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ENEGEP2006 TR530350 8187

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ENEGEP 2006 ABEPRO

Esforços e dificuldades para inovação tecnológica: estudo de caso em

empresas do setor de máquinas e implementos agrícolas

Julianita Maria Scaranello Simões (UFSCar) julianita@dep.ufscar.br Luciano Silva Lima (UFSCar) luciano@dep.ufscar.br

José Flávio Diniz Nantes (UFSCar) fnantes@power.ufscar.br

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo caracterizar o esforço para Inovação Tecnológica (IT) e identificar suas principais dificuldades em duas empresas do setor de máquinas e implementos agrícolas do Brasil, sendo uma de capital nacional e a outra de capital estrangeiro. Com base numa revisão teórica sobre as atividades para IT e informações sobre o setor de máquinas e implementos agrícolas no Brasil, realizou-se, seguindo uma abordagem qualitativa, um estudo de caso a partir de uma entrevista semi-estruturada em cada empresa. De modo geral, pôde-se constatar que o esforço inovativo da empresa nacional foi superior ao da empresa estrangeira, sendo que ambas enfrentaram as mesmas dificuldades com relação à IT. Considerando a importância estratégica da IT para a competitividade das empresas em geral e tendo em vista a carência de publicações sobre o tema no setor de máquinas e implementos agrícolas, espera-se que esse artigo apresente uma contribuição nesse sentido.

Palavras-chave: Inovação tecnológica, Competitividade, Máquinas e implementos agrícolas.

1. Introdução

A Inovação Tecnológica (IT) é considerada como um grande impulsionador do aumento de competitividade das empresas e do desenvolvimento industrial dos países. Segundo De Negri

et al. (2005), as vantagens obtidas com a IT são várias, sejam para as empresas, sejam para o

próprio país. Dentre as vantagens que a IT gera para as empresas, destacam-se: a melhoria da qualidade dos produtos oferecidos e a ampliação da participação da empresa no mercado de atuação. Já para o país, as vantagens concentram-se em melhores salários e condições de trabalho, aumento das exportações, entre outras.

Conforme De Negri et al. (2005), o esforço inovativo é essencial para que as empresas consigam aumentar os recursos disponíveis e, conseqüentemente, suas potencialidades. Porém, segundo os autores, o esforço inovativo das empresas brasileiras ainda é insuficiente para que consigam atingir uma maior inserção no mercado, tanto nacional quanto internacional. Diante disso, em 2003 o governo federal lançou a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (Pitce) que teve por objetivo alavancar a inovação e diferenciação de produtos e serviços no Brasil com base na IT e em uma maior inserção no comércio internacional, aplicando-se também a empresas do setor de máquinas e implementos agrícolas.

Particularmente nesse setor, o processo de IT também é fundamental para a inserção e manutenção das empresas no mercado em expansão, com demandas por soluções cada vez mais específicas e menos onerosas. Dessa forma, observa-se uma tendência das empresas desse setor incorporarem cada vez mais tecnologias criadas e desenvolvidas a partir de um maior esforço interno e externo para a inovação. No entanto, o tema IT ainda se mostra incipiente nesse segmento, com poucas publicações acadêmicas.

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Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivos: caracterizar duas empresas de máquinas e implementos agrícolas com relação aos esforços para IT de produto e processo, de acordo com as sete categorias de atividades propostas pela Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (PINTEC 2003) realizada pelo IBGE (2003) e identificar suas principais dificuldades para IT.

Para tanto, a partir de uma revisão teórica sobre as atividades que traduzem os esforços para IT e sobre o setor de máquinas e implementos agrícolas do Brasil, realizou-se, sob uma abordagem qualitativa, dois estudos de caso em empresas do setor, sendo uma de capital nacional e outra de capital estrangeiro. A pesquisa de campo foi realizada junto ao respectivo responsável pela IT de cada empresa, com base num roteiro de entrevista previamente elaborado.

2. Inovação tecnológica

Para Burgelman et al. (2001), a IT é resultante de um “processo de inovação”, o qual pode ser definido como um conjunto de atividades que conduzem para o novo, tanto com relação ao produto, tanto com relação ao processo de produção. A comercialização do produto ou serviço é o direcionador fundamental desse “processo de IT”.

Segundo a PINTEC 2003, a IT é definida como sendo a introdução, no mercado ou na empresa, de um produto (bem ou serviço industrial) ou um processo, que seja tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado.

Um produto tecnologicamente novo é considerado como aquele que se diferencia fundamentalmente dos produtos já produzidos pela empresa em termos de especificações técnicas, funcionalidades, usabilidades, etc. Já um produto substancialmente aprimorado é um aperfeiçoamento de um produto existente, em termos de custo ou desempenho do produto. Um processo tecnologicamente novo é aquele que engloba uma nova tecnologia de produção podendo envolver mudanças nas máquinas e equipamentos existentes, mudanças na organização produtiva devido a mudanças no processo técnico de transformação dos produtos e mudanças no seu acondicionamento e preservação. Um processo substancialmente aprimorado consiste no aperfeiçoamento de um processo existente na empresa em termos de eficiência do processo produtivo, acondicionamento e preservação do produto.

De acordo com a PINTEC 2003, as atividades inovativas realizadas pelas empresas representam os esforços para melhorarem tecnologicamente seus produtos e processos. A PINTEC 2003 categoriza as atividades inovativas em sete tipos:

a) atividades internas de P&D: estão relacionadas ao desenvolvimento de novos conhecimentos e aplicações práticas dos mesmos, podendo resultar em produtos ou processos tecnologicamente novos ou substancialmente aprimorados;

b) aquisição externa de P&D: compreende a aquisição, pela empresa, de novos conhecimentos desenvolvidos e aplicados por outras organizações (empresas ou instituições), de modo a atender necessidades específicas da empresa compradora;

c) aquisição de outros conhecimentos externos: consiste na compra de licenças de direito de exploração de conhecimentos técnicos-científicos existentes no mercado, tais como: patentes de invenção, patentes de modelo de utilidade, registro de desenho industrial, marcas etc.;

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d) aquisição de máquinas e equipamentos: envolve a compra de máquinas e equipamentos voltados para implementar produtos ou processos novos ou tecnologicamente aprimorados;

e) treinamento: relacionado com a capacitação das pessoas para o desenvolvimento de produtos ou processos novos ou tecnologicamente aprimorados. Estes treinamentos podem ser realizados por funcionários da própria empresa ou por uma organização contratada;

f) introdução das inovações tecnológicas no mercado: engloba as atividades voltadas ao lançamento, no mercado, de produtos novos ou tecnologicamente aprimorados, tais como: pesquisa de mercado, teste de mercado, esforços de divulgação etc.;

g) projeto industrial e outras preparações técnicas para a produção e distribuição: englobam os procedimentos e preparações técnicas necessários à implantação de produtos ou processos novos ou tecnologicamente aprimorados, referentes ao espaço físico, processo de produção, capacitação dos funcionários, padrões de qualidade, procedimentos de trabalho etc.

Foi observado por De Negri et al. (2005) que o esforço inovativo das empresas nacionais é maior do que o das empresas estrangeiras. Isto ocorre em razão dos esforços inovativos das empresas estrangeiras estarem concentrados em suas matrizes no exterior, que possuem maior capacitação para IT que as empresas nacionais.

Com relação aos principais problemas que afetam a capacidade de inovação das empresas, segundo De Negri et al. (2005), destacam-se: risco econômico, elevados custos e escassez de fontes de financiamento.

3. O setor de máquinas e implementos agrícolas no Brasil

Caracterizado por uma estrutura de mercado bastante heterogênea, com empresas de portes e de capital distintos, o setor de máquinas e implementos agrícolas vive em constante mudança, pois a modernização da agricultura vem exigindo características distintas desses produtos. Como conseqüência natural do crescimento da agricultura, o Brasil tornar-se-á um dos maiores mercados consumidores de máquinas e implementos agrícolas nos próximos anos (ABIMAQ, 2005). O crescimento na produção de máquinas nacionais vem acontecendo de modo também acelerado. Em 1990, o Brasil produziu um total de 33.114 unidades de máquinas agrícolas automotrizes (cultivadores motorizados, tratores de rodas, tratores de esteiras, colheitadeiras e retroescavadeiras), enquanto no ano de 2004 foram produzidas 69.418 unidades, revelando um crescimento de mais de 100% nesse período (ANFAVEA, 2006). Esse crescimento torna evidente a existência de um espaço que as empresas do setor devem estar aptas a ocupar. Porém, há ameaças inerentes a esse crescimento. Em nível global, a concorrência é acirrada e as empresas nacionais ainda estão longe do patamar de produtividade de classe mundial.

Fatores como a alta sazonalidade na demanda e características gerenciais peculiares do setor (predominantemente composto por empresas familiares ou em transição), tornam difícil a aplicação direta de alguns conceitos para o aumento da produtividade, aplicados em outras indústrias mais competitivas. (ABIMAQ, 2005). Uma maneira viável para alcançar vantagem competitiva sustentável no longo-prazo é a IT. Em setores como o de máquinas e implementos agrícolas, isso constitui um ponto vital da competição, podendo determinar o sucesso ou fracasso das empresas (ROMANO et al., 2001).

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As primeiras informações obtidas sobre desenvolvimento tecnológico em empresas situadas no Brasil provêm de uma avaliação tecnológica realizada na década de 80 (BRASIL, 1984). Tal avaliação baseou-se num estudo que resultou na análise do processo de desenvolvimento de produto então denominado de “rota tecnológica de desenvolvimento de produto”, definida como uma sucessão de atividades tecnológicas que conduziam ao novo produto ou ao aperfeiçoamento dos produtos já existentes. As atividades tecnológicas analisadas nesse estudo foram: pesquisa, design, dimensionamento, elaboração de desenhos e teste de protótipos (ROMANO, 2003).

Naquele período, a engenharia só era desenvolvida num nível tecnologicamente avançado por um pequeno grupo de empresas, normalmente apoiadas em fontes de tecnologia estrangeira, por meio de associações de capital ou por pagamento ao proprietário da patente. Por esse motivo, havia, em 1982, tecnologia própria na maioria das empresas do setor, porém a mesma não era resultado de uma capacidade própria de IT, mas sim de assimilação de técnicas copiadas ao longo dos últimos anos, permitindo-lhes acumular um volume de experiências e conhecimentos que davam suporte aos desenvolvimentos realizados.

Atualmente, as máquinas e implementos agrícolas desenvolvidos no Brasil estão presentes em todas as atividades agropecuárias, isto é, desde o preparo do solo até o armazenamento e transporte dos produtos, variando desde ferramentas manuais até produtos de tecnologia de ponta para a mecanização e automação (GADANHA JÚNIOR et al., 1991).

Internamente, o setor tem recebido apoio institucional por meio de políticas como o Programa Moderfrota (Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras) do BNDES, que visa financiar a aquisição de máquinas e implementos agrícolas aos produtores rurais e cooperativas. Outro incentivo é o da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), que no final de 2005 destinou ao setor 12% de seus recursos financeiros (BROLLO, 2006).

Especificamente com relação à IT, em 2002 foi criado no âmbito da ABIMAQ (Associação Brasileira de Máquinas), o Instituto da Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Máquinas e Equipamentos, visando colocar em prática o programa voltado à IT para o setor, incluindo o segmento de máquinas e implementos agrícolas (ABIMAQ, 2006).

4. Apresentação dos resultados

Neste tópico são apresentados dois estudos de caso realizados em empresas do setor de máquinas e implementos agrícolas do Brasil.

O Quadro 1 apresenta uma caracterização geral das empresas estudadas. A Empresa A possui capital estrangeiro e pertence a um grupo que possui algumas unidades agrícolas no Brasil. Já a Empresa B é de capital nacional e possui administração familiar. Ressalta-se que ambas são empresas de médio porte (entre 100 e 499 funcionários).

EMPRESA A EMPRESA B

Tempo no mercado 36 anos 25 anos

Origem do capital 100% estrangeiro 100% nacional

Quantidade de

funcionários 120 250

Linha de produtos

Colhedoras de cana-de-açúcar, colhedoras de café, plantadoras,

veículos de transbordo e pulverizadores

Desintegradores, moinhos, ensiladeiras, colhedoras e plataformas, vagão forrageiro e arrancadora de soqueira do

algodão.

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Tipo de administração Ltda. Familiar

Estratégia de competição Diferenciação dos produtos Diferenciação dos produtos Quadro 1 – Caracterização geral das empresas pesquisadas

De modo geral, os produtos da Empresa A estão voltados para a cultura de cana-de-açúcar, enquanto que os da Empresa B estão voltados para a alimentação animal. Ambas possuem como estratégia de competição a diferenciação de produtos. Destaca-se que as duas empresas exportam seus produtos e, embora, em proporções diferentes, consideram que o fato de exportar influencia em seus esforços inovativos.

O Quadro 2 apresenta uma síntese dos esforços para a IT das duas empresas.

ATIVIDADES PARA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EMPRESA A EMPRESA B

Busca de novos conhecimentos Sim (Externa) Sim (Externa) Projetos de novos produtos Sim (Interna) Sim (Interna)

Projetos de novos processos Não Sim (Interna)

Construção e teste de protótipos Sim (Interna/Externa) Sim (Interna/Externa) Atividades de P&D

(interna e externa)

Desenvolvimento de softwares Não Não

Aquisição de patentes Não Não

Aquisição de conhecimentos

externos Aquisição de software Não Não

Aquisição de máquinas e equipamentos Não Sim

Realização de treinamentos Sim (Externa) Sim (Externa)

Atividades para introdução de IT Não Sim

No espaço físico Não Sim

No processo de produção Sim Sim

Na capacitação dos funcionários Sim Sim

Nos padrões de qualidade Não Sim

Mudanças necessárias

Nos procedimentos de trabalho Sim Sim

Quadro 2 – Descrição das atividades para IT das empresas pesquisadas

Pode-se dizer que tanto na Empresa A como na Empresa B a busca de novos conhecimentos para IT ocorre por meio de contratação de serviços de assessoria junto a universidades e institutos de pesquisa. Porém, na Empresa A, a maior parte do desenvolvimento de IT é realizada no exterior, sendo que aplicações específicas ficam sob responsabilidade das unidades nacionais, por essas conhecerem melhor o mercado a que se destinam os produtos. Na Empresa A, alguns projetos de novos produtos iniciaram numa fábrica no exterior mas, devido ao seu fechamento, foram finalizados no Brasil. Em outros casos, o desenvolvimento foi completamente realizado no Brasil. Por outro lado, nos últimos três anos não houve projetos de novos processos nessa unidade. Já a Empresa B, nos últimos três anos, realizou atividades de projetos de novos produtos e processos, porém não forneceu detalhes sobre como isso ocorreu.

Nos últimos três anos a Empresa A construiu quatro protótipos (todos fora da empresa), sendo que os testes foram realizados nas propriedades rurais dos clientes. As avaliações do desempenho do protótipo ocorreram durante esses testes, tendo sido executadas pela própria

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empresa e por instituições contratadas para essa finalidade. Já na Empresa B, os protótipos são construídos na própria empresa e os testes realizados tanto dentro da empresa, quanto em propriedades rurais de clientes. A empresa costuma produzir um lote piloto de dez máquinas, testando-o em propriedades rurais localizadas em diferentes regiões. A liberação para a produção comercial ocorre após a avaliação do desempenho em campo e realização dos ajustes necessários.

Nos últimos três anos nem a Empresa A, nem a Empresa B adquiriram patentes. Ressalta-se que, no caso da Empresa A, as patentes foram adquiridas pelo grupo a qual pertence, sendo difundidas para as demais unidades do grupo.

Quanto à aquisição de máquinas ou equipamentos voltados para a IT, isso não ocorreu na Empresa A nos últimos três anos. Houve sim a aquisição de um software que possibilitou a visualização de alguns componentes, dispensando a modelagem física. Em contrapartida, a Empresa B, nesse mesmo período de tempo, adquiriu três novas máquinas e equipamentos: uma máquina de plasma, uma prensa viradeira e um torno CNC, obtendo ganhos como aumento da velocidade, redução de custo e melhoria da qualidade de conformação dos componentes.

Quanto aos treinamentos, estes se intensificaram na Empresa A nos últimos dois anos, no sentido de capacitar os profissionais que iriam manipular o novo software e os técnicos encarregados pelo controle de sistemas de manufatura. Nesse caso, os funcionários são deslocados para outras unidades do grupo com o objetivo de aprenderem o modo como o processo produtivo ocorre e de conhecerem novas máquinas e equipamentos, permanecendo em treinamento por um período de no máximo um mês. Um dos benefícios desse sistema é o contato que os técnicos passam a ter com novas tecnologias que já existiam no mercado internacional, mas que ainda não são adotadas no Brasil. Na Empresa B, houve apenas treinamento no momento da aquisição dos três equipamentos citados. Nessa ocasião, alguns funcionários da empresa foram treinados no exterior, servindo de multiplicadores das informações para os demais funcionários.

Esforços para introdução de IT no mercado não foram realizados pela Empresa A uma vez que são de responsabilidade de outra unidade do grupo. Já na Empresa B, esses esforços estão voltados para a realização de pesquisa de mercado, testes de mercado e divulgação do produto. A área de marketing monitora constantemente o mercado consumidor e os concorrentes, identificando tendências, preços, clientes e novas tecnologias. Além disso, verificam a aceitabilidade do mercado com relação à implantação de uma nova tecnologia, como a quantidade de potenciais usuários que a adotariam, tamanho da área de abrangência do novo produto etc. Os testes de mercado restringem-se à produção do lote piloto, situação em que as máquinas agrícolas são disponibilizadas para um conjunto de clientes para uso nas condições reais de operação. Nessa empresa, os esforços de divulgação são a mala-direta e a apresentação dos produtos em feiras, nas quais são realizadas demonstrações dos produtos em funcionamento.

Para a implantação das inovações na Empresa A, foram necessárias mudanças no layout e nos procedimentos de trabalho, sem alterar, no entanto, os padrões de qualidade de seus produtos. Na Empresa B, por sua vez, a introdução de uma nova máquina agrícola lançada recentemente no mercado, fez “nascer uma nova empresa”, por exigir a ampliação do espaço físico, a alteração do processo de produção, a capacitação dos funcionários, melhoria nos padrões de qualidade dos produtos e dos processos e alterações em alguns procedimentos de trabalho da empresa. Tais alterações foram justificadas pelo fato dessa nova máquina desenvolvida não ter uma mecânica de corte tradicional. É importante salientar que os novos equipamentos

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fabris adquiridos também trouxeram necessidades de mudanças na empresa, com destaque para a reorganização do layout, passando a adotar o sistema de células de manufatura.

Vale ressaltar que a Empresa B realizou tanto inovações de produto como de processo, introduzindo produtos tecnologicamente novos para o mercado, produtos substancialmente aprimorados e implantando processo substancialmente aprimorado. Já a Empresa A realizou somente inovações de produto, lançando, nos últimos três anos, dois produtos tecnologicamente novos para o mercado.

Em paralelo aos esforços para a inovação apresentados, ambas as empresas afirmaram enfrentar algumas dificuldades que interferiram diretamente em sua capacidade de IT. Cada empresa elencou, dentre uma lista de dez possíveis dificuldades, as três dificuldades que tiveram maior influência em sua capacidade de inovação, apresentando uma justificativa para cada resposta. Tais respostas estão apresentadas nos Quadros 3 (referente à Empresa A) e Quadro 4 (referente à Empresa B). Ressalta-se que em ambos os quadros as dificuldades estão dispostas em ordem decrescente de influência na capacidade de IT.

Dificuldades Justificativa

Baixa aceitação dos consumidores quanto aos novos produtos

os clientes, especialmente no Brasil, possuem grande dificuldade em quantificar o retorno obtido com uma máquina tecnologicamente superior e de custo elevado. Em outros países isto não é tão fortemente observado. Nos Estados Unidos ou na Austrália, qualquer inovação é considerada muito importante para os clientes uma vez que, em geral, é o próprio dono da propriedade rural quem opera a máquina, aumentando o nível de exigência dos clientes.

2º Riscos associados à

economia do país estão relacionados à falta de financiamentos e à instabilidade do mercado. 3º Elevados custos da

inovação tecnológica

existem sistemas, subsistemas e componentes que necessitam ser modelados, materiais que precisam ser adquiridos para a construção dos protótipos além do alto custo da mão-de-obra.

Quadro 3 – Principais dificuldades para a capacidade de inovação da Empresa A

Comparando ambos os quadros, verifica-se que, embora o grau de importância tenha variado entre as empresas, as três principais dificuldades que afetam suas respectivas capacidades de IT são as mesmas: elevados custos de IT, riscos associados à economia do país e baixa aceitação dos consumidores quanto aos novos produtos.

Dificuldades Justificativa

1º Elevados custos da inovação tecnológica

o fato da empresa trabalhar com reduzidas margens de lucro inibe o desenvolvimento de inovações tecnológicas.

2º Riscos associados à economia do país

a flutuação do câmbio afeta principalmente o desenvolvimento de tecnologia para o mercado externo, o que, muitas vezes, acaba tornando-a inviável. 3º

Baixa aceitação dos consumidores quanto aos novos produtos

o mercado não está preparado para novidades, oferecendo resistência para algumas tecnologias novas.

Quadro 4 – Principais dificuldades para a capacidade de inovação da Empresa B 5. Considerações finais

Com o intuito de caracterizar os esforços para IT em empresas do setor de máquinas e implementos agrícolas do Brasil segundo as sete categorias de atividades propostas pela PINTEC 2003 e de identificar as principais dificuldades das empresas em empreender tais esforços, realizou-se um estudo descritivo comparando-se esses aspectos em duas empresas

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do setor, sendo uma de capital estrangeiro (Empresa A) e outra de capital nacional (Empresa B).

Considerando as atividades para IT identificadas em ambas as empresas estudadas, constatou-se que o esforço inovativo da Empresa B foi superior ao esforço inovativo da Empresa A. Tal conclusão mostra-se coerente com os estudos realizados por De Negri et al. (2005) apresentados, os quais afirmam que o esforço inovativo das empresas nacionais é maior do que o das empresas estrangeiras.

Com relação às principais dificuldades para a IT no setor, essas coincidiram em ambas as empresas estudadas, alterando-se apenas a ordem de importância atribuída. Destaca-se que duas, das três principais dificuldades identificadas (riscos econômicos e custos elevados) estão coerentes com os estudos realizados por De Negri et al. (2005), os quais identificaram que as mesmas constituem os principais problemas associados à atividade inovativa das empresas.

Por fim, vale destacar que alguns setores industriais têm sido privilegiados e contam com uma maior quantidade de estudos sobre o tema IT. Porém, quanto ao setor de máquinas e implementos agrícolas, ainda são incipientes publicações sobre o tema. Devido à relevância do agronegócio brasileiro, contribuições nessa área mostram-se extremamente necessárias e pertinentes, como é o caso do presente artigo.

Referências

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS. Desempenho do Setor. Disponível em: www.anuarioabimaq.com.br. Acesso em 19 abril 2006.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE VEÍCULOS AUTOMOTORES. Disponível em:

http://www.anfavea.com.br/index.html. Acesso em 25 fev 2006.

BRASIL. Ministério da Indústria e do Comércio. Secretaria de Tecnologia Industrial. Avaliação tecnológica da

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