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Prof. Gesiel Anacleto

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Academic year: 2021

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2018

F

ilosoFia

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Elaboração: Prof. Gesiel Anacleto

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial.

AN532f

Anacleto, Gesiel

Filosofia. / Gesiel Anacleto. – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 215 p.; il.

ISBN 978-85-515-0231-0

1.Filosofia. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 100

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a

presentação

Olá, caro acadêmico! É com grande prazer que apresentamos para você a disciplina de Filosofia. Nesta oportunidade, nós gostaríamos de destacar a importância da disciplina para a formação humana em suas diversas áreas, incluindo na sua formação profissional.

A filosofia instrumentaliza o ser humano com as ferramentas necessárias e imprescindíveis para o ato reflexivo. Tais ferramentas incidirão nas suas escolhas e decisões diárias. Assim, o conteúdo deste material tem como finalidade básica proporcionar a você um acesso, mesmo que de caráter propedêutico, ao universo da filosofia. O material está dividido em três unidades.

A Unidade 1 tem como tema de estudo a filosofia: origem e trajetória do pensamento filosófico. A unidade tem um caráter mais histórico, pois possibilitar que o acadêmico conheça as origens e o desenvolvimento da filosofia é um passo essencial para compreender o desenvolvimento do pensamento filosófico como um todo e a maneira como a filosofia sofreu transformações e chegou ao que conhecemos atualmente.

A Unidade 2 envolverá as principais áreas de estudo da filosofia geral. Não será possível realizar, nesta unidade, uma abordagem pormenorizada dos principais temas. Contudo, acreditamos que, com as informações apresentadas no decorrer da unidade, haverá a compreensão elementar sobre as áreas da filosofia, bem como sua importância para o desenvolvimento do conhecimento humano.

A Unidade 3 irá tratar da filosofia para hoje. Mesmo em um mundo em que os avanços tecnológicos têm tido espaço considerável nos meios acadêmicos, culturais, sociais e políticos, acreditamos que a filosofia ainda possui um papel importante em meio a todas as mudanças.

Sua importância se deve ao fato de possibilitar uma reflexão e a problematização sobre tudo aquilo que acontece em nossa volta. Faremos uma apresentação sucinta de cada temática e a sugestão de bibliografias complementares e filmes para quem deseja aprofundar um pouco mais seus conhecimentos sobre os assuntos abordados aqui.

Nosso desejo sincero é que todo o conhecimento possa servir de grande proveito para sua jornada acadêmica e formação profissional. Que cada tema abordado possa trazer mais luz e entendimento sobre o seu papel como ser humano e como profissional em um mundo repleto de desafios.

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Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

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UNIDADE 1 – FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO .. 1

TÓPICO 1 – A ORIGEM DA FILOSOFIA ... 3

1 INTRODUÇÃO ... 3

2 O PENSAMENTO MÍTICO ... 3

3 O QUE É FILOSOFIA? ... 8

4 A FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA ... 12

LEITURA COMPLEMENTAR ... 15

RESUMO DO TÓPICO 1... 17

AUTOATIVIDADE ... 18

TÓPICO 2 – OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA ... 19

1 INTRODUÇÃO ... 19

2 A FILOSOFIA ANTIGA ... 20

2.1 O PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO OU COSMOLÓGICO ... 20

2.1.1 Escola jônica ... 20 2.1.1.1 Tales de Mileto ... 21 2.1.1.2 Anaximandro de Mileto ... 22 2.1.1.3 Anaxímenes de Mileto ... 23 2.1.1.4 Heráclito de Éfeso ... 24 2.1.2 Escola pitagórica ... 25 2.1.3 Escola de Eleia ... 26 2.1.4 Escola atomista ... 28 2.2 PERÍODO ANTROPOLÓGICO ... 28

2.3 OS SOFISTAS E A ARTE DE ARGUMENTAR ... 29

2.4 PERÍODO SISTEMÁTICO ... 31 2.4.1 Sócrates ... 32 2.4.2 Platão ... 34 2.4.3 Aristóteles ... 38 2.5 PERÍODO HELÊNICO ... 40 LEITURA COMPLEMENTAR 1 ... 42 LEITURA COMPLEMENTAR 2 ... 44 RESUMO DO TÓPICO 2... 47 AUTOATIVIDADE ... 49

TÓPICO 3 – OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: CLÁSSICA E MEDIEVAL ... 51

1 INTRODUÇÃO ... 51

2 PATRÍSTICA ... 52

3 ESCOLÁSTICA ... 56

3.1 SÃO TOMÁS E A FILOSOFIA ARISTOTÉLICA ... 58

3.2 AS CINCO VIAS QUE LEVAM A DEUS ... 59

s

umário

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AUTOATIVIDADE ... 65

TÓPICO 4 – OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORÂNEA ... 67 1 INTRODUÇÃO ... 67 2 FILOSOFIA MODERNA ... 68 2.1 O ILUMINISMO ... 69 2.2 O RACIONALISMO ... 72 2.3 EMPIRISMO ... 74 3 FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA ... 76 3.1 POSITIVISMO ... 77 3.2 IDEALISMO ... 79 3.3 MARXISMO ... 81 3.4 EXISTENCIALISMO ... 82 3.5 FENOMENOLOGIA ... 84 LEITURA COMPLEMENTAR ... 86 RESUMO DO TÓPICO 4... 88 AUTOATIVIDADE ... 90

UNIDADE 2 – PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA GERAL ... 91

TÓPICO 1 – LÓGICA ... 93

1 INTRODUÇÃO ... 93

2 O QUE É LÓGICA?... 93

3 DIVISÃO DA LÓGICA ARISTOTÉLICA OU CLÁSSICA ... 95

3.1 LÓGICA FORMAL OU MENOR ... 95

3.2 LÓGICA MATERIAL OU MAIOR ... 96

4 SILOGISMO: O OBJETO DE ESTUDO DA LÓGICA ... 96

4.1 MÉTODO DEDUTIVO ...101 4.2 MÉTODO INDUTIVO ...102 4.2.1 Analogia ...104 5 FALÁCIAS ...105 LEITURA COMPLEMENTAR 1 ...107 LEITURA COMPLEMENTAR 1 ...108 RESUMO DO TÓPICO 1...110 AUTOATIVIDADE ...111 TÓPICO 2 – EPISTEMOLOGIA ...113 1 INTRODUÇÃO ...113 2 O QUE É EPISTEMOLOGIA? ...113 3 O QUE É CONHECIMENTO? ...115

3.1 PRIMEIRO REQUISITO PARA O CONHECIMENTO: CRENÇA ...115

3.2 SEGUNDO REQUISITO PARA O CONHECIMENTO: VERDADE ...116

3.3 TERCEIRO REQUISITO PARA O CONHECIMENTO: JUSTIFICAÇÃO ...119

4 TIPOS DE CONHECIMENTO ...120 LEITURA COMPLEMENTAR ...123 RESUMO DO TÓPICO 2...127 AUTOATIVIDADE ...128 TÓPICO 3 – ÉTICA ...129 1 INTRODUÇÃO ...129 2 O QUE É ÉTICA? ...130

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3.1 UTILITARISMO ...132

3.2 ÉTICA DEONTOLÓGICA OU DO DEVER ...134

3.3 ÉTICA DAS VIRTUDES ...136

4 BIOÉTICA ...137 5 ÉTICA E TÉCNICA ...139 LEITURA COMPLEMENTAR ...141 RESUMO DO TÓPICO 3...146 AUTOATIVIDADE ...147 TÓPICO 4 – ESTÉTICA ...149 1 INTRODUÇÃO ...149 2 O QUE É ESTÉTICA? ...149

3 OBJETOS DE ESTUDO DA ESTÉTICA ...150

3.1 O BELO E O FEIO ...150

3.2 A ARTE ...152

LEITURA COMPLEMENTAR ...153

RESUMO DO TÓPICO 4...154

AUTOATIVIDADE ...155

UNIDADE 3 – FILOSOFIA PARA HOJE ...157

TÓPICO 1 – FILOSOFIA POLÍTICA ...159

1 INTRODUÇÃO ...159 2 A POLÍTICA NA GRÉCIA ...160 3 PLATÃO ...163 4 ARISTÓTELES ...164 5 O ESTADO MODERNO ...165 6 MAQUIAVEL: O PRÍNCIPE ...166 7 HOBBES: O LEVIATÃ ...168 8 MONTESQUIEU: OS TRÊS PODERES ...170 9 REGIMES POLÍTICOS ...171 9.1 REGIME DEMOCRÁTICO ...171 9.2 REGIME TOTALITÁRIO ...174 10 FORMAS DE GOVERNO ...176 10.1 MONARQUIA ...176 10.2 REPÚBLICA ...176 10.2.1 Parlamentarismo ...176 10.2.2 Presidencialismo ...177 LEITURA COMPLEMENTAR 1 ...178 LEITURA COMPLEMENTAR 2 ...179 RESUMO DO TÓPICO 1...181 AUTOATIVIDADE ...182

TÓPICO 2 – FILOSOFIA DA MENTE ...183

1 INTRODUÇÃO ...183

2 O QUE É FILOSOFIA DA MENTE? ...184

3 O PROBLEMA MENTE-CORPO ...185

4 DUALISMO ...188

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LEITURA COMPLEMENTAR ...193

RESUMO DO TÓPICO 2...195

AUTOATIVIDADE ...196

TÓPICO 3 – FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO ...197

1 INTRODUÇÃO ...197

2 TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTO OU EDUCAÇÃO CRÍTICA? ...197

3 PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO ...199

3.1 EPISTEMOLOGIA ...200

3.2 ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA ...200

3.3 AXIOLOGIA ...201

4 FILOSOFIA E A FORMAÇÃO HUMANA NA ESCOLA ...202

5 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR ...202

5.1 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS ...203

5.2 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS ...203

LEITURA COMPLEMENTAR ...206

RESUMO DO TÓPICO 3...208

AUTOATIVIDADE ...209

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UNIDADE 1

FILOSOFIA: ORIGEM E TRAJETÓRIA

DO PENSAMENTO FILOSÓFICO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade, você será capaz de:

• descrever a origem e o desenvolvimento da filosofia desde o mito até a razão;

• reconhecer a importância do pensamento grego para o desenvolvimento da filosofia;

• conhecer os principais períodos da filosofia;

• avaliar o papel da filosofia no decorrer da história humana;

• analisar o impacto do pensamento filosófico para o desenvolvimento da humanidade;

• conhecer as principais correntes filosóficas.

Esta unidade está dividida em quatro tópicos e, no final de cada um deles, você encontrará atividades que o ajudarão a ampliar os conhecimentos adquiridos.

TÓPICO 1 – A ORIGEM DA FILOSOFIA

TÓPICO 2 – OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA

TÓPICO 3 – OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA: CLÁSSICA E MEDIEVAL

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TÓPICO 1

UNIDADE 1

A ORIGEM DA FILOSOFIA

1 INTRODUÇÃO

Este tópico terá um caráter mais histórico, pois vamos apresentar o contexto cultural, social e político que culminou com o surgimento da filosofia. É necessário para compreendermos o contexto que motivou os primeiros pensadores a buscarem respostas para seus questionamentos, que não fossem de cunho mítico ou religioso. Determinado conhecimento do contexto possibilita que você, acadêmico, consiga compreender aspectos da origem e o desenvolvimento da filosofia.

Inicialmente, vamos discorrer sobre o pensamento mítico e a evolução para uma postura reflexiva, que buscava na razão o fundamento para responder a muitos questionamentos. Embora o pensamento mítico tenha servido aos anseios do ser humano por um longo tempo, o ser humano percebeu que respostas baseadas apenas em afirmações advindas da imaginação já não eram suficientes. Assim, o ser humano caminhou no sentido de encontrar explicações em sua própria razão.

Em um segundo momento, buscaremos responder à seguinte pergunta: o que é filosofia? Nossa proposta é apresentar algumas respostas que foram elaboradas por importantes pensadores, com o intuito de conceituar da melhor maneira o que se entende por filosofia.

No terceiro momento deste tópico, vamos falar um pouco sobre a filosofia na Grécia Antiga. Vamos discorrer sobre os principais períodos, pois será possível perceber como os contextos político e cultural contribuíram para a passagem do pensamento mítico para o pensamento filosófico. Assim, convidamos você a dar início a uma jornada pelo universo da filosofia.

2 O PENSAMENTO MÍTICO

Uma das primeiras formas que o ser humano encontrou para explicar a origem do Universo e das demais coisas, sejam elas físicas ou não, foi por meio do mito. Assim, é fundamental que compreendamos o que é o mito e de que maneira o conceito é entendido ao longo do tempo.

Há certa confusão quando se fala do mito na antiguidade, pois muitos imaginam que seja uma maneira não convencional para explicar os fenômenos

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gregos compartilharam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracteriza a filosofia” (COTRIM, 2000, p. 73). Assim, o mito não é uma narrativa destituída de racionalidade, muito pelo contrário, a narrativa mítica possuía uma lógica que pretendia responder às questões existenciais.

O pensamento mítico, portanto, consiste na maneira que o ser humano encontrou para explicar aspectos da sua realidade. Explicações míticas podem ser encontrados em narrativas sobre a origem do mundo, sobre os fenômenos naturais, sobre as origens de um povo, suas crenças, tradições e seus valores básicos comuns ou não em cotidiano.

O termo grego mythos significa um tipo de discurso fictício ou imaginário. O discurso imaginário não é o mesmo que uma mentira, embora em alguns momentos o mito possa ter sido um sinônimo de mentira. Entretanto, tem sua origem na capacidade humana de raciocinar e buscar uma explicação diante daquilo que causa espanto. Assim, o mito é concebido como uma narrativa que pretende dar uma direção para aquilo que parece confuso e fora de lugar.

O mito é, portanto, uma intuição compreensiva da realidade, é uma forma espontânea de o homem situar-se no mundo. E as raízes do mito não se acham nas explicações exclusivamente racionais, mas na realidade vivida, portanto pré-reflexiva, das emoções e da afetividade (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 55).

Quando nos referimos ao mito como ‘uma intuição compreensiva da realidade’, estamos dizendo que o mito é a percepção da realidade, independentemente de um raciocínio puramente lógico ou de uma análise aprofundada dos fenômenos. Diz respeito a uma forma de narrativa direta a partir da percepção imediata da realidade que nos cerca, pois a narrativa mítica é pré-reflexiva, ou seja, antecede o pensamento reflexivo em que os filósofos gregos começaram a questionar seus próprios mitos.

NOTA

Pensamento reflexivo é “a  espécie  de pensamento que  consiste  em examinar mentalmente o assunto e dar a ele consideração séria e consecutiva”.

DEWEY, John. Como pensamos. 3. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1959, p. 13.

É importante ressaltar que "o mito não é exclusividade de povos primitivos, nem de civilizações nascentes, mas existe em todos os tempos e culturas como componente indissociável da maneira humana de compreender a realidade" (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 54).

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O mito, nas civilizações atuais, ganhou outro viés, seja o viés daquilo que é inatingível, ou de uma ideia, mesmo que absurda, mas que atrai o interesse das pessoas. A mitologia é um nicho muito bem explorado pela indústria do entretenimento, pois procura corresponder a muitos dos anseios humanos, tais como o ideal de força, beleza, justiça etc.

Pelo fato de a filosofia ter nascido na Grécia Antiga, o conhecimento do universo mítico dos gregos se tornou mais comum para nós, embora outros povos também possuam seus mitos. Ainda que seja também uma maneira de explicar a realidade, seu papel fundamental é “acomodar e tranquilizar o homem em um mundo assustador” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 56).

A falta de conhecimento acerca da natureza e seu funcionamento fazia com que os homens temessem. O temor assombrava o ser humano e lhe causava inquietude. No sentido de se amparar em algo, que mesmo não vendo ou tocando, construíram seu sistema de crenças do mundo real a partir do sobrenatural. Assim, o apego ao mito era uma maneira de explicar a realidade e trazer tranquilidade diante do desconhecido. De acordo com Aranha e Martins (2005, p. 125):

O ser humano, à mercê das forças naturais, que são assustadoras, passa a emprestar-lhes qualidades emocionais. As coisas não são mais matéria morta nem são independentes do sujeito que as percebe. Ao contrário, estão sempre impregnados de qualidades e são boas ou más, amigas ou inimigas, familiares ou sobrenaturais, fascinantes e atraentes ou ameaçadoras e repelentes. Por isso, o ser humano se move dentro de um mundo animado por forças que ele precisa agradar para que haja caça abundante, para que a terra seja fértil, para que a tribo ou grupo seja protegido, para que as crianças nasçam e os mortos possam ir em paz.

A narrativa mítica concebe as forças da natureza, que podemos chamar de identidade ou pessoalidade, pois Poseidon era o senhor dos mares, Apolo era o deus do sol e das artes, Afrodite a deusa do amor, do sexo e da beleza, e assim por diante.

POSEIDON

Poseidon, também conhecido como Netuno para os romanos, era o grande rei dos mares, um homem muito forte, com barbas e sempre representado com seu tridente na mão e às vezes, com um golfinho. Era filho de Cronos, deus do tempo e da deusa da fertilidade Reia. Sua casa era no fundo do mar e com seu tridente causava maremotos, tremores, além de fazer brotar água do solo.

Poseidon era casado com Anfitrite. Quando se conheceram, Poseidon se apaixonou por ela, mas Anfitrite o recusou e Poseidon a obrigou a casar-se com ele, porém ela, para não casar, se escondeu nas profundezas do oceano, só sua mãe sabia onde ela estava.

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Contudo, com o tempo, Anfitrite mudou de ideia e foi atrás de Poseidon, com quem se casou e ficou sendo a rainha do oceano. Com ela, teve um filho chamado Tritão, que aterrorizava os marinheiros com um barulho espantoso que ele fazia quando soprava o búzio, um instrumento, mas também com ele fazia sons maravilhosos.

Entretanto, na sua vida, Poseidon teve muitos outros amores e fora de seu casamento teve mais filhos que ficaram muito conhecidos por sua crueldade: Ciclope e o gigante Orion. Poseidon disputou com Atena, a deusa da sabedoria, para ser a deidade da cidade hoje conhecida como Atenas, porém Atena ganhou a competição e a cidade ficou conhecida com o seu nome.

Na história da Guerra de Troia, Poseidon e Apolo ajudaram o rei na construção dos muros daquela cidade e a eles foi prometida uma recompensa, porém tinham sidos enganados, pois o rei não os recompensou. Foi então que Poseidon muito enfurecido se vingou de Troia e enviou um monstro do mar que saqueou toda a terra de Troia e durante a guerra, ajudou os gregos.

Poseidon é também o pai de Pégaso, um cavalo alado gerado por Medusa. Sempre esteve muito ligado aos cavalos e foi o primeiro a colocá-los na região. Outro caso de amor muito conhecido de Poseidon foi com sua irmã Demeter. Ele a perseguiu e ela, para evitá-lo, transformou-se em égua. Contudo, ele se transformou em um garanhão e com ela teve um encantador cavalo, Arion. Poseidon era um deus muito importante e celebravam em sua honra os jogos místicos, constituídos de competições atléticas e também de músicas e poesias, realizados de dois em dois anos.

FONTE: LIMA, Fernanda. Poseidon. 2018. <https://www.infoescola.com/mitologia-grega/ poseidon/>. Acesso em: 24 fev. 2018.

Qual é o fundamento do mito? Como justificar o mito? O mito não é concebido como algo a ser questionado cientificamente. O mito apela para o sobrenatural, ao mágico e sagrado para explicar a realidade. Assim, o mito é uma narrativa que não está preocupada com a possibilidade de comprovação científica ou empírica.

A concepção mítica se dá através das epopeias e da Teogonia. As epopeias consistem em um tipo de poema narrativo extenso, em que são contados os fatos históricos de um povo, seus feitos heroicos, as aventuras, as guerras, fatos históricos de um indivíduo ou mais, mesclando fatos reais, lendas ou mitos.

De acordo com Aranha e Martins (1993, p. 63), “os mitos eram recolhidos pela tradição e transmitidos oralmente pelos aedos e rapsodos, cantores ambulantes que davam forma poética aos relatos populares e os recitavam de cor em praça pública”. Assim, como não eram textos escritos, também não se sabia quem eram os autores de tais poemas. Assim, o poema não era de domínio particular, mas coletivo, e cada poeta poderia recitar as epopeias por onde passava, como em praças públicas, no sentido de exaltar os feitos de seu povo e seus heróis.

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Outro aspecto importante das epopeias foi seu caráter didático na vida do povo grego, pois os poemas “descrevem o período da civilização micênica e transmitem os valores da cultura por meio das histórias dos deuses e antepassados, expressando uma determinada concepção de vida. Por isso, desde cedo as crianças decoravam passagens dos poemas de Homero” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 63). A cultura, os valores e os feitos dos povos e seus heróis vão se perpetuando através de uma tradição oral que possibilita o desenvolvimento cultural e a solidificação da cultura.

As epopeias tentam mostrar que há uma relação entre os deuses e os homens, pois “as ações heroicas relatadas nas epopeias mostram a constante intervenção dos deuses, ora para auxiliar um protegido seu, ora para perseguir um inimigo” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 63).

As ações dos heróis são guiadas pelos deuses, pois o herói depende dos deuses, visto que as forças ocultas estão muito além da capacidade humana de dominá-las. Na Odisseia de Homero, a relação de amizade ou inimizade entre os heróis e os deuses é muito comum. Um exemplo é quando Telêmaco, filho de Ulisses, vai à ágora para convencer os Itacenses sobre seu propósito de procurar seu pai.

Diz o poema que quando Telêmaco se dirigia à ágora (praça principal das antigas cidades gregas), a deusa “Atena derramava divinal graça sobre ele, sua entrada atraiu os olhares de todos e os anciãos cederam-lhe lugar, para que tomasse assento na cadeira de seu pai” (HOMERO, 2003, p. 28).

Observe que o herói é agraciado pelos deuses para que se sobressaísse entre os demais. Se por um lado temos a deusa Atena aliada de Telêmaco, por outro lado seu pai Ulisses sofre em decorrência da ira de Posseidon, o deus dos mares, pois Ulisses havia ferido um de seus ciclopes preferidos.

Hesíodo, outro importante poeta grego, que viveu por volta do século VIII a.C., escreveu a Teogonia, que também é chamada de Genealogia dos deuses. Na obra, o poeta:

Relata as origens do mundo e dos deuses, e as forças que surgem não são pura natureza, mas sim as próprias divindades: Gaia é a Terra, Urano é o Céu, Cronos é o Tempo, surgindo ora por segregação, ora pela intervenção de Eros, princípio que aproxima os opostos (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 63)

A Teogonia trata da progressão que o universo passou até chegar ao que conhecemos hoje. É uma narrativa sobre o surgimento do mundo a partir dos primeiros deuses, seus relacionamentos amorosos e suas terríveis lutas. Assim, neste mito, as divindades representam fenômenos ou aspectos básicos da natureza humana.

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didática, pois era usada como uma cartilha na qual o povo grego aprendia a ler, a pensar, refletir e compreender o mundo e reverenciar os deuses.

O mito tem muito a nos ensinar ainda nos dias de hoje, pois aparecem na imagem de novos heróis, tais como atores, atrizes, jogadores de futebol, empresários bem-sucedidos, alguns líderes políticos, que se tornam modelos a serem seguidos.

Suas imagens são reforçadas pela mídia, pelo cinema e até mesmo pelas artes. Esses mitos vêm carregados de valores, ideologias, interesses e cabe a cada indivíduo refletir sobre os mitos atuais e filtrar de maneira reflexiva sobre a mensagem que tais mitos passam para a nossa sociedade.

DICAS

Sugestão de filme: A ODISSEIA

O filme é dirigido por Andrey Konchalovskiy. É baseado no poema homônimo de Homero, retrata as aventuras de Ulisses (ou Odisseu) após a Guerra de Troia. Depois de desafiar o deus dos mares Poseidon, Ulisses se vê obrigado a vagar por terras e mares, se vendo afastado de sua família. A partir de então, vive uma série de aventuras, enfrentando deuses e diversos monstros para poder voltar para sua casa.

3 O QUE É FILOSOFIA?

É comum que algumas pessoas tenham certa resistência quanto ao estudo da filosofia. Determinada resistência se deve a vários fatores, entre eles podemos destacar a necessidade de colocar suas certezas à prova, ou seja, duvidar de suas crenças e certezas mais profundas, questionar e buscar uma razão para a ordem das coisas em nossa volta.

“A atividade filosófica enquanto abordagem racional surge no contexto cultural grego, expressando-se inicialmente como tentativa de explicar a realidade do mundo sem recorrer à mitologia e à religião” (SEVERINO, 1994, p. 56). Entretanto, talvez você esteja se perguntando: por que preciso aprender filosofia? Antes de qualquer coisa, observe a figura a seguir e reflita sobre a mesma questão que incomoda o pensador.

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FIGURA 1 – ATO DE PENSAR

FONTE: <http://editoraunesp.com.br/blog/os-adolescentes-e-a-filosofia-06-08-2013-12-49>. Acesso em: 22 fev. 2018.

Qual é a conclusão a que você chegou ao observar a figura? Qual é o significado do indivíduo estar acorrentado junto a um peso? A filosofia tem, por finalidade, despertar no ser humano o estado de comodismo, cumpre o papel de desvencilhar o ser humano das amarras ideológicas, libertá-lo das ilusões e manipulações que embotam a razão e escravizam a consciência humana.

É o instrumento da reflexão crítica, que permite ao ser humano explorar sua capacidade de pensar, questionar sua realidade e construir sua própria história com autonomia e liberdade. A seguir, leia um breve texto do filósofo alemão Hegel sobre o papel da filosofia:

A tarefa da filosofia é entender o que é, pois o que é a razão. No que diz respeito ao indivíduo, cada um é, por outra parte, filho de seu tempo; do mesmo modo, a filosofia é seu tempo apreendido em pensamentos.

É igualmente insensato crer que uma filosofia pode ir além de seu tempo presente como que um indivíduo que possa saltar por cima de seu tempo. Mas se sua teoria vai na realidade além e constrói um mundo tal como deve ser, este existirá por certo, mas somente em sua opinião, elemento maleável no que se pode plasmar qualquer coisa [...].

Para agregar algo a mais sobre a pretensão de ensinar como deve ser o mundo, assinalemos, por outra parte, que a filosofia chega sempre tarde. Enquanto pensamento do mundo, aparece no tempo só depois que a realidade consumou o seu processo de formação e já se acha pronta.

O que ensina o conceito e mostra com a mesma necessidade a história: só na maturidade da realidade aparece o ideal frente ao real, e erige a este mesmo

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Quando a filosofia pinta com seus tons cinzentos é que já envelheceu uma figura da vida que suas penumbras não podem rejuvenescer, mas somente conhecer; a coruja de Minerva alça seu voo no acaso.

FONTE: HEGEL, G. W. F. Princípios de la filosofia del derecho. In: COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: história e grandes temas. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

A segunda pergunta, não menos importante que a primeira, a que devemos responder, antes de aprofundar qualquer estudo sobre a filosofia é: “O que é filosofia?”. Parece ser, em um primeiro momento, uma questão muito simples de responder. Entretanto, ao avançarmos no estudo do pensamento humano, vamos perceber que a filosofia abarca uma quantidade muito ampla de definições.

Como vimos anteriormente, o pensamento mítico predominava entre os antigos gregos. A passagem da consciência mítica para a consciência racional inaugura uma nova era no pensamento humano. Na transição, aparecem os primeiros sábios (gr. Sophos). O termo filosofia (philos+sophia), que significa “amor à sabedoria”, foi usado pela primeira vez por Pitágoras, que também era matemático e viveu durante o século VI a.C.

A filosofia, como uma área do saber, nasce entre o século VII e VI a.C. “Surge promovendo a passagem do saber mítico ao pensamento racional, sem, entretanto, romper bruscamente com todos os conhecimentos do passado” (COTRIM, 2000, p. 73).

O rompimento gradativo da filosofia com o saber mítico significa que o saber mítico possuía uma lógica e uma racionalidade, embora a filosofia possua um método de estudo que vai muito além de um saber alegórico (mito), pois se assenta na argumentação racional. No entanto, é importante atentar para a maneira como alguns filósofos conceituaram o termo filosofia.

Para Platão, a “filosofia é o uso do saber em proveito do homem” (ABBAGNANO, 2012, p. 514). Há uma semente do antropocentrismo, sobretudo de humanismo, pois Platão coloca o ser humano no centro do debate. Na visão de Platão, as coisas só fazem sentido se forem proveitosas para o ser humano.

Assim, a filosofia perguntará qual é a utilidade das coisas para o bem do homem. Não adiantam avanços tecnológicos, produção de riquezas, capacidade de criar, construir etc., caso nada disso promova o bem para as pessoas. A filosofia aponta para o fato de que aquilo que é feito deve ser feito para melhorar a vida dos seres humanos.

Segundo o filósofo, físico e matemático francês René Descartes apud Abbagnano (2012, p. 514), filosofia é uma palavra que:

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Significa o estudo da sabedoria, e por sabedoria não se entende somente a prudência nas coisas, mas um perfeito conhecimento de todas as coisas que o homem pode conhecer, tanto para a conduta de sua vida, quanto para a conservação de sua saúde e a invenção de todas as artes.

Se observarmos, há uma semelhança com a concepção platônica. No fragmento, vemos claramente uma concepção humanística da finalidade da filosofia pelo fato de Descartes ter vivido no início da revolução científica, sendo inclusive chamado de fundador da filosofia moderna.

Sua concepção mostra claramente o espírito da sua época, sendo o homem capaz de construir sua própria história e intervir nos destinos do mundo. Assim, a filosofia pode contribuir para o bom uso dos conhecimentos científicos, pois não se restringe a elaborar princípios de como viver bem no aspecto moral, mas reflete sobre qual a finalidade última das ações humanas e da produção de conhecimento.

Kant apud Abbagnano (2012, p. 514), por sua vez, define a filosofia como a “ciência da relação do conhecimento à finalidade essencial da razão humana”. Na filosofia kantiana, a finalidade essencial da razão humana é a felicidade universal. Assim, a razão em Kant não possui apenas ‘ideias’, mas tem seus ‘ideais’, e o ideal da razão é a felicidade universal. Desta forma, a filosofia estabelece a relação entre todas as coisas com sabedoria através da ciência (ABBAGNANO, 2012).

Ainda que o trabalho filosófico seja essencialmente teórico, é necessário ressaltar que “isso não significa que a filosofia esteja à margem do mundo, nem que ela constitua um corpo de doutrina ou um saber acabado, com determinado conteúdo, ou que seja um conjunto de conhecimentos estabelecidos de uma vez por todas” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 72).

A filosofia é uma área que está em constante mudança, pois a reflexão filosófica não está em busca de respostas que sejam absolutas e dogmáticas, que não podem ser questionadas, pois ela não se apega às certezas das doutrinas, nem tão pouco à impossibilidade do conhecimento. Assim, a filosofia não é nem dogmática e nem cética, ela é um fluir constante em busca de respostas para os mais diversos dilemas e problemas relacionados à existência humana.

Embora no início a filosofia e a ciência estivessem estreitamente ligadas, com o passar dos anos foram sendo feitas distinções entre elas, pois de acordo com Aranha e Martins (1993, p. 129), “no pensamento grego, ciência e filosofia achavam-se ainda vinculadas, e só vieram a se separar na Idade Moderna, buscando cada uma delas seu próprio caminho, ou seja, seu método”. Assim, a filosofia se distingue da ciência, pois a filosofia se ocupa em buscar a verdade nos mais diversos aspectos, pois sua visão se volta para o conjunto de coisas.

O campo da filosofia é de certo modo indeterminado, pois é um campo muito vasto devido ao fato de que a filosofia estuda os problemas fundamentais

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A ciência, por outro lado, consiste na aplicação de teorias que já foram testadas, possui um caráter empírico e sistemático, segue um método que consiste na observação, hipótese, experimentação e conclusão. “A filosofia não faz juízos de realidade, como a ciência, mas juízos de valor” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 73). Assim, a filosofia busca um significado, um sentido último para as ações, pois ao perceber a realidade, o filósofo busca dar sentido à experiência.

4 A FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA

O pensamento filosófico-científico surge na Grécia, por volta do século VI a.C. É importante frisar que a Grécia passa por quatro grandes períodos: Período Homérico; Período da Grécia Arcaica; Período Clássico e Período Helenístico. Observe que estamos falando dos quatro períodos da história da Grécia antiga e não os períodos da filosofia.

Período Homérico – Do século XI ao VIII a.C. – é assim denominado

porque neste período teria vivido Homero, o grande poeta grego, que de acordo com os historiadores, é o autor dos poemas épicos Ilíada e Odisseia. O período consiste em uma fase de transição.

Há a invasão dos povos dórios, povos de origem indo-europeia, que migraram para a Península Balcânica e juntamente com os jônios, eólios e aqueus, participaram da formação de várias cidades-estados da Grécia Antiga.

A invasão dos dórios desencadeou um grande deslocamento de grupos de pessoas da Grécia Continental para a Ásia Menor e as ilhas do Mar Egeu. Sobre determinado acontecimento, Moraes (1993, p. 53) aponta que “com a invasão dórica, ocorreu um retrocesso da produção material e cultural da região. O ativo comércio desapareceu e as cidades foram abandonadas. Houve um retorno ao campo e à vida rural; a sociedade voltou a se organizar em padrões mais simples”. O período é considerado como pré-homérico, pois é marcado por uma nova maneira como a sociedade grega se organizou.

Assim, é importante pensar sobre a maneira como a sociedade grega do período homérico se organizou para superar o processo de transição que marca o período homérico. De acordo com Moraes (1993, p. 53):

A sociedade grega, neste período homérico, passou a ser organizar em génos (ou gens, espécie de clãs), por isso a chamamos de sociedade

gentílica. A génos era uma comunidade formada por uma grande família,

chefiada pelo patriarca. Esses agrupamentos sociais conseguiam assegurar sua sobrevivência mediante uma atividade coletiva, ou seja, o trabalho, os bens e a produção eram propriedade de todos.

A fase marcou a substituição da cultura micênica pela gentílica (dos génos). A nova organização gerou uma série de problemas, pois a sociedade gentílica foi desaparecendo gradativamente, pois com o aumento populacional e a baixa

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produção coletiva, não foi capaz de produzir alimento suficiente para o sustento das pessoas, gerando um quadro de fome e pobreza (MORAES, 1993).

O resultado imediato da situação foi o fortalecimento de algumas famílias que se tornaram proprietárias das melhores terras e formaram uma pequena aristocracia comandada pelo Pater, o chefe e autoridade máxima das organizações, que possuía autoridade política, militar e religiosa. Assim, os génos eram sociedades patriarcais, cujos membros compartilhavam laços consanguíneos.

Período da Grécia Arcaica – Do século VIII ao V a.C. – se no período

Homérico se deram início às grandes transformações ocorridas na Grécia, no período arcaico ocorreu a fase final de uma nova transformação social e cultural. Os gregos passaram a ser governados por uma aristocracia. É o período em que surgem os primeiros legisladores gregos, pois havia se desenvolvido um ambiente em que foram dados os primeiros passos em direção à construção de uma democracia grega. Ainda, a escrita grega foi revitalizada e novas organizações políticas e sociais se adaptaram.

Período Clássico – Do século V ao IV a.C. – é o período da história

grega tido como o mais glorioso. Ainda que tenha sido um período de intensos conflitos externos e internos, foi marcado por um elevado crescimento econômico e cultural, tendo como principal centro a cidade de Atenas.

De acordo com Moraes (1993, p. 60), “o período conhecido como Grécia Clássica corresponde ao apogeu da cultura grega (principalmente de Atenas), interrompido pela conquista macedônica, mas abrange também acontecimentos como as guerras externas (contra os persas) e internas (Atenas e Esparta)”.

O apogeu de Atenas sobre as demais cidades gregas se deu em grande medida ao governo de Péricles entre os anos 461-431 a.C., pois “as reformas políticas de Péricles ampliaram a democracia ateniense, permitindo maior participação dos cidadãos mais pobres nas assembleias e nas decisões do governo” (MORAES, 1993, p. 62).

A ampliação da democracia, o investimento em obras públicas, o embelezamento de Atenas e fortalecimento econômico da cidade fizeram com que Atenas assumisse uma posição imperialista em relação às demais polis gregas, competindo diretamente com Esparta, outra cidade de grande importância para a Grécia. Naturalmente uma reação foi desencadeada por parte das demais cidades lideradas por Esparta, no sentido de combater a hegemonia ateniense.

A aliança entre as cidades gregas fundou a Liga do Peloponeso. Após a morte de Péricles, os conflitos entre Atenas e Esparta, que liderava as outras cidades, culminaram com a Guerra do Peloponeso, que enfraqueceu as cidades-estados, pois consumia seus recursos e vidas em um conflito que no final foi

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Contudo, Esparta assume uma posição hegemônica em relação às demais cidades-estados, pois aplicaram ações imperialistas sobre as cidades que haviam sido suas aliadas. Assim, novos conflitos surgiram e houve o enfraquecimento do poder grego, subjugados do poder de Felipe II da Macedônia, pai de Alexandre, o Grande.

Período Helenístico – do século IV ao II a.C. – o que caracteriza este

período é a expansão significativa da ciência e do conhecimento. A cidade de Alexandria, por exemplo, se tornou o grande centro da cultura helenística, pois segundo Arruda e Piletti (1996, p. 56):

Alexandria ganhava fama no Ocidente e no Oriente com a população numerosa, indústria artesanal, museus, biblioteca com 400.000 obras. A vida intelectual era intensa: Matemática, Geometria e Medicina se desenvolveram. O pensamento filosófico dividia-se em duas correntes:

estoicismo, que acentuava a firmeza de espírito, indiferença à dor e

submissão à ordem natural das coisas; e epicurismo, que aconselhava a busca do prazer.

Na verdade, podemos afirmar que o helenismo foi o resultado de uma política de integração entre as diferentes culturas, pois como afirma Arruda e Piletti (1996, p. 55), “a civilização helenística resultou da fusão da cultura helênica (grega) com a cultura do Oriente Médio, principalmente persa e egípcia. Seu centro se deslocou da Grécia e do Egeu para o Oriente Médio, para os novos polos irradiadores da cultura: Alexandria, Antioquia e Pérgamo”.

Assim, o protagonismo das três cidades ofuscou o antigo e esplendor de Atenas e Esparta, que havia sido o centro da cultura grega por muito tempo. Determinado deslocamento mostra como a cultura de um povo pode ser assumida e disseminada em outras regiões, pois o legado cultural grego permaneceu e influenciou o mundo ocidental até os dias de hoje. Assim, Arruda e Piletti (1996, p. 56) acentuam que:

A contribuição dos gregos para a humanidade abrange todos os setores da vida humana. Eles fundaram a filosofia. As reflexões de Sócrates sobre a natureza e o homem e os sistemas criados por Platão e Aristóteles tornaram imortal o pensamento grego. Seu teatro chega até nós cheio de vida. Demóstenes, mestre da oratória. O esplendor da arte grega ainda pode ser admirado nas ruínas do Partenon e na Acrópole de Atenas.

Podemos afirmar que a sociedade ocidental possui uma dívida cultural muito grande para com os gregos. No caso da filosofia, o valor que as obras gregas possuem para o mundo é incalculável, pois o pensamento filosófico clássico grego delineou a maneira de pensar do homem ocidental.

Determinado subsídio histórico se faz necessário para compreendermos em que contexto político, econômico e cultural os primeiros pensadores desenvolveram suas ideias. Devemos lembrar que cada filósofo é fruto de seu tempo, pois sua filosofia é uma reflexão sobre as questões que dizem respeito à realidade, ao momento histórico e cultural em que eles viveram.

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A FILOSOFIA NO MUNDO

Mas como se põe o mundo em relação com a filosofia? Há cátedras de filosofia nas universidades. Atualmente, representam uma posição embaraçosa. Por força de tradição, a filosofia é polidamente respeitada, mas, no fundo, objeto de desprezo. A opinião corrente é a de que a filosofia nada tem a dizer e carece de qualquer utilidade prática. É nomeada em público, mas – existirá realmente? Sua existência se prova, quando menos, pelas medidas de defesa a que dá lugar.

A oposição se traduz em fórmulas como: a filosofia é demasiado complexa; não a compreendo; está além de meu alcance; não tenho vocação para ela; e, portanto, não me diz respeito. Ora, isso equivale a dizer: é inútil o interesse pelas questões fundamentais da vida; cabe abster-se de pensar no plano geral para mergulhar, através de trabalho consciencioso, num capítulo qualquer de atividade prática ou intelectual; quanto ao resto, bastará ter “opiniões” e contentar-se com elas.

A polêmica torna-se encarniçada. Um instinto vital, ignorado de si mesmo, odeia a filosofia. Ela é perigosa. Se eu a compreendesse, teria de alterar minha vida. Adquiriria outro estado de espírito, veria as coisas a uma claridade insólita, teria de rever meus juízos. Melhor é não pensar filosoficamente.

Surgem os detratores, que desejam substituir a obsoleta filosofia por algo de novo e totalmente diverso. Ela é desprezada como produto final e mendaz de uma teologia falida. A insensatez das proposições dos filósofos é ironizada e a filosofia vê-se denunciada como instrumento servil de poderes políticos e outros.

Muitos políticos veem facilitado seu nefasto trabalho pela ausência da filosofia. Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas somente usam de uma inteligência de rebanho. É preciso impedir que os homens se tornem sensatos. Mais vale, portanto, que a filosofia seja vista como algo entediante. Oxalá desaparecessem as cátedras de filosofia. Quanto mais vaidades se ensinem, menos estarão os homens arriscados a se deixarem tocar pela luz da filosofia.

Assim, a filosofia se vê rodeada de inimigos, a maioria dos quais não têm consciência dessa condição. A autocomplacência burguesa, os convencionalismos, o hábito de considerar o bem-estar material como razão suficiente de vida, o hábito de só apreciar a ciência em função de sua utilidade técnica, o ilimitado desejo de poder, a bonomia dos políticos, o fanatismo das ideologias, a aspiração a um nome literário – tudo isso proclama a antifilosofia. E os homens não percebem porque não se dão conta do que estão fazendo. E permanecem inconscientes de que a antifilosofia é uma filosofia, embora pervertida que, se aprofundada,

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O problema crucial é o seguinte: a filosofia aspira à verdade total, que o mundo não o quer. A filosofia é, portanto, perturbadora da paz.

E a verdade, o que será? A filosofia busca a verdade nas múltiplas significações do ser-verdadeiro segundo os modos do abrangente. Busca, mas não possui o significado e substância da verdade única. Para nós, a verdade não é estática e definitiva, mas movimento incessante, que penetra no infinito.

No mundo, a verdade está em conflito perpétuo. A filosofia leva o conflito ao extremo, porém, o despe de violência. Em suas relações com tudo quanto existe, o filósofo vê a verdade revelar-se a seus olhos, graças ao intercâmbio com outros pensadores e ao processo que o torna transparente a si mesmo.

Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele diz, observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejo de partilhar, com seus concidadãos, do destino comum da humanidade.

Eis o porquê da filosofia não se transformar em credo. Está em contínua pugna consigo mesma.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• O mito foi a primeira forma que o ser humano encontrou para explicar a origem do universo e das demais coisas, sejam elas físicas ou não.

• O pensamento mítico consiste na maneira que o ser humano encontrou para explicar aspectos essenciais da sua realidade.

• O apego ao mito era uma maneira de explicar a realidade e trazer tranquilidade diante do desconhecido.

• O mito apela para o sobrenatural, ao mágico e sagrado para explicar a realidade. É uma narrativa que não está preocupada com a possibilidade de comprová-lo cientificamente ou empiricamente.

• As epopeias tentam mostrar que há uma relação entre os deuses e os homens. • A Teogonia trata da progressão que o universo passou até chegar ao que

conhecemos hoje.

• A filosofia é o instrumento racional que tem por finalidade despertar no ser humano o seu estado de comodismo, cumpre o papel de desvencilhar o ser humano das amarras ideológicas, libertá-lo das ilusões e manipulações que embotam a razão e escravizam a consciência humana.

• A filosofia é uma área que está em constante mudança, pois a reflexão filosófica não está em busca de respostas que sejam absolutas e dogmáticas, que não podem ser questionadas, pois ela não se apega às certezas das doutrinas, nem tão pouco à impossibilidade do conhecimento.

• O campo da filosofia é de certo modo indeterminado, pois é um campo muito vasto devido ao fato de que filosofia estuda os problemas fundamentais associados à existência, aos valores morais e estéticos, ao conhecimento, à mente, à verdade e à linguagem.

• A Grécia passa por quatro grandes períodos: Período Homérico; Período da Grécia Arcaica; Período Clássico e Período Helenístico.

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1 O pensamento mítico, geralmente, é visto como aquilo que beira a irracionalidade, devido aos seus aspectos fantasiosos e imaginários. Entretanto, o mito teve um papel central para a vida das primeiras civilizações. Explique o que é e como surgiu o pensamento mítico.

2 “O que é filosofia?” É uma questão importante para compreendermos a sua relevância para o conhecimento científico e para a organização das sociedades. Apesar de ser uma questão que não oferece uma resposta tão simples, é possível compreender o que é filosofia a partir de algumas definições que nos foram dadas ao longo de sua história. Sobre o que é filosofia, assinale V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Filosofia é a área do conhecimento que oferece todos os tipos de respostas com precisão absoluta que podem ser aceitas universalmente.

( ) A filosofia é o instrumento racional cuja finalidade é despertar o ser humano de seu estado de comodismo.

( ) A filosofia possibilita que o ser humano busque sua realidade e construa sua própria história com autonomia e liberdade.

( ) A filosofia tem como objetivo formar, na mente do ser humano, certezas que jamais poderão ser questionadas.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – F – V.

b) ( ) F – V – V – F. c) ( ) F – F – V – V. d) ( ) V – V – V – F.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA:

FILOSOFIA ANTIGA E CLÁSSICA

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Conhecer a história da filosofia é fundamental para compreendermos sua importância em relação aos avanços científicos, culturais, políticos e sociais que ocorreram ao longo dos séculos. Claro que em apenas um tópico não será possível discorrer, nem que seja um pequeno fragmento de uma área do conhecimento humano que vem acumulando saberes ao longo de centenas de anos. Todavia, nossa proposta é discorrer sobre alguns aspectos que consideramos importantes em relação ao desenvolvimento do pensamento filosófico.

Evidentemente que não é algo tão simples situarmos uma determinada corrente filosófica em um período histórico específico, pois a filosofia é dinâmica e as ideias, conceitos, métodos são constantemente revisados, questionados, atualizados, melhorados e pensados à luz do tempo histórico.

Entretanto, determinadas correntes de pensamento ganham força ou são mais bem desenvolvidas em um tempo histórico específico, e assim situamos a corrente de pensamento junto com um determinado tempo e finalidade didática. Outros movimentos filosóficos surgem especificamente em um tempo histórico específico, mas geralmente consistem na evolução de um pensamento que possa ter iniciado em outro momento da história. O que queremos dizer que não devemos nos preocupar tanto com o período, mas com a corrente de pensamento em si.

Neste tópico, iremos discorrer sobre as principais escolas filosóficas, os principais filósofos da filosofia clássica grega e da patrística. Em seguida, vamos abordar os rumos da filosofia moderna e por fim, uma breve análise sobre a filosofia contemporânea.

Em um primeiro momento, vamos estudar sobre a filosofia antiga. Vamos discorrer sobre cada período que constitui o primeiro momento do pensamento filosófico. Você poderá observar, no decorrer do estudo, que cada período é marcado por um problema, do qual os pensadores se ocupam com o propósito de encontrar uma resposta para aquilo que consideram dilemas.

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2 A FILOSOFIA ANTIGA

A Filosofia Antiga compreende o período que vai do surgimento da filosofia até a queda do Império Romano. Neste período, os pensadores gregos começaram a questionar acerca da racionalidade humana e iniciaram a busca por novas explicações para compreender a realidade.

A filosofia deste período é caracterizada pela pretensão de abranger uma grande quantidade de ideias e campos, ainda que o principal objetivo dos pensadores tenha sido a busca pelo fundamento que se oculta por detrás de todas as coisas.

2.1 O PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO OU COSMOLÓGICO

Os pré-socráticos são os pensadores da Grécia antiga que precederam Sócrates. Também são chamados de filósofos da natureza (physis) ou naturalistas, pois tinham como principal objetivo investigar o princípio das coisas.

Antes de estudarmos as principais escolas de filosofia pré-socráticas e seus representantes mais expressivos, vamos apresentar uma síntese do período pré-socrático, para que você já possa ter uma noção geral de que consiste o período.

Podemos destacar dois grupos de filósofos: os primeiros são os chamados fisiólogos, pois ao apelar para um arché – um elemento básico de onde as coisas se originam e do qual o universo é constituído em sua totalidade – buscavam um princípio ordenador do universo, ou seja, estavam interessados em explicar a physis, a natureza material do universo. O outro grupo, os sofistas, tinha uma preocupação diferente, pois estavam interessados na vida dos homens e na maneira como poderiam participar da vida pública e se fazerem ouvido nos espaços de debates.

Observe que são os principais problemas que irão ocupar a mente dos pensadores do período. Determinados problemas irão gerar inúmeros debates e as diferentes escolas da época irão assumir suas posições, construindo os argumentos que justifiquem seus posicionamentos em relação aos problemas propostos.

2.1.1 Escola jônica

A cidade de Mileto era um centro comercial de grande importância. O fato de ser um centro de comércio demonstrava um trânsito de pessoas de diferentes partes do mundo, além das trocas comerciais e culturais. A escola jônica estava sediada na cidade de Mileto, nos séculos VI e V a.C. O principal filósofo da escola foi Tales de Mileto.

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Os jônios se estabeleceram na região da Ásia Menor e, diferentemente das

poleis gregas continentais, que ainda estavam presas às características do

Período Arcaico, produziram as primeiras explicações científicas e filosóficas e se transformaram em grandes centros econômicos e culturais, graças à localização geográfica privilegiada, sobretudo nas cidades de Mileto e Éfeso, o que facilitava a navegação, o comércio e o intercâmbio cultural com outros povos (SOUZA apud BRAGA JUNIOR; LOPES, 2015, p. 86).

Podemos afirmar que foi na Escola Jônica que ocorreram as primeiras tentativas racionais de responder às diversas questões sobre a natureza e a realidade. Os filósofos dessa escola estavam preocupados em encontrar uma substância primeira, causadora de tudo, pois eles romperam “com as explicações míticas ainda que muito próximos delas. Os filósofos do período apresentaram explicações do mundo a partir do mundo, e não mais a partir das divindades” (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 117).

Os principais representantes dessa escola são os seguintes: Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto e Heráclito de Éfeso. A seguir, veremos brevemente a ideia principal de cada um desses pensadores pré-socráticos.

2.1.1.1 Tales de Mileto

Tales viveu entre 623-546 a.C. e é considerado o pai da filosofia e fundador da Escola de Mileto. Além de filósofo, Tales foi um importante matemático, cientista e político. Para o pensador, a água é princípio que origina todas as coisas.

FIGURA 2 – TALES DE MILETO

FONTE: <http://voupassar.club/tales-de-mileto-biografia-e-filosofia/>. Acesso em: 28 mar. 2018.

De acordo com Souza (1996, p. 88):

Para a história da filosofia, a importância de Tales advém sobretudo de ter afirmado que a água era a origem de todas as coisas. A água

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Sua visão unitarista compreendia a ideia de que “a água unifica todas as coisas, desde que ela esteja na base de sua origem e de sua sobrevivência; ela está sob a terra e a sustenta” (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 117).

Em relação à teoria desenvolvida por Tales, embora submetida a um teste mais rigoroso, podemos perceber suas falhas, entretanto faz sentido. A explicação que ele dá, para defender a tese de que a origem de todas as coisas estava no elemento água, fundamenta-se da seguinte maneira: quando densa, transformar-se-ia em terra; ao ser aquecida, viraria vapor que, quando se resfriava, retornaria ao estado líquido, garantindo assim a continuidade do ciclo. É um ciclo sem fim que geraria novas formas de vida que, em um processo evolutivo, daria origem a todas as coisas existentes no universo.

2.1.1.2 Anaximandro de Mileto

De acordo com a tradição, Anaximandro (610-546 a.C.) foi discípulo e sucessor de Tales na escola Jônica. Assim como seu mestre, Anaximandro buscava por um princípio originador do cosmos – um arché. Todavia, Anaximandro se afastava do pensamento de Tales, pois entendia que “em meio a tantos elementos observáveis no mundo natural – a água, o fogo, o ar etc. –, ele acreditava não ser possível eleger uma única substância material como princípio primordial de todos os seres, a arché” (COTRIM, 2000, p. 79).

Diante da impossibilidade de determinar um princípio originador do cosmos e diante de uma realidade indeterminada, ilimitada e invisível, o ápeiron se tornou o conceito chave da cosmologia desenvolvida por Anaximandro.

FIGURA 3 – ANAXIMANDRO DE MILETO

FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/4241828 58636078371/>. Acesso em: 28 mar. 2018.

De acordo com Cotrim (2000), o princípio originador em Anaximandro é algo que transcende os limites do observável, ou seja, não se situa em uma realidade ao alcance dos sentidos.

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2.1.1.3 Anaxímenes de Mileto

Anaxímenes (588-524 a.C.), diferentemente de seus antecessores, Tales e Anaximandro, afirmava que o ar era a substância primária que deu origem a todas as demais coisas. Deve-se ao fato de que Anaxímenes não concordava com Anaximandro acerca do seu conceito de ápeiron.

FIGURA 4 – ANAXÍMENES DE MILETO

FONTE: <http://www.vanialima.blog.br/2014/01/anaximenes-de-mileto.html>. Acesso em: 28 mar. 2018.

Sobre a teoria de Anaxímenes, Luckesi e Passos (2000, p. 117) apontam que:

Para ele, o princípio de todas as coisas era o Ar, que gera, rege e governa todas as coisas, as que foram e as que serão (inclusive os deuses), por meio dos processos opostos de rarefação e condensação. Rarefazendo-se, o Ar torna-se fogo; condensando-se, torna-se vento; depois, nuvem, água, terra, pedra. Do mesmo processo promanam o

Anaximandro chegou à conclusão após ter buscado nos mais diversos elementos observáveis, um elemento que fosse a causa, ou princípio originador de todas as coisas. Diante do fato de não ter encontrado um princípio que pudesse ser experimentado pelos sentidos, ele chegou à conclusão que o princípio é o Indeterminado (apeiron).

“O indeterminado governa o universo pela lei permanente do devir, do nascer e do morrer dos mundos infinitos. Tudo tem origem nele e tudo nele se dissolve, mas ele permanece distinto de todas as coisas, como seu princípio imutável e eterno” (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 117).

Para resumir a ideia de um princípio originário, Anaximandro entende que a substância causadora de tudo o que existe não está limitada à natureza, mas transcende a ela e aos nossos sentidos, fugindo do campo do observável.

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cíclico, no sentido de que cada coisa, periodicamente, se dissolve no princípio originário, para, depois, regenerar-se.

A tese de Anaxímenes foi uma tentativa de sintetizar as ideias de seus antecessores em um único princípio. No caso da teoria de Tales de Mileto, em que a água sintetizava como regulador de todas as coisas do mundo, na verdade era o ar condensado. O fogo, por sua vez, era o ar rarefeito.

Em relação à teoria de Anaximandro, de que o princípio originador é o Indeterminado, na verdade é o Ar, pois este é infinito, ilimitado e está em constante movimento.

2.1.1.4 Heráclito de Éfeso

É de Heráclito (535-475 a.C.) a famosa expressão “Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio”. Determinada expressão sintetiza de maneira precisa o cerne do pensamento, pois para ele, as coisas estão em um constante devir, ou seja, as coisas mudam constantemente. Assim, sua filosofia é mobilista. Devido à posição, Heráclito é considerado pai da dialética.

FIGURA 5 – HERÁCLITO DE ÉFESO

FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/heraclito.htm>. Acesso em: 28 mar. 2018.

Diferentemente dos outros pensadores de sua escola, Heráclito “coloca a fonte de todas as coisas no fogo: o cosmo, que é o mesmo para todos, não foi feito nem por algum homem, nem por algum deus, pois ele foi e sempre será fogo” (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 119).

É importante ressaltar que Heráclito estava mais preocupado em compreender o logos, ou seja, a razão universal que ordena todas as coisas que existem e as que virão a existir. Ao usar a figura do fogo, sua intenção é apontar para o fato de que:

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O universo é contínuo vir a ser, decorrente da luta dos opostos: frio/ quente; úmido/seco... A morte de um dos polos dos opostos é a vida do outro e vice-versa. A luta dos opostos é a lei do universo, mas eles se unificam no Fogo; a harmonia visível do mundo nada mais é do que o reflexo da harmonia do logos, princípio constitutivo da realidade universal. Como tudo provém do fogo, tudo a ele retorna. Assim, todas as coisas se regeneram eternamente (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 119).

Assim, o fogo é a natureza de todas as coisas que nos são conhecidas. O fogo representa o devir contínuo, pois o próprio fogo, por si, indica mudança em suas propriedades, visto que suas chamas se transformam em cinzas, fumaças e vapores. Heráclito é um mobilista, pois para ele o ser está em constante mudança.

O pensamento filosófico de Heráclito irá influenciar profundamente a filosofia posterior, pois para sua doutrina da unidade dos contrários, em que a mutabilidade é constitutiva da realidade, o ser humano passa a ser o centro da discussão.

Sua filosofia penetra na intimidade do homem e na sua maneira de perceber o mundo, a existência e a vida. Seu pensamento inaugura uma nova maneira de perceber a realidade, visto que até então os pensadores entendiam a realidade como imutável. Vários séculos depois, o filósofo alemão Hegel constrói sua filosofia, que irá se basear em uma concepção dialética que muito deverá para Heráclito.

2.1.2 Escola pitagórica

O nome da escola é em função de seu principal expoente ter sido Pitágoras, que viveu no século VI a.C. A escola pitagórica teve seu ponto de partida na cidade de Crotona e se difundiu por outras partes. Os pitagóricos foram fortemente influenciados exteriormente pelas religiões orientais. Assim, eles se aproximaram das filosofias dogmáticas regidas pela ideia de autoridade, pois a autoridade docente era profundamente rígida.

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Como os demais pensadores e escolas de filosofia do período, a escola estava em busca de um princípio originador de todas as coisas. Para os pitagóricos, “o número é o princípio de todas as coisas, não propriamente no sentido matemático (números que utilizamos para pensar e operar com as quantidades), mas especialmente no sentido ontológico (constitutivo) das coisas” (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 119).

Assim, a essência dos seres possui uma estrutura matemática, pois a própria essência do mundo é composta por relações numéricas e pode ser compreendida pelo homem a partir do uso de sua razão.

Para ilustrar a concepção, Pitágoras usa o exemplo da música, pois de acordo com ele, o som agradável dos acordes musicais depende da harmonia entre as notas musicais. Determinada harmonia é possível quando a relação numérica entre as notas musicais tem a medida justa. Entretanto, quando não há uma medida justa, o resultado são os sons sem harmonia e desagradáveis aos ouvidos.

2.1.3 Escola de Eleia

Determinada escola se originou na cidade Eleia, uma antiga cidade da Magna Grécia. Os debates que aconteciam sobre a cosmologia apresentavam pontos de vista muito divergentes. Os eleatas Zenão e Parmênides entraram no debate e deram uma importante contribuição para a discussão. Vamos apresentar apenas a ideia principal de Parmênides, para termos uma noção básica da principal contribuição da escola para o debate filosófico.

FIGURA 7 – PARMÊNIDES DE ELEIA

FONTE: <http://www.materialismo.net/2013/12/historia-do-materialismo-cap-ii-dos.html>. Acesso em: 28 mar. 2018.

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Parmênides (530-460 a.C.) nasceu em uma família nobre da cidade de Eleia e é considerado o fundador da escola eleata. É um filósofo imobilista, pois para ele nada muda, tudo é uno. A ideia se choca frontalmente com Heráclito, que defendia o mobilismo, como vimos anteriormente. Para este pensador, há dois caminhos para se chegar à compreensão da realidade:

A aleteia (caminho da verdade) e a doxa (caminho da opinião); porque duas são as realidades: a do Ser e a do devir (para ele, não ser). A primeira é a via da razão e da persuasão, que conhece o Ser (que é eterno, imutável), e a segunda é a via dos sentidos e das aparências enganáveis, que conhece o devir (aquilo que é mutável) (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 122).

Significa dizer que Parmênides considerava que a razão pode atingir o conhecimento genuíno e a compreensão. Tal percepção do domínio do Ser corresponde às coisas que são percebidas pela mente.

O mundo sensível é o mundo das ilusões, visto que o aquilo que é percebido pelas sensações é enganoso e falso, pois pertence ao domínio do não ser. Assim, ele faz distinção entre o conhecimento racional e o conhecimento sensível, “criando uma dualidade no âmbito do ser e do conhecer” (LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 123).

Parmênides demonstrou que a noção de Heráclito do “tudo flui”, ou seja, que o ser que está em constante mudança se baseava em uma opinião a partir das percepções sensoriais. Para Parmênides o “Ser é”. Podemos usar como exemplo a foto de uma pessoa com dois anos de idade e a foto da mesma pessoa com 30 anos de idade.

Para Heráclito, a pessoa não é mais a mesma, pois as experiências e o tempo mudaram sua aparência e a essência. Para Parmênides, é a mesma pessoa, mudou a aparência e a pessoa passou por um desenvolvimento cognitivo, contudo sua essência, o Ser, permanece o mesmo.

“Para Parmênides, o movimento existe apenas no mundo sensível, e a percepção levada a efeito pelos sentidos é ilusória”, por outro lado, somente “o mundo inteligível é verdadeiro, pois está submetido ao princípio que hoje chamamos de identidade e de não-contradição” (ARANHA, MARTINS, 1993, p. 93).

A influência do filósofo Parmênides pode ser percebida na maneira como se concebe a origem do conhecimento, pois em sua obra estão as sementes do racionalismo moderno. A filosofia racionalista coloca a razão como a fonte primária, principal e confiável do conhecimento universalizável.

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2.1.4 Escola atomista

O principal representante dessa escola é sem dúvida Demócrito (460 a.C. — 370 a.C.), que nasceu em Abdera, mas visitou vários locais tais como Babilônia, Egito e Atenas. Foi discípulo de Leucipo e, juntos, desenvolveram a teoria dos átomos. Para essa escola pré-socrática, todos os elementos do universo são compostos por átomos.

FIGURA 8 – DEMÓCRITO DE ABDERA

FONTE: <https://edukavita.blogspot.com.br/2015/06/biografia-de-democrito-de-abdera.html>. Acesso em: 28 mar. 2018.

De acordo com Cotrim (2000, p. 85), “Demócrito afirmava que todas as coisas que formam a realidade são constituídas por partículas invisíveis e indivisíveis. Essas partículas são chamadas de átomos”. Os átomos que compõem o universo estão em movimento constante no espaço.

Os corpos são formados a partir do agrupamento dos átomos, que dependendo da maneira como se agrupam, dão formas variadas aos corpos. Apesar dos átomos serem eternos, contudo os corpos (resultantes do agrupamento de átomos) decaem e perecem. Assim, as coisas nascem quando os átomos se juntam e a morte é a desintegração das coisas.

2.2 PERÍODO ANTROPOLÓGICO

A filosofia clássica marca um período em que a filosofia passa por um amadurecimento, e se destacam três pensadores fundamentais para a filosofia grega e geral como um todo: Sócrates, Platão e Aristóteles.

Diversos fatores contribuíram para a filosofia deste período e seu aprofundamento, pois não podemos esquecer que a filosofia reflete as discussões de seu tempo. Assim, se olharmos para o contexto em que viveram determinados filósofos e a maneira como desenvolveram suas ideias, vamos perceber que estavam interessados em encontrar respostas para os problemas e desafios da época em que viveram.

Referências

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