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ÉTICA DAS VIRTUDES

No documento Prof. Gesiel Anacleto (páginas 146-160)

TÓPICO 1 – LÓGICA

3.3 ÉTICA DAS VIRTUDES

Diferentemente da ética do dever, que está centrada na ação, a ética das virtudes está centrada no agente. Segundo Beauchamp e Childress (2013, p. 79):

Enquanto as teorias utilitaristas e kantianas são expressadas principalmente na linguagem das obrigações e dos direitos, concentrando-se nas situações de escolhas, a ética do caráter ou ética da virtude enfatiza os agentes que executam as ações e fazem as escolhas. Seguindo a tradição de Platão e de Aristóteles, a ética do caráter atribui uma posição proeminente ao caráter virtuoso.

Por possuir seu foco voltado para o agente, a teoria ética das virtudes se direciona para as questões “o que devo ser?”, “como eu devo viver?” e não mais para a pergunta comum nas teorias éticas deontológicas: “o que devo fazer?” Assim, a necessidade prática não é vista como uma obrigação e obediência às normas ou deveres, mas é vista como expressão do caráter e como resposta aos valores pessoais do agente moral, pois de acordo com Hooft (2013, p. 23):

A ética da virtude está mais interessada na condição moral do agente do que em saber se a sua ação está certa ou errada. Ela enfoca o caráter do agente e as virtudes que constituem esse caráter. As ações do agente são vistas como expressões desse caráter, não sendo, portanto, o principal objeto de atenção.

A citação nos faz observar a distinção que Aristóteles faz entre as virtudes do intelecto ou da razão e as virtudes éticas ou do caráter, pois ele diz “que algumas virtudes são intelectuais e outras morais; por exemplo, a sabedoria filosófica, a compreensão e a sabedoria prática são algumas das virtudes intelectuais, e a liberalidade e a temperança são algumas das virtudes morais” (ARISTÓTELES, 2001, p. 39).

Em relação à primeira, seu aperfeiçoamento depende do tempo, pois a virtude intelectual é aprimorada com a experiência, enquanto que a virtude de caráter é resultado do hábito, dos costumes. As virtudes de caráter ou éticas não são parte de nossa natureza, mas são constituídas em nós através dos hábitos.

As virtudes são adquiridas pela prática e pela ação, pois é por meio da prática de determinadas coisas que o indivíduo se torna o que é. Um bom pianista, por exemplo, alcança a excelência em decorrência de seus esforços, dedicação e ensaio.

Aristóteles (2001, p. 41) diz que “pelos atos que praticamos em nossas relações com outras pessoas, tornamo-nos justos ou injustos; pelo que fazemos em situações perigosas e pelo hábito de sentir medo ou de sentir confiança, tornamo- nos corajosos ou covardes”.

Tais atos ocorrem no interior de um contexto específico em que o indivíduo age a reage às diversas situações da vida. Assim, poderíamos questionar se as virtudes morais não são aperfeiçoadas pelas virtudes intelectuais? Parece-nos que sim, pois a experiência e o conhecimento das coisas possibilitam que as ações particulares expressem uma melhor qualidade.

Entretanto, o que caracteriza uma ação como virtuosa, o que é a virtude em Aristóteles? As virtudes éticas apontam para o meio-termo, que deve ser buscado em relação a nós:

A virtude é, então, uma disposição de caráter relacionada com a escolha de ações e paixões e consistente em uma mediania, isto é, a mediania relativa a nós, que é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. É um meio-termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta, pois nos vícios ou há falta ou há excesso daquilo que é conveniente no que concerne às ações e às paixões, ao passo que a virtude encontra e escolhe o meio- termo (ARISTÓTELES, 2001, p. 49).

O meio-termo entre a falta e o excesso é um ponto alto na teoria ética de Aristóteles. As pessoas encontram dificuldades para viver entre os dois extremos. A felicidade depende da maneira como a pessoa moral consegue manter o equilíbrio em suas ações. A sabedoria consiste em viver moderadamente, escolher o meio-termo.

Outro conceito central na ética aristotélica é a prudência (phrónesis), pois cabe à prudência governar as ações morais do indivíduo. Na Ética a Nicômaco, o conceito revela um agir moral que é realizado nas ações concretas, sem que o agir esteja voltado para um bem transcendente.

4 BIOÉTICA

De acordo com Pessini e Barchifontaine (2005, p. 15), “inicialmente, a bioética foi definida por Potter como a ‘ciência da sobrevivência humana’, em uma perspectiva de promover e defender a dignidade humana e a qualidade de vida, ultrapassando o âmbito humano para abarcar inclusive a realidade cósmico- ecológica”. A finalidade da bioética é refletir sobre os problemas da existência

A origem da bioética se deve às mudanças profundas que ocorreram nas últimas décadas. De acordo com Byc (2015, p. 19), “suas origens derivam de um duplo fenômeno: por um lado, a revolução biomédica; por outro, a crise da ética universal”. A revolução biomédica trouxe a possibilidade de mudanças significativas na condição física e psicológica dos seres humanos. Naturalmente desencadeou uma série de debates sobre moralidade ou a imoralidade na intervenção que se faz na condição e na natureza humana.

Quando falamos de uma crise ética universal, estamos nos referindo aos avanços científico-tecnológicos que colocam em risco a própria existência da espécie humana, pois atualmente nos deparamos com as bombas de hidrogênio com potência de até 50 megatons, capazes de causar estragos de grandes proporções.

O principialismo é a abordagem predominante acerca da bioética. A teoria foi desenvolvida por Tom L. Beauchamp e James F. Childress. Segundo os autores, há quatro que devem fundamentar a bioética: o princípio do respeito pela autonomia, da não-maleficência, da beneficência e da justiça.

A bioética tem um caráter interdisciplinar, pois dialoga com as diferentes áreas do saber humano, tais como a psicologia, o direito, a biologia, a antropologia, a teologia, a ecologia, a filosofia, dentre outras. A relação consiste na busca de um discurso ético bem fundamentado nas diferentes formas de vida e concepções de mundo dos seres humanos, pois a bioética lida com os diversos dilemas morais que estão presentes no agir prático dos indivíduos.

A bioética consiste no estudo da moralidade e da conduta humana na área das ciências da vida, buscando examinar o que seria lícito ou científico ou tecnicamente possível. Assim, a bioética requer o comprometimento com a vida (todos os tipos de vida), com a dignidade do ser humano, com sua liberdade e autonomia.

DICAS

Gattaca – Experiência genética (1997). Num futuro não

muito distante, um homem menos do que perfeito quer viajar para as estrelas. A sociedade classificou Vincent Freeman como menos do que adequado, dada a sua constituição genética, e ele se tornou uma das subclasses de seres humanos que só são úteis para trabalhos subalternos. Para seguir em frente, ele assume a identidade de Jerome Morrow, um espécime genético perfeito que é paraplégico como resultado de um acidente de carro.

Com aconselhamento profissional, Vincent aprende a enganar o teste de amostras de DNA e urina. Apenas quando ele está finalmente agendado para uma missão espacial, seu diretor de programa é

morto e a polícia começa uma investigação, pondo em risco seu segredo. O filme traz um debate oportuno sobre as formas de preconceitos, e determinamos quem é melhor ou pior de acordo com suas limitações físicas. É uma crítica também às manipulações genéticas e quais os limites éticos da ciência.

5 ÉTICA E TÉCNICA

Diante dos avanços tecnológicos e dos aperfeiçoamentos das mais variadas técnicas, o que se pensa no campo da ética diz respeito ao futuro da humanidade. Desde os primórdios, o ser humano vem desenvolvendo técnicas para melhorar a vida, pois ela é um meio para a sobrevivência das pessoas.

Podemos usar como exemplo as técnicas de plantio, colheita e armazenamento de alimentos, desenvolvidas desde muito cedo pelo ser humano, cuja finalidade era garantir que os grupos tivessem alimentos o ano inteiro. Contudo, com o passar do tempo, as técnicas também foram se aperfeiçoando e atualmente já discutimos os limites éticos de determinadas técnicas, como a manipulação genética das sementes.

De acordo com Abbagnano (2012, p. 1106), o sentido geral do termo (técnica) “coincide com o sentido geral da arte (v.): compreende qualquer conjunto de regras aptas a dirigir eficazmente uma atividade qualquer”. Técnica, portanto, trata-se de um conjunto de procedimentos que tem como objetivo obter um determinado resultado. Assim, ao se estabelecer uma meta, o cientista, artista, ou qualquer outro técnico opta por um conjunto de regras, normas ou protocolos que é utilizado como meio para chegar ao objetivo estabelecido.

Quando tratamos de ética e técnica, estamos discutindo a moralidade de determinadas técnicas utilizadas em nossa sociedade para se chegar aos objetivos desejados. Atualmente, há grande discussão das técnicas de melhoramento humano, que impactam diretamente na competitividade saudável entre as pessoas. As técnicas podem ser divididas em dois campos: técnicas racionais e mágicas. O que nos interessa no presente momento são as técnicas racionais, que podem ser divididas em técnicas cognitivas e artísticas, técnicas de comportamento e técnicas de produção. A seguir, vamos discorrer brevemente sobre técnicas de produção devido à importância direta para a sobrevivência humana.

De acordo com Abbagnano (2012, p. 1106), “o terceiro grupo de técnicas é o que diz respeito ao comportamento do homem em relação à natureza e visa à produção de bens”. A supremacia da técnica em detrimento da ética tem sido uma questão preocupante, pois se algo precisa ser feito, deve-se ignorar a necessidade de uma justificação ética. A manipulação da natureza com a finalidade de

A manipulação genética, por exemplo, pode fomentar um mercado que possa vender bebês projetados de acordo com as preferências dos pais. A técnica tinha como objetivo melhorar as condições de vida do ser humano, contudo, o que estamos presenciando é um avanço contínuo da técnica que trouxe efeitos colaterais muito severos.

Atualmente, muitos pensadores das mais diversas áreas têm escrito e discutido intensamente sobre os efeitos negativos da técnica. Tais efeitos são enumerados da seguinte maneira por Abbagnano (2012, p. 1107):

1º exploração intensa dos recursos naturais acima dos limites de seu restabelecimento natural, portanto o empobrecimento rápido e progressivo desses recursos;

2º poluição da água e do ar por resíduos industriais e com a multiplicação dos mecânicos de transporte e com a maior densidade demográfica; 3º destruição da paisagem natural e dos monumentos históricos e artísticos, em decorrência da multiplicação das indústrias e da expansão indiscriminada dos centros urbanos;

4º sujeição do trabalho humano às exigências da automação, que tende a transformar o homem em acessório da máquina;

5º incapacidade da técnica de atender às necessidades estéticas, afetivas e morais do homem; portanto, sua tendência a favorecer ou determinar o isolamento e a incomunicabilidade dos indivíduos.

Apesar de se justificar constantemente a necessidade do aprimoramento e do avanço das técnicas para a sobrevivência humana, é imprescindível que se considere os afeitos negativos e alternativas para remediar os danos. O quarto e o quinto pontos destacados por Abbagnano chamam a atenção devido ao uso da técnica como uma forma de dominação e manipulação dos indivíduos.

Na sociedade contemporânea, a ética ficou sujeita à técnica, resultando em uma deformidade da moral moderna. Galimberti (2006, p. 520) aponta que “a técnica celebra a impotência da ética, a definitiva subordinação do agir ao fazer” em relação ao contexto histórico atual.

DICAS

Ética a Nicômaco é uma obra de Aristóteles escrita no

século IV a.C. É um dos primeiros tratados preservados sobre ética e moral da filosofia ocidental e, certamente, o mais completo da ética aristotélica. É composto de dez livros que são considerados baseados em anotações sobre suas palestras no Liceu. O trabalho cobre uma análise da relação de caráter e inteligência com a felicidade. Lembrando que a ética aristotélica continua sendo uma das bases fundamentais do pensamento humano.

LEITURA COMPLEMENTAR

Dilemas morais: o que você faria?

Tente responder a 5 famosos dilemas morais e descubra o que suas respostas dizem sobre você.

Fábio Marton No livro A Escolha de Sofia, de William Styron, que virou filme estrelado por Meryl Streep, uma prisioneira polonesa em Auschwitz recebe um “presente” dos nazistas: ela pode escolher, entre o filho e a filha, qual será executado e qual deverá ser poupado. Escolhe salvar o menino, que é mais forte e tem mais chances na vida, mas nunca mais tem notícias dele. Atormentada com a decisão, Sofia acaba se matando anos depois.

Dilemas morais, como a escolha de Sofia, são situações nas quais nenhuma solução é satisfatória. São encruzilhadas que desafiam todos que tentam criar regras para decidir o que é certo e o que é errado, de juristas a filósofos que estudam a moral.

Cada vez que um filósofo monta um sistema de conduta, procura algo que responda a todas as situações possíveis. O filósofo inglês John Locke (1632- 1704), por exemplo, definiu o bem pela não agressão, aquela ideia de que “minha liberdade começa onde termina a sua”. Já Rosseau (1712-1778) considerava o certo a vontade geral, a decisão da maioria.

Agora, os dilemas morais estão virando objeto de estudo de cientistas. E, para alguns deles, talvez os filósofos tenham trabalhado em vão ao se esforçarem tanto para montar teorias morais. É que, segundo novas pesquisas, raramente usamos a razão para decidir se devemos tomar uma atitude ou não.

Analisando o cérebro de pessoas enquanto elas pensavam sobre dilemas, os pesquisadores perceberam que muitas vezes decidimos por facilidade, empatia ou mesmo nojo de alguma atitude. Duvida? A seguir, faça o teste com você mesmo, respondendo a 5 dilemas morais clássicos.

1 O trem descontrolado

Um trem vai atingir 5 pessoas que trabalham desprevenidas na linha. Entretanto, você tem a chance de evitar a tragédia acionando uma alavanca que leva o trem para outra linha, onde ele atingirá apenas uma pessoa. Você mudaria o trajeto, salvando as 5 e matando 1?

e salvar 5 pessoas ao custo de uma? A maioria das pessoas diz que sim”, afirma Greene em um de seus artigos. De fato, em uma pesquisa feita pela revista Time, 97% dos leitores salvariam os 5.

Fazer isso significa agir conforme o utilitarismo – a doutrina criada pelo filósofo inglês John Stuart Mill, no século 19. Para ele, a moral está na consequência: a atitude mais correta é a que resulta na maior felicidade para o máximo de pessoas. Contudo, há um problema.

A ética de escolher o mal menor tem um lado perigoso – basta multiplicá- la por 1 milhão. Você mataria 1 milhão de pessoas para salvar 5 milhões? Uma decisão assim sustentou regimes totalitários do século 20 que desgraçaram, em nome da maioria, uma minoria tão inocente quanto o homem sozinho no trilho. Ainda, o ato de matar 1 para salvar 5 é o oposto do espírito do direito humano, segundo o qual cada vida tem um valor inestimável em si.

2 O trem descontrolado

Imagine a mesma situação anterior: um trem em disparada irá atingir 5 trabalhadores desprevenidos nos trilhos. Agora, porém, há uma linha só. O trem pode ser parado por algum objeto pesado jogado em sua frente. Um homem com uma mochila muito grande está ao lado da ferrovia. Se você empurrá-lo para a linha, o trem vai parar, salvando as 5 pessoas, mas liquidando uma. Você empurraria o homem da mochila para a linha?

Avaliando pela lógica pura, esse dilema não tem diferença em relação ao anterior. Continua sendo uma questão de trocar 1 indivíduo por 5. Apesar disso, a maioria das pessoas (75% nos estudos de Joshua Greene, 60% no teste da Time) não empurraria o homem.

A equipe de Greene descobriu que, enquanto usamos áreas cerebrais relacionadas à “alta cognição”, ou seja, ao pensamento profundo, para resolvermos o dilema anterior, este aqui provoca reações emocionais, mesmo nos que empurrariam o homem para os trilhos.

Uma versão mais bizarra propõe uma catapulta para jogar o homem pesado nos trilhos e, surpresa, a maioria das pessoas volta a querer matar 1 para salvar 5. Conclusão: estamos dispostos a matar com máquinas, mas não mataríamos com as mãos.

Para Greene, a diferença nas respostas aos dois dilemas pode ser explicada pela seleção natural. Durante milhares de anos da nossa evolução, os seres humanos que matavam outros friamente atraíam violência para si próprios: eram logo mortos pelo grupo, gerando menos descendentes. Já aqueles que conseguiam se segurar, conquistavam amigos e proteção, transmitindo seus genes para o futuro. Assim, ao longo dos milênios, criamos instintos sociais que nos refreiam na hora de matar alguém.

Acontece que, na maior parte do tempo da nossa evolução, vivemos em cavernas e com lanças na mão, e não operando máquinas, botões ou alavancas. Faz com que nossos instintos sociais não relacionem o ato de apertar um botão ou puxar uma alavanca com o de jogar alguém para a morte. É por esse motivo que, para Joshua Greene, tanta gente mudaria a alavanca na situação anterior, mas não executaria o homem no segundo dilema.

Ele dá outro exemplo. Achamos um absurdo não prestar socorro a alguém que sofreu um acidente na estrada, mas nos esquecemos rapidinho que milhares de pessoas morrem de fome na África. Para Greene, o motivo dessa disparidade também está nos instintos.

“Nossos ancestrais não evoluíram em um ambiente em que poderiam salvar vidas do outro lado do mundo. Da forma como nosso cérebro é construído, pessoas próximas ativam nosso botão emocional, enquanto as distantes desaparecem na mente”.

Para Greene, a diferença de atitudes mostra que os filósofos que lidam com a moral devem levar mais em conta a natureza do homem – não para agirmos conforme a natureza, mas para superá-la. Tendo consciência de que nossos instintos nos tornam capazes de matar friamente por meio de uma alavanca ou de ignorar genocídios distantes, temos mais poder para decidir o que é ou não correto.

3 Totem e tabu

No seu país, a tortura de prisioneiros de guerra é proibida. Você é tenente do Exército e recebe um prisioneiro recém-capturado que grita: “Alguns de vocês morrerão às 21h35”. Suspeita-se que ele sabe de um ataque terrorista em uma boate. Para saber mais e salvar civis, você o torturaria?

Recentemente, Israel e os EUA foram duramente criticados pela prática de tortura de terroristas árabes em prisões e pelas tentativas de legalizá-la em forma de “pressão psicológica” ou “pressão física moderada”. Na defesa, os países usaram dilemas como esse. Se você achar que o correto é torturar o prisioneiro, vai legitimar carceragens sangrentas. Por outro lado, caso se recusasse a torturá- lo, poderá deixar inocentes morrer.

A situação também se parece com as anteriores pela razão pura, pois trata- se de salvar o maior número de vidas. Contudo por que, então, é tão difícil tomar a decisão de torturar o homem? Além do instinto básico de não-agressão apontado pelo cientista Joshua Greene, somos movidos por outra emoção primitiva: o nojo. É isso aí, o mesmo nojo que faz você ter uma ânsia de vômito ao olhar um esgoto. “Acreditamos que a aversão moral é nojo mesmo, e não apenas uma metáfora”,

Em uma de suas pesquisas, Haidt mostrou vídeos de neonazistas a seus voluntários, monitorando a atividade cerebral deles. Concluiu que sentiam nojo, e não uma reprovação racional. É por isso que, em casos que provocam asco, como a tortura, costumamos agir conforme o absolutismo moral: as regras não devem ser transgredidas nem para salvar inocentes, ainda mais se lembrarmos que os países que querem legalizar o método geralmente se valem de dilemas como esse para situações mais leves.

4 Os limites da promessa

Um amigo quer contar um segredo e pede que você prometa não contar a ninguém. Você dá sua palavra. Ele conta que atropelou um pedestre e, por isso, vai se refugiar na casa de uma prima. Quando a polícia o procura, querendo saber do amigo, o que você faz?

O antropólogo holandês Fonz Trompenaars realizou pesquisas em diversos países com dilemas como esse. O mais interessante é que as respostas variaram de acordo com o povo. A maioria dos russos acusaria o amigo na lata. Outros mentiriam para protegê-lo, dando dicas ambíguas à polícia, como os americanos. Já os brasileiros inventariam histórias malucas para dizer que a culpa não era do amigo, mas do pedestre, que era um suicida.

Os gregos antigos já tinham consciência de que cada cultura tem noções diferentes sobre o que é certo ou errado: diziam que havia tantas morais quanto povos no mundo. A princípio, saber que a moral muda de acordo com a cultura é importante para não julgarmos costumes de um povo como se fossem os nossos,

No documento Prof. Gesiel Anacleto (páginas 146-160)

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