gripe4.

Observe-se e repise-se que a matéria traz, além de conteúdo escrito, um vídeo no qual por primeiro aparece o Recorrido anunciando o fim da covid-19 em Manaus, em seguida o Governador noticiando zero mortes, por conseguinte o reconhecimento de erro nos números de óbitos pela ex-Diretora da FVS, e novamente o Governador divulgando o retorno das aulas do ensino fundamental, conforme ordem cronológica na degravação a seguir:

“Em junho, o médico Luís Alberto Nicolau e o governador do Amazonas, Wilson Lima, do PSC, decretaram o fim da covid-19 em Manaus”.

“Luís Alberto Nicolau (Diretor da Samel e Coordenador do Hospital de Campanha de Manaus):

Nós estamos declarando hoje por encerrado o COVID em Manaus. Pelos dados que nós temos, nós não acreditamos em segunda onda para julho, muito menos para agosto.

Wilson Lima (Governador do Amazonas):

Eu estou aqui com o boletim de Fundação de Vigilância em Saúde, do dia 24 de junho, quarta-feira. E nele não há nenhum registro de óbito por corona vírus aqui na capital - Manaus. Essa é uma notícia muito alentadora.

4 levantamento exclusivo feito para o Intercept pelo epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz

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14 Reunião no MP do Amazonas: 11 de setembro, 2020:

Então tem aqui 164 óbitos de um dia para outro, né? Então a pergunta é de fato, com certeza, não ocorreu do dia 1 de setembro [ininteligível].

Diretora-Presidente da FVS – Rosemary Pinto: Sr. Alessandro, você tem razão, o senhor tem razão, é isso mesmo. Nós temos um erro aí, precisamos rever. A sua colocação está plenamente correta. Wilson Lima (Governador do Amazonas):

E nem passa pela minha cabeça a possibilidade de lockdown, de fechar tudo aqui no estado. Nós conseguimos avançar muito. O Amazonas é referência, hoje, no combate a COVID-19. Fomos o primeiro estado a liberar as aulas no ensino médio, e amanhã, quarta-feira, dia 30 de setembro, nós estaremos retornando as aulas do Ensino Fundamental.”

Diante da gravidade dos fatos – números “falsos”

que subsidiaram as decisões dos Poderes Executivos (estadual e municipal)

a afrouxar as medidas de prevenção e desmontar as estruturas sanitárias para atender os doentes da covid-19, e fortaleceram declarações públicas e

particulares (como do Recorrido) de incentivo à população ao retorno à

normalidade - no exercício da função fiscalizatória de Parlamentar, o Recorrido, que durante toda pandemia pauta-se pelas orientações científicas, especialmente da Organização Mundial da Saúde, manifestou-se por meio de vídeo e teceu comentários acerca da referida denúncia

Seguindo a ordem cronológica da denúncia do

The Intercept Brasil por primeiro comenta o anúncio público do “proprietário” administrador da SAMEL – delegatária do serviço público de saúde - e em seguida o anúncio do Governador sobre a ausência de mortos. Objetivamente se verifica que o Recorrido segue a ordem da denúncia sem nenhuma afirmação

literal em seus comentários de que a ação do Primeiro seria a causa da ação do

Segundo, mas que ambas são consequência dos números errados, “falsos”

publicados pela FVS. E por último afirma sim que as ações e declarações tanto

do Agente público como da Delegatária do serviço de saúde - em razão da credibilidade local – incentivam a população ao retorno da normalidade resultando no relaxamento das medidas preventivas e aumento da contaminação pelo coronavírus.

Repita-se e verifique-se no vídeo que, o Recorrido não se referiu a SAMEL como responsável pelas decisões do Governador e do

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15 Prefeito. Comenta a reportagem que aponta dados incorretos, irregulares e que esses dados foram usados para fundamentar declarações e decisões que levaram ao afrouxamento das medidas estatais de isolamento, cuidado individuais e coletivos contra o coronavírus.

A leitura errada, desvirtuada, fruto da interpretação do Recorrente, foi trazida ao Judiciário – e infelizmente acolhida - tendenciosamente, propositalmente para formatar diante deste a configuração do dano moral, que, contudo, resta afastado pelo simples cotejo da literalidade das palavras da petição inicial e do recurso do Recorrente (como antes destacado) com a literalidade da manifestação do Recorrido em seu vídeo.

Diante da gravidade da denúncia publicada pelo veículo de comunicação, com implicação direta no direito fundamental à saúde e à vida da população, na condição de Parlamentar Federal, investido das funções constitucionais era dever se manifestar sobre os fatos graves, sob pena de prevaricação e de responder constitucionalmente e diante da sociedade pela omissão.

Reitere-se que a menção ao Recorrido ocorreu em razão de ser representante legal da empresa SAMEL. E, a referência a esta se deu na qualidade de delegatária do serviço público de saúde bem como

investida diretamente na prestação do serviço público mediante contrato com a Prefeitura de Manaus para o funcionamento do Hospital de Campanha.

Nesse sentido, cumpre trazer a reflexão para fins de esclarecimento, que a prestação de serviço público, consoante artigo 1755 da CRFB/1988 tem como titular o Poder Público, sendo que este pode executar diretamente ou sob regime de concessão ou permissão. E, o direito fundamental à saúde como dever do Estado (art. 195 CRFB/1988) também é prestado mediante serviço público, classificado pela doutrina como serviços sociais:

Serviços sociais são os que o Estado executa para atender aos reclamos sociais básicos e representam ou uma atividade propiciadora de comodidade relevante, ou serviços assistenciais e protetivos. (...) Estão nesse caso os serviços de assistência à criança; assistência médica e hospitalar; assistência educacional; apoio a regiões

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Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.

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16 menos favorecidas; assistência a comunidades carentes etc.6

Assim, a Constituição Federal prevê que a execução das ações e serviços de saúde deve ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado (art. 197 CRFB/1988). E nessa senda explica a doutrina:

É claro que as relações sociais e econômicas modernas permitem que o Estado delegue a particulares a execução de certos serviços públicos. No entanto, essa delegação não descaracteriza o serviço público, vez que o Estado sempre se reserva o poder jurídico de regulamentar, alterar e controlar o serviço. Não é por outra razão que a Constituição atual dispõe no sentido de que é ao Poder Público que incumbe a prestação de serviços públicos (art. 175).

Visando a um interesse público, os serviços públicos se incluem como um dos objetivos do Estado. É por isso que são eles criados e regulamentados pelo Poder Público, a quem também incumbe a fiscalização.7

Destarte, resta claro que qualquer pessoa física ou jurídica de direito privado que execute as ações e serviços de saúde recebe a permissão constitucional para assim proceder na condição de delegatária do Estado, do Poder Público. Logo, a Empresa SAMEL é delegatária no âmbito do Estado do Amazonas da execução das ações de saúde seja de forma independente, como pessoa jurídica de direito privado, seja mediante contratação firmada com os entes públicos, como no caso com o Município de Manaus (VII, art. 30 CRFB)8, consoante Termo de doação de serviços sem encargos cujo objeto consistiu:

CLÁUSULA PRIMEIRA – DO OBJETO

O objeto do presente termo consiste na doação e implantação de protocolos e gestão de atendimentos, 6CARVALHO FILHO. Manual de direito administrativo. São Paulo: Editora Atlas, 2015. p. 337

7 CARVALHO FILHO. Manual de direito administrativo. São Paulo: Editora Atlas, 2015. p.333

8

Art. 30. Compete aos Municípios:

VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população;

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17 sistemas de informática, aí incluídas suas respectivas licenças, bem como treinamento de pessoal e orientação estratégica para adequada e urgente instalação hospitalar, vinculados ao combate da pandemia do COVID-19 em hospital de campanha de propriedade da Donatária, nesta cidade.

Neste ponto, retomando a afirmação da doutrina de que a delegação não descaracteriza o serviço público e que ao Estado sempre se reserva o poder jurídico de regulamentar, alterar e controlar o serviço, recorda-se que o Recorrido é Parlamentar Federal, eleito no âmbito do Estado do Amazonas, e que o Poder Legislativo integra o Estado, consoante artigo 2º da CRFB/1988.

Assim sendo, o Recorrido, na condição de membro do Poder Legislativo, não teria somente direito, mas o dever de se manifestar e questionar a fala pública da Delegatária do serviço público que implicava sim diretamente no comportamento da população quanto aos cuidados preventivos contra o coronavírus. Igual dever tinha de questionar a transparência da contratação dos serviços de saúde no Hospital de Campanha, sobretudo em razão das denúncias que passou a receber e que estavam sendo veiculadas nos meios de comunicação (https://m2news.com.br/noticia/10856/gastos-com-hospital-de-campanha-de-manaus-atingem-r-34-6-milhoes).

Nesse raciocínio, lembra-se que o Recorrente ao admitir nas suas petições que o Recorrido se dirigiu à Pessoa Jurídica, destacou, inclusive neste inominado, o prestígio que goza à Empresa SAMEL diante da sociedade amazonense pelos mais de 40 anos de atuação. Mencionou ainda, na impugnação recursal para fins de justificar a ampliação da condenação, que as falas do Recorrido, pelo alcance que tem às pessoas – em razão dos números da votação na última eleição - reverberam com peso a quase 200.000 (duzentos mil) amazonenses.

Pois se é assim, e com base em todo o prestígio da Empresa SAMEL, quanto reverberou na consciência coletiva da população

a fala do Diretor desta renomada Empresa no âmbito Amazonas ao declarar publicamente o fim da covid-19 e a impossibilidade de um novo surto?

Ora, Excelências, a credibilidade da empresa SAMEL passada à sociedade – em particular a partir da propaganda do tratamento da doença com equipamento criado por ela (Cápsula Vanessa) - a credenciou para que seus posicionamentos fossem tidos como idôneos a serem observados pela população que se encontrava frente a um vírus violentamente letal. A afirmação

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18 tão enfática do Recorrente do fim do vírus, do incentivo de retorno à normalidade, provocou na população auspiciosas esperanças.

Em meio ao terror da doença e da morte que se vivia (vive) a declaração do Gestor da Delegatária, não haveria de causar impacto nas atitudes da população? É difícil acreditar que não! No contexto atroz dessa pandemia é enorme a responsabilidade de suas declarações e há bastante potencialidade de que, o pronunciamento da SAMEL transmitida pelo Recorrente - juntamente com o incentivo e ações de relaxamento pelo Poder Público - tenha induzido boa parte da população a descuidar-se das medidas preventivas e como consequência, contribuído para a chegada da anunciada segunda onda.

Recorda-se com muita tristeza que, o vídeo de denúncia e alerta do Recorrido sobre as consequências das ações e declarações de atores públicos e privados atuantes no combate à pandemia foi divulgado no dia 05 de outubro de 2020. O direito de resposta do Recorrente, no qual reitera inocorrência do segundo surto pois, segundo este, pelos dados que se apresentam até o momento, não teremos também em outubro, foi divulgado na imprensa no dia 13 de outubro do mesmo ano9.

No dia 24 de outubro de 2020, o caos começa a se concretizar. Segundo reportagem, o Sindicato dos Médicos do Amazonas divulgou imagens com superlotação de pacientes feitas no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto. Nas imagens aparecem salas superlotadas e acompanhantes deitados no chão (...). A entidade diz ter ouvido relatos de funcionários sobre pacientes que precisaram ser transferidos para o Delphina Aziz, mas que vieram a óbito após esperar até 48 horas pelo transporte. Um dos trabalhadores relatou que, além dessa espera, houve “12 pacientes em estado grave que morreram pela falta de oxigênio”. Era já o começo da tragédia que começa por Manaus, os hospitais públicos da capital Manaus voltaram a ter os leitos de UTI para pacientes com Covid-19 lotados (...)10.

No dia 23 de dezembro 2020, as Unidades de

Terapia Intensiva (UTIs) em Manaus estavam todas ocupadas, tanto na rede pública quanto na privada11. Completou-se assim o cenário perfeito e a tragédia

humana anunciada e tão alertada, inclusive pelo Parlamentar-Recorrido, se concretizou neste triste fim de 2020 e início de 2021. Começou em Manaus,

mas e se espalhou pelos municípios do interior do Amazonas.

9 https://bncamazonas.com.br/poder/dono-da-samel-resposta-ose-ricardo/

10 http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/604264-amazonas-vive-segunda-onda-de-covid-19-mas-autoridades-negam

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19 Diferente do que declarou o Recorrente no dia 04 de junho de 2020 e no seu vídeo de direito de resposta no dia 13 de outubro, todas as ações pautadas nos números/dados “falsos” contribuíram para o segundo

surto que teve efeito avassalador em Manaus e no Estado do Amazonas com

mortes cruéis – por asfixia, por falta de estrutura de atendimento hospitalar

(UTI) desmontadas precocemente. Mortes de seres humanos, totalmente

evitáveis, se não houvesse ações precipitadas e declarações de atores públicos e particulares - investidos nas funções de atividades públicas – que incentivaram o relaxamento das medidas preventivas por parte da população.

Portanto nobres Julgadores, punir o Recorrido com a condenação em dano moral por ter denunciado – no exercício do Poder Legislativo –, alertado quanto às ações de autoridades públicas e privadas responsáveis pela prestação de serviços de saúde, que levaram à tragédia humana vivida pelas famílias amazonenses já é penalização injusta suficiente. O alerta do Deputado, com fundamento na ciência, era para justamente evitar mais mortes, mais dor e sofrimento pela população. Punir com condenação em dano moral suas falas na atribuição constitucional de fiscalizar, de controlar a prestação de serviço público de saúde direto ou delegado, é retirar inconstitucionalmente do Estado a competência

constitucional conferida.

Ademais, punir o Recorrido pela fala que foi desvirtuada pelo Recorrente nos autos - associou diretamente ao aumento de casos de covid-19 e de mortes provocada por este vírus, responsável pelo afrouxamento das medidas sanitárias impostas pelo Governo do Estado do Amazonas - que não corresponde à literalidade do que foi veiculado no seu vídeo, é condenar por danos morais que não existem.

É ainda mais surreal se cogitar o agravamento da punição do Recorrido diante do pedido de ampliação do valor da condenação por dano moral inexistente. Assim sendo, o que se clama a esses responsáveis Julgadores é que indefiram o requerimento do Recorrente em coerência com o ordenamento.

C) AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DO DEVER DE REPARAR OU INDENIZAR. INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL. IMUNIDADE PARLAMENTAR. LIBERDADE DE EXPRESSÃO AMPLIADA

Objetivando configurar o dano moral o Recorrente, desvirtuando de acordo com sua interpretação subjetiva a fala do Recorrido, afirma que este atacou sua honra, que usou de informações falsas no seu vídeo

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20 e afirma cabalmente que o único objetivo do Recorrido é atingir a imagem da

SAMEL – apesar de esta não constar no polo ativo.

Queixa-se de que o Recorrido extrapolou todos os limites da liberdade de expressão e por essas razões tem o dever de indenizar o suposto dano moral sofrido, além de requerer direito de resposta.

Como explicitado antes, o Recorrido acatou a decisão do Juízo A Quo não por reconhecer a plausibilidade do direito do Recorrente, mas com objetivo de pôr fim a lide e assim seguir seu trabalho no parlamento federal, na defesa da população amazonense.

Assim reiterado, o Recorrido segue se opondo aos argumentos articulados no presente instrumento recursal ante à ausência de fundamentos jurídicos pertinentes e particularmente pela ausência dos requisitos do dever de reparar, conforme se demonstra em prosseguimento.

É sabido, embora haja controvérsia doutrinária - que a responsabilidade civil é a consequência, o produto da soma de três pressupostos: a conduta humana positiva ou negativa (para alguns doutrinadores simplesmente causa), o dano – lesão a bem jurídico relevante – e o nexo de causalidade.

A conduta humana é a causa, é a origem da responsabilidade civil, e pode decorrer da violação do dever jurídico preexistente genérico - violação da norma jurídica que impõe um determinado comportamento – ou, específico quando preexistente vínculo, relação material-jurídica entre autor e vítima.

In casu o Recorrido é acusado de responsabilidade civil extracontratual, por suposta violação de dever jurídico genérico imposto pela norma jurídica.

Inicialmente, cumpre destacar que o Recorrido ao iniciar sua fala no vídeo assentou que fazia a denúncia como deputado federal preocupado com a saúde da população, preocupado como o retorno às aulas porque estão tomando decisões em cima de dados falsos, dados que não são verdadeiros. Observa-se assim que, desde o início a ênfase da sua fala recai sobre o objeto da reportagem do The Intercept Brasil - dados errados publicados pela FVS que subsidiaram ações públicas e privadas, como a declaração do Recorrido.

A conduta do Parlamentar, conforme já demonstrada, concretizada em sua manifestação no veículo de mídia mencionado pelo Recorrente, respeitou os limites da liberdade de expressão, manifestação de

(21)

21 pensamentos e opiniões, na medida ampliada conferida pela Constituição

Federal (art. 53) para permitir o exercício do cargo de Deputado Federal,

com dever de cumprimento de sua atribuição de fiscalizar, especialmente a aplicação dos recursos públicos, da escorreita prestação de serviço público, denunciar irregularidades e condutas – cometidas por atores públicos e privados, nesse particular, que atentem contra a saúde e a vida da coletividade.

Impede concordar com o Recorrido num ponto de sua impugnação que se refere à sua atuação definida como política. Sim, é de conhecimento técnico-jurídico que o Poder Legislativo é poder político e os membros que o compõem são considerados pela doutrina e jurisprudência como

agentes políticos, e assim deve ser sua atuação, posto que são parte que

integra o ente político Estado Brasileiro (art. 2° CRFB). Nesses fundamentos a manifestação de um membro do Poder Legislativo corresponde a manifestação política, crítica ou não.

Nesta sintonia, cumpre registrar que a luta em defesa do direito fundamental à saúde e à vida sempre foram diretrizes prioritárias dos mandatos do Parlamentar-Recorrido. Com mais intensidade se deu durante a pandemia do coronavírus pautado sempre pela necessidade social e pelas orientações científicas, em particular da OMS. Assim, se ilustra, a título de exemplo, nas proposições legislativas, requerimentos e demais, bem como matérias jornalísticas respectivamente, a seguir:

Proposições:

PL 744/2020 - Dispõe sobre o pagamento do adicional de insalubridade no percentual de 40% a todo trabalhador da saúde cujas instituições em que trabalham estejam vinculadas ao atendimento de pacientes infectados pelo COVID-19 (Coronavirus). Data: 18/03/2020.

PL 743/2020 - Altera a Lei nº 13.979 de 2020 para assegurar, na forma que disciplina, auxílio financeiro básico, emergencial, temporário aos trabalhadores atingidos pelo impacto da pandemia do coronavírus na economia brasileira. Data: 18/03/2020.

PL 745/2020 - Altera a Lei nº 10.836, de 09 de janeiro de 2004 para estabelecer complementação financeira no valor da parcela do beneficio do Programa Bolsa Família, em razão da pandemia do Coronavírus (Covid-19). Data: 18/03/2020.

PL 749/2020 - Acrescenta o artigo 3º-B, a Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990 para garantir benefício do seguro-desemprego aos trabalhadores no período da pandemia do coronavírus (Covid-19). Data: 18/03/2020.

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22 PL 2392/2020 - Dispõe sobre o pagamento do adicional de insalubridade no percentual de 40% a todo trabalhador civil do setor de saúde cujas instituições em que trabalham estejam vinculadas ao atendimento de pacientes infectados pelo COVID-19 (Coronavirus). Data: 05/05/2020.

PL 832/2020 - Altera a Lei nº 13.979 de 2020 para instituir, na forma que disciplina, o Comitê Nacional de Articulação das ações de Enfrentamento ao Coronavírus e Monitoramento dos casos e dos impactos do Covid-19 em todos os entes federados. Data:23/03/2020.

PL 1023/2020 - Proíbe a suspensão de serviços médicos contratados em planos de saúde. Autor: Alencar Santana Braga - PT/SP e outros. Data: 25/03/2020. (coautoria)

PL 1299/2020 - Altera a Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990 para definir mecanismo de financiamento específico, fortalecimento da rede SUS e medidas emergenciais para o enfrentamento de pandemias e calamidades em saúde pública junto aos povos indígenas no Brasil. Autor: Joenia Wapichana e outros Data: 31/03/2020 (coautoria)

PL 1771/2020 - Autoriza Chefe do Poder Executivo, em todas as esferas, a requisitar hotéis, pousadas, motéis e demais estabelecimentos de hospedagem em virtude da pandemia de COVID-19. Autor: Marília Arraes - PT/PE e outros. Data: 09/04/2020. (coautoria)

PL 2837/ 2020 - Determina a manutenção de qualquer vantagem pecuniária devida aos profissionais e trabalhadores de saúde afastados por suspeita ou confirmação de contaminação pelo novo coronavírus. Autor: Marília Arraes - PT/PE, Valmir Assunção - PT/BA, Carlos Veras - PT/PE e outros. Data:22/05/2020. (coautoria)

PL 2848/ 2020 - Altera a Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996, e a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, para determinar, pelo prazo de 1 (um) ano, o licenciamento compulsório de patentes associadas a produtos essenciais ao enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente da pandemia de Covid-19. Autor: Erika Kokay - PT/DF, José Guimarães - PT/CE, Jorge Solla - PT/BA e outros. Data:25/05/2020. (coautoria)

Requerimentos:

Ministério da Saúde - INC 129/2020 - Sugere ao Poder Executivo, por meio do Ministério da Saúde, providências legislativas necessárias para a revogação da Emenda Constitucional nº 95/2016, que reduziu os investimentos da saúde, bem como a liberação com prioridade das emendas

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23 parlamentares da área saúde para este ano de 2020, para o efetivo enfrentamento à Pandemia do Coronavírus. Data: 17/03/2020

Ministério da Economia - INC 279/2020- Sugere ao Poder Executivo, por meio do Ministério da Economia, providências necessárias para liberação com prioridade das emendas parlamentares da área saúde para este ano de 2020, para o efetivo enfrentamento à Pandemia do Coronavírus – Covid-19. Data:30/03/2020

SUSAM - INC 520/2020 - Sugere ao Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, a criação de um Programa Estadual para a contratação de médicos estrangeiros que já atuaram no Programa Mais Médicos, para fortalecer o sistema público de saúde no estado nesse período de Pandemia de Covid-19. Data: 05/05/2020 Ministério da Saúde - INC 547 - Sugere aos Poderes Executivo Estaduais da Região Norte, providências necessárias à Criação do Consórcio Amazônico de Saúde, com uma Brigada Especial de Enfrentamento ao Covid-19 na Amazônia Brasileira. Data: 08/05/2020.

Ministério da Saúde - INC 563 Sugere ao Poder Executivo por meio do Ministério da Saúde, providências necessárias para a construção de hospitais de campanha no Estado do Amazonas, nas Mesorregiões das Calhas do Alto Rio Negro, Alto Solimões, Médio Solimões, Médio Amazonas, Baixo Amazonas e Manaus. Data: 12/05/2020

Pleitos ao Governo do Estado do Amazonas:

OFÍCIO NO 76/2020 (21/3/2020) AO GOVERNO DO ESTADO QUESTIONANDO A ESTRUTURA DO SISTEMA DE SAÚDE DO AMAZONAS – Pedido de informações sobre a estrutura do sistema saúde público e privado: quantidade de leitos de UTIs, de ventiladores mecânicos, bem como previsão de construção ou instalação de hospitais provisórios, quantidade de kit’s para realização do teste para o Coronavírus, quantos profissionais na rede, qual recurso financeiro disponível para investimento na área da saúde e qual o fluxograma de atendimento adotado atualmente desde os casos suspeitos até aos casos confirmados.

OFÍCIO NO 86/2020 (31/3/2020) À SUSAM PARA QUE O CENTRO DE CONVENÇÕES E ARENA DA AMAZÔNIA COMO LOCAIS PARA AMPLIAÇÃO DO ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS

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24 OFÍCIO No 89/2020 (13/4/2020) AO GOVERNO DO ESTADO PARA FAZER PARCERIAS COM INSTITUIÇÕES DE ENSINO, COMO O IFAM, E SINDICATOS E COOPERATIVAS DE COSTUREIRAS PARA A CONFECÇÃO DE MÁSCARA E SUA DISTRIBUIÇÃO À POPULAÇÃO

OFÍCIO NO 94/2020 (17/4/2020) AO GOVERNO DO ESTADO E À SUSAM COBRANDO PROVIDÊNCIAS DO ESTADO SOBRE DENÚNCIAS NO JOÃO LÚCIO - sobre denúncia que rodou o país e o mundo é de um vídeo mostrando corpos (empacotados) espalhados pelos corredores e salas do Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio, em meio a outros pacientes internados e a profissionais da saúde.

OFÍCIO NO 99/2020 (24/4/2020) À SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE (SUSAM), DO GOVERNO DO ESTADO, SOLICITANDO QUANTITATIVO DE MORTES OFICIAIS NO ESTADO

OFÍCIO NO 100/2020 (24/4/2020) À FUNDAÇÃO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE (FVS), DO GOVERNO DO ESTADO, SOLICITANDO QUANTITATIVO DE MORTES OFICIAIS NO ESTADO

OFÍCIO NO 112/2020 (27/5/2020) à SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE (SUSAM), solicitando melhoria nas condições de trabalhos para os profissionais da Saúde em tempos de Pandemia,

Pleitos à Prefeitura:

OFÍCIO NO 78/2020 (24/3/2020) À PREFEITURA SOBRE O SISTEMA DE SAÚDE - Ofício ao prefeito de Manaus solicitando informações sobre o sistema de saúde municipal: quantidade de equipes do programa Estratégia Saúde da Família (área urbana e rural); quantidade de Agentes Comunitários de Saúde (ACS); quantidade de leitos hospitalares, bem como de UTIs, além de quantos estão ocupados na presente data; e qual o recurso financeiro hoje disponível para investimento na área da saúde e qual seria o montante necessário para preparar a cidade de Manaus contra essa pandemia.

OFÍCIO No 88/2020 (13/4/2020) À PREFEITURA DE MANAUS PARA FAZER PARCERIAS COM INSTITUIÇÕES DE ENSINO, COMO O IFAM, E SINDICATOS E COOPERATIVAS DE COSTUREIRAS PARA A CONFECÇÃO DE MÁSCARA E SUA DISTRIBUIÇÃO À POPULAÇÃO

OFÍCIO NO 98/2020 (23/4/2020) À SECRETARIA MUNICIPAL DE LIMPEZA URBANA (SEMULSP), DA PREFEITURA DE

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25 MANAUS, SOLICITANDO QUANTITATIVO DO NÚMERO DE ENTERROS EM MANAUS

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26 Destarte Excelências, propor, se manifestar, denunciar, representar contra suspeita de irregularidades e condutas indicativas de violação ao uso escorreito dos recursos públicos destinados ao direito fundamental à saúde, dentre outros, sempre foi prática utilizada pelo Parlamentar-Recorrido como meio de cumprimento do dever constitucional de sua função fiscalizatória.

E assim sendo, no caso posto, não se trata de ataque ou perseguição ao Recorrente, a sua Empresa ou ao seu irmão. Trata-se de

conduta consentânea do Recorrido, no exercício dos mandatos parlamentares que lhe foram confiados, na firme defesa dos direitos fundamentais à saúde e à vida da população, principalmente, nesse período

pandêmico.

Observa-se que a manifestação política do Recorrido – que segue a ordem da denúncia do noticiante - se refere às condutas tanto do Governador, como do Prefeito, da ex-Diretora da FVS e no caso, da SAMEL, representado pelo Gestor.

Assim sendo, a crítica política manifestada no vídeo em alusão a denúncia do The Intercept Brasil não foi dirigida com a intenção de macular a honra ou imagem de ninguém. Foram dirigidas a agentes públicos e privados, investidos de delegação para a prestação do serviço público.

O Recorrente afirma que a conduta do Recorrido é causadora de dano moral indenizável por ter este o associado diretamente ao aumento de casos de covid-19 e de mortes provocada por este vírus, responsável pelo afrouxamento das medidas sanitárias impostas pelo Governo do Estado do Amazonas. Tais acusações já foram desconstruídas no tópico anterior uma vez que foram desvirtuadas e não representam a literalidade do que foi dito pelo Recorrido em sua manifestação.

Outrossim, que existe dano moral a ser reparado afirmando que o Recorrido teria dito que o Recorrente e a Empresa que este administra, estariam se locupletando ilicitamente de dinheiro público atinente aos gastos com saúde pelo governo para a contenção dos efeitos da pandemia viral de Covid-19.

Novamente, o Recorrente na tentativa de dar a feição jurídica de dano moral ao caso, cria frases com palavras jamais ditas no vídeo no qual se manifestou o Recorrido e as reproduz como se dele fossem. Para repelir tamanho flagrante indício de má-fé processual se destaca o trecho a que se refere o Recorrente:

(...) Se um diz que acabou, um médico, de um hospital particular, que aliás tá ganhando, ganhou, pelo

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27 visto ganhou muito dinheiro com essa situação (...).

Observe-se que locupletar significa no sentido literal do dicionário, enriquecer. O Recorrido mencionou que pelo visto ganhou muito dinheiro. Nunca falou que se locupletou, que enriqueceu com o dinheiro

público destinado ao combate à pandemia. São expressões diferentes.

E levantou tal questionamento em razão de que nos contratos com a administração pública (neste caso Município) existe a presunção de que o particular-contratante não trabalha de graça e dependendo do serviço, os valores são altamente vultosos, e isso é praticamente comum em razão das características peculiares aos contratos administrativos.

Outrossim questionou em razão da repentina desativação do Hospital de Campanha que, com menos de dois meses de funcionamento foi fechado, sendo que nos termos do Contrato, de conhecimento público, a vigência mínima seria de 06 (seis) meses, ou término da

pandemia pelo COVID-19, impondo-se a irrenunciabilidade de seus termos

antes de seu vencimento, consoante as cláusulas 4ª e 5ª, abaixo transcritas: CLÁUSULA QUARTA – DA VIGÊNCIA

a) A vigência deste contrato compreende o período de 06 (seis) meses, ou término da ´pandemia pelo COVID-19, o que ocorrer primeiro, contados da data da sua assinatura.

b) Caso a pandemia pelo COVID-10 não tenha terminado no prazo apontado, o prazo será automaticamente prorrogado por igual período se não houver manifestação contrária entre as partes.

CLÁUSULA QUINTA – DA DENÚNCIA

O Presente termo é irrenunciável e irretratável, somente podendo ser rescindido em caso de caso fortuito ou força maior.”

Questionou também o contrato da Delegatária com a Prefeitura em razão da falta de transparência envolta no acordo e acerca dos gastos com o hospital de campanha, especialmente diante das denúncias jornalísticas12 que explodiam. Inclusive registre-se que para apurar os termos da

12

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https://amazonasatual.com.br/apos-parceria-samel-e-prefeitura-de-manaus-brigam-por-28 execução do contrato e valores, o Parlamentar precisou recorrer ao Ministério Público do Estado (Notícia Fato n° 01.2020.00004002-2) para assim ter acesso a documentos e esclarecimento da execução e dos valores envolvidos.

Contudo, no sentido de ganhos auferidos, muito embora o Recorrente tenha argumentado nos autos que não ganhou dinheiro, a SAMEL ganhou sim com a celebração do termo de acordo para administrar o Hospital de Campanha Municipal, no qual foram instaladas as “cápsulas Vanessa”. O Hospital foi uma das principais vitrines para divulgação do produto criado pela Empresa13 e consequentemente expansão, venda e auferimento de lucros para Delegatária de serviços públicos da saúde, na condição de pessoa jurídica de direito privado.

E, diga-se antes que haja outras interpretações subjetivas prejudiciais, que o Recorrido entende tal atividade plenamente normal, albergada no princípio da livre iniciativa, da ordem econômica reconhecida pela Constituição Federal.

Observe-se contudo que, é de conhecimento público, lamentavelmente, que “nos últimos capítulos” se assistiu à briga de narrativas e acusações entre o ex-prefeito Artur Neto e o Recorrente, que ganhou as páginas dos noticiários locais14, em razão das doações recebidas pelo Hospital de Campanha, que envolvia, ao que se sabe, equipamentos caros e valiosos, como, por exemplo, um tomógrafo, aparelhos de Raio-X, além de insumos, medicamentos e outros equipamentos de menor porte. Tais episódios indicam que a parceria não foi tão transparente assim.

Logo, diante de todos esses fatos, indícios e denúncias de irregularidades, o Parlamentar questionou os ganhos que presumivelmente teria recebido a Delegatária. A manifestação contudo, não corresponde a uma conduta capaz de configurar dano moral em razão do exercício da função fiscalizatória que o protege com a imunidade parlamentar, que amplia seu direito de liberdade de manifestação e expressão e o imuniza em suas opiniões, críticas políticas, mesmo que mais acerbas.

Destarte, a crítica política, mesmo a mais intensa, feita no exercício de mandato parlamentar a uma pessoa pública ou particular investido nas funções de titularidade do Estado, que não extrapola o âmbito dos

equipamentos-de-hospital-de-campanha/; https://m2news.com.br/noticia/10856/gastos-com-hospital-de-campanha-de-manaus-atingem-r-34-6-milhoes 13 https://para.deamazonia.com.br/?q=278-conteudo-175021-ministro-da-saude-conhece-capsula-vanessa-que-ja-concedeu-113-altas-do-hospital-de-campanha-de-manaus https://www.manaus.am.gov.br/noticia/metodo-inovador-tratamento-covid-interior/ https://bncamazonas.com.br/ta_na_midia/medicos-capsula-vanessa-samel/ 14 <https://www.estadopolitico.com.br/samel-briga-com-prefeitura-e-cobra-equipamentos-que-doou-para-hospital/>

(29)

29 atos públicos – como no presente caso em que o Recorrido não atacou a vida particular do Recorrente – não tem a intenção de atacar a imagem e honra pessoal deste, pois se mostra compatível com a liberdade de expressão ampliada conferida para o exercício do cargo, e não tem, portanto o condão de provocar dano.

Acrescente-se que o Recorrido, no exercício do mandato, ao manifestar opinião política e dá repercussão sobre uma denúncia de cunho grave relacionada a pandemia - erros no número de óbitos, por Covid-19 ensejadores da flexibilização das medidas preventivas que levou à morte de milhares de pessoas no segundo surto em Manaus - não extrapolou o direito de livre manifestação de pensamento, opiniões e palavras, conferida a este pela Constituição Federal (art. 53), na forma ampliada, para possibilitar o cumprimento das atribuições de seu cargo como Parlamentar Federal.

A prerrogativa da imunidade material como se sabe, exclui a responsabilidade civil e penal dos congressistas por opiniões, palavras e votos (CF, art. 53) e tem o objetivo de assegurar a democracia:

A Constituição confere uma tolerância maior com o uso da liberdade de expressão quando proveniente de parlamentar no exercício de seu respectivo mandato. Trata-se da imunidade material. Essa imunidade se justifica com o objetivo de assegurar um bem maior, qual seja, a própria democracia. Entre um parlamentar acuado pelo medo de sofrer um processo criminal e um parlamentar livre para expor as suspeitas que pairam sobre outros homens públicos, o caminho trilhado pela Constituição foi o de conferir liberdade ao congressista.

Uma das funções típicas do Poder Legislativo é a de fiscalizar. Para isso, é indispensável a existência da imunidade a fim de que o Deputado ou Senador tenha independência para bem desempenhar esse papel.

Dessa feita, a regra da imunidade deve prevalecer nas situações limítrofes em que não fique demonstrada uma conexão direta entre a atividade parlamentar e as ofensas irrogadas, mas que, igualmente, não se possa, de plano, dizer que exorbitem do exercício do mandato15.

15 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Imunidade material. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:

(30)

30 Prevalece na doutrina e na jurisprudência da Corte Maior que a imunidade parlamentar não é absoluta, havendo distinção entre a proteção conferida pelas opiniões e palavras emitidas dentro do Congresso Nacional, que são consideradas absolutas e relativas às que ocorrerem fora, sendo necessário, neste último caso, que a manifestação tenha relação com

o exercício do mandato para assim receber o manto da imunidade material.

Nesse sentido doutrina e jurisprudência respectivamente:

Quando as opiniões, palavras e votos forem produzidos fora do recinto da respectiva Casa legislativa, exige-se que o ato esteja relacionado ao exercício da atividade parlamentar. Na hipótese de utilização de meios eletrônicos (Orkut, Facebook, Twiter, e-mails...) para divulgar mensagens ofensivas à honra de alguém, deve haver vinculação com o exercício parlamentar para que seja afastada a responsabilidade ainda que a mensagem tenha sido gerada dentro do gabinete16.

“A palavra 'inviolabilidade' significa intocabilidade, intangibilidade do parlamentar quanto ao cometimento de crime ou contravenção. Tal inviolabilidade é de natureza material e decorre da função parlamentar, porque em jogo a representatividade do povo. (...) Assim, é de se distinguir as situações em que as supostas ofensas são proferidas dentro e fora do Parlamento. Somente nessas últimas ofensas irrogadas fora do Parlamento é de se perquirir da chamada 'conexão com o exercício do mandato ou com a condição parlamentar' (Inq 390 e 1.710). Para os pronunciamentos feitos no interior das Casas Legislativas não cabe indagar sobre o conteúdo das ofensas ou a conexão com o mandato, dado que acobertadas com o manto da inviolabilidade. Em tal seara, caberá à própria Casa a que pertencer o parlamentar coibir eventuais excessos no desempenho dessa prerrogativa. (...).” STF. Plenário.

https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/903ce9225fca3e988c2af215d4e54 4d

16 NOVELINO, Marcelo. Manual de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2013. p. 796-797.

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31 Inq 1.958, Rel. p/ o ac. Min. Ayres Britto, julgado em 29/10/200317.

Destarte, o elemento imprescindível para que as declarações dos parlamentares sejam acobertadas pelo manto da inviolabilidade material é o nexo direto e evidente com o exercício das funções parlamentares. Por essa razão, o STF já declarou a proteção imunizante, reiteradamente,

por declarações feitas mesmo fora do recinto do parlamento em razão de as declarações terem sido proferidas em razão do cargo de Deputado Federal:

DECLARAÇÕES – CARÁTER DISCRIMINATÓRIO – INEXISTÊNCIA. Declarações desprovidas da finalidade de repressão, dominação, supressão ou eliminação não se investem de caráter discriminatório, sendo insuscetíveis a caracterizarem o crime previsto no artigo 20, cabeça, da Lei nº 7.716/1989. DENÚNCIA IMUNIDADE PARLAMENTAR – ARTIGO 53 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – INCIDÊNCIA. A imunidade parlamentar pressupõe nexo de causalidade com o exercício do mandato. Declarações proferidas em razão do cargo de Deputado Federal encontram-se cobertas pela imunidade material. Inq 4694, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 11/09/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-167 DIVULG 31-07-2019 PUBLIC 01-08-2019. EMENTA QUEIXA. CRIME CONTRA A HONRA. CALÚNIA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA. IMUNIDADE

PARLAMENTAR. ART 53, CAPUT, DA

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INCIDÊNCIA DA REGRA IMUNIZANTE MESMO QUANDO AS PALAVRAS FOREM PROFERIDAS FORA DO RECINTO DO PARLAMENTO. APLICABILIDADE AO CASO CONCRETO POIS AS SUPOSTAS

OFENSAS PROFERIDAS GUARDAM

PERTINÊNCIA COM O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE PARLAMENTAR. 1. A regra do art. 53, caput, da Constituição da República contempla as hipóteses em que supostas ofensas proferidas por parlamentares guardem pertinência com suas 17 No mesmo sentido: STF. 1ª Turma. RE 463671 AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em

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32 atividades, ainda que as palavras sejam proferidas fora do recinto do Congresso Nacional. Essa imunidade material tem por finalidade dotar os membros do Congresso Nacional da liberdade necessária ao pleno exercício da atividade parlamentar. 2. A atividade parlamentar, para além da típica função legislativa, engloba o controle da administração pública (art. 49, X, da CR), razão pela qual os congressistas, ao alardearem práticas contrárias aos princípios reitores da probidade e moralidade administrativas, encontram-se realizando atividade que se insere no âmbito de suas atribuições constitucionais. 3. A regra do art. 53, caput, da CR confere ao parlamentar uma proteção adicional ao direito fundamental, de todos, à liberdade de expressão, previsto no art. 5º, IV e IX, da CR. Mesmo quando evidentemente enquadráveis em hipóteses de abuso do direito de livre expressão, as palavras dos parlamentares, desde que guardem pertinência com a atividade parlamentar, estarão infensas à persecução penal. 4. Queixa rejeitada. Inq 4088, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Primeira Turma, julgado em 01/12/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-058 DIVULG 30-03-2016 PUBLIC 31-03-2016. É o que ocorre no caso em análise, em que a manifestação do Recorrido, mesmo fora do recinto da Câmara do Deputados – mas em rede social do mandato parlamentar -, se deu no exercício da atividade parlamentar, na atribuição fiscalizatória, de controle da administração pública, na defesa dos princípios reitores da probidade administrativa, na defesa do direito fundamental à saúde e à vida. Portanto protegida pela imunidade material que exclui a responsabilidade civil dos congressistas por opiniões, palavras e votos (CF, art. 53)18.

Há que se mencionar que já houve decisão do Superior Tribunal de Justiça reconhecendo o dever de indenizar de parlamentar federal (REsp 1642310/DF). Contudo, no caso julgado, constatou-se a

ausência do requisito de pertinência da manifestação com o exercício da atividade parlamentar. Logo, o precedente não é aplicável ao caso em apreço

cuja manifestação é abertamente feita em razão do exercício das funções parlamentares, reconhecida desde a inicial pelo Recorrente.

18 NOVELINO, Marcelo. Manual de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2013. p. 796-797.

(33)

33 Portanto, a conduta do Recorrido não ultrajou os fundamentos jurídicos ensejadores do dever de reparar, não exorbitou os direitos e prerrogativas constitucionais que lhe são conferidas. Suas palavras estão protegidas pela imunidade material, que apesar de não ser absoluta, no presente caso não houve abusividade da prerrogativa e foram proferidas em total

pertinência com a atividade parlamentar. Logo, sua conduta não gerou a

responsabilidade civil e deve ser afastado - por respeito ao ordenamento jurídico e por justiça - o dever de indenizar.

O douto Juízo A Quo admitiu expressamente que deixou de analisar a imunidade parlamentar em relação ao pedido de danos morais e por isso condenou o Recorrente. Contudo, tendo este recurso efeito devolutivo pede-se que esta douta Turma recursal aprecie detidamente esse aspecto do caso, que fulmina por completo o requisito do dano uma vez que a conduta não é juridicamente idônea para causá-lo e tampouco para aumentar o quantum indenizatório.

No tocante ao dano, outro pressuposto da

responsabilidade civil, é sabido que se trata da lesão ao bem jurídico protegido pelo ordenamento que tem valor social razoável no caso concreto.

No caso posto o Recorrente sustenta ter sofrido dano moral sob a alegação de que a manifestação política do Parlamentar teria atingido sua honra e extrapolado os limites da liberdade de expressão.

Cumpre reiterar, que a manifestação do Recorrido jamais teve a intenção de atingir a pessoa do Recorrente. Sua fala trouxe para o centro dos comentários da crítica política os personagens envolvidos na denúncia do órgão jornalístico: o Governador do Estado, a ex-Diretora da FVS, o Prefeito de Manaus e como parte envolvida com o Poder Público no combate a pandemia do coronavírus, a empresa SAMEL, do qual é Diretor o Recorrente. Veja-se que a crítica foi feita ao Particular investido em múnus público, à delegatária da prestação de serviço público de saúde. Não se dirigiu à pessoa física per si do Recorrente.

Desse modo aplica-se ao caso o princípio da impessoalidade, pois o Parlamentar-Recorrido, no dever de fiscalização da coisa pública, se manifestou referindo-se aos atores públicos (Governador, ex-Prefeito, ex-Diretora) e atores privados investidos na função pública (Empresa SAMEL e seu Representante).

Nesse raciocínio, o dano alegado não se sustenta, posto que na condição de delegatária de serviço público - que fez parceria com

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34 o poder público no combate a pandemia - a crítica política não foi dirigida à pessoa humana, não há ataque ao indivíduo, mas uma crítica contundente à declaração precoce da pessoa jurídica e acerca dos valores envolvidos na contratação, pouco transparente, à época, com o Município de Manaus.

Portanto, o dano alegado não subsiste, seja porque a conduta do recorrido não extrapolou os limites da liberdade de expressão de Parlamentar, no exercício de suas funções – imunidade material constitucional -, seja porque não foram dirigidas para atingir a honra subjetiva e objetiva do Recorrente como pessoa física per si.

Por conseguinte, o nexo causal é elemento imaterial ou virtual da responsabilidade civil19. A relação causa e efeito entre a conduta e o dano suportado por alguém, o liame necessário entre a origem e o resultado pois,

Para que se concretize a responsabilidade é indispensável se estabeleça uma interligação entre a ofensa à norma e o prejuízo sofrido de tal

modo que se possa afirmar ter havido o dano

porque o agente procedeu contra o direito20.

Com tais premissas-fundamentos, e de acordo com os fundamentos já expostos quanto aos demais elementos caracterizadores da responsabilidade civil, de plano se mostra claro que houve um corte no nexo

de causalidade, pois a conduta do Recorrido, por ter sido exercida nos limites

da liberdade de manifestação ampliada conferida ao Parlamentar, no exercício de suas atribuições, não ensejou dano ao demandante.

Ademais, como se fundamentou não se sustenta o dano moral em razão de manifestação crítica sobre uma denúncia pública feita por um órgão jornalístico investigativo. Portanto, resta rompido o nexo de causalidade, por não haver interligação, por sequer haver conduta/causa ensejadora de dano moral.

Destarte Excelências, estão ausentes os

pressupostos essenciais ao dever de indenizar: a conduta do Recorrido está

protegida constitucionalmente pela liberdade de expressão ampliada e não teve potencialidade de causar dano à pessoa, pois foi dirigida a pessoas públicas e particulares (pessoa jurídica) investidos na função pública que têm, em razão dessa condição, proteção diminuída a direitos de personalidade. Desse modo e

19 TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. p. 444. 20 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Responsabilidade civil, apud TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2012. p. 444.

Referências

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